segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Aula 09 – JESUS, O HOLOCAUSTO PERFEITO


3º Trimestre/2018

Texto Base: Levítico 1:1-9

 “Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez” (Hb.10:10).
INTRODUÇÃO
Na continuidade do estudo do livro de Levítico, trataremos nesta Aula a respeito do Holocausto, um tema frequente e relevante no Antigo Testamento. No holocausto, com o qual abre o livro de Levítico, temos uma figura de Cristo, que "se ofereceu, imaculado, a si mesmo a Deus" (Hb.9:14). Havia três classes de ofertas, dependendo do poder econômico do ofertante: novilho (Lv.1:3,5) macho sem defeito; carneiro ou cabrito (Lv.1:10), também macho sem defeito e; aves (Lv.1:14), podendo ser rolas ou pombinhos. Todos esses constituem animais pacíficos; nenhum animal feroz podia ser sacrificado no altar do Senhor. Peter Pell, em seu livro “O Tabernáculo”, sugere que esses animais representavam os atributos de nosso Senhor Jesus Cristo: o boi simbolizava sua resignação como trabalhador incansável, sempre fazendo a vontade do Pai por meio de uma vida de serviço perfeito e uma morte sacrificial perfeita; o carneiro refletia sua humildade em entrega e submissão total e voluntária à vontade de Deus; o cabrito o representava como nosso substituto; o pombinho indicava sua origem celestial. No holocausto, somos conduzidos a um ponto para além do qual é impossível ir, e esse ponto é a obra da cruz, realizada sob as vistas de Deus como expressão do afeto inquebrantável do coração de Cristo.
I. HOLOCAUSTO, O SACRIFÍCIO MAIS ANTIGO
Como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, o holocausto é o mais antigo sacrifício da história sagrada. Introduzido mui provavelmente por Abel, foi observado durante todo o período do Antigo Testamento. É o cerimonial que mais caracteriza o culto levítico; descreve, gestualmente, a peregrinação da alma penitente da Queda, no jardim do Éden, à Redenção, no monte Calvário.
Como se vê na Bíblia, o primeiro ato sacrificial em Gênesis ocorreu quando Deus vestiu Adão e Eva com peles de animais para cobrir sua nudez, sua vergonha (Gn.3:21). Certamente, Adão foi instruído para que o culto a Deus tivesse como elemento principal o sacrifício. É tanto que os seus filhos, Caim e Abel, assim praticavam. Se considerarmos o sacrifício que Abel ofereceu ao Senhor uma espécie de holocausto, então essa oferenda foi, de fato, a mais antiga da história sagrada (Gn.4:4).
Após o Dilúvio, “Noé edificou um altar ao Senhor; e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave limpa e ofereceu holocaustos sobre o altar” (Gn.8:20). Muito tempo antes de Moisés, os patriarcas Abrão, Isaque e Jacó também ofereceram verdadeiros sacrifícios.
Na Entrega da Lei no Monte Sinai houve um grande avanço na organização e na diferenciação dos sacrifícios. No culto levítico, Deus quis que essa sistemática estivesse bem presente, pois o sistema de sacrifícios tinha um objetivo: preparar a mente dos hebreus a entender as ideias de expiação e redenção.
Os sacrifícios incessantes de animais e a chama incessan­te do fogo do altar, foram sem dúvida propostos por Deus para gravar na consciência dos homens a convicção de sua própria pecaminosidade e para ser um quadro perdurável do sacrifício vindouro de Cristo, para quem apontavam e em quem foram cumpridos
1. Definição de Holocausto. O termo "holocausto" significa "o que sobe", visto que o material sacrificado se transformava em outro, a fumaça e as chamas, que subiam a Deus como cheiro suave. A expressão "cheiro suave ao Senhor" é a maneira humana de dizer que Deus se agrada da oferta. À semelhança do holocausto, quando o crente se consagra inteira e alegremente ao Senhor, o fogo divino transforma seu ser a fim de que suba ao céu o aroma de seu sacrifício. Simbolicamente, Paulo considerou a atitude dos irmãos filipenses, em favor da obra missionária, como holocausto de aroma suave (Fp.4:18) – “Mas bastante tenho recebido e tenho abundância; cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus”. Jesus consagrou-se ao Pai no rio Jordão e toda a sua vida terrenal e sua morte na cruz foram como o cheiro do holocausto subindo ao céu. O Pai lhe disse: "Tu és meu Filho amado, em ti me tenho comprazido" (Lc.3:22).
