domingo, 7 de julho de 2024

LIÇÃO 02: O LIVRO DE RUTE

          3° Trimestre de 2024

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 02

Texto Base: Rute 1:1-5

“E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos” (Rt.1:1).

Rute 1:

1.E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de
Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos.

2.E era o nome deste homem Elimeleque, e o nome de sua mulher, Noemi, e os nomes de seus dois filhos, Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e vieram aos campos de Moabe e ficaram ali.

3.E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos,

4.os quais tomaram para si mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos.

5.E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim esta mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido.

INTRODUÇÃO

O livro de Rute é uma perfeita história de amizade, amor e redenção. Ele exalta o amor e a virtude de uma mulher moabita. O livro fala da oportunidade de reconciliação para todas as nações estrangeiras que buscam abrigo debaixo das mãos do Deus vivo (Rute 2:12). Em Boaz e Rute, os israelitas e gentios são personificados.

Antônio Neves de Mesquita diz que o livro de Rute nos coloca face a face com um drama de família. Nesse drama surgem vários problemas: o problema da crise financeira; o problema da imigração; o problema da doença; o problema da morte; o problema da viuvez; o problema da pobreza e; o problema da amargura contra Deus. Ao mesmo tempo, o livro de Rute nos fala sobre: a força da amizade; a beleza da providência; a recompensa da virtude.

O livro de Rute é uma história cheia de emoções profundas, em que se destacam o poder do amor e a vitoriosa providência divina. Nesse sentido, este livro, que trata de amizade e amor, é um contraste com o livro de Juízes, que trata de guerras e contendas.

No livro de Juízes, o julgamento de Deus está mostrando à nação de Israel a loucura do pecado; no livro de Rute, o amor e a virtude estão sendo recompensados. Na verdade, o livro de Rute trata a respeito de Deus; Ele é a personagem principal desse precioso livro.

Vale ressaltar que em uma sociedade dominada pelos homens, as personagens centrais desse romance são duas mulheres que desafiaram a crise e agiram com fé na providência divina. A primeira era uma judia idosa, pobre, viúva e sem filhos; a outra, uma gentia viúva que se apegou à sua sogra e se converteu ao Deus de Israel.

Além de oferecer-nos abençoadoras lições morais e espirituais, o livro de Rute é um tributo divino às mulheres, verdadeiras heroínas em tempos de crise.

I. A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO

1. Na Bíblia Hebraica

Segundo pesquisa que fiz, a Bíblia Hebraica, também conhecida como Tanakh, é dividida em três seções principais:

a)   Torá (Lei ou Pentateuco): Compreende os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés — Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

b)   Neviim (Profetas): Subdividida em Profetas Anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e Profetas Posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas Menores).

c)   Ketuvim (Escritos): A terceira e última seção, que inclui uma variedade de livros de diferentes gêneros literários.

A seção dos Ketuvim (Escritos) é composta por onze livros que abrangem poesias, sabedoria, histórias e apocalípticos. Os livros incluídos são:

  • Salmos
  • Provérbios
  • Cântico dos Cânticos
  • Rute
  • Lamentações
  • Eclesiastes
  • Ester
  • Daniel
  • Esdras-Neemias
  • Crônicas

Dentro dos Ketuvim, existe um subgrupo conhecido como Megillot, ou "Cinco Rolos", que são lidos em ocasiões específicas do calendário judaico. Esses cinco livros são:

a)   Cântico dos Cânticos: Lido durante a Páscoa.

b)   Rute: Lido durante o Shavuot (Festa das Semanas ou Pentecostes), que celebra a colheita.

c)   Lamentações: Lido no Tisha B'Av, dia de jejum que lembra a destruição dos Templos de Jerusalém.

d)   Eclesiastes: Lido durante o Sucot (Festa dos Tabernáculos).

e)   Ester: Lido durante o Purim.

A POSIÇÃO DO LIVRO DE RUTE

O Livro de Rute, embora seja uma narrativa histórica breve, está estrategicamente posicionado entre os Megillot devido à sua relevância litúrgica e temática.

Contexto Litúrgico e Histórico do Livro de Rute

Shavuot (Pentecostes). Rute é tradicionalmente lido durante o Shavuot, que celebra a colheita de trigo. A história de Rute se passa durante a época da colheita, o que estabelece um paralelo direto com a festa. Além disso, Shavuot é também associado à entrega da Torá, e a conversão de Rute ao judaísmo (Rute 1:16,17).

