4º Trimestre/2018
Texto
Base: Mateus 13:10-17
"E
sem parábolas nunca lhes falava, porém tudo declarava em particular aos seus
discípulos" (Mc.4:34).
INTRODUÇÃO
Com esta Aula iniciamos o último trimestre letivo de
2018. Estaremos estudando a respeito das “Parábolas
de Jesus: as verdades e princípios divinos para uma vida abundante”. Por
ser uma das principais formas de ensino utilizadas pelo Senhor, as Parábolas
merecem dedicada atenção e profundo interesse de nossa parte. Delas podemos
extrair as inspirações e os ensinamentos divinos para a vida cristã. O próprio
Senhor Jesus quer que as entendamos, pois elas produzirão mudanças necessárias que
resultará em transformação de vida (Mt.15:15,16). Portanto, se estudarmos as
Parábolas de Jesus com os corações abertos e dispostos a aprender, como
discípulos verdadeiros, em busca de sabedoria e entendimento das verdades
espirituais profundas, certamente, obteremos preciosas promessas de bênçãos espirituais
destinadas a todos quantos acolhem suas mensagens e se dispõem a compreender as
verdades que elas ensinam.
I. O QUE É
PARÁBOLA
1. Definição etimológica. O termo “parábola” vem do grego “parabolé” que, por sua vez, é uma palavra composta de duas outras
palavras - “para”, que quer dizer “ao lado de”, e “bolé”, que era uma medida de distância correspondente um tiro de
pedra (cfr. Lc.22:41). Na verdade, “bolé”
é derivado de “ballo”, que significa
lançar, jogar, arremessar. A palavra “parábola”, portanto, tem o sentido de
“lançamento ao lado”, “arremesso ao lado”, um “lançamento feito com desvio de
alvo”, ou seja, uma “aproximação”, uma “comparação”. Portanto, uma pequena
história real, ou uma figura conhecida que possa ser usada de forma comparativa
para ilustrar um ensino moral ou religioso é o que se depreende do sentido
literal da expressão grega “parabolé”
cujo significado é comparação, ou colocar uma coisa ao lado de outra.
Expressando de uma forma mais simples, parábola é o método
de ensino usado para revelar verdades desconhecidas com base em verdades e
fatos conhecidos. Estas verdades conhecidas são extraídas, normalmente, de
pequenas histórias colhidas da natureza ou de ocorrências diárias normais das
quais se pode extrair lições de natureza moral, ou espiritual.
No Antigo Testamento, a palavra traduzida por parábola
é “mashal”, que sempre designa uma
comparação, uma ilustração que é feita para trazer ensinamentos espirituais,
quase sempre vinculados a profecias, como nos ditos de Balaão (Nm.23:7,18;24:3,15,20),
de Jó (Jó 27:1; 29:1), como as profecias de Ezequiel(Ez.17:2; 18:2) de
Habacuque (Hc.2:6), ou pelo salmista do Salmo 49:4. O salmista, aliás, deixou
registrado o uso de parábolas pelo Messias – “Abrirei a boca numa parábola; proporei
enigmas da antiguidade” (Sl.78:2).
2. Definição hermenêutica. Segundo a hermenêutica, que é a ciência que tem como
objetivo interpretar corretamente a Bíblia Sagrada, a parábola é uma narrativa
alegórica constituída de personagens, coisas, incidentes e atitudes que através
de comparações, facilita a compreensão de realidades que se acham além do nosso
entendimento. Um exemplo prático pode-se ver na Parábola do Filho Pródigo, onde
Jesus mostra aos seus contemporâneos o singular e incomparável amor de Deus. Só
assim eles poderiam entender que Deus como amoroso Pai sempre estar pronto para
receber o filho que se desviou e que, agora, acha-se arrependido e desejoso
para retornar a casa paterna.
O Senhor Jesus fez uso, como ninguém fez igual, do método
de ensino das parábolas. Notabilizou-se sobre todos os demais mestres porque as
Suas parábolas eram sempre extraídas de fatos ou coisas simples, tiradas do
quotidiano conhecido de todo povo. Jesus nunca fez uso de história fantasiosas,
de coisas complexas, de enigmas que exigissem capacidade invulgar para decifrá-los.
