3º TRIMESTRE/2021
Texto Base: 1Reis 4:29-34; 6:1,11-14
“E não podiam ter-se em pé os
sacerdotes para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor
enchera a Casa do Senhor” (1Rs.8:11).
1 Reis 4:
29.E deu Deus a
Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a
areia que está na praia do mar.
30.E era a sabedoria
de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do Oriente e do que toda a
sabedoria dos egípcios.
31.E era ele ainda
mais sábio do que todos os homens, e do que Etã, ezraíta, e do que Hemã, e
Calcol, e Darda, filhos de Maol; e correu o seu nome por todas as nações em
redor.
32.E disse três mil
provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco.
33.Também falou das
árvores, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que nasce na parede;
também falou dos animais, e das aves, e dos répteis, e dos peixes.
34.E vinham de todos
os povos a ouvir a sabedoria de Salomão e de todos os reis da terra que tinham
ouvido da sua sabedoria.
1 Reis 6:
1.E sucedeu que, no
ano quatrocentos e oitenta, depois de saírem os filhos de Israel do Egito, no
ano quarto do reinado de Salomão sobre Israel, no mês de zive (este é o mês
segundo), Salomão começou a edificar a Casa do Senhor.
11.Então, veio a
palavra do Senhor a Salomão, dizendo:
12.Quanto a esta casa
que tu edificas, se andares nos meus estatutos, e fizeres os meus juízos, e
guardares todos os meus mandamentos, andando neles, confirmarei para contigo a
minha palavra, a qual falei a Davi, teu pai;
13.e habitarei no
meio dos filhos de Israel e não desampararei o meu povo de Israel.
14.Assim edificou
Salomão aquela casa e a aperfeiçoou.
INTRODUÇÃO
Pela graça de Deus, estamos
iniciando mais um trimestre letivo. Estudaremos sobre o tema: “O Plano de
Deus para Israel em meio à Infidelidade da Nação – As Correções e os
Ensinamentos Divinos no Período dos Reis de Israel”. Teremos como base os
Livros Sagrados de 1 e 2 Reis. Nesta primeira Aula trataremos da “Ascensão de
Salomão e a Construção do Templo”.
Davi, o homem segundo o coração de Deus, envelheceu, e como nessa vida
tudo é passageiro, chegou o momento de apresentar à nação o seu sucessor. Deus
tinha avisado a Davi que Salomão lhe sucederia no trono, à revelia de muitos,
como, por exemplo, de Adonias (o filho de Davi), de Joabe (comandante do
exército), de Abiatar (um dos principais conselheiros de Davi) e de vários
outros. Não sabemos se essa era a vontade de Davi, mas teve que cumprir a
vontade do Senhor. O reino de Israel pertencia ao Senhor, não a Davi ou a
qualquer outro. Por essa razão, o rei de Israel era um representante de Deus,
que tinha como tarefa realizar a sua vontade para com a nação. Deste modo, Deus
pôde escolher a pessoa que Ele mesmo quis estabelecer como rei, sem seguir as
linhas habituais de sucessão. Davi não era herdeiro de Saul, e Salomão não era
o filho mais velho de Davi. Mas isso não importava porque foram escolhidos por
Deus. Portanto, Salomão não chegou ao trono por uma simples indicação de Davi,
mas por uma escolha divina (cf. 1Cr.22.9); e mesmo antes de apresentá-lo ao
povo, Davi já sabia dessa revelação divina.
