4º Trimestre/2020
Texto Base: Jó 32:1-4; 33:1-4; 34:1-6; 36:1-5
“Ao aflito livra da sua aflição e, na
opressão, se revela aos seus ouvidos” (Jó 36:15).
1.Então, aqueles três homens cessaram de
responder a Jó; porque era justo aos seus próprios olhos.
2.E acendeu-se a ira de Eliú, filho de
Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu a sua ira, porque
se justificava a si mesmo, mais do que a Deus.
3.Também a sua ira se acendeu contra os seus
três amigos; porque, não achando que responder, todavia, condenavam a Jó.
4.Eliú, porém, esperou para falar a Jó,
porquanto tinham mais idade do que ele.
Jó 33:
1.Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas
razões e dá ouvidos a todas as minhas palavras.
2.Eis que já abri a minha boca; já falou a
minha língua debaixo do meu paladar.
3.As minhas razões sairão da sinceridade do
meu coração; e a pura ciência, dos meus lábios.
4.O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do
Todo-Poderoso me deu vida.
Jó 34:
1.Respondeu mais Eliú e disse:
2.Ouvi vós, sábios, as minhas razões; e vós,
instruídos, inclinai os ouvidos para mim.
3.Porque o ouvido prova as palavras como o
paladar prova a comida.
4.O que é direito escolhamos para nós; e
conheçamos entre nós o que é bom.
5.Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o
meu direito.
6.Apesar do meu direito, sou considerado
mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão.
Jó 36:
1.Prosseguiu ainda Eliú e disse:
2.Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que
ainda há razões a favor de Deus.
3.Desde longe repetirei a minha opinião; e ao
meu Criador atribuirei a justiça.
4.Porque, na verdade, as minhas palavras não
serão falsas; contigo está um que é sincero na sua opinião
5.Eis que Deus é mui grande; contudo, a
ninguém despreza; grande é em força de coração.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula
trataremos da teologia de Eliú, um quarto amigo de Jó; sua teologia: o
sofrimento é uma ação pedagógica de Deus para corrigir o homem. Depois da
réplica de Jó ao terceiro discurso de Bildade, exsurge um silêncio, pois os
amigos de Jó não encontraram meios para convencer o patriarca, que seguiu
convicto de sua inocência; apareceu, então, Eliú, o mais jovem dentre os quatro,
cuja presença não fora até então mencionada no livro. Eliú é mencionado no
livro de Jó a partir do capítulo 32, quando começou a sua fala, fala esta que
não teve resposta por parte do patriarca Jó. Eliú ingressou no debate
procurando ser um meio-termo entre o discurso dos amigos e o do patriarca,
disto resultando uma visão de Deus mais real que a dos amigos de Jó, mas também
insuficiente para desmentir a forte convicção do patriarca. Embora ainda
achasse que Jó seria um pecador, Eliú conseguiu, em seu discurso, ter uma visão
da graça de Deus, algo que fora completamente ignorado pelos outros amigos do
patriarca, e, por isso, viu que o sofrimento pode ser resultado do amor de
Deus, não apenas fruto de uma punição.
I. O SOFRIMENTO
COMO UMA FORMA DE REVELAR DEUS
O primeiro
discurso de Eliú foi direcionado aos outros três amigos (Jó cap.32). Durante
toda a discursão, entre os três amigos e Jó, ele se manteve calado, por
respeito à idade deles. Agora, porém, não consegue mais se conter. Declarou que
sábios não são os de mais idade e que Deus pode conceder discernimento aos mais
jovens, como ele. Repreendeu os outros amigos de Jó por não apresentarem
argumentos convincentes. Por causa disso, sentiu-se compelido a falar e propôs
declarar sua opinião sem usar de lisonjas ou de parcialidade (cf. Jó 32:7-22).
