domingo, 25 de fevereiro de 2024

O BATISMO: A PRIMEIRA ORDENANÇA DA IGREJA

         1° trimestre/2024

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 09

Texto Base: Romanos 6:1-11

“Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt.28:19).

Romanos 6:

1.Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante?

2.De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?

3.Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?

4.De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.

5.Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressureição;

6.sabendo isto: que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, afim de que não sirvamos mais ao pecado.

7.Porque aquele que está morto está justificado do pecado.

8.Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos;

9.sabendo que, havendo Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele.

10.Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.

11.Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor.

INTRODUÇÃO

Nesta Lição trataremos da Primeira Ordenança dada por Cristo à Igreja: o Batismo. Como primeira ordenança da Igreja, é um dos pilares fundamentais da fé cristã, uma prática que remonta aos tempos de João Batista e foi vivenciada por Jesus Cristo e seus discípulos. Ao longo da história da Igreja Primitiva, o Batismo se estabeleceu como uma prática de profunda importância espiritual e simbólica para os seguidores de Cristo.

Esta Lição se propõe a explorar as origens, significados e práticas associadas ao Batismo, mergulhando na sua relevância teológica, ritualística e simbólica. Ao entendermos a base bíblica e histórica por trás dessa prática sagrada, podemos compreender melhor seu papel na vida dos crentes e na identidade da Igreja.

Embora seja uma prática de grande importância para a Igreja de Cristo, ao longo da história cristã, a prática do Batismo experimentou interpretações diversas e até desvios em relação ao seu propósito original. É crucial retornar à fonte primária, a Bíblia, para compreendermos o propósito genuíno para o qual essa prática foi instituída. Ouvir as Escrituras é fundamental para discernir o verdadeiro significado e a intenção por trás do Batismo. A Bíblia não apenas relata os eventos do Batismo praticado por João Batista, Jesus e os apóstolos, mas também fornece ensinamentos claros sobre sua importância espiritual e significado simbólico. Ela é a base para discernir o propósito original e os princípios subjacentes a essa ordenança.

Nesta Lição, buscar-se-á uma compreensão cuidadosa e abrangente das passagens bíblicas pertinentes, a fim de estabelecer uma visão sólida e fundamentada sobre o propósito correto do Batismo. Assim, poderemos discernir e distinguir entre práticas e interpretações que se alinham com as Escrituras daquelas que se desviam do seu verdadeiro propósito.

Ao permitir que a Bíblia seja a autoridade suprema na discussão sobre o Batismo, aspiramos aprofundar nosso conhecimento e compreensão desse símbolo sagrado, garantindo que a prática esteja alinhada com os ensinamentos originais e intenções de Jesus Cristo e dos apóstolos.

Dessa forma, esta Lição se propõe a aprofundar-se na riqueza espiritual e simbólica desta primeira ordenança da Igreja, buscando não apenas compreender sua importância histórica, mas também explorar sua relevância contínua para a vida e a prática da Igreja do Senhor Jesus.

I. PRESSUPOSTOS BÍBLICO-DOUTRINÁRIOS DO BATISMO

1. O Batismo visto como sacramento: a origem de um erro

A palavra "sacramento", derivada do latim sacramentum, refere-se a um sinal sagrado que, de acordo com essa perspectiva, é capaz de conferir graça divina àqueles que participam dele. A tradição católica e alguns segmentos do protestantismo histórico têm uma visão sacramental do Batismo.

Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), um dos pais da igreja do século IV e V, foi uma figura influente na teologia cristã e suas ideias tiveram impacto considerável na doutrina católica. Este teólogo entendia o Batismo como um sacramento eficaz na transmissão da graça divina, mesmo que a fé da pessoa batizada fosse insuficiente ou inexistente. Essa visão sacramental, advogada por Agostinho e posteriormente adotada pela tradição católica, sugere que o Batismo é um meio pelo qual a graça de Deus é conferida e que essa graça é operante independentemente da fé pessoal daquele que é batizado. Isso implica que o Batismo é necessário para a regeneração espiritual e a remissão dos pecados, sendo um elemento essencial para a salvação.

No entanto, é importante ressaltar que as interpretações teológicas e doutrinárias variam entre as diferentes tradições cristãs. Enquanto algumas vertentes valorizam o Batismo como um sacramento que confere graça independentemente da fé, outras, como muitos segmentos do protestantismo histórico e das igrejas cristãs evangélicas, enfatizam que a salvação é pela graça mediante a fé em Jesus Cristo (Ef.2:8), não sendo o Batismo um requisito para essa salvação.

2. O Batismo não é sacramento, mas ordenança de Cristo

O ensino bíblico concernente ao Batismo é que ele é uma ordenança e não um sacramento - “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt.28:19). Esta ordenança dada por Cristo é vista como um ato de obediência e identificação pública do crente com a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus.

Seguindo essa interpretação, o Batismo é considerado uma expressão externa de uma realidade espiritual já existente na vida da pessoa que se converteu a Cristo pela fé. Ou seja, não é o ato do Batismo em si que confere a graça salvífica, mas é um testemunho público da transformação interior que já ocorreu na vida do crente mediante a fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Nessa perspectiva, o Batismo não é visto como um meio de obtenção da graça salvadora, mas como uma resposta de obediência à ordem de Cristo para aqueles que já experimentaram a graça de Deus por meio da fé. É um símbolo externo que representa uma realidade espiritual interna e uma identificação com a comunidade dos seguidores de Cristo.