O holocausto era o primeiro e o mais importante sacrifício do culto divino no Antigo Testamento (Lv.1:1-3). Era a oferta que abria as solenidades diárias, sabáticas, mensais e anuais do calendário levítico. A cerimônia era conhecida também como oferta queimada.
Todas as manhãs e todas as tardes diante do tabernáculo se oferecia um cordeiro em holocausto para que Israel se lembrasse de sua consagração a Deus (Êx.29:38-42). O fogo no altar não poderia se extinguir (Lv.6:12,13). Da mesma maneira convém que renovemos nossa consagração diariamente. O santo fogo no altar (Lv.6:12) precisava ser mantido aceso porque: (a) Deus o havia iniciado (Lv.9:24); (b) representava a eterna presença de Deus no sistema de sacrifícios e; (c) mostrava ao povo que apenas através do gracioso favor de Deus seus sacrifícios poderiam ser aceitos.
Hoje, o fogo de Deus está presente na vida de cada crente. Ele acende a chama quando o Espírito Santo passa a habitar em nós, e zela tanto por isto que crescemos em graça enquanto andamos com Ele. Quando temos consciência de que Deus vive em nós, aproximamo-nos dele com confiança para pedir perdão e obter restauração. Podemos fazer o nosso trabalho com força e entusiasmo.
Observação: No templo havia três fogos que deviam estar sempre acesos:
·       O fogo do altar do holocausto (Lv.6:8-13). A parte do sacrifício, que era para ser queimada, era por meio deste fogo.
·       O fogo do castiçal (Êx.25:37; 27:21). Este fogo simboliza a necessidade de que sempre tenhamos o fogo do Espírito Santo aceso em nossa vida. Tem que estar aceso, para que a nossa luz esteja sempre acesa.
·       O fogo do altar do incenso (Êx.30:8). Sem o fogo neste altar a fumaça do incenso não podia subir, assim também nós precisamos de fogo nas orações, no louvor, na adoração, etc...
2. Objetivos do holocausto. O holocausto era o mais importante sacrifício do culto hebreu (Lv.1:1-3). Consistindo no oferecimento de aves e animais limpos, requeria a queima total da vítima; era pleno e incondicional (Lv.1:9). Tendo em vista a sua relevância, inaugurava todas as solenidades diárias, sabáticas, mensais e anuais do calendário litúrgico do Antigo Testamento. Dois eram os principais objetivos do holocausto: tornar o homem propício a Deus; preparar a mente dos hebreus a entender as ideias de expiação e redenção e mantê-los em proximidade e intimidade com Deus.
Para o Holocausto, era exigido um animal doméstico, macho sem defeito (em lugar de um animal selvagem que custaria pouco ao ofertante). Geralmente seria usado um touro, carneiro ou bode, mas os adoradores pobres podiam ofertar pombos, rolinhas (Lv.14:21,22; Lc.2:22-24). Cada ofertante se identificava com a sua oferta: ela deveria substituí-lo (Lv.1:4). O animal inteiro deveria ser consumido pelo fogo para representar a tremenda santidade de Deus ao lidar com o pecado. Essa oferta tipificava claramente a oferta voluntária de Cristo como o Cordeiro de Deus, em total obediência ao Pai. Ele sofreu o castigo pelo nosso pecado.
A oferta do animal para o sacrifício também simbolizava a apresentação voluntária do adorador a Deus. Somente quando nos identificamos com Cristo, nossa perfeita Oferta (Ef.5:2; Hb.10:10), podemos ser purificados do pecado e nos tornamos sacrifícios vivos para Deus (Rm.12:1,2).
