4º Trimestre/2020
Texto Base: Jó 38:1-4; 39:1-6;
40:15-18,24; 41:1-3
20/12/2020
“Então, o SENHOR respondeu a Jó desde a tempestade [...].” (Jó 40:6).
Jó 38
1.Depois
disto, o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho e disse:
2.Quem é este
que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?
3.Agora cinge
os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-me.
4.Onde
estavas tu quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.
Jó 39
1.Sabes tu o
tempo em que as cabras monteses têm os filhos, ou consideraste as dores das
cervas?
2.Contarás os
meses que cumprem ou sabes o tempo do seu parto?
3.Elas
encurvam-se, para terem seus filhos, e lançam de si as suas dores.
4.Seus filhos
enrijam, crescem com o trigo, saem, e nunca mais tornam para elas.
5.Quem
despediu livre o jumento montês, e quem soltou as prisões ao jumento bravo,
6.ao qual dei
o ermo por casa e a terra salgada, por moradas?
Jó 40
15.Contempla
agora o beemote, que eu fiz contigo, que come erva como o boi.
16.Eis que a
sua força está nos seus lombos, e o seu poder, nos músculos do seu
ventre.
17.Quando
quer, move a sua cauda como cedro; os nervos da suas coxas estão entretecidos.
18.Os seus
ossos são como tubos de bronze; a sua ossada é como barras de ferro.
24.Podê-lo-iam,
porventura, caçar à vista de seus olhos, ou com laços lhe furar o nariz?
Jó 41
1.Poderás
pescar com anzol o leviatã ou ligarás a sua língua com a corda?
2.Podes pôr
uma corda no seu nariz ou com um espinho furarás a sua queixada?
3.Porventura,
multiplicará as suas suplicações para contigo? Ou brandamente te falará?
INTRODUÇÃO
Trataremos
nesta Aula da revelação de Deus a Jó e do seu diálogo com o patriarca. Como um
Deus tão grande - que não cabe em nossa imaginação -, santo, justo e infinito
relacionar-se com outros seres tão pequenos, limitados e injustos, e contrários
à sua própria natureza? Durante todo o período de prova, Deus não falou com Jó
de forma audível e compreensível, mas Ele estava presente o tempo todo observando
Jó a sua fidelidade, apesar de nada dizer a ele. Até que o silêncio de Deus foi
rompido, e a voz do Todo-poderoso se fez ouvir - “Depois disto, o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho” (Jó 38:1).
Enfim, o tempo da prova estava terminando. Agora, do pico das montanhas surgia
um facho de luz; no deserto tórrido da tribulação brotavam os lírios da
esperança; os céus de bronze, finalmente, abriam seus portais.
Eliú concluiu os seus longos discursos mostrando que o sofrimento pode
ter um lado benéfico, que o homem pode não compreender. Após esse discurso, o
debate foi interrompido e Deus Se apresentou ao patriarca Jó, trazendo mais
perguntas do que respostas, a fim de mostrar ao patriarca qual deve ser a
posição do homem diante dos propósitos divinos. Jó estava desejoso por ter uma
conversa com o Todo-Poderoso, para expor-lhe suas razões e queixas; entretanto,
ao se defrontar com o Senhor, notou a sua insignificância ante a majestade do
Senhor e compreendeu quem é o verdadeiro Soberano sobre a Terra, e que não
devemos questionar a Deus, mas tão somente obedecer-lhe e confiar em Seus
propósitos.
I. A REVELAÇÃO DE UM DEUS PESSOAL
1. O Deus que tem voz
Deus é uma Pessoa; logo, Ele fala, ouve e vê. Após os longos discursos de
Eliú, antes que Jó pudesse oferecer alguma resposta (se é que iria oferecer
alguma), o debate é interrompido pelo Senhor que, de dentro de um redemoinho,
inicia um diálogo direto com o patriarca. Era o final do silêncio de Deus de
que o patriarca tanto reclamara durante a discussão com seus amigos, mas Deus,
em vez de respostas, traria perguntas ao patriarca, que apenas teriam o condão
de demonstrar a pequenez do homem e a necessidade de estarmos na nossa humilde
posição de servos do Senhor.
