domingo, 14 de setembro de 2025

O CARÁTER MISSIONÁRIO DA IGREJA DE JERUSALÉM

         3º Trimestre/2025

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 12

Texto Base: Atos 11:19-30

E havia entre eles alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus” (Atos 11:20).

Atos 11:

19.E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra senão somente aos judeus.

20.E havia entre eles alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus.

21.E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor.

22.E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé até Antioquia,

23.o qual, quando chegou e viu a graça de Deus, se alegrou e exortou a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor.

24.Porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor.

25.E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo; e, achando-o, o conduziu para Antioquia.

26.E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja e ensinaram muita gente. Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos.

27.Naqueles dias, desceram profetas de Jerusalém para Antioquia.

28.E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César.

29.E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judeia.

30.O que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos por mão de Barnabé e de Saulo.

INTRODUÇÃO

A perseguição iniciada com o martírio de Estêvão não paralisou a igreja primitiva, tampouco enfraqueceu sua fé ou missão. Ao contrário, agiu como catalisador da expansão do Evangelho. À medida que os discípulos eram dispersos por causa da perseguição, também se tornavam mensageiros de Cristo, espalhando a semente do Evangelho por toda parte (Atos 8:4). Assim, a dor da perseguição se transformou em porta de entrada para a evangelização transcultural.

A Igreja de Jerusalém, mesmo sob intensa oposição, permaneceu fiel à sua vocação missionária. Seus membros — muitos dos quais eram leigos — levavam consigo não apenas a lembrança das ameaças e perdas, mas principalmente o compromisso de pregar a salvação em Cristo, com coragem e ousadia. Esse movimento espontâneo e dirigido pelo Espírito Santo alcançou regiões como a Fenícia, Chipre e Antioquia, onde o Evangelho cruzou fronteiras culturais e alcançou os gentios pela primeira vez de forma organizada.

Nesta lição, veremos como o "Ide" de Jesus foi obedecido, não apenas pelos apóstolos, mas por cristãos comuns, movidos por uma fé viva e operante. O caráter missionário da Igreja de Jerusalém não era institucional, mas essencial. Através da fidelidade desses discípulos dispersos, Deus edificou uma igreja vibrante, relevante e comprometida com a evangelização de todos os povos — um modelo que continua a nos desafiar hoje.

I. UMA IGREJA COM CONSCIÊNCIA MISSIONÁRIA

Este tópico aborda a expansão do Evangelho pela Igreja Primitiva, destacando como a missão transcendeu fronteiras geográficas, culturais e étnicas, mesmo em meio à perseguição.

1. O Evangelho para além da fronteira de Israel

“E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra senão somente aos judeus” (Atos 11:19).

A expansão missionária da Igreja Primitiva não foi fruto de planejamento estratégico, mas da providência divina atuando por meio da perseguição. Lucas registra que os crentes dispersos após o martírio de Estêvão — um marco traumático, porém decisivo — não silenciaram sua fé. Pelo contrário, caminharam até regiões como a Fenícia (norte de Israel, atual Líbano), Chipre (ilha no Mediterrâneo) e Antioquia da Síria, levando com eles o Evangelho (Atos 11:19).

Esses crentes não eram apóstolos ou líderes oficialmente comissionados, mas discípulos comuns, leigos, que carregavam em seus corações uma convicção missionária genuína. Mesmo em terra estrangeira, seu zelo evangelístico permaneceu firme. Inicialmente, a pregação era dirigida apenas aos judeus, o que mostra o respeito que ainda havia por essa distinção étnico-religiosa. No entanto, o simples fato de cruzarem as fronteiras geográficas já indicava que a igreja estava se movendo rumo à sua vocação global.

Essa passagem também ecoa o que já havia acontecido com Filipe em Samaria (Atos 8), demonstrando que a perseguição se tornava instrumento de Deus para o cumprimento da promessa de Atos 1:8 — de que o Evangelho deveria alcançar “até aos confins da terra”. Assim, a Igreja de Jerusalém revela que, mesmo em meio ao sofrimento, não perdeu sua consciência missionária, e soube transformar a dor da dispersão em oportunidade de proclamar a salvação em Cristo a novos povos e territórios.

