domingo, 6 de janeiro de 2019

Aula 02 – A NATUREZA DOS ANJOS – A BELEZA DO MUNDO ESPIRITUAL - Subsídio


1º Trimestre/2019
Texto Base: Lucas 1:26-25


"Bendizei ao SENHOR, anjos seus, magníficos em poder, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra" (Sl.103:20).

Lucas 1:26-35
26. E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré,
27. a uma virgem desposada com um varão cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.
28. E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.
29. E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras e considerava que saudação seria esta.
30. Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus,
31. E eis que em teu ventre conceberás, e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.
32. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai,
33. e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim.
34. E disse Maria ao anjo: Como se fará isso, visto que não conheço varão?
35. E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.
INTRODUÇÃO
A Bíblia Sagrada mostra que os anjos não são mitos nem lendas, mas seres angelicais criados por Deus. Se por um lado, somos confortados, sabendo que os anjos de Deus acham-se à disposição dos que hão de herdar a vida eterna (Hb.1:14), por outro, apesar de sua capacidade e poderio que lhes conferiu o Senhor, não devem nem podem ser adorados (Ap.19:10; 22:9). Os anjos são seres reais, plenamente espirituais, que, embora superiores aos homens, não têm qualquer função na salvação do homem. Eles são ministros da providência de Deus e agentes ativos na vida do crente e da Igreja de Cristo. O não entendimento, ou a falta de estudo, sobre sua natureza e atividades, tem ocasionado o surgimento de muitas seitas, heresias e credos, distintos e distantes da sã doutrina, conforme encontrada na Palavra de Deus.
I. OS ANJOS
1. Quem são os anjos? O termo anjo aplica-se a todas as ordens dos espíritos criados por Deus (Hb.1:14). A palavra anjo no hebraico é “ma'ak” e no grego é “ângelus” que significam a mesma coisa: mensageiro, enviado. Eles exercem atividades importantes no mundo espiritual, mas não são independentes nessas atividades, pois as fazem dentro dos limites a que foram criados. A Bíblia fala da manifestação dos anjos na obra da criação do mundo físico (Jó 38:6,7). Eles estavam presentes quando Moisés recebeu de Deus as tábuas da Lei (Hb.2:2); no nascimento de Jesus (Lc.2:13); quando foram servir ao Senhor Jesus no deserto da tentação (Mt.4:11); na ressurreição de Cristo (Mt.28:2; Lc.24:4,5); na ascensão de Cristo (At.1:10). Muitas outras manifestações podem ser listadas em toda a Bíblia.
A manifestação dos anjos é incorpórea; eles são seres espirituais e morais, porque acima de tudo, são pessoas. A realidade dos anjos se comprova mediante os atributos de personalidade que eles demonstram falando, pensando, sentindo e decidindo. Muitas das suas manifestações são feitas através de formas materiais inexistentes. Entretanto, os demônios, que são anjos caídos da graça de Deus, tomam, para se incorporarem, corpos de pessoas vivas ou de animais, e por essas possessões materiais, se manifestam. Os anjos de Deus não tomam outros corpos para se manifestarem, mas tomam formas de pessoas humanas visíveis para se fazerem manifestos; podem se apresentar na forma humana, quando ocorrem as manifestações angelofânicas. Essas aparições ocasionais são bíblicas (Jz.13:6; Hb.13:2).
“Então, a mulher entrou e falou a seu marido, dizendo: Um homem de Deus veio a mim, cuja vista era semelhante à vista de um anjo de Deus, terribilíssima; e não lhe perguntei de onde era, nem ele me disse o seu nome”.
