segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Aula 02 – PARA OUVIR E ANUNCIAR A PALAVRA DE DEUS - Subsídio


4º Trimestre/2018

Texto Base: Marcos 4:3-20

"Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro, sessenta, e outro, trinta" (Mt.13:23).
INTRODUÇÃO
Após estudarmos uma lição introdutória a respeito do tema deste Trimestre, estaremos, a partir desta Lição, estudando algumas Parábolas proferidas pelo Mestre Jesus. Nesta Lição, estudaremos a respeito da Parábola do Semeador, que é contada nos evangelhos sinóticos (cf. Mt.13:1-9; Mc.4:3-9; e Lc.8:4-8). É uma das parábolas cuja interpretação se encontra no próprio texto sagrado, um dos casos de interpretação autêntica, ou seja, o próprio Jesus explicou o significado da Parábola, de modo que não devemos senão nos circunscrever aos ensinos do Mestre Jesus, a fim de compreendermos qual o sentido da atinente Parábola. Nela precisamos apenas de aplicação e não de explicação. Nela Jesus mostra, claramente, o que é o processo da Salvação e a participação divina e humana correspondentes. Nela Jesus conta como o Evangelho será recebido no mundo. Três verdades podem ser apreendidas nesta Parábola: (a) A conversão e a frutificação espiritual dependem de como a pessoa se porta ante a Palavra de Deus; (b) haverá diferentes reações ante o evangelho, da parte do mundo – uns ouvirão, mas não entenderão (Mt.13:19); uns crerão, mas depois se desviarão (Mc.4:16-19); uns perseverarão e frutificarão em diferentes proporções (Mc.4:20); (c) os inimigos da Palavra de Deus são: Satanás; os cuidados  deste mundo; as riquezas e os prazeres pecaminosos desta vida (Mc.4:19; Lc.8:14).
I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO SEMEADOR
A interpretação da Parábola do Semeador encontra-se registrada em Mt.13:18-23, Mc.4:14-20 e Lc.8:11-15. Jesus falou sobre seis verdades fundamentais nesta Parábola: o Semeador, a Semente, o Solo, a semeadura, o crescimento e a colheita. Esta é a Parábola proferida por Jesus (Mt.13:3-8):
3. E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear.
4. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na;
5. e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda.
6. Mas, vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz.
7. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na.
8. E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta.
Esta é a interpretação proferida por Jesus (Mateus 13:18-23):
18. Escutai vós, pois, a parábola do semeador.
19. Ouvindo alguém a palavra do Reino e não a entendendo, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho;
 20. porém o que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria;
 21. mas não tem raiz em si mesmo; antes, é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofende;
 22. e o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera;
 23. mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro, sessenta, e outro, trinta.
1. A importância em compreender a Parábola. A Parábola do Semeador é uma das mais importantes, não apenas por constar nos evangelhos sinóticos, mas também por ser fundamental para o entendimento de outras. Ela é a porta de entrada para o entendimento das demais parábolas, é uma espécie de chave hermenêutica para o entendimento das outras parábolas. Quem não compreender sua mensagem não poderá alcançar o significado espiritual das outras. Provavelmente, nenhuma parábola de Jesus é tão bem conhecida quanto a Parábola do Semeador, pois ela precisa apenas de aplicação e não de explicação. Jesus começa com o ouvi e termina com “quem tem ouvidos para ouvir, que ouça” (Mt.13:9). Esta Parábola nos leva a três solenes reflexões:
·         Primeiro, não devemos subestimar as forças opositoras à semeadura. Jesus começou dizendo que precisamos ouvir e terminou dizendo que quem tem ouvidos, que ouça. O diabo, o mundo e a carne se armam para impedir a conversão dos pecadores.
·         Segundo, não devemos superestimar as respostas imediatas. As aparências enganam. Nem toda pessoa que diz Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus. Muitas pessoas vão aderir à fé cristã, mas sem conversão.
·         Terceiro, não devemos subestimar o poder da Palavra. A verdade é tão poderosa que até nos terrenos pedregosos e espinhentos ela nasce e no bom solo produz a trinta, a sessenta e a cem por um. A Palavra não volta vazia. Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo trazendo os seus feixes.