O holocausto não era oferecido apenas pela culpa do pecado; era ofertado também como ação de graças a Deus por uma vitória alcançada - Josué celebrou uma importante vitória sobre os cananeus com holocaustos e ofertas pacíficas (Js.8:31); Gideão, ao ser comissionado pelo Senhor para libertar Israel, ofertou-lhe um holocausto (Jz.6:26); quando a Arca foi devolvida pelos filisteus, foi oferecido um sacrifício em agradecimento ao Senhor (1Sm.6:14); Samuel ofereceu sacrifício ao Deus de Israel, antecipando uma grande vitória sobre os filisteus (1Sm.13:9,10); a reforma de Ezequias foi marcada por generosos holocaustos (2Cr.29:7-35); após o retorno do exílio, os judeus, agradecidos a Deus pela restauração de seu culto, também ofereceram-lhe holocaustos que iam além de suas posses (Ed.8:35).
3. A tipologia do holocausto. A oferta do holocausto apontava para um sacrifício melhor e perfeito, não transitório (Sl.40:6; Hb.10:8,9); as demais ofertas eram transitórias e insuficiente para resolver o problema do pecado, conforme narra o escritor aos Hebreus: "Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar" (Hb.8:13). Os profetas do Antigo Testamento sabiam disso, e que uma Aliança superior e definitiva já havia sido providenciada por Deus (Jr.31:31-33):
“Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porquanto eles invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR. Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”
Os holocaustos da Antiga Aliança eram transitórios e imperfeitos, mas o sacrifício de Jesus Cristo é perfeito e eterno, porque Ele morreu e ressuscitou eficazmente por toda a humanidade. Graças a Deus, hoje não é preciso mais queimar nenhum animal. Jesus Cristo já realizou o sacrifício perfeito e vicário (1Co.5:7). Ele é o Holocausto perfeito porque nEle tudo o que era necessário para que o ser humano fosse salvo se realizou. Portanto, tudo está consumado (João 19:30). Tudo está pago (Cl.2:14). Aleluia!
II. O HOLOCAUSTO NA HISTÓRIA DE ISRAEL
O sistema sacrificial foi instituído por Deus para ligar a nação israelita a Ele próprio. O sacrifício era o meio pelo qual o povo podia aproximar-se de Deus. O Senhor ordenou: "Ninguém aparecerá vazio diante de mim" (Êx.34:20; Dt.16:16). Não obstante, os sacrifícios remontam ao período primitivo da raça humana. Mencio­na-se o ato pela primeira vez em Gênesis 4, no caso de Caim e Abel. Provavelmente, Deus mesmo ensinou os homens a oferecer sacrifício como meio de aproximar-se dele. A ideia ficou gravada na mente humana e o costume foi transmitido a toda a humanidade. Com o transcorrer do tempo, os sacrifícios oferecidos pelos que não conhe­ciam a Deus uniram-se a costumes pagãos e a ideias corruptas como, por exemplo, o conceito de que os deuses literalmente comiam a fumaça e o odor do sacrifício.
1. No período patriarcal. Neste período, que é anterior ao período mosaico, temos dois exemplos emblemáticos: Noé e Abraão. Noé, após sair da Arca, juntamente com sua família, erigiu um altar em agradecimento à graça salvadora de Deus, e tomou de todo animal limpo e de toda ave limpa e ofereceu holocaustos sobre o altar (Gn.8:20). Aqueles que são salvos da ira vindoura também devem adorar a Deus com a mesma gratidão. Adorar ao Senhor com sinceridade continua tão aceitável e agradável a Deus como na época de Noé. Por meio de uma aliança, o Senhor prometeu: “Não tornarei a amaldiçoar a terra [...] nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz” (Gn.8:21)
Observe que em Gênesis 6:5 e 8:21 Deus fala da grande maldade interior do coração do homem. No primeiro momento, não há sacrifício, de modo que o mundo acaba em julgamento. No segundo momento, porém, há sacrifícios, e Deus age misericordiosamente.