Quando Deus rompeu o silêncio, não respondeu sequer a uma das perguntas
de Jó. Ao contrário, fez-lhe setenta perguntas, todas retóricas (isto é,
perguntas que não tinham como objetivo obter uma resposta, mas sim
estimular a reflexão de Jó sobre determinados assuntos, ou seja, perguntas cujas
respostas já vinham nelas embutidas). Nessas perguntas, Deus fez uma exposição
exaustiva de sua majestade e soberania. Incialmente, Deus perguntou a Jó:
"Onde estavas tu quando eu lançava os fundamentos da terra? Onde
estavas tu quando eu espalhava as estrelas no firmamento? Onde estavas tu
quando eu cercava as águas do mar?" (Jó 38).
Diante da incomparável majestade de Deus, Jó foi se encolhendo e
compreendeu que suas perguntas não podiam perturbar o Todo-poderoso nem
colocá-lo contra a parede. Deus é livre e soberano; Ele faz todas as coisas
conforme o conselho de sua vontade. Ninguém pode pressionar Deus nem colocá-lo
contra a parede. Deus não age dentro do nosso tempo nem conforme a nossa
vontade; seus caminhos são mais altos do que os nossos, seus pensamentos são
mais elevados do que os nossos (Is.55:8); ninguém foi seu conselheiro nem
jamais alguém ensinou a ele a sabedoria. O profeta Isaías ressalta essa
verdade, quando diz:
“Quem guiou o Espírito do SENHOR, ou lhe ensinou como conselheiro? A quem
ele pediu conselho, para lhe dar entendimento e lhe mostrar o caminho da
justiça? Quem lhe ensinou conhecimento e lhe mostrou o caminho do entendimento?
(Is.40:13,14).
Deus é o detentor de todo o saber. Ele conhece tudo, tem o controle de
tudo e levará o Universo e a nossa vida a uma consumação gloriosa.
2. A poderosa manifestação de Deus
Diz o texto sagrado que Deus respondeu a Jó de um redemoinho (Jó 38:1). O
original hebraico para redemoinho é "searah",
que significa "tempestade acompanhada por ventos fortes", palavra
encontrada em 2Rs.2:1,11, ao descrever o fenômeno que separou Elias de Eliseu,
ou em Is.40:24. Essa forma de manifestação divina é confirmada ao longo das
Escrituras, como, por exemplo, com Moisés (Êx.19:16-19). Isso mostra que Deus
não é impessoal. Pelo contrário, Ele é um Ser que se revela e fala com homens.
Vemos, então, que Deus Se manifestou em uma tempestade (cf. Jó 40:6), o
que, talvez, tenha feito o patriarca lembrar-se da última funesta tempestade,
na qual seus filhos haviam sido mortos (cf. Jó 1:19). O surgimento da
tempestade deve ter causado apreensão a Jó, até porque considerava todo o seu
infortúnio como uma tempestade (cf. Jó 9:17); mas, ao contrário do que se
poderia esperar, este tufão seria o início da vitória. Às vezes, também, as
circunstâncias da vida estão tão turbulentas que, já em prova e queixosos, ao
notarmos a aproximação de mais um furacão, de mais uma tempestade, podemos
tender para o desespero, mas não desanimemos, pois, em meio a esse redemoinho,
o Senhor pode estar nos trazendo a solução de nossos problemas e dando um término
na provação.
Alguns estudiosos da Bíblia entendem que essa tempestade ocorrida no
momento que Deus falava com Jó não tenha sido literal, mas uma manifestação
teofânica, uma experiência mística que o patriarca Jó tenha tido, a exemplo da
experiência relatada pelo profeta Daniel (Dn.10:7); para tanto, eles procuram
basear-se em Jó 42:5,6: “Com o ouvir dos
meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. Por isso, me abomino e me
arrependo no pó e na cinza”. De qualquer modo, tenha ou não havido
manifestação física de uma tempestade, o importante é que Deus cessou o Seu
silêncio e Se dispôs a dialogar com o patriarca. Estavam desmentidos, com
fatos, os argumentos deístas dos amigos de Jó. Deus interessa-se, sim, pelo ser
humano e vem em Seu auxílio.
3. O Deus que está presente
Vimos que o grande dilema de Jó era pensar que Deus o havia abandonado.
Ele não entendia a razão do silêncio de Deus, e por causa disso se angustiou e
se desesperou por se sentir sozinho e abandonado. Para ele, Deus que tanto ele
amava havia se escondido para não ouvir seus queixumes e sua defesa diante das
acusações de seus amigos. Mas, a grande lição que o Livro de Jó nos apresenta é
que, mesmo quando estamos às escuras, andando somente por fé, e não por vista,
Deus está presente e próximo de nós.
