sábado, 27 de setembro de 2025

A CRIAÇÃO DOS CÉUS E DA TERRA, E A CRIAÇÃO DO PRIMEIRO HOMEM

Texto Base: Gênesis 2:1-8

INTRODUÇÃO

Este apêndice traz um conteúdo mais completo da Introdução das Lições Bíblicas do 4º trimestre de 2025, destacando a majestosa obra da criação dos céus, da terra e do primeiro ser humano. Enquanto todo o universo foi trazido à existência pelo poder da Palavra — criado a partir do nada (Hb.11:3) — o ser humano foi formado de maneira singular: do pó da terra, pelas mãos do próprio Deus (Gn.2:7).

Diferente das demais criaturas, o homem carrega a marca da imagem e semelhança divina (Gn.1:26). Isso não significa que ele seja uma réplica de Deus, mas que possui atributos que o distinguem: espiritualidade, racionalidade e capacidade moral. Por esse motivo, foi chamado a viver em comunhão com o Criador, refletindo Sua glória e caminhando em santidade (Ec.7:29; Ef.4:24; Cl.3:10).

A criação do homem revela não apenas o cuidado de Deus, mas também Seu propósito: formar um ser capaz de se relacionar com Ele, de pensar, escolher e viver para Sua glória. Este estudo nos convida a contemplar essa origem extraordinária e a reconhecer o valor da vida humana à luz da revelação bíblica.

I. A CRIAÇÃO DOS CÉUS E DA TERRA

A criação dos Céus e da Terra é um ato histórico e sobrenatural que aconteceu exatamente como está escrito no Livro de Gênesis. Por que Deus criou tudo isto? Ele criou todas as coisas para manifestação da sua glória (Sl.19:1-5; Is.6:3; 43:7). A criação da Terra foi aplaudida pelos anjos, os quais foram criados antes da criação do mundo material, conforme Deus revelou a Jó: “Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? ... Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam?” (Jó 38:4,7).

1. A criação dos Céus e dos anjos

“Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito da sua boca” (Sl.33:6).

“No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn.1:1).

a) A criação dos Céus (Gn.1:1; Sl.33:6)

Os céus revelam a grandeza e o poder de Deus, manifestando que Ele é o único Criador e que tudo existe para a Sua glória. Eles são testemunho permanente de que nada escapa ao domínio do Senhor — inclusive seus inimigos espirituais (Satanás e seus demônios).

A Escritura enfatiza que não há apenas um céu, mas “céus” no plural:

·     Eis que os céus e os céus dos céus são do SENHOR, teu Deus, a terra e tudo o que nela há” (Dt.10:14).

·     Assim, os céus, e a terra, e todo o seu exército foram acabados” (Gn.2:1).

·     Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus... (Sl.33:6).

O apóstolo Paulo também confirma essa verdade ao relatar sua experiência espiritual: “Conheço um homem em Cristo que... foi arrebatado até ao terceiro céu” (2Co.12:2).

A Palavra de Deus revela a existência de três céus, cada um com sua função específica e importância na criação e no plano divino:

a.1) O Primeiro Céu – O Firmamento (Gn.1:16,17)

É o espaço físico e visível, onde se encontram o sol, a lua, as estrelas, planetas e galáxias.

·         Estudos apontam a existência de pelo menos 2 trilhões de galáxias, cada uma contendo bilhões de estrelas, todas em perfeita ordem.

·         A ciência ainda não consegue explicar o que sustenta o universo em sua totalidade, mas a Bíblia afirma que Deus é quem governa todas as coisas.

“Conta o número das estrelas, chamando-as a todas pelos seus nomes” (Sl.147:4).

Assim, o firmamento não apenas manifesta a glória do Criador (Sl.19:1), mas também lembra à humanidade que a origem de todas as coisas está em Deus, e nEle tudo subsiste.

a.2) O Segundo Céu – As regiões celestes (Ef.6:12)

“porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.

Este é o espaço invisível aos olhos humanos, onde acontecem as realidades espirituais.

·         É nesse lugar que se travam as batalhas entre os anjos de Deus e os exércitos de Satanás (Dn.10:12,13; Ap.12:7).

·         Também é ali que os demônios tramam estratégias contra os servos de Deus (1Pd.5:8).

·         Mas o Senhor envia Seus anjos como protetores e ministros em favor dos salvos:

“O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra” (Sl.34:7).

“Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” (Hb.1:14).

Portanto, o Segundo Céu é o campo de batalha espiritual, mas os filhos de Deus não estão desprotegidos.

a.3) O Terceiro Céu – O Céu dos céus, a habitação de Deus (Dt.10:14)

Esse é o lugar da morada de Deus, onde está o Seu trono e a Sua glória (Is.66:1; Sl.103:19).

·         É chamado também de Paraíso (2Co.12:3,4), para onde Jesus levou o ladrão arrependido (Lc.23:43).

·         O apóstolo Paulo foi arrebatado a este lugar e ouviu palavras inefáveis, santas demais para serem reveladas aos homens.

·         Esse é o destino final dos salvos em Cristo:

“E assim estaremos sempre com o Senhor” (1Ts.4:17).
“E Deus limpará de seus olhos toda lágrima... não haverá mais morte, nem pranto, nem dor” (Ap.21:4).

No Terceiro Céu, os remidos viverão livres da presença e do poder do pecado, em perfeita comunhão com Deus, desfrutando da eternidade ao lado do Pai, do Filho, do Espírito Santo, dos anjos e de todos os santos.

A revelação dos três céus nos leva a contemplar a grandeza de Deus e a viver com esperança. Hoje enfrentamos batalhas no “Segundo Céu”, mas nossa vitória já está garantida em Cristo, e o nosso destino final é o “Terceiro Céu”, a morada eterna com o Senhor.

b) A criação dos anjos (Sl.33:6)

Depois de criar os céus, Deus trouxe à existência os seres espirituais: os anjos. Eles não são eternos nem divinos, mas criaturas formadas por Deus (Gn.1:1; Cl.1:16). Embora sejam superiores ao homem em poder e natureza, são inferiores a Deus e jamais podem ser confundidos com Ele.

b.1) A natureza dos anjos

·         São espíritos criados (Hb.1:14), diferentes do homem, que é composto de corpo, alma e espírito.

·         Não estão sujeitos às leis físicas, podendo aparecer e desaparecer (Jz.6:21; Lc.1:11,13), desafiar a gravidade (Jz.13:20) e realizar feitos extraordinários, como:

    • Ferir multidões (2Sm.24:16,17; 2Rs.19:35);
    • Fechar a boca de leões (Dn.6:22);
    • Remover grandes pedras (Mt.28:2);
    • Libertar prisioneiros (Atos 5:19; 12:7-11).

b.2) Aparições e missão

·         Quando necessário, podem assumir forma humana para serem percebidos pelos homens (Gn.18:1-10; Js.5:13-15; At.12:7,8).

·         Sua missão principal é servir a Deus e ministrar em favor dos que hão de herdar a salvação (Hb.1:14).

b.3) Natureza assexuada

·         Os anjos não possuem sexo, pois a sexualidade pertence apenas à esfera terrena. Jesus mesmo afirmou que, no céu, seremos “como os anjos” — sem casamento ou reprodução (Mt.22:29,30).

·         Assim, não há “anjos masculinos” ou “anjas”; são seres espirituais, criados exclusivamente para cumprir os desígnios de Deus.

A criação dos anjos nos ensina que todo o universo, visível e invisível, está debaixo do governo de Deus. Eles existem não para serem adorados, mas para servir ao Senhor e aos Seus escolhidos.

2. A criação da Terra (Gn.1:1; Sl.33:6) - Deus a criou com inigualável sabedoria

“No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn.1:1).

Observe que a Bíblia não diz que no princípio começou Deus a criar a Terra, e que após milhões, bilhões de anos, em sucessivas eras geológicas, a Terra ficou pronta para ser habitada. Não. A Bíblia diz que “no princípio criou Deus os céus e a Terra” (Gn.1:1). Deus não precisa de tempo para criar, para fazer, para aperfeiçoar alguma obra Sua. Sendo um Deus perfeito e Todo Poderoso, num só ato Ele cria ou faz uma obra perfeita, sem necessidade de acabamentos ou retoques.

a) A Terra que Deus criou era acabada, perfeita e bela

A Terra foi criada por Deus com sabedoria incomparável, plena de ordem, beleza e perfeição. Tudo o que o Senhor realiza reflete a Sua santidade e justiça.

“Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos são juízo. Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é” (Dt.32:4).