O que aprendemos neste item 1

A perseguição após o martírio de Estêvão dispersou os cristãos, que levaram o Evangelho a regiões como Fenícia, Chipre e Antioquia. Aprendemos neste item que:

  • A missão da Igreja é global e não limitada por geografia ou etnia;
  • Deus usa até circunstâncias adversas para cumprir Seus propósitos;
  • Discípulos comuns, não apenas líderes, foram os agentes da expansão missionária.

Esse ponto nos ensina que a missão é responsabilidade de todos os crentes, e que Deus transforma dor em oportunidade.

2. Cristãos dispersados, mas conscientes de sua missão

Os discípulos que fugiram da intensa perseguição em Jerusalém não permitiram que o medo ou o exílio apagasse a chama do evangelho em seus corações. Ao contrário, mesmo longe de casa e vivendo como forasteiros, esses cristãos mantiveram sua identidade e missão: anunciar a Palavra de Deus. Como nos relata Lucas (Atos 11:19,20), eles proclamaram a mensagem do Reino nas regiões da Fenícia (atual Líbano), Chipre e Antioquia — territórios estratégicos e culturalmente diversos do Império Romano.

Ainda que inicialmente tenham pregado apenas aos judeus, o que demonstra certa limitação cultural e teológica herdada da tradição judaica, sua atitude já expressava uma consciência missionária madura. Mesmo em meio à dor da perseguição, eles não se retraíram, nem deixaram de cumprir a ordem do Senhor (Mt.28:19; Atos 1:8). A igreja que os formou plantou neles uma visão clara da missão, e eles carregavam essa visão consigo, não importando o local ou o contexto.

A vida e o testemunho desses crentes anônimos ensinam que a missão da Igreja não está limitada aos seus ministros ordenados ou aos templos onde ela se reúne. Eles não possuíam púlpitos, mas pregavam. Não tinham estruturas formais, mas evangelizavam. Eram leigos dispersos, mas portadores de uma mensagem poderosa. Eles nos mostram que uma igreja verdadeiramente missionária não depende das circunstâncias, mas do compromisso com Cristo. Onde havia oportunidade, ali havia uma proclamação.

O que aprendemos neste item 2

Mesmo longe de casa, os cristãos mantiveram sua identidade e compromisso com o Evangelho. Aprendemos que:

  • A fidelidade à missão não depende de conforto ou estabilidade;
  • A Igreja que forma discípulos conscientes gera impacto onde quer que eles estejam;
  • A evangelização não exige estrutura formal, mas corações comprometidos com Cristo.

Esse ponto reforça que a missão é vivida no cotidiano, em qualquer lugar e circunstância.

3. Cristãos leigos, mas capacitados pelo Espírito

Na cidade de Antioquia, judeus helenistas convertidos a Cristo, oriundos de Chipre e Cirene, protagonizaram um marco na história da missão cristã: começaram a pregar intencionalmente o Evangelho aos gentios (Atos 11:20). Eram cristãos leigos — não apóstolos, nem líderes de renome — mas profundamente cheios do Espírito Santo e comprometidos com a expansão do Reino. Esse passo ousado rompeu uma das maiores barreiras da Igreja nascente: a barreira cultural e étnica entre judeus e gentios.

Segundo John Stott, esse momento marca uma transição significativa: a missão, antes centrada nos judeus, agora se estende deliberadamente aos gentios. E o palco dessa transição foi Antioquia da Síria — uma cidade cosmopolita, bela, sofisticada, a terceira mais importante do Império Romano, atrás apenas de Roma e Alexandria. Ali nasceu uma igreja multicultural e multirracial, que se tornaria a principal base missionária da igreja primitiva, inclusive sendo a comunidade que enviaria Paulo ao campo missionário.

Dois sinais inegáveis confirmam que Deus estava nesse novo movimento: primeiro, a aprovação divina, pois “a mão do Senhor estava com eles” (Atos 11:21), revelando o favor e a direção do Espírito Santo; segundo, a conversão em massa de gentios, pois “muitos crendo se converteram ao Senhor”. Não foi uma conversão meramente cultural ou ideológica, mas resultado direto da fé genuína em Cristo Jesus, o único meio de salvação.