Com relação a Abraão, temos o sacrifício de um cordeiro oferecido ao Senhor, em substituição ao seu filho Isaque, quando a sua fé foi provada por Deus no monte Moriá (cf.Gn.22:1-18). Esta é uma das mais espetaculares experiências registradas nas Escrituras Sagradas. No momento em que Abraão tomou o cutelo para imolar o seu filho, o Anjo do SENHOR lhe bradou desde os céus e disse: não estendas a tua mão sobre o moço e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus e não me negaste o teu filho, o teu único filho. Então, levantou Abraão os seus olhos e olhou, e eis um carneiro detrás dele, travado pelas suas pontas num mato, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho Isaque (Gn.22:10-13). Abraão enfrentou a ameaça devastadora da morte e venceu seu poder pela confiança plena na integridade de Deus. Por outro lado, Deus demonstrou claramente que o sacrifício que ele deseja é inteireza de coração, rendição aos Seus mandamentos.
2. No período mosaico. Não se sabe se os israelitas, antes de chegarem ao Sinai, conheciam e distinguiam claramente os diversos tipos de ofertas. Já como nação liberta da escravidão do Egito, já como povo da Aliança, Israel recebeu instruções específicas com respeito aos sacrifícios. Levítico é o manual que instrui os israelitas como proceder de forma correta. Tudo seria executado de conformidade com as regras estabelecidas por Deus. Caso contrário, os israelitas corriam o risco de se enveredar pelas idolatrias egípcias e cananeias.
O Sistema Mosaica de Sacrifícios mostrava algumas informações importantes, a saber:
a) O motivo básico dos sacrifícios é a substituição e seu fim é a expiação. O pecado é sumamente grave porque é contra Deus. Além do mais, Deus "é tão puro de olhos que não pode ver o mal" (Hc.1:13). O homem que pecasse merecia a morte. Porém, em seu lugar, morria um animal inocente, e essa morte cancelava ou retirava o pecado.
Segundo Paul Hoff, esta possibilidade de alcançar a expiação do pecado mediante um sacrifício substitutivo evidencia a graça divina e constituía o coração da Antiga Aliança. Sem possibilidade de expiação, a lei permaneceria esplêndida, porém inatingível. Serviria apenas para condenar o homem deixando-o frustrado e desesperado. Se não fosse pelos sacrifícios, ficaria anulada toda a possibilidade de que o homem se aproximasse de Deus, um Deus santo, e o antigo concerto seria urna desilusão. Por mais que o homem se esforçasse por cumprir a lei, fracassaria por sua fraqueza moral. Por isso, enquanto a lei revela as exigências da santidade de Deus, a expiação por meio do sacrifício manifestava a graça divina que cumpria as exigências de Deus.
b) Relacionava-se com o sacrifício a ideia de consagração. Ao colocar as mãos sobre o animal antes de degolá-lo, o ofertante identificava-se com o animal. Oferecida sobre o altar, a vítima represen­tava aquele que a oferecia e indicava que o ofertante pertencia a Deus.
c) No sistema sacrificial encontrava-se a ideia de adoração. Sacrificar equivalia a "prestar culto a Deus, atribuir-lhe glória por ser o Deus de quem dependemos e a quem devemos culto e submissão". Infelizmente, com o transcorrer do tempo, os israelitas chegaram a atuar como se o que importasse para Deus fossem os próprios sacrifícios em lugar do coração piedoso do ofertante. O salmista Davi e os profetas procuraram inculcar no povo a verdade de que Deus não se contentava com as vítimas oferecidas quando faltavam o arrependimento, a fé, a justiça e a piedade naqueles que as ofereciam (cf.1Sm.15:22; Salmo 51:16, 17; Is.1:11-17; Mq.6:6-8.).
d) Tipo de animais que se ofereciam. A lei não admitia mais do que estas cinco espécies de animais como aptas para o sacrifício: a vaca, a ovelha, a cabra, a pomba e a rola. Estes eram animais limpos; o animal imundo não podia ser símbolo do sacrifício santo do Calvário. Só eram sacrificados animais domésticos porque eram estimados por seus donos, caros e submissos. De outro modo não poderiam ser figura profética dAquele que "como a Ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a sua boca" (Is.53:7). O animal devia ser sem mancha, simbolizando desse modo o Jesus Redentor, que é sem mácula.
e) A forma em que se ofereciam os sacrifícios. O ofertante seguia os seguintes atos:
  • Levava pessoalmente o animal à porta da cerca do Tabernáculo onde estava o altar do holocausto.
