4º Trimestre/2020
Texto Base: Jó 1:6-12; 2:4,5
“E vindo um
dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também
Satanás entre eles” (Jó 1:6).
Jó 1:
6.E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o
SENHOR, veio também Satanás entre eles.
7.Então, o SENHOR disse a Satanás: De onde vens? E Satanás respondeu ao
SENHOR e disse: De rodear a terra e passear por ela.
8.E disse o SENHOR a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque
ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus,
e desviando-se do mal.
9.Então, respondeu Satanás ao SENHOR e disse: Porventura, teme Jó a Deus
debalde?
10.Porventura, não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo
quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentado na
terra.
11Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não
blasfema de ti na tua face!
12.E disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo quanto tem está na tua mão;
somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do
SENHOR.
Jó 2:
4.Então, Satanás respondeu ao SENHOR e disse: Pele por pele, e tudo
quanto o homem tem dará pela sua vida.
5.Estende, porém, a tua mão, e toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se
não blasfema de ti na tua face!
INTRODUÇÃO
Trataremos nesta Aula de “Jó e a realidade de Satanás”; abordaremos
algumas questões relativas à existência e à realidade de Satanás a partir do
contexto de Jó. É bom ressaltar que Satanás não é um mito, ou uma figura de
ficção; ele é um ser real, um anjo caído, poderoso, que se rebelou contra Deus,
e cuja missão principal é acusar os santos diante do Senhor. O Livro de Jó
revela com clareza a realidade de Satanás. Ele tem agido de forma deletéria no
mundo, mas ele não é maior que Deus, nem muito menos exerce ação autônoma; suas
ações estão submetidas à soberania de Deus. No começo do relato da história de
Jó, quando os anjos (tanto os caídos quanto os santos anjos) compareceram
perante Deus, perguntou o Senhor a Satanás: “Donde vens? Satanás respondeu ao
Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela” (Jó 1:7). À medida que
acompanhamos o desenrolar do diálogo entre Deus e Satanás, descobrimos que,
apesar de o diabo ter poder para investir contra a vida de seres humanos, isso
não quer dizer, necessariamente, que ele possa fazê-lo quando bem entender.
Satanás precisa da permissão de Deus para provocar calamidades na vida de um
ser humano.
I. O LIVRO DE JÓ E A NATUREZA DE SATANÁS
A Bíblia diz que Satanás é o maioral dos demônios (Mt.12:24; 25:41). No
princípio, Deus criou o querubim ungido, perfeito em sabedoria e formosura, o
qual era o selo da simetria (Ez.28:12-15). Ele se rebelou contra Deus e foi
expulso do céu (Is.14:12-15). Com sua queda, saíram com ele os anjos que
aderiram à rebelião, e uma parte deles continua em prisão (2Pd.2:4; Jd.6).
Apesar da pura realidade bíblica sobre os demônios não se deve fazer apologia
dos seus hábitos. Há segmentos chamados evangélicos que falam mais no Diabo do
que anunciam Jesus; pregam mais sobre exorcismo do que arrependimento; vivem
caçando demônios, neurotizados pelo chamado movimento de batalha espiritual.
Isso não deve acontecer numa Igreja genuinamente cristã.
1. Um ser espiritual
Satanás é uma criatura espiritual e invisível aos seres humanos, e
encontra-se na mesma categoria dos anjos, representada no texto pela expressão
“os filhos de Deus” (Jó 1:6). Ele é um ser sobrenatural e, como os humanos,
possui natureza racional. Ele é "o maligno" (Mt.13:19), que se opõe a
Deus e à sua criação. Sendo ele nosso inimigo, quer nos derrubar(1Pd.5:8, João
8:44). Sendo ele o pai da mentira, lança dúvidas a respeito da Palavra de
Deus. A Bíblia diz que devemos resisti-lo e assim ele fugirá de nós (Tg.4:7).
2. Um ser criado
Satanás não é auto-existente, ele é uma criatura como os seres humanos
são. Ao contrário de Deus, que criou todas as coisas, o anjo que se tornou
Satanás teve uma origem; suas ações são limitadas por Deus. Ele pode fazer
coisas extraordinárias dentro do orbe da malignidade, porém, dentro do espectro
de tolerância dada por Deus (Jó 1:12; 2:7). Apesar de ser maligno, nem sempre
foi assim; por isso, ele é considerado um anjo caído. A Bíblia fala acerca dos
anjos que pecaram contra o Criador e não guardaram a sua dignidade (2Pd.2:4;
Jd.6; Jó 4:18-21) – “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas,
havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando
reservados para o Juízo” (2Pd.2:4).
