3º Trimestre/2018
Texto Base: Levítico 9:15-24
"Então, entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois,
saíram e abençoaram o povo; e a glória do SENHOR apareceu a todo o povo"
(Lv.9:23).
INTRODUÇÃO
Dando
continuidade ao estudo do Livro de Levítico, estudaremos nesta Aula a respeito
da beleza e glória do Culto Levítico. Teremos como texto base o capítulo 9 de
Levítico, que é um referencial da adoração no Antigo Testamento. Este capítulo
registra os primeiros sacrifícios públicos sob o regime do sacerdócio levítico.
Os sacrifícios do capítulo 8 foram oferecidos por ocasião da ordenação de Arão
e seus filhos; o povo não participou, ficou só observando. Agora, no capítulo
9, os sacerdotes começam de fato o ministério de mediação. Este dia foi muito importante
para Israel. O Senhor apareceu para coroar a ocasião (Lv.9:23,24). Mas, para o
aparecimento de Deus (a sua presença) seria necessário a expiação dos pecados
de Arão e seus filhos, e do povo.
Em
primeiro lugar,
Arão ofereceu por si e seus filhos uma expiação (oferta pelo pecado) e um
holocausto (Lv.9:7,8). A oferta pelo pecado de Arão era um bezerro (Lv.9:2,8),
e seu holocausto, um carneiro (Lv.9:2). O fato de Arão apresentar a oferta pelo
pecado e o holocausto a favor de si mesmo e de seus filhos mostram que ninguém,
nem mesmo o sumo sacerdote Arão, estava preparado para servir a Deus ou adorar
a Deus sem que primeiro fosse feita expiação por ele.
Em segundo
lugar, Arão ofereceu ofertas
pelo povo de Israel (Lv.9:15). As ofertas de Arão pelo povo formavam um padrão
para o culto de Israel ao Senhor. Arão ofereceu uma oferta pelo pecado (expiação
do pecado – o bode: Lv.9:15), a oferta de manjares (Lv.9:17), o holocausto (bezerro
e um cordeiro - Lv.9:3) e o sacrifício pacifico (oferta de paz - Lv.9:18: boi e
carneiro). Esta ordem dos sacrifícios revelava o entendimento levítico acerca
da aproximação apropriada a Deus na adoração. Por que esta ordem? Dennis
F.Kinlaw, citando Keil, explica:
“A
oferta pelo pecado sempre era a primeira, porque servia para remover a
alienação do homem com o Deus santo e para tirar os obstáculos à sua
aproximação a Deus. Esta alienação era proveniente do pecado e retirada por
meio da expiação do pecador. Depois, vinha o holocausto, como expressão da
rendição completa da pessoa expiada ao Senhor; e por ultimo, a oferta de paz,
por um lado, como expressão vocal de agradecimento pelo misericórdia recebida e
oração para que ela continuasse e, por outro lado, como selo de comunhão do
certo com o Senhor na refeição sacrificial”.
O judaísmo tradicional sempre vê significado em cada detalhe deste
processo sacrificial levítico. Segundo a tradição judaica: o carneiro era lembrança da obediência de Abraão em
amarrar Isaque (Gn.22:9); o bode (Lv.9:3,15) é visto como
lembrança do bode que os irmãos de José mataram (Gn.37:31); o bezerro (Lv.9:8) lembra o bezerro de ouro (Ex.32:4)
e; o cordeiro (Lv.9:3) recorda o fato de Isaque ter sido
amarrado como cordeiro para o sacrifício (Gn.22:7).
O ponto culminante desse dia de adoração foi atingido quando o
fogo do Senhor veio e consumiu o holocausto no altar (Lv.9:24). Deus comungou
com o povo do seu concerto, Israel.
O culto termina
com a bênção arônica, que pode ter sido a
registrada em Números 6:24-26. Arão e Moisés saíram do tabernáculo e ergueram
as mãos abençoando todo o povo (Lv.9:23). Então, a glória do Senhor apareceu a
todos e, na presença de Deus, o povo jubilou e caiu sobre as suas faces
(Lv.9:24). A presença do Deus vivo manifesto em sua glória ao povo foi o
momento mais glorioso. Um culto sem a manifestação da presença de Deus é apenas
uma reunião religiosa repleta de emocionalismo, desconexo com o trono da graça
de Deus.