Essa interpretação ressalta que a salvação é pela graça mediante a fé, conforme mencionado em passagens como Efésios 2:8,9, onde se afirma que a salvação é um dom gratuito de Deus, não proveniente de obras, para que ninguém se glorie. Para as Assembleias de Deus e muitas outras igrejas evangélicas, o Batismo é considerado uma ordenança ou um mandamento simbólico, mas não um sacramento que confere automaticamente a graça divina. A ênfase está na compreensão de que a salvação é pela graça mediante a fé em Jesus Cristo, conforme descrito nestes textos. Nessa perspectiva, o Batismo é uma demonstração pública da fé interior já existente no coração do crente. Ele representa a identificação do indivíduo com a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, simbolizando a transformação espiritual e o compromisso com uma nova vida em Cristo (2Co.5:17).

Portanto, para as Assembleias de Deus no Brasil e muitas outras denominações cristãs evangélicas, o Batismo é visto como uma prática obediente e simbólica realizada por aqueles que já receberam a salvação pela fé em Jesus Cristo, e não como um meio necessário para alcançar a graça salvadora de Deus. É uma expressão pública e significativa da fé e compromisso pessoal com Cristo, mas não um requisito para a salvação.

3. O Batismo deve ser administrado aos adultos

A discussão sobre o Batismo de crianças versus o Batismo de adultos tem sido um tema debatido dentro do cristianismo ao longo dos séculos. A questão está intrinsecamente ligada a interpretações teológicas e práticas eclesiásticas.

Agostinho de Hipona foi um dos proponentes da ideia de batizar bebês como forma de limpar o pecado original e garantir a salvação. Essa visão é conhecida como batismo infantil ou pedobatismo, e é praticada por várias tradições que se dizem cristãs, especialmente na tradição católica e em algumas denominações protestantes tradicionais.

No entanto, há correntes teológicas, como os adeptos do batismo de crentes adultos, que argumentam que o Batismo deve ser administrado somente a indivíduos que têm a capacidade de fazer uma decisão consciente e pessoal de seguir a Cristo. Eles se baseiam em passagens bíblicas que destacam a importância da fé e do arrependimento para receber o Batismo, como o texto de Marcos 16:16. Logo, não há vestígios no Novo Testamento de crianças sendo batizadas, pois nosso Senhor disse que o Batismo deveria ser administrado a quem cresse. Uma criança, que ainda não chegou à idade da razão não tem maturidade para crer e fazer escolhas.

A doutrina das Assembleias de Deus, assim como várias outras denominações evangélicas, adota a prática do batismo de crentes adultos, onde o Batismo é administrado somente a indivíduos que fizeram uma profissão de fé pessoal em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. É uma ordenança de obediência para aqueles que já alcançaram a salvação pela fé em Jesus Cristo.

Dentro da visão das Assembleias de Deus e de outras denominações evangélicas que seguem a prática do batismo de crentes adultos, o Batismo é considerado um ato simbólico que representa a morte para o pecado e a ressurreição para uma nova vida em Cristo. Ele é realizado após uma decisão consciente e voluntária de seguir a Cristo e representa uma identificação pública com a comunidade cristã e a fé em Jesus como Salvador pessoal.

A ausência de referências específicas ao Batismo de crianças no Novo Testamento e a ênfase nas Escrituras sobre a importância da fé e da conversão pessoal têm influenciado a posição das Assembleias de Deus e de outras denominações em relação ao Batismo. Elas enfatizam a necessidade de maturidade espiritual e entendimento pessoal antes de receber o Batismo, algo que, segundo essa perspectiva, as crianças pequenas ainda não têm.

Assim, a prática do batismo de crentes adultos é uma característica fundamental da doutrina das Assembleias de Deus e de várias denominações evangélicas, baseada na compreensão bíblica da natureza do Batismo como uma ordenança para os crentes convertidos que professam sua fé em Cristo.

II. O SÍMBOLO E O PROPÓSITO DO BATISMO

1. Símbolo do Batismo: Identificação com Cristo

O Batismo por imersão, como descrito pelo apóstolo Paulo em Romanos 6:3-5 e também mencionado em Colossenses 2:12, é considerado um dos símbolos mais profundos e significativos na vida do cristão, representando a identificação íntima e espiritual do crente com a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo. Esses textos enfatizam a importância espiritual e simbólica do Batismo por imersão como um testemunho público da fé e identificação do crente com a obra redentora de Cristo. É mais do que um ritual; é uma demonstração externa de uma realidade interior, uma decisão consciente de seguir a Cristo e ser transformado por Ele.

A imersão no Batismo é vista como um símbolo visual poderoso. Quando o crente é mergulhado na água, simboliza sua união com a morte de Cristo, onde a antiga natureza pecaminosa é representada como morta e sepultada. O ato de ser imerso na água representa um enterro simbólico da vida anterior, uma morte para o pecado e uma separação da velha natureza. Essa morte simbólica está alinhada com a morte de Cristo na cruz, onde Ele morreu pelos pecados da humanidade. O momento em que o crente emerge da água simboliza a ressurreição para uma nova vida em Cristo. Assim como Cristo ressuscitou dos mortos, o batizado emerge da água para uma nova vida espiritual, uma vida transformada e redimida, agora vivendo em comunhão com Cristo.

Portanto, o Batismo por imersão é considerado um dos marcos fundamentais na jornada espiritual do crente, representando a morte para o pecado e a ressurreição para uma nova vida em Cristo, conforme ensinado e exemplificado pelo próprio Jesus e reafirmado nas epístolas do Novo Testamento.

2. O Propósito do Batismo: Testemunho público da fé cristã

O Batismo, conforme descrito no contexto da fé bíblica, é uma profissão pública de fé. É um ato de testemunho visível diante de outros crentes e do mundo em geral, representando a decisão consciente e pessoal de seguir a Cristo e se identificar com Ele.

