domingo, 1 de julho de 2018

Aula 02 – A BELEZA E A GLÓRIA DO CULTO LEVÍTICO


3º Trimestre/2018
 
Texto Base: Levítico 9:15-24
 
"Então, entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois, saíram e abençoaram o povo; e a glória do SENHOR apareceu a todo o povo" (Lv.9:23).

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo do Livro de Levítico, estudaremos nesta Aula a respeito da beleza e glória do Culto Levítico. Teremos como texto base o capítulo 9 de Levítico, que é um referencial da adoração no Antigo Testamento. Este capítulo registra os primeiros sacrifícios públicos sob o regime do sacerdócio levítico. Os sacrifícios do capítulo 8 foram oferecidos por ocasião da ordenação de Arão e seus filhos; o povo não participou, ficou só observando. Agora, no capítulo 9, os sacerdotes começam de fato o ministério de mediação. Este dia foi muito importante para Israel. O Senhor apareceu para coroar a ocasião (Lv.9:23,24). Mas, para o aparecimento de Deus (a sua presença) seria necessário a expiação dos pecados de Arão e seus filhos, e do povo.
Em primeiro lugar, Arão ofereceu por si e seus filhos uma expiação (oferta pelo pecado) e um holocausto (Lv.9:7,8). A oferta pelo pecado de Arão era um bezerro (Lv.9:2,8), e seu holocausto, um carneiro (Lv.9:2). O fato de Arão apresentar a oferta pelo pecado e o holocausto a favor de si mesmo e de seus filhos mostram que ninguém, nem mesmo o sumo sacerdote Arão, estava preparado para servir a Deus ou adorar a Deus sem que primeiro fosse feita expiação por ele.
Em segundo lugar, Arão ofereceu ofertas pelo povo de Israel (Lv.9:15). As ofertas de Arão pelo povo formavam um padrão para o culto de Israel ao Senhor. Arão ofereceu uma oferta pelo pecado (expiação do pecado – o bode: Lv.9:15), a oferta de manjares (Lv.9:17), o holocausto (bezerro e um cordeiro - Lv.9:3) e o sacrifício pacifico (oferta de paz - Lv.9:18: boi e carneiro). Esta ordem dos sacrifícios revelava o entendimento levítico acerca da aproximação apropriada a Deus na adoração. Por que esta ordem? Dennis F.Kinlaw, citando Keil, explica:

“A oferta pelo pecado sempre era a primeira, porque servia para remover a alienação do homem com o Deus santo e para tirar os obstáculos à sua aproximação a Deus. Esta alienação era proveniente do pecado e retirada por meio da expiação do pecador. Depois, vinha o holocausto, como expressão da rendição completa da pessoa expiada ao Senhor; e por ultimo, a oferta de paz, por um lado, como expressão vocal de agradecimento pelo misericórdia recebida e oração para que ela continuasse e, por outro lado, como selo de comunhão do certo com o Senhor na refeição sacrificial”.

O judaísmo tradicional sempre vê significado em cada detalhe deste processo sacrificial levítico. Segundo a tradição judaica: o carneiro era lembrança da obediência de Abraão em amarrar Isaque (Gn.22:9); o bode (Lv.9:3,15) é visto como lembrança do bode que os irmãos de José mataram (Gn.37:31); o bezerro (Lv.9:8) lembra o bezerro de ouro (Ex.32:4) e; o cordeiro (Lv.9:3) recorda o fato de Isaque ter sido amarrado como cordeiro para o sacrifício (Gn.22:7).
O ponto culminante desse dia de adoração foi atingido quando o fogo do Senhor veio e consumiu o holocausto no altar (Lv.9:24). Deus comungou com o povo do seu concerto, Israel.
O culto termina com a bênção arônica, que pode ter sido a registrada em Números 6:24-26. Arão e Moisés saíram do tabernáculo e ergueram as mãos abençoando todo o povo (Lv.9:23). Então, a glória do Senhor apareceu a todos e, na presença de Deus, o povo jubilou e caiu sobre as suas faces (Lv.9:24). A presença do Deus vivo manifesto em sua glória ao povo foi o momento mais glorioso. Um culto sem a manifestação da presença de Deus é apenas uma reunião religiosa repleta de emocionalismo, desconexo com o trono da graça de Deus.