Logo no princípio, a Terra não surgiu de forma caótica, como poeira cósmica sem direção, mas foi chamada à existência pelo poder da Palavra de Deus, já como uma criação acabada e harmoniosa.

Os anjos foram os primeiros a contemplar a Terra recém-criada. Não presenciaram um planeta desordenado ou vazio, mas uma obra perfeita, digna do louvor ao Criador. O próprio Deus testifica disso a Jó: “Onde estavas tu, quando eu fundava a Terra? ... quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam?” (Jó 38:4-7).

Assim, a criação da Terra revela não apenas o poder criador de Deus, mas também a Sua glória e perfeição, levando toda criatura a reconhecer que nada do que Ele faz é imperfeito.

A Terra criada perfeita nos lembra que o propósito original de Deus para a humanidade também era perfeito. O pecado corrompeu a criação, mas em Cristo aguardamos “novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça” (2Pd 3:13).

b) Deus criou a Terra para ser habitada

Pela informação que nos dá a Palavra de Deus e de forma clara narrada pelo profeta Isaías, Deus criou a Terra para ser habitada.

 “Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que formou a Terra, e a fez, ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada. Eu sou o Senhor e não há outro” (Is.45:18).

-Num primeiro momento, segundo tudo indica, ao criar a Terra Deus entregou o seu governo a um Querubim ungido (Ez.28:14). Esse Querubim falhou, pecou, e, em consequência, a Terra se tornou “sem forma e vazia” (Gn.1:2).

-Num segundo momento, Deus restaurou a Terra, devolvendo-lhe suas características originais. E para cuidar dela, Deus criou o homem, um ser diferente de todas as demais criaturas que já havia criado. O homem permanece cuidando da Terra e o fará até que o Senhor Jesus Cristo venha para implantar o Seu Reino milenar sobre ela.

b.1) No princípio, Deus constituiu um Querubim para cuidar da Terra original

“Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas” (Ez.28:14).

A Terra, desde o princípio, foi criada para ser habitada e plenamente cuidada por Deus. O texto de Ezequiel 28 sugere que, antes da queda, um querubim ungido recebeu de Deus uma posição especial de governo sobre a Terra original. Essa esfera é chamada de “monte santo de Deus”, expressão que remete a um estado paradisíaco, de perfeita ordem e glória.

Embora não possamos afirmar com exatidão cronológica, por inferência de diferentes passagens (Ez.28; Is.14:12), compreendemos que este querubim — identificado tradicionalmente como Lúcifer, a “estrela da manhã” — exercia autoridade delegada sobre a Terra e sobre os anjos sob seu comando.

Não sabemos por quanto tempo a Terra original permaneceu nesse estado glorioso, mas sabemos que tudo o que Deus criou era perfeito e em harmonia com Sua vontade.

A história do querubim ungido nos adverte que mesmo as maiores posições de honra não isentam ninguém da necessidade de humildade e obediência a Deus. A verdadeira segurança não está na posição, mas em permanecer fiel ao Criador.

b.2) A Terra original foi subvertida pelo pecado de Lúcifer

“E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono... Subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Is.14:13,14).

O pecado de Lúcifer foi a soberba: desejou usurpar o trono de Deus. Em consequência desse ato, veio o juízo divino, que atingiu não apenas o querubim rebelde, mas também a Terra. Assim, a criação perfeita descrita no início foi transtornada, passando a existir no estado registrado em Gênesis 1:2:

E a terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”.

Essa condição é conhecida como a Terra caótica: submersa pelas águas e mergulhada em trevas. Contudo, mesmo em meio ao caos, a Escritura destaca que “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”, revelando que o Senhor jamais perdeu o controle sobre Sua criação. A Terra nunca pertenceu a Satanás; sempre foi propriedade exclusiva do Criador.

“Eis que os céus, e os céus dos céus são do Senhor teu Deus, a terra e tudo o que nela há” (Dt.10:14).

“Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl.24:1).

Não é possível determinar em números o tempo em que a Terra permaneceu nesse estado caótico — séculos, milênios ou até bilhões de anos. Muitos estudiosos defendem que esse período pode ter abrangido as eras geológicas reconhecidas pela ciência, explicando a presença de fósseis com datações muito antigas. A Terra original, assim, teria sido habitada por animais, mas não pelo homem.