Salomão foi escolhido
por Deus para reinar sobre o povo de Israel, mas isto não significava que ele
seria um homem impecável; geralmente, Deus não intervém no livre-arbítrio do
ser humano. Infelizmente, no final de sua vida ele se deixou levar por
interesses políticos e desejos pecaminosos, que trouxeram grandes prejuízos à
nação de Israel, com sequelas quase infindas. A tragédia da vida de Salomão não
foi uma catástrofe pessoal repentina, mas a diminuição gradual de sua completa
devoção a Deus. Isto está relacionado com os interesses das suas “muitas
esposas”, que no final resultaram em sua própria adoração idolátrica. Ele
trilhou o repetido caminho para longe de Deus; o conhecimento do coração
tornou-se somente um entendimento da mente; e o conhecimento da mente, no
final, deu lugar à apostasia total. Tudo indica que no ocaso de sua vida,
Salomão voltou-se novamente para Deus, e deu um conselho que ecoa até hoje: “De
tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos;
porque este é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda obra
e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (Ec.12:13,14).
I. A SABEDORIA DE SALOMÃO
Qual a diferença
entre inteligência e sabedoria? Inteligência é a
habilidade de manejar conhecimento e aplicá-lo; sabedoria é o uso
correto do conhecimento. Enquanto o conhecimento representa as nossas
experiências e aprendizagens adquiridas do mundo exterior, a sabedoria,
especialmente a proveniente de Deus, nos dá a condição de transformarmos estes
conhecimentos em prática de vida, a fim de mantermos o equilíbrio, a coesão e a
justiça.
Ao longo dos séculos,
várias histórias lendárias sobre a vida de Salomão foram surgindo e sendo
contadas pelo povo através das gerações. De todas elas, uma das mais conhecidas
é a que narra como o sábio rei que julgou a disputa de uma criança por duas
mulheres que afirmavam cada uma ser a sua verdadeira mãe. Ele ordenou que a
criança fosse partida ao meio e cada metade fosse entregue a cada uma das
mulheres. Ao ouvir isso, a verdadeira mãe gritou desesperada que ele não
partisse a criança, mas que a entregasse à outra mulher. Dessa forma, a
verdadeira mãe foi identificada, pois somente esta seria capaz de ver seu filho
entregue a outra pessoa, vivo, do que vê-lo morto.
1. A virtude de Salomão
Acredito que a maior
virtude de um homem, líder do povo de Deus, é a sabedoria e o temor a Deus. A
Bíblia diz que Salomão amava ao Senhor (1Rs.3:3). Animado pelo sincero desejo
de agradar ao Senhor, Salomão ofereceu mil holocaustos (1Rs.3:4), em Gibeão,
onde ficava o Tabernáculo (1Cr.21:20). Isso ocorreu no início do seu reinado.
Nesse local, o Senhor apareceu a Salomão de noite em sonhos e disse-lhe: “Pede
o que quiseres que te dê “(1Reis 3:5). “E disse Salomão: De grande beneficência
usaste tu com teu servo Davi, meu pai, como também ele andou contigo em
verdade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; e
guardaste-lhe esta grande beneficência e lhe deste um filho que se assentasse
no seu trono, como se vê neste dia. Agora, pois, ó Senhor, meu Deus, tu fizeste
reinar teu servo em lugar de Davi, meu pai; e sou ainda menino pequeno, nem sei
como sair, nem como entrar. E teu servo está no meio do teu povo que elegeste,
povo grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela sua multidão. A teu
servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que
prudentemente discirna entre o bem e o mal; por que quem poderia julgar a este
teu tão grande povo?” (1Reis 3:6-9).
Salomão, portanto,
pediu o Dom da Sabedoria. Ele poderia ter pedido riquezas das entranhas da
terra, se fosse ganancioso; ele poderia ter pedido glórias acima de todos os
reis circunvizinhos, se fosse garboso; ele poderia ter pedido muitos anos de
vida, se fosse vaidoso; ele poderia ter pedido a morte dos inimigos do seu
povo, se fosse vingativo. Mas, ele pediu sabedoria para governar bem o povo de
Deus; ele pediu a coisa certa, pois sem o Dom da sabedoria divina, se tornaria
muito difícil governar o povo de Deus com equidade.