Essa passagem destaca que a obra missionária da igreja não depende exclusivamente de líderes oficiais, mas de todo crente cheio do Espírito Santo e obediente ao chamado de Cristo. A Igreja em Antioquia nasceu da fidelidade de anônimos, mas transformados pelo Evangelho, lembrando-nos que Deus usa os humildes e disponíveis para realizar grandes coisas.

O que aprendemos neste item 3

Em Antioquia, cristãos comuns começaram a pregar aos gentios, rompendo barreiras culturais e étnicas. Aprendemos que:

  • O Espírito Santo capacita todo crente para a obra missionária;
  • A missão não depende de títulos, mas de disponibilidade e obediência;
  • A Igreja multicultural de Antioquia se tornou um centro missionário, evidenciando que Deus usa os humildes para grandes propósitos.

Esse ponto nos ensina que a capacitação espiritual é mais importante que o status ministerial.

 

Lição central do tópico I: A Igreja de Jerusalém e, depois, a de Antioquia nos ensinam que uma comunidade cheia do Espírito transforma perseguição em oportunidade e limitações em campo fértil para o Evangelho. A missão é responsabilidade de todos — líderes e leigos — pois onde há um cristão fiel e cheio do Espírito, ali há um missionário em potencial

II. UMA IGREJA COM VISÃO TRANSCULTURAL

1. A cultura grega (helênica)

“E havia entre eles alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus” (Atos 11:20).

O avanço missionário da igreja primitiva em direção aos povos gentílicos ganhou um marco histórico com a chegada de cristãos judeus helenistas à cidade de Antioquia. Em Atos 11:20, Lucas registra que eles “falavam também aos gregos, anunciando o evangelho do Senhor Jesus”. Essa expressão é fundamental, pois sinaliza o rompimento de uma barreira até então pouco transposta: pregar deliberadamente a pessoas não-judaicas, que viviam sob forte influência da cultura greco-romana, sem vínculos com o Judaísmo ou com a tradição das Escrituras Hebraicas.

Ao pregarem a gregos, esses cristãos deram início à missão transcultural, ou seja, anunciaram o Evangelho para pessoas de outra língua, cultura, cosmovisão e valores religiosos. Esses gentios, moldados pelo pensamento helênico — filosófico, politeísta e fortemente secularizado — não esperavam um Messias judeu, nem tinham familiaridade com a Lei ou os Profetas. Mesmo assim, foram alcançados pela mensagem de salvação centrada em Cristo.

Esse movimento em Antioquia foi, portanto, um divisor de águas. Não se tratava mais de judeus pregando apenas a judeus na diáspora, mas de uma ação missionária voltada a culturas alheias ao judaísmo, cumprindo a ordem de Jesus: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). A mensagem da cruz estava sendo contextualizada e apresentada num novo ambiente sociocultural — e sendo recebida com fé e arrependimento.

A evangelização helênica revela a ousadia de uma igreja que entendeu sua vocação global. Essa iniciativa lançou as bases para o surgimento de uma igreja genuinamente multicultural, que ultrapassa fronteiras étnicas, geográficas e religiosas, cumprindo o propósito eterno de Deus de fazer de todas as nações um só povo, redimido em Cristo.

O que aprendemos neste item 1

Aprendemos três lições importantes:

1. Rompimento de barreiras culturais. Cristãos judeus helenistas, vindos de Chipre e Cirene, começaram a anunciar o Evangelho aos gregos em Antioquia. Isso representou:

  • A superação de limites étnicos e religiosos;
  • A contextualização da mensagem de Cristo para um público não familiarizado com o Judaísmo;
  • O início da missão transcultural, conforme o mandamento de Jesus em Marcos 16:15.

2. Evangelho é para todos os povos. A evangelização em Antioquia mostra que a salvação em Cristo é universal, não limitada por cultura ou tradição. Os gentios, mesmo imersos em uma cosmovisão helênica, foram alcançados pela graça de Deus. Isso ensina que:

  • O Evangelho é eficaz em qualquer contexto cultural;
  • A missão da Igreja deve ser global, inclusiva e adaptada sem perder a essência da verdade.