2. Sua natureza. Os anjos são criaturas espirituais e invisíveis aos seres humanos. Eles são sobrenaturais e, como os humanos, possuem natureza racional.
a) São criaturas de Deus. Os anjos são, assim como os homens, criaturas de Deus. Em Gn.1:1 e Cl.1:16 está escrito que Deus foi o criador dos anjos, de forma que os anjos são criaturas, ou seja, seres inferiores a Deus, embora sejam superiores aos homens. Isto é muito importante, pois não temos como confundir os anjos com o próprio Deus, nem podemos atribuir a anjos quaisquer atributos divinos, pois Deus é o criador, enquanto os anjos são apenas criaturas. É impossível fixar o tempo em que foram criados os anjos, mas a resposta de Deus a Jó declara que eles foram criados antes de todas as outras coisas (Jó 38:4,7).
b) São seres espirituais. A Bíblia mostra-nos que os anjos são seres espirituais, ou seja, ao contrário do homem que é formado de uma parte material (corpo) e de outra parte imaterial (alma e espírito), os anjos são puro espírito. O escritor da carta aos hebreus diz que os anjos são “espíritos ministradores enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação (Hb.1:14). Por serem espirituais, os anjos não estão sujeitos às leis da física e é por isso que os vemos, ao longo do texto bíblico, imunes às leis físicas, podendo aparecer e desaparecer (Jz.6:21; Lc.1:11; 2:13); contrariar a lei da gravidade (Jz.13:20); ter poder de ferir milhares de pessoas ao mesmo tempo (2Sm.24:16,17; 2Rs.19:35; 1Cr.21:16; 2Cr.32:21; Is.37:36); fechar a boca de leões famintos (Dn.6:22); remover grandes pedras (Mt.28:2); fazer emudecer (Lc.1:20); entrar e sair de lugares que estão fechados (At.5:19; 12:7-11); ferir uma pessoa em particular de modo fulminante e fatal (At.12:23); entre outros poderes, a mostrar que as leis vigentes para o mundo físico e material não atingem estes seres, já que são puramente imateriais.
c) São dotados de consciência, sentimento, entendimento e vontade.
·        São dotados de consciência. No episódio da criação, é dito que os anjos cantavam e rejubilavam, ou seja, demonstraram ter noção do que estava a acontecer e louvavam a Deus. Isto só é possível para seres que têm consciência de si mesmos e consciência de quem é Deus a ponto de reconhecerem Sua soberania e Sua dignidade para ser adorado. Os anjos têm plena consciência de que devem adorar a Deus e de que somente Deus deve ser adorado (Sl.103:20; Ap.22:9).
·        São dotados de sentimento. Em Jó, vemos que os anjos estavam alegres enquanto Deus criava o mundo e, por isso, cantavam, tendo, também, com alegria, trazido a mensagem do nascimento de Jesus (Lc.2:10).
·        São dotados de entendimento. Os anjos sabem o que são, o que fazem e o que está acontecendo ou vai acontecer. Os anjos, diz-nos a Bíblia, são seres que obedecem à voz de Deus (Sl.103:20), que transmitem fielmente as mensagens divinas, bem sabendo o seu teor (Dn.8:16; 9:22; 10:14; Lc.1:19), como também conhecem como funciona a dimensão celestial a que pertencem (Dn.10:12,13; Jd.9).
·        São dotados de vontade. Assim como os homens, os anjos foram criados com o livre-arbítrio, ou seja, com o poder de escolher entre servir a Deus ou não. Tanto é assim que o “querubim ungido” escolheu o mal, quis ocupar o lugar de Deus e, por isso, pecou, tendo sido achado iniquidade nele, a ponto de ter perdido toda a glória que possuía neste lugar de proeminência diante do Senhor (Is.14:12-16; Ez.28:12-19). Isto só foi possível porque os anjos são dotados de livre-arbítrio. Entretanto, este livre-arbítrio só pode ser exercido uma única vez, visto que os anjos estão na dimensão celestial, onde não existe o tempo e, portanto, o arrependimento se torna impossível. Tendo feito a sua escolha, quando do pecado do “querubim ungido”, os seres angelicais a fizeram para sempre e, por isso, podemos, hoje, falar em “santos anjos” (Mt.25:31; Mc.8:38; Lc.9:26; At.10:22; Ap.14:10) ou “anjos de Deus” (Jó 4:18; Sl.91:11; Sl.148:2; Mt.4:6; 13:41; 16:27; 18:10; 24:31; Mc.13:27; Lc.4:10; Hb.1:7; Ap.3:5), como também em “anjos do diabo” (Mt.25:41; Ap.12:7,9), também chamados de “anjos que não guardaram o seu principado” (Jd.6).