Estrutura e Conteúdo

ü  Narrativa e Genealogia. O livro de Rute tem quatro capítulos que narram a história de Rute, uma moabita que se casa com um israelita e, após sua viuvez, demonstra lealdade à sua sogra Noemi. A história culmina com Rute casando-se com Boaz e sendo incluída na linhagem de Davi, e, por extensão, na genealogia de Jesus (Rute 4:13-22).

ü  Temas Centrais. O livro destaca temas de lealdade, redenção e providência divina. A inclusão de Rute na comunidade de Israel prefigura a aceitação de gentios na fé judaica, sublinhando a universalidade do amor e da graça de Deus.

Posição na Tanakh

Na Tanakh, a posição de Rute varia dependendo da tradição textual, mas geralmente é encontrada entre os Escritos, refletindo sua importância tanto histórica quanto litúrgica.

Portanto, a inclusão do Livro de Rute na seção dos Ketuvim (Escritos) da Bíblia Hebraica e seu lugar entre os Megillot (Cinco Rolos) sublinha sua significância não apenas como uma narrativa histórica, mas como um texto litúrgico e teológico. A leitura de Rute durante Shavuot (Pentecostes) conecta a história da colheita com a história de fidelidade e redenção, reforçando a interligação entre a vida cotidiana e a fé. Através de Rute, somos lembrados do poder do compromisso, da inclusão e da providência divina na trajetória do povo de Deus.

2. Na Bíblia Cristã

É do nosso conhecimento que a Bíblia Cristã organiza o Antigo Testamento em quatro seções principais:

a)   Pentateuco. Os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio).

b)   Livros Históricos. Relatam a história de Israel desde a entrada na Terra Prometida até o período do cativeiro e o retorno. Incluem Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.

c)   Livros Poéticos. Contêm poesia e sabedoria, incluindo Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos.

d)   Livros Proféticos. Divididos em Profetas Maiores (Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel) e Profetas Menores (doze livros menores).

Categoria e Gênero

ü  Histórico e Poético. Na Bíblia Cristã, o Livro de Rute é categorizado como um livro histórico devido à sua narrativa e contexto temporal. No entanto, sua escrita é também reconhecida pela beleza poética, empregando linguagem rica e expressiva que revela aspectos emocionais e subjetivos dos personagens.

Estrutura

  • Quatro Capítulos. O livro está organizado em quatro capítulos, totalizando 85 versículos. Cada capítulo desenvolve uma parte crucial da história:

a)   Capítulo 1: Introdução e o retorno de Rute e Noemi a Belém.

b)   Capítulo 2: Rute encontra trabalho nos campos de Boaz.

c)   Capítulo 3: Rute segue o conselho de Noemi e busca proteção com Boaz.

d)   Capítulo 4: Boaz se torna o redentor de Rute e a genealogia que leva a Davi é estabelecida.

Narrativa e Estilo

·         Narrativa Rica. O livro utiliza um estilo narrativo que mistura diálogos diretos e descrições vivas, proporcionando um entendimento profundo das motivações e emoções dos personagens. Exemplos incluem as conversas entre Noemi e Rute (Rute 1:12-21), as interações entre Rute e Boaz (Rute 2:13,20), e a orientação estratégica de Noemi (Rute 3:1).

·         Aspectos Poéticos. A obra exibe uma beleza poética através do uso de paralelismos, metáforas e uma estrutura literária bem definida que enriquece a narrativa. O hebraico clássico é utilizado de maneira a dar profundidade e elegância à história.

Temas e Mensagens

·         Fidelidade e Redenção. Os temas centrais do livro incluem a lealdade (Rute a Noemi), a providência divina e a redenção (Boaz como redentor). A história de Rute, uma moabita, que se torna parte da linhagem de Davi e, por extensão, da genealogia de Jesus, sublinha a inclusão e a graça de Deus.

·         Aspectos subjetivos e humanos. O livro explora profundamente os aspectos humanos e emocionais dos personagens, como a dor da perda, a lealdade familiar, a esperança e a renovação.