Em seu
segundo discurso, agora direcionado a Jó, Eliú acusou o patriarca de ter sido
injusto para com Deus, pois não poderia considerar o Senhor como seu inimigo em
virtude do sofrimento que estava passando, ainda que fosse alguém inocente,
como afirmava ser (Jó 33:8-13). Eliú afirmou que,
ao considerar Deus como seu inimigo, Jó estava, indevidamente, colocando-se
numa posição de superioridade em relação a Deus, pois estava julgando a Deus, o
que é inadmissível ao homem. Ainda que Jó tivesse moderado, durante suas
respostas a seus amigos, não restava dúvida de que considerar a Deus como seu
inimigo era uma atitude inadequada que Jó tomava, não em relação a Deus, mas em
relação a si próprio, uma posição que, efetivamente, não era a sua, qual seja,
a de querer questionar os propósitos divinos. Não devemos contender com Deus,
mas devemos nos submeter à Sua vontade, crendo que tudo que acontece é o melhor
para nós (Rm.8:28).
1. Deus é soberano
(Jó 33:14,15)
Em
continuação ao seu segundo discurso, Eliú insiste que Deus é soberano e não tem
que prestar contas do que faz para ninguém (Jó 33:13,14), mas, mesmo assim, por
obra de Sua vontade apenas, ainda se dá ao trabalho de revelar ao homem o que
está a fazer, quando Lhe convém fazê-lo (Jó 33:14-18). O Deus de Eliú, ao
contrário dos demais amigos de Jó, é um Deus participante, um Deus que não
deixa Sua criação à própria sorte, mas um Deus que não está obrigado a prestar
contas, pois é Senhor e Soberano.
“Por que
razão contendes com ele? Porque ele não dá contas de nenhum dos seus feitos. Antes,
Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso.
Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e
adormecem na cama” (Jó 33:13-15).
Vemos aqui,
sem dúvida alguma, um Deus bem diferente do apregoado pelos arautos da
confissão positiva e da teologia da prosperidade nos dias hodiernos. É um Deus
que quer, sim, o bem do homem (Jó 33:17,18), mas que, para tanto, muitas vezes,
dá ao homem coisas que, aparentemente são más, como a enfermidade (Jó
33:19-22). É um Deus que fala de muitas maneiras (Jó 33:15,16) e que não está
sujeito aos caprichos humanos, um Deus cujo propósito é trazer bem ao homem,
mesmo que por caminhos que ao homem sejam estranhos e incompreensíveis (Jó
33:29-33).
2. O orgulho do
homem priva-o de ouvir Deus
Já afirmamos
na Aula 06 que Deus é um Ser transcendente e imanente, ou seja, a despeito de
habitar nas alturas mais insondáveis, e apesar de infinito e imenso, não
permanece alheio às suas criaturas. Deus fala ao ser humano de várias maneiras,
inclusive pelo silêncio. De acordo com Eliú, o problema não é o silêncio de
Deus, mas o orgulho humano que não lhe permite escutá-lo. Eliú repreendeu Jó
pela maneira com que declarou sua inocência e por culpar Deus de tratá-lo
injustamente. “Deus é maior do que o homem” (Jó 33:12), declarou Eliú, e não
precisa dar “contas de nenhum dos seus atos” ao ser humano (Jó 33:13). Todavia,
fala com as pessoas por meio de sonhos e visões noturnas (Jó 33:14,15), para
exortá-las sobre a maldade e o orgulho e para salvá-las da morte violenta (Jó
33:17,18).