2. Os elementos que constituem a Parábola do Semeador: o Semeador, a Semente e o Solo.
a) O Semeador. Note que a primeira personagem da Parábola é o Semeador. Diz, no introito da parábola, que o Semeador saiu a semear e, o que é interessante, nem sequer faz qualquer referência ao Semeador na explicação da Parábola. No entanto, se bem analisarmos a Parábola, veremos que o Semeador, embora não tenha sido explicado pelo Senhor na interpretação, é uma figura fundamental em toda a história, tão fundamental que não carece de qualquer explicação. Sem o Semeador, não haveria como a semente atingir cada um dos terrenos mencionados na Parábola. Certamente, o Semeador representa o próprio Jesus, que leva a semente, que é a Palavra de Deus. Jesus não precisava explicar quem Ele era, pois Ele mesmo ali estava e, desde o início, estava pregando a respeito da chegada do Reino de Deus. Ele é o exemplo maior para os que semeiam Sua Palavra.
b) A Semente. A Semente, diz-nos Jesus, é a Palavra do Reino, é a Palavra de Deus (Mt.13:19a). O trabalho do Semeador é levar a semente, que é a Palavra do Reino, que é o Evangelho. Não estamos aqui neste mundo para pregar costumes, doutrinas de homens, conceitos filosóficos, teses teológicas, teoria da prosperidade material, positivismo. Não e não! Estamos aqui para semear, para levar a Palavra do Reino, a Palavra de Deus. Jesus ensina-nos isto de forma clara, sucinta e objetiva: “o tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1:15). Muitos, nos nossos dias, se preocupam em pregar um belo e eloquente sermão, em demonstrar erudição, conhecimento filosófico, teológico, atualização e profundidade no saber humano, mas nada disto é necessário. Devemos semear, ou seja, levar a Palavra de Deus para os mais diversos terrenos existentes, de forma simples e descomplicada.
c) O Solo. Depois de nos ter mostrado o Semeador e a Semente, Jesus começa a ensinar os discípulos a respeito do Solo mencionado na Parábola, onde o Senhor se detém um pouco mais em sua explicação. Se Jesus nada fala sobre o Semeador e pouco fala sobre a Semente, é no Solo que irá concentrar a sua interpretação, pois as pessoas que ouvem a Jesus são comparadas com vários tipos de solos (Lc.8:5-8). Para nós que fomos gerados num solo fértil, precisamos desenvolver nossas raízes por meio da fé em Cristo e do estudo da Palavra de Deus cada vez mais profundo. Tempos difíceis virão, e somente aqueles que tiverem desenvolvido suas raízes abaixo da superfície, sobreviverão. O crente tem que ser como o bambu: suas raízes são profundas, resiste a qualquer tempestade; se enverga, mas não se quebra.
3. Os diferentes tipos de solos infrutíferos. As pessoas que ouvem a Palavra de Deus são comparadas com vários tipos de Solos (Lc.8:5-8). Os resultados são bem diferentes em cada um. Jesus, ao se deter no estudo dos Solos, mostra que seus discípulos deveriam dar especial atenção aos ouvintes da Palavra de Deus. A semeadura deve ser feita em todos os Solos, pois não cabe ao Semeador fazer escolha. No início pode haver a impressão de uma profícua semeadura, porém, pode acontecer que no decorrer do tempo não se colha os frutos esperado. A Parábola do Semeador revela por que Jesus não se impressionava com as multidões que o seguiam. A maioria daquelas pessoas que seguia a Cristo não produziriam frutos dignos de arrependimento. O coração delas era uma espécie de Solo infrutífero, Solo pobre. O Semeador plantou a Semente em quatro tipos de Solos diferentes. Como era de esperar, os resultados foram diferentes em cada caso.
SOLO
RESULTADO
a)    À beira do caminho batido.
a)    Semente comida pelos pássaros.
b)    Uma camada fina de terra sobre depósitos de rocha.
b)    A semente germinou rapidamente, mas sem raiz; queimou-se pelo sol e secou-se.
c)     Solo infestado por espinhos.
c)     A semente germinou, mas o crescimento foi impossível por causa dos espinhos.
d)    Bom Solo.
d)    A semente germinou, cresceu e deu uma colheita: algumas hastes produziram cem, algumas sessenta, algumas trinta.
Veja, a seguir, os três tipos de solos infrutíferos.
a) Solo “à beira do caminho”(Mt.13:4,19).
