domingo, 27 de julho de 2025

UMA IGREJA CHEIA DE AMOR

         3º Trimestre/2025

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 05

Texto Base: Atos 4:32-37

E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns” (Atos 4:32).

Atos 4:

32.E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.

33.E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça.

34.Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos.

35.E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.

36.Então, José, cognominado, pelos apóstolos, Barnabé (que, traduzido, é Filho da Consolação), levita, natural de Chipre,

37.possuindo uma herdade, vendeu-a, e trouxe o preço, e o depositou aos pés dos apóstolos.

INTRODUÇÃO

O verdadeiro cristianismo se revela, antes de tudo, por meio do amor. Em Atos dos Apóstolos, a Igreja de Jerusalém destacou-se como um modelo vivo de uma comunidade profundamente transformada pelo amor de Deus. Esse amor não era apenas um sentimento piedoso ou um impulso emocional, mas uma evidência concreta da ação do Espírito Santo nos corações dos crentes. Ele os movia à comunhão sincera, ao cuidado mútuo, à generosidade, à oração constante e ao compromisso com a missão.

Nesta lição, veremos como o amor ágape — a expressão suprema da graça divina — se manifestava na vida da igreja primitiva, tornando-a uma comunidade acolhedora, solidária e missionária. Analisaremos como a prática do amor fraternal promovia unidade, fortalecia os laços entre os irmãos e levava os crentes a suprirem as necessidades uns dos outros, mesmo diante de perseguições e dificuldades.

Ao refletirmos sobre esse exemplo, somos desafiados a cultivar uma espiritualidade marcada por relacionamentos restaurados, ações concretas de amor e um compromisso firme com a verdade do Evangelho. Que a experiência da Igreja em Jerusalém nos inspire a edificar comunidades locais que expressem, em palavras e ações, o amor que recebemos de Cristo.

I. O AMOR MANIFESTADO NA COMUNHÃO CRISTÃ

1. O crescimento da Igreja Cristã

Lucas descreve a Igreja de Jerusalém como “a multidão dos que criam” (Atos 4:32), indicando um crescimento notável e contínuo da comunidade cristã. A igreja que começou com apenas 120 discípulos (Atos 1:15), rapidamente se expandiu: quase três mil pessoas converteram-se no Pentecostes (Atos 2:41), e outras cinco mil após a cura do paralítico na porta do Templo (Atos 4:4). O crescimento era uma realidade visível, e Lucas frequentemente registra esse avanço como marca da ação poderosa do Espírito Santo.

Esse crescimento, no entanto, não era apenas numérico, mas também qualitativo. As Escrituras revelam que o crescimento da igreja se dá em duas dimensões: interna e externa. O crescimento interno refere-se à maturidade espiritual dos crentes: maior profundidade na adoração, na oração, no estudo das Escrituras, na prática do amor fraternal e no fruto do Espírito. Já o crescimento externo pode ser observado em três aspectos:

ü  Expansão, que diz respeito à evangelização e à conversão de novos crentes;

ü  Extensão, que envolve a plantação de novas igrejas em uma mesma cultura;

ü  Pontes, que se refere à obra missionária em contextos transculturais — o Evangelismo além das fronteiras.

Assim, o crescimento da Igreja é tanto um sinal da ação do Espírito como também um objetivo legítimo de uma comunidade viva e saudável. A verdadeira igreja cresce porque a obra é de Deus, e o que vem de Deus ninguém pode impedir (Is.43:13).

2. Os desafios do crescimento

O crescimento exponencial da Igreja de Jerusalém, descrito em Atos como “multiplicação” (Atos 6:7), trouxe não apenas alegrias, mas também desafios significativos. Uma comunidade que começou com um grupo reduzido de discípulos rapidamente se transformou em uma multidão diversa, com diferentes origens, maturidades espirituais e necessidades. Com isso, surgiram tensões inevitáveis: conflitos culturais, necessidades sociais crescentes, disputas por atenção pastoral e dificuldades de administração eclesiástica.