Quando
passamos por momentos difíceis em nossa vida, é natural querer saber o porquê disso
está ocorrendo. Mas, quando olhamos para a Bíblia percebemos que homens e
mulheres puderam reconhecer a voz de Deus de dentro do sofrimento. À época de
Jó ninguém tinha esta percepção, nem mesmo o patriarca. Por isso, ele queria descobrir
por que estava sofrendo. Nos capítulos anteriores, podemos sentir a sua
frustração. Eliú disse a Jó que Deus estava tentando responder, mas ele não
estava ouvindo. Foi neste ponto que Eliú julgou a Deus de forma errada. Se Deus
fosse obrigado a responder todas as nossas perguntas, nós não seríamos testados
de forma adequada. Imagine se Deus houvesse dito a Jó: “Jó, Satanás vai
testá-lo e afligi-lo, mas ao final você será curado e receberá tudo de volta”. A
provação de Jó não teria nenhum sentido. O maior teste de Jó não foi a dor, e
sim o fato de não saber o motivo do seu sofrimento. Nossa maior luta pode ser a
necessidade de confiarmos na bondade de Deus, mesmo não compreendendo por que a
nossa vida está caminhando desta forma. Precisamos aprender a confiar em Deus,
que Ele é bom, e não na bondade da vida.
3. O mistério da
redenção (Jó 33:19-24)
19.Também no
seu leito é castigado com dores, com incessante contenda nos seus ossos;
20.de modo que a sua vida abomina o pão, e a sua alma, a comida apetecível.
21.A sua
carne, que se via, agora desaparece, e os seus ossos, que não se viam, agora se
descobrem.
22.A sua alma
se vai chegando à cova, e a sua vida, aos portadores da morte.
23.Se com ele
houver um anjo intercessor, um dos milhares, para declarar ao homem o que lhe
convém,
24.então,
Deus terá misericórdia dele e dirá ao anjo: Redime-o, para que não desça à
cova; achei resgate.
Além de
sonhos e visões, Eliú também destaca que o Senhor também fala por meio de dores
e doenças graves (Jó 33:19-22) (situações em que até mesmo a comida apetitosa
se torna repulsiva). “Se [...] houver um anjo intercessor” (Jó 33:23) e este
explicar os caminhos justos de Deus ao homem (e se o sofredor acolher a palavra
pela fé), então o Senhor o salvará por meio de um resgate adequado, “para que
não desça à cova” (Jó 33:24). Não há dúvidas de que esse intercessor/mediador é
a mesma testemunha celestial que Jó pedia que defendesse a sua causa (Jó 16:19)
e o redentor que o justificasse depois de sua morte (Jó 19:25). O foco de Eliú
era que Deus havia falado por diversas vezes. Ele falara em sonhos e visões (Jó
33:15-18), através do sofrimento (Jó 33:19-22), e por meio de um anjo (Jó
33:23,24). Jó sabia disso. Eliú acusou Jó de não dar ouvidos a Deus, o que não
era verdade.
Embora Eliú
não explique o que quer dizer com “achei resgate”, no final do versículo 24, é
justificável imaginar que esteja se referindo Àquele que “a si mesmo se deu em
resgate por todos” (1Tm.2:6). Mesmo sem saber, Eliú está tratando aqui do
mistério da Redenção que milhares de anos após haveria de ser revelado. Segundo
Eliú, a pessoa que ouve a admoestação do Senhor tem a saúde física e espiritual
restaurada. Aquele que confessa seu pecado é resgatado da morte espiritual e/ou
física.
II. O
SOFRIMENTO COMO MEIO DE REVELAR A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS
Neste tópico
trataremos do terceiro discurso de Eliú aos três amigos de Jó (capítulo 34).
Neste seu terceiro discurso, ele analisa a declaração de inocência de Jó,
declaração na qual, como vimos, não acreditava, pois, apesar de sua melhor
visão e amplidão em relação aos seus amigos, Eliú ainda continuava
compartilhando da ideia do dogma da retribuição e cometeu, neste ponto, o mesmo
erro de Elifaz, Bildade e Zofar. Para Eliú, ainda havia como discernir o que é
bom e o que é mau, algo que é fruto de um julgamento que não pode ser feito
pelo homem e, aqui, Eliú cometeu o mesmo erro que apontou em Jó no segundo
discurso, o de se fazer juiz, algo que somente compete a Deus (cf.Tg.4:11,12).
