Texto Base: Gênesis 2:1-8
INTRODUÇÃO
Este apêndice traz um conteúdo
mais completo da Introdução das Lições Bíblicas do 4º trimestre de 2025,
destacando a majestosa obra da criação dos céus, da terra e do primeiro ser
humano. Enquanto todo o universo foi trazido à existência pelo poder da Palavra
— criado a partir do nada (Hb.11:3) — o ser humano foi formado de maneira
singular: do pó da terra, pelas mãos do próprio Deus (Gn.2:7).
Diferente das demais
criaturas, o homem carrega a marca da imagem e semelhança divina (Gn.1:26).
Isso não significa que ele seja uma réplica de Deus, mas que possui atributos
que o distinguem: espiritualidade, racionalidade e capacidade moral. Por esse
motivo, foi chamado a viver em comunhão com o Criador, refletindo Sua glória e
caminhando em santidade (Ec.7:29; Ef.4:24; Cl.3:10).
A criação do homem revela não
apenas o cuidado de Deus, mas também Seu propósito: formar um ser capaz de se
relacionar com Ele, de pensar, escolher e viver para Sua glória. Este estudo
nos convida a contemplar essa origem extraordinária e a reconhecer o valor da
vida humana à luz da revelação bíblica.
I. A CRIAÇÃO
DOS CÉUS E DA TERRA
A criação dos Céus e da Terra
é um ato histórico e sobrenatural que aconteceu exatamente como está escrito no
Livro de Gênesis. Por que Deus criou tudo isto? Ele criou todas as coisas para
manifestação da sua glória (Sl.19:1-5; Is.6:3; 43:7). A criação da Terra foi
aplaudida pelos anjos, os quais foram criados antes da criação do mundo
material, conforme Deus revelou a Jó: “Onde estavas tu, quando eu fundava a
terra? ... Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os
filhos de Deus rejubilavam?” (Jó 38:4,7).
1. A criação dos Céus e dos anjos
“Pela
palavra do SENHOR foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito
da sua boca” (Sl.33:6).
“No
princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn.1:1).
a) A criação dos Céus (Gn.1:1;
Sl.33:6)
Os céus revelam a grandeza e o
poder de Deus, manifestando que Ele é o único Criador e que tudo existe para a
Sua glória. Eles são testemunho permanente de que nada escapa ao domínio do
Senhor — inclusive seus inimigos espirituais (Satanás e seus demônios).
A Escritura enfatiza que não
há apenas um céu, mas “céus” no plural:
· “Eis
que os céus e os céus dos céus são do SENHOR, teu Deus, a terra e tudo o que
nela há” (Dt.10:14).
· “Assim, os céus, e a terra, e todo o seu exército foram acabados” (Gn.2:1).
· “Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus...” (Sl.33:6).
O apóstolo Paulo também
confirma essa verdade ao relatar sua experiência espiritual: “Conheço um
homem em Cristo que... foi arrebatado até ao terceiro céu” (2Co.12:2).
a.1) O Primeiro Céu – O
Firmamento (Gn.1:16,17)
É
o espaço físico e visível, onde se encontram o sol, a lua, as estrelas,
planetas e galáxias.
·
Estudos apontam a existência de pelo menos 2
trilhões de galáxias, cada uma contendo bilhões de estrelas, todas em perfeita
ordem.
·
A ciência ainda não consegue explicar o que sustenta
o universo em sua totalidade, mas a Bíblia afirma que Deus é quem governa todas
as coisas.
“Conta o número das estrelas,
chamando-as a todas pelos seus nomes” (Sl.147:4).
Assim,
o firmamento não apenas manifesta a glória do Criador (Sl.19:1), mas também lembra
à humanidade que a origem de todas as coisas está em Deus, e nEle tudo
subsiste.
a.2) O Segundo Céu – As regiões
celestes (Ef.6:12)
“porque não temos que lutar
contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades,
contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da
maldade, nos lugares celestiais”.