I. O CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO
No Antigo Testamento, para o culto divino ser aceito por Deus o pecado
tinha que ser coberto por meio de sacrifícios. Não havia culto nem adoração sem
sacrifícios; não havia culto sem altar. Os sacrifícios apontavam para aquilo
que Cristo iria realizar, de forma vicária, na Cruz do calvário. Não há culto
sem o significado da cruz; não há culto sem Jesus Cristo, Aquele que foi
imolado, mas que agora vive e reina para todo o sempre, e tem as chaves da
morte e do inferno (Ap.1:18).
Vejamos, a seguir, o que é o culto divino e o seu desenvolvimento na era
patriarcal, no período de Moisés, na época de Davi e de Salomão, no período do
cativeiro e após o cativeiro babilônico.
1. Definição.
O Culto divino é a expressão da fé; é o tributo de honra, louvor e serviço ao
Deus Todo Poderoso; é um relacionamento purificador e transformador com o Pai,
o Filho e o Espírito Santo; é uma demonstração do reconhecimento da nossa
inferioridade diante de Deus, de que Ele é o Senhor e digno de toda a adoração,
de todo o louvor (Ap.5:12-14). Através do culto, externamos aquilo que já está
em nosso coração, ou seja, a convicção, a certeza e o reconhecimento de que
Deus é digno, de que Deus merece toda a honra, toda a veneração, todo o
respeito.
a) Definição Etimológica. A palavra “culto” deriva-se dos seguintes
termos:
·
Latreia. Substantivo grego, usado
nas diversas situações de um trabalho ou serviço assalariado. Posteriormente
foi incorporado à prática cristã de cultuar, ou seja, prestar um serviço a
Deus, adorá-lo (Mt.4:10; Rm.12:1).
·
Proskyneo. Termo grego que no
Antigo Testamento significava “curvar-se”, tanto para homenagear homens
importantes e autoridades (Gn.27:29; 37:7-10; 1Sm.25:23), como para adorar a
Deus (Gn.24:52; 2Cr.7:3; Sl.95:6). No Novo Testamento denota exclusivamente a
adoração que se dirige a Deus (At.10:15-26; Ap.19:10; 22:8,9).
·
Cultus. Termo latim, que
significa a tributação voluntária de louvor e honra ao Criador.
b) Definição Teológica. Culto é o momento através do qual os filhos
de Deus adoram a Deus em espírito e em verdade. Literalmente quer dizer: adorar
e reverenciar a Deus.
O culto divino é a mais expressiva manifestação humana de aproximação com
Deus; é a comunhão do homem com Deus, que exige do seu povo sinceridade, reverência
e consideração nas reuniões coletivas de adoração. Quando Deus se manifestou a
Moisés, imediatamente mandou que o futuro líder libertador de Israel não se
aproximasse da sarça ardente e, ainda, descalçasse seus pés, pois o lugar onde
se encontrava era terra santa, em virtude da presença do Senhor (Ex.3:5), algo
que, anos mais tarde, seria repetido em relação ao sucessor de Moisés, Josué
(Js.5:15). Estas passagens provam que a adoração não se desprende da
reverência.
Ao povo da Nova Aliança, a Igreja, Deus instrui quanto à maneira como
devemos entrar em Sua presença: "aproximemo-nos, com sincero coração, em
plena certeza de fé, tendo o coração purificado" (Hb.10:22).
No culto divino, o mais importante e essencial não é o ritualismo ou a
pompa demonstrada nos rituais, mas o quebrantamento de coração e a integridade
de espírito. Um culto que se impõe pelo ritualismo não agrada a Deus. Por isso,
que em muitas ocasiões o culto levítico foi reprovado por Deus, pois o mesmo
era feito obedecendo a um ritual descrito num manual (vide Ml.1:10; Is.1:11-15).