A grande questão era: como manter a unidade em meio à complexidade? A resposta é encontrada no amor fraternal. A Igreja só permaneceu coesa porque estava alicerçada no amor que vem de Deus — “o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm.5:5). Esse amor é mais do que afeição humana; é um dom divino que transforma relacionamentos e sustenta a comunhão cristã.

Paulo, ao escrever aos colossenses, afirma que o amor “é o vínculo da perfeição” (Cl.3:14), ou seja, é o que une todas as virtudes e relacionamentos em harmonia. Sem esse amor, o crescimento se torna frágil e suscetível a divisões. Igrejas que se fragmentam, geralmente, não caíram por causa da doutrina ou da administração, mas porque o egoísmo substituiu o amor — e onde o amor desaparece, a unidade se rompe.

Portanto, o crescimento saudável da Igreja depende não apenas de estratégia ou estrutura, mas da presença viva do amor de Deus entre os irmãos, sustentado pelo Espírito Santo. O desafio do crescimento só pode ser vencido por uma igreja que vive esse amor de forma prática, visível e constante.

3. A vida interior

“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam....” (Atos 4:32.

Este texto é uma das descrições mais belas e profundas da comunhão da Igreja de Jerusalém. Ela expressa não apenas uma unidade de pensamento ou objetivo, mas uma integração espiritual e afetiva entre os crentes. “Coração” e “alma” representam, na linguagem bíblica, os centros das emoções, da vontade e da identidade — ou seja, a igreja vivia em comunhão verdadeira, com propósitos alinhados e afetos santificados.

Essa unidade não era fruto de mero esforço humano ou uniformidade forçada, mas resultado da obra sobrenatural do Espírito Santo, que já havia descido sobre os crentes no Pentecostes (Atos 2:4) e continuava operando poderosamente entre eles (Atos 4:31). O mesmo Espírito que os impulsionava para a missão fora da igreja (Atos 1:8) também os fortalecia interiormente para viverem em comunhão. A vida interior da igreja, portanto, era o reflexo da presença de Deus em seu meio — uma vida marcada por humildade, generosidade, empatia e mutualidade.

Essa expressão de unidade revela que o crescimento numérico da igreja não comprometeu sua saúde espiritual. Pelo contrário, a expansão exterior estava firmemente sustentada por uma vida interior robusta, alicerçada no amor, na oração e na submissão ao Espírito. Onde o Espírito Santo governa, há não apenas poder para evangelizar, mas também graça para manter os crentes unidos em meio às diferenças.

A lição que fica para nós é clara: a verdadeira eficácia da igreja no mundo depende da sua vida interior. Uma igreja que não cuida de sua comunhão interna, por mais ativa que seja externamente, se tornará frágil e vulnerável. O Espírito Santo deseja não apenas uma igreja que proclama com ousadia, mas também que vive com profundidade.

O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO I - O AMOR MANIFESTADO NA COMUNHÃO CRISTÃ

Este tópico nos ensina que o verdadeiro crescimento e a força da Igreja não estão apenas em números ou estruturas, mas na profunda comunhão gerada pelo amor de Deus, derramado pelo Espírito Santo entre os irmãos.

1. O crescimento da Igreja Cristã. A Igreja de Jerusalém crescia de forma visível e poderosa, tanto quantitativamente (em número de convertidos) quanto qualitativamente (em maturidade espiritual). Esse crescimento era resultado direto da ação do Espírito Santo e da fidelidade dos crentes à missão. Aprendemos que o crescimento saudável da igreja envolve:

  • Expansão: evangelização e conversões;
  • Extensão: plantação de novas igrejas;
  • Pontes: missão transcultural. Ou seja, uma igreja viva cresce para dentro (em profundidade) e para fora (em alcance), sempre guiada por Deus.