Com esse pedido,
Salomão demonstrou reconhecer três verdades importantíssimas: (a) que ele era
humanamente incapaz de governar Israel; (b) que seu sucesso dependia única e
exclusivamente do favor de Deus; e (c) que o povo de Israel não era propriedade
sua, e sim do próprio Deus.
Ser piedoso, ser
integro, ser temente a Deus e ser sábio, são as grandes virtudes de um líder
governante do povo de Deus.
2. O sábio pede sabedoria
Como se percebe em
1Reis 3:6-9, as palavras do rei pedindo sabedoria para governar o povo de Deus,
agradaram ao Senhor, que, além de atender ao pedido, também lhe concedeu
riquezas, glória e uma vida longa; porém, Deus impôs uma condição: que Salomão
andasse em obediência a Ele e guardasse os seus mandamentos (1Rs.3:14).
A resposta de Salomão
ao Senhor foi excepcional e exemplar pelo seu apreço por aquilo que Deus havia
feito (1Rs.3:6), por sua humildade (1Rs.3:7), por seu senso de responsabilidade
(1Rs.3:8), e por sua preocupação em ter o entendimento e o discernimento apropriados
para liderar o povo de Deus (1Rs.3:9).
A sábia escolha do
jovem Salomão, que escolheu Sabedoria, agradou muito ao Senhor, e Ele atendeu o
jovem rei prontamente (1Rs.3:11,12) - “E disse-lhe Deus: Porquanto pediste esta
coisa e não pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos, mas
pediste para ti entendimento, para ouvir causas de juízo; eis que fiz segundo
as tuas palavras, eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de
ti teu igual não houve, e depois de ti teu igual se não levantará”.
Nos dias de hoje,
Deus oferece, a todos que desejarem, a dádiva suprema - o Senhor Jesus Cristo -
“em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”
(Cl.2:3).
3. A sabedoria na prática de vida
Tiago escreveu em sua
epístola que existe uma falsa sabedoria que se evidencia pela inveja e
sentimento faccioso. Essa sabedoria não vem de Deus, mas é terrena, animal e
diabólica (Tg.3.15).
Em primeiro lugar,
essa falsa sabedoria se manifesta por meio de uma inveja amargurada (Tg.3:14,16). Isso está ligado à
cobiça de posição e status. A sabedoria do mundo diz: promova a você mesmo;
você é melhor do que os outros. Os discípulos de Cristo discutiam quem era o
maior entre eles. Os fariseus usavam suas atividades religiosas para se
promoverem diante dos homens (Mt.6:1-18). A sabedoria do mundo exalta o homem e
rouba a Deus da Sua glória (1Co.1:27-31). O invejoso, em vez de alegrar-se com
o triunfo do outro, alegra-se com seu fracasso. Ele não apenas deseja ter o que
o outro tem, mas tem tristeza porque não tem o que é do outro. O invejoso é
alguém que tem uma super preocupação com sua posição, dignidade e direitos.
Em segundo lugar, a
falsa sabedoria manifesta-se através de um sentimento faccioso (Tg.3:14b,26b). Sentimento faccioso
subentende a inclinação por usar meios indignos e divisórios para promover os
próprios interesses. Paulo alertou em Filipenses 2:3 sobre o perigo de estarmos
envolvidos na obra de Deus com motivações erradas, com vanglória e
partidarismo.
A verdadeira sabedoria
vem de Deus, do alto, visto que ela é fruto de oração (Tg.1:5), ela é dom de
Deus (Tg.1:17). Essa sabedoria está em Cristo; Ele é a sabedoria que desejamos
(1Co.1:30). Em Jesus nós temos todos os tesouros da sabedoria (Cl.2:3). Essa
sabedoria está na Palavra de Deus, visto que ela nos torna sábios para a salvação
(2Tm.3:15). Ela nos é dada como resposta de oração (Ef.1:17; Tg.1:5). Portanto,
se alguém não tem a verdadeira sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
liberalmente (Tg.1:5).