O pecado sempre gera desordem, trevas e caos, mas a presença do Espírito de Deus garante que o mal nunca terá domínio absoluto. Assim como Ele restaurou a Terra, também restaura vidas que se rendem ao Seu poder.

b.3) A Terra foi restaurada em seis dias

Depois do estado caótico descrito em Gênesis 1:2, Deus não criou novos céus nem uma nova Terra. A palavra hebraica bará (criar), usada no sentido de trazer à existência algo totalmente novo, aparece apenas três vezes em Gênesis 1 (vv.1, 21 e 27).

No relato do terceiro dia, porém, o termo “bará” não é mencionado. Isso indica que Deus não trouxe uma nova Terra à existência, mas restaurou a mesma Terra criada “no princípio”, que havia sido transtornada em consequência da rebelião de Lúcifer, ficando encoberta por trevas e pelas águas.

Então, o Senhor ordenou: “Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar, e apareça a porção seca. E assim foi” (Gn.1:9).

Portanto, a Terra já existia, apenas estava coberta pelas águas. Com sua poderosa palavra, Deus fez emergir a porção seca e organizou o mundo para ser habitado:

“E chamou Deus a porção seca Terra, e ao ajuntamento das águas chamou Mares. E viu Deus que era bom” (Gn.1:10).

Assim, a criação não foi recomeçada do zero, mas restaurada e ordenada em seis dias, revelando o poder soberano do Criador que transforma o caos em harmonia.

b.4) A Terra foi coberta pelo verde da vegetação

Também, em Gênesis 1:11, não aparece o verbo hebraico bará (“criar”), o que indica que Deus não trouxe novas plantas à existência, mas ordenou que as sementes já existentes na Terra original, preservadas em estado latente, voltassem a germinar.

“E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra. E assim foi. E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera cuja semente está nela conforme a sua espécie. E viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro” (Gn.1:11-13).

Assim, a Terra criada “no princípio”, após ter permanecido em estado caótico por um tempo que só Deus conhece, foi finalmente renovada e coberta pela vida vegetal, tornando-se novamente um ambiente fértil e adequado à habitação.

E, após preparar a Terra, o Criador trouxe à existência o homem, para cuidar de tudo o que Ele havia ordenado e restaurado:

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn.2:7).

Dessa forma, vemos a ordem divina: primeiro, Deus prepara a Terra; depois, coloca nela o ser humano como administrador da criação.

II. A CRIAÇÃO DO PRIMEIRO HOMEM

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra” (Gn.1:26).

“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn.1:27).

“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn.2:7).

Refletir sobre a criação do homem nos leva a Gênesis 2:7, onde o verbo “formar” descreve a ação cuidadosa de Deus. É a mesma palavra usada para o oleiro que molda o vaso (Is.29:16; Jr.18:4-6). Assim como o oleiro trabalha a argila, Deus moldou o homem com perfeição a partir do pó da terra e, em um gesto sublime, soprou nele o fôlego da vida. Esse ato não apenas deu existência física ao homem, mas o tornou um ser espiritual, moral e relacional.

1. O concílio da Trindade na criação do homem

A criação do ser humano foi fruto de uma decisão amorosa e soberana da Santíssima Trindade.

“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” (Gn.1:26).

O verbo “façamos”, no plural, indica que o Criador não estava só nesse ato. Pai, Filho e Espírito Santo se manifestaram em perfeita unidade, em um momento solene e singular da criação. Diferente dos demais seres, o homem foi feito como a coroa da obra criadora, refletindo a glória de Deus e chamado a exercer domínio sobre a Terra.

 O significado da expressão: “imagem e semelhança de Deus”

A expressão “à nossa imagem e semelhança” não se refere a aspectos físicos, pois Deus é Espírito (João 4:24). Ela aponta para atributos espirituais, morais e relacionais que distinguem o homem dos demais seres:

v  Tem espírito imortal – O homem recebeu o sopro divino e, por isso, tem capacidade de se relacionar com Deus em comunhão.

v  É um ser moral – Dotado de livre-arbítrio e consciência, não é governado apenas por instintos, como os animais.

v  É um ser racional – Possui inteligência, criatividade, discernimento e capacidade de abstração.

v  Tem domínio sobre a criação – Foi investido de autoridade como representante de Deus na Terra, chamado a administrar e cuidar da criação (Gn.1:26).

