4º Trimestre/2020
Texto Base: Jó 1:13-22; 2:6-8
“E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu
tornarei para lá; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do
SENHOR” (Jó 2:21).
13.E sucedeu um dia, em que seus filhos
e suas filhas comiam e bebiam vinho na casa de seu irmão primogênito,
14.que veio um mensageiro a Jó e lhe
disse: Os bois lavravam, e as jumentas pasciam junto a eles;
15.e eis que deram sobre eles os
sabeus, e os tomaram, e aos moços feriram ao fio da espada; e eu somente
escapei, para te trazer a nova.
16.Estando este ainda falando, veio
outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os moços, e os
consumiu; e só eu escapei, para te trazer a nova.
17.Estando ainda este falando, veio
outro e disse: Ordenando os caldeus três bandos, deram sobre os camelos, e os
tomaram, e aos moços feriram ao fio da espada; e só eu escapei, para te trazer
a nova.
18.Estando ainda este falando veio
outro e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em
casa de seu irmão primogênito,
19.eis que um grande vento sobreveio
dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os jovens,
e morreram; e só eu escapei, para te trazer a nova.
20.Então, Jó se levantou, e rasgou o
seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou,
21.e disse: Nu saí do ventre de minha
mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o
nome do SENHOR.
22.Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu
a Deus falta alguma.
Jó 2:
6.E disse o SENHOR a Satanás: Eis que
ele está na tua mão; poupa, porém, a sua vida.
7.Então, saiu Satanás da presença do
SENHOR e feriu a Jó de uma chaga maligna, desde a planta do pé até ao alto da
cabeça. 8 E Jó, tomando um pedaço de telha para raspar com ele as feridas,
assentou-se no meio da cinza.
8.E Jó, tomando um pedaço de telha para
raspar com ele as feridas, assentou-se no meio da cinza.
INTRODUÇÃO
Dando continuidade ao estudo sobre a
vida de Jó trataremos nesta Aula da calamidade que se abateu sobre a vida deste
icônico patriarca. De uma vida abastada, piedosa e fraternalmente estruturada,
Jó mergulhou em um mar de calamidades. Esse homem foi elevado às alturas
excelsas e despencou de lá. Sofreu os golpes mais duros. Perdeu seus bens, seus
filhos, a saúde, o apoio de sua mulher e de seus amigos. Caiu não apenas ao
chão, mas desceu aos vales mais tenebrosos. Foi nocauteado e jogado na lona sem
nenhuma força para se levantar. Sua vida tornou-se um verdadeiro drama. Contudo,
o drama de Jó nos ensina que, por pior que seja a situação, pôr mais sombria
que seja a realidade, Deus é poderoso para reverter o quadro e trazer-nos à
tona para respirar. A partir desse drama temos a oportunidade de refletir a
respeito do sofrimento e o modelo de comportamento que o cristão deve ter para
a própria vida diante das adversidades. Com Deus, nossas noites escuras e frias
podem converter-se em manhãs cheias de luz e calor.
I. TRAGÉDIA DE NATUREZA ECONÔMICA
1. Jó, um homem financeiramente realizado
O texto sagrado afirma que Jó era o
homem mais rico de sua geração no Oriente, era o maior empresário rural de seu
tempo - “possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois
e quinhentas jumentas; tinha também muitos servos que trabalhavam para ele, de
modo que era o homem mais rico de todos os do Oriente” (Jó 1:3). Muitos igualam
Jó a grandes industriais e empresários da atualidade.
A vida de Jó refuta a ideia de que
pessoas ricas não podem ser piedosas. A riqueza não é um pecado, nem a pobreza
é uma virtude. A riqueza quando honestamente adquirida é uma bênção. É Deus
quem fortalece as nossas mãos para adquirirmos riquezas. Riquezas e glórias vêm
do próprio Deus.
