domingo, 17 de agosto de 2025

UMA IGREJA QUE ENFRENTA OS SEUS PROBLEMAS

         3º Trimestre de 2025

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 08

Texto Base: Atos 6:1-7

Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio” (Atos 6:3).

Atos 6:

1.Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.

2.E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas.

3.Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio.

4.Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra.

5.E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia;

6.e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.

7.E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé.

INTRODUÇÃO

O crescimento da Igreja Primitiva, embora fosse um sinal evidente da ação do Espírito Santo na pregação do Evangelho, também trouxe consigo desafios e tensões internas. Afinal, onde há pessoas, há necessidades, diferenças e, consequentemente, surgem conflitos. Foi o que ocorreu na igreja de Jerusalém, quando um problema relacionado à assistência social gerou queixas e descontentamento entre os irmãos.

Contudo, o que se destaca nesse episódio não é o problema em si, mas a maneira sábia, espiritual e organizada com que a igreja lidou com a situação. Guiados pelo Espírito Santo, os apóstolos não ignoraram a dificuldade, nem permitiram que ela se transformasse em divisão. Pelo contrário, encontraram uma solução prática e bíblica, instituindo o ministério diaconal, que passou a ser fundamental para atender às demandas sociais, permitindo que eles se dedicassem à oração e à pregação da Palavra.

Nesta lição, aprenderemos que uma igreja saudável não é aquela que está livre de problemas, mas sim aquela que enfrenta seus desafios com sabedoria, unidade, oração e foco na missão. Veremos que a harmonia entre o serviço espiritual e social é essencial para o crescimento equilibrado da igreja e para a edificação do Corpo de Cristo.

I. A IDENTIFICAÇÃO DOS CONFLITOS

1. Conflito de natureza cultural

“Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano” (Atos 6:1).

O texto de Atos 6:1 revela um conflito que surgiu na Igreja Primitiva em Jerusalém, não de ordem doutrinária, mas de natureza cultural e social. O crescimento da comunidade cristã trouxe consigo desafios relacionados à diversidade dos seus membros. De um lado, estavam os “hebreus”, judeus nascidos no território de Israel, que falavam principalmente o aramaico (uma forma popular do hebraico) e seguiam as tradições culturais judaicas com mais rigor. Do outro lado, estavam os “gregos”, ou judeus helenistas — aqueles que haviam vivido na diáspora, fora de Israel, e tinham como idioma principal o grego, além de incorporarem alguns elementos culturais do mundo grego.

Essa diferença linguística e cultural, somada ao crescimento da comunidade, gerou um sentimento de desvantagem por parte dos helenistas. Eles perceberam que as suas viúvas estavam sendo negligenciadas na distribuição diária dos alimentos, o que acendeu murmurações e tensões internas.

O conflito, portanto, não era apenas sobre comida, mas sobre pertencimento, valorização e cuidado dentro da comunidade cristã. Isso mostra que, mesmo em uma igreja cheia do Espírito Santo, desafios humanos e relacionais podem surgir — especialmente quando envolvem diferenças culturais, sociais e linguísticas.

O grande ensinamento desse episódio é que a unidade da Igreja não pode ser ameaçada por barreiras culturais ou conflitos interpessoais. A liderança espiritual precisa estar atenta a esses desafios, tratando-os com sabedoria, empatia e prontidão, sem permitir que pequenos focos de descontentamento se tornem rachaduras no Corpo de Cristo.

2. Conflito de natureza social

“...porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano”.

Além da barreira cultural, o problema descrito em Atos 6:1 também possui um evidente aspecto social. A negligência ocorria no que Lucas chama de “ministério cotidiano”, que se refere à distribuição diária de mantimentos e auxílio às viúvas, um dos grupos mais vulneráveis na sociedade judaica da época (cf. Tg.1:27).

O fato de que as viúvas dos helenistas estavam sendo desprezadas revela um desequilíbrio no cuidado social da igreja. Isso não parece ter sido fruto de má intenção, mas sim do próprio desafio logístico e estrutural gerado pelo rápido crescimento da comunidade cristã, que passou de dezenas a milhares de membros em pouco tempo (Atos 2:41; 4:4).