I. O CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento, para o culto divino ser aceito por Deus o pecado tinha que ser coberto por meio de sacrifícios. Não havia culto nem adoração sem sacrifícios; não havia culto sem altar. Os sacrifícios apontavam para aquilo que Cristo iria realizar, de forma vicária, na Cruz do calvário. Não há culto sem o significado da cruz; não há culto sem Jesus Cristo, Aquele que foi imolado, mas que agora vive e reina para todo o sempre, e tem as chaves da morte e do inferno (Ap.1:18).

Vejamos, a seguir, o que é o culto divino e o seu desenvolvimento na era patriarcal, no período de Moisés, na época de Davi e de Salomão, no período do cativeiro e após o cativeiro babilônico.

1. Definição. O Culto divino é a expressão da fé; é o tributo de honra, louvor e serviço ao Deus Todo Poderoso; é um relacionamento purificador e transformador com o Pai, o Filho e o Espírito Santo; é uma demonstração do reconhecimento da nossa inferioridade diante de Deus, de que Ele é o Senhor e digno de toda a adoração, de todo o louvor (Ap.5:12-14). Através do culto, externamos aquilo que já está em nosso coração, ou seja, a convicção, a certeza e o reconhecimento de que Deus é digno, de que Deus merece toda a honra, toda a veneração, todo o respeito.

a) Definição Etimológica. A palavra “culto” deriva-se dos seguintes termos:

·         Latreia. Substantivo grego, usado nas diversas situações de um trabalho ou serviço assalariado. Posteriormente foi incorporado à prática cristã de cultuar, ou seja, prestar um serviço a Deus, adorá-lo (Mt.4:10; Rm.12:1).

·         Proskyneo. Termo grego que no Antigo Testamento significava “curvar-se”, tanto para homenagear homens importantes e autoridades (Gn.27:29; 37:7-10; 1Sm.25:23), como para adorar a Deus (Gn.24:52; 2Cr.7:3; Sl.95:6). No Novo Testamento denota exclusivamente a adoração que se dirige a Deus (At.10:15-26; Ap.19:10; 22:8,9).

·         Cultus. Termo latim, que significa a tributação voluntária de louvor e honra ao Criador.

b) Definição Teológica. Culto é o momento através do qual os filhos de Deus adoram a Deus em espírito e em verdade. Literalmente quer dizer: adorar e reverenciar a Deus.

O culto divino é a mais expressiva manifestação humana de aproximação com Deus; é a comunhão do homem com Deus, que exige do seu povo sinceridade, reverência e consideração nas reuniões coletivas de adoração. Quando Deus se manifestou a Moisés, imediatamente mandou que o futuro líder libertador de Israel não se aproximasse da sarça ardente e, ainda, descalçasse seus pés, pois o lugar onde se encontrava era terra santa, em virtude da presença do Senhor (Ex.3:5), algo que, anos mais tarde, seria repetido em relação ao sucessor de Moisés, Josué (Js.5:15). Estas passagens provam que a adoração não se desprende da reverência.

Ao povo da Nova Aliança, a Igreja, Deus instrui quanto à maneira como devemos entrar em Sua presença: "aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado" (Hb.10:22).

No culto divino, o mais importante e essencial não é o ritualismo ou a pompa demonstrada nos rituais, mas o quebrantamento de coração e a integridade de espírito. Um culto que se impõe pelo ritualismo não agrada a Deus. Por isso, que em muitas ocasiões o culto levítico foi reprovado por Deus, pois o mesmo era feito obedecendo a um ritual descrito num manual (vide Ml.1:10; Is.1:11-15). É necessário que aqueles que desejam cultuar ao Senhor o façam em espírito e em verdade (João 4:24).

