domingo, 19 de janeiro de 2025

DEUS É TRIÚNO

         1° Trimestre 2025

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 04

Texto Base: Mateus 3:15-17; 28:19,20

“Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt.28:19).

Mateus 3

15.Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o permitiu.

16.E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele.

17.E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.

Mateus 28

19.Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;

20.ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!

INTRODUÇÃO

A doutrina da Trindade revela um dos maiores mistérios da fé cristã: Deus é único em essência, mas se manifesta em três Pessoas — Pai, Filho e Espírito Santo. O Novo Testamento evidencia que os cristãos do período apostólico reconheciam essa realidade, mesmo antes de a Igreja formalizar a terminologia teológica necessária para combater ideias equivocadas.

Embora o termo “Trindade” não esteja explícito nas Escrituras, sua verdade permeia a Bíblia de forma clara e consistente. Desde o batismo de Jesus, onde o Pai fala dos céus, o Filho é batizado e o Espírito desce como pomba (Mt.3:16,17), até as bênçãos apostólicas que envolvem as três Pessoas divinas (2Co.13:13), percebemos um Deus relacional, perfeitamente uno e plural.

Nesta lição, exploraremos os fundamentos bíblicos e a riqueza dessa doutrina, compreendendo que a Trindade não é apenas um conceito teológico, mas a revelação do Deus vivo que opera em unidade perfeita para a nossa salvação e comunhão eterna.

I. COMO A BÍBLIA APRESENTA A SANTÍSSIMA TRINDADE

1. A Trindade e o monoteísmo judaico-cristão

A doutrina da Trindade é firmemente ancorada no monoteísmo bíblico, isto é, na crença de que há um único Deus. As Escrituras, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, revelam que o Deus de Israel é o mesmo Deus dos cristãos, e que Ele se manifesta em três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Essa verdade, embora transcenda a lógica humana, não contradiz o ensino bíblico sobre a unicidade de Deus.

a) Cada Pessoa da Trindade é chamada "Deus". A Bíblia aplica o título “Deus” a cada uma das Pessoas da Trindade:

  • Ao Pai: Ele é o criador soberano e sustentador de todas as coisas (Fp.2:11).
  • Ao Filho: Ele é plenamente Deus, habitando corporalmente toda a plenitude da divindade (Cl.2:9).
  • Ao Espírito Santo: Ele é Deus, como demonstrado na passagem de Atos 5:3,4, onde mentir ao Espírito Santo é equivalente a mentir a Deus.

Essa atribuição deixa claro que cada Pessoa compartilha a mesma essência divina, sem hierarquia de divindade entre elas.

b) Cada Pessoa da Trindade é chamada "Senhor". O termo “Senhor” (em hebraico, YHWH - o tetragrama sagrado) também é usado para referir-se a cada Pessoa da Trindade:

  • Ao Pai: Ele é identificado como Senhor em passagens como Salmos 110:1, onde a soberania de Deus é exaltada.
  • Ao Filho: Isaías 40:3 apresenta o título “Senhor” aplicado ao Filho, conectando Jesus diretamente ao Deus de Israel.
  • Ao Espírito Santo: Ezequiel 8:1,3 revela o Espírito como Senhor no exercício de Sua obra divina.

Por isso, o monoteísmo da fé cristã não contradiz a pluralidade das Pessoas em Deus, mas enriquece a compreensão de Sua unidade.

c) O monoteísmo bíblico não contradiz a Trindade. Deuteronômio 6:4, conhecido como o “Shemá”, declara: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. A palavra hebraica “echad”, traduzida como “único”, frequentemente denota uma unidade composta. O mesmo termo é usado em Gênesis 2:24 para descrever a união entre marido e mulher como “uma só carne” - duas pessoas em uma unidade. Esse uso de “echad” indica que o monoteísmo bíblico, judaico-cristão, não exclui a pluralidade dentro da unidade de Deus, mas a suporta.