d) São seres assexuados. Por serem plenamente espirituais, os anjos também são assexuados, ou seja, não são nem do gênero masculino, muito menos do gênero feminino. A Bíblia diz que os homens é que foram criados macho e fêmea (Gn.1:27), a exemplo de grande parte das criaturas animais da dimensão terrena (Gn.2:19,20). Assim, a sexualidade é uma característica exclusiva da dimensão terrena (e, assim mesmo, há criaturas desta dimensão que são assexuadas), sendo algo que não tem correspondência na dimensão celestial, como, a propósito, bem nos ensinou o Senhor Jesus em Seu diálogo com os saduceus (Mt.22:29,30; Mc.12:25). Não há, portanto, “anjos do sexo masculino” nem tampouco “anjas”. Alguns procuram “provar” a existência de “anjas”, como se fosse possível uma “prova bíblica” que contrarie o ensino de Jesus por intermédio do texto de Zc.5:9, que relata uma visão do profeta em que “duas mulheres saíram, agitando o ar com as suas asas, pois tinham asas como as da cegonha e levantaram a efa entre a terra e o céu”. Entendem que estas duas mulheres seriam “anjas”, pois “teriam asas”. Trata-se, evidentemente, de uma grande deturpação do texto bíblico. Primeiro, porque estamos diante de uma visão, que não pode ser tomada ao pé da letra na interpretação. Mas, não bastasse isso, na própria visão vemos que estas duas mulheres vistas pelo profeta simbolizam a “impiedade”.
e) Os anjos não devem ser adorados. Os anjos são criados por Deus e não devem ser cultuados em nenhuma hipótese. Somente a Deus devemos adoração.
- Satanás tentou a Cristo pedindo-lhe adoração e Jesus lhe respondeu: “Vai-te, Satanás, porque está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele servirás” (Lc.4:8).
- Paulo alertou aos crentes de Colossos que não aceitasse esta heresia dos falsos mestres: “Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão” (Cl.2:18).
- Os próprios anjos recusaram ser adorados (cf.Ap.19:10; 22:8,9); sendo também adoradores (Sl.148:2,5; Hb.1:6) - “E eu lancei-me a seus pés para o adorar, mas ele disse-me: Olha, não faças tal; sou teu conservo e de teus irmãos que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia” (Ap.19:10). “Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos” (Sl.148:2).
Lamentavelmente, em algumas igrejas os anjos são mais prestigiados do que Jesus Cristo. Quando alguém diz que viu um anjo com a bandeja na mão trazendo a bênção para cada um, o som de aleluias é ensurdecedor.
f) Anjos bons e maus. Na criação original dos anjos, não houve essa classificação entre bons e maus. A Bíblia declara que os anjos foram criados no mesmo nível de justiça bondade e santidade (2Pd.2:4; Jd.5). O que define entre bons e maus é o fato de que foram criados como seres morais com livre-arbítrio, e, daí, a liberdade de escolha consciente entre o bem e o mal. A queda de Lúcifer deve-se a esta condição moral dos anjos (Is.14:12-16; Ez.28:12-19).