Portanto, cultuar a Deus não é um hábito nem um simples ritual, mas a expressão máxima de nossa devoção ao Senhor, de nossa dependência à sua Palavra e de nossa necessidade de prestar-lhe serviço. Que a nossa adoração a Deus conte, igualmente, com a presença do Espírito Santo em todos os atos. Sem a glória de Deus, nenhum culto tem legitimidade.

2. No período patriarcal. Nesse período, podemos entender pelos textos bíblicos, o culto ao Senhor era familiar, centralizado no altar. Ali, Deus e a família se encontravam e havia: sacrifícios de gratidão (Gn.4:1-6; 8:20) e sacrifícios de expiação de pecados (Jó 1:5).

Após o Dilúvio, o primeiro grande patriarca a prestar culto a Deus foi Noé (Gn.8:20). Ao sair da Arca a primeira coisa que Noé fez foi adorar a Deus, oferecendo-lhe sacrifício de gratidão pela sua salvação e de sua família - “Edificou Noé um altar ao Senhor; e tomou de todo animal limpo e de toda ave limpa, e ofereceu holocaustos sobre o altar”.

A gratidão é uma característica manifestada naqueles que são filhos de Deus. Deus se agrada quando reconhecemos o seu cuidado e o seu amor diário para conosco.

Davi, no salmo 116:7, declara: “eu te darei uma oferta de gratidão e a ti farei as minhas orações”.

Ana agradeceu a Deus por lhe abrir a madre oferecendo o seu filho Samuel para ser exclusivo na casa do Senhor (Samuel cap.1).

Abraão, Isaque e Jacó também construíram altares para adorar ao Senhor, que os chamara a constituir a nação profética, sacerdotal e real por excelência (Gn.12:7; 26:25; 35:1-7).

Hoje, demonstramos nosso sacrifício em gratidão a Deus, por tudo o que somos, temos e fazemos; quando oferecemos nossa vida, vontade, adoração e nosso louvor a Jesus Cristo e; quando reconhecemos o Seu amor e sacrifício na cruz do calvário por nós.

3. No período de Moisés. Nesse período, o culto divino saiu da informalidade para um modelo mais teológico, litúrgico e congregacional; e para que esse modelo funcionasse bem, com racionabilidade, Deus, através de Moisés, entregou ao seu povo leis e instruções. As prescrições eram rigorosas. Deus não somente quer nosso culto, mas Ele diz como quer ser cultuado.

É válido ressaltar que nem toda adoração agrada a Deus. Há o perigo de trazermos “fogo estranho” diante do altar e do trono do Senhor (Lv.10:1,2). Esse “fogo estranho” consistia em contrariar os mandamentos divinos quanto à adoração. Portanto, não apenas a adoração a falsos deuses é proibida nas Escrituras, mas também a adoração ao verdadeiro Deus de maneira errada (Is.1:10-15; Ml.1:7-10; Os.6:4-6; Am.5:21).

O período de Moisés foi o período do Tabernáculo, a habitação simbólica de Deus. Todo o Tabernáculo e seus utensílios expressavam a Pessoa de Deus, Seus atributos, Sua presença, Seu relacionamento com o povo, e como o povo se comportava diante da presença de Deus. Podemos associar alguns utensílios do Tabernáculo com alguns elementos imprescindíveis do culto.

  • A Arca e a Mesa dos Pães. Representavam Deus como Rei, Senhor e Provedor do Seu povo.
  • As Lâmpadas. Representavam a direção de Deus; expressavam a pregação da Palavra.
  • O Incenso. Representava o local das intercessões pelo povo; as orações.
  • O Altar. Representava o lugar do derramamento de sangue; a confissão de pecados.