Tiago elenca vários
atributos da verdadeira sabedoria que vem do alto (extraído do livro Tiago, de
Hernandes Dias Lopes):
a) mansidão (Tg.3:13). Mansidão não é
fraqueza, mas poder sob controle. É o uso coreto do poder, assim como sabedoria
é o uso correto do conhecimento.
b) pureza (Tg.3:17). A sabedoria de Deus
é incontaminada, sem qualquer defeito moral e sem motivos ulteriores. Ela é
livre de ambição humana e da autoglorificação. A sabedoria de Deus nos conduz à
pureza de vida. A sabedoria do homem conduz à amizade com o mundo.
c) paz (Tg.3:17). A sabedoria divina
não é contenciosa nem facciosa e nem beligerante. A sabedoria do homem leva à
competição, rivalidade e guerra (Tg.4:1,2), mas a sabedoria de Deus conduz à
paz. Essa é a paz produzida pela santidade e não pela complacência ao erro. Não
se trata da paz que envolve o pecado, mas da paz fruto da confissão do pecado.
d) Indulgência (Tg.3:17). Essa característica
da sabedoria do alto trata da atitude de não criar conflitos nem comprometer a
verdade para manter a paz. É ser gentil sem ser fraco.
e) tratável (Tg.3:17). Essa sabedoria é
aberta à razão; é ser uma pessoa comunicável, de fácil acesso. Jesus era assim:
as crianças, os leprosos, os doentes, as mulheres, os publicanos, as
prostitutas, os doutores, todos eles tinham livre acesso a Ele.
f) bons frutos (Tg.3:17). As pessoas sábias
são frutíferas. Quem não produz frutos, produz galhos. A sabedoria de Deus é prática.
Ela muda a vida e produz bons frutos para a gloria de Deus.
g) imparcial (Tg.3:17). Significa uma pessoa
que não tem duas mentes, duas almas (Tg.1:6). Quando a pessoa tem a sabedoria
de Deus, ela julga conforme a verdade e não conforme a pressão ou conveniência.
h) sincero, sem hipocrisia (Tg.3:17). O hipócrita é um
ator que representa um papel diferente ao da sua vida real. Na sabedoria divina
não existe jogo de interesse nem política de bastidor. O sábio não opera por
detrás de uma máscara, supostamente para o bem de outros, mas visando seus
próprios interesses; ele opera, sim, de forma transparente e sincero.
II. A CONSOLIDAÇÃO DO PODER
Salomão se tornou conhecido por sua sabedoria, bem
como por ter tido um reinado longo, pacífico e próspero.
1. A glória do reino de Salomão
A glória do reino de Salomão foi uma promessa de
Deus, resultado da sábia escolha que fizera no início do seu governo (1Rs.3:9),
e que pareceu boa aos olhos do Senhor (1Reis 3:10). Durante o reinado de
Salomão, a riqueza e o poder de Israel foram incomparáveis. Deus tinha
prometido isso a Salomão (cf. 1Rs.3:13,14). Os quarenta anos do seu reinado
foram de glória crescente para Israel. Vejamos algumas das principais
características desse período:
·
Consolidação da paz, pela ostentação de poderio militar. O seu reinado
não apenas se tornou amplo em termos territoriais, mas foi firmado e estabelecido
em paz e justiça (1Rs.4:24). Durante o período do seu reinado, nenhuma nação
poderosa atacou o povo de Deus.
·
Condições econômicas sem paralelo em toda a história de Israel. A nação
de Israel tinha tanta fartura e vivia em tão boas condições que podia até
festejar e se alegrar (1Rs.4:20).
·
Construção e dedicação do Templo idealizado por Davi, em Jerusalém. Sem
dúvida, esta foi a maior obra realizada, ainda com reflexos atualmente.