Deus Se apresentou ao patriarca, sem Se identificar, sem dizer Seu nome.
Esta circunstância é a demonstração de que Jó conhecia a voz do Senhor (como
admitirá ao término da inquirição em Jó 42:5), motivo pelo qual o Senhor não precisava
se identificar. Assim são as pessoas fiéis a Deus, elas conhecem a voz do seu
Senhor (João 10:14,16). Temos ouvido a voz do Senhor? Somos capazes de
reconhecê-la? Em Cristo Jesus, nós temos o privilégio de adentrarmos
confiantemente à presença dEle. O caminho do trono divino está aberto a todo o
crente por meio do Filho de Deus, Jesus Cristo. É um privilégio e um
maravilhoso presente desfrutarmos da presença de Deus.
II. A REVELAÇÃO DE UM DEUS SÁBIO
1. O início do discurso de Deus
Deus, apesar de Seu amor infinito, Sua bondade e misericórdia, é, também,
a verdade e, como tal, não podia senão estabelecer as coisas como elas são
realmente, ou seja, que quem dá as ordens é Deus e não o homem. Ele é o Senhor,
e nós, Seus servos. Daí porque Deus pergunta e não responde, como queria o
patriarca. Deus iniciou seu discurso com uma pergunta:
"quem é este que escurece o conselho com
palavras sem conhecimento? "(Jó 38:2).
Em outras palavras: quem é que
quer ter o direito de dizer o que Deus deve ou não fazer? Quem é aquele que
está indignado por causa de seu sofrimento e se sente um injustiçado? Quem é
aquele que quer que Deus lhe dê satisfação, lhe preste contas do que está
fazendo na sua vida?
Será que o Senhor também não nos está fazendo esta mesma indagação? Será
que temos nos colocado no nosso devido lugar de servos, de pessoas dispostas a
obedecer e a fazer o que o Senhor nos manda? Ou será que estamos como Jó, que,
apesar de ter sido o homem mais excelente na terra no seu tempo (como é a
Igreja do Senhor na atualidade), não deixou de ser homem e, como tal, não tinha
o direito de querer questionar Deus ou querer que Ele lhe prestasse contas do
que estava fazendo em sua vida? Deus mostrou a Jó que, apesar de sua excelência
e de ser, efetivamente, uma pessoa inocente, não tinha o direito de querer
demandar com Deus, de arguir-lhe num tribunal, como tinha desejado (cf. Jó
7:20,21; 10:2-22;13:3,14-28; 23:1-17).
Deus afirmou que tudo o que Jó falou, em termos de queixa, era fruto da
ignorância, da falta de conhecimento profundo a respeito de Deus. Disse o
Senhor que Jó estava escurecendo o conselho com "palavras sem
conhecimento"(Jó 38:2). Esta afirmação divina foi objeto, ao término da
inquirição, de reconhecimento e confissão por parte do patriarca (Jó 42:3-6).
A falta de conhecimento do Senhor é a razão de ser de toda a nossa
fraqueza espiritual. Daí porque o profeta Oséias ter recomendado que devamos
conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor (Os.6:3), bem como o apóstolo Pedro
ter, em sua última epístola, deixado à igreja o conselho para que cresçamos na
graça e no conhecimento do Senhor (2Pd.3:18). Só o conhecimento do Senhor pode
impedir-nos de termos fracassos espirituais (Ef.4:14).
2. Deus exigiu que Jó se preparasse para
falar com Ele (Jó 38:3)
Após a Sua pergunta inicial (Jó 38:2), Deus determinou que Jó se preparasse
para a arguição (Jó 38:3), pois, como homem, não era ele quem daria as regras,
mas, sim, o Senhor:
“Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu,
responde-me”.
"Cinge teus
lombos" – significa:
"esteja preparado". Nos tempos de Jó era preciso cingir as vestes, ou
seja, amarrá-las junto ao corpo, para permitir a locomoção sem maiores
problemas para o exercício das mais diversas atividades. Vemos, portanto, que
Deus não deseja que o homem entre em contato com Ele de forma despreparada e
descuidada. Não tem respaldo bíblico o pensamento comodista, segundo o qual o
homem, para ser usado por Deus, nada deve fazer de sua parte, colocando-se,
simplesmente, como alguém à disposição do Senhor. Em toda a Palavra do Senhor,
vemos que Ele deseja que nós nos preparemos para melhor lhe servirmos. Mesmo
quando foi repelir uma postura até certo ponto arrogante do patriarca Jó, Deus
fez questão de que ele estivesse preparado, devidamente pronto para ter um
diálogo com o Senhor. Que aprendamos esta lição e busquemos aproveitar todas as
oportunidades que Deus nos dá para que nos preparemos mais e melhor para servir
ao Senhor.