A revelação de Deus como Trindade não contradiz a confissão de fé do Judaísmo; pelo contrário, a Trindade é o cumprimento perfeito dessa revelação, trazendo à luz a unidade e diversidade harmoniosa de Deus em Sua essência.

Portanto, a Trindade é a manifestação plena do monoteísmo bíblico, revelando que o único Deus é ao mesmo tempo Pai, Filho e Espírito Santo, em perfeita comunhão e unidade.

2. Evidência no Antigo Testamento

Embora a doutrina da Trindade seja plenamente revelada no Novo Testamento, há indicações claras de sua presença implícita no Antigo Testamento. Os textos a seguir demonstram a pluralidade na unidade de Deus, um conceito que se harmoniza com a revelação progressiva das Escrituras.

a) Pluralidade na Criação. Em Gênesis 1:26, Deus declara: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. A forma plural usada em “façamos” e “nossa” aponta para uma interação dentro da própria divindade. Essa expressão não se refere a anjos ou outros seres criados, pois apenas Deus é o Criador e somente Ele confere Sua imagem ao ser humano. Aqui, vislumbramos um diálogo entre as Pessoas da Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo - cooperando na criação.

b) Pluralidade na unidade Divina. Outras passagens reforçam a ideia de pluralidade na unidade de Deus:

  • Gênesis 3:22: “Eis que o homem é como um de nós”.
  • Gênesis 11:7: “Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua”.

Estes textos utilizam termos plurais para descrever ações e decisões divinas. A palavra “nós” reflete uma conversa intra-trinitária, revelando uma comunhão intrínseca em Deus.

c) O Espírito Santo e o Anjo do Senhor. Em Isaías 63:8-14, encontramos uma descrição fascinante da atuação divina na história de Israel. O texto menciona:

  • Javé (o Senhor). Representando Deus Pai em Sua liderança sobre Israel.
  • O Espírito Santo. Ativo no meio do povo, guiando-o e garantindo sua redenção (Is.63:10,11).
  • O Anjo da presença. Identificado com a manifestação de Deus no Antigo Testamento, frequentemente associado a Cristo pré-encarnado, pois realiza obras atribuídas exclusivamente a Deus.

Esse trecho evidencia uma interação harmoniosa entre diferentes Pessoas divinas, todas operando em unidade para redimir e conduzir o povo de Deus.

Portanto, o Antigo Testamento, embora não explique detalhadamente a doutrina da Trindade, oferece uma base sólida e consistente para sua revelação posterior no Novo Testamento. Essas evidências são fundamentais para compreender que o único Deus da Bíblia é triúno, manifestando-se em três Pessoas distintas, mas unidas em essência e propósito.

3. Revelada no Novo Testamento

A doutrina da Trindade encontra sua revelação mais clara no Novo Testamento. Embora a palavra “Trindade” não seja usada nas Escrituras, o conceito de um único Deus que subsiste eternamente em três Pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - está amplamente fundamentado nos textos sagrados e é central à fé cristã.

a) A Trindade em Si mesma. No Novo Testamento, a interação entre as três Pessoas da Trindade é evidente em várias passagens que revelam tanto sua unidade quanto suas distinções:

  • A Grande Comissão (Mateus 28:19). Jesus ordena aos discípulos a batizarem “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. A fórmula singular “nome” enfatiza a unidade divina, enquanto as três Pessoas mencionadas demonstram sua distinção.
  • Distribuição dos dons espirituais (1Coríntios 12:4-6). Paulo descreve o Espírito, o Senhor (Cristo) e Deus (o Pai) como agentes complementares na concessão dos dons espirituais, na administração e no poder operacional da Igreja.
  • A bênção trinitária (2Coríntios 13:13). Paulo invoca “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo” sobre os cristãos, destacando a atuação conjunta e harmônica das três Pessoas da Trindade.
  • Unidade da Igreja (Efésios 4:4-6). A Igreja é apresentada como um corpo único, sustentado por “um só Espírito”, “um só Senhor” e “um só Deus e Pai de todos”, indicando que a Trindade é o fundamento dessa unidade.
  • A obra da salvação (1Pedro 1:2). Pedro destaca que os crentes são eleitos “segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo”, revelando a participação das três Pessoas da Trindade na redenção humana.