“E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na; ouvindo alguém a palavra do Reino e não a entendendo, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho”.
A Semente que caiu à beira do caminho representa, conforme interpreta Jesus (Mt.13:19), a Palavra que foi ouvida, mas não foi entendida, de modo que o maligno vem e arrebata o que foi semeado no coração do ouvinte. O maligno é representado pelas aves que comeram a semente. Lucas ainda informa que a Semente foi pisada antes de ser comida pelas aves do céu (Lc.8:5).
O ensino de Jesus mostra-nos que a Palavra de Deus deve ser entendida por quem a ouve. Isto é importante porque, para que alguém possa entender a Palavra de Deus, é necessário que concorram dois fatores: em primeiro lugar, que a Palavra seja transmitida de modo que seja compreendida; em segundo lugar, que a pessoa que a ouve queira compreender, assim como havia o desejo dos discípulos de Cristo em entender o significado das parábolas.
b) Solo com pedregais (Mt.13:5,6).
“E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz”
A Semente que caiu sobre pedregais (ou sobre pedra, na linguagem de Lucas) representa aquele que, tendo entendido a Palavra, aceita o Evangelho, mas, como não tem raiz em si mesmo, ao surgir a perseguição, que é representado pelo Sol na Parábola, não resiste e morre, assim como a plantinha que não encontra terreno em que possa se enraizar. A perseguição provoca escândalo e, por causa disto, a pessoa abandona o Evangelho, se desvia ou apostata-se da fé.
Observe que, neste caso, houve germinação da Semente, ou seja, operou-se o Novo Nascimento. A semente germinou, ou seja, a vida surgiu, houve efetiva salvação. Todavia, a salvação, como nos ensina esta Parábola, pode morrer; ao contrário daqueles que defendem a ideia de que “uma vez salvo, salvo para sempre”. Jesus diz que o pecador recebeu a Palavra e, mais, recebeu-a com alegria, tanto que a plantinha germinou, porém, morreu. Isto quer nos ensinar que a Salvação não depende apenas do Novo Nascimento, é necessário ter raízes profundas, ter sustentabilidade. Na vida espiritual, é necessário que haja maturidade, crescimento, firmeza. A vida espiritual é dinâmica, e, como tal, não comporta nenhum momento de estagnação, de estabilidade. Quem está em Cristo, é uma nova criatura, mas uma criatura que precisa crescer até chegar a estatura de “varão perfeito’, até atingir a estatura completa de Cristo, ou seja, sempre, já que isto é impossível de ser alcançado aqui na Terra.
Jesus disse que a Semente germinou, surgiu uma pequena planta, porém, não teve para onde crescer. O terreno era pedregoso, ou seja, não tinha terra que permitisse a formação de raízes que sustentassem um crescimento. A pedra fala-nos de resistência, de dureza, de algo sem vida. Se, na nossa vida com Cristo, não deixamos que o Senhor esmiúce a penha (Jr.23:29), ou seja, esmague a pedra que é o nosso eu, a nossa autossuficiência, o terreno ficará pedregoso e não poderemos crescer espiritualmente. O resultado é que, quando vier a provação, a adversidade, não resistiremos e morreremos. A falta de crescimento faz com que o crente não resista às adversidades.
A Parábola fala-nos do Sol, que representa a tentação, a provação, a luta, o sofrimento. Isto nos mostra, claramente, que a vida com Cristo não é mil maravilhas, não é uma vida sem qualquer adversidade, como insistem em pregar os “pregadores da prosperidade” ou os “pregadores da confissão positiva”, que são os grandes responsáveis pelos escândalos que têm levado muitos a abandonarem a fé nos nossos dias.
Como afirma o sábio Salomão, o dia da adversidade também foi feito por Deus (Ec.7:14), e isto não se circunscreveu ao Antigo Testamento, já que Deus é o mesmo e não muda (Tg.1:17). Além do mais, Jesus, nesta Parábola, está falando a respeito da pregação do Evangelho, algo que é próprio da nossa dispensação.
O que nos faz vencer a dificuldade é a presença de raízes, isto é, uma sólida estrutura espiritual, resultado de uma vida de oração e de meditação na Palavra do Senhor. Os grandes heróis das Escrituras Sagradas venceram as adversidades porque tinham intimidade com Deus, porque eram portadores de um crescimento espiritual incessante. Não há como perseverarmos até o fim se não tivermos crescimento espiritual, se não tivermos raízes profundas.
c) Solo cheio de espinhos (Mt.13:7).