À sua época, Jó superava todos os seus
concorrentes. Ninguém se comparava a ele no que concernia à prosperidade
financeira e à piedade pessoal. Jó era um homem realizado em sua vida
financeira, em sua vida familiar e em seu relacionamento com Deus; sua
prosperidade não era fundamentada somente no “ter”, mas, principalmente, no
“ser”.
Jó sabia que a sua riqueza vinha de
Deus, e sabia que seu amor deveria ser endereçado a Deus, e não às dádivas de
Deus. Ele tinha convicção plena de que o abençoador é melhor do que a bênção e
que o doador é melhor do que suas dádivas. Quando o homem entende que tudo vem
de Deus e tudo pertence a Deus, não tem dificuldade de colocar esse tudo nas
mãos de Deus. O homem não trouxe nada para este mundo, nem vai levar nada dele.
2. O colapso do patrimônio de Jó
Satanás não aceitou que um homem ultra
milionário como Jó permanecesse íntegro, justo e temente a Deus, e que se
desviava do mal. Por isso, ele intentou afastar Jó de Deus, procurando fazer
com que ele acreditasse que o governo de Deus sobre o mundo não é bom ou justo.
De repetente, Satanás, o acusador, compareceu perante Deus alegando que Jó só
confiava nEle porque era rico, e tudo lhe corria bem. Com a permissão de Deus, Satanás
saiu da sua presença e, de forma implacável, atacou os bens de Jó. Num único
dia, ele arregimentou os caldeus, os sabeus e fez o fogo descer, e, num
rastilho de pólvora, todos os bens desse rico patriarca foram saqueados e
destruídos. O relato bíblico é comovente:
“Certo dia,
quando os filhos e filhas de Jó comiam e bebiam vinho na casa do irmão mais
velho, um mensageiro foi até Jó e lhe disse: Os bois estavam lavrando e as
jumentas pastavam perto deles; então os sabeus os atacaram e os levaram. Eles
ainda mataram os servos ao fio da espada, e só eu escapei para trazer-te essa
notícia. Enquanto o mensageiro ainda falava, veio outro e disse: Fogo de Deus
caiu do céu, queimou as ovelhas e os servos e os consumiu; só
eu escapei para trazer-te essa notícia. Enquanto ele ainda falava, veio outro e
disse: Os caldeus dividiram-se em três grupos, atacaram os camelos e os
levaram, e ainda mataram os servos ao fio da espada; só eu escapei para
trazer-te essa notícia (Jó 1:13-17).
E assim, o homem mais
rico do mundo foi à falência. O grande empresário rural perdeu tudo e foi à
bancarrota. Seu império econômico entrou em colapso. Como uma avalanche, as
notícias foram chegando a Jó, informando-lhe que seus bens estavam sendo
dissipados. As coisas aconteciam com uma celeridade incomum. Não dava tempo
sequer para respirar. Jó não conseguia elaborar um plano para estancar essa hemorragia
que sangrava sua economia. Não teve tempo para debelar o fogo nem
mesmo para resistir ao ataque fulminante dos caldeus e sabeus. Jó, o homem mais
rico do Oriente, faliu. Sua fortuna, como um castelo de areia, ruiu. Seus
rebanhos ficaram nas mãos de ladrões impiedosos. Seus campos foram lambidos
pelo fogo. Nada sobrou de toda a riqueza que ostentava. Tudo estava perdido!
Diante de tão grande tragédia, será
que Jó blasfemaria de Deus? Será que Jó ergueria seus punhos contra Deus? Será
que da boca de Jó sairiam torrentes de blasfêmias? Será que Jó negaria seu Deus
no vale da prova? Será que a fidelidade de Jó estava fundamentada apenas nas benesses
recebidas das mãos divinas? Será que a crença de Jó era apenas uma barganha, um
negócio lucrativo ou uma troca de favores? Qual foi a atitude desse patriarca
ao perder todo o seu patrimônio – indústrias, comércio e agronegócio?
