quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Pregadores ou profissionais de púlpito?


Por: Pr. Geremias do Couto




Nada tenho contra eventos e a participação de pregadores convidados, embora continue a crer que tornar essa prática uma rotina na igreja local pode gerar todo tipo de consequências, entre elas a falta de substância, a perda de identidade, alem de uma exposição bíblica acidentada e fragmentada, em virtude das diferentes visões daqueles que vêm de fora. Tal fato se agrava quando ditos pregadores são profissionais de púlpito, portadores de um número limitado de mensagens - aquelas que mais agradam ao auditório - e por isso mesmo passam a pregar no "piloto automático", ou seja, de forma mecânica, com uma "graça" que não é graça, apelando a todos os chavões para movimentar a plateia. Com as exceções de praxe, sei que isso muitas vezes acontece por faltar na igreja local quem exponha de forma consistente a Palavra de Deus. Mas não deveria ser assim.

Este é o ponto que gostaria de focar nesta postagem.

Entendo que pregar é uma tarefa que nos impõe enorme responsabilidade. Não é simplesmente cumprir mais uma agenda, fazer uma exposição verborrágica e partir para o próximo compromisso. Não é massagear o ego dos ouvintes, enquanto os nossos bolsos são massageados com polpudos cachês. Não é contar um monte de histórias, a maioria delas inverossímeis, enquanto o nosso histórico é mais capenga do que carro dos anos 60 sem manutenção. Não é um exercício de oratória com o propósito de mostrar as nossas habilidades retóricas, que não passam de esqueletos sem carne e sem vida.

Afinal, o que é pregar?

Pregar significa, antes de tudo, comprometimento com Deus de tal maneira que nossa comunhão com ele seja como o nosso fôlego: se nos faltar, morremos. Isso implica em vida de oração, na qual a ênfase não é para o monólogo, onde falamos sozinhos, mas para o diálogo, onde a nossa intenção é ouvir mais e falar menos, mas dialogar com aquele que muitas vezes usa as janelas mais simples da vida para nos ensinar preciosas lições. Pregar implica, também, em ter prazer na leitura da Escritura. Não lê-la simplesmente com intuito acadêmico, mas com a finalidade de metabolizá-la e torná-la parte indissociável de nossas vidas. É saboreá-la assim como se saboreia a comida mais prazerosa que nos é oferecida. É cumprirmos um "rito" que se assemelha ao que usamos quando estamos diante de uma boa refeição. É degustar, enquanto comemos.

Afinal, o que é pregar?

Pregar significa deixar que a mensagem fale primeiro ao nosso coração antes de entregá-la ao povo. Não é um processo da noite para o dia. É laborioso, leva tempo, exige reflexão, meditação, assimilação e compreensão. Requer ousadia para permitir que ela - a mensagem - nos corrija e nos leve a um patamar de piedade em que somos expurgados de nossos pecados, o nosso "eu" é subjugado e o "eu" de Cristo predomine em plenitude. Enquanto a mensagem for algo pensado apenas para os ouvintes, terá menos valor até porque ela poderá produzir os seus efeitos, mas ficaremos de fora por não os experimentarmos nós mesmos. Precisamos pensá-la, antes, sobre de que forma ela se aplica em nós, quais os resultados produzirá em nosso coração. Em uma frase: o pregador prega primeiro para si mesmo. Se não for assim, é melhor deixar de pregar.

Afinal, o que é pregar?

Pregar é expor todo o conselho de Deus sem se preocupar se o povo aceitará ou não a mensagem. É obvio que pregamos com o propósito de edificar os ouvintes, mas pode ser que, no primeiro momento, essa edificação não seja aceita de bom grado por expor as vísceras pecaminosas de cada um, por configurar uma forma de retirar os carrapichos das ovelhas. Pode ser um momento sofrido, de dor, extremamente desconfortável, que, na hora, poderá causa rejeição, mas depois a alegria virá multiplicada pelos efeitos que produziu. Com isso, não advogo a estupidez, o uso da franqueza para justificar a grosseria, mas a fidelidade à mensagem que precisa ser transmitida.

Afinal, o que é pregar?

Pregar não é agir como camaleão, que muda de cor de acordo com as circunstâncias. Se o ambiente é conservador, a mensagem é conservadora. Se, por outro lado, o ambiente é liberal, a mensagem é flexibilizada. Entendo que, de acordo com o lugar, temos de usar linguagem adequada com a finalidade de tornar compreensível a mensagem para o auditório ao qual pregamos. Não ponho também em dúvida a necessidade de contextualizá-la ao meio, que é extrair de um texto escrito há milhares de anos a mensagem que se aplica à realidade atual. Refiro-me, de fato, àqueles que mudam o teor, alteram o conteúdo, aliviam os conceitos ou fazem tudo ao inverso só porque querem ficar "bem na fita" no ambiente em que estão. Para esses não há outra maneira de qualificá-los: são simplesmente profissionais de púlpito.

Temos de pregar a tempo e fora de tempo. Mas precisamos estar dispostos a sermos apenas ferramentas nas mãos de Deus. Não somos "showman". Não somos a pessoa para a qual os olhos dos ouvintes devem estar voltados. Não somos produtores de espetáculo. A mensagem não é nossa. Somos apenas o meio para que a glória seja sempre de Deus.

 

 

 

Um comentário:

  1. obrigada irmão Luciano de Paula por enriquecer meu blog. Deus te recompensará, tenha como certeza, quem espalha a palavra de Deus colhe chuvas de bênçãos.

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