1. A justiça de
Deus demonstrada (Jó 34:1-15)
Eliú,
juntamente com os demais amigos de Jó, na defesa da justiça de Deus, fez
acusação contra Jó. Ele citou as declarações de Jó, em que este se queixava de
Deus por causar sofrimento a um homem e por não haver vantagem em levar uma
vida piedosa a fim de agradar ao Senhor. Eliú afirmou que Jó se dizia justo e
que Deus lhe havia tirado o seu direito, mas não aceitava este argumento. Voltando
a insistir na tese da superioridade de Deus em relação ao homem (Jó 34:12-15),
disse que Jó advogava a tese de que não adiantava ser direito e que Jó era um
homem que caminhava em companhia dos que praticavam a iniquidade e que andava
com homens ímpios, algo que, sabemos, não corresponder à realidade (Jó
34:5-10). Eliú insistiu em que o Todo-Poderoso nunca é culpado de injustiças,
pois isso contraria sua própria natureza (Jó 34:10,12). Portanto, na
perspectiva de Eliú, os argumentos de Jó eram meras insolências. Aliás, “se
Deus pensasse apenas em si mesmo”, afirmou Eliú, todas as suas criaturas
morreriam e voltariam para o pó (Jó 34:14,15). Apesar de invocar a inspiração
divina, Eliú não se desprendeu, totalmente, do dogma da retribuição e
continuava, como seus outros amigos, a defender a tese de que "segundo a
obra do homem, Deus lhe paga, e faz que cada um ache segundo o seu
caminho" (Jó 34:11).
2. O caráter justo
de Deus
Para
justificar a sua tese diante de Jó e de seus demais amigos, Eliú descreveu o
caráter justo de Deus da seguinte forma:
a) Ele age
com justiça quando retribui ao homem o que ele merece (Jó 34.11):
“Pois
retribui ao homem segundo as suas obras e faz que a cada um toque segundo o seu
caminho”.
b) Deus não
precisa prestar contas de seus atos a ninguém, visto que não recebeu autoridade
de nenhum outro ser criado (Jó 34:13):
“Quem lhe
entregou o governo da terra? Quem lhe confiou o universo?”.
c) Como o
provedor da vida humana, Ele tem todo o poder de manter ou não a humanidade (Jó
34:14,15):
“Se Deus
pensasse apenas em si mesmo e para si recolhesse o seu espírito e o seu sopro,
toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó”.
d) O
Todo-Poderoso não faz acepção de pessoas, quer sejam reis, nobres ou pobres (Jó
34:16-20):
16.Se, pois,
há em ti entendimento, ouve isto; inclina os ouvidos ao som das minhas
palavras.
17.Acaso, governaria o que aborrecesse o direito? E quererás tu condenar aquele
que é justo e poderoso?
18.Dir-se-á a
um rei: Oh! Vil? Ou aos príncipes: Oh! Perversos?
19.Quanto
menos àquele que não faz acepção das pessoas de príncipes, nem estima ao rico
mais do que ao pobre; porque todos são obra de suas mãos.
20.De
repente, morrem; à meia-noite, os povos são perturbados e passam, e os
poderosos são tomados por força invisível.
e) Deus é
onisciente e como tal conhece os passos e as intenções de todos os homens sem
precisar inquiri-los em juízo (Jó 34:21-25):
21.Os olhos
de Deus estão sobre os caminhos do homem e veem todos os seus passos.
22.Não há trevas nem sombra assaz profunda, onde se escondam os que praticam a
iniquidade.
23.Pois Deus não precisa observar por muito tempo o homem antes de o fazer ir a
juízo perante ele.
24.Quebranta
os fortes, sem os inquirir, e põe outros em seu lugar.
25.Ele
conhece, pois, as suas obras; de noite, os transtorna, e ficam moídos.
f) Ele é
justo para punir os maus (Jó 34:26-30).