  • Depois punha as mãos sobre o animal para indicar que este era seu substituto. Em determinados sacrifícios este ato indicava a transferência dos pecados para o animal, e em outros, a dedicação da própria pessoa mediante seu substituto; podia, também, indicar ambas as coisas.
  • Degolava o animal como sinal da justa paga de seus pecados. Assim foi no caso de Jesus: a morte foi a consequência lógica de Ele haver carregado o pecado de todos nós (Is.53:6). A seguir, o sacerdote derramava o sangue sobre o altar.
  • Se fosse um holocausto, todo o animal era queimado; se não fosse holocausto, a parte da vítima era queimada, e o restante era comido pelos sacerdotes e suas famílias ou, no caso do sacrifício pacífico, pelos sacerdotes e pelos adoradores. Ao aproximar-se do Senhor com uma oferta queimada, o crente hebreu mostrava, através desse rito, a sua disposição de entregar, não somente a vítima ao Senhor, como também a si mesmo. O Salmo 51 revela tal voluntariedade no Rei Davi.
É bom enfatizar que, no Sistema Mosaico de Sacríficos, o Holocausto destacava-se entre as ofertas porque era inteiramente consumido pelo fogo do altar; era considerado o mais perfeito dos sacrifícios. Conquanto tivesse o aspecto expiatório, representava antes de tudo a consagra­ção do ofertante, pois a vítima era queimada inteira ao Senhor.
Todos os holocaustos levíticos prefiguravam o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo, Jesus Cristo, o Holocausto vicário e perfeito. A morte vicária de Jesus Cristo é, infinitamente, valorosa para o ser humano, já que só ela produz efeitos eternos, quais sejam: Propiciação, Expiação, Redenção e Reconciliação com Deus.
Pela morte vicária de Jesus Cristo, os pecados de quem crê nele como único e suficiente Salvador são perdoados. Quem tem os seus pecados perdoados, tem a vida eterna, a qual é dada pelo único que pode salvar, Jesus Cristo (Atos 4:12).
III. JESUS CRISTO, O HOLOCAUSTO PERFEITO
Na Antiga Aliança, os holocaustos apontavam para o plano perfeito da salvação que o Pai já havia preparado antes da fundação do mundo. Eles expunham a verdade de que Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, morreria em nosso lugar. Seu sacrifício foi perfeito, único e superior a todos os holocaustos já oferecidos, para resgatar-nos de nossos pecados, tornando-nos propícios ao Pai.
A fim de que o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, se tornasse o nosso holocausto perfeito, três coisas foram-lhe necessárias: a encarnação, o sofrimento e morte, e a ressurreição. A morte e a ressurreição de nosso Senhor foram o "clímax" de todo o plano divino para prover uma salvação suficiente e eterna para todo aquele que nele crer, ou seja, para todo aquele que o receber como único Senhor e suficiente Salvador. Ele é o Holocausto dos holocaustos.
A Bíblia apresenta todos os seres humanos como pecadores, vivendo num estado de morte espiritual e destinados à morte física e eterna. Vivem na morte porque estão separados da comunhão com Deus e incapazes de restaurar sozinhos essa comunhão que dá vida (Rm.5:12;8). A sentença de morte pesa sobre o ser humano por causa da sua identificação com a queda de Adão (Rm.5:14), sua rebelião contra Deus (Cl.1:21,22) e seu pecado constante (Gn.6:5; 8:21; Rm.3:10).