3. Formação de uma igreja multicultural. A iniciativa desses cristãos leigos lançou as bases para uma igreja multirracial, multicultural e missionária, que se tornaria referência no Novo Testamento. Isto nos ensina que:

  • Deus usa pessoas comuns, cheias do Espírito, para realizar grandes obras;
  • A Igreja deve refletir a diversidade do Reino de Deus;
  • A missão transcultural é parte do propósito eterno de Deus: fazer de todas as nações um só povo em Cristo.

2. Contextualizando a mensagem

O relato de Atos 11:20 mostra como os primeiros cristãos souberam comunicar o Evangelho de forma eficaz em contextos culturais distintos. Lucas informa que, ao chegarem a Antioquia, “anunciavam o evangelho do Senhor Jesus” aos gregos. Essa afirmação, embora breve, revela uma importante estratégia missionária: a contextualização da mensagem.

Diferente dos judeus, que esperavam um Messias prometido nas Escrituras, os gentios não partilhavam da mesma expectativa escatológica nem do conhecimento prévio do Antigo Testamento. Portanto, usar os profetas para provar que Jesus era o Cristo, como Pedro fez em Atos 2, não teria o mesmo impacto com esse novo público. Reconhecendo isso, os evangelistas anônimos não focaram na figura do “Messias de Israel”, mas proclamaram Jesus como Senhor, expressão mais compreensível e relevante ao mundo greco-romano, onde havia muitos “senhores” e divindades.

Além disso, eles evitaram referências a costumes judaicos, como a circuncisão ou a Lei, que não fariam sentido em um ambiente gentílico. Em vez disso, destacaram a necessidade de abandonar os ídolos e se voltar ao Deus vivo e verdadeiro (cf. Atos 14:15; 26:18,20), enfatizando a soberania e exclusividade de Cristo como Senhor sobre todas as coisas.

Esse esforço não comprometeu a fidelidade da mensagem, mas mostrou sensibilidade cultural e clareza evangelística. O conteúdo do Evangelho permaneceu intacto, mas sua apresentação foi ajustada ao contexto dos ouvintes. Assim, vemos um exemplo prático e eficaz de como a igreja primitiva soube aplicar o princípio de Paulo: “fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1Co.9:22).

O que aprendemos neste item 2

Aprendemos três lições importantes:

1. Sensibilidade cultural. Os evangelistas entenderam que os gregos não tinham a mesma base religiosa dos judeus. Por isso:

  • Evitaram referências à Lei e aos profetas, que não faziam sentido para os gentios;
  • Proclamaram Jesus como “Senhor”, uma linguagem mais familiar ao mundo greco-romano;
  • Focaram na exclusividade de Cristo e no chamado ao abandono dos ídolos.

2. Fidelidade ao conteúdo do Evangelho. Apesar da adaptação na linguagem, o conteúdo do Evangelho permaneceu intacto. Aprendemos que:

  • Contextualizar não é diluir a mensagem, mas torná-la compreensível e relevante;
  • A fidelidade à verdade bíblica deve ser mantida, mesmo ao comunicar em diferentes culturas;
  • A missão exige discernimento para comunicar com clareza sem perder a essência.

3. Aplicação do princípio de Paulo. A atitude dos evangelistas em Antioquia exemplifica o que Paulo ensinou: “fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1Co 9:22). Isso nos ensina que:

  • O evangelismo eficaz exige empatia, adaptação e sabedoria;
  • A Igreja deve estar preparada para comunicar o Evangelho em diferentes contextos culturais;
  • A contextualização é uma ferramenta poderosa para alcançar corações sem comprometer a verdade

III. UMA IGREJA QUE FORMA DISCÍPULOS

1. A base do discipulado

Quando a igreja de Jerusalém ouviu que o Evangelho estava se espalhando entre os gentios em Antioquia (Atos 11:22), enviou Barnabé — não um apóstolo, mas o seu melhor líder pastoral. Barnabé era um judeu helenista, homem íntegro, cheio do Espírito Santo e de fé (Atos 11:24), com a sensibilidade cultural necessária para acompanhar o avanço da obra missionária em um contexto não judeu. Era o líder certo, no lugar certo, na hora certa.