Vamos explorar alguns pontos fundamentais sobre o propósito e significado do Batismo como um testemunho público da fé cristã:

a)   Profissão de Fé Pública (Atos 2:41). O ato de ser batizado é uma declaração pública da fé pessoal em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Ao ser batizado, o crente está testemunhando sua aceitação do evangelho e sua identificação com Cristo em sua morte, sepultamento e ressurreição.

b)   Símbolo de Identificação com Cristo. O Batismo simboliza a união do crente com a morte e ressurreição de Jesus. É uma representação visível de morrer para a velha vida de pecado e ressurgir para uma nova vida em Cristo.

c)   Conscientização e Convicção. Antes de serem batizadas, as pessoas devem estar conscientes e convictas da fé que abraçaram. Isso implica um entendimento da mensagem do evangelho, um compromisso pessoal com Cristo e uma vontade de seguir Seus ensinamentos.

d)   Não há Neutralidade (Cl.2:6). O Batismo não é um ato neutro; é uma declaração pública de alinhamento com Cristo. Aqueles que buscam o Batismo devem estar comprometidos com a fé cristã e prontos para viver de acordo com os princípios e ensinamentos de Jesus.

e)   Para os Salvos e Convertidos (Atos 8:12; 16:14,15). Na prática bíblica, o Batismo é reservado para aqueles que já experimentaram a salvação pela fé em Cristo. É observado após a conversão e não como um meio de obtenção da salvação, mas como uma resposta de obediência à ordenança de Cristo.

Em suma, o Batismo é muito mais do que um ritual; é um testemunho público da fé e um passo inicial na jornada do discipulado cristão. Ele representa a transformação interior que ocorreu na vida do crente e sua disposição em seguir a Cristo de forma pública e visível.

3. Não há espaço para indecisão

Algumas pessoas indecisas podem relutar em receber o Batismo por várias razões. Isso pode ser resultado de uma compreensão equivocada do Batismo ou de uma falta de convicção de fé.

ü  Ignorância ou mal-entendido sobre o Batismo. Alguns crentes podem relutar em receber o Batismo devido a uma falta de compreensão sobre o seu significado e propósito. Muitos entendem que após ser batizado não pode mais cometer qualquer tipo de falha. Embora a Bíblia mostre que o crente deve evitar o pecado (1João 2:1), contudo, o Batismo não pode ser visto como uma vacina que imuniza o cristão contra o pecado. É fundamental ensinar e esclarecer o propósito bíblico do Batismo como um símbolo de identificação com Cristo, não como uma vacina contra o pecado, mas como um passo de obediência e testemunho público de fé.

ü  Falta de Convicção de Fé ou falta de Conversão. Em outros casos, as pessoas podem relutar em ser batizadas porque ainda não têm uma fé genuína em Cristo ou não estão dispostas a abandonar o estilo de vida pecaminoso. Essas pessoas podem estar cientes das implicações do Batismo, mas ainda não estão verdadeiramente convertidas ou não estão dispostas a renunciar aos padrões do mundo em favor de uma vida centrada em Cristo.

O Batismo, conforme ensinado nas Escrituras, não é um mecanismo para eliminar ou prevenir o pecado. Ele é um símbolo de uma transformação espiritual interna e um compromisso público com Jesus Cristo. A vida cristã e a vitória sobre o pecado vêm através do poder do Espírito Santo e de uma caminhada diária em obediência a Deus, conforme mencionado em Gálatas 5:16.

Em resumo, a relutância em ser batizado pode ser resultado de mal-entendidos sobre o Batismo ou de uma falta de compromisso genuíno com Cristo. É importante que os crentes recebam ensino adequado sobre o significado bíblico do Batismo e entendam que a verdadeira transformação e vitória sobre o pecado vêm por meio da fé em Cristo e da orientação do Espírito Santo em suas vidas.

III. A FÓRMULA E O MÉTODO DO BATISMO

1. Fórmula trinitária do Batismo

O Batismo cristão, conforme instruído por Jesus Cristo na passagem da Grande Comissão registrada em Mateus 28:19, é considerado uma ordenança fundamental na prática da fé cristã. Jesus orientou seus discípulos: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Esta fórmula trinitária mencionada por Jesus enfatiza a importância da Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo - na vida do crente e na administração do batismo.

A expressão "em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" revela a compreensão cristã da divindade como uma realidade triúna, ou seja, um único Deus subsistindo em três pessoas coiguais e coeternas: o Pai, o Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo. Essa formulação trinitária é central na fé cristã e destaca a natureza complexa, porém indivisível, de Deus. A invocação do nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo no batismo é vista como uma afirmação da fé cristã na Trindade, reconhecendo a ação conjunta das três pessoas divinas na vida do crente. Essa prática representa a entrada do indivíduo na comunidade cristã, tornando-se parte do Corpo de Cristo, a Igreja.

Além disso, a fórmula trinitária do batismo não é apenas uma formalidade ritualística; ela tem profundo significado teológico e espiritual para os cristãos. Através dela, os fiéis são convidados a viverem uma vida de comunhão com o Deus triúno, buscando seguir os ensinamentos de Jesus Cristo e sendo capacitados pelo Espírito Santo para testemunhar e viver de acordo com os princípios do Evangelho.

Em resumo, a fórmula trinitária do batismo, conforme orientada por Jesus na Grande Comissão, representa a crença fundamental na natureza triúna de Deus e é um símbolo poderoso da fé cristã, marcando a entrada do indivíduo na Igreja e seu compromisso com a fidelidade e lealdade a Cristo Jesus.