2. Os desafios do crescimento. Com o crescimento vêm os desafios: diferenças culturais, necessidades sociais e conflitos internos. A resposta da Igreja Primitiva foi o amor fraternal, sustentado pelo Espírito Santo. Aprendemos que:

  • O amor é o vínculo da perfeição (Cl.3:14);
  • A unidade não se mantém por estruturas, mas por relacionamentos transformados pelo amor de Deus;
  • Onde o amor desaparece, a comunhão se rompe. Portanto, o crescimento só é sustentável quando a igreja vive o amor de forma prática e constante.

3. A vida interior. A expressão “um só coração e uma só alma” (Atos 4:32) revela uma comunhão profunda, não apenas de ideias, mas de afetos e propósitos. Essa unidade era fruto da ação contínua do Espírito Santo, que fortalecia a vida interior da igreja. Aprendemos que:

  • A comunhão verdadeira nasce da presença de Deus no meio do povo;
  • A vida interior da igreja sustenta sua missão exterior;
  • Uma igreja espiritualmente saudável é marcada por humildade, generosidade, empatia e mutualidade. Sem essa vida interior robusta, a igreja se torna vulnerável, mesmo que pareça ativa externamente.

Aplicações práticas:

  • Para líderes: Priorizar a formação espiritual e a comunhão entre os membros é essencial para um crescimento saudável.
  • Para igrejas locais: O amor fraternal deve ser cultivado como base da unidade e da missão.
  • Para cada cristão: Viver em comunhão é mais do que estar presente — é compartilhar a vida, os dons e o amor de Cristo com os irmãos.

II. O AMOR COMO MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA

1. A graça como manifestação do Espírito

A manifestação da graça de Deus por meio do Espírito Santo está intrinsecamente ligada a uma igreja que vive em comunhão e está cheia de amor fraternal. Em Atos 4:33, lemos que “com grande poder davam os apóstolos testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça”. Isso revela que a atuação poderosa do Espírito Santo – tanto na proclamação da Palavra quanto na vivência comunitária – é sustentada pela graça divina que opera em meio à unidade dos crentes.

A oração por ousadia (Atos 4:29-31) foi respondida não apenas com poder para pregar, mas também com a graça que os capacitou a viver em comunhão generosa. Martyn Lloyd-Jones afirmou que a pregação é “lógica em fogo”, porque ela une conteúdo bíblico sólido à ação viva do Espírito. E Paulo corrobora essa visão ao afirmar que sua pregação não consistia em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e poder (1Co.2:4; 1Ts.1:5).

Porém, esse poder não flui num ambiente fragmentado ou dominado por disputas carnais. O Espírito Santo encontra liberdade para agir onde reina o amor, pois esse é o verdadeiro sinal de maturidade espiritual. Uma igreja pode ter ordem, doutrina e dons, mas se lhe faltar amor (1Co.13), será espiritualmente estéreo. O Espírito opera poderosamente onde os crentes vivem em perdão, serviço mútuo e humildade (Ef.4:30-32). Jesus ensinou que nossa reconciliação com o próximo é condição para manter comunhão com Deus (Mt.6:15; 18:35), o que mostra que o amor cristão não é apenas um sentimento, mas um imperativo espiritual.

Portanto, a graça manifesta-se com plenitude em ambientes de amor genuíno. Regras podem organizar, mas somente a graça unida ao amor pode vivificar. Uma igreja cheia do Espírito é, antes de tudo, uma igreja cheia de graça, verdade e amor.

2. A graça como favor imerecido

“...e em todos eles havia abundante graça” (Atos 4:33).

Esta expressão revela uma dimensão profunda da vida comunitária da Igreja de Jerusalém. Aqui, a palavra "graça" (do grego charis) não se limita ao favor salvador que concede a justificação, mas também aponta para a ação contínua e transformadora de Deus na vida da comunidade dos crentes. Essa graça era visível, contagiante e atuante: ela produzia unidade, generosidade, poder para testemunhar e um ambiente espiritual onde o amor era vivido com sinceridade.