Muitos indivíduos quando são
atingidos pelos terremotos financeiros, desesperam-se; outros insurgem-se
contra Deus; outros cometem suicídio e dão cabo da própria vida. O que fez,
então, Jó? O texto sagrado afirma que no exato momento que sofreu o golpe, o
patriarca prostrou-se não para blasfemar contra Deus, mas para adorá-lo. Longe
de atribuir a Deus qualquer culpa ou revoltar-se contra o Altíssimo, afirmou: “Eu
sai nu do ventre de minha mãe, e nu voltarei para lá” (Jó 1:21). Assim,
Jó estava dizendo que a razão de sua vida não tinha como fundamento os bens que
granjeara nem a riqueza que ostentava. Jó tinha plena consciência de que não
havia trazido nada para este mundo nem levaria nada dele. Jó sabia que os bens
são dádivas de Deus, que riqueza e glória vêm de Deus, mas que a vida de um
homem não consiste na abundância de bens que ele possui (Lc.12:15). Jó
definitivamente triunfou sobre a investida de Satanás. O relato bíblico é
enfático: “Em tudo isso Jó não pecou, nem culpou a Deus coisa alguma” (Jó
1:22).
II. TRAGÉDIA DE NATUREZA FAMILIAR
1. Os Filhos
A maior riqueza de Jó não eram
suas propriedades nem seus rebanhos, mas sua família. Ele tinha dez filhos. Não
obstante serem muitos, abastados e ricos, conservavam estreita amizade. Eram
unidos. Celebravam juntos. Essa unidade familiar não foi costurada sem esforço
- Jó era o grande arquiteto dela.
Ele era um pai piedoso e também um
pai intercessor. Jó dedicava o melhor do seu tempo para orar pelos filhos, para
colocar-se na brecha em favor deles. Chamava os filhos e exortava-os a não
pecar contra Deus. A preocupação principal de Jó não era com a reputação dos
filhos, mas com a glória de Deus. Ele tinha preocupação de que seus filhos pecassem
contra Deus em seu coração. Apenas aparência de piedade não servia para Jó.
Tomava cuidado para que seus filhos não caíssem nas malhas da hipocrisia.
Mesmo sendo um pai tão zeloso, a
tragédia um dia bateu à porta de sua casa. Mesmo sendo um pai intercessor, um
dia a crise se instalou em sua família. Mesmo cumprindo cabalmente seu papel de
sacerdote do lar, um dia a tempestade desabou sobre sua cabeça. No mesmo dia em
que perdeu todos os seus bens, chegou-lhe a amarga notícia de que seus filhos,
reunidos na casa do primogênito, sofreram um trágico acidente, e a casa desabou
sobre todos eles, vindo todos a óbito. Eis o dramático relato:
“Enquanto ele ainda falava,
veio outro e disse: Teus filhos e tuas filhas estavam comendo e bebendo vinho
na casa do irmão mais velho; veio um forte vento do deserto, atingiu os quatro
cantos da casa. que caiu sobre os jovens, e eles morreram. Só eu escapei para
trazer-te essa notícia” (Jó 1:18,19).
Depois de sofrer o golpe da
falência patrimonial, agora Jó sofre a dor do luto - o luto pelos dez filhos.
Esse pai, arruinado financeiramente, agora precisou sepultar seus dez filhos
num único dia. Como esse homem voltou do cemitério? Como recomeçou a vida? Como
encontrou alento para dar os primeiros passos? O que fazer nessas horas? Jó
havia perdido coisas e pessoas; havia perdido os bens e os filhos; estava
despojado de suas riquezas e de sua família. Parecia que esse homem só tinha
passado e mais nenhum futuro. O presente havia mostrado a ele sua carranca. Os
golpes tinham sido profundos demais, e ele estava sem fôlego para prosseguir.
“Esta foi a maior das
perdas de Jó, e que o atingiu mais de perto; e por isso o Diabo a reservou para
o final, para que se outras contrariedades falhassem, esta pudesse fazê-lo
amaldiçoar a Deus. Nossos filhos são partes de nós mesmos; é muito difícil
separar-nos deles, e isso fere um bom homem de maneira mais profunda possível.