Usava figuras, ou pessoas que todo povo conhecia, tal como a figura de um
Semeador que saiu a semear; da Semente que caiu na boa ou na terra ruim; de um
Pastor que perdeu uma ovelha; de um Filho que abandonou a casa de seu pai; de
uma Moeda perdida por uma mulher; de um Vestido novo que não podia ser
remendado com pano velho; de um Pescador jogando sua rede para pescar; de um
Construtor que construiu sua casa sobre a areia. Dezenas de histórias e de
figuras sobejamente conhecidas foram contadas por Jesus.
As Parábolas de Jesus são uma das mais eloquentes
demonstrações da “simplicidade que há em Cristo” (2Co.11:3). Ao lê-las, devemos
sempre lembrar que o ministério do ensino na Igreja deve ser exercido com
simplicidade, pois não será a complicação, a erudição excessiva que conferirá
profundidade ao ensino, e as Parábolas são a prova disto. A mensagem do
Evangelho é para todo o mundo, para toda a criatura (Mc.16:15) e, por isso,
temos de usar de uma linguagem facilmente acessível, como são as Parábolas de
Jesus.
3. Distinção
entre a parábola e outras figuras de linguagem. Embora tenham uma certa semelhança, as parábolas
distinguem-se de algumas figuras de linguagem, que também compõem o que se
passou a denominar de “linguagem simbólica”. Aliás, a palavra “símbolo” tem a
mesma raiz da palavra “parábola”, sendo, nada mais, nada menos, como explica
R.N. Champlin, “comparar uma coisa com outra ao lançá-las uma junto com a
outra”. “Símbolo é algo que sugere outra coisa mediante um relacionamento, uma
associação, como, por exemplo, um leão simbolizando a coragem…” (Enciclopédia
de Bíblia, Teologia e Filosofia).
A Bíblia Sagrada emprega várias figuras de linguagem
que são necessárias para ilustrar verdades divinas e profundas, mas não podem
ser confundidas com as parábolas.
a) Figuras de linguagem. São recursos estilísticos que utilizamos em nosso dia-a-dia
para enriquecer a linguagem escrita ou falada. Várias são essas figuras de
linguagem existentes na Bíblia Sagrada; dentre elas destacamos: a símile, a
catacrese, a metáfora, a metonímia, o eufemismo, a hipérbole, a alegoria.
Ø Símile. É uma comparação em que uma coisa lembra outra
explicitamente (assim como, tal qual, tal como, como).
- “...toda
carne é como a erva...” (1Pd.1:24).
Ø Catacrese. É o emprego de um termo figurado, geralmente por falta
de um termo mais específico.
- “E
tomou a mulher a tampa, e a estendeu sobre a boca do poço, e espalhou grão descascado sobre ela; assim nada se
soube” (2Sm.17:19). A rigor, quem tem boca são as pessoas e os
animais, e não poço. Mas, por falta de um termo mais específico para
designar a abertura do poço, chamamo-la de boca, uma forma de comparação
com a boca humana. Da mesma forma, espalhar, como se percebe, vem da
palavra palha e deveria, portanto, designar o ato de separar a
palha. Mas já está consagrado o uso de espalhar para quaisquer
elementos que se dispersem. Podemos dizer que a catacrese é, na verdade,
uma reciclagem vocabular.
Ø Metonímia. É a substituição de uma palavra por outra com a
qual mantém algum vínculo. A metonímia tem várias faces.
- “Guarda
o teu pé quando entrares na casa de Deus...”(Ec.5:1). Devemos nos
guardar por inteiro, e não apenas os pés.
Metonímia do tipo: a parte pelo todo.
- “Os
olhos, porém, de Israel eram carregados de velhice, já não podia ver
bem, e fê-los chegar a ele, e beijou-os, e abraçou-os” (Gn.48:10).
Israel tinha os olhos carregados de cegueira, consequência da velhice.
Metonímia do tipo: a causa pelo efeito.