Esse episódio evidencia que, embora a igreja seja, acima de tudo, um organismo espiritual, ela também possui uma dimensão organizacional e social, que não pode ser ignorada. A missão da igreja é integral: ela cuida da alma, mas também das necessidades práticas dos seus membros.

Portanto, o conflito social que surgiu em Jerusalém serve como um alerta e um ensinamento para a igreja de todos os tempos: não basta ter uma vida espiritual fervorosa; é preciso também uma estrutura saudável, justa e funcional no cuidado com as pessoas, especialmente com os mais vulneráveis.

Esse incidente não revela fraqueza da igreja, mas sim a sua humanidade e a necessidade constante de ajustes, organização e administração dos recursos e do cuidado mútuo. A maturidade espiritual se reflete também na forma como lidamos com as demandas práticas da comunidade cristã.

3. Qual é a prioridade?

O texto de Atos 6 evidencia que a igreja de Cristo não pode ser reduzida a uma instituição que cuida exclusivamente da esfera espiritual, negligenciando as demandas sociais. O desequilíbrio entre essas duas dimensões gera uma espiritualidade distorcida, desconectada do ensino bíblico.

É um equívoco pensar que adoração, oração, louvor ou ensino da Palavra sejam suficientes quando se ignora o sofrimento dos necessitados. Na verdade, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, Deus reprova duramente uma religiosidade que despreza a justiça social, a misericórdia e o cuidado com os vulneráveis. Isso é claramente expresso em Isaías 58:6,7, onde Deus rejeita jejuns vazios de compaixão, e nas palavras de Jesus em Mateus 25:35-40, quando Ele se identifica com os famintos, sedentos, nus e enfermos.

Por outro lado, Atos 6 também deixa claro que a igreja não poderia comprometer sua missão espiritual. Por isso, os apóstolos disseram: “Não é razoável que deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas” (Atos 6:2). Isso não significa desprezo pelo serviço social, mas sim a percepção de que cada área deve ser desempenhada por pessoas vocacionadas e capacitadas para ela. Assim, a igreja permanece equilibrada, forte na Palavra, na oração e no serviço ao próximo.

Portanto, a prioridade da igreja é dupla e inseparável: cuidar das almas e cuidar das pessoas em suas necessidades físicas, emocionais e sociais. A verdadeira adoração a Deus inclui amar e servir o próximo de forma prática e tangível.

O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO I - “A IDENTIFICAÇÃO DOS CONFLITOS”

Este tópico nos ensina que, mesmo em uma igreja cheia do Espírito Santo, conflitos podem surgir — especialmente quando há diversidade cultural, desafios sociais e crescimento rápido. O segredo não está em evitar os conflitos a qualquer custo, mas em identificá-los com sabedoria e tratá-los com maturidade espiritual e sensibilidade pastoral.

1. Conflito de natureza cultural. O surgimento de tensões entre hebreus e helenistas mostra que diferenças culturais podem gerar sentimentos de exclusão e injustiça, mesmo dentro da comunidade cristã. Aprendemos que:

  • A diversidade cultural é uma bênção, mas exige atenção e empatia;
  • A liderança da igreja deve estar atenta às percepções de desigualdade e agir com justiça;
  • A unidade da Igreja não é uniformidade, mas comunhão respeitosa entre diferentes.

Esse ponto nos lembra que a inclusão verdadeira exige escuta, sensibilidade e ação prática.

2. Conflito de natureza social. A negligência das viúvas helenistas revela que a dimensão social da igreja é tão importante quanto a espiritual. Aprendemos que:

  • A igreja deve cuidar dos mais vulneráveis com justiça e equidade;
  • O crescimento numérico exige estrutura organizacional e responsabilidade no cuidado mútuo;
  • A maturidade espiritual se manifesta também na forma como tratamos as necessidades práticas dos irmãos.

A missão da igreja é integral: ela cuida da alma e do corpo, da fé e da dignidade.