Mas separar-se de todos eles de uma vez, e o fato de estarem todos mortos, sim,
aqueles que haviam sido por tantos anos a sua preocupação e a sua esperança,
era algo que o atingia realmente no âmago do seu ser” (HENRY, Matthew.
Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro:
CPAD, 2010, p.10).
2. A reação de Jó
Qual foi a reação de Jó diante de
tão fatídica tragédia? O mesmo Jó que já havia prevalecido no primeiro round
da luta se manteria de pé nessa nova investida de Satanás? Ergueria Jó seus
punhos contra Deus? Será que Jó pecaria contra Deus ao sofrer tão amarga perda?
Será que Satanás ganharia esse round da luta? Será que Satanás estava
certo em dizer que ninguém ama mais a Deus do que à família? Será que a devoção
do homem a Deus fica sempre aquém de seu amor aos filhos?
Para desespero de Satanás, Jó não
blasfemou contra Deus, mas adorou-o com o coração quebrantado. A reação de Jó,
ao receber a notícia fatídica da morte de seus filhos, foi prostrar-se,
cobrir-se de pó e adorar a Deus. Ele se levantou, rasgou o manto, rapou a
cabeça, prostrou-se no chão, adorou e orou:
“Eu sai nu do ventre de
minha mãe, e nu voltarei para lá. O SENHOR o deu, e o SENHOR o tirou; bendito
seja o nome do SENHOR. Em tudo isso Jó não pecou, nem culpou a Deus por coisa
alguma” (Jó 1:20-22).
Diante de tão admirável atitude,
destacamos três verdades (Adaptado do
livro “As teses de Satanás, de Hernandes Dias Lopes):
-Primeiro, Jó tinha plena convicção de que os filhos eram
presentes de Deus. Foi Deus quem os deu, e só Ele podia tirá-los dele. Jó sabia
que os seus filhos tinham vindo de Deus, pertenciam a Ele e deviam ser
entregues e consagrados a Deus.
-Segundo, Jó tinha plena convicção de que Deus é
soberano para tomar os filhos conforme o seu perfeito propósito. Não importa se
os agentes que ceifam a vida dos filhos são perversos; só Deus tem o poder de
dar a vida e de tirá-la (1Sm.2:6). Até mesmo nas maiores tragédias é Deus quem
está no controle. Até mesmo quando Satanás está agindo, é a mão da providência
de Deus que está governando. Mesmo que a providência seja carrancuda, a face
benevolente de Deus está voltada para nós. Os dramas da nossa vida não apanham
Deus de surpresa nem desafiam sua providência. Mesmo quando cruzamos os vales
mais escuros, é a mão de Deus que dirige o nosso destino.
-Terceiro, Jó tinha plena convicção de que devemos
adorar a Deus pelos nossos filhos, seja na vida, seja na morte. Nem sempre a
providência divina vem a nós com largos sorrisos. Às vezes, a providência se
torna carrancuda. Às vezes, sofremos golpes profundos e aprendemos pelas coisas
que sofremos. Deus não é Deus apenas das horas alegres, mas também das horas
tristes. Deus é digno de ser adorado não apenas na hora do nascimento, mas
também na hora da morte. Nossa adoração a Deus é incondicional e
ultracircunstancial.
3. A reação da esposa de Jó
A reação da mulher de Jó diante
das tragédias acometidas - sobre o seu marido, o patrimônio da família, seus
filhos -, deixou-a em estado de choque e falou coisas típicas de pessoas
desesperadas, descontroladas, e revoltadas com tudo e com todos. Seu desespero
foi tão forte que quis empurrar Jó para o abismo, sugerindo a ele pisotear seus
valores, abandonar sua fé e lançar-se nos braços da morte.