Ø Metáfora. É o emprego de uma palavra fora do sentido normal,
por efeito de analogia. A metáfora é uma comparação sem o elemento de ligação
(conjunção ou locução conjuntiva) entre os termos comparados. Por exemplo, se
dissermos: “ela é perigosa como uma cobra”, estamos fazendo
uma comparação; mas, se dissermos: “ela é uma cobra”, estamos fazendo uma
metáfora.
- “Porque
tu, Senhor, és a minha candeia; e o Senhor esclarece as minhas trevas” (2Sm.22:29).
Assim como a candeia ilumina a escuridão, o Senhor ilumina a minha vida.
- “Toda
a carne é erva” (Is.40:6).
Ø Eufemismo. Ocorre quando se utilizam palavras ou
expressões menos chocantes, no lugar de outras que têm sentido grosseiro,
desagradável, ou que causem vergonha ou constrangimento.
- “E Davi dormiu com seus pais, e foi sepultado na cidade de
Davi” (1Rs.2:10). Dormir em lugar de morrer.
- “E conheceu Adão a Eva, sua
mulher, e ela concebeu e teve a Caim...” (Gn.4:1). O
verbo conhecer está no sentido sexual.
Ø Hipérbole. É o exagero na afirmação.
- “Torrentes
de água derramaram os meus olhos por causa da destruição da filha do
meu povo” (Lm.3:48).
- “Aqueles
que me aborrecem sem causa são mais do que os cabelos da minha
cabeça...” (Sl.69:4)
Ø Alegoria. Enquanto a parábola é uma história, é uma narrativa,
a alegoria indica a explicação ou expressão de alguma coisa por meio do nome ou
imagem de outra coisa. Assim, por exemplo, quando analisamos o Tabernáculo
de Moisés e nele percebemos uma figura, um símbolo de Jesus Cristo, estamos
fazendo uso da alegoria.
- “Porque está escrito que Abraão teve dois filhos,
um da escrava e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu
segundo a carne, mas o que era da livre, por promessa, o que se entende
por alegoria; porque estes são
os dois concertos: um, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que
é Agar” (Gl.4:22-24).
Aqui, Paulo
aponta para o aspecto da servidão espiritual. Aqueles que se tinham
deixado escravizar espiritualmente, tinham-se tornado descendentes espirituais
de Hagar e seu filho, e não de Sara e seu filho, o qual nasceu livre.
- “E lhes respondeu: Ide e dizei àquela raposa: eis
que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e, no terceiro
dia, sou consumado” (Lc.13:32).
Aqui, Jesus
refere-se a Herodes, que demonstrava possuir a natureza ardilosa e má de uma
raposa.
b) A Parábola. É
uma forma de transmissão de conhecimento e de verdades através do uso de
elementos que já são conhecidos do ouvinte, a fim de que ele possa entender,
com clareza, a profundidade do que será transmitido. Os povos da Antiguidade
fizeram uso desta técnica a fim de poder transmitir, ao longo das gerações, os
conhecimentos que haviam adquirido a respeito do mundo e a respeito de Deus.
Sendo preponderantemente escrita em linguagem
simbólica, a Bíblia Sagrada não deixaria de ter parábolas, até porque, entre os
israelitas, sempre foi este um modo de ensino das verdades eternas. Esta
técnica, que é anterior a Jesus Cristo, permanece até hoje entre os rabinos
judeus, que está repleta de narrativas deste gênero nos seus escritos (a
começar do Talmude, o segundo livro mais sagrado do judaísmo).
4.
Aplicação de uma Parábola. A parábola era um meio pelo
qual o Senhor procurava transmitir um ensinamento, uma orientação, fazer uma
advertência para o Seu povo. Na Antiga Aliança, esta era a função do ofício
profético, que era o porta-voz do Espírito do Senhor para Israel. A parábola,
assim, desempenha este papel de comunicação direta entre Deus e o homem.