3. Qual é a prioridade? A resposta dos apóstolos mostra que a igreja precisa manter equilíbrio entre o ministério da Palavra e o serviço social. Aprendemos que:

  • A espiritualidade verdadeira inclui o cuidado com os necessitados;
  • Cada área da igreja deve ser liderada por pessoas vocacionadas e capacitadas;
  • A prioridade da igreja é dupla: fidelidade à Palavra e amor prático ao próximo.

Esse ponto nos ensina que adoração sem compaixão é vazia, e serviço sem Palavra é incompleto.


Aplicações práticas

  • Para líderes: Desenvolver uma liderança sensível às diferenças culturais e sociais, promovendo inclusão e justiça.
  • Para igrejas locais: Estruturar-se para atender às necessidades espirituais e práticas da comunidade.
  • Para cada cristão: Viver uma fé que une devoção a Deus com serviço ao próximo, com humildade e empatia.

II. A DELEGAÇÃO DE TAREFAS

1. O ministério da oração e da Palavra

Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra” (Atos 6:4).

Diante do conflito surgido na igreja, os apóstolos demonstraram grande discernimento ao compreenderem que, embora as demandas sociais fossem legítimas e urgentes, não poderiam ser tratadas em detrimento do ministério espiritual. Eles entenderam que o cuidado com os necessitados fazia parte da missão da igreja, mas sem comprometer sua principal vocação: a oração e a ministração da Palavra (Atos 6:4).

A resposta dos apóstolos revela um princípio fundamental: a igreja precisa manter equilíbrio entre suas funções espirituais e sociais. Não é uma questão de escolher uma em detrimento da outra, mas de compreender que ambas são expressões do mesmo Evangelho. A oração conecta a igreja a Deus, enquanto a Palavra a alimenta espiritualmente e a direciona. Por outro lado, o cuidado com os necessitados manifesta o amor prático, a compaixão e a justiça do Reino.

A decisão dos apóstolos demonstra que não se pode abandonar o ministério da Palavra nem tratar a oração como algo secundário. Eles não estavam delegando o “menos importante”, mas organizando a igreja de forma que cada área fosse devidamente assistida por pessoas capacitadas e vocacionadas. Assim, o modelo apostólico ensina que uma igreja saudável não é aquela que se volta exclusivamente para o espiritual, nem apenas para o social, mas que serve a Deus em oração, na proclamação e no serviço ao próximo com excelência e equilíbrio.

2. Não há conflito entre tarefas

O texto de Atos 6 deixa claro que não existe conflito ou hierarquia que coloque o ministério da oração e da pregação como mais importante do que o ministério do serviço, da assistência e da diaconia. Na verdade, ambos são complementares e essenciais à missão integral da Igreja. A dicotomia entre “espiritual” e “social” não encontra respaldo nas Escrituras. A mesma fé que nos leva a buscar a Deus em oração e a proclamar o Evangelho é a que nos impulsiona a amar e cuidar do próximo de forma prática e concreta.

O erro de algumas igrejas, ao longo da história, foi espiritualizar demais, a ponto de negligenciar os necessitados, ou, no extremo oposto, focar apenas nas questões sociais, esquecendo-se da centralidade da Palavra, da oração e da proclamação do Evangelho. Ambas as posturas estão equivocadas.

A Igreja de Cristo não é chamada para ser apenas um centro espiritual, tampouco um mero organismo assistencial. Ela é o corpo de Cristo na Terra, e, como tal, deve refletir o equilíbrio perfeito que havia no ministério do próprio Jesus, que tanto ensinava as multidões quanto curava, alimentava e socorria os aflitos. Portanto, a oração, a Palavra e o serviço caminham juntos como expressões da mesma fé viva e operante.

3. A Diaconia

Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio” (Atos 6:3).

O termo “diaconia” significa “serviço” ou “ministério”, e sua essência não se limita ao Novo Testamento nem começou em Atos 6. Na verdade, a diaconia é um princípio que atravessa toda a revelação bíblica, desde o Antigo Testamento, onde Deus ordena cuidado, justiça e misericórdia aos órfãos, viúvas e necessitados (Sl.41:1-3; Is.58:6,7; Dt.15:11).