Importância na Bíblia Cristã

a)   Conexão com o Novo Testamento:

·         Genealogia de Jesus. O Livro de Rute estabelece a linhagem de Davi, que é crucial para a genealogia de Jesus Cristo (Mateus 1:5). Isso reforça a continuidade da promessa divina desde o Antigo até o Novo Testamento.

·         Modelo de fidelidade e obediência. Rute é frequentemente citada como exemplo de fidelidade e obediência, refletindo virtudes que são exaltadas no Novo Testamento.

b)   Leitura e Reflexão:

·         Litúrgica e Devocional. Embora não tenha um papel litúrgico fixo na tradição cristã como tem no judaísmo durante o Shavuot, o Livro de Rute é frequentemente lido e estudado por seu valor devocional e moral.

Enfim, a organização do Livro de Rute na Bíblia Cristã destaca sua dupla natureza como um texto histórico e poético. Composto por quatro capítulos, o livro narra a história de fidelidade, providência divina e redenção com uma linguagem rica e expressiva. Embora categorizado como um livro histórico, sua beleza poética e profundidade emocional oferecem lições valiosas sobre lealdade, inclusão e a soberania de Deus. A história de Rute não só enriquece o entendimento do Antigo Testamento, mas também estabelece fundamentos importantes para a teologia cristã, especialmente em relação à linhagem messiânica de Jesus Cristo.

3. Autoria e data

a) Autoria. A questão da autoria do Livro de Rute é objeto de debate entre os eruditos. A tradição judaica, conforme registrado no Talmude, atribui a autoria a Samuel. Vários fatores sustentam essa atribuição:

ü  Referências a Jessé e Davi. O texto faz referência a Jessé e Davi de uma maneira que sugere familiaridade e contemporaneidade com esses personagens (Rute 4:17). Samuel, como profeta e juiz, teve um papel significativo na unção de Davi como rei, o que reforça essa hipótese.

ü  Atmosfera histórica. As características do livro sugerem uma ambientação no início do período da monarquia de Israel, uma época em que Samuel estava ativo.

b) Data. Baseando-se na atribuição tradicional a Samuel e nas referências internas do texto, a datação do Livro de Rute pode ser estimada em torno do século X a.C. Especificamente:

ü  Contexto monárquico. O livro parece refletir um período em que a monarquia estava se estabelecendo, um tempo que coincide com o início do reinado de Davi.

ü  Estilo literário. A linguagem e o estilo literário utilizados no Livro de Rute são consistentes com outras obras desse período, caracterizando o hebraico clássico e narrativas históricas da era monárquica.

Conquanto não haja consenso absoluto sobre a autoria e data exata do Livro de Rute, a tradição que atribui a autoria a Samuel e a evidência interna que sugere um ambiente do início da monarquia de Israel oferecem uma base sólida. Assim, o livro é provavelmente datado do século X a.C., refletindo uma época de transição e estabelecimento da monarquia em Israel, com Samuel como o autor mais provável.

II. O CONTEXTO HISTÓRICO

1. No tempo dos juízes

O Livro de Rute se situa no período dos juízes, uma época de transição e instabilidade na história de Israel, que durou aproximadamente três séculos, desde a morte de Josué (cerca de 1375 a.C.) até a ascensão de Saul como o primeiro rei de Israel (1050 a.C.). Este período é caracterizado por repetidos ciclos de pecado, opressão, arrependimento e libertação, conforme registrado no Livro dos Juízes.

Características do Período

a)   Anarquia e apostasia:

ü  Desobediência e idolatria. Após a morte de Josué, Israel frequentemente se desviava dos mandamentos de Deus, adorando deuses estrangeiros e praticando a idolatria (Juízes 2:11-13). Uma frase que identifica bem aquela época sombria é: “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Jz.17:6).

ü  Opressão estrangeira. Como consequência da desobediência, Deus permitiu que nações estrangeiras oprimissem Israel. Esse ciclo de opressão levava o povo a clamar por libertação, e Deus levantava juízes para resgatá-los (Juízes 2:16-19).

b)   Desordem social e política:

ü  Ausência de liderança centralizada. A frase “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Juízes 17:6) resume bem a desordem moral e social daquele tempo. Sem uma liderança centralizada, Israel vivia em uma espécie de anarquia.