A Bíblia fala acerca dos anjos que pecaram contra o Criador e não guardaram a sua dignidade (2Pd.2:4; Jd.6; Jó 4:18-21) – “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo” (2Pd.2:4). Aos anjos que não pecaram e não seguiram a Lúcifer, Deus os exaltou e os confirmou em sua posição celestial e para sempre estarão na sua presença, contemplando e executando a vontade do Criador (Mt.18:10; 26:53) -“Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre veem a face de meu Pai que está nos céus”. “Ou pensas tu que eu não poderia, agora, orar a meu Pai e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mt.26:53).
g) A habitação dos anjos. Ao estudarmos as várias classes angelicais, entendemos que estas são distintas por várias atividades e se manifestam no vastíssimo espaço das "regiões celestiais". A Bíblia declara ainda que os anjos de Deus são organizados em milícias espirituais que povoam os céus e são distribuídos em distintas ordens e graus (Lc.2:13; Mt.26:53). Trata-se, portanto, de uma habitação numa dimensão celestial.
“E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus” (Lc.2:13).
h) O número de anjos. É impossível determinar o número de anjos porque é incontável e é o mesmo número em todos os tempos, desde que foram criados. Como não há reprodução de anjos, eles persistem com o mesmo número desde o momento em que foram criados (Dn.7:10 e Ap.5:11). A quantidade existente de anjos é única e incontável, porque desde que foram criados não foram aumentados nem diminuídos. Eles não procriam e foram criados de uma vez pelo poder da Palavra de Deus. A Bíblia utiliza expressões variadas para designar "milhares de milhares”, "multidão dos exércitos celestiais”, "muitos milhares de anjos" (Ap.5:11; Dn.7:10; Dt.33:2; Hb.12:22; Lc.2:13).
i) Satanás se transfigura em “anjo de luz” - “E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz” (2Co.11:14). O diabo se transfigura em anjo de luz para enganar as pessoas. Muitas das heresias hoje existentes tiveram origem em visões (visões?) de procedência maligna.
Ø  Aconteceu com Joseph Smith, fundador do Mormonismo, conhecida como “Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”. Em sua primeira “visão”, em 1820, teria visto o Pai e o Filho Jesus Cristo. Três anos depois, em 1823, teria lhe aparecido o Anjo Morôni.
Ø  Aconteceu com John S. Scheppe, que em 1913, através de uma “visão”, teria recebido uma revelação acerca do poder do nome de Jesus. Desta revelação originou-se o batismo nas águas só em nome de Jesus, e não mais em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Aquela visão deu origem ao Movimento “Só Jesus” ou “Nova Luz”.
Ø  Aconteceu com Sum Myung Moon, fundador da “Associação do Espírito Santo para a Unificação da Cristandade Mundial”, também chamada de “Igreja da Unificação”, fundada na Coréia, em 1954. Segundo declarou o Reverendo Moon, quando ele tinha 16 anos, teve uma “visão”, na qual Jesus lhe aparecera dizendo: “termina a missão que eu comecei”. Segundo ele, Jesus teria lhe revelado que a obra da redenção ainda não estava completa, e que Moon seria o único capaz de completar a obra que o Filho de Deus havia começado. Isto vai totalmente de encontro o que Jesus proferiu, na cruz: “está consumado” (João 19:30). Portanto, a visão de Moon é uma heresia gerada no coração de Satanás.
Heresias semelhantes a estas continuam acontecendo no presente, porque “Satanás se transfigura em anjo de luz” e, com facilidade engana “homens amantes de si mesmos”. Satanás prossegue enganando crentes incautos, como afirma Pedro: “E muitos seguirão suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade” (2Pd.2:2). Precisamos discernir o que é de Deus do que não é de Deus para não cairmos nos laços do Inimigo.
II. OS SERES CELESTIAIS PARA SERVIR
1. Ofícios dos Anjos de Deus. Os anjos são ministros de Deus que estão sempre pronto para servi-lo e executar suas ordens. A Bíblia diz que os anjos são valorosos em poder e executam as ordens de Deus (Sl.103:20). A Bíblia narra a atuação deles nas diversas esferas no céu e na terra. Vejamos alguns ofícios exarados nas Escrituras Sagradas.