No ministério de Jesus, vemos a manifestação suprema da diaconia. Ele, sendo Senhor, assumiu a forma de servo (Fp.2:7) e fez do serviço ao próximo um dos pilares centrais do Reino de Deus. Sua diaconia não era apenas espiritual, mas integral: curava, alimentava, libertava e acolhia os marginalizados (Lc.4:18-19; Mt.11:5).

Em Atos 6, quando surgem desafios na administração das necessidades da comunidade cristã, os apóstolos não menosprezam o trabalho de assistência. Pelo contrário, reconhecem-no como “este importante negócio” (Atos 6:3), deixando claro que a diaconia não é uma atividade menor na igreja, mas uma expressão visível do amor de Cristo.

O texto de Atos revela que a função do diácono é mais relevante pela natureza do serviço prestado do que simplesmente pelo título. Infelizmente, alguns, hoje, subestimam o papel do diácono, vendo-o como auxiliar de funções administrativas ou operacionais, quando, na verdade, a Bíblia apresenta a diaconia como uma missão nobre, exigindo pessoas cheias do Espírito Santo, de sabedoria e de bom testemunho (Atos 6:3).

Portanto, a diaconia é tão espiritual quanto qualquer outro ministério da igreja. Ela expressa, na prática, a compaixão, a justiça e o amor do Evangelho. Servir, na perspectiva bíblica, não é estar em posição inferior, mas é agir segundo o exemplo do próprio Cristo, o Diácono por excelência (Mc.10:45).

O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO II - “A DELEGAÇÃO DE TAREFAS”

Este tópico nos ensina que uma igreja saudável e eficaz precisa de organização, discernimento e equilíbrio entre os diversos ministérios. A delegação de tarefas não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria espiritual e administrativa, que permite à Igreja cumprir sua missão de forma plena e ordenada.

1. O ministério da oração e da Palavra. Os apóstolos reconheceram que, embora o cuidado social fosse essencial, não poderiam negligenciar a oração e a pregação da Palavra. Aprendemos que:

  • A missão da Igreja é integral, mas precisa ser bem distribuída;
  • A oração e a Palavra são o alicerce espiritual da comunidade cristã;
  • Delegar tarefas não é desprezar responsabilidades, mas garantir que cada área seja bem cuidada por pessoas vocacionadas.

Este item nos mostra que a espiritualidade e o serviço social não competem entre si, mas se complementam.

2. Não há conflito entre tarefas. O texto de Atos 6 nos ensina que não existe hierarquia entre os ministérios espirituais e os sociais. Ambos são expressões legítimas da fé cristã. Aprendemos que:

  • A Igreja deve refletir o equilíbrio do ministério de Jesus: ensinar, curar, alimentar e libertar;
  • O erro está em priorizar um aspecto em detrimento do outro;
  • A fé viva se manifesta tanto na adoração quanto no serviço ao próximo.

Este item reforça que a missão da Igreja é holística, e cada ministério tem seu valor e dignidade diante de Deus.

3. A Diaconia. A escolha dos sete diáconos mostra que o serviço prático na Igreja exige maturidade espiritual. Aprendemos que:

  • A diaconia é um ministério nobre, que exige sabedoria, bom testemunho e plenitude do Espírito;
  • Servir não é uma função inferior, mas uma expressão do caráter de Cristo;
  • A Igreja precisa valorizar e capacitar aqueles que atuam no cuidado prático da comunidade cristã.

Este item nos ensina que o serviço é uma forma elevada de adoração, e que a diaconia é essencial para o bom funcionamento da Igreja.


Aplicações práticas

  • Para líderes: Delegar com sabedoria, reconhecendo dons e vocações, e mantendo o foco na oração e na Palavra.
  • Para igrejas locais: Estruturar-se de forma equilibrada, valorizando todos os ministérios como partes do mesmo corpo.
  • Para cada cristão: Entender que servir é um privilégio e uma expressão do amor de Cristo, seja no púlpito ou nas tarefas práticas.

III. SEGUINDO OS PRINCÍPIOS CRISTÃOS

1. Privilegiando o caráter

Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação...”.

