domingo, 11 de julho de 2010

Aula 03 - AS FUNÇÕES SOCIAIS E POLÍTICAS DA PROFECIA

Texto base: Jeremias 34:8-11,16,17
"Não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é bem-aventurado"(Pv 29.18).
INTRODUÇÃO
Ninguém no universo tem mais interesse no bem-estar dos seres humanos do que o próprio Criador. Deus ao criar o ser humano fê-lo com um propósito de que ele fosse eternamente feliz, socialmente bem entrosado e solidário, e economicamente bem dotado. A pobreza, quer espiritual, quer material, é conseqüência do pecado, que separa o homem de Deus(Is 59:2), fonte de toda prosperidade. Deus disse a Adão quando da sua sentença: ”[...] maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida”(Gn 3:17). O pecado afastou toda a raça humana do seu Criador, trazendo terríveis sequelas, até mesmo para o meio-ambiente, mas Ele nunca a abandonou e propiciou meios para continuar a comunicação interrompida com a Queda no Éden. Partiu do próprio Deus a iniciativa de se comunicar com Adão e Eva(Gn 3:8), mesmo depois de terem pecado, e nunca deixou de manter contato com seus descendentes, os seres humanos: ”muitas vezes e de muitas maneiras”(Hb 1:1); dentre elas está o ministério profético, instituído pelo próprio Deus(Os 12:10). Através do ministério profético, Deus se comunicou e se comunica com o povo revelando a sua vontade. A mensagem dos profetas, escrita ou não, serviu não somente para o seu povo em sua geração, mas a todos os povos em todas as épocas. Eles combatiam a injustiça social com o mesmo ímpeto com que atacavam a idolatria. O objetivo precípuo desses homens de Deus era preconizar um modelo ético de alto nível para a sociedade de Israel e para todos os povos, mesmo que tivessem de sofrer o desprezo de todos e enfrentar até mesmo a morte. Com a criação da Igreja, Deus tem dado continuidade ao implemento da justiça social que tanto a sociedade almeja. Não resta dúvida que a Igreja ao longo da sua história teve e tem um papel social relevante na sociedade.
POLÍTICA E JUSTIÇA SOCIAL
POLÍTICA
– “É o conjunto de práticas relativo ao Estado ou a uma sociedade”. A política é algo que está presente em qualquer grupo humano. O próprio Deus, quando criou o homem, afirmou que ele deveria dominar sobre o restante da criação (Gn 1:26), bem como, no jardim onde o colocou, disse que ele deveria guardá-lo (Gn 2:15), numa clara demonstração que a natureza humana envolvia o exercício do poder, consequência do próprio livre-arbítrio de que ele era dotado. Ora, toda relação de poder é uma relação política e, neste sentido, certíssimo estava Aristóteles, o grande filósofo grego, ao afirmar que o homem é um animal político.
Após o dilúvio, Deus renovou o pacto com o gênero humano e nele foi mantido o papel de domínio e de poder sobre o restante da criação (Gn 9:2), ainda que bem demonstrada a limitação da autoridade humana, como se lê em Gn 9:5,6. Não tardou muito e surgiu o primeiro grande dominador do povo (Ninrode – Gn 10:8,9) e o governo humano apresentou-se desafiador contra Deus, a ponto de o Senhor ter destruído aquela comunidade política única por meio do juízo de Babel (Gn 11:7-9). Bem se vê, portanto, que a existência de governo, de poder, de domínio, de política não é algo contrário à ordenação divina, mas, sim, seu mau exercício.
Deus, então, diante do fracasso da comunidade política única, resolve formar uma nação e Seu projeto inicia-se com a chamada de Abrão (Gn 12:2). Esta nação, que seria Israel, não deixou de ser uma nação em que existiram governo e relações de poder. Ainda que o projeto primitivo de Deus tenha sido o de, pessoalmente, reinar sobre os israelitas(Ex 19:5,6; 1Sm8:7), jamais deixou de existir um governo que fizesse cumprir as leis (Ex 18:14-26; 22:9; Nm 1:4-16; Jz 2:16-19).
Quando o povo de Israel quis ter uma estrutura política semelhante aos dos demais povos, Deus lho concedeu, tendo, então sido criada a monarquia, com o governo sendo dirigido por um rei, segundo regras que já haviam sido estabelecidas por Moisés (Dt 17:14-20), renovadas por Samuel (1Sm 8:9-22). Até o cativeiro da Babilônia, no reino do sul, os israelitas foram governados por reis e, depois, estiveram sob domínio estrangeiro até a destruição de Jerusalém no ano 70, salvo o pequeno intervalo, no período intertestamentário, em que tiveram independência e foram governados pela dinastia dos Asmoneus(142 – 63a.C).
JUSTIÇA SOCIAL – “É o conjunto de ações sociais estabelecido na sociedade para suprimir as injustiças de todos os níveis”. Não resta dúvida de que a situação atual de crescente desigualdade social, de cada vez mais intensa injustiça social em todas as nações, até mesmo nos países desenvolvidos, é resultado direto de uma situação pecaminosa. Pecado é iniquidade (1João 3:4) e, portanto, onde abunda o pecado, abunda, necessariamente, um estado de injustiça, inclusive na sociedade, como, aliás, denunciaram gravemente os profetas, como Isaías (Is 1:21-31), Miquéias (Mq 2:1-3) e João Batista (Lc 3:7-14).