Além do Templo, Salomão executou várias
outras obras, como o palácio real e suas dependências e ainda fortificou as
muralhas de Jerusalém e ergueu torres de vigia em diversos pontos. Todas essas
obras demandaram elevados recursos, os quais, mais tarde, iriam refletir em
impostos para o povo.
Outro ponto marcante de seu reinado foi
a expansão comercial que trouxe abundantes riquezas. O comércio foi
impulsionado, sendo que os israelitas estabeleceram laços comerciais com diversos
povos vizinhos. No Golfo de Ácaba, ele mantinha uma frota de navios comerciais
muito bem equipada. Conforme narra as Escrituras, os cedros utilizados na
construção do Templo foram importados do Líbano.
Apesar de seu reinado ter sido
pacífico, ele manteve seus exércitos bem equipados, principalmente com carros e
cavalos de guerra. Ao contrário de seu pai, Salomão não foi e nem precisou ser
um grande líder guerreiro. A extensão territorial herdada de Davi foi mantida
durante seu reinado. Assim, ele se dedicou a desenvolver as atividades
comerciais e também industriais, e melhorou o sistema administrativo, bem como
estabeleceu e fortaleceu as relações diplomáticas com os povos vizinhos. Foi
uma dessas alianças políticas que o levou a se casar com a filha de Faraó.
No Livro de Reis é mencionado que ele
possuía setecentas mulheres e trezentas concubinas. Naqueles tempos antigos, e
ainda mais no oriente, isso era considerado normal e aceito por todos. Por
outro lado, de tempos em tempos surgia algum profeta contrário a essas práticas
e as condenavam veementemente. E foi esses excessos que conduziram o rei a
práticas de idolatria. Por causa disso, já no fim de sua vida, Deus falou-lhe
que seu reino seria dividido. E assim aconteceu.
2. O orgulho precede a ruína
O Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa diz que a palavra “orgulho”, entre outros significados, quer dizer
“sentimento egoísta, admiração pelo próprio mérito, excesso de amor próprio,
atitude prepotente ou de desprezo com relação aos outros”. O próprio Salomão
disse que o orgulho precede a ruína (Pv.16:18). Infelizmente, ele caiu nesta
armadilha.
O orgulho é um pecado que atua com
força demolidora no coração humano. O orgulhoso julga-se grande e maior do que
todos. Isso atenta contra Deus, pois só Ele é grande e glorioso. No princípio,
quando o homem aceitou a proposta satânica de “ser igual a Deus”, estava se
voltando para si mesmo, entendendo que poderia construir uma vida em que ele
próprio fosse o centro e a razão de ser de tudo, em que se achava merecedor de
ser o centro e o motivo da existência de todas as coisas, em que desprezava
completamente a pessoa de Deus e tudo que o Senhor lhe havia feito até ali.
Salomão caiu na desgraça do
ensoberbecimento. Por causa de seus relacionamentos e concessões realizadas com
os reis ímpios circunvizinhos, Salomão, na sua velhice.11:4-6), se desviou dos
caminhos do Senhor, deixou que o orgulho contaminasse sua índole. Deus
estabeleceu uma condição a Salomão: “E, se andares nos meus caminhos
guardando os meus estatutos e os meus mandamentos, como andou Davi, teu pai,
também prolongarei os teus dias” (1Reis 3:14). Infelizmente, a grandeza do
poder de Salomão fez com que ele se tornasse um rei orgulhoso, imoral e
idólatra, quebrando assim o mandamento do Senhor. Isto o levou a ruína. A
idolatria selou a queda de Salomão. Sem dúvida, a infidelidade de Salomão
comprometeria não somente seu reino, mas tudo o que antes havia sido prometido
ao povo de Deus, como descrito em Deuteronômio 11:16.
Como foi possível Salomão se desviar
dos caminhos do Senhor depois de tudo quanto recebera dEle? O relato do
esplendor do reino de Salomão em 1Reis 10:14-29 é uma sugestão do que pode ter
acontecido: rodeado de tamanha riqueza, seu coração esfriou-se para com Deus.