3. Na mecânica celeste
Jó não entendia por que estava sofrendo, e questionou o Senhor o motivo
de seu sofrimento. Deus ficou silente; e quando esse silêncio foi quebrado,
Deus resolveu indagar Jó a respeito da própria criação, pois esta foi a
primeira revelação divina para o homem. Deus convidou Jó a contemplar o Universo
e vê-lo como ele funciona (Jó 38). Há uma inteligência poderosa e
impressionante que domina os fenômenos naturais do Universo e faz funcionar
perfeita e harmoniosamente toda a mecânica celeste. Se Jó se achava no direito
de questionar o Criador, deveria, pelo menos, mostrar que tinha algum
conhecimento a respeito da criação. A criação é a primeira revelação de Deus
aos homens (Rm.1:20). Portanto, para quem se dizia com direito a exigir
respostas de Deus, deveria, no mínimo, poder explicar a obra da criação, a
primeira revelação de Deus ao homem.
O Senhor perguntou a Jó se ele sabia quando e como o mundo foi criado (Jó
38:4). Deus indagou a Jó se ele podia dizer quem pôs as medidas, as bases ou os
fundamentos da Criação, quando o homem ainda não existia. Claro que Jó, como
criatura limitada, não soube responder. Como, então, querer discernir os
pensamentos divinos em relação ao homem, se nem mesmo é possível haver
discernimento com respeito à Criação, seja dos seres inanimados, inferiores ao
próprio homem, seja dos seres celestiais, superiores ao homem?
Deus indagou a Jó sobre a criação dos mares e oceanos, do dia e da noite,
dos fenômenos meteorológicos (Jó 38:8-30), coisas que, naturalmente, no tempo
de Jó não tinham a menor explicação e que, mesmo nos nossos dias, com todo o
desenvolvimento científico-tecnológico, não estão totalmente respondidas.
Após falar da criação do nosso planeta, Deus dirigiu a atenção do
patriarca para o Universo, para as estrelas e constelações. A astronomia sempre
foi outro ponto que sempre intrigou os homens, pois, como afirma a Palavra de
Deus, "o firmamento anuncia a obra das mãos do Senhor" (Sl.19:1). A
contemplação do céu estrelado, a consciência de que nosso planeta, apesar de toda
a sua grandeza, é apenas uma ínfima e insignificantíssima parcela de todo o
Universo, é uma prova evidente da nossa pequenez diante do Criador. E, embora
muitas das coisas a respeito do Universo tenham sido desvendadas desde Jó até
nossos dias, continuam sem resposta as indagações do Senhor ao patriarca a este
respeito (Jó 38:32,33). Aliás, a narrativa bíblica da criação permanece
incólume às mais avançadas teorias científicas a respeito da origem do
Universo.
Qual é o tamanho do Universo que Deus mediu a palmos? Os astrônomos
afirmam que o Universo tem mais de 92 bilhões de anos-luz de diâmetro. Isso
significa que se voássemos à velocidade da luz, ou seja, a 300 mil quilômetros
por segundo, demoraríamos mais de 92 bilhões de anos para ir de uma extremidade
à outra. Se perguntássemos a um astrônomo quantas estrelas existem, ele nos
diria que há mais estrelas no firmamento do que todos os grãos de areia de
todos os desertos e praias do nosso planeta. Deus não apenas criou todas elas,
mas conhece cada uma e as chama pelo nome.
Não é apenas o macrocosmo que manifesta a majestade de Deus, mas também o
microcosmo. Uma tenra folha colhida no campo é tão completa como uma grande
metrópole. Uma gema de ovo é mais complexa do que qualquer máquina que o homem
jamais inventou. Um certo renomado oftalmologista disse que cada um dos nossos
olhos tem cerca de 2 milhões de fios duplos encapados. Se não fora assim,
haveria um curto-circuito, e ficaríamos cegos. Marshall Nirenberg, prêmio Nobel
de biologia, fez uma das mais extraordinárias descobertas no século passado.