Barnabé não impôs barreiras culturais nem ergueu muros religiosos que pudessem dificultar o ingresso dos gentios na fé cristã. Pelo contrário, ao ver a manifestação da graça de Deus entre os novos convertidos, alegrou-se e os exortou a permanecerem firmes no Senhor (Atos 11:23). Seu entusiasmo, humildade e compromisso com a edificação da igreja foram marcas visíveis de sua liderança discipuladora.

Seu ministério era sustentado por sua vida piedosa: era um homem bom, desprendido de si mesmo, cheio do Espírito Santo e de fé, e profundamente comprometido com o crescimento espiritual das pessoas. O resultado desse ministério piedoso foi o crescimento numérico e qualitativo da igreja — “e muita gente se uniu ao Senhor” (Atos 11:24). O verbo usado por Lucas, “prostithemi” (acrescentar, unir), aparece repetidamente para descrever o avanço saudável da igreja primitiva (Atos 2:41; 2:47; 5:14; 11:24).

Além disso, Barnabé foi um discipulador estratégico: reconhecendo suas limitações e o chamado de Deus sobre Paulo, foi buscá-lo em Tarso (At 11:25), mesmo sabendo que isso significaria abrir mão da primazia da liderança. Barnabé não se apegou à posição, mas ao propósito — sabia que a obra exigia o homem certo, com o chamado certo. Juntos, passaram um ano inteiro ensinando a nova comunidade em Antioquia, formando uma base sólida para a expansão missionária da igreja.

Essa passagem ensina que discipulado vai além de evangelizar: é investir vidas em vidas. A evangelização ganha almas, o discipulado edifica e consolida. Uma igreja que discipula com base no exemplo, na Palavra e na ação do Espírito produz crescimento saudável e duradouro.

O que aprendemos neste item 1

Aprendemos que o discipulado é o alicerce do crescimento saudável da Igreja. Quando o Evangelho chegou a Antioquia, Barnabé foi enviado para acompanhar os novos convertidos. Ele não criou barreiras culturais nem religiosas, mas reconheceu a graça de Deus nos gentios, encorajando-os a permanecerem firmes no Senhor.

Sua vida piedosa, marcada pela bondade, fé e plenitude do Espírito Santo, fez dele um líder discipulador exemplar. Barnabé demonstrou que discipulado não é apenas ensinar, mas investir vidas em vidas, acompanhando e edificando os irmãos.

Outro ponto importante foi sua humildade: ao perceber a necessidade de alguém mais capacitado para fortalecer a obra, ele buscou Paulo em Tarso. Isso mostra que o discipulado é também trabalhar em parceria, sem apego a posições, mas comprometido com o propósito do Reino.

Assim, vemos que evangelizar é ganhar almas, mas discipular é formar cristãos firmes, o que resulta em crescimento numérico e espiritual da Igreja.

👉 Em resumo: Uma igreja discipuladora é aquela que une vida piedosa, ensino sólido e amor pelos novos convertidos, formando bases duradouras para a missão.

2. Denominados de “cristãos”

Após Barnabé trazer Paulo para Antioquia, ambos ensinaram a igreja durante um ano inteiro, formando espiritualmente uma multidão de novos convertidos (Atos 11:26). O impacto desse discipulado foi tão profundo que os crentes passaram a refletir intensamente o caráter e os ensinamentos de Jesus. O resultado? Foram chamados, pela primeira vez, de "cristãos", ou seja, “seguidores de Cristo” ou “semelhantes a Cristo”.

Até então, os discípulos de Jesus eram identificados por outras designações, como: “discípulos” (Atos 6:1), “santos” (Atos 9:13), “irmãos” (Atos 1:16; 9:30), “fiéis” (Atos 10:45), os que estavam “sendo salvos” (Atos 2:47) e os do “Caminho” (Atos 9:2). A nova designação “cristãos” não foi inventada por eles, mas provavelmente surgiu dos próprios habitantes de Antioquia, como uma maneira de identificá-los pela sua semelhança com Cristo.