ü  Juízes locais. Os juízes eram líderes locais, levantados por Deus, que exerciam funções militares, civis e espirituais. Eles não governavam a nação inteira, mas geralmente atuavam em áreas específicas e por períodos limitados.

O Livro de Rute, enfim, embora curto, tem um impacto profundo na história de Israel. Ele liga a era dos juízes com a monarquia que se inicia com Saul e, mais significativamente, com Davi. A inclusão de Rute na genealogia de Davi (Rute 4:21,22) e, por extensão, na genealogia de Jesus (Mateus 1:5), sublinha a importância divina da história de Rute no plano redentor de Deus. A narrativa de Rute oferece uma contraposição esperançosa à anarquia do período, mostrando que Deus está sempre trabalhando para cumprir Seus propósitos, independentemente das circunstâncias externas.

2. Secularismo, hedonismo e idolatria

Após a morte de Josué e dos líderes de sua geração, Israel enfrentou uma profunda crise espiritual. A nova geração não tinha uma íntima comunhão com Deus e desconhecia Suas obras poderosas em favor do povo hebreu (Juízes 2:7-13). A ausência de líderes espiritualmente maduros e tementes a Deus deixou Israel vulnerável à influência das práticas pagãs dos cananeus.

Influências negativas: Secularismo e Hedonismo

a)   Secularismo:

ü  Desconexão com o Divino. Israel se afastou dos princípios e mandamentos de Deus, adotando uma visão de mundo centrada em valores terrenos e imediatos, ignorando a soberania divina.

ü  Sincretismo religioso. A fusão de crenças e práticas cananeias com a fé israelita resultou na diluição da pureza do culto a Yahweh.

b)   Hedonismo:

ü  Busca pelo prazer. O hedonismo, ou a busca incessante pelo prazer, levou Israel a práticas imorais. O culto a Astarote, a deusa do sexo e da guerra, era um exemplo claro disso.

ü  Decadência moral. A entrega aos prazeres carnais e à satisfação dos desejos imediatos resultou em um profundo declínio moral e espiritual.

Idolatria: adoração a Baal e a Astarote

a)   Culto a Baal:

ü  Baal, falso deus da chuva e fertilidade. Baal era adorado como o deus da chuva, essencial para a agricultura. A prática desse culto envolvia rituais que muitas vezes eram imorais e degradantes.

ü  Sacrifícios e ritos pagãos. A adoração a Baal incluía sacrifícios e ritos que iam contra os mandamentos de Deus.

b)   Culto a Astarote:

ü  Falsa deusa do sexo e guerra. Astarote era venerada através de práticas que incentivavam a licenciosidade sexual e a violência.

ü  Imoralidade ritual. Os rituais dedicados a Astarote frequentemente envolviam atos de prostituição sagrada e outras formas de imoralidade.

Consequências da falta de liderança espiritual

a)   Ciclos de apostasia e opressão:

ü  Rebelião e arrependimento. A falta de líderes espirituais resultou em ciclos de pecado, opressão por nações estrangeiras, arrependimento e temporária restauração através de juízes levantados por Deus (Juízes 2:16-19).

ü  Insegurança e anarquia. Sem direção divina, a sociedade israelita mergulhou na anarquia, vivendo segundo o que parecia certo a cada um (Juízes 17:6).

b)   Necessidade de caráter na liderança:

ü  Carisma versus caráter. No Reino de Deus, não basta ter carisma para liderar; é imprescindível ter caráter aprovado. As qualificações para liderança espiritual incluem integridade, sabedoria e temor a Deus (1Timóteo 3:2-13; 2Timóteo 2:15; Tito 2:7,8).

Enfim, o período pós-liderança de Josué foi marcado por secularismo, hedonismo e idolatria, resultando em grandes tragédias morais e espirituais para Israel. A falta de uma liderança espiritualmente madura e comprometida com Deus levou o povo a práticas degradantes e à instabilidade social. Esse contexto sublinha a importância de líderes com caráter sólido e um profundo compromisso com Deus, capazes de guiar o povo na justiça e na verdade.