Esses exemplos mostram que a Trindade não é uma invenção teológica posterior, mas uma verdade claramente evidenciada na obra de Deus relatada no Novo Testamento.

b) A Trindade dos Credos. Os credos da Igreja, formulados nos primeiros séculos do Cristianismo, consolidaram a doutrina da Trindade em resposta às heresias que desafiavam a compreensão bíblica de Deus.

  • Definição. A Trindade é definida como a união de três Pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - em uma única essência divina. Elas são iguais em poder, glória, majestade e eternidade, da mesma substância (homoousios, como declarado no Credo de Niceia).
  • Distinção. Embora iguais em essência, as três Pessoas são distintas em suas funções. O Pai é a fonte de todas as coisas, o Filho é o Redentor, e o Espírito Santo é o Santificador, mas todos atuam em perfeita unidade e cooperação.
  • Credo apostólico e Credo Niceno. Esses documentos históricos refletem a confissão cristã da Trindade e enfatizam que a fé cristã reconhece e adora um único Deus triúno.

Portanto, o Novo Testamento não apenas revela a Trindade, mas também apresenta sua relevância prática e teológica para a fé e vida cristãs. Desde a missão da Igreja até a obra da redenção, cada Pessoa da Trindade desempenha um papel essencial e interligado. Essa verdade foi fielmente preservada nos credos da Igreja, garantindo que a fé cristã continue ancorada na revelação bíblica do único Deus triúno.

II. AS HERESIAS CONTRA A DOUTRINA DA TRINDADE

São duas as principais heresias contra a Trindade: o Unicismo e o Unitarismo. Ambas são contrárias à Bíblia, condenadas pelas igrejas antigas e rejeitadas pelos principais ramos do Cristianismo. Nesta lição, trataremos do Unicismo.

1. O Unicismo

O Unicismo é uma das heresias mais antigas e persistentes que desafiam a doutrina bíblica da Trindade. Esse movimento surgiu no século III e, ao longo da história, assumiu diferentes nomenclaturas, como monarquianismo, modalismo, patripassianismo e sabelianismo, sendo representado por heresiarcas como Noeto, Práxeas e Sabélio.

A Base do ensino Unicista

O Unicismo não nega a deidade do Filho e do Espírito Santo, mas distorce o ensino bíblico ao afirmar que Pai, Filho e Espírito Santo não são três Pessoas distintas, mas manifestações ou modos de uma única Pessoa divina. Essa visão ensina que Deus assume diferentes formas ou modos de existência conforme necessário: Como Pai na criação e na autoridade; Como Filho na encarnação e na redenção; Como Espírito Santo na regeneração e na santificação.

Os unicistas rejeitam a coexistência simultânea das três Pessoas da Trindade, entendendo-as como aspectos ou funções temporárias de Deus, e não como subsistências eternas e distintas de uma única essência divina.

Refutação Bíblica ao Unicismo

A Bíblia apresenta Deus como um único Ser eterno (monoteísmo), mas subsistente em três Pessoas distintas - Pai, Filho e Espírito Santo - que interagem e coexistem de maneira simultânea. Essa verdade é enfatizada em várias passagens:

a)   No batismo de Jesus (Mateus 3:16,17):

  • O Filho é batizado nas águas.
  • O Espírito Santo desce em forma de pomba.
  • O Pai declara: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”.