Tudo o que antes era usado para louvor ao Senhor tornou-se um fim em si mesmo.
No capítulo 11 de 1Reis vemos claramente os resultados finais de sua
infidelidade.
Tanto sua ascensão como sua queda foram
inigualáveis na história do povo de Deus: nenhum rei excedeu Salomão em sua
ascensão, e nenhum veio a precipitar-se de tão alto como ele. A principal
consequência do seu pecado foi a divisão do Reino de Israel, ocorrido no
reinado do seu filho Roboão. Essa divisão foi catastrófica para o sucessor de
Salomão e para o povo de Israel.
III. A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO
Salomão iniciou a construção do Templo
de Jerusalém no ano quatrocentos e oitenta depois da saída do povo do Egito, no
quarto ano do seu reinado, no mês segundo (1Rs.6:1), tendo concluído a
obra em sete anos e seis meses (1Rs.6:38), mais precisamente no ano undécimo do
seu reinado, no mês oitavo.
O Templo de Salomão foi considerado uma
das sete maravilhas do mundo antigo, e sua beleza foi notória a todos os povos
daquela época, numa clara demonstração de que era, efetivamente, segundo o
propósito de Deus, uma referência do Deus único e verdadeiro a todas as nações.
Elaborado com o melhor material de
construção da época e com incontáveis tesouros, seguia, basicamente, a
mesma estrutura estabelecida por Deus a Moisés para o Tabernáculo. Na verdade,
tratava-se do próprio Tabernáculo, mas sem o seu caráter móvel e rústico
que era adequado e apropriado para o tempo da peregrinação no deserto.
Assim como o Tabernáculo, o Templo
era dividido em três partes: os átrios ou “alpendre”, que eram a parte
externa do Templo (2Cr.3:4), acessível a quase todos, salvo aqueles que foram
proscritos (Dt.23:1-3); o lugar santo ou “casa grande” (2Cr.3:5), onde só
podiam ingressar os sacerdotes oficiantes e, por fim, o lugar santíssimo (2Cr.3:8),
onde só poderia ingressar, uma vez ao ano, no dia da expiação, o sumo
sacerdote e aonde ficava a Arca da Aliança (Lv.16).
Após o término da construção, Salomão
convocou todo o Israel para uma grande festa de dedicação. Depois de um breve
discurso (2Cr.6:1-11), Salomão se dirigiu a Deus, com uma das mais belas
orações da Bíblia (cf. 2Cr.6:14-42). Depois da dedicação do Templo, o Senhor
apareceu mais uma vez a Salomão e ordenou que ele obedecesse à Lei e conduzisse
o povo à obediência, com a promessa de que, sob estas condições, os olhos do
Senhor estariam sempre sobre aquele lugar, mas caso Israel desobedecesse, seria
submetido à severa disciplina (cf. 1Rs.9:1-9; 2Cr.7:11-22).
1. O nobre propósito de Salomão
O nobre propósito de Salomão era o
mesmo de Davi: “edificar uma Casa ao nome do Senhor” (1Rs.5:5). O Templo seria
o lugar onde Deus manifestaria continuamente a sua presença e glória, e o lugar
para o povo reunir-se para adorá-lo (1Rs.8:15-21). O Templo foi edificado em
Jerusalém, no monte Moriá (2Cr.3:1; cf. Gn.22:2), e foi concluído em sete anos
(1Rs.6:38). Deus deu a Davi a planta do Templo por revelação do Espírito Santo
(1Cr.28:12), e Davi por sua vez providenciou muitos dos recursos para a obra,
antes de morrer. Na construção do Templo foram empregados diversos materiais de
altíssimo valor, tais como cedro do Líbano e muito ouro. Todo o edifício foi
revestido de ouro. O Lugar Santíssimo teve as paredes, o teto e o piso
revestidos de ouro puro (1Rs.6:20-22). Salomão queria dar o melhor para a Casa
do Senhor.