Ao afirmar que “em todos eles havia abundante graça”, Lucas destaca que não apenas os apóstolos estavam sob esta influência divina, mas toda a igreja — o que evidencia que a graça não é elitista, limitada a líderes ou ofícios específicos. Ela é derramada sobre todos os que creem (Rm.5:1-5; Ef.4:7). O resultado disso é uma comunidade viva, que atua em amor prático e serviço mútuo, sem interesse pessoal.

O conceito bíblico de graça como favor imerecido é central: os cristãos em Jerusalém não viviam em comunhão por mérito próprio, mas por terem sido alcançados por essa atuação gratuita e misericordiosa de Deus. É esse entendimento que gerava nos crentes um profundo senso de gratidão, conforme vemos refletido na vida do apóstolo Paulo, que reconhece: “Pela graça de Deus sou o que sou” (1Co.15:10). Essa consciência move o crente não para o conformismo, mas para o serviço abundante, motivado pelo amor e pela gratidão.

Além disso, essa graça não produzia passividade, mas dinamismo espiritual. Era uma força motivadora que levava a igreja à ação: a testemunhar com ousadia, a socorrer os necessitados, a viver em unidade verdadeira. Isso também se tornou um padrão nas demais igrejas do Novo Testamento (1Ts.4:9), indicando que uma igreja viva e cheia de amor é, antes de tudo, um reflexo visível da graça abundante de Deus.

Portanto, a graça como favor imerecido é o fundamento da vida cristã saudável e frutífera. Onde há entendimento profundo da graça, haverá humildade, serviço, gratidão e comunhão — sinais claros de uma igreja viva no Espírito e rica em amor.

O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO II - O AMOR COMO MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA

Este tópico nos ensina que a verdadeira comunhão cristã não é apenas uma prática social ou uma afinidade natural entre os crentes, mas uma expressão visível da graça de Deus operando por meio do Espírito Santo em um ambiente de amor genuíno.

1. A graça como manifestação do Espírito. A igreja de Atos 4:33 é descrita como cheia de poder e de graça. Isso nos mostra que a ação do Espírito Santo está diretamente ligada à vivência do amor e da comunhão. A oração por ousadia foi respondida com poder para pregar e com graça para viver em unidade. Aprendemos que:

  • O Espírito opera com liberdade onde há amor, perdão e humildade;
  • A graça não é apenas um conceito teológico, mas uma realidade prática que transforma relacionamentos;
  • Uma igreja cheia do Espírito é também uma igreja cheia de graça, onde o amor é vivido de forma concreta e visível.

2. A graça como favor imerecido. A expressão “em todos eles havia abundante graça” revela que a graça de Deus não era privilégio de alguns, mas uma realidade coletiva. Ela não apenas justificava os crentes, mas os capacitava a viver em comunhão, generosidade e serviço mútuo. Aprendemos que:

  • A graça é o fundamento da vida cristã e da comunhão verdadeira;
  • Onde há entendimento profundo da graça, há humildade, gratidão e disposição para servir;
  • A graça não gera passividade, mas dinamismo espiritual — ela move a igreja à ação, ao testemunho e ao cuidado mútuo.

Aplicações práticas:

  • Para líderes: Ensinar sobre a graça como força transformadora ajuda a formar uma igreja mais madura e acolhedora.
  • Para igrejas locais: A graça deve ser visível na forma como os membros se tratam — com perdão, generosidade e amor.
  • Para cada cristão: Viver pela graça é reconhecer que tudo o que temos vem de Deus, e por isso devemos viver em gratidão e serviço.

III. A MANIFESTAÇÃO DO AMOR NA SOLIDARIEDADE CRISTÃ

1. A busca pela equidade

“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns” (Atos 4;33).