Este
é o espaço invisível aos olhos humanos, onde acontecem as realidades
espirituais.
·
É nesse lugar que se travam as batalhas entre os
anjos de Deus e os exércitos de Satanás (Dn.10:12,13; Ap.12:7).
·
Também é ali que os demônios tramam estratégias
contra os servos de Deus (1Pd.5:8).
·
Mas o Senhor envia Seus anjos como protetores e
ministros em favor dos salvos:
“O anjo do Senhor acampa-se ao
redor dos que o temem, e os livra” (Sl.34:7).
“Não são todos eles espíritos
ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a
salvação?” (Hb.1:14).
Portanto,
o Segundo Céu é o campo de batalha espiritual, mas os filhos de Deus não estão
desprotegidos.
a.3) O Terceiro Céu – O Céu
dos céus, a habitação de Deus (Dt.10:14)
Esse
é o lugar da morada de Deus, onde está o Seu trono e a Sua glória (Is.66:1; Sl.103:19).
·
É chamado também de Paraíso (2Co.12:3,4), para onde
Jesus levou o ladrão arrependido (Lc.23:43).
·
O apóstolo Paulo foi arrebatado a este lugar e
ouviu palavras inefáveis, santas demais para serem reveladas aos homens.
·
Esse é o destino final dos salvos em Cristo:
“E assim estaremos sempre com
o Senhor” (1Ts.4:17).
“E Deus limpará de seus olhos toda lágrima... não haverá mais morte, nem
pranto, nem dor” (Ap.21:4).
No
Terceiro Céu, os remidos viverão livres da presença e do poder do pecado, em
perfeita comunhão com Deus, desfrutando da eternidade ao lado do Pai, do Filho,
do Espírito Santo, dos anjos e de todos os santos.
A revelação dos três céus
nos leva a contemplar a grandeza de Deus e a viver com esperança. Hoje
enfrentamos batalhas no “Segundo Céu”, mas nossa vitória já está garantida em
Cristo, e o nosso destino final é o “Terceiro Céu”, a morada eterna com o
Senhor. |
b) A criação dos anjos (Sl.33:6)
Depois de criar os céus, Deus
trouxe à existência os seres espirituais: os anjos. Eles não são eternos nem
divinos, mas criaturas formadas por Deus (Gn.1:1; Cl.1:16). Embora sejam
superiores ao homem em poder e natureza, são inferiores a Deus e jamais podem
ser confundidos com Ele.
b.1)
A natureza dos anjos
·
São espíritos criados (Hb.1:14), diferentes
do homem, que é composto de corpo, alma e espírito.
·
Não estão sujeitos às leis físicas, podendo aparecer
e desaparecer (Jz.6:21; Lc.1:11,13), desafiar a gravidade (Jz.13:20) e realizar
feitos extraordinários, como:
- Ferir
multidões (2Sm.24:16,17; 2Rs.19:35);
- Fechar
a boca de leões (Dn.6:22);
- Remover
grandes pedras (Mt.28:2);
- Libertar
prisioneiros (Atos 5:19; 12:7-11).
b.2)
Aparições e missão
·
Quando necessário, podem assumir forma humana para
serem percebidos pelos homens (Gn.18:1-10; Js.5:13-15; At.12:7,8).
·
Sua missão principal é servir a Deus e ministrar em
favor dos que hão de herdar a salvação (Hb.1:14).
b.3)
Natureza assexuada
·
Os anjos não possuem sexo, pois a sexualidade
pertence apenas à esfera terrena. Jesus mesmo afirmou que, no céu, seremos
“como os anjos” — sem casamento ou reprodução (Mt.22:29,30).
·
Assim, não há “anjos masculinos” ou “anjas”; são seres
espirituais, criados exclusivamente para cumprir os desígnios de Deus.
A criação dos anjos nos ensina que todo o universo, visível e
invisível, está debaixo do governo de Deus. Eles existem não para serem
adorados, mas para servir ao Senhor e aos Seus escolhidos. |
2. A criação da Terra (Gn.1:1; Sl.33:6) - Deus a
criou com inigualável sabedoria
“No princípio, criou Deus os céus e a terra”
(Gn.1:1).