26.Ele os
fere como a perversos, à vista de todos;
27.porque
dele se desviaram, e não quiseram compreender nenhum de seus caminhos,
28.e, assim,
fizeram que o clamor do pobre subisse até Deus, e este ouviu o lamento dos
aflitos.
29.Se ele
aquietar-se, quem o condenará? Se encobrir o rosto, quem o poderá contemplar,
seja um povo, seja um homem?
30.Para que o
ímpio não reine, e não haja quem iluda o povo.
Diante desta
descrição, Eliú entendeu ser uma ousadia inadmissível Jó querer contender com
Deus, diante da superioridade e da soberania do Senhor (Jó 34:16-22), e
entendia que, diante de Deus, ao contrário do que alegava Jó, o homem não terá
qualquer chance num julgamento (Jó 34:23-32); esta visão de Eliú despreza a
graça de Deus, e que não corresponde à realidade do caráter do Senhor, mas que,
dentro da argumentação de Eliú, fica extremamente enfraquecida, já que Deus não
é um ser distante e que não se importa com o homem. Não é sem razão que alguns
comentadores bíblicos entendem que Eliú, ao tentar estabelecer um meio-termo
entre as visões dos demais contendores, acaba produzindo um discurso incapaz de
superar o impasse.
Dentro deste
seu raciocínio, Eliú encerra o terceiro discurso dizendo que Jó, ao querer
contender com Deus e a dizer que o Senhor se fez seu inimigo sem razão, cometeu
um pecado além dos pecados pelos quais estava sofrendo: o pecado de se rebelar
contra Deus. Por isso, diz Eliú, Jó deve ser, mesmo, provado até o fim, pois é
um homem mau, pecador, pois se rebelou contra o Senhor (Jó 34:34-37). Todavia,
bem sabemos que tais argumentos de Eliú não têm qualquer respaldo, pois, se é
certo que Jó foi imprudente em amaldiçoar o dia de seu nascimento, como também
em achar que Deus tornara-se seu inimigo, não é menos verdadeiro que era um
homem inocente, sem culpa e, portanto, podia, sim, declarar-se inocente.
3. A defesa da
soberania de Deus
Eliú encerrou
o capítulo 34 mostrando a Jó que Deus, em sua soberania e livre vontade, não
tem a obrigação de agir segundo o querer do homem. Disse Eliú:
“Acaso, deve
ele recompensar-te segundo tu queres ou não queres? Acaso, deve ele dizer-te:
Escolhe tu, e não eu; declara o que sabes, fala? (Jó 34:33).
A soberania
de Deus é uma autoridade inquestionável que o Senhor detém sobre o Universo,
pelo fato óbvio de que Ele é o Criador de todas as coisas (Is.44:6;45:6; Ap.11:17).
Por ser soberano, Deus sabe o que é o bem e, por isso, como nenhum outro ser,
tem condições de permitir, na vida dos homens, ocasiões e circunstâncias que,
aparentemente más, contribuem para o bem dos indivíduos.
O Deus
soberano jamais permitirá que soframos sem um santo propósito. Deus não
desperdiça sofrimento na vida de seus filhos. Para cada lágrima que rola em
nossa face, Deus tem um consolo; para cada prova, uma providência libertadora.
Se as provações têm diferentes tonalidades para nos afligir, também a graça de
Deus tem diferentes tons para nos consolar.
Embora Eliú
não acreditasse, Jó tinha plena convicção de que Deus é soberano para tomar os
filhos conforme o seu perfeito propósito. Não importa se os agentes que ceifam
a vida dos filhos são perversos; só Deus tem o poder de dar a vida e de
tirá-la. Até mesmo nas maiores tragédias é Deus quem está no controle. Até
mesmo quando Satanás está agindo, é a mão da providência de Deus que está
governando. Mesmo que a providência seja carrancuda, é a face benevolente de
Deus que está voltada para nós. Os dramas da nossa vida não apanham Deus de
surpresa nem desafiam sua providência. Mesmo quando cruzamos os vales mais
escuros, é a mão de Deus que dirige o nosso destino.