Essa cena mostra as três Pessoas agindo simultaneamente, descartando a ideia de que são apenas modos ou manifestações de uma única Pessoa.

b)   Na grande Comissão (Mateus 28:19):

  • Jesus ordena o batismo “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. A fórmula singular “nome” revela a unidade divina, enquanto as designações “Pai”, “Filho” e “Espírito Santo” destacam sua distinção.

c)   Na bênção trinitária (2Coríntios 13:13):

  • A bênção apostólica menciona “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo”, evidenciando a ação conjunta e harmoniosa das três Pessoas divinas.

d)    Na obra da redenção (1Pedro 1:2) – “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo. Que a graça e a paz lhes sejam multiplicadas”.

  • Veja que a eleição, “segundo a presciência de Deus Pai”, é realizada “pela santificação do Espírito” e aplicada “pela aspersão do sangue de Jesus Cristo”. Essa passagem refuta qualquer noção de confusão entre as Pessoas da Trindade.

A visão unicista distorce a natureza de Deus e afeta doutrinas essenciais do Cristianismo, como:

  • A encarnação de Cristo. Se Pai e Filho não são Pessoas distintas, a relação do Filho como enviado do Pai perde significado (João 3:16,17).
  • A intercessão de Cristo. A função do Filho como Mediador diante do Pai (1Timóteo 2:5) torna-se incompreensível.
  • A obra do Espírito Santo. O papel do Espírito como Ajudador enviado pelo Pai em nome do Filho (João 14:26) é reduzido a uma ilusão.

Portanto, a doutrina da Trindade não é um conceito teológico inventado pela Igreja, mas uma verdade revelada nas Escrituras. O Unicismo, ao negar a coexistência das três Pessoas da Trindade em uma única essência divina, contradiz o ensino bíblico e subverte a natureza de Deus. Como a Declaração de Fé de muitas denominações cristãs, especialmente a da Assembleia de Deus, corretamente afirma: “cremos em um só Deus que subsiste eternamente em três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo”. Esse é o verdadeiro Deus revelado nas Escrituras.

2. A verdade Bíblica

A doutrina bíblica da Trindade é clara e irrefutável, e a ideia de unicismo - que nega a distinção entre as Pessoas da Trindade - não pode ser sustentada pela leitura direta e honesta das Escrituras. A Bíblia apresenta consistentemente o Pai, o Filho e o Espírito Santo como três Pessoas distintas que subsistem em uma única essência divina.

a) O Batismo de Jesus: evidência incontestável (Mateus 3:16,17). No batismo de Jesus, a interação entre as três Pessoas da Trindade é evidente:

  • O Filho é batizado no rio Jordão.
  • O Espírito Santo desce sobre Ele em forma de pomba.
  • O Pai declara audivelmente: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”.

Essa cena refuta completamente a ideia unicista de que Pai, Filho e Espírito Santo são meros modos ou manifestações de uma única Pessoa. Todas as três Pessoas agem simultaneamente, demonstrando distinção e unidade.

b) As Declarações de Jesus sobre Sua relação com o Pai. Jesus afirmou repetidamente que Ele e o Pai são distintos, embora compartilhem a mesma essência divina:

  • João 8:16,17. Jesus declara que Seu testemunho é válido porque Ele não está sozinho; o Pai que O enviou é outro que dá testemunho Dele.
  • João 17:3. Na oração sacerdotal, Jesus refere-se ao Pai como “o único Deus verdadeiro” e a Si mesmo como “aquele que enviaste”.
  • Mateus 20:23. Jesus ensina que somente o Pai tem autoridade para conceder certos privilégios, destacando a distinção de funções entre Eles.
  • Mateus 26:39,42. No Jardim do Getsêmani, Jesus ora ao Pai, expressando Sua submissão à vontade do Pai, mostrando claramente que são Pessoas distintas.

c) O Espírito Santo - a Terceira Pessoa da Trindade. Jesus também apresenta o Espírito Santo como uma Pessoa distinta:

  • João 14:16,17. Jesus promete que o Pai enviará o Consolador, outro Auxiliador, em nome Dele. Aqui, a palavra grega “allon” (outro) indica alguém da mesma essência, mas distinto.
  • João 14:26. Jesus declara que o Espírito Santo ensinará todas as coisas e lembrará os discípulos das palavras de Jesus, confirmando Sua personalidade e missão divina.

d) A relação Eu, Tu, Ele. A relação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo reflete claramente uma interação interpessoal. Na oração sacerdotal (João 17), Jesus ora ao Pai com expressões como “eu” e “tu”, reafirmando o relacionamento distinto e pessoal entre Eles. Além disso, ao anunciar o Espírito Santo, Jesus usa a terceira Pessoa: “Ele vos ensinará todas as coisas” (João 14:26), demonstrando que o Espírito Santo não é uma força impessoal nem o próprio Jesus, mas outra Pessoa divina.

e) A paternidade do Pai e a filiação do Filho. A Bíblia descreve Jesus como “o Filho do Pai” (2João 3). Essa expressão não apenas indica um relacionamento único e eterno, mas também refuta a ideia de que Jesus seja o próprio Pai. A relação entre Pai e Filho é um aspecto essencial da Trindade, e confundi-los equivale a negar a revelação bíblica.

Portanto, a doutrina da Trindade não é um construto humano, mas uma verdade claramente revelada nas Escrituras. As distinções entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo são consistentes e fundamentais para a compreensão da natureza de Deus. Negar essas distinções, como faz o Unicismo, é contradizer as Escrituras e a própria essência da revelação divina. O Deus triúno, Pai, Filho e Espírito Santo, é o fundamento do Cristianismo bíblico e da nossa fé.

III. UNICISMO: UMA HERESIA ANTIGA NA ATUALIDADE

1. O problema

A heresia unicista, que nega a distinção entre as Pessoas da Trindade, ainda persiste na atualidade, especialmente em alguns movimentos pentecostais que, embora mantenham uma aparência de cristianismo ortodoxo, ensinam uma visão distorcida de Deus. Esses grupos, muitas vezes, utilizam músicas e mensagens populares para disseminar suas ideias, tornando a heresia mais acessível e menos evidente para muitos cristãos. No entanto, essa questão não é um mero detalhe teológico, trata-se de um desvio que compromete a essência da revelação bíblica sobre Deus e o plano da salvação.

Unicismo e o desvio doutrinário sobre Deus

O unicismo nega a coexistência eterna de três Pessoas distintas na divindade - Pai, Filho e Espírito Santo -, reduzindo-as a meros modos ou manifestações de uma única Pessoa. Essa visão contradiz diretamente a revelação bíblica. Jesus, ao orar em João 17:3, destacou a necessidade de reconhecer o Pai como o único Deus verdadeiro e a Si mesmo como Aquele que foi enviado. Essa declaração não apenas reafirma a distinção entre as Pessoas, mas também aponta para a importância de compreender essa verdade para a salvação.

Em João 17:3, Jesus ensina que a vida eterna depende do conhecimento do Pai como Deus verdadeiro e de Jesus como o enviado. Esse conhecimento não é meramente intelectual, mas profundamente relacional, envolvendo comunhão, fé, adoração e obediência. A unidade entre o Pai e o Filho não anula sua distinção pessoal. Pelo contrário, essa unidade é fundamentada em sua essência divina comum (João 10:30). Negar essa distinção compromete o entendimento correto do evangelho e do relacionamento que Deus deseja ter com a humanidade.

Unidade na Trindade: uma revelação Bíblica

Embora Pai, Filho e Espírito Santo compartilhem a mesma essência divina, a Bíblia consistentemente apresenta cada Pessoa da Trindade em papéis distintos:

  • O Pai envia o Filho ao mundo (João 3:16; João 5:37).
  • O Filho executa a obra de redenção e revela o Pai (João 14:9; João 17:4).
  • O Espírito Santo aplica a obra redentora, habitando nos crentes e os guiando em toda verdade (João 14:26; João 16:13).