O Templo que abrigava a Arca do
concerto (Ex.25:16) simbolizava a presença e a Pessoa de Deus entre seu povo.
Ele refletia a verdade que Deus desejava estar entre o seu povo (Lv.26:12). Era
um sinal e testemunho visível do seu relacionamento pactual com o seu povo
(Ex.29:45,46), e foi edificado a fim de que o nome de Deus habitasse ali
(1Rs.5:5; 8:16; 9:3). O nome de Deus é “santo” (Lv.20:3; 1Cr.16:10,35; Ez.39:7),
por conseguinte, Deus queria ser conhecido e adorado por Israel como o Santo e o
Santificador do seu povo (Ex.29:43-46; Ez.37:26-28).
Quando o Templo foi dedicado, Deus o
encheu da sua glória (2Cr.7:1,2), e prometeu que poria o seu Nome ali
(2Cr.6:20,33). Por isso, quando o povo de Deus orava ao Senhor, podia fazê-lo,
voltado em direção ao Templo (2Cr.6:24,26,29,32), e Deus o ouviria “desde o seu
templo” (Sl.18:6). Todavia, o Templo não oferecia nenhuma garantia absoluta da
presença de Deus; simbolizava a presença de Deus somente enquanto o povo
rejeitasse todos os ídolos e obedecesse aos mandamentos do Senhor.
O Templo também representava a Redenção
de Deus para com o seu povo. Dois atos importantes tinham lugar ali: os
sacrifícios diários pelo pecado, no altar de bronze (cf. Nm.28:1-8; 2Cr.4:1), e
o Dia da Expiação, quando, então, o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo
a fim de aspergir sangue no propiciatório sobre a Arca para expiar os pecados
do povo (cf. Lv.16). Essas cerimônias do Templo relembravam aos israelitas o
alto preço da sua redenção e reconciliação com Deus.
2. O templo do Espírito Santo
Ao povo de Deus da Nova Aliança, a
ênfase do culto transferiu-se do Templo judaico para o próprio Jesus Cristo. É
Ele, e não o Templo, quem agora representa a presença de Deus entre o seu povo.
Ele é o Verbo de Deus que se fez carne (João 1:14), e nEle habita toda a
plenitude de Deus (Cl.2:9). O próprio Jesus declarou ser Ele o próprio templo
(João2:19-22). Mediante o seu sacrifício na cruz, Ele cumpriu todos os
sacrifícios que eram oferecidos no Tabernáculo e no Templo (cf. Hb.9:1-10:18).
Note também que, na sua fala à mulher samaritana, Jesus declarou que a adoração
dentro em breve seria realizada, não num prédio específico, mas “em espírito e
em verdade”, isto é, onde as pessoas verdadeiramente cressem na verdade da
Palavra de Deus e recebessem o Espírito Santo por meio de Cristo (cf. João
4:23).
Tendo em vista que Jesus Cristo personificou
em Si mesmo o significado do Templo, e posto que a Igreja é o Seu corpo
(Rm.12:5; 1Co.12:12-27; Ef.1:22,23; Cl.1:18), ela é denominada “o templo de Deus”,
onde habita Cristo e o Seu Espírito Santo (1Co.3:16; 2Co.6:16; Ef.2:21,22).
Mediante o Seu Espírito, Cristo habita na sua Igreja, e requer que o Seu Corpo
seja santo.
O Espírito Santo não somente habita na
Igreja, mas também individualmente no crente como Seu Templo (1Co.6:19). Daí, a
Bíblia advertir enfaticamente contra qualquer contaminação do corpo humano por
imoralidade ou impureza. A recomendação que ecoa é: “mas, como é santo aquele
que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver,
porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pd.1:15,16).