“E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na”.
A Semente que caiu entre os espinhos não apenas germinou, como a que caíra sobre os pedregais, como também chegou a crescer; mas, ao mesmo tempo em que ela crescia, também cresceram os espinhos, que acabaram por sufocar a planta, que também veio a morrer. Jesus identifica este terreno com aquele que, embora tenha sido salvo, embora tenha até criado raízes, não percebeu que estava entre espinhos e deu espaço para que estes espinhos crescessem.
Jesus explicou que estes espinhos são os cuidados desta vida, a sedução das riquezas, ou seja, as coisas deste mundo que acabam tendo prevalência a ponto de sufocar a planta e impedir que ela frutifique (Mt.13:22; Mc.4:19; Lc.8:14; 12:29-32; 21:34-36). Não basta apenas que tenhamos uma vida espiritual crescente, mas, além de criar raízes, temos de ser vigilantes.
Os espinhos são os cuidados desta vida, é a sedução das riquezas. A busca de riquezas materiais, a troca das coisas de cima pelas coisas deste mundo, tão condenada por Paulo na epístola aos colossenses (Cl.3:1,2), tem sido a causa de muitos fracassos espirituais, como nos registra o próprio texto sagrado em exemplos tristes como os de Balaão (Jd.11), de Acã (Js.7:20,21), de Simão(At.8:21-23). Lamentavelmente, os nossos dias são dias em que muitos não querem servir a Deus, mas se servir da obra de Deus, inclusive fazendo dos crentes meros instrumentos de lucro. Mas, o apóstolo Paulo adverte: “o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males” (1Tm.6:10).
II. A IMPORTÂNCIA DE OUVIR O EVANGELHO
Após a semente cair em três Solos (corações) infrutíferos, enfim, ela caiu num Solo ideal, num Solo bom, a qual produziu satisfatoriamente. A Semente germinou e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta, outro, sessenta, e outro, cem (Mc.4:8). Este Solo retrata aquele que, de bom e reto coração, ouve e compreende a Palavra, retém a Palavra e frutifica com perseverança. Estes são, portanto, os verdadeiros e genuínos discípulos de Jesus.
O bom Solo permite o nascimento da Semente, como também ocorrera nos pedregais e no espinhal. Mas, no bom Solo, o terreno permite o crescimento das raízes, não há resistência, a pedra dá lugar à terra, que é o mineral moído e esmiuçado pela Palavra de Deus. Sem qualquer resistência do eu, do orgulho, da autossuficiência, o pecador simbolizado pelo bom Solo é humilde de espírito, obediente e, como tal, faz o que Jesus manda.
A diferença básica entre este Solo e os demais que vimos anteriormente é que, nos outros, não houve frutificação, não houve fruto, não houve vida completa, vida plena; pelo contrário, a semente que caiu à beira do caminho, nem germinação houvera; a que caiu nos pedregais, houvera germinação, mas não crescimento; a que caiu nos espinhos, germinação e crescimento, mas não frutificação. Portanto, o que caracteriza a vida espiritual, ensina-nos Jesus nesta Parábola, é a presença do Fruto do Espírito. Por isso, Jesus, no sermão do monte, havia dito que distinguiria os salvos dos perdidos através dos frutos (Mt.7:20).
Há três fatos importantes que merecem destaque neste bom Solo:
1. Um Coração frutífero ouve e recebe a Palavra (Mc.4:20).
“E os que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, e a recebem, e dão fruto, um, a trinta, outro, a sessenta, e outro, a cem, por um”.
Marcos nos mostra que essa pessoa ouve e recebe a Palavra. Lucas diz que ela ouve com bom e reto coração e também retém a Palavra (Lc.8:15). Essas pessoas não apenas ouvem, mas ouvem com o coração aberto, disposto, com o firme propósito de obedecer. Elas colocam em prática a mensagem e por isso frutificam. Não diz que apenas acolhe com alegria, mas acolhe e frutifica. Logo, o mais importante aqui é: ouvir, receber e praticar.