Muitos casamentos não suportam uma
tragédia financeira no lar como esta. A mulher de Jó ordenou-lhe a abrir mão de
seus absolutos, amaldiçoar a Deus e morrer. Ela disse a Jó: “... Tu ainda te manténs íntegro? Amaldiçoa a Deus e
morre” (Jó 2:9). Ela não suportou a sucessão de tantas perdas. Decepcionada
com Deus, estava disposta a virar a mesa e abandonar todos os valores e
princípios que haviam regido até então sua vida. Nota-se que sua fidelidade a
Deus era condicional; ela mantinha sua devoção apenas nos dias áureos. Sua fé
era circunstancial, e sua ética, situacional.
Mesmo mergulhado num caudal de
sofrimento e dor, Jó respondeu à sua mulher com firmeza granítica: “Tu falas como uma louca. Por acaso
receberemos de Deus apenas o bem e não também a desgraça?” (Jó 2:10).
Muitos exegetas procuram atribuir um sentido a este texto o qual ele não tem.
Para esses, a esposa de Jó não estava mandando amaldiçoar a Deus, mas
orientando Jó a louvá-lo e morrer em paz. No entanto, as evidências do texto
depõem contra esse entendimento. A reação de Jó, ao dizer que sua esposa falava
“como louca”, confirma esse fato.
Como entender a reação da mulher de Jó diante da situação caótica de
seu marido? É difícil compreender, num só ângulo, a sua reação. Ao ver o seu
marido no meio da cinza com um pedaço de cerâmica raspando as feridas, no
monturo da cidade, como um pária, um sentimento amargo lhe invade a alma
aflita. Ela perdeu definitivamente a esperança; achava que já havia chegado ao
limite da vida. Aproximou-se do marido moribundo, sentiu pena dele, fechou os
olhos, apertou-os e a seguir disparou: “Ainda
reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2:9). Nenhum
sofrimento pode ser maior do que a confiança e fidelidade a Deus. O Senhor
jamais permitirá que sejamos tentados acima de nossas forças (1Co.10:13).
Assim como os servos de Jó foram
preservados da morte para levarem a notícia calamitosa ao patriarca, a esposa
parece que fora guardada todo esse tempo para soltar esse último chicote. Sem o
saber, pensando que a morte seria a melhor solução para o marido, a mulher
emprestou sua boca ao Tentador incitando Jó a se rebelar e amaldiçoar a Deus.
A mulher em vez de confiar em Deus
acima de todas as coisas, em vez de amar ao Senhor pelo que Ele é, deixou-se
levar pelas circunstâncias atrozes, fundamentada em um relacionamento de barganha
com Deus. Para muitos a morte é a solução para uma vida de infortúnios e
desajustes domésticos; contudo, sempre há uma esperança para aqueles que
confiam em Deus.
Jó olha para sua esposa, e a mira
com ternura e carinho. A mulher sente o tempo parar por alguns instantes. Embora
o tabernáculo terrestre de Jó estivesse se desfazendo, seu edifício eterno
estava preparado por Deus (2Co.5:1). Os olhos de Jó traziam um brilho vivaz,
contagiante, embora todo o restante dissesse o contrário. Podemos ver nesse
olhar de Jó, o olhar de Jesus quando Pedro o negou; e, carinhosamente, Jó fala
para a sua mulher:
“Como fala qualquer doida,
assim falas tu; receberemos o bem de Deus e não receberíamos o mal?” (Jó 2:10).
O sábio Jó afirmara que sua
esposa, em seu desespero e dor, falava como uma pessoa sem entendimento, como
alguém que ele não conhecia. A mulher ficou desconcertada diante da afirmação
do marido; refletiu a respeito do assunto; lembrou das muitas orações de Jó
feitas em gratidão ao Senhor. E ali mesmo, reconsiderou, calou-se e desapareceu
do cenário até o final do livro de Jó quando Deus restitui-lhe todas as coisas.