É necessário que aqueles que desejam cultuar ao Senhor o façam em espírito e em
verdade (João 4:24).
Portanto, cultuar a Deus não é um hábito nem um simples ritual, mas a
expressão máxima de nossa devoção ao Senhor, de nossa dependência à sua Palavra
e de nossa necessidade de prestar-lhe serviço. Que a nossa adoração a Deus
conte, igualmente, com a presença do Espírito Santo em todos os atos. Sem a
glória de Deus, nenhum culto tem legitimidade.
2. No período patriarcal. Nesse período, podemos entender pelos textos bíblicos, o culto ao Senhor
era familiar, centralizado no altar. Ali, Deus e a família se encontravam e
havia: sacrifícios de gratidão (Gn.4:1-6; 8:20) e sacrifícios de expiação de
pecados (Jó 1:5).
Após o Dilúvio, o primeiro grande patriarca a prestar culto a Deus foi
Noé (Gn.8:20). Ao sair da Arca a primeira coisa que Noé fez foi adorar a Deus,
oferecendo-lhe sacrifício de gratidão pela sua salvação e de sua família - “Edificou Noé um altar ao Senhor; e tomou de
todo animal limpo e de toda ave limpa, e ofereceu holocaustos sobre o altar”.
A gratidão é uma característica manifestada naqueles que são filhos de
Deus. Deus se agrada quando reconhecemos o seu cuidado e o seu amor diário para
conosco.
Davi, no salmo 116:7, declara: “eu te darei uma
oferta de gratidão e a ti farei as minhas orações”.
Ana agradeceu a Deus por lhe abrir a madre
oferecendo o seu filho Samuel para ser exclusivo na casa do Senhor (Samuel cap.1).
Abraão, Isaque
e Jacó também construíram
altares para adorar ao Senhor, que os chamara a constituir a nação profética,
sacerdotal e real por excelência (Gn.12:7; 26:25; 35:1-7).
Hoje, demonstramos nosso sacrifício em gratidão a
Deus, por tudo o que somos, temos e fazemos; quando oferecemos nossa vida,
vontade, adoração e nosso louvor a Jesus Cristo e; quando reconhecemos o Seu
amor e sacrifício na cruz do calvário por nós.
3. No período de Moisés. Nesse período, o culto divino saiu da informalidade para um modelo mais
teológico, litúrgico e congregacional; e para que esse modelo funcionasse bem,
com racionabilidade, Deus, através de Moisés, entregou ao seu povo leis e
instruções. As prescrições eram rigorosas. Deus não somente quer nosso culto,
mas Ele diz como quer ser cultuado.
É válido ressaltar que nem toda adoração agrada a Deus. Há o perigo de
trazermos “fogo estranho” diante do altar e do trono do Senhor (Lv.10:1,2).
Esse “fogo estranho” consistia em contrariar os mandamentos divinos quanto à
adoração. Portanto, não apenas a adoração a falsos deuses é proibida nas
Escrituras, mas também a adoração ao verdadeiro Deus de maneira errada (Is.1:10-15;
Ml.1:7-10; Os.6:4-6; Am.5:21).
O período de Moisés foi o período do Tabernáculo, a habitação simbólica
de Deus. Todo o Tabernáculo e seus utensílios expressavam a Pessoa de Deus,
Seus atributos, Sua presença, Seu relacionamento com o povo, e como o povo se
comportava diante da presença de Deus. Podemos associar alguns utensílios do Tabernáculo
com alguns elementos imprescindíveis do culto.
- A Arca e a Mesa dos Pães. Representavam Deus como Rei, Senhor e Provedor do Seu povo.
- As Lâmpadas. Representavam a
direção de Deus; expressavam a pregação da Palavra.
- O Incenso. Representava o
local das intercessões pelo povo; as orações.
- O Altar. Representava o
lugar do derramamento de sangue; a confissão de pecados.
Notemos ainda a posição do Tabernáculo no centro do acampamento (Nm.1:52,53;
2:1,2) como uma referência à centralidade do culto para a nação.