Observe
que a Bíblia não diz que no princípio começou Deus a criar a Terra, e que após
milhões, bilhões de anos, em sucessivas eras geológicas, a Terra ficou pronta
para ser habitada. Não. A Bíblia diz que “no princípio criou Deus os céus e a
Terra” (Gn.1:1). Deus não precisa de tempo para criar, para fazer, para
aperfeiçoar alguma obra Sua. Sendo um Deus perfeito e Todo Poderoso, num só ato
Ele cria ou faz uma obra perfeita, sem necessidade de acabamentos ou retoques.
a)
A Terra que Deus criou era acabada, perfeita e bela
A
Terra foi criada por Deus com sabedoria incomparável, plena de ordem, beleza e
perfeição. Tudo o que o Senhor realiza reflete a Sua santidade e justiça.
“Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos
os seus caminhos são juízo. Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e
reto é” (Dt.32:4).
Logo
no princípio, a Terra não surgiu de forma caótica, como poeira cósmica sem
direção, mas foi chamada à existência pelo poder da Palavra de Deus, já como
uma criação acabada e harmoniosa.
Os
anjos foram os primeiros a contemplar a Terra recém-criada. Não presenciaram um
planeta desordenado ou vazio, mas uma obra perfeita, digna do louvor ao
Criador. O próprio Deus testifica disso a Jó: “Onde estavas tu, quando eu
fundava a Terra? ... quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e
todos os filhos de Deus rejubilavam?” (Jó 38:4-7).
Assim,
a criação da Terra revela não apenas o poder criador de Deus, mas também a Sua
glória e perfeição, levando toda criatura a reconhecer que nada do que Ele faz
é imperfeito.
A Terra criada
perfeita nos lembra que o propósito original de Deus para a humanidade também
era perfeito. O pecado corrompeu a criação, mas em Cristo aguardamos “novos
céus e nova terra, nos quais habita a justiça” (2Pd 3:13). |
b) Deus criou a Terra para ser habitada
Pela
informação que nos dá a Palavra de Deus e de forma clara narrada pelo profeta
Isaías, Deus criou a Terra para ser habitada.
“Porque assim diz o Senhor que tem criado os
céus, o Deus que formou a Terra, e a fez, ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas a formou para
que fosse habitada. Eu sou o Senhor e não há outro” (Is.45:18).
-Num primeiro momento, segundo
tudo indica, ao criar a Terra Deus entregou o seu governo a um Querubim ungido
(Ez.28:14). Esse Querubim falhou, pecou, e, em consequência, a Terra se tornou
“sem forma e vazia” (Gn.1:2).
-Num segundo momento,
Deus restaurou a Terra, devolvendo-lhe suas características originais. E para
cuidar dela, Deus criou o homem, um ser diferente de todas as demais criaturas
que já havia criado. O homem permanece cuidando da Terra e o fará até que o
Senhor Jesus Cristo venha para implantar o Seu Reino milenar sobre ela.
b.1) No princípio, Deus constituiu um Querubim para
cuidar da Terra original
“Tu eras querubim ungido para proteger, e te
estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas
andavas” (Ez.28:14).
A
Terra, desde o princípio, foi criada para ser habitada e plenamente cuidada por
Deus. O texto de Ezequiel 28 sugere que, antes da queda, um querubim ungido
recebeu de Deus uma posição especial de governo sobre a Terra original. Essa
esfera é chamada de “monte santo de Deus”, expressão que remete a um
estado paradisíaco, de perfeita ordem e glória.
Embora
não possamos afirmar com exatidão cronológica, por inferência de diferentes
passagens (Ez.28; Is.14:12), compreendemos que este querubim — identificado
tradicionalmente como Lúcifer, a “estrela da manhã” — exercia autoridade
delegada sobre a Terra e sobre os anjos sob seu comando.