O texto de Atos 6:3 revela que, ao escolher os primeiros diáconos, a prioridade da Igreja não estava na capacidade técnica, mas no caráter dos candidatos. A recomendação apostólica foi clara: deveriam ser homens de "boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria". A expressão grega usada para "boa reputação" (martyreo) carrega a ideia de alguém que possui testemunho irrepreensível, uma vida pública coerente com sua fé, e que transmite confiança tanto para a comunidade cristã quanto para os de fora.

O cuidado dos apóstolos demonstra que, na perspectiva bíblica, o serviço na casa de Deus não é uma função meramente operacional, mas um ministério sagrado, que exige integridade, maturidade espiritual e conduta ilibada. A exigência de serem cheios do Espírito Santo aponta para a dependência do sobrenatural de Deus no exercício até das tarefas aparentemente mais simples. Isso derruba a falsa ideia de que existem funções “menores” na Igreja; todo serviço é, antes de tudo, espiritual e deve ser feito para a glória de Deus.

Se tal padrão era exigido daqueles que cuidariam do serviço às mesas, quanto mais dos que lideram, ensinam e pastoreiam o rebanho. Isso mostra que Deus valoriza mais quem somos do que aquilo que fazemos. Caráter cristão, portanto, não é uma opção, mas um requisito indispensável para qualquer função ministerial na Igreja, seja no primeiro século ou nos dias atuais.

2. Exercitando os dons

“...cheios do Espírito Santo e de sabedoria...”.

Ao selecionar os primeiros diáconos, a Igreja Primitiva deixou claro que o serviço cristão não se limita a habilidades naturais ou disposição pessoal, mas exige capacitação espiritual. A recomendação apostólica foi que esses homens fossem “cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (Atos 6:3), o que aponta para uma combinação indispensável: fervor espiritual e discernimento prático.

Ter apenas ortodoxia — conhecimento correto da doutrina — não é suficiente se não houver comunhão com Deus, sensibilidade espiritual e uma vida cheia do Espírito. Da mesma forma, operar dons espirituais sem sabedoria pode gerar confusão, imaturidade e até escândalos no meio da igreja. É possível encontrar pessoas com zelo espiritual, mas sem equilíbrio, assim como é possível encontrar pessoas corretas, éticas e firmes na doutrina, mas secas, frias e insensíveis à direção do Espírito.

O modelo bíblico une as duas dimensões: vida cheia do Espírito e sabedoria prática. Isso significa que quem serve na diaconia, ou em qualquer outro ministério, deve exercer os dons espirituais — como amor, discernimento, serviço, ensino e ajuda — guiado pela sabedoria que vem do alto (Tg.3:17). Assim, o serviço cristão se torna frutífero, abençoa a igreja e glorifica a Deus.

Portanto, Deus espera que cada crente envolvido no serviço cristão desenvolva não apenas a espiritualidade, mas também a sabedoria, o equilíbrio, o discernimento e a maturidade. Isso é essencial para que a igreja continue cumprindo sua missão de forma saudável, eficaz e poderosa.

3. O modelo da liderança cristã

A escolha dos sete homens para a diaconia nos revela um princípio fundamental da liderança cristã: servir é mais importante do que ser servido. A liderança na igreja não é baseada em status, títulos ou reconhecimento humano, mas em caráter, espiritualidade e disposição para servir.

Os apóstolos destacaram que a liderança espiritual não pode estar dissociada da comunhão com Deus e da prática da sabedoria. Assim, os escolhidos deveriam ser não apenas homens de boa reputação, mas também cheios do Espírito Santo e de sabedoria (Atos 6:3). Isso demonstra que a liderança cristã é essencialmente relacional e espiritual, refletindo o caráter de Cristo, o maior exemplo de servo (Mc.10:45).

Esse modelo contrasta radicalmente com os padrões mundanos, que priorizam o poder, a influência e o prestígio. Na igreja, o líder é aquele que se dispõe a cuidar, servir, ouvir, orientar e agir com amor, discernimento e dependência do Espírito Santo.

Portanto, tanto na função pastoral, quanto no diaconato ou em qualquer ministério da igreja, o líder precisa ser alguém comprometido com Deus, sensível à voz do Espírito, e que exerça sua função com sabedoria, humildade e integridade. Esse é o padrão bíblico para uma liderança que edifica a igreja e glorifica a Deus.