Notemos ainda a posição do Tabernáculo no centro do acampamento (Nm.1:52,53; 2:1,2) como uma referência à centralidade do culto para a nação.

4. No período de Davi e Salomão. Foi o período de maiores mudanças e de centralidade do culto. Houve uma mudança na liturgia e o culto divino teve uma maior expressão de beleza. O rei Davi, que também era profeta, salmista e músico, enriqueceu a celebração oficial ao Senhor com a formação de corais e instrumentos musicais (1Cr.15:16). Ele inventou e fabricou diversos instrumentos musicais (1Cr.23:5; 2Cr.7:6), no afã de dar uma excelência maior ao culto divino. Salomão, seu sucessor, dedicou-se igualmente ao enriquecimento litúrgico e musical na adoração divina (2Cr.5:1-14).

No auge do Santo Templo, no reinado de Salomão, a liturgia do culto divino impressionava por sua beleza e arte (2Cr.5:13,14):

“e quando eles uniformemente tocavam as trombetas e cantavam para fazerem ouvir uma só voz, bendizendo e louvando ao SENHOR, e quando levantavam eles a voz com trombetas, e címbalos, e outros instrumentos músicos, para bendizerem ao SENHOR, porque era bom, porque a sua benignidade durava para sempre, então, a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a Casa do SENHOR; e não podiam os sacerdotes ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR encheu a Casa de Deus”.

5. No Período do Cativeiro de Judá. Em 586 a.C., os judeus foram levados em cativeiro à Babilônia, onde permaneceram 70 anos (Jr.25:11,12). Não há informações precisas sobre a maneira do povo judeu cultuar a Deus. Não havia templo, não havia sacrifício, não havia sacerdócio. Em meio ao caos, à desesperança e ao temor, Deus enviou profetas, como Ezequiel, para encorajar Seu povo a se voltar para Ele e cultuá-lo.

No cativeiro, os princípios e crenças dos judeus exilados se consolidaram. O próprio fato de terem sido destituídos do Templo, altar e dos sacrifícios gerou neles uma retomada aos princípios fundamentais da fé judaica. Por este motivo, foram formadas no exílio escolas de teologia judaica (precursoras das sinagogas – lugar de reunião e adoração – Mt.4:23). Quando, enfim, chegou o dia da restauração, não eram fracas as suas convicções, nem desordenado o seu sistema doutrinário e possuíam uma austera crença monoteísta e um credo religioso distinto, não podendo efetuar domínio na sua alma as fascinações da idolatria.

6. Após o cativeiro babilônico. Com o retorno a Jerusalém, os judeus repatriados, incentivados por Esdras e Neemias, reavivaram o culto levítico (Ne.2:22-30). Esdras, o sacerdote, convidou o povo a voltar à Palavra (Ed 7.10); houve um retorno à Lei de Deus (Torah), que começou a ser lida perante o povo. O Templo foi restaurado, os sacerdotes voltaram à atividade, os sacrifícios e as ofertas tornaram a ser feitos. O sumo sacerdote, auxiliado pelos escribas, assume a liderança do povo. Nesse período, deu-se o inicio do que seria mais tarde a sinagoga, que se tornou modelo para as igrejas no Novo Testamento.

II. OS ELEMENTOS DO CULTO LEVÍTICO

Apesar de ter sido o próprio Deus quem estabeleceu a liturgia cúltica da Antiga Aliança, em hipótese alguma, Ele estava atentando para a liturgia em si, mas Sua atenção estava voltada para o adorador (vide Isaias 1:11-15). Os utensílios do culto, o oficiante do culto, bem como a liturgia do culto, eram sombras de um Novo Concerto que substituiria o Antigo.

Os sacrifícios, os cânticos, a exposição da Palavra, a oração e a bênção eram elementos centrais do culto Levítico. Embora a liturgia não seja a essência do culto, ela deve ser observada pelo oficiante do culto, para que possa haver um culto dentro dos parâmetros divinos, dentro das especificações bíblicas, ou seja, “tudo sendo realizado com decência e ordem”.