Assim, o homem foi formado como obra-prima da criação, portador da imagem divina e chamado a viver em comunhão com o Criador, exercendo com responsabilidade o governo da Terra.

2. A matéria prima do homem

O corpo do homem foi formado do pó da terra, assim como os animais (Gn.2:7,19), o que evidencia a relação do ser humano com o restante da criação. Contudo, não há nenhum elo biológico que ligue o homem aos animais; sua origem é singular e especial.

A ciência confirma que a substância do corpo humano contém os mesmos elementos encontrados no solo. O nome hebraico do homem, “Adão”, está ligado à palavra “Adamah”, que significa solo ou terra. Além disso, o verbo usado em Gênesis 1:27, bara (criar), indica que sua formação foi algo sem precedentes, fruto de um ato criativo único de Deus. Gênesis 2:7 diz: “Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra...”.

No original hebraico, a palavra “formou” traz a ideia de manipulação com as mãos, como o oleiro molda o barro. Deus moldou o homem de forma pessoal e cuidadosa, dando-lhe vida e singularidade.

Composição química do corpo humano

O corpo humano é composto por elementos que refletem a matéria da terra, de acordo com estudos científicos:

Constituinte

% no Corpo Humano

Oxigênio

66,0

Carbono

17,5

Hidrogênio

10,2

Cálcio

1,6

Fósforo

0,9

Potássio

0,4

Sódio

0,9

Cloro

0,3

Magnésio

0,105

Ferro

0,005

Iodo

0,005

Flúor

0,005

Outros elementos restantes

idem

Assim, a Bíblia e a ciência se complementam: o homem é feito do pó da terra, mas foi especialmente formado e dotado de vida pelo sopro de Deus, tornando-se uma criatura singular, à Sua imagem e semelhança.

3. O sopro divino (Gn.2:7)

“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.”

O fôlego de vida que Deus soprou não se refere ao ar que respiramos, mas à própria vida espiritual concedida ao homem — a expressão direta da imagem e semelhança de Deus. É por este sopro que o homem difere de toda a criação: enquanto o restante da natureza foi criado pela Palavra de Deus, o homem recebeu algo da essência do Criador, tornando-se singular.

Este texto descreve a criação da parte imaterial do homem, composta de alma e espírito:

·     Alma - sede dos pensamentos, sentimentos, personalidade e individualidade. É a parte consciente de si mesma, capaz de refletir, desejar e decidir.

·     Espírito - elo entre o homem e Deus; a instância que permite discernir o certo do errado, sentir a presença divina e ter comunhão com o Criador.

O termo “alma vivente” indica que o homem recebeu vida de Deus — não apenas existência física, mas vida plena em relação a Ele, uma vida que permite comunhão e reconhecimento de Sua soberania.

Paulo chama essa dimensão interior de “homem interior”, referindo-se à parte do homem que não é visível aos olhos, mas que é o núcleo do seu ser espiritual (cf. Rm.7:25; Pv.4:23; Ap.2:23).

Portanto, o homem foi criado com:

·         Espírito, para se relacionar com Deus;

·         Vontade, para obedecer e escolher o que é correto;

·         Corpo, para atuar e servir no mundo físico.

Em suma, o sopro divino tornou o homem uma alma vivente, integrada em corpo, alma e espírito, capacitado para refletir a glória de Deus e exercer domínio sobre a criação.

III. A MISSÃO E A TAREFA DO HOMEM

Por que Deus criou o homem? A Escritura revela diversas razões, todas convergindo para um propósito central: o homem foi criado para refletir e manifestar a glória de Deus no mundo que Ele preparou. Entre elas, destacam-se três principais:

1. Glorificar a Deus

Deus não precisava da criação humana; Ele é completo e independente. Todavia, por amor e sabedoria, Ele criou o homem para a Sua glória. Assim como a Trindade eterna sempre experimentou perfeita comunhão (João 17:5,24), Deus nos criou não por necessidade, mas para que nossa vida e nossas ações exaltassem Seu nome.

Nosso propósito essencial na vida é, portanto, claro: glorificar a Deus em tudo o que fazemos. Mesmo após a Queda do homem, Deus manteve Sua glória ao prover a redenção em Cristo Jesus, que, através de Seu ministério, morte e ressurreição, restaurou a possibilidade de louvor e adoração ao Criador.