Logo após a Queda do homem, Deus revelou seu plano para salvá-lo (Gn.3:15). Ele tomaria sobre Si o castigo do pecado de cada indivíduo e renovaria a comunhão rompida. O plano foi implementado quando Jesus Cristo, Deus encarnado, se ofereceu por nós (Hb.9:1-28).
Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, em seu livro “Hebreus”, Cristo ofereceu, uma vez por todas, o sacrifício de si mesmo, para satisfazer a justiça divina e nos reconciliar com Deus. Nossa culpa foi transferida e imputada a Ele, que sofreu a penalidade que nós deveríamos sofrer. Ele eliminou o pecado pelo sacrifício de si mesmo.
·         Os sacerdotes do tabernáculo terreno ofereciam o sangue de animais; Cristo ofereceu o próprio sangue.
·         Os sacerdotes terrenos entravam no santuário muitas vezes porque ofereciam o sangue de animais pelos pecados do povo; Cristo entrou de uma vez por todas porque ofereceu o seu próprio sangue.
·         O ministério dos sacerdotes terrenos era contínuo e insuficiente; o de Cristo foi único e obteve redenção eterna para nós.
·         Os sacrifícios terrenos eram isentos de mácula apenas física; Cristo entregou-se a si mesmo sem mancha a Deus, isento de toda mácula moral e espiritual. Ele não conheceu pecado.
·         As bênçãos advindas por meio do tabernáculo terrestre eram temporais; as que Cristo oferece são espirituais e eternas.
No entendimento do Rev. Hernandes Dias Lopes, o Holocausto de Cristo enseja-nos três gloriosas bênçãos:
a) Eterna redenção (Hb.9:12). O sangue de bodes e bezerros não podia purificar o povo de seus pecados, mas apenas lhes oferecer purificação cerimonial. Por isso, esses sacrifícios precisavam ser repetidos constantemente. Cristo, porém, ofereceu seu próprio sangue como sacrifício eficaz, para adquirir para seu povo eterna redenção. De acordo com William Barclay, “a eterna redenção" pressupõe que o homem estava sob o domínio do pecado e debaixo de escravidão. Da mesma forma que devia pagar um preço para libertar um homem da escravidão, assim também Cristo pagou alto preço para libertar-nos da tirania do pecado. O homem não podia libertar a si mesmo, mas Cristo, com seu sacrifício, obteve para ele eterna redenção. Cristo foi moído na prensa de uvas da ira do Pai. Ele sofreu um eclipse duplo na cruz: um eclipse solar e um eclipse da luz da face de Deus. Ele sentiu as dores do inferno em sua alma. Ele sofreu em nosso lugar para cumprir as profecias das Escrituras (Lc.24:46). Ele ofereceu seu sangue para conduzir-nos favoravelmente a Deus. Cristo morreu para selar o testamento com seu sangue e comprar para nós mansões gloriosas. Ele foi pendurado na cruz para que pudéssemos nos assentar no trono. Sua crucificação é nossa coroação. Se Ele não tivesse subido à cruz, nós desceríamos ao inferno.
b) Purificação da consciência (Hb.9:13,14). Os sacrifícios da Antiga Aliança não podiam tratar da purificação da consciência; não podiam oferecer pleno perdão nem eterna redenção. Mas, o sacrifício único, irrepetível e eficaz realizado por Cristo oferece purificação interior e consciência inculpável.
O Rev. Augustus Nicodemus diz que a religião no mundo todo é a tentativa do homem de resolver esse problema da consciência. A culpa é universal. O homem tenta de tudo para aplacar sua consciência carregada de culpa. Desde os homens mais civilizados até os homens mais embrutecidos, todos lidam com o drama de uma consciência atormentada pela culpa. Há apenas uma coisa capaz de purificar a consciência humana: o sangue de Cristo derramado em nosso favor, como um pagamento completo, perfeito e absoluto. Essa é a resposta do cristianismo ao problema da consciência culpada.
c) Serviço santificado (Hb.9:14). Somente aqueles cuja consciência foi purificada das obras mortas pelo sangue de Cristo podem servir ao Deus vivo. O sangue de Cristo nos purifica diante de Deus e purifica também nosso serviço para Deus. Segundo Orton H. Wiley, a purificação da consciência não é só necessária para a comunhão com Deus, mas também para o serviço prestado a Deus. A consciência marcada pela culpa do pecado impede o acesso a Deus e, portanto, o serviço aceitável a Ele.