A fim de mostrarmos a beleza e a glória do culto divino no sistema Levítico, tomemos como exemplo a liturgia do dia da dedicação do Santo Templo, pelo rei Salomão, em Jerusalém.

1. Sacrifícios. Os sacrifícios Levítico aproximavam o povo de Israel de Deus. Tudo que diz respeito a aproximar-se de Deus estava implícito no sacrifício. Este entendimento explica as cinco variedades de ofertas: holocausto, oferta de manjares, oferta de paz, oferta pelo pecado e oferta pela culpa. Cada oferta fala de uma faceta diferente da proximidade com Deus.

Um ano após a construção do Templo (compare 1Rs.8;2 com 6:37,38), a Arca da Aliança foi transportada da região de Jerusalém, conhecida como Cidade de Davi ou Sião, para o Monte Moriá, para o Templo, e foi colocada no Santo dos Santos. Nesta ocasião, muitas ovelhas e bois foram oferecidos como sacrifício. “O rei Salomão e toda a congregação de Israel que se congregara a ele estavam todos diante da arca, sacrificando ovelhas e vacas, que se não podiam contar, nem numerar pela multidão” (1Rs.8:5). De forma sem igual, o rei Salomão e todo o Israel demonstraram sua ação de graças ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

2. Cânticos. Num culto divino não pode faltar o louvor, faz parte da liturgia, principalmente na inauguração do santo Templo. Naquela ocasião, os cantores e músicos puseram-se a louvar ao Senhor, entoando provavelmente os cânticos que Davi e outros salmistas haviam composto.

“E quando os levitas, cantores de todos eles, isto é, Asafe, Hemã, Jedutum, seus filhos e seus irmãos, vestidos de linho fino, com címbalos, e com alaúdes e com harpas, estavam em pé para o oriente do altar, e com eles até cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas, e quando eles uniformemente tocavam as trombetas e cantavam para fazerem ouvir uma só voz, bendizendo e louvando ao SENHOR, e quando levantavam eles a voz com trombetas, e címbalos, e outros instrumentos musicais, para bendizerem ao SENHOR, porque era bom, porque a sua benignidade durava para sempre, então, a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a Casa do SENHOR; e não podiam os sacerdotes ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR encheu a Casa de Deus” (2Cr.5:12-14).

3. Exposição da Palavra (2Cr.6:1-13). Num culto, também, não pode faltar a leitura e a exposição da Palavra de Deus. Após o exílio, na época de Esdras e Neemias, a Palavra de Deus era lida e explicada publicamente como parte da liturgia do culto (cf. Ne.8:1-8). No dia da Dedicação do Templo, logo após os sacrifícios e os cânticos, e antes de se dirigir ao Senhor na oração de dedicação, o rei Salomão dirigiu-se ao povo, fazendo uma síntese da História Sagrada até aquele instante.

4. Oração (2Cr.6:12-42). Agora, o rei Salomão dirige-se a Deus em oração. É a mais longa registrada na Bíblia, e transborda de louvor e petições; ela constitui a parte central de 2Crônicas capitulo 6. Após subir numa plataforma especial no átrio do Templo, Salomão estendeu as mãos e orou. Havia inúmeros motivos de ações de graças, mas encorajado pela graça de Deus, também fez várias petições, não só por Israel, mas também pelos gentios que, ouvindo acerca da intervenção divina na vida de seu povo, para ali acorreriam (cf. 2Cr.6:14-42).

“E, acabando Salomão de orar, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do SENHOR encheu a casa. E os sacerdotes não podiam entrar na Casa do SENHOR, porque a glória do SENHOR tinha enchido a Casa do SENHOR. E todos os filhos de Israel, vendo descer o fogo e a glória do SENHOR sobre a casa, encurvaram-se com o rosto em terra sobre o pavimento, e adoraram, e louvaram o SENHOR, porque é bom, porque a sua benignidade dura para sempre” (2Cr.7:1-3).