Desta
feita, vemos que Jesus não poderia deixar de usar do expediente das parábolas
na pregação do Evangelho. Sendo um de Seus ofícios o ofício profético, Cristo
teria, a exemplo dos profetas que o antecederam, de usar deste método que,
afinal de contas, era bem conhecido do povo israelita. Tendo a missão de fazer
conhecido o Pai aos homens (João15:15), o Senhor tinha de trazer Deus ao nível
do intelecto humano e isto impunha o uso de uma linguagem que fosse acessível
ao ser humano. O uso das parábolas, portanto, era um dos mais apropriados,
porque, além de ser conhecido da população em geral, dava plenas condições para
que houvesse a compreensão da parte dos ouvintes.
Certa
feita, quando os discípulos estavam a sós com Jesus, eles o interrogaram por
que motivo falava em parábolas. Ele lhes explicou que somente aqueles com
coração receptivo poderiam conhecer o mistério do reino de Deus (cf. Mc.4:10-12);
mas, para aqueles que não tinham o coração receptivo, as parábolas obscureciam
o entendimento para que não entendessem a verdade.
Deus
revela segredos do Seu Reino à sua família, àqueles cujos corações estão
abertos, receptivos e obedientes, enquanto deliberadamente esconde a verdade
dos que rejeitam a luz que lhes é dada. Essas são as pessoas a quem Jesus se
referiu como “aos de fora” (Mc.4:11).
“Assim,
para que a parábola seja explicada e aplicada, primeiramente é indispensável
examinar sua relação com o que a precede e a segue, e descobrir, com base
nisso, antes de qualquer outra coisa, a sua ideia principal”.
II. POR QUE JESUS
ENSINAVA POR PARÁBOLAS
“E, acercando-se dele os discípulos,
disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?” (Mt.13:10).
Visto
que o Senhor usou do método de parábolas como ninguém para ensinar os seus
discípulos, alguém pode indagar: por que Jesus usou deste expediente? Por que
não teria sido “mais claro” nos seus ensinamentos, ainda mais quando parece que
o uso de parábolas era para que o Senhor não fosse entendido por Israel? Não
seria este um contrassenso diante da missão de Jesus aqui na Terra? Acho que os
discípulos de Jesus, também, pensaram dessa forma (cf. Mt.13:10-17).
Por que Jesus ensinava por parábolas? Segundo meu
entendimento e segundo o entendimento de alguns estudiosos como, por exemplo, o
Dr. Caramuru Afonso Francisco, que argumentou a respeito desse assunto no
PortatalEBD de 2005 - na postagem: “As Parábolas nos Ensinos de
Jesus” -, Jesus ensinava por parábolas:
1. Porque
as Escrituras Sagradas tinham que ser cumpridas (Sl.78:2; Mt.13:34,35).
“Tudo
isso disse Jesus por parábolas à multidão e nada lhes falava sem parábolas,
para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas
a boca; publicarei coisas ocultas desde a criação do mundo” (Mt.13:34,35).
2. Porque
Ele tinha uma missão a cumprir.
Jesus
tinha uma missão singular em seu ministério: fazer o Pai conhecido dos homens;
proclamar o Evangelho, ou seja, dizer ao mundo que Ele havia vindo para salvar
o mundo e tirar o pecado do mundo. Para
trazer o conhecimento do Pai ao homem, Jesus tinha de ser, antes de tudo,
Mestre. Este foi um título que Jesus jamais negou receber – “Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem,
porque eu o sou” (João 13:13).
Uma
das características fundamentais do mestre é ter e compreender os alvos do seu
ministério de ensino. Jesus, o Mestre dos mestres, tinha esta compreensão e
sabia que tinha de fazer o Pai conhecido dos homens. Para tanto, era necessário
dar atenção especial aos alunos, e para que o aluno fosse o elemento mais
importante, Jesus tinha que se fazer entendido e compreendido por eles, e isto
só seria possível se descesse ao nível do aluno, ou seja, se utilizasse de um
método a que o aluno estivesse acostumado e de elementos que permitissem que o
aluno entendesse as verdades espirituais a respeito de Deus. Para atingir este
objetivo, Jesus tinha de usar as parábolas, pois era o método que, a um só
tempo, permitiria que todo o povo de Israel, que eram os seus potenciais alunos
(Jesus havia vindo para as ovelhas perdidas da casa de Israel – Mt.15:24;
Jo.1:11), pudesse ter real acesso ao conhecimento do Pai, seja pelo fato de que
já estavam acostumados a este método de ensino, seja porque a linguagem
empregada permitiria uma fácil compreensão de todos quantos quisessem aprender.