Nestes dias tão agitados em que vivemos, poucos são os que param para ouvir a Palavra de Deus. Nunca a Bíblia esteve tão disponível, porém, nunca o analfabetismo de Bíblia esteve tão em evidência. Mais escassos são aqueles que meditam no que ouvem. Mas, só os que ouvem e meditam podem colocar em prática a Palavra de Deus e frutificar; essas pessoas são aquelas que verdadeiramente se arrependem do pecado, depositam sua confiança em Cristo, nascem de novo e vivem em santificação; elas aborrecem e renunciam o pecado; amam a Cristo e servem-no com fidelidade.
2. Um coração frutífero produz fruto que vinga e cresce (Mc.4:8,9). O que distingue este Solo dos demais é que nele a Semente não apenas nasce e cresce, também o fruto vinga e cresce. Lucas diz que ele frutifica com perseverança (Lc.8:15).
“E outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta, outro, sessenta, e outro, cem. E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça”.
Jesus está descrevendo aqui o verdadeiro crente, porque fruto, ou seja, uma vida transformada é a evidência da Salvação eterna (2Co.5:17; Gl.5:19-23). A marca do verdadeiro crente é que ele produz fruto. A árvore é conhecida pelo seu fruto. Uma árvore boa produz fruto bom. A marca dessa pessoa não é apenas fruto por algum tempo, mas perseverança na frutificação; há uma constância na sua vida cristã; ela não se desvia por causa das perseguições do mundo nem fica fascinada pelos prazeres do mundo e deleites da vida; sua riqueza está no Céu e não na Terra, seu prazer está em Deus e não nos deleites da vida.
3. Um coração frutífero produz frutos em diferentes proporções (Mc.4:9,20). Embora todas as sementes sejam frutíferas, nem todas produzem na mesma proporção. Marcos descreve essa produção em ordem ascendente: trinta, sessenta e cem por um.
“E os que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, e a recebem, e dão fruto, um, a trinta, outro, a sessenta, e outro, a cem, por um” (Mc.4:20).
Embora todos sejam frutíferos, nem todos são frutíferos na mesma proporção. Jesus nos ensina que, se todos os salvos frutificam, sem exceção, que é a marca da redenção na vida de cada discípulo seu, também é verdade que nem todos são iguais; a frutificação não é idêntica, por isso Jesus fez questão de ressaltar que um produziu cem, outro, sessenta e, ainda outro, trinta. Os crentes não são robôs em série, que não se distinguem uns dos outros, mas, muito pelo contrário, há aqueles que são mais produtivos do que outros. O Senhor, inclusive, ao se comparar à videira verdadeira, fez questão de dizer que costuma podar os menos frutíferos para que se tornem mais frutíferos (João 15:2).
III. O CHAMADO PARA ANUNCIAR O EVANGELHO
É importante frisar que o Semeador semeia a Palavra. Há muitos semeadores que semeiam doutrinas de homens, e não a Palavra; semeiam o que os homens querem ouvir, e não o que precisam ouvir; semeiam o que agrada aos ouvidos, e não o que salva a alma. Essa Semente pode parecer muito fértil, mas não produz fruto que permanece para a vida eterna. Outros pregadores pregam palavras de Deus e não a Palavra de Deus. O diabo também pregou palavras de Deus, mas ele usou a Bíblia para tentar. Palavras de Deus na boca do diabo não é a Palavra de Deus propriamente escrita, mas palavra do diabo, e elas não podem produzir frutos dignos de Deus.
Na Parábola do Semeador, certamente, o Senhor Jesus representa o Semeador. Este que durante os três anos de seu Ministério fez uma abundante semeadura, indo de cidade em cidade, de aldeia em aldeia pregando e ensinando o Evangelho do Reino, enquanto preparava e ensinava seus discípulos, os quais, depois dele, seriam enviados a todo o mundo, também como semeadores. Assim, o Semeador é todo aquele que leva a Palavra de Deus a todas as pessoas. O Senhor Jesus, como o principal Semeador, é o exemplo maior para os que semeiam Sua Palavra. Ele deu uma ordem imperativa:
“Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc.16:15); “...ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...” (Mt.28:19,20).
A Parábola em epígrafe contém instruções para o Semeador, das quais vamos considerar algumas.