5. Bênção (1Rs.8:14). Em seguida, o rei Salomão se voltou para o povo e o abençoou: “Então, virou o rei o rosto e abençoou toda a congregação de Israel; e toda a congregação de Israel estava em pé”. Nessa oração ele relembrou a promessa de Deus a Davi acerca do Templo e expressou sua satisfação por ter a Arca da Aliança uma habitação fixa.

O Culto Levítico era encerrado com a bênção sacerdotal, aquela que está narrada em Números 6:22-26. Certamente, ela deve ter sido proferida no dia da Dedicação do Templo. Segundo Paul Hoff, esta formosa bênção constitui o mais excelente da poesia hebraica. Tem uma mensagem oportuna, tanto para os que enfrentavam os inimigos e as incertezas da vida no deserto, como para o homem moderno.

“E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala a Arão e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes: O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz”.

Esta benção sacerdotal tem uma tríplice invocação: primeiro convida-se o Senhor a abençoar ao seu povo (com boas colheitas, gado, boas temporadas e filhos); a seguir, suplica-se que os guarde (de todo o mal, dos inimigos, de magras colheitas, da enfermidade e da esterilidade); na segunda invocação, o Senhor é convidado a voltar o seu rosto com agrado e alegria sobre seu povo e estender-lhe seu favor; finalmente, pede-se que Ele "levante o seu rosto" sobre o seu povo (em reconhecimento e aprovação) e lhes dê paz (segurança, saúde, tranquilidade e paz com Deus e com os homens).

Esta benção sacerdotal assemelha-se à doxologia apostólica de 2Coríntios 13:13. Observa-se que as expressões nas três cláusulas correspondem às funções da Trindade: do Pai, de “aben­çoar-nos e guardar-nos”; do Filho, de “mostrar-nos a graça”; e do Espírito Santo de “dar-nos paz” (2Co.13:13).

III. FINALIDADES DO CULTO LEVÍTICO

As finalidades do Culto Levítico eram: adorar a Deus, reafirmar as alianças divinas, professar o credo mosaico e aguardar o Messias. Era uma celebração teológica e messiânica.

1. Adorar ao Deus Único e Verdadeiro. Ao reunir-se para adorar a Deus, o povo de Israel demonstrava duas coisas: a aceitação do Único e Verdadeiro Deus e a rejeição dos deuses pagãos (Lv.19:4; Sl.86:10; 97:9). Além disso, o culto afastava o povo da idolatria e aprofundava sua comunhão com o Senhor (Sl.96:5). O culto era centralizado em Deus, que reivindica e espera isso de Seu povo. Honramos ao Senhor quando O adoramos pelo que Ele é, e não somente pelo que Ele faz. Deus não está limitado a experiências humanas, as quais não podem determinar ou governar o tipo de liturgia do culto prestado ao Senhor. O Salmo 93 diz que Ele está revestido de majestade. Deus é glorioso, é sublime, é belo na Sua santidade. Devemos adorá-lo no Seu esplendor e na Sua beleza. É com essa concepção que devemos adorar ao Senhor.

2. Reafirmar as alianças antigas. Ao povo de Deus da Antiga Aliança, as ameaças relacionadas com a desobediência e as promessas relacionadas com a obediência se referiam à vida aqui neste mundo. Se os israelitas obedecessem, desfrutariam de abundância de paz aqui na terra, uma numerosa descendência e vitória sobre os inimigos. Se desobedecessem a Deus, sofreriam enfermidades, fome, invasões e cativeiro. São mais extensas as maldições que as bênçãos porque o ser humano é propenso a pecar. Deus tem de recorrer à ameaça para motivá-lo a andar no caminho por ele traçado. O Culto Levítico era o momento propício para se lembrarem das promessas e da Aliança de Deus firmada com eles. Nesse momento, os filhos de Israel professavam as promessas que Deus fizera a Abraão, Isaque e Jacó e se lembravam da Aliança firmada com os seus antepassados, que Deus tirou da terra do Egito perante os olhos das nações, para lhes ser por Deus (Lv.26:9,45).