4. No período de Davi e Salomão. Foi o período de maiores mudanças e de centralidade do culto. Houve uma
mudança na liturgia e o culto divino teve uma maior expressão de beleza. O rei
Davi, que também era profeta, salmista e músico, enriqueceu a celebração
oficial ao Senhor com a formação de corais e instrumentos musicais (1Cr.15:16).
Ele inventou e fabricou diversos instrumentos musicais (1Cr.23:5; 2Cr.7:6), no
afã de dar uma excelência maior ao culto divino. Salomão, seu sucessor,
dedicou-se igualmente ao enriquecimento litúrgico e musical na adoração divina
(2Cr.5:1-14).
No auge do Santo Templo, no reinado de Salomão, a liturgia do culto
divino impressionava por sua beleza e arte (2Cr.5:13,14):
“e quando eles uniformemente tocavam as trombetas e cantavam para fazerem
ouvir uma só voz, bendizendo e louvando ao SENHOR, e quando levantavam eles a
voz com trombetas, e címbalos, e outros instrumentos músicos, para bendizerem
ao SENHOR, porque era bom, porque a sua benignidade durava para sempre, então,
a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a Casa do SENHOR; e não podiam os
sacerdotes ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do
SENHOR encheu a Casa de Deus”.
5. No Período do Cativeiro de Judá. Em 586 a.C., os judeus foram levados em
cativeiro à Babilônia, onde permaneceram 70 anos (Jr.25:11,12). Não há
informações precisas sobre a maneira do povo judeu cultuar a Deus. Não havia
templo, não havia sacrifício, não havia sacerdócio. Em meio ao caos, à
desesperança e ao temor, Deus enviou profetas, como Ezequiel, para encorajar
Seu povo a se voltar para Ele e cultuá-lo.
No cativeiro, os princípios e crenças dos judeus exilados se
consolidaram. O próprio fato de terem sido destituídos do Templo, altar e dos
sacrifícios gerou neles uma retomada aos princípios fundamentais da fé judaica.
Por este motivo, foram formadas no exílio escolas de teologia judaica
(precursoras das sinagogas – lugar de reunião e adoração – Mt.4:23). Quando,
enfim, chegou o dia da restauração, não eram fracas as suas convicções, nem
desordenado o seu sistema doutrinário e possuíam uma austera crença monoteísta
e um credo religioso distinto, não podendo efetuar domínio na sua alma as
fascinações da idolatria.
6. Após o cativeiro babilônico. Com o retorno a Jerusalém, os judeus repatriados, incentivados por
Esdras e Neemias, reavivaram o culto levítico (Ne.2:22-30). Esdras, o
sacerdote, convidou o povo a voltar à Palavra (Ed 7.10); houve um retorno à Lei
de Deus (Torah), que começou a ser lida perante o povo. O Templo foi
restaurado, os sacerdotes voltaram à atividade, os sacrifícios e as ofertas
tornaram a ser feitos. O sumo sacerdote, auxiliado pelos escribas, assume a
liderança do povo. Nesse período, deu-se o inicio do que seria mais tarde a
sinagoga, que se tornou modelo para as igrejas no Novo Testamento.
II. OS ELEMENTOS DO CULTO LEVÍTICO
Apesar de ter
sido o próprio Deus quem estabeleceu a liturgia cúltica da Antiga Aliança, em
hipótese alguma, Ele estava atentando para a liturgia em si, mas Sua atenção
estava voltada para o adorador (vide Isaias 1:11-15). Os utensílios do culto, o
oficiante do culto, bem como a liturgia do culto, eram sombras de um Novo
Concerto que substituiria o Antigo.
Os sacrifícios,
os cânticos, a exposição da Palavra, a oração e a bênção eram elementos
centrais do culto Levítico. Embora a liturgia não seja a essência do culto, ela
deve ser observada pelo oficiante do culto, para que possa haver um culto
dentro dos parâmetros divinos, dentro das especificações bíblicas, ou seja, “tudo
sendo realizado com decência e ordem”.