III. O
SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE DEUS
Trataremos
aqui do quarto discurso de Eliú (Jó 36:1-33). Ele apresentou uma análise da
suposta afirmação de Jó de que ele era mais justo do que Deus. Jó,
efetivamente, não afirmara ser mais justo do que Deus, mas queria que Deus lhe
explicasse porque estava sofrendo daquela maneira se era inocente. Mas, para
Eliú, Jó estava querendo ser mais justo do que Deus e, para tanto, procurou
demonstrar a grandeza de Deus em relação ao homem.
1. O caráter
pedagógico do sofrimento (Jó 36:7-15)
No seu
discurso, Eliú recrimina a visão deísta dos seus amigos, motivo por que também
se dirige contra eles (Jó 35:4). Diz que Deus, embora seja superior ao homem e
por isso Jó não poderia com Ele contender, nem por isso é um Deus distante ou
inacessível, como defenderam Elifaz, Bildade e Zofar (Jó 35:5-16), mas um Deus
participante, que não despreza o homem (Jó 36:5), um Deus que não é só um ser
grande, mas que também tem um grande coração (Jó 36:5), um Deus que Se
compadece dos justos e que ver tanto os ímpios quanto os justos (Jó 36:6-12). É
um Deus participante, um Deus que fala, um Deus que se interessa pelo homem,
mas, ainda, um Deus que fará bem aos que merecerem e mal aos que
transgredirem.
Deus, na
visão de Eliú, é um Deus que livra o aflito da aflição (Jó 36:15), mas continua
sendo um Deus que castiga inevitavelmente o ímpio e o hipócrita, inclusive
fazendo-o morrer precocemente, ainda na mocidade (Jó 36:13-16). Apesar de
vislumbrar compaixão, graça e amor em Deus, Eliú ainda não conseguia ver a
possibilidade de um justo sofrer para seu aprimoramento espiritual e, portanto,
entendia que Jó tinha sido orgulhoso, presunçoso e que, por isso, estava
sofrendo (Jó 36:17-19). Para Eliú, antes de desejar a morte, Jó deveria
arrepender-se para obter o favor de Deus, o qual não estava distante e que estava
pronto a perdoar (Jó 36:20-33).
Embora
compreendesse que, durante sua provação, Jó se comportava de forma pecaminosa,
Eliú introduziu a ideia de que o sofrimento tem um caráter pedagógico (Jó
36:15) - “Ao aflito livra da sua aflição
e, na opressão, se revela aos seus ouvidos”. Nosso sofrimento é sempre
pedagógico, tem sempre um fim proveitoso. Os justos aprendem com o sofrimento. Quando
passamos pelo vale da dor, precisamos olhar para a majestade de Deus, e não
para a profundidade das nossas feridas. Se olharmos para nós, entraremos em
pânico; se olharmos para Deus, sentiremos paz no vale. Se observarmos os ventos
contrários e o rugido da tempestade, naufragaremos; mas, se fixarmos os olhos
em Cristo, caminharemos sobre as ondas revoltas.
2. Adorando a Deus
na tormenta
“Eis que Deus é grande, e nós o não compreendemos, e o número dos seus
anos não se pode calcular” (Jó 36:26).
Ao afirmar a Jó que não há como querer compreender a Deus (Jó 36:26),
Eliú adiantou uma parte do discurso que o próprio Deus faria ao Se dirigir ao
patriarca, pois, neste ponto, Eliú estava correto. Jó não deveria contender com
Deus, mas submeter-se a Ele sem reclamações ou queixas, sabendo, por conhecê-lo
bem, que aquilo era o melhor que lhe podia acontecer na sua vida de comunhão
com Deus.