O profeta Isaías afirma:

“Cantai alegres, vós, ó céus, porque o SENHOR fez isso; exultai, vós, montes, retumbai com júbilo; também vós, bosques e todas as árvores, porque o SENHOR remiu a Jacó e glorificou-se em Israel” (Is.44:23).

O Salmo 148 reforça este chamado universal ao louvor:

“Reis da terra e todos os povos, príncipes e todos os juízes da terra; rapazes e donzelas, velhos e crianças, que louvem o nome do SENHOR, pois só o seu nome é exaltado; a sua glória está sobre a terra e o céu. Ele também exalta o poder do seu povo, o louvor de todos os seus santos, dos filhos de Israel, um povo que lhe é chegado. Louvai ao SENHOR!”

Portanto, a missão do homem é clara: viver de modo a glorificar a Deus, reconhecendo Sua soberania, obedecendo à Sua Palavra e refletindo Sua imagem na criação.

2. Propagar a espécie

Deus abençoou o homem e disse:

“Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra” (Gn.1:28).

Desde a criação, o homem foi preparado fisicamente para cumprir a vontade de Deus, de modo que pudesse:  

·         Multiplicar-se;

·         Povoar a terra;

·         Dominar e administrar a criação, incluindo peixes, aves e animais.

O Perfeito Criador dotou o corpo humano de tudo o que seria necessário para cumprir esses propósitos. Para se multiplicar, o homem recebeu desejo sexual, capacidade de prazer e a função biológica necessária para gerar filhos. Tudo isso foi planejado pela Trindade santa; não houve necessidade de testes ou adaptações posteriores. O primeiro homem já nasceu com todas as condições ideais para cumprir a missão divina de propagação da espécie.

3. Governar e administrar o planeta

Após decidir criar o homem à Sua imagem e semelhança, Deus concedeu-lhe domínio sobre toda a criação, conferindo-lhe tanto um privilégio quanto uma responsabilidade. Como está registrado:

“E disse Deus: [...] domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra [...] dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra” (Gn.1:26,28).

 É essencial compreender que o homem não é o dono da Terra, pois tudo pertence ao Senhor (Lv.25:23; Sl.24:1; 1Co.10:26). O homem é, portanto, mordomo de Deus, chamado a cuidar das obras das Suas mãos.

Segundo Comentário Bíblico Beacon, o domínio concedido ao homem revela que Deus o equipou com aptidão para governar a criação:

·     Intelectual: capacidade para organizar, planejar, avaliar e tomar decisões justas.

·     Emocional: sensibilidade para promover o bem-estar dos seres criados, apreciar o que é bom, verdadeiro e belo, repudiar o que é cruel ou falso e amar a Deus.

·     Volitiva: disposição para agir corretamente, obedecer a Deus, adorar com alegria e viver em harmonia com a natureza e com o Criador.

Exercer domínio sobre a criação não significa exploração irresponsável. O homem deveria usar a Terra com sabedoria, preservando seus recursos, garantindo habitação, alimento e beleza, sempre consciente de que tudo pertence a Deus (Sl.24:1). Infelizmente, hoje frequentemente negligenciamos essa responsabilidade, contribuindo para a destruição do mundo criado. Exemplos incluem desperdício de água, poluição de rios e praias, e devastação da natureza. O chamado divino permanece: cuidar da criação com equilíbrio, reverência e gratidão ao Criador. 

CONCLUSAO

Aprendemos neste estudo que tudo que Deus criou - os Céus e a Terra, e tudo que nela há, e o ser humano -, foi para a sua glória. Isto nos lembra que nossa existência não é acidental: fomos criados com propósito e para glorificar a Deus, cuidar da criação e cumprir o chamado divino. Assim como o homem original, somos mordomos da criação, chamados a viver em harmonia com Deus, com a natureza e com nossos semelhantes, mantendo-nos fiéis ao projeto do Criador.

Que essa compreensão nos leve à adoração e à ação, lembrando sempre que tudo o que nos rodeia pertence ao Senhor e que nossa vida deve ser expressão de Sua glória.

 

Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Claudionor, de Andrade. A Raça humana – Origem, Queda e Redenção. CPAD.

Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. O homem, coroa da Criação. PortalEBD.

Bruce K. Waltke. Genesis. Editora Cultura Cristã.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Gênesis – a origem de todas as coisas.

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