A compreensão bíblica de Deus envolve a aceitação dessa pluralidade na unidade. Negar essa verdade é reduzir o Deus revelado nas Escrituras a algo inferior ao Seu pleno caráter divino.

Movimentos unicistas apresentam uma visão limitada de Deus que, embora pareça próxima à fé cristã, contradiz a Bíblia. Ao confundir as pessoas da Trindade, esses grupos distorcem a natureza do Deus revelado em Jesus Cristo, comprometendo a base do evangelho. Essa heresia não é apenas uma questão de terminologia ou perspectiva, mas afeta profundamente a compreensão da obra da salvação.

Mesmo disfarçado em um contexto contemporâneo, o Unicismo continua sendo uma ameaça à pureza doutrinária. Para combatê-lo, é essencial que os cristãos conheçam e proclamem a verdade bíblica sobre a Trindade. O reconhecimento do Pai, do Filho e do Espírito Santo como Pessoas distintas, mas igualmente divinas, é central para nossa fé e adoração. A vida eterna depende do correto conhecimento de Deus, e isso inclui a aceitação plena da Trindade conforme revelada nas Escrituras.

2. Uma reflexão bíblica sobre o impacto das músicas unicistas

A questão do uso de músicas compostas por movimentos unicistas levanta um ponto delicado: como devemos entender as conversões e as experiências espirituais associadas a esses ministérios? À luz da Bíblia, é essencial separar o poder transformador da Palavra de Deus da falibilidade dos instrumentos humanos que a proclamam.

Jesus ensina que a eficácia espiritual não está nas mãos do semeador, mas na semente - a Palavra de Deus (Lc.8:11). Mesmo que essa “semente” seja lançada por pessoas com doutrinas equivocadas ou vidas espiritualmente comprometidas, ela possui intrinsecamente o poder de gerar vida, conforme Isaías 55:11: "Assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia". A obra de Deus não é limitada pelos erros humanos, mas isso não isenta os crentes de discernirem e confrontarem falsas doutrinas (2Tm.4:2-4).

Muitas pessoas justificam o consumo de músicas ou práticas equivocadas baseando-se em experiências emocionais positivas. Contudo, a Bíblia é clara ao afirmar que o coração humano, sem a orientação de Deus, é enganoso e corrupto (Jr.17:9). Sentir-se bem ao ouvir uma música ou participar de um evento não garante a conformidade dessa prática com a verdade bíblica. Em Mateus 7:21-23, Jesus adverte que muitos realizarão obras em Seu nome sem, de fato, fazerem a vontade de Deus. Emoções são importantes, mas devem ser submetidas à autoridade da Palavra.

A doutrina cristã não se baseia em emoções, experiências pessoais ou tradições, mas unicamente na Palavra de Deus (2Tm.3:16,17). Pedro exorta os crentes a atentarem à profecia bíblica como uma "luz que brilha em lugar escuro" (2Pd.1:19), reafirmando que a verdade é revelada por Deus, e não pelo homem. João 16:13 reforça que é o Espírito Santo quem guia os crentes em toda a verdade, conduzindo-os pela Palavra.

Embora a conversão de pessoas através de músicas ou mensagens equivocadas possa ocorrer, isso não justifica a adoção ou a validação de heresias. Os crentes são chamados a testar os espíritos (1Jo.4:1) e a rejeitar qualquer doutrina que não esteja alinhada com a verdade bíblica (Gl.1:8,9). O uso de conteúdos associados a heresias requer vigilância espiritual e compromisso com a pureza doutrinária, evitando que tais materiais sirvam de porta de entrada para ideias equivocadas.