Não
sabemos por quanto tempo a Terra original permaneceu nesse estado glorioso, mas
sabemos que tudo o que Deus criou era perfeito e em harmonia com Sua vontade.
A história do
querubim ungido nos adverte que mesmo as maiores posições de honra não isentam
ninguém da necessidade de humildade e obediência a Deus. A verdadeira segurança
não está na posição, mas em permanecer fiel ao Criador.
b.2) A Terra
original foi subvertida pelo pecado de Lúcifer
“E
tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus
exaltarei o meu trono... Subirei acima das mais altas nuvens, e serei
semelhante ao Altíssimo” (Is.14:13,14).
O pecado de Lúcifer foi a soberba:
desejou usurpar o trono de Deus. Em consequência desse ato, veio o juízo
divino, que atingiu não apenas o querubim rebelde, mas também a Terra. Assim, a
criação perfeita descrita no início foi transtornada, passando a existir no
estado registrado em Gênesis 1:2:
“E
a terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo; e o
Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”.
Essa condição é conhecida como
a Terra caótica: submersa pelas águas e mergulhada em trevas. Contudo,
mesmo em meio ao caos, a Escritura destaca que “o Espírito de Deus se movia
sobre a face das águas”, revelando que o Senhor jamais perdeu o controle sobre
Sua criação. A Terra nunca pertenceu a Satanás; sempre foi propriedade exclusiva
do Criador.
“Eis
que os céus, e os céus dos céus são do Senhor teu Deus, a terra e tudo o que
nela há” (Dt.10:14).
“Do
Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl.24:1).
Não é possível determinar em
números o tempo em que a Terra permaneceu nesse estado caótico — séculos,
milênios ou até bilhões de anos. Muitos estudiosos defendem que esse período
pode ter abrangido as eras geológicas reconhecidas pela ciência, explicando a
presença de fósseis com datações muito antigas. A Terra original, assim,
teria sido habitada por animais, mas não pelo homem.
O
pecado sempre gera desordem, trevas e caos, mas a presença do Espírito de Deus
garante que o mal nunca terá domínio absoluto. Assim como Ele restaurou a
Terra, também restaura vidas que se rendem ao Seu poder.
b.3) A Terra foi
restaurada em seis dias
Depois do estado caótico
descrito em Gênesis 1:2, Deus não criou novos céus nem uma nova Terra. A
palavra hebraica bará (criar), usada no sentido de trazer à existência
algo totalmente novo, aparece apenas três vezes em Gênesis 1 (vv.1, 21 e 27).
No relato do terceiro dia,
porém, o termo “bará” não é mencionado. Isso indica que Deus não trouxe
uma nova Terra à existência, mas restaurou a mesma Terra criada “no princípio”,
que havia sido transtornada em consequência da rebelião de Lúcifer, ficando
encoberta por trevas e pelas águas.
Então, o Senhor ordenou: “Ajuntem-se
as águas debaixo dos céus num lugar, e apareça a porção seca. E assim foi”
(Gn.1:9).
Portanto, a Terra já existia,
apenas estava coberta pelas águas.
Com sua poderosa palavra, Deus fez emergir a porção seca e organizou o mundo
para ser habitado:
“E
chamou Deus a porção seca Terra, e ao ajuntamento das águas chamou Mares. E viu
Deus que era bom” (Gn.1:10).
Assim, a criação não foi
recomeçada do zero, mas restaurada e ordenada em seis dias, revelando o poder
soberano do Criador que transforma o caos em harmonia.
b.4) A Terra foi
coberta pelo verde da vegetação
Também, em Gênesis 1:11, não
aparece o verbo hebraico bará (“criar”), o que indica que Deus não trouxe novas plantas à existência, mas ordenou que as
sementes já existentes na Terra original, preservadas em estado latente,
voltassem a germinar.
“E
disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera
segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra. E assim foi. E a
terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore
frutífera cuja semente está nela conforme a sua espécie. E viu Deus que era
bom. E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro” (Gn.1:11-13).