3. Porque
Jesus queira impedir que houvesse um bloqueio que tornasse
inacessível a Palavra de Deus ao seu povo. Como entender desta forma, haja vista que
Mateus informa que Jesus falava por parábolas para que não fosse compreendido,
tanto que só explicava as parábolas para os discípulos? Jesus adaptou Seus
métodos de ensino à capacidade de entendimento daqueles que O seguiam. Ele não
falou por meio de parábolas para confundir as pessoas, mas para desafiá-las a
descobrir o significado das palavras que Ele proferia. A maior parte dos
ensinamentos de Jesus era contra a hipocrisia e as motivações erradas,
características dos líderes religiosos judeus da época. Se Jesus tivesse falado
abertamente contra eles, Seu ministério teria sido muito inábil. Aqueles que
ouviam Jesus diligentemente sabiam do que estava falando.
A
degradação espiritual dos israelitas, o orgulho e a teimosia do coração deles
tornaram impossível para eles ouvir e entender as palavras de Deus. Toda a
sabedoria que os israelitas ouviram da boca de Jesus, e todas as maravilhas que
viram de sua mão nada tinha significado, porque “o coração deles estava
endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos, e fecharam os olhos”
(Mt.13:15).
E
mais: as Parábolas de Jesus eram um abanador nas Suas mãos, que limparia sua
eira da palha enquanto purificava o trigo. Elas eram uma penetrante espada de
dois gumes para determinar se o coração de Seus ouvintes era orgulhoso ou
humilde, teimoso ou contrito (Hb.4:12). Esse é o significado da frase proferida
por Ele: “pois ao que tem se lhe dará, e
terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt.13:12).
Todavia, aqueles que possuíam humildade em seu raciocínio e percepção estavam
destinados a ter um entendimento rico e verdadeiro do Reino do Céu, mas aqueles
que não tinham nada, ou pouco desse espírito, estavam destinados a perder até o
pouco entendimento que tinham. O Evangelho do Reino está assim moldado para
atrair e informar os humildes, enquanto afasta e confunde os orgulhosos.
O
maior juízo de Deus é entregar o homem aos seus próprios desejos
(Rm.1:24,26-28). Deus deu a Faraó muitas oportunidades para submeter-se às
advertências de Moisés. Diante da sua resistência, Deus disse: muito bem, Faraó,
faça-se a tua vontade. O Senhor então endureceu o coração de Faraó (Ex.9:12).
Deus não endureceu o coração de Faraó contra sua vontade. Ele simplesmente
confirmou o que Faraó livremente escolheu: resistir a Deus (Rm.9:14-18).
Ouvir
a Palavra de Deus é uma experiência dinâmica. Seremos melhores ou piores por
ela. O mesmo sol que derrete a cera endurece a argila. Mas isso é a escolha que
o ouvinte, não o mestre, faz. As Parábolas não tornarão orgulhoso um coração
humilde, mas podem tornar humilde um coração orgulhoso, se estivermos dispostos
a permiti-lo. Isso, certamente, é o desejo maior do Mestre Jesus.
4.
Porque Jesus desejava atrair a atenção do povo. Jesus
desejava despertar a indagação, despertar os indiferentes e impressionar-lhes o
coração com a Verdade. Esse tipo de ensino era popular e atraía a atenção do
povo. O ouvinte sincero que desejava obter maior conhecimento e compreensão das
coisas divinas, poderia compreender Suas palavras, pois o Mestre estava sempre
pronto a explicá-las, assim como fez com os discípulos na Parábola do Semeador
(cf.Mt.13:36-39).
5.