O termo, ainda que inicialmente tenha sido usado de forma pejorativa ou irônica, expressa uma verdade essencial: aqueles discípulos se pareciam tanto com Jesus que passaram a ser reconhecidos como seus representantes. O ensino consistente da Palavra e o testemunho prático de uma fé viva moldaram a identidade da igreja a ponto de ser impossível ignorar sua influência.

Assim, o título “cristão” passou a ser mais do que uma designação externa: tornou-se um marco da missão da igreja — formar pessoas cuja vida, caráter e propósito giram em torno de Cristo.

O que aprendemos neste item 2

Aprendemos que o nome “cristãos” surgiu pela primeira vez em Antioquia, após o intenso trabalho de ensino e discipulado realizado por Paulo e Barnabé. Durante um ano, eles instruíram a igreja, e o resultado foi uma comunidade que refletia com clareza o caráter e os ensinamentos de Jesus.

Até então, os seguidores de Cristo eram chamados por outros nomes — como discípulos, santos, irmãos, fiéis, os do Caminho. Mas o impacto do testemunho em Antioquia foi tão marcante que os habitantes passaram a identificá-los como “cristãos”, ou seja, pessoas semelhantes a Cristo.

Mesmo que a palavra tenha sido usada inicialmente de forma irônica, ela revelou uma verdade essencial: os discípulos estavam tão comprometidos com Jesus que era impossível não percebê-lo em suas vidas. Assim, o título “cristão” deixou de ser apenas uma designação externa e se tornou um símbolo da missão da Igreja: formar homens e mulheres cujo caráter, conduta e propósito giram em torno de Cristo.

👉 Em resumo: ser chamado de cristão não é apenas um rótulo, mas o reconhecimento de que a vida de alguém reflete Jesus em atitudes, palavras e caráter.

📌 Aplicação Prática:

O nome “cristão” é um privilégio, mas também uma grande responsabilidade. Em Antioquia, os discípulos receberam esse título porque suas vidas eram um reflexo visível de Cristo. Não foi um nome escolhido por eles, mas um reconhecimento natural do impacto que causavam na sociedade.

Hoje, o desafio é o mesmo: não basta apenas carregar o nome de cristão, é preciso viver como um cristão. Isso significa:

  • Ter um caráter moldado pela Palavra.
  • Demonstrar amor, misericórdia e perdão, como Jesus.
  • Ser coerente entre o que se crê e o que se pratica.
  • Testemunhar com a vida, e não apenas com palavras.

🔑 Lição para nós: o mundo só reconhecerá Cristo em nós quando nossa fé se traduzir em atitudes diárias. Assim como os discípulos foram chamados de cristãos pelo testemunho que tinham, também devemos ser conhecidos não apenas pelo que dizemos, mas principalmente por aquilo que vivemos.

👉 Reflexão: Quando as pessoas olham para minha vida, conseguem enxergar Cristo em mim?

3. A identidade cristã

 A identidade cristã vai além de uma simples designação nominal; ela expressa uma realidade espiritual e ética profundamente transformadora. O termo "cristão", usado pela primeira vez em Antioquia (Atos 11:26), provavelmente foi cunhado pela população gentílica da cidade, talvez com um tom pejorativo, para identificar aqueles que seguiam os ensinamentos e o estilo de vida de Jesus Cristo. No entanto, essa designação, mesmo que inicialmente irônica ou desdenhosa, passou a ser aceita e valorizada pelos próprios discípulos como um símbolo de honra e pertencimento a Cristo.

O nome “cristão” aparece outras duas vezes no Novo Testamento: em Atos 26:28, quando o rei Agripa diz a Paulo: “Por pouco me persuades a me fazer cristão”, e em 1Pedro 4:16, onde o apóstolo encoraja os crentes a não se envergonharem por sofrer “como cristãos”, mas a glorificarem a Deus por isso. Isso mostra que o título não era apenas uma identificação externa, mas passou a representar uma nova forma de viver: os cristãos eram reconhecidos por sua fé em Jesus, seu abandono do pecado e seu compromisso com uma vida santa.