A pregação sem unção, as orações sem fervor, o cântico sem entusiasmo e os testemunhos vazios ou outros serviços meramente formais, nada disso é aceitável a Deus. O sacrifício de Jesus não contempla apenas o passado, mas também o futuro. Não faz apenas que o homem seja perdoado, mas também que seja instrumentalizado para fazer a obra de Deus. Não apenas paga sua dívida, mas também lhe concede vitória.
Nosso Senhor ofereceu o seu próprio sangue, não o sangue de bode e bezerros. O sangue de animal não tinha poder para aniquilar os pecados; ele era eficaz somente em casos de ofensas técnicas contra o ritual religioso. Mas o sangue de Cristo é de valor infinito; seu poder é suficiente para purificar todos os pecados de todos os povos que já viveram, que vivem e que ainda viverão. É evidente que seu poder é aplicável somente àqueles que chegam a Cristo pela fé. Mas o potencial de purificação é ilimitado.
Jesus foi o Cordeiro de Deus imaculado e sem pecado, cuja perfeição o qualificou para ser aquele que carrega nosso pecado. Os animais para os sacrifícios tinham de ser fisicamente sem manchas; Jesus era moralmente sem mácula.
O nosso Senhor “entrou no Santo dos santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (Hb.9:12). Na ascensão, Ele entrou na presença do Deus Pai, tendo concluído a obra da redenção no Calvário. Portanto, nunca deveríamos parar de nos regozijar com estas palavras: “uma vez por todas”. A obra está completa. Louvado seja o Senhor Jesus!
Os sacerdotes levíticos ofereciam holocaustos pelo pecado, dia após dia; Cristo sacrificou-se uma só vez. Os sacerdotes levíticos sacrificavam animais; Cristo ofereceu a si mesmo. Os sacrifícios levíticos apenas cobriam o pecado; o sacrifício de Cristo removeu o pecado. Os sacrifícios levíticos cessaram; o sacrifício de Cristo tem eficácia eterna.
Assim, Cristo está agora assentado “à destra de Deus Pai” (Hb.10:12; cf. Hb.1:3; 8:1; 12:2), e isto demonstra que Ele completou Sua obra, obedientemente, e foi exaltado a uma posição de poder e honra.
Cristo, o Holocausto supremo e perpétuo, é o único sacrifício pelo pecado que existe atualmente. Ninguém, pois, deve rejeitar o Holocausto redentor de nosso Senhor Jesus; as pessoas que rejeitam a Cristo sofrerão o terrível juízo divino (Hb.10:30,31).
“Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo”.
CONCLUSÃO
Com o Holocausto perfeito do Cordeiro perfeito de Deus, o sistema sacrificial terminou; o próprio Deus abriu o Caminho para o perdão e a restauração da comunhão. Agora, podemos desfrutar de acesso direto ao Pai (João 10:27-30; 14:6,15; 17:3,21-23). Não há mais necessidade de um sacerdote para representar-nos diante de Deus, porque agora temos o Sumo-Sacerdote perfeito (1Tm.2:5). Em nome de Jesus Cristo, o grande Sumo-Sacerdote, podemos nos aproximar do trono de Deus para receber perdão de pecados, assim como ajuda e orientação para todos os problemas da vida (Hb.4:14-16; 1João 2:1,2). Aleluia!
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 75. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Comentário Bíblico Bacon.
C.H. Mackintosh. Estudo sobre o Livro de Levítico.
Pr. Claudionor de Andrade. Adoração, Santificação e Serviço – Os princípios de Deus para sua Igreja em Levítico. CPAD.
Paul Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Hebreus. A Superioridade de Cristo.
Orton H. Wiley. Comentário exaustivo da carta aos Hebreus.
William Barclay. Hebreus.

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