3. Opressão, clamor e livramento

Durante o período dos juízes, a apostasia tornou Israel vulnerável aos ataques de seus inimigos. Em vários momentos, a nação sucumbiu ao pecado, afastando-se dos mandamentos de Deus e adotando práticas pagãs. Essa infidelidade repetida levou Israel a ser oprimido por nações estrangeiras, que saqueavam suas cidades e terras, mantendo o povo sob domínio opressor por longos períodos. Exemplos disso incluem:

a)   Opressão por Cusã-Risataim:

·         Juízes 3:7-9. Israel serviu aos Baalins e Aserás, o que provocou a ira de Deus. Ele permitiu que fossem oprimidos por Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, por oito anos. Ao clamar a Deus, Otniel foi levantado como juiz e libertador.

b)   Opressão por Eglom, rei de Moabe:

·         Juízes 3:12-14. Após se desviar novamente, Israel foi entregue a Eglom, rei de Moabe, por dezoito anos. Ehud, o benjamita, foi levantado por Deus para libertar o povo.

c)   Opressão por Jabim, rei de Canaã:

·         Juízes 4:1-3. Após a morte de Ehud, Israel voltou a pecar e foi oprimido por Jabim, rei de Canaã, por vinte anos. Débora e Baraque lideraram a libertação de Israel.

d)   Opressão por Midiã:

·         Juízes 6:1-6. Israel novamente pecou e foi oprimido pelos midianitas por sete anos. Gideão foi chamado por Deus para libertar o povo.

Os Juízes como Libertadores

Os juízes (hebraico: shophetim) não eram meramente magistrados civis, mas libertadores e líderes militares. Deus os levantava em resposta ao clamor de Israel, para julgar a causa do povo e livrá-los de seus opressores. Exemplos notáveis incluem:

a)   Otniel:

·         Juízes 3:9-11. Otniel, da tribo de Judá, libertou Israel da opressão de Cusã-Risataim e trouxe quarenta anos de paz.

b)   Baraque:

·         Juízes 4:10-15. Liderado por Débora, Baraque conduziu as forças israelitas à vitória contra Sísera, comandante do exército de Jabim.

c)   Gideão:

·         Juízes 7:16-25. Gideão, com um pequeno exército de trezentos homens, derrotou os midianitas, libertando Israel da opressão.

Apesar dos repetidos ciclos de infidelidade, Deus, em Sua longanimidade e misericórdia, ouvia o clamor do povo de Israel em seus momentos de dor e aflição. Deus ouve os que clamam a Ele com sinceridade e arrependimento (cf. Jeremias 29:12,13; Isaias 55:6).

III. PROPÓSITO E MENSAGEM DO LIVRO DE RUTE

1. O cetro de Judá

O Livro de Rute serve a vários propósitos, com o principal sendo a apresentação de Davi como descendente da tribo de Judá, a linhagem real da qual o Messias, "o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi" (Apocalipse 5:5), viria. Este propósito é profundamente enraizado na profecia de Gênesis 49:10 que diz: "O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos".

Embora Rúben fosse o primogênito de Jacó, ele perdeu sua posição de liderança devido ao seu ato de desonra ao se deitar com a concubina de seu pai (Gênesis 35:22; 49:4). Como resultado, a promessa feita a Abraão continuou através da descendência de Judá. Esta transferência de liderança sublinha a importância da linhagem de Judá na história redentiva de Israel.

O propósito de registrar a genealogia de Davi no Livro de Rute é significativo, especialmente considerando que, na época da suposta autoria de Samuel, o rei de Israel era Saul, um benjamita (1Samuel 9:1,2; 25:1). Ao destacar a ancestralidade de Davi, o livro não apenas legitima Davi como o futuro rei de Israel, mas também conecta a narrativa de Rute ao cumprimento das promessas messiânicas. Davi, como descendente direto de Judá, está diretamente ligado à linhagem de onde viria o Salvador, conforme prometido a Abraão.

2. Amor e redenção

Outro propósito central do Livro de Rute é destacar o amor de Deus e Seu plano de redenção da humanidade. Boaz e Rute, representando judeus e gentios, respectivamente, prenunciam a derrubada da barreira de separação entre os dois grupos (Efésios 2:11-16). A redenção é vista no livro tanto de forma literal quanto tipológica. Boaz, como o parente remidor, preserva a descendência de Elimeleque, mas ele também é um tipo de Cristo, nosso Redentor (Isaías 59:20; Lucas 1:68; Efésios 1:7; Tito 2:14).