Porque o povo de Israel não poderia ter qualquer desculpa com relação à
rejeição do Messias. Jesus ensinava por parábolas, usando
imagens que todos pudessem compreender. Jesus usou de elementos e de situações
do dia-a-dia dos Seus ouvintes para transmitir conhecimentos profundos a
respeito de Deus e do relacionamento de Deus com o ser humano. Cada aspecto da
natureza era utilizado por Cristo para ilustrar verdades. Os cenários da
natureza criada por Ele, foram todos relacionados com uma verdade espiritual,
de tal forma que a própria natureza está revestida das Parábolas do Mestre.
As
coisas espirituais estão acima da capacidade do homem natural, pois elas se
discernem espiritualmente e, sem o Espírito de Deus, não há como o homem
entender as coisas divinas (1Co.2:9-16). O ser humano, no pecado, não tem o
Espírito Santo e, portanto, é preciso que o ensino a respeito de Deus se faça
mediante instrumentos que permitam o ser humano, ao ouvir pela Palavra de Deus,
entender o que se está pregando, para que possa receber a fé, que é dom de
Deus, e, assim, se arrepender dos seus pecados e alcançar a salvação.
6.
Para mostrar que só não compreende o Evangelho quem não quer. As
simples palavras de Jesus podiam ser perfeitamente compreendidas por ouvintes
sinceros, e torná-los sábios para a salvação. Ao ensinar por parábolas, Jesus
foi claro, se fazia compreensível a todos, mas esta compreensão exigia uma
disposição de aprendizado por parte dos ouvintes, uma vontade de um maior
aprofundamento, tanto que somente os discípulos, depois de algumas parábolas,
demonstravam interesse em aprender as coisas de Deus e, assim, chegavam a pedir
ao Senhor que lhes explicasse a parábola do Semeador de forma mais detalhada.
Jesus, assim, tinha o objetivo de conhecer claramente quem estava e quem não
estava interessado em conhecer o Deus Pai; ou seja, Jesus queria saber quem,
realmente, amava a Deus, a ponto de não ser mais chamado servo, mas amigo do
Senhor (João 15:15).
7.
Porque o Mestre Jesus queria saber quem estava interessado na salvação eterna. Através
do uso das Parábolas Jesus deixava bem claro, patente aos olhos de todos, quem
queria ser salvo e quem não queria. É, por isso, que, ao final do sermão do
monte, em uma das suas lições mais primorosas, Jesus equiparou aquele que ouvia
e praticava as Suas palavras como o homem sábio que edificou a sua casa sobre a
rocha. Ouvir Jesus é muito mais do que ouvir um mestre, do que assistir a uma
aula, é tomar uma decisão a favor ou contra o Reino de Deus, a favor ou contra
a Salvação da alma.
8.
Porque era uma estratégia de sabedoria e de prudência de Jesus. Entendemos
que o uso de Parábolas por Jesus estaria, também, relacionado com uma
estratégia de sabedoria e de prudência do Senhor para que, diante da oposição
crescente ao seu ministério, não tivessem seus adversários do que acusar o
Senhor antes de chegar o momento determinado. Entre as multidões que O
rodeavam, havia sacerdotes e rabinos, escribas e anciãos, herodianos e
maiorais, amantes do mundo, beatos ambiciosos que desejavam, antes de tudo,
achar alguma acusação contra Ele. Espias seguiam os seus passos, dia-a-dia,
para apanhá-lo nalguma palavra que lhe causasse a condenação e fizesse
silenciar Aquele que atraia a Si o mundo todo. O Salvador compreendia o caráter
desses homens e apresentava a verdade de maneira tal, que nada podiam achar que
lhes desse ensejo de levar seu caso perante o Sinédrio. Em parábolas, Ele
censurava a hipocrisia e o procedimento ímpio daqueles que ocupavam altas
posições, e, em linguagem figurada, vestia a verdade de tão penetrante caráter
que, se as mesmas fossem apresentadas como acusações diretas, eles não dariam
ouvidos às suas palavras e teriam tentado, a destempo, interromper o Seu
ministério para o qual foi designado pelo Deus Pai.
III. COMO ENTENDER
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Sendo
de linguagem simbólica, as Parábolas pertencem ao grupo de textos da Bíblia
Sagrada cuja interpretação deve ser feita de forma cuidadosa e criteriosa, a
fim de se evitarem distorções doutrinárias que, infelizmente, são cada vez mais
comuns nos nossos dias.