3. A glória do Senhor
Assim que a Arca (um tipo de Cristo)
foi colocada no Templo, em seu devido lugar, a nuvem da glória do Senhor, que
representava a presença de Deus, encheu o Templo. O texto diz:
”Assim trouxeram os sacerdotes a arca do concerto do Senhor ao seu
lugar, ao oráculo da casa, ao Lugar Santíssimo, até debaixo das asas dos
querubins. E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a
Casa do Senhor. E não podiam ter-se em pé os sacerdotes para ministrar, por
causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera a Casa do Senhor” (1Reis
8:6,10,11).
Os sacerdotes não conseguiram continuar
a ministrar porque a glória do Senhor enchera o Templo. Foi sem dúvida uma
magnifica ocasião, um dia altamente sagrado, quando Deus assumiu o completo
controle e, aqueles que normalmente seriam os condutores dos acontecimentos,
passaram a um segundo plano.
A presença divina como uma nuvem
escura, misteriosa e aterrorizante, representa duas grandes verdades a respeito
de Deus. Por um lado, sugere que o Senhor, que é santo e transcendente, não
pode ser visto pelos homens finitos. Por outro lado, sugere que Deus é imanente
e que a sua morada é entre o seu povo.
A glória de Deus se refere à presença
visível de Deus entre o seu povo, gloria esta que é conhecida como “shekinah”.
Esta é uma palavra hebraica que significa “habitação [de Deus]”, empregada para
descrever a manifestação visível da presença e glória de Deus.
Moisés viu a “shekinah” de Deus na
coluna de nuvem e de fogo (Êx.13:21). Em Êx.29:43 é chamada “minha glória” (cf.
Is.60:2). Ela cobriu o Sinai quando Deus outorgou a Lei (Êx.24:16,17), encheu o
Tabernáculo (Êx.40:34), guiou Israel no deserto (Êx.40:36-38) e posteriormente
encheu o Templo de Salomão (2Cr.7:1; 1Rs.8:11-13). Mais precisamente, Deus
habitava entre os querubins no Lugar Santíssimo do Templo (1Sm.4:4; 2Sm.6:2;
Sl.80:1).
Ezequiel viu a glória de Deus
levantar-se e afastar-se do Templo por causa da idolatria contumaz do povo de Israel
(cf. Ez.10:4,18,19).
No Novo Testamento, o equivalente da
glória “chekinah” é Jesus Cristo que, como a glória de Deus em carne humana,
veio habitar entre nós (João 1:14). Os pastores de Belém viram a glória do
Senhor no nascimento de Jesus (Lc.2:9), os discípulos a viram na transfiguração
de Cristo (Mt.17:2; 2Pd.1:16018) e Estevão a viu na ocasião do seu martírio
(At.7:55). Onde a Palavra de Deus habita e é obedecida, ali permanece a glória
divina.
CONCLUSÃO
Em Seu grande amor pelo povo escolhido,
Deus lhe concedeu muitas promessas de bênção e prosperidade. Em tempo oportuno,
muitas destas promessas, feitas ao longo da História foram cumpridas na
ascensão de Salomão. Este grande rei de Israel, em seu governo, proporcionou ao
povo de Deus um longo período de paz, harmonia e prosperidade. Mas muitas
promessas eram condicionais. A fidelidade do Senhor deveria ser continuamente
retribuída por meio de uma obediência genuína à Sua palavra. Salomão achou que
sua sabedoria poderia ser um substituto para a obediência, e esta foi uma
conclusão perigosa. Mais tarde todos os privilégios foram convertidos em
provações, um contraste penoso para o povo de Deus no tempo de Salomão. Se
antes de recebermos a ajuda divina somos dependentes do Senhor, muito mais
deveríamos ser depois das bênçãos por Ele concedidas.
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e
Grego. CPAD
William Macdonald. Comentário Bíblico popular
(Novo e Antigo Testamento).
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Tiago
-transformando provas em triunfo.
Comentário Bíblico Beaccon – volume 2.
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