Num longo discurso, Eliú apresentou as maravilhosas obras de Deus em três
estações do ano (outono - Jó 36:26-37:5; inverno - Jó 37:6-13; verão - Jó
37:14-22), a fim de demonstrar que Deus está muito acima da compreensão humana
(Jó 37:23). Eliú investigou vários aspectos da natureza para demonstrar o
poder, a sabedoria e a majestade de Deus. É impressionante sua descrição sobre
as manifestações da natureza por meio de tempestades, neve, aguaceiro, ventos
do Norte, frio e densas nuvens (cf. Jó 37:1-13).
Assim, dentro de sua sabedoria (cf. Jó 37:24), Eliú acabou por concluir
que, mesmo crendo que Jó fosse um pecador, e por isso estava sofrendo, Deus era
muito superior aos homens e, por isso, não deveriam estar discutindo ou
contendendo com Deus acerca do que estava se passando. Somente Deus poderia
discutir a questão e, como que aprovando esta conclusão do jovem e sábio Eliú,
será o próprio Deus, em pessoa, que desatará a perplexidade e a incompreensão
que toma conta dos debatedores, inclusive do patriarca Jó, interrompendo o
debate. Portanto, a majestade e o poder de Deus excedem nossa frágil
compreensão. Por isso, é melhor temer ao Senhor e nos sujeitarmos à sua
disciplina. Como bem ensinou Eliú, a adoração e a murmuração não podem
coexistir, são atitudes excludentes. Por isso, ele foi tão decisivo com Jó, que
por um lado magnificava a majestade de Deus, mas por outro murmurava contra
Ele.
Nesse seu discurso final, Eliú ensinou que Deus tem interesse no homem e,
por isso, para seu aprimoramento, prova-nos e permite o nosso sofrimento,
sofrimento esse que não vem apenas como punição, mas também como disciplina,
como fonte de aperfeiçoamento; logo, não devemos deixar de adorá-lo na
tormenta; esta é uma das principais lições do discurso de Eliú.
Eliú termina seu discurso propondo um apelo direto: “Inclina, Jó, os ouvidos a isso, para e considera as maravilhas de Deus”
(Jó 37:14). Em seguida, prossegue desafiando o conhecimento de Jó sobre a
natureza: o equilíbrio das nuvens e como as vestes o aquecem quando sopra o
vento sul (Jó 37:16,17). Trata-se de perguntas semelhantes aos questionamentos
muito mais desafiadores que o próprio Criador apresentará a Jó nos próximos
capítulos do Livro - Jó 38:1 – 42:2.
CONCLUSÃO
O Senhor conduziu Jó através das mais difíceis e inimagináveis provas, a
fim de que ele viesse a tornar-se um instrumento ainda mais valioso e útil para
Ele. Deus educava Jó por intermédio do sofrimento, e o mesmo pode acontecer
conosco. Assim como ocorreu com Jó, o sofrimento na vida do cristão deve ser interpretado
como um meio pedagógico - ele serve para esmagar a soberba humana, polir o
caráter do crente, prover crescimento e maturidade espiritual. Não por acaso o
apóstolo Paulo pôde dizer: "Sei estar abatido e sei também ter abundância;
em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura
como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade. Posso todas
as coisas naquele que me fortalece" (Fp.4:12,13). Esse é o caminho que o
Senhor nosso Deus quer que atinjamos: ser experimentados, amadurecidos e
experientes. Que ouçamos a voz de Deus no sofrimento; então, poderemos dizer
com convicção: "Posso tudo naquele que me fortalece".
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William
Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Hernandes Dias Lopes. Neemias – As teses de Satanás.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Pr. José Gonçalves. A fragilidade humana e a Soberania Divina. CPAD.
Pr. Caramuru Afonso Francisco. Eliú e a teologia do sofrimento.
PortalEBD_2003.
Meu irmão Deus continue te usando pra sua glória, forte abraço
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