Assim, a Terra criada “no
princípio”, após ter permanecido em estado caótico por um tempo que só Deus
conhece, foi finalmente renovada e coberta pela vida vegetal, tornando-se
novamente um ambiente fértil e adequado à habitação.
E, após preparar a Terra, o
Criador trouxe à existência o homem, para cuidar de tudo o que Ele havia
ordenado e restaurado:
“E
formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego
da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn.2:7).
Dessa forma, vemos a ordem
divina: primeiro, Deus prepara a Terra; depois, coloca nela o ser humano como
administrador da criação.
II. A CRIAÇÃO DO PRIMEIRO HOMEM
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves
dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move
sobre a terra” (Gn.1:26).
“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de
Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn.1:27).
“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e
soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”
(Gn.2:7).
Refletir
sobre a criação do homem nos leva a Gênesis 2:7, onde o verbo “formar”
descreve a ação cuidadosa de Deus. É a mesma palavra usada para o oleiro que
molda o vaso (Is.29:16; Jr.18:4-6). Assim como o oleiro trabalha a argila, Deus
moldou o homem com perfeição a partir do pó da terra e, em um gesto sublime,
soprou nele o fôlego da vida. Esse ato não apenas deu existência física ao
homem, mas o tornou um ser espiritual, moral e relacional.
1. O concílio da Trindade na criação do homem
A
criação do ser humano foi fruto de uma decisão amorosa e soberana da Santíssima
Trindade.
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança...” (Gn.1:26).
O
verbo “façamos”, no plural, indica que o Criador não estava só nesse
ato. Pai, Filho e Espírito Santo se manifestaram em perfeita unidade, em um
momento solene e singular da criação. Diferente dos demais seres, o homem foi
feito como a coroa da obra criadora, refletindo a glória de Deus e chamado a
exercer domínio sobre a Terra.
O
significado da expressão: “imagem e semelhança de Deus”
A
expressão “à nossa imagem e semelhança” não se refere a aspectos
físicos, pois Deus é Espírito (João 4:24). Ela aponta para atributos
espirituais, morais e relacionais que distinguem o homem dos demais seres:
v
Tem espírito imortal
– O homem recebeu o sopro divino e, por isso, tem capacidade de se relacionar
com Deus em comunhão.
v
É um ser moral
– Dotado de livre-arbítrio e consciência, não é governado apenas por instintos,
como os animais.
v
É um ser racional
– Possui inteligência, criatividade, discernimento e capacidade de abstração.
v
Tem domínio sobre a criação
– Foi investido de autoridade como representante de Deus na Terra, chamado a
administrar e cuidar da criação (Gn.1:26).
Assim,
o homem foi formado como obra-prima da criação, portador da imagem
divina e chamado a viver em comunhão com o Criador, exercendo com
responsabilidade o governo da Terra.
O corpo do homem foi formado
do pó da terra, assim como os animais (Gn.2:7,19), o que evidencia a
relação do ser humano com o restante da criação. Contudo, não há nenhum elo
biológico que ligue o homem aos animais; sua origem é singular e especial.
A ciência confirma que a
substância do corpo humano contém os mesmos elementos encontrados no solo. O
nome hebraico do homem, “Adão”, está ligado à palavra “Adamah”,
que significa solo ou terra. Além disso, o verbo usado em Gênesis 1:27, “bara” (criar), indica que sua
formação foi algo sem precedentes, fruto de um ato criativo único de
Deus. Gênesis 2:7 diz: “Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da
terra...”.
No original hebraico, a
palavra “formou” traz a ideia de manipulação com as mãos, como o
oleiro molda o barro. Deus moldou o homem de forma pessoal e cuidadosa,
dando-lhe vida e singularidade.