1. O Campo a ser semeado é a Terra. O Senhor Jesus falou sobre quatro tipos de lugares onde a semente foi lançada. Os hermeneutas afirmam que, na tipologia bíblica, o número quatro é o número da Terra. Assim, o Senhor Jesus ao se referir a quatro lugares onde a Semente foi lançada, queria que o Semeador soubesse que a Palavra de Deus deveria ser pregada e ensinada em todo o mundo. Certamente que os discípulos, os Semeadores que deveriam continuar a Obra iniciada por Jesus, puderam entender, quando, depois de ressuscitado, Ele lhes ordenou:
“Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...”(Mt.28:20); “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura”(Mc 16:15).
Existem, no mundo, grandes espaços, alguns com muitas pedras e espinhos, outros solidamente endurecidos pelas heresias satânicas, e até espaços com Solo muito bom, esperando pelos verdadeiros semeadores.
2. A Missão do Semeador é semear a Semente. “...o Semeador saiu a Semear”. Ele saiu para semear, e semear a Palavra de Deus.
·         Ele não saiu para combater as religiões.
·         Ele não saiu para semear as suas próprias ideias, ou suas opiniões pessoais.
·         Ele não saiu para semear contendas, divisões.
·         Ele não saiu para escolher onde devia semear, para estudar a qualidade da terra, para primeiro arrancar os espinhos, remover as pedras, revolver e regar o Solo endurecido, nem para matar as aves que pudessem comer as sementes, mas ele saiu para semear onde houvesse terra, não importando se boa ou má.
A Missão do Semeador é semear, em todo o tempo e em todo o lugar. A missão do homem de Deus é pregar e ensinar a Palavra de Deus, ou “semear a semente”. Os Anjos não podem fazer este trabalho.
A Missão do Espírito Santo é a de, mediante a pregação e o ensino da Palavra, convencer o pecador “...do pecado, e da justiça, e do juízo”(João 16:8), conduzindo-o, depois, à uma vida de santificação.
A Missão do Senhor Jesus é a de salvar o pecador arrependido, pois, conforme Ele mesmo afirmou, “...o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”(Lc.19:10).  Esta é a vontade do Pai: “que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”(1Tm.2:4).
Assim, o Semeador tem que se preocupar, apenas, em cumprir a sua missão: Semear. Nem o pregador, nem o Espírito Santo, nem o Senhor Jesus e nem o Pai podem obrigar a pessoa que ouviu a mensagem da Palavra a aceitar a salvação na Pessoa Bendita de nosso Senhor Jesus Cristo. O crer no Senhor Jesus Cristo “e serás salvo”, como disseram Paulo e Silas, ao carcereiro de Filipo, é uma decisão, exclusivamente, do homem. Foi o próprio Deus quem lhe deu esta liberdade de escolha, conhecida como livre arbítrio. Deus não viola essa liberdade. O ser humano é livre para aceitar a Salvação e ir para o Céu, como também para rejeitá-la, e ir para o inferno. Sabendo disto, o Semeador não pode desanimar, mas, ainda que não veja a semente germinando, deve prosseguir na sua missão, que é a de semear.
3. O trabalho do Semeador é difícil e o retorno, em números, pode ser pequeno. Todo agricultor sabe que existe um tempo para semear, e quando chega esse tempo tem que fazê-lo, caso contrário, o tempo próprio passa e não haverá colheita. Daí, se naquele momento as circunstâncias não forem favoráveis, então o semeador tem que usar a fé, a fé natural, é claro, e arriscar. Está escrito: “Quem observa o vento nunca semeará, e o que olha as nuvens nunca segará”(Ec.11:4).
Semear é um trabalho difícil, penoso, que exige fé e amor à terra. O Salmista, porém, chamou a semente de preciosa – “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos”(Sl.126:6).
O tempo de semear é hoje, com vento ou com nuvens, conforme Paulo instruiu Timóteo: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo... que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina”(2Tm.4:1,2).
O profeta Isaias falou em semear sobre as águas, sendo que, na Bíblia, águas simbolizam dificuldades, lutas.
“Bem Aventurados vós, que semeais sobre todas as águas e que dais liberdade ao pé do boi e do jumento”(Is.32:20).
Aqui, “todas as águas” pode significar semear em todos os tipos de terrenos: à beira do caminho, nos pedregais, entre espinhos, e até em Solo bom. Dar “liberdade ao pé do boi e do jumento”, que eram e são animais de serviço, aqui pode significar dar condições financeiras, libertando os pés daqueles que são chamados para ir.