A Igreja de Jerusalém foi marcada por uma profunda consciência social impulsionada pelo amor cristão. A equidade, diferentemente da mera igualdade, busca corrigir desigualdades, levando em conta as condições e necessidades específicas de cada indivíduo. De acordo com o Dicionário Aurélio, equidade é a “disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um”, e foi exatamente esse princípio que norteou a ação da igreja primitiva. Embora a comunidade cristã incluísse pessoas de diferentes realidades econômicas—ricos e pobres—, a igreja não ignorou essas diferenças, mas agiu com sensibilidade espiritual e social.

Conforme Atos 4:34, a igreja atuou para suprir as carências dos irmãos necessitados, promovendo uma verdadeira cultura de partilha. Os bens eram voluntariamente colocados à disposição da coletividade, não por imposição, mas por amor e compaixão. Essa prática não apenas evidenciava a graça de Deus operando entre eles, mas também revelava o compromisso prático com o mandamento de amar ao próximo. Era uma solidariedade orientada pelo Espírito, fruto de corações transformados. Em um mundo marcado por tantas desigualdades, a equidade cristã continua sendo um poderoso testemunho da fé que atua pelo amor (Gl.5:6).

2. Propriedade e compartilhamento

A igreja primitiva demonstrou que crentes cheios do Espírito Santo não apenas falam sobre amor — eles o praticam. A comunhão verdadeira se manifesta de maneira concreta, especialmente através do compartilhar. Na Igreja de Jerusalém, a unidade espiritual produziu solidariedade prática. Os bens materiais não eram idolatrados; as pessoas eram mais importantes do que as posses. Os crentes adoravam a Deus, amavam uns aos outros e usavam os bens como instrumentos de serviço.

O compartilhamento entre os cristãos não era fruto de imposição legal, mas da transformação operada pelo Espírito em seus corações. Como bem observa John Stott, a venda de propriedades era voluntária e ocorria conforme a necessidade. Adolf Pohl e William Barclay reforçam que o texto de Atos não ensina um novo modelo econômico ou abole o conceito de propriedade, mas revela o poder do amor cristão que leva o crente a ofertar generosamente, não por coação, mas por convicção e compaixão.

Um exemplo prático é o da casa de Maria, mãe de João Marcos (Atos 12:12), que, sem ser vendida, foi colocada a serviço da igreja, tornando-se um ponto de oração e comunhão. Isso demonstra que a generosidade pode assumir diferentes formas — vender, ofertar, hospedar, servir — mas seu princípio permanece o mesmo: o amor que reparte. Em qualquer tempo, o Espírito Santo continua movendo corações para o uso solidário e voluntário dos recursos, conforme a necessidade dos santos (Rm.12:13).

3. Um exemplo da voluntariedade

Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha” (Atos 4:34,35).

A narrativa de Atos 4:34,35 revela um princípio fundamental da espiritualidade cristã: o amor que se expressa pela generosa voluntariedade. Lucas faz questão de destacar que aqueles que possuíam propriedades ou bens não eram obrigados a vendê-los, tampouco coagidos a fazer doações. Ao contrário, “traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos” com liberdade e plena disposição de coração. Esse gesto não era fruto de regras eclesiásticas ou de pressões humanas, mas da ação do Espírito Santo que, tendo enchido seus corações com o amor de Deus (Rm.5:5), os moveu à partilha espontânea.

A Bíblia registra, inclusive, nomes de pessoas que ilustraram esse espírito de voluntariedade. Um exemplo notável é José, cognominado Barnabé, natural de Chipre, levita, que vendeu um campo e entregou o valor aos apóstolos (Atos 4:36,37). Ele não apenas contribuiu financeiramente, mas tornou-se um pilar de encorajamento e generosidade na Igreja Primitiva.

Em contrapartida, o texto também nos mostra o exemplo negativo de Ananias e Safira (Atos 5:1-11), que tentaram simular uma generosidade que não possuíam. O problema não foi o valor entregue, mas a tentativa de enganar o Espírito Santo e a comunidade, fingindo uma voluntariedade que não era real. Isso mostra que Deus valoriza mais a sinceridade e a motivação do coração do que o volume da oferta.