Deus criou o querubim ungido, um anjo perfeito em sabedoria e formosura
(Ez.28:12-15). Ele havia sido estabelecido para glorificar a Deus e “chefiar”
essa glorificação. Mas o querubim ungido quis situar-se acima do trono do
Altíssimo, quis ser glorificado e não glorificar a seu Deus e Criador, o que
representava um desvio, uma distorção do fim instituído pelo Senhor e, por
isso, pecou. Por causa de sua rebelião, foi expulso do Céu (Is.14:12-15), e
saíram com ele milhares de anjos que aderiram à rebelião, e uma parte deles continua
em prisão (2Pd.2:4; Jd.6).
3. Um ser dotado de personalidade
Além
de ser uma criatura espiritual, Satanás é dotado de personalidade; ele é uma
pessoa, que tem consciência, entendimento e vontade.
·
Ele é dotado de
consciência.
No episódio da criação, é dito que os anjos cantavam e rejubilavam, ou seja,
demonstraram ter noção do que estava a acontecer e louvavam a Deus. Isto só é
possível para seres que têm consciência de si mesmos e consciência de quem é
Deus a ponto de reconhecerem Sua soberania e Sua dignidade para ser adorado. No
Livro de Jó vemos Satanás, de forma consciente, assumindo atributos de um ser
pessoal. Ele fala e possui capacidade argumentativa (Jó 1:9-11). Essa mesma
característica aparece de forma mais explicita na tentação de Cristo (Mt.4:1-11;
Lc.4:1-13).
·
Ele é dotado de
entendimento. Satanás
sabe quem ele é, o que faz e o que está acontecendo. No livro de Jó, além de
expressar-se verbalmente, Satanás demonstrou possuir entendimento. Ele sabe o
que se passa na Terra e como se comportam as pessoas. Ele conhecia a vida de Jó;
isso faz dele um ser perspicaz. Ele usou de seu conhecimento e perspicácia para
atacar Jó.
·
Ele é dotado de
vontade.
Assim como os homens, os anjos foram criados com o livre-arbítrio, ou seja, com
o poder de escolher entre servir a Deus ou não. Tanto é assim que o “querubim
ungido” escolheu o mal, quis ocupar o lugar de Deus e, por isso, pecou, tendo
sido achado iniquidade nele, a ponto de ter perdido toda a glória que possuía
nesse lugar de proeminência diante do Senhor (Is.14:12-16; Ez.28:12-19). Isto
só foi possível porque os anjos são dotados de livre-arbítrio. Entretanto, para
os anjos, este livre-arbítrio só pode ser exercido uma única vez, visto que os
anjos estão na dimensão celestial, onde não existe o tempo e, portanto, o
arrependimento se torna impossível. Tendo feito a sua escolha, quando do pecado
do “querubim ungido”, os seres angelicais a fizeram para sempre e, por isso,
podemos, hoje, falar em “santos anjos” (Mt.25:31; Mc.8:38; Lc.9:26; At.10:22;
Ap.14:10) ou “anjos de Deus” (Jó 4:18; Sl.91:11; Sl.148:2; Mt.4:6; 13:41;
16:27; 18:10; 24:31; Mc.13:27; Lc.4:10; Hb.1:7; Ap.3:5), como também em “anjos
do diabo” (Mt.25:41; Ap.12:7,9), também chamados de “anjos que não guardaram o
seu principado” (Jd.6).
II. O LIVRO DE JÓ E AS OBRAS DE SATANÁS
Satanás, originalmente um anjo de Deus, tornou-se corrupto pelo seu
orgulho; ele tem sido mau desde sua rebelião contra Deus (1João 3:8). Satanás
considera Deus como inimigo. Ele tenta atrapalhar a obra de Deus na vida das
pessoas, mas está limitado pelo poder de Deus, e faz apenas o que lhe é
permitido (Lc.22:31,32; 1Tm.1:19,20; 2Tm.2:23-26). Satanás é chamado de inimigo
porque busca ativamente por pessoas a quem possa tentar (1Pd.5:8,9), e porque o
seu desejo é que as pessoas odeiem a Deus. Ele faz isso através da mentira e da
decepção (Gn.3:1-6). Jó, um homem correto e inocente, que fora grandemente
abençoado, era o alvo exato para Satanás.