Descobriu que somos um ser geneticamente computadorizado. Temos cerca de 60
trilhões de células vivas em nosso corpo. Em cada célula há 1,7 metro de cadeia
de DNA, onde estão gravados e computados todos os nossos dados genéticos (a cor
dos nossos olhos, a cor da nossa pele, o nosso temperamento). Se pudéssemos
espichar as cadeias de DNA do nosso corpo, teríamos 102 trilhões de metros de
extensão, ou 102 bilhões de quilômetros. Essa obra fantástica certamente não é
resultado de geração espontânea, pois o acaso não produz ordem tão colossal e
complexa. Essa obra não é consequência de uma mega explosão cósmica, pois o
caos não pode produzir o cosmos. Essa obra não é fruto de uma evolução de
milhões e milhões de anos; códigos de vida não surgem dessa forma; códigos de
vida foram plantados em nós pelo Deus Todo-poderoso, criador dos céus e da
terra. Esse é o nosso Deus.
Diante da complexidade da criação aminada e inanimada, e do Universo,
temos que assumir nossa ignorância e responder como fez Jó: “Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a
mão na minha boca” (Jó 40:4).
4. Na dinâmica da vida
Após falar com Jó a respeito do Universo e de como Jó nada sabia a
respeito dele, Deus agora fala com Jó a respeito da criação animada (Jó 38:39 –
40:2). Deus perguntou a Jó se ele tinha conhecimento a respeito dos fenômenos
que envolvem os animais, seja em relação à sua geração, à sua alimentação,
enfim, à sua sobrevivência (Jó 38:39-39:6,13-17,26-30). Vemos aqui, claramente,
que Deus é quem sustenta toda a criação animal e de forma participante.
Prosseguindo com seus questionamentos, Deus chama a atenção de Jó para sua
providência, mostrando como sacia a fome de todas as criaturas vivas, desde os leõezinhos
em seus covis até os feiosos corvos e seus pintainhos (cf. Jó 38:39-41):
“Porventura, caçarás tu presas para a leoa ou satisfarás a fome dos
filhos dos leões, quando se agacham nos covis e estão à espreita nas covas?
Quem prepara para os corvos o seu alimento, quando os seus pintainhos gritam a
Deus e andam vagueando, por não terem que comer?”.
Continuando sua fala a Jó, Deus afirma que somente Ele conhece com
exatidão o período de gestação, os hábitos de nascença e os instintos das cabras
monteses e das corças. O jumento selvagem escarnece do arreio e da vida
tumultuada da cidade e passa seus dias livre nas montanhas e nos desertos à
procura de tudo o que está verde. E que dizer do avestruz e suas asas? Em
algumas circunstâncias, age com insensatez, colocando seus ovos em lugares
vulneráveis e tratando suas crias com dureza. Contudo, pode correr mais rápido
que um cavalo de corrida (cf. Jó 39:1-18). Em seguida, Deus perguntou se Jó tinha
condições de conceder força ao cavalo e revestir seu pescoço de crinas (pelo flexível e resistente do alto da
cabeça). Está claro que há uma providência divina que preserva as coisas
criadas, pois todos esses animais foram projetados por um design inteligente
com suas peculiaridades, modo de ser e de viver.
Como Deus tinha a resposta para tudo isso, haja vista que Ele é o Criador
de tudo, e a ciência de Jó era muito limitado em relação à complexidade da
criação, então a única coisa que o patriarca tinha que fazer era ficar calado,
reconhecer o seu lugar e se humilhar diante da majestade divina, e aceitar os
desígnios de Deus sobre a sua vida. Considerando o seu ínfimo conhecimento
sobre a Criação, e subjugado pelo extenso conhecimento de Deus, assumiu sua
ignorância e respondeu: “Sou indigno;
que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca” (Jó 40:4).
Portanto, o homem, mesmo no tocante a sua força e inteligência, que o
permite dominar sobre os animais, para o que, aliás, foi criado por Deus
(cf.Gn.1:26,28), por causa do pecado e da sua atual condição, tem dificuldade
até para dominar certos animais, inclusive animais domesticáveis, como o boi
selvagem (que a versão Almeida Revista e Corrigida denomina de
"unicórnio") e o cavalo, que dirá para entender Deus, que é muitíssimo
superior (Jó 39:9-12; 19-25).
Vemos, então, que o homem está aquém até da posição originariamente
colocada na ordem do universo - em virtude do pecado, motivo pelo qual não pode
sequer arvorar posições que, efetivamente, não lhe foram atribuídas. Será que
temos esta consciência ou estamos proferindo palavras sem qualquer conhecimento,
como as "determinações", "declarações" e
"decretos" que muitos têm, atrevidamente, emitido ao Senhor?