Composição
química do corpo humano
O
corpo humano é composto por elementos que refletem a matéria da terra, de
acordo com estudos científicos:
Constituinte |
% no Corpo Humano |
Oxigênio |
66,0 |
Carbono |
17,5 |
Hidrogênio |
10,2 |
Cálcio |
1,6 |
Fósforo |
0,9 |
Potássio |
0,4 |
Sódio |
0,9 |
Cloro |
0,3 |
Magnésio |
0,105 |
Ferro |
0,005 |
Iodo |
0,005 |
Flúor |
0,005 |
Outros
elementos restantes |
idem |
Assim,
a Bíblia e a ciência se complementam: o homem é feito do pó da terra, mas foi
especialmente formado e dotado de vida pelo sopro de Deus, tornando-se uma
criatura singular, à Sua imagem e semelhança.
3. O sopro divino (Gn.2:7)
“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e
soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.”
O
fôlego de vida que Deus soprou não se refere ao ar que respiramos, mas à
própria vida espiritual concedida ao homem — a expressão direta da
imagem e semelhança de Deus. É por este sopro que o homem difere de toda a
criação: enquanto o restante da natureza foi criado pela Palavra de Deus, o
homem recebeu algo da essência do Criador, tornando-se singular.
Este
texto descreve a criação da parte
imaterial do homem, composta de alma e espírito:
· Alma
- sede dos pensamentos, sentimentos, personalidade e
individualidade. É a parte consciente de si mesma, capaz de refletir, desejar e
decidir.
· Espírito
- elo entre o homem e Deus; a instância que permite
discernir o certo do errado, sentir a presença divina e ter comunhão com o
Criador.
O
termo “alma vivente” indica que o homem recebeu vida de Deus — não
apenas existência física, mas vida
plena em relação a Ele, uma vida que permite comunhão e reconhecimento
de Sua soberania.
Paulo
chama essa dimensão interior de “homem interior”, referindo-se à parte
do homem que não é visível aos olhos, mas que é o núcleo do seu ser espiritual
(cf. Rm.7:25; Pv.4:23; Ap.2:23).
Portanto,
o homem foi criado com:
·
Espírito,
para se relacionar com Deus;
·
Vontade,
para obedecer e escolher o que é correto;
·
Corpo,
para atuar e servir no mundo físico.
Em
suma, o sopro divino tornou o
homem uma alma vivente,
integrada em corpo, alma e espírito, capacitado para refletir a glória de Deus
e exercer domínio sobre a criação.
III. A MISSÃO E
A TAREFA DO HOMEM
Por que Deus criou o homem? A
Escritura revela diversas razões, todas convergindo para um propósito central:
o homem foi criado para refletir e manifestar a glória de Deus no mundo
que Ele preparou. Entre elas, destacam-se três principais:
1. Glorificar a Deus
Deus não precisava da criação
humana; Ele é completo e independente. Todavia, por amor e sabedoria, Ele criou
o homem para a Sua glória. Assim como a Trindade eterna sempre experimentou
perfeita comunhão (João 17:5,24), Deus nos criou não por necessidade, mas para
que nossa vida e nossas ações exaltassem Seu nome.
Nosso propósito essencial na
vida é, portanto, claro: glorificar a Deus em tudo o que fazemos. Mesmo após a
Queda do homem, Deus manteve Sua glória ao prover a redenção em Cristo Jesus,
que, através de Seu ministério, morte e ressurreição, restaurou a possibilidade
de louvor e adoração ao Criador.
O profeta Isaías afirma:
“Cantai
alegres, vós, ó céus, porque o SENHOR fez isso; exultai, vós, montes, retumbai
com júbilo; também vós, bosques e todas as árvores, porque o SENHOR remiu a
Jacó e glorificou-se em Israel” (Is.44:23).
O Salmo 148 reforça este
chamado universal ao louvor:
“Reis
da terra e todos os povos, príncipes e todos os juízes da terra; rapazes e
donzelas, velhos e crianças, que louvem o nome do SENHOR, pois só o seu nome é
exaltado; a sua glória está sobre a terra e o céu. Ele também exalta o poder do
seu povo, o louvor de todos os seus santos, dos filhos de Israel, um povo que
lhe é chegado. Louvai ao SENHOR!”