2. Fórmula herética do Batismo

Dentro da tradição cristã, existem diferentes interpretações e práticas em relação ao batismo e à fórmula usada para esta prática. O unicismo, ou modalismo, é uma doutrina que difere da visão trinitária clássica, negando a existência de três pessoas distintas na Divindade. Em vez disso, considera que Deus se manifesta em três modos ou manifestações diferentes: Pai, Filho e Espírito Santo são entendidos como aspectos ou formas de uma única pessoa divina.

Os adeptos do unicismo geralmente defendem o batismo em nome de Jesus Cristo, citando passagens do livro de Atos, como Atos 2:38 e Atos 19:5, para apoiar sua prática. Em ambas as passagens, há menção ao batismo em nome de Jesus, o que é interpretado por esses grupos como um mandato para batizar exclusivamente nesse nome. No entanto, é importante observar que esses versículos não negam a fórmula trinitária do batismo ou a doutrina da Trindade. O uso do nome de Jesus no batismo nestes versículos pode ser entendido dentro do contexto da autoridade e ensinamentos de Jesus, sem necessariamente excluir a compreensão trinitária. A interpretação desses textos deve considerar o contexto cultural, histórico e teológico em que foram escritos. O livro de Atos descreve eventos específicos na história da Igreja primitiva, e o uso do nome de Jesus no batismo pode ser entendido como uma ênfase na autoridade e no senhorio de Jesus Cristo.

3. Imersão: o método bíblico do Batismo

O contexto do Novo Testamento mostra claramente que o Batismo nos dias bíblicos era por imersão. A palavra grega "baptizo", mencionada nos textos bíblicos sobre o batismo possui uma raiz que se relaciona com a ideia de imergir, mergulhar ou submergir. Isso é frequentemente usado para apoiar a ideia de que o batismo praticado nos tempos bíblicos era, de fato, por imersão. Vários textos bíblicos mostram a prática bíblica do Batismo por imersão: o povo saía para ser batizado por João no (dentro de) rio Jordão (Mc.1:5); da mesma forma, quando foi batizado, Jesus “saiu da água” (Mc.1:10); João batizava onde havia muita água (João 3:23).

Entretanto, diferentes denominações cristãs adotaram práticas distintas em relação ao batismo. Algumas denominações insistem na imersão completa como o método correto e essencial, enquanto outras aceitam a aspersão como uma prática válida. Essa divergência muitas vezes reflete interpretações teológicas, tradições denominacionais e compreensões específicas sobre os textos bíblicos.

A Assembleia de Deus, assim como algumas outras denominações cristãs, pratica o batismo por imersão. A base para essa prática é justamente a interpretação dos textos bíblicos que mencionam o batismo, como os exemplos que descrevem João batizando no rio Jordão e Jesus saindo da água após ser batizado.

A Assembleia de Deus, assim como muitas outras denominações evangélicas, segue essa interpretação específica dos textos bíblicos e considera que a imersão na água é a forma correta e simbolicamente significativa do batismo, em consonância com a prática observada no Novo Testamento. Para eles, o ato de imergir a pessoa na água e trazê-la novamente à superfície simboliza a morte para o pecado e a ressurreição para uma nova vida em Cristo, refletindo a própria morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Esta interpretação dos textos bíblicos e a prática subsequente do batismo por imersão são elementos centrais da teologia e prática da Assembleia de Deus e de várias outras igrejas que compartilham essa visão. É uma expressão importante de sua fé e compreensão das Escrituras Sagradas.

CONCLUSÃO

Embora não seja considerado como um meio de salvação em si mesmo, o batismo é uma ordenança importante estabelecida por Jesus Cristo para os crentes. Ao ser batizado, a pessoa está simbolicamente identificando-se com a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo. É um ato público de profissão de fé, onde o indivíduo demonstra sua decisão de seguir a Cristo e de se tornar parte da Igreja Local. O batismo também é visto como um passo de obediência ao mandamento de Jesus aos seus discípulos, registrado no Evangelho de Mateus, capítulo 28, versículos 19 e 20, conhecido como a Grande Comissão, onde Ele instruiu seus seguidores a batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Portanto, embora não seja o meio de alcançar a salvação, o batismo é uma prática importante e significativa para os crentes, pois representa um compromisso público com a fé cristã, simboliza a identificação com Cristo e serve como um ato de obediência aos ensinamentos de Jesus. É uma maneira de testemunhar e celebrar a fé cristã na Igreja de Jesus Cristo.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Elienai Cabral. A Igreja e Sua Missão. CPAD.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. A Igreja e Sua Missão. PortalEBD_2007.

Pr. Elienai Cabral. Missão Profética da Igreja - A Proclamação da Palavra. CPAD.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. Missão Profética Da Igreja - A Proclamação Da Palavra. PortalEBD_2007

Pr. Hernandes Dias Lopes. 1Corintios – como resolver conflitos na Igreja.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Atos - A ação do Espírito Santo na vida da igreja.

Pr. Hernandes Dias Lopes. A Carta da liberdade cristã.

O BATISMO, PRIMEIRA ORDENANÇA DE CRISTO A IGREJA - Apêndice

“Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt.28:19).

Introdução

O batismo, como a primeira ordenança de Cristo à Igreja, desempenha um papel crucial na vida espiritual dos cristãos. Essa prática transcende o mero ritual, sendo um símbolo profundo da fé, renascimento e comunhão com Deus. Ao examinarmos os textos bíblicos, podemos compreender a significância e os fundamentos dessa ordenança, destacando seu papel como marco inicial na jornada cristã.