a) Enaltecer a Deus. Além de servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação, a Bíblia nos mostra que os anjos também têm como função a de adorar a Deus na beleza da Sua santidade e louvar o seu santo nome. Os anjos têm como sua principal função a de louvar ao Senhor (Ne.9:6; Sl.103:21; 148:2; Is.6:3; Lc.2:13,14). Quanto mais elevada a categoria angelical, maior é a tarefa de adoração a Deus, como se vê a categoria dos serafins e dos querubins, superiores de anjos que estão vinculados à adoração e ao louvor (Is.6:3; Ez.1:24,25).
b) Trabalhar em prol dos que hão de herdar a vida eterna. A missão dos anjos é a de serem “espíritos ministradores a favor da Igreja” (Hb.1:14), ou seja, eles servem a Deus e, entre as suas funções, está a de favorecer os homens fiéis ao Senhor, de serem instrumentos divinos para o bem-estar dos que creem em Jesus Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador. Assim, não se pode pedir a nenhum anjo que interceda junto a Deus em favor de alguém, mas, sim, se deve pedir a Deus que nos favoreça, e Ele, entre outros instrumentos, pode nos favorecer através de anjos, mas só serão acionados única e exclusivamente por Deus, e se assim O quiser. No livro de Atos, são os anjos enviados em diversas ocasiões para socorrer os discípulos de Cristo (At.5:19; 12:7; 27:23).
c) Proteger a nação de Israel. Em Daniel 12:1, lemos que, nos últimos dias, levantar-se-á Miguel, o grande príncipe, para proteger a nação hebreia. Não fosse a intervenção divina, certamente Israel não mais existiria, pois muitos são os seus inimigos. Acontece que Israel é ainda povo de Deus, alvo de seus cuidados, que aguarda um futuro promissor. Não porque Israel mereça, mas por causa da graça de Deus e de Sua Palavra.
Deus, ao longo da história, usou anjos para beneficiar o seu povo, mas nem sempre agiu assim. Deus não precisa dos anjos para favorecer e ajudar o seu povo, mas tem os anjos como um dos instrumentos que estão à sua disposição. Assim, por exemplo, na vida de Israel, para derrotar Senaqueribe e seu exército, utilizou-se de um anjo que, em uma só noite, matou cento e oitenta e cinco mil soldados (2Rs.19:35). Numa outra ocasião, para dar vitória a Israel, fez com que os próprios inimigos se matassem uns aos outros (Jz.7:22). Deus é soberano e opera quando e como quer.
2. Os Anjos não são mediadores entre Deus e os homens. Os anjos são meros instrumentos nas mãos de Deus, nunca mediadores entre Deus e os homens. Constitui-se, portanto, num grave erro doutrinário a oração que se faz a Deus para que ponha anjos aqui e acolá, para que escale este ou aquele anjo para guardar esta ou aquela pessoa. Existem líderes de reuniões que pedem a Deus que se ponham um determinado número de anjos em cada reunião de adoração, e já ocorreu até pessoas determinando que Deus escale “o arcanjo Miguel” para guerrear por ele em determinado problema ou dificuldade. Tais orações não têm qualquer respaldo bíblico, sendo, antes de tudo, um atrevimento da parte de quem assim ora.
Cumpre-nos, também, informar que não tem cabimento pôr-se uma cadeira para anjos, entregar a direção do culto a anjos, nem levar toda a multidão a procurar ver anjos, como se eles fossem o foco e o objetivo de um culto. O culto se faz a Deus e o nosso objetivo será o de, sob a direção do Espírito Santo, cultuarmos e adorarmos única e exclusivamente a Deus. Quem dirige o culto não é anjo algum, mas o Espírito Santo que, para tanto, se servirá daquele ministro, um ser humano, que Deus constituiu na Sua igreja para este mister. Portanto, não há qualquer fundamento nestas “invencionices” que, infelizmente, estão levando muitos a se desviar da fé, pois o culto aos anjos nada mais é que idolatria e os idólatras não herdarão o reino de Deus. Fujamos disto enquanto é tempo.