Qualquer pessoa comprometida com Deus deve esperar os ataques do
inimigo. Satanás, que odeia a Deus, também odeia as pessoas. Ele causa dor e
sofrimento; ele acusa as pessoas; ele é o grande tentador.
Todavia, o poder de Satanás é limitado e o seu agir está sob a
autorização de Deus. Ele só age se Deus permitir. Satanás teve que pedir
permissão a Deus para tirar a riqueza, os filhos e a saúde de Jó. Satanás
estava limitado ao que Deus permitia. Ele é limitado quanto ao tempo, ao poder
e à área de atuação. Ele só pode ir até onde Deus lhe permitir que ele faça.
Deus assim lhe ordenou:
“Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto
tem, e verás se não blasfema de ti na tua face! E disse o Senhor a Satanás: Eis
que tudo quanto tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão.
E Satanás saiu da presença do Senhor” (Jó 1:11,12).
1. Dor e sofrimento
Satanás é um anjo poderoso, e ele pode causar dor e sofrimento nas
pessoas. Seu desejo é ver as pessoas sofrerem. Sua missão é causar dor. Satanás
impôs ao patriarca Jó um sofrimento, até então, sem precedentes, pois ninguém
sofreu como ele no Antigo Testamento. Ele colocou uma enfermidade terrivelmente
dolorosa em Jó. Tumores malignos cobriram todo o seu corpo. O sofrimento de Jó pode ser
analisado em dois aspectos principais:
-Primeiro, o sofrimento físico. Ele foi coberto de tumores malignos da planta dos
pés ao alto da cabeça (Jó 2:7,8). A sua dor era imensa. Seus amigos ficaram sentados com ele no chão sete dias e
sete noites; e nenhum deles lhe dizia nada, pois viram que sua dor era muito
grande (Jó 2:13). Ele não conseguia dormir por causa da dor
lancinante. Jó declarou: “Não tenho tranquilidade, nem sossego, nem
descanso; somente perturbação” (Jó 3:26). Ele não conseguia parar de
chorar. Chegou a afirmar: “Pois em lugar de alimento me vêm suspiros, e os
meus gemidos se derramam como água” (Jó
3:24). Ele não tinha nenhum alívio do seu sofrimento. Não tinha descanso nem
sossego. Suas noites eram longas e cheias de aflição. Vejamos a sua queixa:
“assim me deram meses de desengano, e destinaram-me noites de aflição.
Quando me deito, digo: Quando me levantarei? Mas a noite é longa, e canso de me
revolver na cama até o alvorecer” (Jó 7:3,4).
Sua pele
ficou cheia de feridas e pus. Disse Jó: “Meu corpo está coberto de vermes e
de crostas de sujeira; a minha pele se resseca, e as feridas voltam a se abrir”
(Jó 7:5). Suas dores o apavoravam (Jó 9:27,28). Seu corpo apodrecia como
uma roupa comida de traça (Jó 13:28), encarquilhado e magérrimo (Jó 16:8). Seus
ossos se deslocaram. Sua dor não tinha pausa (Jó 30:17). Sua pele enegreceu e começou
a descamar. Seus ossos queimavam de febre (Jó 30:30).
-Segundo, o sofrimento emocional. Ele
ficou angustiado e amargurado (Jó 7:11). À noite, seus sonhos e visões só lhe
traziam mais terror (Jó 7:14). Ele chegou a ficar cansado de viver (Jó 10:1). Seu
rosto afogueou de tanto chorar (Jó 16:16). Ele estava cercado de pessoas que o
provocavam (Jó 17:2). Sua desventura foi proclamada em todo o mundo (Jó 17:6).