5. Na necessidade de se conhecer melhor
a Deus
Aos olhos de Deus, Jó era considerado um homem íntegro, justo e que se
desviava do mal, porém, no momento da prova agiu de forma presunçoso ao
questionar a majestade divina. Ele precisava conhecer melhor o seu Deus, o
Criador de tudo. Quando passamos pelo vale da dor, precisamos olhar para a
majestade de Deus, e não para a profundidade das nossas feridas. Se olharmos para
nós, entraremos em pânico; se olharmos para Deus, sentiremos paz no vale. Se
observarmos os ventos contrários e o rugido da tempestade, naufragaremos; mas,
se fixarmos os olhos em Cristo, caminharemos sobre as ondas revoltas.
O começo da restauração de Jó não passou pelo entendimento de sua dor,
mas pela compreensão da soberania de Deus. Foi quando seus olhos se abriram
para ver a grandeza de Deus que as coisas passaram a se tornar claras para ele.
Não podemos conhecer a nós mesmos sem antes conhecer Deus. Quanto mais focarmos
em nós mesmos, mais aflitos e mais longe da verdade ficamos. Quanto mais perto
de Deus ficarmos, mais entenderemos a nós mesmos e as circunstâncias que nos
cercam.
III. A REVELAÇÃO DE UM DEUS
PODEROSO E JUSTO
O poder de nosso Deus nos ajuda a compreender as realidades da vida. Quem
é o nosso Deus? Qual é a dimensão do seu poder? O profeta Isaías diz que Deus é
aquele que mede as águas na concha de sua mão e mede o pó da terra em balança
de precisão. Deus é aquele que mede os céus a palmos e os estende como urna
cortina para neles habitar. Deus espalha as estrelas no firmamento e, por ser
forte em força e grande em poder, quando as chama, nem uma delas vem a faltar
(Is.40:12-26).
Certa feita um garotinho perguntou ao pai: "Papai, qual é o tamanho
de Deus?" O pai, confuso com a intrigante pergunta do filho, olhou para o
céu e viu um avião a jato cruzando as alturas. O pai, então, perguntou ao
filho: "Filho, olhe para o céu e veja aquele avião. Ele é pequeno ou
grande?" O filho olhou e respondeu: "Pequeno, papai, muito pequeno".
O pai, imediatamente, levou o filho ao aeroporto e mostrou-lhe um grande jumbo
estacionado no pátio e perguntou-lhe: "Filho, qual é o tamanho deste
avião?", e o menino respondeu: "Grande, papai, muito grande". O
pai, então, explicou ao filho: "Meu filho, é assim também com Deus. Quando
você está longe de Deus, ele parece pequeno para você, mas, quando você está
perto de Deus, ele se torna muito grande".
1. Deus, novamente, desafiou Jó a
responder como homem (Jó 40:6-14)
Anteriormente, Deus desafiou Jó, mas a resposta dele demonstrou que ainda
não havia humildade aceitável, de modo que o Senhor continuou a falar do meio
de um redemoinho, desafiando-o a responder “como homem” (Jó 40:6,7):
“Então, o Senhor, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó: Cinge agora
os lombos como homem; eu te perguntarei, e tu me responderás” (Jó 40:6,7).
Antes, Jó, em seus lamentos, tinha acusado Deus de praticar injustiças, desafiando-o
a se justificar. Então, agora, Deus desafiou a Jó com a seguinte pergunta: “Acaso, anularás tu, de fato, o meu juízo? Ou
me condenarás, para te justificares?” (Jó 40:8). O Senhor reprendeu a
impertinência de Jó em procurar defeitos no Todo-Poderoso. Ora, se Jó era tão
sábio e poderoso no conhecimento, certamente não teria nenhuma dificuldade em
responder a seus questionamentos. De forma irônica, o Senhor pediu que Jó
assumisse o trono da divindade e produzisse demonstrações de onipotência (como
fazer trovejar com a voz) e se revestisse de excelência, grandeza, majestade e
glória. Caso conseguisse realizar todas essas coisas, então o Senhor
reconheceria seu poder para salvar a si mesmo (Jó 40:9-14):
“Ou tens braço como Deus ou podes trovejar com a voz como ele o faz?
Orna-te, pois, de excelência e grandeza, veste-te de majestade e de glória.