3. Aos anjos não se deve fazer petições ou orações. É um erro doutrinário gravíssimo se fazer orações ou petições a anjos, em especial aos “anjos da guarda”, que seriam anjos destacados especialmente para guardar a cada um. A Bíblia é claríssima ao nos ensinar que devemos orar a Deus, em nome de Jesus Cristo, como o Senhor deixou bem claro ao nos dar o modelo de oração que é o Pai nosso (Mt.6:9-13). Todas as orações de Jesus registradas nas Escrituras são dirigidas ao Pai (Mc.15:34; Lc.10:21; 23:34; Jo.17) e, mesmo quando disse que poderia pedir legiões de anjos para livrá-lo, disse que o poderia fazer dirigindo-se ao Pai (Mt.26:53). Portanto, não há qualquer fundamento bíblico a ideia de que podemos fazer petições ou orações aos anjos.
Somos servos de Deus, e devemos pedir a Ele que opere em nosso favor, mas a forma desta operação é assunto que cabe somente ao Senhor. Além do mais, os anjos estão organizados em classes e em hierarquia, com distribuição de funções, não podendo nós, simples mortais, querer mudar aquilo que foi estabelecido no céu pelo Senhor.
III. AS HOSTES ANGELICAIS
Há uma organização clara dos anjos no céu, mas sobre a natureza dessa hierarquia a Bíblia nos revela muito pouco.
1. As hierarquias angelicais. A Bíblia mostra-nos que os anjos foram ordenados por Deus em uma hierarquia, ou seja, foram estabelecidas classes e posições bem definidas entre os anjos. Não é à toa que os anjos são chamados de “exércitos” de Deus (Sl.103:21; 148:2), pois a palavra “exército” dá-nos a ideia de uma força organizada, em que há comandantes e comandados, em que há uma rígida hierarquia.
Ao chamar a organização dos anjos por Deus de “exércitos”, a Bíblia, assim, diz-nos que há uma ordem com base nas relações entre os seres celestiais, uma organização que leva em conta não só a posição de cada ser angelical, como também as suas funções, as suas tarefas. Nosso Deus é um Deus de ordem, e esta ordem, na dimensão celestial, a mais próxima ao Senhor, não poderia mesmo deixar de existir em seus mínimos detalhes.
A Bíblia mostra-nos que a organização dos seres celestiais é bem complexa, nem podendo ser diferente, já que são milhares de milhares e milhões e milhões de seres. O texto sagrado revela que há outras classes denominadas de “tronos”, “domínios”, “principados”, “potestades” (Cl.1:16; Ef.1:21), cujas funções não são explicitamente estabelecidas na Bíblia e que geram um sem-número de debates e polêmicas entre os estudiosos. Basta-nos, porém, saber que existe uma hierarquia e que nem todos os anjos são de igual porte, função e posição.
2. Serafins e querubins. Os querubins e serafins são dois tipos de anjos, possivelmente as duas ordens mais altas de anjos.
a) Querubins. Essa classe de anjos criados por Deus se destaca pela ligação que eles têm com o trono de Deus. A palavra querubim, no original hebraico "querub", tem o sentido de guardar, cobrir. Eles aparecem pela primeira vez na Bíblia em Gn.3:24 no Jardim do Éden para guardar a entrada oriental a fim de que o homem que havia pecado contra o seu Criador não tivesse acesso ao caminho da árvore da vida. O que aprendemos acerca dos querubins é que eles possuem uma posição elevada na corte celestial e estão diretamente ligados ao trono de Deus (1Sm.4:4; 2Rs.19:15; Sl.80:1; 99:1; Is.37:16). Em Ezequiel 10, os querubins aparecem cheios de olhos e o trono de Deus está acima deles. A ligação dos querubins com o trono de Deus nos ensina que eles guardam o acesso à presença de Deus. Só nos é possível entrar no Santo dos Santos ou “Lugar Santíssimo” com o sangue da aliança em nossas vidas (Hb.10:19-22).