Querer
entender as Parábolas de Jesus é sinal de que a pessoa está disposta a aprender
as verdades espirituais, teve despertada a sua atenção para as “coisas de cima”
(Cl.3:2). Somente os discípulos do Senhor podem ter reveladas as verdades
contidas nas Parábolas de Jesus (Mt.13:16,17).
Segundo
o Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco - em seu texto “As Parábolas nos Ensinos de
Jesus”, postado no PortalEBD de 2005 -, um correto entendimento das Parábolas
de Jesus exige:
1. Agir
como os discípulos de Jesus. Para
que compreendamos as parábolas é necessário que nos aproximemos de Jesus como
fizeram os Seus discípulos. Estes, ao perceberem que a linguagem usada por
Jesus era simbólica, que se estava diante de uma parábola, eles se acercaram do
Senhor e procuram uma explicação (cf.Mt.13:10). E como nos aproximamos de Jesus?
Tendo uma vida de comunhão com Ele. Como se obtém comunhão com o Senhor?
Separando-se do pecado e vivendo uma vida de oração e de meditação nas
Escrituras Sagradas.
2. Ter
o desejo e estar disposto a ouvir Jesus. A
pessoa deve estar disposta a ouvir Jesus, isto é, sua Palavra, acolhendo as
interpretações que já estão na Bíblia sem qualquer discussão. Antes de ser
indagado pelos discípulos, Jesus determinou que quem tivesse ouvidos, ouvisse
(Mt.13:9). É preciso que tenhamos condições de ouvir a Jesus, de ouvir a sua
Palavra, pois são as Escrituras que testificam do Senhor (João 5:39). Não se
poderá, pois, compreender corretamente uma parábola se não partir das próprias
Escrituras, pois quem interpreta a Bíblia é a própria Bíblia. Nos casos, em que
o próprio Jesus deu a interpretação para os discípulos, não há o que se
discutir, nem o que inventar. Estamos diante do que os estudiosos da ciência da
interpretação (a chamada “hermenêutica”) chamam de “interpretação autêntica”,
que é a interpretação feita pelo próprio autor do discurso que será
interpretado. Jesus interpretou algumas de suas parábolas e, nestes casos,
basta-nos apenas meditar e apreender o que Jesus explicou.
3. Seguir
o mesmo método que Jesus usou, quando não houver uma
interpretação do próprio Jesus a respeito da parábola. Quando
observamos as interpretações que Jesus fez de Suas parábolas, percebemos
algumas atitudes que devem sempre ser seguidas por nós na interpretação
daquelas parábolas cuja interpretação não foi registrada na Bíblia, a saber:
a) Cada
elemento ou personagem da parábola está associado a uma verdade espiritual. A
parábola tem aplicação espiritual e esta associação é a prova disto. Assim, por
exemplo, na parábola do semeador, a semente é a Palavra de Deus; o semeador é o
pregador; o semeado é o ouvinte.
b) A
parábola tem sempre uma lição central, uma verdade a ser transmitida, que é
espiritual. O
caráter espiritual, a verdade prática da Parábola é o mais importante, e não
algum pormenor ou detalhe insignificante. Assim, na Parábola do Semeador, a
semente que está à beira do caminho é o ouvinte de quem foi tirado a Palavra
pelo maligno. Não é caso de ficarmos discutindo de que natureza é este caminho,
os motivos pelos quais o semeador, ao semear, foi tão negligente ou qualquer
outro ponto que não é o cerne do ensino. Não devemos, portanto, exagerar em
pontos secundários das parábolas, pois estamos sujeitos a obscurecer o
principal. Outro exemplo é a parábola do Filho Pródigo, onde devemos considerar os seguintes elementos: o pai representa
o Amoroso Deus; o filho mais novo ilustra o pecador espiritualmente perdido; e
o filho mais velho lembra o crente inconformado com a misericórdia divina em
relação ao filho que volta a usufruir os favores imerecidos do Pai Celeste. Por
conseguinte, não se deve preocupar em achar significado para os porcos, para as
alfarrobas que estes comiam, etc.