As pessoas cuspiam em seu rosto (Jó 17:6; 30:10). Seus sonhos e esperanças fracassaram
(Jó 17:11). Os irmãos e conhecidos fugiram dele na sua dor (Jó 19:13). Os
parentes o desampararam (Jó 19:14). As pessoas que receberam sua ajuda no
passado o tratavam com desprezo (Jó 19:15). O mau hálito e o mau cheiro que
exalavam do seu corpo expulsaram a esposa
e os irmãos de perto dele (Jó 19:17). Até as crianças o desprezavam, e dele
zombavam (Jó 19:18). Todos os seus amigos íntimos o abandonaram (Jó 37:2). Sua
honra e felicidade foram arrancadas (Jó 30:15). Aconteceu o contrário de tudo
de bom que ele desejou (Jó 30:26,27).
Jó era um modelo de confiança e obediência a Deus, mesmo assim Deus
permitiu que Satanás o atacasse de forma particular e cruel. Embora Deus nos
ame, crer nEle e obedecê-lo não nos isenta de calamidades na vida.
Reveses, tragédias e tristezas atingem tantos os não crentes como os
crentes. Contudo, Deus espera que, durante nossas provas e sofrimentos,
expressemos nossa fé ao mundo. Como você reage aos problemas? Você pergunta a
Deus: “Por que eu?”. Ou diz: “Usa-me, Senhor!”.
Devemos aprender a reconhecer, mas não temer, os ataques de satanás,
pois ele não pode exceder os limites estabelecidos por Deus. Embora não
possamos controlar os ataques do Diabo, podemos sempre escolher como reagir a
eles.
2. Acusar
Satanás não somente causa dores e sofrimentos nas pessoas, ele também
faz acusações destruidoras; aliás, acusar faz parte de sua natureza maligna.
Antes de causar dores e sofrimentos em Jó, com a devida permissão de Deus, ele
fez severas acusações. O Diabo o acusou de praticar uma religiosidade motivada
por interesses. Satanás
é um ser rebelde e maligno. Por isso, vê tudo de forma distorcida. Olha para
Deus e para os homens projetando sua maldade. Satanás suspeitou de Deus e
também de Jó. Levantou dúvidas a respeito de Deus e também de Jó. Lançou suas
setas venenosas contra Deus e também contra Jó. Veja o que ele disse a respeito
de Jó:
“Então, respondeu Satanás ao Senhor e disse:
Porventura, teme Jó a Deus debalde?
Porventura, não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem?
A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentado na terra. Mas
estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti
na tua face!” (Jó 1:9-11).
Segundo
Hernandes Dias Lopes, Satanás está aqui insinuando duas coisas:
-Primeiro, que Deus precisa
subornar as pessoas com bênçãos para receber delas adoração. Satanás está dizendo que Deus
não é honesto. Que Deus precisa comprar o louvor dos homens oferecendo-lhes
bênçãos especiais. Satanás se levanta contra o caráter de Deus, acusa-o e
questiona suas motivações.
-Segundo, que Jó só serve a Deus
por interesse. Satanás
está insinuando que Jó também não é honesto. Está afirmando que a devoção de Jó
não passava de uma barganha com Deus. Satanás acusou Jó de ser um utilitarista que
se aproximava de Deus não por quem é Deus, mas por aquilo que Deus dava a ele.
Na verdade, Satanás estava defendendo a tese de que todo mundo serve a Deus por
algum interesse egoísta.
3. Tentar
Uma das
características principais de Satanás é incitar e tentar as pessoas para o mal.
Isto faz parte de sua natureza maligna (cf. 1Cr.21:1) – “Então, Satanás se
levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a Israel”.
Satanás defendia
que a fidelidade de Jó a Deus era devido à sua riqueza. Ele queria mostrar que
o fundamento da devoção de Jó era as dádivas divinas. Para provar isso ele
utilizou do método preferido: a tentação. Ele arregimentou os caldeus e os
sabeus para surrupiar todos os bens de Jó, saqueá-los e destruí-los. O relato
bíblico é comovente (cf. Jó 1:12-17):
“Sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas
comiam e bebiam vinho na casa do irmão primogênito, que veio um mensageiro a Jó
e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pasciam junto a eles; de repente,
deram sobre eles os sabeus, e os levaram, e mataram aos servos a fio de espada;
só eu escapei, para trazer-te a nova. Falava este ainda quando veio outro e
disse: Dividiram-se os caldeus em três bandos, deram sobre os camelos, os
levaram e mataram aos servos a fio de espada; só eu escapei, para trazer-te a
nova”.