Ao usar a figura do Semeador, o Senhor Jesus deixou claro as dificuldades que terão que ser enfrentadas por aqueles que levam a Palavra de Deus. Levar a Palavra “andando e chorando”, ao que nos parece, não é bem conhecida, hoje, como foi no princípio da Igreja.
- Aqueles que estão “levando” a Semente, viajando na classe executiva de modernos aviões, em viagens ditas missionárias e hospedando-se em hotéis cinco estrelas, parece-nos que não estão “andando e chorando” e nem semeando “sobre todas as águas”.
- Aqueles que estão “levando” a Semente, viajando em estradas de primeiro mundo, em confortáveis veículos importados, parece-nos que não estão “andando e chorando”.
- Aqueles que estão “levando” a Semente, porém, confortavelmente instalados em requintados escritórios, com ar condicionado, e todos os meios de comunicação, parece-nos que não estão “andando e chorando”.
- Aqueles que estão “levando” a Semente, porém, às custas de salários superiores a de todos os membros da Igreja, e nivelados aos dos grandes executivos, parece-nos que não estão “andando e chorando”.
4. Semear a preciosa Semente além de ser difícil, a recompensa embora certa, virá em tempo incerto. A recompensa do Semeador é certa, conforme declarou o Salmista: “...voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos”.
Voltará” é futuro, a recompensa não é imediata. Trazendo consigo os seus molhos significa uma recompensa depois da colheita. Isto pode significar que muitos receberão sua recompensa depois da Grande Colheita que, biblicamente, representa o Arrebatamento da Igreja. Assim é possível pensar que muitos Semeadores só receberão suas recompensas perante o Tribunal de Cristo.
Se você é um Semeador, console-se com estas palavras, pois, conforme declarou Paulo, “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”(1Co.15:19).  Paulo nada recebeu, enquanto estava aqui, porém, pouco antes de sua morte, afirmou: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia...”(2Tm.4:7,8).
5. A Colheita não é proporcional à quantidade de Sementes semeadas. Ao propor a Parábola do Semeador acreditamos que o Senhor Jesus quis ministrar aos seus discípulos esta importante lição: de que o retorno do trabalho realizado pode não ser o que o Semeador espera. Das quatro partes de sementes que foram semeadas, três delas perderam-se, não havendo retorno. Perdeu-se 75% do plantio, aproveitando-se apenas 25%, sendo que nesta a produção média foi de 63,3%. Portanto, como na Parábola em epígrafe, os resultados serão determinados pelo coração daquele que ouve.
Lembremos que o nosso papel é pregar a Palavra, para que as pessoas ouçam, creiam e sejam salvas (Rm.10:14,15); e o papel do Espírito Santo é convencer os pecadores (João 16:8-11). Não importa as circunstâncias adversas. Não devemos observar o vento, nem as nuvens, nem o solo (Ec.11:4-6). A ordem é: “que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm.4:2). A ordem é semear a Palavra sem gastar tempo com outra coisa - “Ninguém que milita se embaraça com negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra” (2Tm.2:4).
CONCLUSÃO
A Parábola do Semeador mostra-nos que, no Reino de Deus, devemos reconhecer os salvos pelos seus frutos. O que caracteriza a vida espiritual é a presença do fruto, não importa em que quantidade. A característica do bom Solo é a presença de fruto, é a frutificação, que venceu os obstáculos ao entendimento da Palavra, a provação do dia da adversidade bem como a sedução das coisas desta vida. Estamos continuamente lutando contra estes fatores que têm apenas um objetivo: matar-nos e destruir-nos para que não produzamos o Fruto do Espírito. Entretanto, temos de ser o bom Solo, temos de receber a Palavra do Reino em um Solo propício e exclusivo para o seu desenvolvimento em nós. Que Deus possa nos abençoar para que, em assim fazendo, tenhamos como, naquele Dia, ouvirmos do Senhor: “Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt.25:34).
----------
Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 76. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco. As Parábolas nos Ensinos de Jesus. PortalEBD_2005.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco. Compreendendo a mensagem do Reino de Deus. PORTALEBD_2005.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Marcos, o Evangelho dos milagres.

Um comentário:

  1. Prezado irmão Luciano, gosto muito de seus comentários e os indico a outros. Eles têm me sido útil na preparação das aulas.
    Deus o abençoe!

    ResponderExcluir