Derrama as torrentes da tua ira e atenta para todo soberbo e abate-o. Olha para
todo soberbo e humilha-o, calca aos pés os perversos no seu lugar. Cobre-os
juntamente no pó, encerra-lhes o rosto no sepulcro. Então, também eu
confessarei a teu respeito que a tua mão direita te dá vitória”.
Quando olhamos para nossos problemas, agigantamos nossa dor e apequenamos
Deus; mas, quando olhamos para a majestade de Deus, nos sentimos pequenos, e
nossa dor se torna apenas uma leve e momentânea tribulação. Enquanto Jó estava
se defendendo e curtindo sua dor, sentiu-se injustiçado; mas, quando viu a
majestade de Deus, encontrou o caminho do entendimento e a estrada da
restauração.
2. Deus desafia Jó a contemplar o Behemot e o Leviatã
“Contempla agora o beemote [hipopótamo –
ARA], que eu fiz contigo, que come erva como o boi” (Jó 40:15).
“Poderás pescar com anzol o leviatã [crocodilo - ARA] ou ligarás a sua língua com a corda?” (Jó
41:1).
O Senhor, agora, chamou a atenção de Jó para o “beemote” [hipopótamo?] e
o “leviatã” [crocodilo?], animais gigantescos e poderosos. Este fato descarta a
opinião de alguns comentaristas de que esses dois animais fossem criaturas
mitológicas do imaginário dos povos da Antiguidade. Por que Deus desafiaria Jó
a observar uma criatura que não existia?
A descrição do “beemote” se refere a uma criatura essencialmente
terrestre (cf. Jó 40:15-24), ao passo que a do “leviatã” aponta para um animal
essencialmente aquático (Jó 41:30-34). Ninguém podia apanhá-lo utilizando anzol
ou gancho, muito menos transformá-lo em animal doméstico para entreter a
família. Sua pele resistia a arpões e farpas, e os homens tremiam de medo só de
vê-lo.
As descrições de animais selvagens e desses dois monstruosos animais mencionados
aqui, refletem a glória, o poder e a majestade de Deus. Por meio dessas
exposições, o Senhor fornece uma pequena ilustração de seu esplendor e força.
Mesmo poderosos, Behemot e Leviatã estavam debaixo da mão de Deus.
a) Deus desafiou Jó a contemplar o Beemote (Jó
40:15). Deus apresentou o
“beemote” como “obra-prima de sua criação”. Algumas traduções bíblicas
identificam este animal com o “hipopótamo”, a exemplo da A.R.A (Almeida Revista
e Atualizada). Acho que se encacharia melhor neste epíteto o elefante ou o
mamute. Alguns cientistas cristãos estão convencidos de se tratar de um animal
extinto, ou talvez encontrado em partes remotas da selva africana. Na verdade,
alguma espécie de dinossauro se encaixaria muito bem na descrição apresentada
no texto.
Conquanto não sejamos capazes de identificar com precisão que animal era
esse, sabemos que se tratava de um animal herbívoro, que habitava tanto na água
quanto na terra, sendo extremamente forte. Além disso, gostava de descansar em
áreas sombreadas e pantanosas e não se assustava facilmente. Resumindo, eis a
lição de Deus: se Jó não tinha poder suficiente para controlar esse animal
feroz, como governaria o mundo?
b) Deus desafiou Jó a contemplar o Leviatã (Jó 41:1). O Senhor mencionou outra criatura impressionante,
o “leviatã”, animal singular entre suas criaturas. Seria Jó capaz de domá-lo? É
o que Deus desejava saber, e acrescentou: “Põe a mão sobre ele [...] e nunca
mais o intentarás” (Jó 41:8).
Na literatura antiga dos cananeus, o termo “leviatã” se referia a “um dragão
marinho de sete cabeças”. Porém, alguns estudiosos ressaltam que não há prova
nenhuma que o poema em foco esteja se referindo ao leviatã como um monstro
mitológico. A passagem bíblica em questão é bastante clara ao mostrar que Deus
desafiou Jó a contemplar uma criatura de verdade, ainda que não seja possível
identificá-la com exatidão atualmente. Costuma-se relacionar o “leviatã” ao
crocodilo do Nilo, e vários trechos da passagem parecem descrever adequadamente
esse réptil.
Em Jó 41:12-34 Deus voltou a descrever o “leviatã” e comentou sobre a
solidez e a grande força dessa criatura, cuja pele duríssima lhe servia de
proteção. Ninguém podia amordaçar sua boca firme, rodeada de dentes temíveis.