Embora não seja mencionada no final do livro, não há razões para se duvidar de
sua presença; certamente, ela é a esposa incansável que esteve com o marido nos
piores momentos e circunstâncias, mas que, em certo momento, perdeu as
esperanças, contudo, a recobrou através da piedade e devoção de seu marido.
III. TRAGÉDIA DE NATUREZA FÍSICA E PSICOLÓGICA
Satanás pode causar dor e
sofrimento nas pessoas. Seu desejo é ver as pessoas sofrerem. Sua missão é
causar dor. Ele impôs ao patriarca Jó um sofrimento, até então, sem
precedentes, pois ninguém sofreu como ele no Antigo Testamento. O sofrimento de
Jó pode ser analisado em dois aspectos principais: físico e psicológico.
1. O Diabo tocou na saúde de Jó
Em outra ocasião, Deus estava
reunido com seus filhos (muito provavelmente os anjos), e também muito
provavelmente nas regiões celestes, quando mais uma vez apareceu por lá
Satanás. Veja o registro bíblico:
“Outro dia, em que os
filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, Satanás também veio com
eles para igualmente se apresentar perante o SENHOR. Então o SENHOR perguntou a
Satanás: De onde vens? Satanás respondeu ao SENHOR: De rodear a terra e de
passear por ela (Jó 2:1,2).
Veja aqui a resposta de Satanás: “De rodear a terra e de passear por ela”.
Em outras palavras, isto quer dizer: "Eu
não mudei minha agenda. Continuo fazendo o que sempre quis fazer. Estou por aí,
vivo e ativo no planeta Terra, investigando pessoas, buscando uma brecha,
colocando armadilhas no caminho dos incautos, cegando o entendimento dos incrédulos,
controlando os filhos da ira, induzindo-os ao erro, criando doutrinas falsas,
tentando e seduzindo pessoas a caírem em tentação".
Na ocasião, Deus novamente
perguntou a Satanás: ”Observaste o meu
servo Jó? Não há ninguém na terra como ele. É um homem íntegro e correto, que
teme a Deus e se desvia do mal. Ele ainda se mantém íntegro, embora tu me
houvesses incitado contra ele, para destruí-lo sem motivo” (Jó 2:3).
Deus joga na cara de Satanás que
Jó havia prevalecido sobre suas acusações deletérias nas investidas anteriores.
Jó provara que seu amor a Deus era superior ao seu amor ao dinheiro e à
família. Jó provara que sua devoção a Deus não era uma barganha. Sua adoração
era verdadeira, e sua devoção era sincera. Mesmo diante das perdas mais
profundas, falência financeira e luto pelos filhos, Jó continuava sendo o homem
mais piedoso do mundo. Sua piedade e sua reputação estavam intactas. Nenhum
arranhão existia em seu relacionamento com Deus. Jó não servia a Deus por
aquilo que recebia dEle, mas por quem Deus é.
Satanás não gostou do testemunho
de Deus em favor de Jó; então, contra-atacou lançando seu torpedo mortífero.
Eis o registro bíblico:
“Então Satanás respondeu ao SENHOR: Pele por pele! Tudo quanto
um homem tem ele dará por sua vida. Estende a mão agora e toca-lhe nos ossos e
na carne, e ele blasfemará contra ti na tua face!” (Jó 2:4,5).
O argumento de Satanás é que
ninguém ama mais a Deus do que a si mesmo. O amor-próprio é um sentimento inato
e uma defesa natural. Protegemo-nos instantaneamente, naturalmente, constantemente.
Tocar na pele, nos ossos e na carne é a forma mais profunda de atingir alguém; não
é apenas atingir sua saúde, mas atingi-la da forma mais aguda e dolorosa.
Satanás estava insinuando que, na dor, ninguém consegue ser fiel a Deus.