Boaz atua como o goel (termo hebraico para a palavra "redimir", semelhante a "redentor", pelo qual a Bíblia hebraica e a tradição rabínica denotam um parente relativo apto a restaurar os direitos perdidos por uma pessoa próxima), que resgata Rute e Noemi da desolação, garantindo-lhes segurança e um futuro. Este ato de redenção literal é uma poderosa imagem da redenção espiritual realizada por Cristo. Boaz, em sua disposição de redimir Rute, reflete a obra redentora de Jesus Cristo, que resgata a humanidade do pecado e da morte. Assim, a história de Rute e Boaz se torna uma antecipação da obra redentora de Cristo, unindo judeus e gentios em um só Corpo pela fé.

3. Fidelidade e altruísmo

O livro de Rute também nos permite ver que nem tudo eram trevas nos dias dos juízes. Havia um remanescente fiel que temia a Deus e foi usado por Ele para cumprir Seus propósitos (Jó 42:2). Em um mundo de crescente iniquidade, o justo vive pela fé (Habacuque 2:4; cf. Mateus 24:12,13).

Rute e Noemi são exemplos de fidelidade em um tempo marcado pela anarquia e apostasia. Em meio à instabilidade e infidelidade dos dias dos juízes, a história de Rute destaca a fidelidade pessoal e a providência divina. A lealdade de Rute a Noemi, deixando seu próprio povo e deuses para seguir o Deus de Israel (Rute 1:16,17), é um testemunho poderoso de compromisso e fé. Esta fidelidade não só garantiu o sustento de ambas, mas também pavimentou o caminho para o surgimento da linhagem real de Davi, da qual viria o Messias.

Outra mensagem eloquente do livro é o valor do altruísmo em uma época dominada pelo egoísmo. Durante o período dos juízes, a maioria vivia segundo seus próprios padrões e interesses (Juízes 21:25). Noemi e Rute destoam desse padrão individualista. Noemi, apesar de sua amargura, pensa no bem-estar de suas noras e encoraja-as a retornar às suas famílias para encontrar novos maridos (Rute 1:8,9). Rute, por sua vez, demonstra um altruísmo notável ao insistir em ficar com Noemi, apesar das dificuldades que ambas enfrentariam (Rute 1:16-18).

O amor altruísta de Rute para com Noemi é um reflexo do amor descrito em 1Coríntios 13:5, que "não busca os seus próprios interesses". Esta atitude de abnegação e cuidado pelos outros destaca a diferença que uma vida centrada no amor pode fazer, mesmo em tempos de escuridão moral. A bondade de Boaz para com Rute e Noemi também exemplifica este princípio, mostrando como a fidelidade a Deus se manifesta em atos de bondade e generosidade para com os necessitados.

CONCLUSÃO

O Livro de Rute nos ensina que, a despeito da incredulidade e dos pecados do homem, Deus sempre trabalha para cumprir Seus desígnios. Sem violar o princípio do livre-arbítrio humano, o Todo-poderoso conduz a história e executa Seu plano eterno de redenção.

A história de Rute destaca como Deus, em Sua soberania e fidelidade, age por meio de pessoas comuns e em circunstâncias cotidianas para realizar Seus propósitos. Desde a dedicação de Rute a Noemi até a intervenção providencial de Boaz como parente remidor, vemos que Deus está ativamente envolvido na vida de Seus servos, transformando situações difíceis em oportunidades para demonstrar Sua graça e fidelidade.

O exemplo de Rute e Noemi ilustra que, mesmo em tempos de crise e aparente ausência de direção divina, Deus está trabalhando nos bastidores. Ele é fiel em todas as coisas (Isaías 64:4), e Sua presença se faz sentir nas ações de indivíduos que, movidos pela fé e amor, se tornam instrumentos da providência divina.

Assim, o Livro de Rute nos encoraja a confiar em Deus, a permanecer fiéis em nossa caminhada e a reconhecer que, em tudo, Ele é fiel. Ele continua a usar homens e mulheres para cumprir Seus propósitos, revelando Seu amor e redenção a todos os que O buscam com sinceridade.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Rute – uma perfeita história de amor.

Pr. Elinaldo Renovato de Lima. O caráter do cristão. CPAD.

Comentário Bíblico Beacon. Volume 2.

 

 

Um comentário:

  1. Vc é uma BENÇÃO, que Deus continue te usando para sua Glória.

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