1. A Instituição do Batismo por Cristo

O próprio Jesus Cristo deu início a essa ordenança ao ser batizado por João Batista nas águas do rio Jordão. Em Mateus 3:13-17, percebemos que, ao submeter-se ao batismo, Jesus não apenas modelou a obediência, mas também inaugurou essa prática para Seus seguidores. Isso estabeleceu o padrão para a Igreja primitiva e para todas as gerações subsequentes.

2. O Propósito Redentor do Batismo

O batismo é mais do que um ato simbólico; ele representa a morte para o pecado e o renascimento espiritual. Paulo, em Romanos 6:3,4, destaca que ao sermos batizados, somos sepultados com Cristo na morte e ressuscitamos com Ele para uma nova vida. Essa identificação com a morte e ressurreição de Cristo demonstra a transformação interior que ocorre no crente.

“Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm.6:3,4).

3. A Comunhão e Identidade Cristã

O batismo não é apenas um ato individual, mas também um ato de comunhão com a comunidade cristã. Em Gálatas 3:26,27, Paulo enfatiza que, por meio do batismo, todos os crentes se tornam filhos de Deus e são revestidos de Cristo. Isso fortalece os laços de identidade e pertencimento à família espiritual, transcendendo barreiras culturais e étnicas.

“Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes” (Gl.3:126,27). 

4. A Continuidade na Prática Apostólica

Ao longo dos livros do Novo Testamento, observamos a continuidade da prática do batismo no princípio da Igreja. Em Atos 2:38-41, vemos que, após a pregação de Pedro, muitos foram batizados como expressão pública de arrependimento e aceitação da mensagem de Cristo. Essa prática persistiu nas Cartas apostólicas, indicando sua importância contínua.

³⁸ Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.

“Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar. Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas” (Atos 2:38-41).

Conclusão

O batismo, como a primeira ordenança de Cristo à Igreja, é mais do que um rito religioso; é um mergulho nas águas da fé e uma ressurreição para uma nova vida em Cristo. Através dos textos bíblicos, compreendemos que essa prática não é apenas uma tradição, mas uma expressão viva da identidade cristã, comunhão e redenção. Ao sermos batizados, proclamamos publicamente nossa fé e alinhamos nossas vidas com o exemplo de Jesus, inaugurando assim uma jornada de transformação espiritual e comunhão com Deus.

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Luciano de Paula Lourenço

EBD/IEADTC

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domingo, 18 de fevereiro de 2024

A DISCIPLINA NA IGREJA

         1° trimestre/2024

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 08

Texto Base: Hebreus 12:5-13

“E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido (Hb.12:5).

Hebreus 12:

5.E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido;

6.porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho.

7.Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque que filho há a quem opai não corrija?

8.Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos.

9.Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos?

10.Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.

11.E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.

12.Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados,

13.e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, trataremos da disciplina na Igreja Local. Embora seja muito necessária, a prática da disciplina na Igreja Cristã vem sendo esquecida e negligenciada por muitos. A disciplina na Igreja é uma questão de vital importância para aqueles que buscam viver em conformidade com os princípios estabelecidos pela fé cristã.

A santidade de Deus é o alicerce sobre o qual a prática da disciplina se fundamenta, pois reflete o chamado à santificação que é direcionado aos servos de Deus. A essência da disciplina eclesiástica não se resume apenas à correção de comportamentos inadequados, mas também à preservação da integridade moral, ao afastamento do pecado e à manutenção de um testemunho autêntico e coerente com os valores do Evangelho.

A importância da disciplina na Igreja Local é indiscutível, porém, ao longo do tempo, tem sido notado um declínio em sua aplicação e compreensão em muitas igrejas locais. A negligência em exercer a disciplina eclesiástica resulta em uma perda gradual da identidade da Igreja, transformando-a de uma comunidade espiritual em um mero agrupamento social. Esse descuido acarreta consequências significativas, gerando igrejas enfraquecidas, carentes de vitalidade espiritual e destituídas de um testemunho coerente com os princípios cristãos.

É fundamental, portanto, abordar a disciplina cristã não apenas como um método corretivo, mas também como um processo formativo essencial para o desenvolvimento do caráter dos membros da Igreja. Esta abordagem compreende tanto a correção de comportamentos desalinhados com os princípios cristãos quanto o cultivo de uma formação espiritual que fortaleça e molde o caráter segundo os ensinamentos de Cristo.

Esta Lição se propõe a explorar a disciplina cristã em suas modalidades corretiva e formativa, visando revitalizar sua prática e compreensão no contexto da vida da Igreja contemporânea.

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I. A NECESSIDADE DA DISCIPLINA BÍBLICA

1. Deus é santo

A necessidade da disciplina na vida da Igreja se fundamenta na santidade intrínseca de Deus, um dos atributos divinos amplamente proclamados nas Escrituras. A própria natureza santa de Deus é a causa primordial que justifica a importância da disciplina eclesiástica: "Sede santos, porque eu sou santo" (Lv.11:45). A santidade é inerente à essência de Deus e demanda reconhecimento e reverência por parte de seus servos. Na própria oração que Jesus ensinou, o reconhecimento da santidade divina é expresso: "Santificado seja o teu nome" (Mt.6:9).

Quando a presença de Deus se manifesta, nossa própria natureza pecaminosa se torna evidente, como testemunhado na reação de Pedro ao se encontrar diante de Jesus: "Ao ver isso, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus e disse: 'Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!'" (Lc.5:8). O encontro com a santidade de Deus expõe nossa fragilidade e pecaminosidade.