c) Conhecer
o ambiente cultural e social da época em que a Parábola foi proferida. No
estudo das parábolas, é indispensável que tenhamos conhecimento do ambiente
cultural e social dos dias de Jesus, para que compreendamos bem o que Jesus
quis transmitir aos seus ouvintes daquela época, a fim de que façamos a devida
contextualização, ou seja, que tragamos a parábola para os nossos dias, pois,
embora as verdades transmitidas sejam eternas, é fundamental que, assim como
Jesus fez, tenhamos condições de, também, usarmos elementos do cotidiano, do
dia-a-dia dos nossos ouvintes (ou de nós mesmos), para que bem apliquemos os
ensinamentos do Senhor em nossas vidas. Afinal de contas, o objetivo de Jesus
não se dirigia apenas aos seus contemporâneos, mas a todos quantos aceitam o
seu nome (João 17:20).
Bem diz o Pr. Wagner Gaby: “torna-se
impossível entender as parábolas sem vinculá-las ao seu contexto cultural e social,
pois elas se referem às experiências de pessoas que viveram na época de Jesus.
Para tanto, torna-se necessário identificar a conexão com as estruturas daquela
sociedade. Quase um terço dos ensinamentos de Jesus foi realizado através de
parábolas. Ele contou parábolas sobre a natureza (Mt.13:24-30), trabalho e
salário (Lc.17:7-10), e até sobre casamentos e festas (Mt.25:1-13). Jesus não
falava de forma genérica acerca da busca de Deus pelo perdido, mas sempre
através de histórias de experiências cotidianas, tais como a história sobre uma
mulher que perdera uma de suas dez moedas de prata, e que não descansou até
encontrá-la (Lc.15:8-10)” (LBM.CPAD).
d) Não
estabelecer doutrinas com base numa Parábola. As
parábolas são ilustrações de verdades bíblicas, portanto, não podem ser
consideradas como elementos capazes de produzir doutrina. Elas servem para
ilustrar doutrinas e não para estabelecê-las. Seu objetivo é ilustrar as
verdades que Jesus quis ensinar. A parábola tem por escopo mostrar um fato
importante, dela não se deve tirar, à força, lições de cada pormenor, pois
algumas partes são apenas complementos da história apresentada. Infelizmente,
alguns intérpretes não observam estes detalhes e avançam o sinal, trazendo
ensinamentos estranhos à Palavra de Deus.
4.
Identificar a aplicação prática da Parábola. “Por
meio de suas Parábolas Jesus levou aos seus ouvintes a mensagem de salvação,
conclamando-os a se arrependerem e crerem. Aos crentes, desafiava-os a
colocarem a fé em prática, exortando seus seguidores à vigilância. Quando seus
discípulos tinham dificuldade para entender as parábolas, Jesus as interpretava
(Mc.4:13-20). Assim, uma boa maneira de identificar a aplicação prática de uma
parábola é fazer as seguintes perguntas: para quem a Parábola foi contada? Por
que a Parábola foi contada? Qual é a moral da Parábola? Existe algum ponto
culminante na Parábola? Alguma interpretação é dada na passagem para a Parábola?
” (LBM.CPAD).
CONCLUSÃO
Como
exímio Mestre no uso das parábolas, Jesus estimulava o prazer de aprender,
retirava os alunos da condição de espectadores passivos dos conhecimentos para
que se tornassem agentes ativos do processo educacional, do processo de
transformação. Nas situações mais tensas, Ele não Se apertava, pois sempre
achava um espaço para pensar e contar uma parábola interessante que envolvesse
as pessoas que o cercavam. Jesus expressava ensinamentos complexos com
histórias simples; utilizava-se de fatos do dia-a-dia de farto conhecimento do
povo; estava sempre contando uma parábola que pudesse atrair as pessoas e
estimulá-las a pensar. Um mestre eficiente não apenas cativa a atenção dos seus
alunos e não causa náuseas quando os ensina, mas os conduz a imergir no
conhecimento que transmite.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 76. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal.
CPAD.
Ev.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. As Parábolas nos Ensinos de Jesus. PortalEBD_2005.
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