b) Serafins. O vocábulo serafim deriva do "saraph", e significa ardente, refulgente ou brilhante, nobres ou afogueados. Esta classe de anjos aparece uma só vez na Bíblia em Isaías 6:1-3. Nesta escritura, os serafins estão intimamente ligados ao serviço de adoração e louvor ao Senhor. Nesse serviço, eles promovem, proclamam e mantém a santidade de Deus. Na visão de Isaías, os serafins são representados como tendo seis asas. As asas de cada serafim tinham funções específicas. Com duas asas cobriam o rosto, numa atitude de reverência perante o Senhor. Com as outras duas asas cobriam os pés, falando de santidade no andar diante de Deus, e com as duas últimas asas, eles voavam. As asas desses serafins tinham por objetivo mostrar ao profeta a capacidade de movimento e locomoção dos anjos para realizarem a vontade de Deus. É uma forma materializada que os seres espirituais usam para serem compreendidos, porque, de fato, os anjos são incorpóreos e não possuem asas.
3. Arcanjo. Arcanjo significa, literalmente, principal entre os anjos. Miguel é o único ser angelical que é chamado na Bíblia de "arcanjo" (Jd.9), sendo certo que a palavra foi utilizada apenas em 1Ts.4:16, também no singular, de modo que há quem defenda que haja apenas um arcanjo nos céus, precisamente Miguel, ser, aliás, que já aparecera como figura de proeminência no céu no Antigo Testamento, onde é chamado de “um dos primeiros príncipes” (Dn.10:13), também apontado como o príncipe de Israel (Dn.10:21) e “o grande príncipe” (Dn.12:1). Por fim, no livro do Apocalipse, é apresentado como tendo anjos a seu serviço (Ap.12:7). Miguel parece ter, mesmo, uma função de proeminência entre os demais anjos, sendo o encarregado de liderar as batalhas contra o diabo e seus anjos principais, como também de cuidar, pessoalmente, dos serviços em favor de Israel, a propriedade peculiar de Deus entre os povos (Ex.19:5,6), tanto que foi o escalado pelo Senhor na contenda sobre o corpo de Moisés (Jd.9).
Por causa de Dn.10:13 e de nítida influência gentílica, os judeus, após o cativeiro da Babilônia, passaram a admitir a existência de “sete arcanjos”, que seriam os “anjos-comandantes”, os “anjos maiorais”, os “primeiros príncipes” mencionados no texto de Daniel. Seriam eles: “Miguel, Gabriel, Samael, Rafael, Saquiel, Anael e Cassiel”, dos quais teriam referência na Bíblia tão somente Miguel e Gabriel (ainda que Gabriel jamais seja chamado de arcanjo nos textos bíblicos). Samael seria o “querubim ungido”, que se teria tornado Satanás. Tais ensinos, apesar de terem sido adotados pela tradição judaica e de lá passado para alguns segmentos cristãos (o catolicismo romano, em especial), não podem ser aceitos como verdadeiros, pois não têm respaldo bíblico. Além do mais, é nítida a associação deste pensamento às religiões gentílicas, principalmente a babilônica e a persa, ou seja, trata-se de adaptação do paganismo. Tanto é assim que a “teoria dos sete arcanjos” é hoje utilizada abertamente por esotéricos e até mesmo por teóricos dos cultos afro-brasileiros. Devemos ficar com a Bíblia e, portanto, admitir a existência de apenas um arcanjo conhecido, que é Miguel.
IV. JESUS E O ARCANJO MIGUEL
Alguns grupos religiosos ensinam que Miguel é o próprio Jesus Cristo. Isto é uma pura heresia, e facilmente refutada pelas Escrituras Sagradas. O que nos chama a atenção é o fato de segmentos que se dizem cristãos e que afirmam crer na Trindade, confundam o Criador com a criatura.