O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO III - “SEGUINDO OS PRINCÍPIOS CRISTÃOS”

Este tópico nos ensina que a Igreja de Cristo deve ser conduzida por princípios espirituais sólidos, que priorizam o caráter, a capacitação espiritual e o modelo de liderança servidora. A escolha dos primeiros diáconos em Atos 6 é um exemplo claro de como a Igreja deve agir com discernimento e fidelidade aos valores do Reino.

1. Privilegiando o caráter. A exigência de que os diáconos fossem homens de “boa reputação” mostra que o caráter é mais importante do que a competência técnica. Aprendemos que:

  • O serviço na igreja é sagrado e exige integridade, maturidade e testemunho público;
  • Deus valoriza mais quem somos do que o que fazemos;
  • Toda função na igreja, por mais simples que pareça, deve ser exercida com reverência e responsabilidade espiritual.

Este ponto nos lembra que a base do ministério cristão é a coerência entre fé e prática.

2. Exercitando os dons. A exigência de que os escolhidos fossem “cheios do Espírito Santo e de sabedoria” revela que o serviço cristão exige capacitação espiritual e discernimento prático. Aprendemos que:

  • A espiritualidade e a sabedoria devem caminhar juntas no exercício dos dons;
  • O zelo sem sabedoria pode causar confusão, e a sabedoria sem fervor pode gerar frieza;
  • O serviço cristão é frutífero quando é guiado pelo Espírito e fundamentado na sabedoria do alto.

Este ponto reforça que os dons espirituais devem ser exercidos com equilíbrio, maturidade e amor.

3. O modelo da liderança cristã. A liderança na Igreja é fundamentada no exemplo de Cristo: servir, e não ser servido. Aprendemos que:

  • O líder cristão é chamado a cuidar, ouvir, orientar e agir com humildade e dependência de Deus;
  • A autoridade espiritual não vem de títulos, mas de uma vida cheia do Espírito e comprometida com o Reino;
  • A liderança eficaz é relacional, espiritual e prática — ela edifica a igreja e glorifica a Deus.

Este ponto nos ensina que liderar na igreja é um chamado ao serviço sacrificial, não à busca por status.


Aplicações práticas

  • Para líderes: Priorizar o caráter e a comunhão com Deus acima das habilidades técnicas.
  • Para igrejas locais: Estabelecer critérios espirituais claros para o exercício de qualquer ministério.
  • Para cada cristão: Buscar crescer em integridade, sabedoria e sensibilidade ao Espírito, servindo com humildade e excelência.

CONCLUSÃO

A Igreja Primitiva nos ensina, por meio do episódio registrado em Atos 6, que conflitos e desafios fazem parte da caminhada cristã, especialmente em contextos de crescimento e diversidade. Contudo, o diferencial de uma igreja madura e saudável é sua capacidade de enfrentar os problemas com sabedoria, espiritualidade e unidade.

Os apóstolos compreenderam que não poderiam negligenciar nem a dimensão espiritual — centrada na oração e na Palavra — nem a dimensão social — focada no cuidado e no serviço aos necessitados. A solução veio pela ação do Espírito Santo, que orientou a delegação de tarefas e a escolha de líderes comprometidos, íntegros e cheios de sabedoria.

Assim, aprendemos que a igreja de Cristo deve ser um lugar onde o cuidado com as pessoas e a fidelidade à Palavra caminham juntos. O verdadeiro cristianismo não é apenas espiritualidade, mas também serviço. Uma igreja que enfrenta seus problemas de forma bíblica, espiritual e responsável se fortalece, cresce e glorifica o nome do Senhor.

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Dicionário VINE.CPAD.

O Novo Dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Atos. A ação do Espírito Santo na vida da Igreja. Hagnos.

Ralph Earle. Livro dos Atos do Apóstolos.

Myer Pearlman. Atos: Estudo do Livro de Atos e o Crescimento da Igreja Primitiva.

John Stott. A Mensagem de Atos – Até os Confins da Terra. ABU.

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