Assim, quando a conduta pecaminosa de um crente não é corrigida na Igreja Local, há uma diminuição no reconhecimento e na exaltação da santidade de Deus. A ausência de disciplina resulta em uma distorção na compreensão e na representação da santidade divina na vida dos crentes, o que pode levar a um afastamento gradual da verdadeira identidade cristã e do propósito central de refletir a santidade de Deus no mundo.

2. A Igreja é santa

Deus é santo e a Igreja também deve ser. A santidade de Deus é um princípio fundamental para a vida da Igreja, como expresso na exortação bíblica: "Sede santos, porque eu sou santo" (1Pd.1:16). Essa chamada à santidade não é apenas uma instrução, mas um reflexo da própria natureza de Deus e um convite para que Seu povo se assemelhe a Ele.

Desde tempos remotos, na Antiga Aliança e continuando na Nova Aliança, a aspiração de Deus era formar um povo separado, um povo distinto em santidade. O termo grego "hagios", traduzido como "santo", carrega consigo a ideia de "separado" ou "consagrado". Esse conceito não se limita apenas à abstinência do pecado, mas implica em ser dedicado, reservado para um propósito específico - a serviço e glória de Deus.

Ao longo da história bíblica, vemos Deus chamando Seu povo para viver de maneira distinta em relação aos padrões do mundo, separando-se do pecado e se consagrando a Ele. Esta separação não é meramente uma questão de reclusão, mas de viver uma vida que reflita a natureza de Deus em santidade, amor, justiça e misericórdia.

Portanto, a santidade não é apenas um aspecto moral, mas uma identidade que distingue a Igreja como um povo consagrado para Deus, chamado a refletir Sua natureza no mundo, a ponto de influenciar e transformar a sociedade em que está inserida.

3. Quando a Igreja não disciplina

Se a Igreja, como Corpo de Cristo, deve ser santa, da mesma forma o cristão, como membro desse Corpo, o deve ser também. A analogia entre a santidade da Igreja como Corpo de Cristo e a santidade individual de cada cristão é vital para compreendermos a importância da disciplina na vida cristã. A própria Escritura Sagrada evidencia esse princípio, declarando que a Igreja é o templo de Deus e o Espírito Santo habita em seus membros (1Co.3:16; 1Co.6:19).

Além disso, a santidade não é apenas um conceito, mas uma identidade inerente ao cristão (Ef.1:1), o qual reflete o caráter de Deus em seu viver diário. A ausência de disciplina na vida do crente resulta na deterioração dessa identidade santa. Surgem adjetivos como "mundano" ou "carnal" para descrever aqueles que não estão em conformidade com os princípios divinos. Esses termos não apontam apenas para a condição moral, mas para a falta de disciplina espiritual. O cristão indisciplinado falha em tratar os hábitos pecaminosos, negligenciando a transformação que a fé em Cristo Jesus deveria trazer à sua vida. A falta de disciplina mina a fronteira entre o sagrado e o profano, obscurecendo a distinção crucial que deve existir na vida do crente.

Quando a Igreja deixa de aplicar a disciplina corretiva e formativa, corre o risco de perder sua própria identidade santificada, tornando-se, em vez de um lugar de consagração, um reflexo dos padrões e valores do mundo ao seu redor. Como bem diz de forma direta o pr. José Gonçalves, “uma igreja que não disciplina seus membros torna-se mundana” (Ap.3:19).

Portanto, a disciplina na Igreja não é uma mera questão de punição, mas um cuidado amoroso que preserva a identidade e a integridade espiritual tanto do indivíduo quanto da Igreja Local, assegurando que a santidade e os valores do Reino de Deus sejam mantidos e refletidos no viver diário dos crentes.

II. O PROPÓSITO DA DISCIPLINA BÍBLICA

1. Manter a honra de Cristo

O propósito da disciplina bíblica na vida da Igreja é multifacetado e crucial para a preservação da honra de Cristo e a integridade do testemunho cristão. Quando o pecado não é confrontado e tratado entre os membros da Igreja Local, isso não apenas afeta a pessoa envolvida, mas também reflete na percepção de Cristo e da fé cristã pela sociedade em geral.

O apóstolo Paulo, ao escrever aos Romanos, faz referência à desonra que advém quando os que professam fé em Deus vivem em contradição com essa fé, afirmando que o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de tal conduta (Rm.2:24). Esse comportamento incoerente compromete seriamente o testemunho cristão e enfraquece a credibilidade da mensagem do Evangelho.

Um exemplo notório dessa necessidade de disciplina é visto na Igreja de Corinto, onde um membro estava envolvido em um comportamento pecaminoso evidente, e a comunidade não apenas tolerou, mas ignorou essa situação (1Co.5:2). Essa postura negligente exigiu uma repreensão veemente do apóstolo Paulo, destacando a importância de lidar com o pecado dentro da Igreja para preservar a pureza e a santidade do Corpo de Cristo.

Além disso, a Escritura enfatiza que a prática do pecado sem arrependimento genuíno pode resultar em consequências sérias, incluindo julgamento divino. A Carta aos Coríntios menciona casos em que a participação indiscriminada na Ceia do Senhor sem a devida reflexão e arrependimento trouxe juízo sobre alguns (1Co.11:27-34). Da mesma forma, nas Cartas às igrejas em Pérgamo e Tiatira, Jesus reprovou aqueles que toleraram doutrinas e comportamentos pecaminosos dentro da Igreja (Ap.2:14,15).

Portanto, a disciplina bíblica não é apenas uma questão de manter a ordem dentro da Igreja Local, mas é essencial para preservar a honra de Cristo, salvaguardar o testemunho cristão diante do mundo e prevenir o juízo divino que pode advir da tolerância e complacência em relação ao pecado dentro da Igreja Local.