Portanto, a missão do homem é
clara: viver de modo a glorificar a Deus, reconhecendo Sua soberania,
obedecendo à Sua Palavra e refletindo Sua imagem na criação.
Deus abençoou o homem e disse:
“Frutificai,
e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do
mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”
(Gn.1:28).
Desde a criação, o homem foi
preparado fisicamente para cumprir a vontade de Deus, de modo que pudesse:
·
Multiplicar-se;
·
Povoar a terra;
·
Dominar e administrar a
criação,
incluindo peixes, aves e animais.
O Perfeito Criador dotou o
corpo humano de tudo o que seria necessário para cumprir esses propósitos. Para
se multiplicar, o homem recebeu desejo sexual, capacidade de prazer e a função
biológica necessária para gerar filhos. Tudo isso foi planejado pela Trindade
santa; não houve necessidade de testes ou adaptações posteriores. O primeiro
homem já nasceu com todas as condições ideais para cumprir a missão divina de
propagação da espécie.
3. Governar e
administrar o planeta
Após decidir criar o homem à
Sua imagem e semelhança, Deus concedeu-lhe domínio sobre toda a criação,
conferindo-lhe tanto um privilégio quanto uma responsabilidade. Como está
registrado:
“E
disse Deus: [...] domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e
sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a
terra [...] dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre
todo o animal que se move sobre a terra” (Gn.1:26,28).
É essencial compreender que o homem não é o
dono da Terra, pois tudo pertence ao Senhor (Lv.25:23; Sl.24:1; 1Co.10:26). O
homem é, portanto, mordomo de Deus,
chamado a cuidar das obras das Suas mãos.
Segundo Comentário Bíblico
Beacon, o domínio concedido ao homem revela que Deus o equipou com aptidão para
governar a criação:
· Intelectual: capacidade para organizar,
planejar, avaliar e tomar decisões justas.
· Emocional: sensibilidade para promover
o bem-estar dos seres criados, apreciar o que é bom, verdadeiro e belo,
repudiar o que é cruel ou falso e amar a Deus.
· Volitiva: disposição para agir
corretamente, obedecer a Deus, adorar com alegria e viver em harmonia com a
natureza e com o Criador.
Exercer domínio sobre a
criação não significa exploração irresponsável. O homem deveria usar a Terra
com sabedoria, preservando seus recursos, garantindo habitação, alimento e
beleza, sempre consciente de que tudo pertence a Deus (Sl.24:1). Infelizmente,
hoje frequentemente negligenciamos essa responsabilidade, contribuindo para a
destruição do mundo criado. Exemplos incluem desperdício de água, poluição de
rios e praias, e devastação da natureza. O chamado divino permanece: cuidar da
criação com equilíbrio, reverência e gratidão ao Criador.
CONCLUSAO
Aprendemos
neste estudo que tudo que Deus criou - os Céus e a Terra, e tudo que nela há, e
o ser humano -, foi para a sua glória. Isto nos lembra que nossa existência não
é acidental: fomos criados com propósito e para glorificar a Deus, cuidar da
criação e cumprir o chamado divino. Assim como o homem original, somos mordomos
da criação, chamados a viver em harmonia com Deus, com a natureza e com nossos
semelhantes, mantendo-nos fiéis ao projeto do Criador.
Que
essa compreensão nos leve à adoração e à ação, lembrando sempre que tudo o que
nos rodeia pertence ao Senhor e que nossa vida deve ser expressão de Sua
glória.
Luciano de Paula
Lourenço
Disponível no
Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo
Pentecostal.
Bíblia de estudo
– Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.
Comentário
Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do
Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Claudionor,
de Andrade. A Raça humana – Origem, Queda e Redenção. CPAD.
Comentário
Bíblico Beacon. CPAD.
Pr. Caramuru
Afonso Francisco. O homem, coroa da Criação. PortalEBD.
Bruce K. Waltke. Genesis. Editora
Cultura Cristã.
Pr. Hernandes
Dias Lopes. Gênesis – a origem de todas as coisas.
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