A fim de mostrarmos a beleza e a glória do culto divino no sistema
Levítico, tomemos como exemplo a liturgia do dia da dedicação do Santo Templo,
pelo rei Salomão, em Jerusalém.
1. Sacrifícios. Os
sacrifícios Levítico aproximavam o povo de Israel de Deus. Tudo que diz
respeito a aproximar-se de Deus estava implícito no sacrifício. Este
entendimento explica as cinco variedades de ofertas: holocausto, oferta de
manjares, oferta de paz, oferta pelo pecado e oferta pela culpa. Cada oferta
fala de uma faceta diferente da proximidade com Deus.
Um ano após a construção do Templo (compare 1Rs.8;2 com 6:37,38), a Arca
da Aliança foi transportada da região de Jerusalém, conhecida como Cidade de
Davi ou Sião, para o Monte Moriá, para o Templo, e foi colocada no Santo dos
Santos. Nesta ocasião, muitas ovelhas e bois foram oferecidos como sacrifício. “O
rei Salomão e toda a congregação de Israel que se congregara a ele estavam
todos diante da arca, sacrificando ovelhas e vacas, que se não podiam contar,
nem numerar pela multidão” (1Rs.8:5). De forma sem igual, o rei Salomão e todo
o Israel demonstraram sua ação de graças ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
2. Cânticos. Num
culto divino não pode faltar o louvor, faz parte da liturgia, principalmente na
inauguração do santo Templo. Naquela ocasião, os cantores e músicos puseram-se
a louvar ao Senhor, entoando provavelmente os cânticos que Davi e outros
salmistas haviam composto.
“E quando os levitas, cantores de todos eles,
isto é, Asafe, Hemã, Jedutum, seus filhos e seus irmãos, vestidos de linho
fino, com címbalos, e com alaúdes e com harpas, estavam em pé para o oriente do
altar, e com eles até cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas, e
quando eles uniformemente tocavam as trombetas e cantavam para fazerem ouvir
uma só voz, bendizendo e louvando ao SENHOR, e quando levantavam eles a voz com
trombetas, e címbalos, e outros instrumentos musicais, para bendizerem ao
SENHOR, porque era bom, porque a sua benignidade durava para sempre, então, a
casa se encheu de uma nuvem, a saber, a Casa do SENHOR; e não podiam os
sacerdotes ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do
SENHOR encheu a Casa de Deus” (2Cr.5:12-14).
3. Exposição da Palavra (2Cr.6:1-13). Num culto, também, não pode faltar a leitura
e a exposição da Palavra de Deus. Após o exílio, na época de Esdras e Neemias,
a Palavra de Deus era lida e explicada publicamente como parte da liturgia do
culto (cf. Ne.8:1-8). No dia da Dedicação do Templo, logo após os sacrifícios e
os cânticos, e antes de se dirigir ao Senhor na oração de dedicação, o rei
Salomão dirigiu-se ao povo, fazendo uma síntese da História Sagrada até aquele
instante.
4. Oração (2Cr.6:12-42). Agora, o rei Salomão dirige-se a Deus em oração. É a mais longa
registrada na Bíblia, e transborda de louvor e petições; ela constitui a parte
central de 2Crônicas capitulo 6. Após subir numa plataforma especial no átrio
do Templo, Salomão estendeu as mãos e orou. Havia inúmeros motivos de ações de
graças, mas encorajado pela graça de Deus, também fez várias petições, não só
por Israel, mas também pelos gentios que, ouvindo acerca da intervenção divina
na vida de seu povo, para ali acorreriam (cf. 2Cr.6:14-42).
“E, acabando Salomão de orar, desceu fogo do
céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do SENHOR encheu a
casa. E os sacerdotes não podiam entrar na Casa do SENHOR, porque a glória do
SENHOR tinha enchido a Casa do SENHOR. E todos os filhos de Israel, vendo
descer o fogo e a glória do SENHOR sobre a casa, encurvaram-se com o rosto em
terra sobre o pavimento, e adoraram, e louvaram o SENHOR, porque é bom, porque
a sua benignidade dura para sempre” (2Cr.7:1-3).