2. Frear o comportamento pecaminoso

Outro propósito da disciplina cristã é frear o comportamento pecaminoso. O propósito adicional da disciplina cristã reside na sua capacidade de conter e deter o comportamento pecaminoso dentro da Igreja Local. O pecado é descrito nas Escrituras como algo extremamente contagioso, capaz de se espalhar rapidamente entre os indivíduos e contaminar toda a comunidade cristã local, assim como o fermento que leveda toda a massa de pão (Gl.5:9).

A metáfora do fermento é usada pelo apóstolo Paulo ao escrever para os crentes de Corinto, alertando sobre os perigos da tolerância ao pecado. Ele compara o pecado a um pouco de fermento que pode levedar toda a massa. Esse exemplo ilustra vividamente como até mesmo uma pequena quantidade de pecado não tratado pode se espalhar, influenciando e afetando a integridade espiritual e moral de todos os membros da Igreja (1Co.5:6).

O pecado, se não for confrontado e tratado, pode se multiplicar e se disseminar, afetando não apenas o indivíduo envolvido, mas também os demais membros da Igreja. A tolerância ou a negligência diante do pecado dentro da Igreja Local não apenas compromete a santidade e a pureza de seus membros, mas também mina a eficácia do testemunho cristão diante do mundo.

Portanto, a disciplina cristã atua como um mecanismo de contenção do pecado, agindo de forma a interromper seu avanço e prevenir sua propagação na Igreja Local. Ela não apenas busca corrigir o indivíduo em falta, mas também proteger o Corpo de Cristo, preservando sua pureza e integridade espiritual diante dos desafios e influências corruptoras do pecado.

3. Não tolerar a prática do pecado

A disciplina na Bíblia tem como propósito principal a restauração e a preservação da santidade da comunidade cristã. É vista como uma demonstração de amor e cuidado com a saúde espiritual dos membros, visando corrigir comportamentos desviantes para manter a integridade e a santidade da Igreja.

1Corintios, capitulo 5, enfatiza a importância de não tolerar o pecado dentro da Igreja Local. Havia na Igreja de Corinto um homem que estava envolvido em um relacionamento incestuoso, algo considerado grave até mesmo para os padrões da sociedade ímpia daquela época. O apóstolo Paulo repreendeu veementemente aquela Igreja por tolerar tal comportamento pecaminoso entre alguns dos seus membros (1Co.5:1,2). Paulo instruiu os crentes dessa Igreja a lidarem com essa situação, exortando-os a exercer a disciplina para a restauração do indivíduo mau caráter e a preservação da pureza daquela Igreja e da comunidade cristã como um todo.

Caso não fosse aplicada a disciplina na Igreja de Corinto, certamente, a consequência seria que esse pecado acabaria enfraquecendo os membros dessa Igreja, pois uma Igreja que não pratica a disciplina bíblica fatalmente fracassará. Nesse sentido, não se pode tolerar a prática do pecado, ou o comportamento pecaminoso, na Igreja nem fora dela. Exortou Jesus ao pastor da Igreja de Tiatira: “Mas tenho contra ti o tolerares que Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensine e engane os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria” (Ap.2:20). Aqui, a referência a Jezabel é uma metáfora que representa influências corruptoras e falsas dentro da Igreja. Assim como Paulo alertou os crentes de Corinto, a Carta a Tiatira menciona a necessidade de não tolerar ensinos que levem à prática do pecado e da idolatria.

Portanto, a disciplina bíblica visa proteger a Igreja Local, buscando a restauração dos indivíduos que erraram, mas também preservando a integridade da Igreja como um todo. No entanto, é importante observar que a disciplina deve ser aplicada com amor, buscando sempre a restauração e a reconciliação, e não com um espírito de condenação ou julgamento, haja vista que o julgamento definitivo de toda a humanidade será exclusivo do justo Juiz, Jesus Cristo (Atos 17:31).

III. AS FORMAS DE DISCIPLINA BÍBLICA

1. A disciplina como modo de correção

A disciplina como correção é um tema crucial nas Escrituras e é vista como uma expressão do amor de Deus para com Seus filhos. A ideia central por trás da correção é corrigir, restaurar e trazer à retidão aqueles que se desviam do caminho correto. Hebreus 12:7 ressalta essa perspectiva: "Porque que filho há a quem o pai não corrija?". Isso sugere que a correção faz parte do relacionamento entre pais e filhos; e Deus, como Pai celestial, disciplina Seus filhos para o crescimento e aperfeiçoamento deles.

A ausência de correção pode indicar uma falta de cuidado ou até mesmo um afastamento do relacionamento amoroso entre pai e filho. A passagem de Hebreus 12:7 também destaca que aqueles que não recebem correção estão em uma posição de desfavorecimento espiritual, pois a correção é um sinal do amor de Deus por Seus filhos, semelhante ao cuidado de um pai preocupado com o bem-estar de seus filhos.

O exemplo de Pedro em Gálatas 2:11-14, onde ele é corrigido por Paulo por sua atitude em relação aos gentios, demonstra que mesmo os líderes cristãos podem errar e precisar de correção. Isso mostra que a correção não é exclusiva para aqueles que são menos experientes na fé, mas é necessária para todos, independentemente de sua posição na Igreja.

A disciplina como correção também é apresentada como uma forma de restauração e reconciliação. Em Gálatas 6:1, Paulo exorta os crentes a restaurarem aqueles que caíram em pecado com um espírito de mansidão, buscando a reconciliação e a recuperação daquele que errou.