Como Jó
reagiu diante dessa forte tentação de Satanás? O homem mais rico do mundo de
sua época foi à falência. O grande empresário rural perdeu tudo e foi à
bancarrota. Seu império econômico entrou em colapso.
Conforme
o argumento de rev. Hernandes Dias Lopes, as notícias chegaram a Jó como uma
avalanche, informando-lhe que seus bens estavam sendo dissipados. As coisas
aconteciam com uma celeridade incomum. Não dava tempo sequer para respirar. Jó
não conseguia elaborar um plano para estancar essa hemorragia que sangrava sua
economia. Não tinha tempo para cercar o fogo nem mesmo para resistir ao ataque fulminante
dos caldeus e sabeus.
Jó, o
homem mais rico do Oriente, estava quebrado. Sua fortuna, como um castelo de
areia, ruiu. Seus rebanhos estavam nas mãos de ladrões impiedosos. Seus campos
foram lambidos pelo fogo. Nada sobrou de toda a riqueza que ostentava. Tudo
estava perdido!
Diante
dessa forte tentação/provação, será que Jó ergueria seus punhos contra Deus?
Será que da boca de Jó sairiam torrentes de blasfêmias? Será que a fidelidade
de Jó estava fundamentada apenas nas benesses recebidas das mãos divinas? Será
que a crença de Jó em Deus era apenas uma barganha, um negócio lucrativo, uma
troca de favores?
Qual foi
a atitude desse patriarca ao perder todos os seus bens? Muitos indivíduos,
quando são atingidos pelos terremotos financeiros, desesperam-se. Outros,
insurgem-se contra Deus. Ainda outros, cometem suicídio e dão cabo da própria
vida. O que fez Jó? No exato momento que sofreu o golpe, o patriarca prostrou-se
não para blasfemar contra Deus, mas para adorá-lo. Longe de atribuir a Deus
qualquer culpa ou revoltar-se contra o altíssimo, afirmou:
“Eu sai nu do ventre de minha mãe, e nu voltarei
para lá” (Jó 1:21).
Assim, Jó
estava dizendo que a razão de sua vida não tinha como fundamento os bens que
granjeara nem a riqueza que ostentava. Jó tinha plena consciência de que não
havia trazido nada para este mundo nem levaria nada dele. Jó sabia que os bens
são dádivas de Deus, que riqueza e glória vêm de Deus, mas que a vida de um
homem não consiste na abundância de bens que ele possui. Jó definitivamente
triunfou sobre a acusação de Satanás. O relato bíblico é enfático:
“Em tudo isso Jó não pecou, nem culpou a Deus coisa
alguma” (Jó 1:22).
E nós, se
estivéssemos diante de uma tentação/provação como esta, como reagiríamos? Pense
nisso!
III. O LIVRO DE JÓ E O OCASO DE SATANÁS
1. Queda e ruína de Satanás
Satanás
subestimou a fé e fidelidade de Jó a Deus. Apesar do sofrimento impiedoso, das
dores infindas, da perda do seu patrimônio, dos seus filhos e de sua saúde
física, ele provou de forma eloquente que sua devoção a Deus não estava baseada
no que recebia de Deus, mas no caráter do Senhor. Como
os três amigos de Daniel na Babilônia, Jó não servia a Deus por aquilo que Ele lhe dava, mas por quem Deus é.
A vitória
de Jó foi uma tremenda derrota para Satanás. Ele não conseguiu o seu intento,
que era fazer com que Jó blasfemasse o nome de Deus. Veja que a partir do
capitulo 3 não é mais mencionado o nome do acusador; ele foi derrotado por um
homem que se comprometeu no seu coração ser fiel a Deus, a despeito das
circunstâncias adversas.
Deus pode
nos livrar do mal. Deus pode nos proteger das setas do inimigo. Deus pode nos
tirar da fornalha. Deus pode nos arrancar das entranhas do mar. Deus pode nos
poupar dos terremotos financeiros, das enfermidades, dos ataques implacáveis
dos inimigos; mas, se Ele, em sua sábia providência, quiser nos entregar para
sofrermos o golpe da dor, das perdas e da morte, mesmo assim devemos ser fiéis
a Ele.