5. Bênção (1Rs.8:14). Em seguida, o rei Salomão se voltou para o povo e o abençoou: “Então,
virou o rei o rosto e abençoou toda a congregação de Israel; e toda a
congregação de Israel estava em pé”. Nessa oração ele relembrou a promessa de
Deus a Davi acerca do Templo e expressou sua satisfação por ter a Arca da
Aliança uma habitação fixa.
O Culto Levítico era encerrado com a bênção sacerdotal, aquela que está
narrada em Números 6:22-26. Certamente, ela deve ter sido proferida no dia da
Dedicação do Templo. Segundo Paul Hoff, esta formosa bênção constitui o mais
excelente da poesia hebraica. Tem uma mensagem oportuna, tanto para os que
enfrentavam os inimigos e as incertezas da vida no deserto, como para o homem
moderno.
“E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala a
Arão e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel,
dizendo-lhes: O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça resplandecer o seu
rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti levante o seu
rosto e te dê a paz”.
Esta benção sacerdotal tem uma tríplice invocação: primeiro convida-se o
Senhor a abençoar ao seu povo (com boas colheitas, gado, boas temporadas e
filhos); a seguir, suplica-se que os guarde (de todo o mal, dos inimigos, de
magras colheitas, da enfermidade e da esterilidade); na segunda invocação, o
Senhor é convidado a voltar o seu rosto com agrado e alegria sobre seu povo e
estender-lhe seu favor; finalmente, pede-se que Ele "levante o seu
rosto" sobre o seu povo (em reconhecimento e aprovação) e lhes dê paz
(segurança, saúde, tranquilidade e paz com Deus e com os homens).
Esta benção sacerdotal assemelha-se à doxologia apostólica de 2Coríntios
13:13. Observa-se que as expressões nas três cláusulas correspondem às funções
da Trindade: do Pai, de “abençoar-nos e guardar-nos”; do Filho, de “mostrar-nos
a graça”; e do Espírito Santo de “dar-nos paz” (2Co.13:13).
III. FINALIDADES DO CULTO LEVÍTICO
As finalidades do Culto Levítico eram: adorar a Deus, reafirmar as
alianças divinas, professar o credo mosaico e aguardar o Messias. Era uma
celebração teológica e messiânica.
1. Adorar ao Deus Único e Verdadeiro. Ao reunir-se para adorar a Deus, o povo de
Israel demonstrava duas coisas: a aceitação do Único e Verdadeiro Deus e a rejeição
dos deuses pagãos (Lv.19:4; Sl.86:10; 97:9). Além disso, o culto afastava o
povo da idolatria e aprofundava sua comunhão com o Senhor (Sl.96:5). O culto
era centralizado em Deus, que reivindica e espera isso de Seu povo. Honramos ao
Senhor quando O adoramos pelo que Ele é, e não somente pelo que Ele faz. Deus
não está limitado a experiências humanas, as quais não podem determinar ou
governar o tipo de liturgia do culto prestado ao Senhor. O Salmo 93 diz que Ele
está revestido de majestade. Deus é glorioso, é sublime, é belo na Sua
santidade. Devemos adorá-lo no Seu esplendor e na Sua beleza. É com essa
concepção que devemos adorar ao Senhor.
2. Reafirmar as alianças antigas. Ao povo de Deus da Antiga Aliança, as ameaças relacionadas com a
desobediência e as promessas relacionadas com a obediência se referiam à vida
aqui neste mundo. Se os israelitas obedecessem, desfrutariam de abundância de
paz aqui na terra, uma numerosa descendência e vitória sobre os inimigos. Se
desobedecessem a Deus, sofreriam enfermidades, fome, invasões e cativeiro. São
mais extensas as maldições que as bênçãos porque o ser humano é propenso a
pecar. Deus tem de recorrer à ameaça para motivá-lo a andar no caminho por ele
traçado. O Culto Levítico era o momento propício para se lembrarem das
promessas e da Aliança de Deus firmada com eles. Nesse momento, os filhos de
Israel professavam as promessas que Deus fizera a Abraão, Isaque e Jacó e se
lembravam da Aliança firmada com os seus antepassados, que Deus tirou da terra
do Egito perante os olhos das nações, para lhes ser por Deus (Lv.26:9,45).