Portanto, ser cristão não se resume a professar uma fé com os lábios, mas implica seguir a Cristo com a vida — crer em sua obra redentora, viver sob sua graça, e refletir seu caráter diante do mundo. A igreja de Antioquia foi um marco nesse processo: ali se formou uma comunidade que, mesmo em meio a uma cultura pagã, evidenciava tamanha semelhança com Cristo que isso se tornou visível aos de fora. A identidade cristã, portanto, é um testemunho vivo e inegável da transformação operada pelo Evangelho.

O que aprendemos neste item 3

Aprendemos que o termo “cristão”, mencionado pela primeira vez em Antioquia (At 11:26), não era apenas um rótulo, mas a expressão de uma realidade espiritual e ética transformadora. Ainda que tenha surgido com tom pejorativo, logo foi assumido pelos discípulos como um título de honra, pois revelava sua ligação com Cristo.

O Novo Testamento mostra o peso desse nome:

  • Atos 26:28 – Agripa reconhece a fé cristã diante de Paulo.
  • 1Pedro 4:16 – Pedro incentiva os crentes a se alegrarem se sofrerem “como cristãos”.

Assim, o nome passou a significar mais do que identificação externa: era o reflexo de uma vida transformada, marcada pela fé em Jesus, pelo abandono do pecado e por um compromisso real com a santidade.

Lição principal: Ser cristão não é apenas dizer que crê em Cristo, mas viver como Cristo. A identidade cristã é, portanto, um testemunho vivo da obra do Evangelho, visível mesmo em meio a uma cultura contrária à fé.

CONCLUSÃO

 A Igreja de Jerusalém, mesmo sob intensa perseguição, demonstrou um compromisso inabalável com a missão confiada por Cristo. Seus membros, mesmo sendo em grande parte crentes leigos, agiram como verdadeiros missionários, conscientes de seu papel no avanço do Evangelho. A dispersão provocada pela perseguição não os silenciou; ao contrário, serviu como catalisadora para que a Palavra de Deus rompesse fronteiras geográficas e culturais, alcançando judeus e gentios.

O exemplo da igreja em Antioquia — nascida da evangelização transcultural, formada por discípulos comprometidos e fundamentada no ensino da Palavra — revela que uma igreja missionária é aquela que forma discípulos e se compromete com o envio e o apoio de obreiros. Que o modelo deixado por esses primeiros cristãos nos inspire a viver com a mesma paixão, fidelidade e visão missionária, lembrando que a missão da igreja continua: proclamar Cristo até aos confins da terra.

Aplicação prática da Lição 12

A Lição 12 nos desafia a vivenciar hoje o mesmo fervor missionário demonstrado pela Igreja Primitiva. Vivemos em um tempo em que a mensagem de Cristo ainda precisa alcançar muitas vidas — inclusive perto de nós. A perseguição não impediu os primeiros cristãos de pregarem; por isso, não devemos permitir que o comodismo, o medo ou a indiferença nos impeçam de testemunhar o Evangelho.

Assim como os crentes dispersos pregaram com ousadia, mesmo em meio à dor, somos chamados a anunciar Jesus em qualquer circunstância — seja no ambiente de trabalho, na escola, na vizinhança ou nas redes sociais. Além disso, devemos investir no discipulado, como Barnabé e Paulo fizeram em Antioquia, entendendo que não basta apenas evangelizar, é preciso ensinar, acompanhar e formar verdadeiros seguidores de Cristo.

Por fim, a identidade cristã que nasceu em Antioquia nos ensina que ser cristão não é apenas carregar um nome, mas refletir a vida de Cristo em atitudes, palavras e amor ao próximo. Que a igreja de hoje seja marcada por essa mesma ousadia, compaixão e fidelidade à missão confiada por Jesus.

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Dicionário VINE.CPAD.

O Novo Dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Atos. A ação do Espírito Santo na vida da Igreja. Hagnos.

Ralph Earle. Livro dos Atos do Apóstolos.

Myer Pearlman. Atos: Estudo do Livro de Atos e o Crescimento da Igreja Primitiva.

John Stott. A Mensagem de Atos – Até os Confins da Terra. ABU.