As escamas de sua pele se assemelhavam a armaduras formadas por lâminas
sobrepostas. Empregando termos poéticos, o Senhor descreveu os espirros, olhos,
boca e narinas do “leviatã” quando despertava. Apresentava uma estrutura
corporal maciça e tinha uma força absurda. Destemido e poderoso, atemorizava
até o coração dos mais valentes quando se movimentava. As armas comuns nem
sequer arranhavam sua couraça. Ao se arrastar pela lama, deixava um rastro de
marcas como se seu ventre fosse encravado de pedaços de vidro quebrado. Fazia
ferver a água como uma panela no fogo e deixava um sulco branco fosforescente
atrás de si. Mesmo descontado os exageros poéticos (hipérboles) que os
orientais gostavam de utilizar, é difícil imaginar que até mesmo o maior dos
crocodilos pudesse ser chamado de “rei sobre todos os animais orgulhosos” (Jó
41:34).
Diante da descrição dessa monstruosa criatura, Deus propõe uma pergunta
pertinente: se os homens pasmam diante de uma criatura como essa, não seria de
esperar que temessem mais Aquele que a criou, isto é, o Deus eterno, dono de
toda a criação e que não deve satisfações a ninguém? Esse e o objetivo
fundamental dessa passagem: Jó precisava perceber, por meio de sua incapacidade
para dominar até mesmo uma simples criatura, a insensatez de aspirar ao trono
do Criador.
3. Justiça e graça
Jó não foi capaz de lidar com o Beemot (animal identificado como sendo o
hipopótamo - Jó 40:15-24), nem com o Leviatã (animal identificado, por alguns,
como sendo o crocodilo ou uma espécie de crocodilo e, para outros, como sendo
nome genérico para monstros marinhos, animais marinhos de grande porte - Jó
41:1-34); então, como poderia tratar desse mundo complexo, inanimado e animado?
Deus afirmou a Jó que, se ele pudesse assumir alguma posição de divindade, o
fizesse e que se encarregasse de fazer justiça sobre a face da terra (Jó
40:10-14). No entanto, nem mesmo tinha condição de dominar o beemote, muito
menos o temível leviatã. Se Jó não tinha domínio sequer sobre a natureza, que o
próprio Deus estabeleceu que dominasse, como quereria ele entender os
propósitos morais e espirituais do Senhor? Logo, o homem jamais poderia ser
igual ou mais justo que o próprio Criador, nem, muito menos, auto justificar-se
diante dEle. Não há nada que possa justificar o ser humano diante de Deus,
senão a sua maravilhosa graça (cf. Ef.2:8). O ser humano depende plenamente da
graça divina.
CONCLUSÃO
Nesta Aula tratamos da maravilhosa revelação de Deus a Jó. O que Jó tanta
almejava desde o início de sua provação enfim aconteceu: ter um encontro com
Deus. Quando Deus rompeu o silêncio, não respondeu sequer a uma das perguntas
de Jó; ao contrário, fez-lhe setenta perguntas; todas retóricas, ou seja, todas
perguntas cuja resposta já vinha nelas embutida. Nessas perguntas, Deus fez uma
exposição exaustiva de sua majestade e soberania. Em sua exposição, Deus não
recriminou Jó, mas revelou-lhe o quão imperfeito ele era e o quanto conhecia
pouco acerca da majestade divina.
Como se pode observar, o propósito de Deus ao fazer todas estas perguntas
era o de provar a Jó que, para que ele ocupasse a posição de alguém que tinha
direito de ter uma prestação de contas de Deus sobre o que lhe estava
acontecendo, como o patriarca havia pedido insistentemente em suas lamentações,
deveria ser alguém que tivesse conhecimento, ou seja, para que alguém pudesse
contender, discutir, debater com o Senhor, deveria ser alguém que pudesse
discernir os caminhos de Deus, alguém que tivesse condições de fazê-lo. Jó,
entretanto, apesar de sua excelência, não estava em condições de querer
perquirir a Deus ou de que Deus pudesse prestar-lhe contas.
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD
Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Hernandes Dias Lopes. Neemias – As teses de Satanás.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Pr. José Gonçalves. A fragilidade humana e a Soberania Divina. CPAD.
Pr. Caramuru Afonso Francisco. A teologia que mais pergunta que responde.
PortalEBD_2003.
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