1. A identidade de Miguel. O nome do arcanjo Miguel aparece cinco vezes na Bíblia, como "príncipe" (Dn.10:13,21; 12:1), arcanjo (Jd.9) e combatente contra Satanás e seus anjos (Ap.12:7). As referências bíblicas que citam Miguel nos dão a entender que ele tem uma posição de superioridade em relação aos demais seres angelicais. Ele se destaca biblicamente como uma espécie de administrador e protetor dos interesses divinos em relação a Israel (Jd.9; Dn.12:1). Ele é denominado “príncipe dos filhos de Israel” porque é o guardião dessa nação. Foi ele quem sepultou o corpo de Moisés (Jd.1:9). Na visão apocalíptica e escatológica (futura) que João teve na Ilha de Patmos, o arcanjo Miguel surgirá como o grande comandante dos exércitos celestiais contra as milícias satânicas, representadas pelo dragão, figura de Satanás (Ap.12:7-12). Na vinda pessoal de Jesus Cristo, na primeira fase de convocação dos remidos do Senhor, a escritura não dá nome ao arcanjo, mas declara que a voz do arcanjo será ouvida pelos mortos santos, os quais ressuscitarão e se levantarão de suas sepulturas para ir ao encontro do Senhor nos ares (1Ts.4:16) – “Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro”.
2. Uma diferença abissal. A diferença entre Jesus e Miguel é abissal, pois Jesus é Deus, o Criador e transcendente; Miguel é anjo, portanto, criatura (João 1:1-3; Cl.1:16,17; Jd.9). Há um falso ensino, este formulado pelos sabatistas (adventistas do sétimo dia), e também repetido pela seita as Testemunhas de Jeová, segundo os quais Miguel é, na verdade, Jesus. Trata-se de mais um sutil engano do adversário de nossas almas que, ao defender esta tese, procura negar a divindade de Cristo. Miguel é um arcanjo, é um anjo e, portanto, uma criatura. Pode ter uma posição excelente no céu e não se pode sequer deixar de reconhecer que é possível que tal posição tenha ganhado proeminência maior após a queda de Lúcifer, no entanto, Miguel não é Jesus. Miguel foi criado, Jesus é criador; Miguel não ousou repreender Satanás, Jesus feriu a cabeça do diabo, ao vencer a morte e o inferno na cruz do Calvário; Miguel é príncipe de Israel, Jesus é o Rei de Israel, Rei dos reis e Senhor dos senhores; Miguel se levantará na Grande Tribulação pelos filhos de Israel, mas Jesus libertará Israel e porá fim a Grande Tribulação na batalha do Armagedom. Jesus é adorado até pelos anjos, e isso inclui o próprio Miguel; no entanto, Miguel, sendo anjo, não pode ser adorado (Hb.1:6; Ap.19:10; 22:8,9). Por fim, admitindo-se que o arcanjo de 1Ts.4:16 é o único mencionado na Bíblia, ou seja, Miguel, como poderiam Jesus e Miguel ser a mesma pessoa? Portanto, não se deve confundir o Criador com a criatura.
CONCLUSÃO
A Bíblia traz muitas informações acerca dos anjos e, apesar das inúmeras referências bíblicas, ainda muito pouco sabemos a respeito de quem eles são e do que fazem. Sabemos que os anjos adoram e cultuam a Deus, no céu; a Igreja adora e cultua a Deus, na terra; os anjos adoram e cultuam a Deus, como Criador; a Igreja adora e cultua a Deus na Pessoa de Jesus, como Salvador e Redentor. A Igreja, quando for arrebatada, e após as Bodas do Cordeiro, será superior aos anjos, pois, ali ela será a Esposa do Cordeiro, e, como Esposa, estará sempre ao seu lado.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 77. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. João – as glórias do Filho de Deus.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Como ser um vencedor na batalha espiritual.
Rev. Augustus Nicodemus Lopes. Quatro Princípios Bíblicos para se Entender a Batalha Espiritual.
Pr. Dr. Caramuru Afonso Francisco. Anjos, ministros e enviados por Deus. PortalEBD_2006.
Pr. Dr. Caramuru Afonso Francisco. As heresias e o culto aos anjos. Portal EBD.

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