3. Professar o credo mosaico. Em seus cultos, os israelitas, guiados pelo ministério levítico, professavam o seu credo: "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder” (Dt.6:4,5). “Shemá” era o nome que os judeus davam a estes versículos, por ser a primeira palavra que se traduz “ouve”. Duas vezes por dia os judeus piedosos repetem o “Shemá”; é a afirmação da fé monoteísta; ensina que o Senhor é único Deus.

“Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder” (Dt.6:5). Jesus citou este versículo como o primeiro e grande mandamento. Depois citou, de Levítico 19:18, as palavras “amarás o teu próximo como a ti mesmo”, a fim de apresentar o âmago da lei e a síntese mais perfeita da verdadeira religião (Mt.22:37-40; Tg.1:27). Que a Igreja de Cristo recite a doutrina divina.

4. Aguardar o Messias. O Culto Levítico era essencial e tipologicamente cristológico (Lc.2:25-35). Portanto, um israelita piedoso, ligado às promessas messiânicas, jamais seria surpreendido com a chegada do Messias. A Bíblia cita o nome de algumas pessoas piedosas que aguardavam o Messias e, quando Ele se revelou, elas prontamente o reconheceram.

  • Lucas cita Zacarias, um sacerdote piedoso e sua esposa, Isabel. A Escritura sublinha que ambos eram justos diante de Deus e viviam irrepreensivelmente nos preceitos e mandamentos do Senhor (Lc.1:6).
  • Lucas apresenta também Simeão, outro judeu piedoso de Jerusalém, e que esperava a consolação de Israel. A ele foi revelado, pelo Espírito Santo, que não morreria antes que visse o Messias (Lc.2:25,26).
  • Lucas também cita a profetisa Ana, uma viúva piedosa, que continuamente orava a Deus e jejuava. Quando viu o menino Jesus, deu graças a Deus por Ele e falava da sua missão messiânica (Lc.2:36-38).

Na Nova Aliança, os crentes piedosos também aguardam, desejosos, a volta de Jesus Cristo, o Messias. Quando Ele voltar não seremos surpreendidos com a chegada dele, e o veremos face a face, e estaremos para sempre com Ele (1Ts.4:16,17).

CONCLUSÃO

Com o passar do tempo a fé do povo de Israel se definhou e as práticas do culto divino, conforme a ordem levítica, foram reprovadas por Deus. Se desviaram totalmente do padrão estabelecido por Deus, como Ele requer de cada um de nós: um culto racional, com reverência, temor e tremor. Eles adoravam a Deus apenas com os lábios, pois o seu coração achava-se distante do Deus de Abraão (Is.29:13). À época de Malaquias, por exemplo, o culto estava tão insípido e irreverente que Deus sugeriu que fechasse a porta do Templo (Ml.1:10), pois assim o povo pecaria menos contra Deus. O Senhor não estava mais aceitando as ofertas deles. A sua glória não estava mais presente nos cultos. E nós, como estamos cultuando ao Senhor? O culto que fazemos a Ele está lhe agradando? Quando nos reunimos, coletivamente, damos ao Senhor a glória que somente a Ele é devida? (Sl.29:2; 66:2; 96:7,8; Is.42:8; 48:11). A presença de Deus é real no culto? Quando cultuamos verdadeiramente a Deus, sua glória jamais nos faltará (Lv.9:23,24). Pense nisso!

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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 75. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Comentário Bíblico Bacon.
C.H. Mackintosh. Estudo sobre o Livro de Levítico.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. A Sublimidade do Culto Cristão. PortalEBD_2008.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. Decência e ordem no Culto ao Senhor. PortalEBD_2006.

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