Satanás estava afirmando que, no sofrimento, os valores do homem mudam. Satanás
estava duvidando da firmeza de Jó, quando as baterias do sofrimento atingirem
não apenas seu bolso e suas emoções, mas também seu corpo. Deus refutou a
posição de Satanás e abriu caminho para que ele atingisse a saúde de Jó, em
seus ossos e em sua carne. O Senhor disse a Satanás: “Ele está sob teu
poder; somente lhe poupa a vida” (Jó 2:6). Satanás só pode agir na vida dos
filhos de Deus quando este o permite. Deus traça um limite: “... somente lhe poupa a vida”. Satanás
é um ser limitado; ele só pode ir até aonde Deus permite que vá; nem um
centímetro a mais.
2. Saúde física
Debaixo de uma limitação imposta
por Deus, Satanás saiu para cumprir o seu intento maléfico. Diz o texto
bíblico:
“Satanás saiu da presença do SENHOR e feriu Jó com feridas
malignas, da sola dos pés até o alto da cabeça (Jó 2:7).
Segundo Hernandes Dias Lopes, Satanás
é um ser mórbido; seu desejo é ver as pessoas sofrerem; sua missão é causar
dor. Ele colocou uma enfermidade muito dolorosa em Jó. Tumores malignos
cobriram todo o seu corpo. O mesmo Jó que acabara de perder todos os seus bens
e sepultar todos os seus filhos, imaginando que sua dor já era grande demais,
agora enfrentava uma doença avassaladora, que deixara chagado todo o seu corpo.
Bolhas de pus arrebentaram em seu
corpo. Sua pele ficou enegrecida e necrosada. A dor lancinante o atormentava de
dia e de noite. Não havia pausa nem descanso. Não havia alívio sequer um
minuto. O homem mais rico do Oriente,
agora falido e enlutado, estava também desolado e atormentado por uma dor que castigava
com rigor desmesurado o seu corpo. Jó se assentou na cinza e começou a raspar
suas feridas putrefatas com cacos de telha. Diz o texto: “Sentando-se em cinzas, Jó pegou um caco para se raspar” (Jó 2:8).
O corpo de Jó foi surrado pela
doença. A dor cruel latejava em todo o seu corpo sem pausa nem descanso. Jó não
conseguia comer, apenas chorar. Sua dor não cessava. Seu corpo ficou imundo.
Seus ossos quase à mostra revelavam a tragédia que devastava sua saúde. Sua
pele ficou cheia de feridas e pus. Disse Jó: “Meu corpo está coberto de vermes e de crostas de sujeira; a minha pele
se resseca, e as feridas voltam a se abrir” (Jó 7:5). Suas dores o
apavoravam (Jó 9:27,28). Seu corpo apodrecia como uma roupa comida de traça (Jó
13:28), encarquilhado e magérrimo (Jó 16:8). Seus ossos se deslocaram. Sua dor
não tinha pausa (Jó 30:17). Sua pele enegreceu e começou a descamar. Seus ossos
queimavam de febre (Jó 30:30).
Muitos blasfemam contra Deus na
dor. Outros se revoltam e erguem os punhos contra os céus. Não poucos se
afastam de Deus, decepcionados e amargurados. Porém Jó, no espiral da dor, no
epicentro da tempestade, ele respondeu à sua mulher:
“... Por acaso receberemos
de Deus apenas o bem e não também a desgraça? Em tudo isso Jó não pecou com os
lábios (Jó 2:10).
Com estas palavras resolutas, Jó
provou amar mais a Deus do que a si mesmo; deixou patente que amava mais a Deus
do que à própria pele. Jó demonstrou que não servia a Deus pelos favores
recebidos dEle, mas servia-lhe pelo seu caráter. Deus é melhor do que as
dádivas dEle.
Satanás tirou tudo de Jó - seus
bens, seus filhos, sua saúde e o apoio de sua mulher.
Mesmo assim, sob a mais densa tormenta, no epicentro da crise, Jó manteve sua
fidelidade a Deus.