3. Professar o credo mosaico. Em seus cultos, os israelitas, guiados pelo ministério levítico,
professavam o seu credo: "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único
Senhor. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a
tua alma, e de todo o teu poder” (Dt.6:4,5). “Shemá” era o nome que os judeus davam a estes versículos, por ser
a primeira palavra que se traduz “ouve”. Duas vezes por dia os judeus piedosos
repetem o “Shemá”; é a afirmação da
fé monoteísta; ensina que o Senhor é único Deus.
“Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todo o teu poder” (Dt.6:5). Jesus citou este versículo como o
primeiro e grande mandamento. Depois citou, de Levítico 19:18, as palavras
“amarás o teu próximo como a ti mesmo”, a fim de apresentar o âmago da lei e a
síntese mais perfeita da verdadeira religião (Mt.22:37-40; Tg.1:27). Que a
Igreja de Cristo recite a doutrina divina.
4. Aguardar o Messias. O Culto Levítico era essencial e tipologicamente cristológico
(Lc.2:25-35). Portanto, um israelita piedoso, ligado às promessas messiânicas,
jamais seria surpreendido com a chegada do Messias. A Bíblia cita o nome de
algumas pessoas piedosas que aguardavam o Messias e, quando Ele se revelou, elas
prontamente o reconheceram.
- Lucas cita Zacarias, um sacerdote
piedoso e sua esposa, Isabel. A Escritura sublinha que ambos eram justos
diante de Deus e viviam irrepreensivelmente nos preceitos e mandamentos do
Senhor (Lc.1:6).
- Lucas apresenta também Simeão, outro
judeu piedoso de Jerusalém, e que esperava a consolação de Israel. A ele
foi revelado, pelo Espírito Santo, que não morreria antes que visse o
Messias (Lc.2:25,26).
- Lucas também cita a profetisa Ana, uma viúva
piedosa, que continuamente orava a Deus e jejuava. Quando viu o menino Jesus,
deu graças a Deus por Ele e falava da sua missão messiânica (Lc.2:36-38).
Na Nova Aliança, os crentes piedosos também aguardam, desejosos, a volta
de Jesus Cristo, o Messias. Quando Ele voltar não seremos surpreendidos com a
chegada dele, e o veremos face a face, e estaremos para sempre com Ele
(1Ts.4:16,17).
CONCLUSÃO
Com o passar do tempo a fé do povo de Israel se definhou e as práticas do
culto divino, conforme a ordem levítica, foram reprovadas por Deus. Se
desviaram totalmente do padrão estabelecido por Deus, como Ele requer de cada
um de nós: um culto racional, com reverência, temor e tremor. Eles adoravam a
Deus apenas com os lábios, pois o seu coração achava-se distante do Deus de
Abraão (Is.29:13). À época de Malaquias, por exemplo, o culto estava tão insípido
e irreverente que Deus sugeriu que fechasse a porta do Templo (Ml.1:10), pois
assim o povo pecaria menos contra Deus. O Senhor não estava mais aceitando as
ofertas deles. A sua glória não estava mais presente nos cultos. E nós, como estamos
cultuando ao Senhor? O culto que fazemos a Ele está lhe agradando? Quando nos
reunimos, coletivamente, damos ao Senhor a glória que somente a Ele é devida?
(Sl.29:2; 66:2; 96:7,8; Is.42:8; 48:11). A presença de Deus é real no culto?
Quando cultuamos verdadeiramente a Deus, sua glória jamais nos faltará
(Lv.9:23,24). Pense nisso!
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Luciano de Paula
Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 75. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Comentário Bíblico Bacon.
C.H. Mackintosh. Estudo sobre o Livro de Levítico.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. A Sublimidade do Culto Cristão.
PortalEBD_2008.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. Decência e ordem no Culto ao Senhor.
PortalEBD_2006.
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