Enfim, Deus, em Sua soberania, pode usar até mesmo instrumentos imperfeitos para cumprir Seus propósitos. No entanto, isso não diminui a responsabilidade dos crentes de se manterem firmes na verdade da Palavra. Emoções e experiências humanas não são base para doutrina; somente as Escrituras têm essa autoridade. Como seguidores de Cristo, devemos buscar uma adoração fundamentada na verdade bíblica, guiada pelo Espírito Santo e centrada em Deus.

3. A posição oficial da Igreja Assembleia de Deus

A Igreja Assembleia de Deus, desde sua origem, posiciona-se firmemente contra o Unicismo, reconhecendo-o como uma heresia condenada pelas Escrituras e rejeitada pelos principais ramos do cristianismo ao longo da história. Essa doutrina deturpa a verdadeira identidade de Deus revelada na Bíblia, apresentando um Jesus diferente daquele descrito no Novo Testamento (2Co.11:4).

Em sua Declaração de Fé, a Assembleia de Deus afirma o compromisso com a sã doutrina, rejeitando o uso de músicas de grupos unicistas em cultos e atividades eclesiásticas. Tal decisão não é um ataque pessoal aos seguidores do Unicismo, mas sim uma defesa da pureza doutrinária e da verdadeira adoração ao Deus triúno revelado nas Escrituras.

Apesar da oposição à doutrina, a postura da igreja em relação aos adeptos do Unicismo deve ser marcada por respeito e mansidão. A Bíblia nos orienta a manter contato respeitoso com pessoas de crenças diferentes, ao mesmo tempo em que rejeitamos a propagação de ensinamentos contrários à verdade bíblica (2João 10,11). Assim, nosso compromisso é com a verdade, mas também com o amor, buscando oportunidades de testemunhar o Evangelho de forma firme, mas graciosa.

“NEGAÇÃO AO UNICISMO, UNITARISMO E TRITEÍSMO. Negamos o Unicismo sabelianista e moderno, ou seja, que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam três modos de uma mesma pessoa divina, porque está escrito que as três pessoas são distintas.

Negamos também o Unitarismo, pois essa doutrina afirma que somente o Pai é Deus, negando, assim, a divindade do Filho e do Espírito Santo, ao passo que as Escrituras Sagradas ensinam a divindade do Filho e do Espírito Santo.

Também negamos o Triteísmo, ou seja, que existam três deuses separados, pois a Bíblia revela a existência de um único Deus verdadeiro: ‘há um só Deus e que não há outro além dele’ (Mc 12.32); ‘todavia, para nós há um só Deus’ (1 Co.8.6). Essa doutrina monoteísta tem implicação para a salvação: “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste’’ (João 17.3) ”’ (Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.41).

CONCLUSÃO

Acabamos de estudar que, indubitavelmente, Deus é Triúno. Deus é um só, mas subsiste eternamente em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, que são iguais em essência, poder e glória. Essa revelação está firmemente alicerçada nas Escrituras, desde os primeiros indícios no Antigo Testamento até a plena manifestação no Novo Testamento.

Compreender a Trindade é essencial para a verdadeira adoração e comunhão com Deus, pois ela reflete o amor e a unidade perfeita que existem em Sua natureza divina. Ao mesmo tempo, é nosso dever combater heresias que distorcem essa doutrina, como o Unicismo, permanecendo fiéis à Palavra de Deus.

Ao defender a verdade bíblica, somos chamados a agir com mansidão e respeito, refletindo o amor de Deus em nossos relacionamentos, mas sem abrir mão da fidelidade às Escrituras. Que este estudo fortaleça nossa fé e nos leve a glorificar a Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, o único Deus verdadeiro e eterno.

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Dicionário VINE.CPAD.

O Novo Dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Mateus – Jesus, o Rei dos reis.

Pr. Hernandes Dias Lopes. 1, 2 e 3João – como ter garantias da salvação.

Pr. Hernandes Dias Lopes. 1Pedro – com os pés no vale e o coração no céu.

Pr. Hernandes Dias Lopes. João – As glórias do Filho de Deus.

Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro. CPAD.

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