Assim, aprendemos que a verdadeira generosidade é fruto do amor cristão autêntico. Uma igreja cheia do Espírito é uma igreja que serve por amor, doa com alegria e vive em comunhão sincera, onde ninguém é forçado a contribuir, mas todos são livres para participar da edificação do Corpo de Cristo com os recursos e dons que o Senhor lhes concedeu (2Co.9:7).

O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO III - A MANIFESTAÇÃO DO AMOR NA SOLIDARIEDADE CRISTÃ

Este tópico nos ensina que uma igreja cheia do Espírito Santo não apenas proclama o Evangelho com palavras, mas o vive de forma prática, por meio do amor que se expressa em solidariedade, generosidade e comunhão verdadeira.

1. A busca pela equidade. A Igreja de Jerusalém nos dá um exemplo poderoso de equidade cristã — não uma igualdade forçada, mas uma sensibilidade espiritual que reconhece e supre as necessidades específicas de cada irmão. A partilha dos bens não era uma imposição, mas uma expressão do amor que valoriza pessoas acima de posses. Essa prática revela que o amor cristão é ativo, prático e transformador, e que a igreja deve ser um espaço onde ninguém passa necessidade porque todos se importam.

2. Propriedade e compartilhamento. A comunhão da igreja de Jerusalém se manifestava no uso solidário dos bens. Os crentes não eram obrigados a vender suas propriedades, mas o faziam voluntariamente, movidos pelo Espírito. Isso mostra que a generosidade cristã não depende de regras, mas de corações transformados. O exemplo da casa de Maria, usada para oração, mostra que compartilhar não é apenas dar dinheiro, mas colocar tudo o que temos a serviço do Reino — tempo, espaço, dons e recursos.

3. Um exemplo da voluntariedade. A doação de Barnabé e o contraste com Ananias e Safira revelam que Deus se importa mais com a motivação do coração do que com o valor da oferta. A verdadeira generosidade é espontânea, sincera e cheia de amor. A igreja que serve por amor e doa com alegria reflete o caráter de Cristo. A solidariedade cristã não é um programa social, mas uma manifestação do Espírito Santo agindo em uma comunidade que vive o Evangelho com integridade.


Aplicações práticas:

  • Para líderes: Ensinar e cultivar uma cultura de generosidade voluntária e consciente, baseada no amor e não na obrigação.
  • Para igrejas locais: Desenvolver ações que promovam a equidade e o cuidado mútuo, como expressão prática da fé.
  • Para cada cristão: Viver com o coração aberto para partilhar, servir e amar, reconhecendo que tudo o que temos vem de Deus e deve ser usado para o bem do próximo.

CONCLUSÃO

A Igreja de Jerusalém nos oferece um poderoso exemplo de como o amor de Deus pode ser vivido na prática por uma comunidade cheia do Espírito Santo. Esse amor não era apenas uma emoção ou discurso, mas uma força transformadora que promovia comunhão, solidariedade e cuidado mútuo entre os crentes. Unidos em coração e alma, os irmãos repartiam seus bens, acolhiam os necessitados e davam testemunho do Evangelho com graça e poder.

Aprendemos, portanto, que uma igreja verdadeiramente cheia de amor é aquela que reflete o caráter de Cristo em suas ações, buscando a edificação mútua, o serviço desinteressado e a promoção da unidade pelo vínculo da paz. Que esse modelo inspirador nos desafie a cultivar comunidades onde o amor de Deus seja visível em cada gesto e relação.

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Dicionário VINE.CPAD.

O Novo Dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Atos. A ação do Espírito Santo na vida da Igreja. Hagnos.

Ralph Earle. Livro dos Atos do Apóstolos.

Myer Pearlman. Atos: Estudo do Livro de Atos e o Crescimento da Igreja Primitiva.

John Stott. A Mensagem de Atos – Até os Confins da Terra. ABU.

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