Nesse
embate, Jó saiu vitorioso e o nome de Deus foi glorificado. Todavia, essa
derrota de Satanás foi parcial, pois ainda continua causando dores,
sofrimentos, e perpetrando acusações deletérias e tentando o povo de Deus. Uma
coisa é certa, e ele sabe disso, a sua derrocada final já está decretada
(Ap.20:1-3,10).
“E vi descer do céu um anjo que tinha a chave
do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga
serpente, que é o diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos”.
“E o diabo, que os enganava, foi lançado no
lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de
noite serão atormentados para todo o sempre”.
Na
verdade, o ocaso final de Satanás teve início com a morte, ressurreição e
ascensão de Jesus. A partir daí, as acusações do Diabo contra nós caíram por
terra, porque quem nos justifica diante de Deus é o próprio Cristo (Rm.5:1; 8:33).
No Apocalipse, vemos que Miguel e seus anjos vencem o dragão e seus demônios
(Ap.12:7-9). O mérito da vitória, porém, não cabe ao arcanjo, pois este sempre
atuou em nome do Senhor (Jd.9). Mais adiante, o Diabo é amarrado por mil anos,
para, finalmente, ser lançado no lago de fogo (Ap.20:3,10). Diante das
arremetidas do adversário, sejamos valentes e confiantes na pronta intervenção
divina, pois temos, nesta luta, uma gloriosa promessa (Rm.16:20).
“E o Deus de paz esmagará em breve Satanás
debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco.
Amém!”.
2. Jó e o testemunho de Deus
Satanás
tirou tudo de Jó: seus bens, seus filhos, sua saúde e, até mesmo o apoio de sua
mulher. O homem mais rico do mundo tornou-se o mais pobre entre os pobres. O
homem mais honrado tornou-se o mais desonrado entre os aflitos. O homem mais
cercado de respeito e admiração se deteve na cinza, coberto de chagas, sentindo
dores atrozes. Apesar de todo esse infortúnio, sob a mais densa tormenta, no
epicentro da crise, Jó manteve sua fidelidade a Deus. Mesmo coberto de
desventuras, mesmo surrado pelo chicote da dor, mesmo com o choro perene, mesmo
perdendo todas as conexões da terra, Jó não perdeu seu amor a Deus nem sua
esperança no Redentor. Do mais profundo dos vales, ele gritou: “Eu sei que o
meu Redentor vive” (Jó 19:25). Essa fidelidade inexorável de Jó foi
correspondida pelo seu Deus, que esteve sempre com os seus olhos fitos nele
observando o seu comportamento e testemunho, porque “os olhos do Senhor estão
sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia (Salmos 33:18).
O próprio Deus testemunhou que Jó era o homem que Ele sempre disse que era:
justo, reto e temente a Deus:
“Tomai, pois, sete bezerros e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e
oferecei holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras a
ele aceitarei, para que eu vos não trate conforme a vossa loucura; porque vós
não falastes de mim o que era reto como o meu servo Jó” (Jó 42:8).
Por sua
fidelidade, Deus deu a Jó felicidade plena. O final de Jó foi apoteótico:
“E, assim, abençoou o Senhor o
último estado de Jó, mais do que o primeiro; porque teve catorze mil ovelhas, e
seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas.
Também teve sete filhos e três filhas” (Jó 42:12,13).
“E, depois disto, viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos e
aos filhos de seus filhos, até à quarta geração. Então, morreu Jó, velho e
farto de dias” (Jó 42:16,17).
CONCLUSÃO
Apesar
das intempéries perpetradas por Satanás contra Jó, ele manteve a integridade
básica do seu caráter. Ele preencheu todos os requisitos dos seus dias de um
homem exemplar. O próprio Deus testemunhou do seu caráter e, no final, o
retribuiu por isso. A nós, povo de Deus da Nova Aliança, há uma promessa
inabalável a todos aqueles que resistirem a Satanás em suas investidas e forem fieis
a Deus: “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um
segundo a sua obra” (Ap.22:12). A promessa ainda ecoa como um forte exortação:
“Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de
vós na prisão, para que sejais tentados...Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a
coroa da vida” (Ap.2:10).
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e
Grego. CPAD
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo
Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Hernandes Dias Lopes. Neemias – As teses de
Satanás.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Comentário Bíblico NVI –
EDITORA VIDA.
Pr. Caramuru Afonso
Francisco. UM HOMEM CHAMADO JÓ.
PortalEBD.2003.
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