O homem mais cercado de respeito e
admiração esteve na cinza, coberto de chagas, sentindo dores atrozes. Mesmo
coberto de desventuras, mesmo surrado pelo chicote da dor, mesmo com os olhos
molhados de lágrimas, mesmo perdendo todas as conexões da terra, Jó não perdeu
seu amor a Deus nem sua esperança no Redentor. Do mais profundo dos vales, ele gritou:
“Eu sei que o meu redentor vive” (Jó
19:25). Mais uma vez, Satanás foi vergonhosamente derrotado. Glórias a Deus!
3. Saúde emocional e psicológica
Além da saúde física, Jó
experimentou o sofrimento emocional, que o levou a uma tendência de distúrbio
psicológico. Não há uma clareza no texto sagrado que nos permita auferir com
certeza que Jó entrou em depressão; todavia, há vários textos no corpo do livro
que nos levam a fazer essa inferência (cf. Jó 3:1-14). Jó chegou amaldiçoar o
dia de seu nascimento, não vendo mais razão para que fosse comemorado. Somente debaixo
de forte pressão psicológica é que pessoas chegam a tal ponto.
Jó ficou angustiado e amargurado
(Jó 7:11). À noite, seus sonhos e visões só lhe traziam mais terror (Jó 7:14).
Ele chegou a ficar cansado de viver (Jó 10:1). Seu rosto afogueou de tanto
chorar (Jó 16:16). Ele estava cercado de pessoas que o provocavam (Jó 17:2). As
pessoas cuspiam em seu rosto (Jó 17:6; 30:10). Seus sonhos e esperanças
fracassaram (Jó 17:11). Os irmãos e conhecidos fugiram dele na sua dor (Jó
19:13). Os parentes o desampararam (Jó 19:14). As pessoas que receberam sua
ajuda no passado o tratavam com desprezo (Jó 19:15). O mau hálito e o mau
cheiro que exalavam do seu corpo expulsaram a esposa e os irmãos de perto dele
(Jó 19:17). Até as crianças o desprezavam e dele zombavam (Jó 19:18). Todos os
seus amigos íntimos o abandonaram (Jó 37:2). Sua honra e felicidade foram
arrancadas (Jó 30:15). Aconteceu o contrário de tudo de bom que ele desejou (Jó
30:26,27).
Jó era um modelo de confiança e
obediência a Deus, mesmo assim Deus permitiu que Satanás o atacasse de forma
especial e cruel. Embora Deus nos ame, crer nEle e obedecê-lo não nos isenta de
calamidades na vida. Reveses, tragédias e tristezas atingem tantos os não crentes
como os crentes. Contudo, Deus espera que, durante nossas provas e sofrimentos,
expressemos nossa fé diante do mundo.
CONCLUSÃO
Como reagimos às intempéries e
vicissitudes da vida? Perguntamos a Deus: “Por que eu?” Ou dizemos: “usa-me,
Senhor!”. Devemos aprender a reconhecer, mas não temer, os ataques de Satanás,
pois ele não pode exceder os limites estabelecidos por Deus. Embora não
possamos controlar os ataques do Diabo, podemos sempre escolher como reagir a
eles.
O Senhor Jesus ensinou os seus
discípulos a reagir diante das dificuldades da vida. Em nenhum momento nosso
Senhor negou que teríamos sofrimento na vida. Nesse aspecto, a grande diferença
entre quem tem confiança em Cristo está na forma que se passa pelo caminho do
sofrimento. Jó foi constrangido a suportar as dores mais terríveis e os piores
desconfortos a que um ser humano jamais fora submetido, entretanto, reteve a
sua integridade. Assim, Jó é um grande exemplo de fé e paciência para o povo de
Deus do Novo Testamento.
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e
Grego. CPAD
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo
Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Hernandes Dias Lopes. Neemias – As teses de
Satanás.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Comentário Bíblico NVI –
EDITORA VIDA.
Pr. Caramuru Afonso
Francisco. Um homem chamado Jó.
PortalEBD.2003.
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