Portanto, a disciplina como correção na Bíblia visa corrigir, restaurar e trazer de volta à comunhão aqueles que se desviaram, sendo uma expressão do cuidado amoroso de Deus e um meio para o crescimento espiritual e a formação do caráter cristão.

2. A disciplina como forma de restauração

O conceito de disciplina como um meio de restauração é crucial na compreensão do propósito da disciplina na Igreja Local. A palavra grega "katartizo", que significa "restaurar" ou "reparar", é usada em várias passagens do Novo Testamento, incluindo Mateus 4:21, onde é empregada para descrever o conserto das redes de pesca. Essa analogia de consertar as redes de pesca é significativa ao abordar a ideia de restauração na disciplina. Assim como as redes de pesca são consertadas para restaurar sua utilidade e eficácia, a disciplina na Igreja Local busca restaurar aqueles que cometeram erros, desvios ou pecados, a fim de reintegrá-los à comunhão e ao relacionamento correto com Deus e com os outros membros da Igreja.

A passagem de 2Coríntios 2:5-8 destaca o aspecto da restauração na disciplina. Neste contexto, Paulo orienta a Igreja de Corinto a perdoar e consolar aquele que havia sido disciplinado anteriormente, para que ele não fosse sobrecarregado pelo sofrimento excessivo. O objetivo não era apenas disciplinar ou repreender, mas também restaurar e reintegrar o indivíduo arrependido de volta à Igreja.

Portanto, a disciplina como forma de restauração na perspectiva bíblica não busca simplesmente punir, mas sim corrigir com amor, levando à restauração do relacionamento entre Deus, o indivíduo e a Igreja. É um processo que visa não só corrigir o erro, mas também trazer cura, reconciliação e restabelecimento do indivíduo na comunhão com Deus e com a Igreja.

3. A disciplina como modo de exclusão

Esse tipo de disciplina é também conhecido como “cirúrgica”. Isto porque o membro é cortado do Corpo de Cristo - “Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” (1Co.5:13). Essa forma de disciplina é descrita como um processo de desligamento intencional de um membro do Corpo de Cristo, baseando-se em passagens bíblicas como 1Coríntios 5:13 e Mateus 18:18. Nesse caso, há um desligamento e não apenas um afastamento da comunhão.

Na perspectiva teológica, esse tipo de disciplina é aplicado quando um indivíduo é considerado em persistente desacordo com os princípios ou ensinamentos da Palavra de Deus. É visto como um ato de separação deliberada, onde o indivíduo é removido da comunhão da Igreja e considerado como alguém que não está mais em conformidade com a Declaração de Fé e com os padrões estabelecidos pela Igreja.

No entanto, é importante considerar as implicações éticas e sociais dessa prática. Enquanto alguns podem ver isso como uma medida necessária para manter a pureza doutrinária e moral da Igreja Local, outros podem questionar a validade de excluir um membro que pode estar passando por lutas pessoais, erros ou dificuldades que precisam de apoio e orientação.

Essa forma de disciplina levanta debates sobre como as igrejas lidam com o equilíbrio entre justiça, compaixão e correção. É importante considerar a aplicação desses princípios de forma justa e amorosa, buscando não apenas a separação, mas também a restauração e a reconciliação, quando possível.

A interpretação e aplicação desses ensinamentos bíblicos variam amplamente entre as diferentes denominações, tradições e declarações de fé, e a compreensão exata e o significado dessa prática podem depender muito do contexto cultural e teológico específico de cada Igreja Local ou denominação cristã.

CONCLUSÃO

Nesta lição, vimos o valor da disciplina cristã sob diferentes aspectos. Reconhecemos que a disciplina não se resume apenas a punição ou exclusão, mas também abrange o cuidado amoroso e a orientação para conduzir os indivíduos de volta à comunhão e ao alinhamento com os princípios de Cristo.

A santidade de Deus é o padrão pelo qual somos chamados a viver, e a disciplina na Igreja desempenha um papel crucial nesse processo. Ela não só busca corrigir desvios e impedir a disseminação do pecado na comunidade, mas também visa restaurar os crentes ao caminho da retidão e da santificação.

Entretanto, é vital compreender que a disciplina não deve ser exercida de maneira arbitrária ou punitiva. Ela deve ser aplicada com compaixão, paciência e amor, buscando sempre a restauração e a edificação dos indivíduos envolvidos. Uma Igreja que negligencia a disciplina corre o risco de comprometer seu testemunho e sua influência, afastando-se do aroma de Cristo, que é caracterizado pelo amor, graça e perdão.

Portanto, a disciplina na Igreja Local deve ser encarada como uma expressão do cuidado de Deus por seu povo, um instrumento para a santificação e uma oportunidade para demonstrar o amor redentor de Cristo. Ao praticar a disciplina com sabedoria, discernimento e graça, a Igreja se torna um lugar de cura, crescimento espiritual e restauração, refletindo assim a essência do caráter de Cristo e glorificando a Deus.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Elienai Cabral. A Igreja e Sua Missão. CPAD.

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Pr. Elienai Cabral. Missão Profética da Igreja - A Proclamação da Palavra. CPAD.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. Missão Profética Da Igreja - A Proclamação Da Palavra. PortalEBD_2007

Pr. Hernandes Dias Lopes. 1Corintios – como resolver conflitos na Igreja.

Pr. Hernandes Dias Lopes. 1Timóteo – O pastor, sua vida e sua obra.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Atos - A ação do Espírito Santo na vida da igreja.

Pr. Hernande Dias Lopes. A Carta da liberdade cristã.