É no seu relacionamento com o pecado que as Escrituras consideram todas as calamidades que oprimem o homem na sua existência pessoal e social. As Escrituras mostram que todo o curso da história tem uma ligação misteriosa com a ação do homem que, desde o princípio, abusou de sua liberdade ao se levantar contra Deus e buscar alcançar seus fins sem Deus. O Gênesis indica as consequências deste pecado original na natureza penosa do trabalho e do parto, na opressão do homem sobre a mulher e na morte. Os seres humanos, privados da graça divina, herdaram a natureza mortal comum, incapaz de escolher o que é bom, e inclinada à concupiscência. Tendo se tornado o seu próprio centro, o homem pecador tende a se afirmar e a satisfazer seu desejo pelo uso das coisas: riqueza, poder e prazer, desprezando outras pessoas e as pilhando injustamente, bem como as tratando como objetos ou instrumentos.
No entanto, não é possível que removamos estruturas sociais injustas e, com isto, restauremos o homem espiritualmente. A regeneração não é obra que se faça no campo da matéria, da vida terrena, como nos ensinou Jesus, mas resultado de uma transformação espiritual (João 3:3-8). Assim, de nada adianta mudarmos regimes políticos, sistemas econômicos ou relações sociais se, antes, não for eliminado o problema do pecado na humanidade. Não é coincidência, pois, que, para que se estabeleça um governo perfeito e justo sobre a face da Terra, como será o reino milenial de Cristo, a primeira providência que será tomada será o aprisionamento do diabo por mil anos (Ap 20:2), a fim de que se diminua drasticamente o pecado naquele tempo. “Vem, Senhor Jesus!”.
I. O PAPEL POLÍTICO E SOCIAL DA PROFECIA NAS ESCRITURAS
A profecia exerceu um papel fundamental na esfera política e social do povo de Israel. Os profetas como emissários de Deus, tomavam parte ativa na sociedade e na política, servindo muitas vezes como conselheiros, como, por exemplo, Natã e Gade(2 Sm 7:17; 24:18,19). Suas profecias tinham não somente uma função política, mas também eram importantes para a manutenção da ordem social. À medida que o tempo foi passando, os profetas foram ficando à margem da sociedade, pelo fato de os reis aos poucos afastarem-se de Deus e detestarem ouvir as palavras do Senhor(cf Jr 36:21-23). Ainda assim, Deus utilizou seus servos para clamarem por justiça.
O PAPEL POLÍTICO. Antes da instauração da monarquia em Israel, os profetas eram os únicos canais humanos e legítimos de comunicação entre Deus e o povo. Alguns deles foram conselheiros de reis, vivendo na corte como Daniel e Isaías, cooperando com eles nos assuntos espirituais e políticos. Outros, como Jeremias, tiveram de enfrentar reis e autoridades incrédulas, buscando o bem-estar do povo.
Os profetas falavam em nome de Jeová, Deus de Israel, e suas profecias vinham diretas do Espírito Santo, que dava a eles o discernimento para interpretar os acontecimentos passados, os acontecimentos contemporâneos e os futuros. Além do mais, os profetas de Israel eram profundos conhecedores de seu povo e do sistema político, social e religioso de sua nação. Eles conheciam assuntos da casa real, das políticas interna e externa, e o pecado na nação, de seus príncipes e até dos sacerdotes, bem como os problemas sociais do povo.
Encontramos Isaias dando orientação sobre política internacional a Acaz(Is 7:3-7). O mesmo aparece com Jeremias(Jr 37:5-9) e, muitas vezes, na política interna, ele anunciou o fim de Jeoacaz, a quem chama de Salum(Jr 22:11-12) e de Zedequias(Jr 38:17,18). Daniel ocupou alto cargo na política da Babilônia (Dn 6:2-3). Oséias reprovou a aliança insensata do Reino do Norte com o Egito (Os 7:11) e denunciou os abusos e a luxúria nas festas da coroação dos reis(Os 7:5). O profeta Samuel julgava o povo em suas demandas, mostrando que ser profeta era ter um senso crítico muito correto em relação às questões terrenas, dirigido por Deus e de forma muito ética. Isto era tão sério que dava a Samuel uma importância muito grande entre o povo, a ponto de, por ocasião de sua velhice, o povo pedir que um rei lhes fosse dado, pois os filhos de Samuel não andavam como ele diante do Senhor.
Todas as profecias destes profetas tiveram papel fundamental e influenciador na política interna e externa do povo de Israel. Isso sem contar os profetas pré-clássicos como Natã, Gade, Elias, Eliseu, dentre tantos outros.
Depois de cerca de 400 anos de silêncio profético, aparece João Batista, o último dos profetas do Antigo Testamento, que encerra a sucessão profética iniciada por Moisés e Arão, e recebe a nobre incumbência de preparar o povo para receber o Messias e, também, apresentá-lo à nação de Israel(Lc 16:16; Mc 1:2; João 1:31). Era o fim de uma era e o início de outra para Israel e para todas as nações.
O PAPEL SOCIAL. As Escrituras demonstram que Deus não se importa apenas com o nosso bem-estar espiritual. Também, Ele se importa, e muito, com a prática da justiça social entre os homens, e principalmente entre aqueles que dizem ser seus servos. Nesse aspecto, Deus utilizou os profetas para clamarem por justiça e equidade, pois o próprio povo de Deus esqueceu-se de que a Lei dada por Deus regulava não apenas o relacionamento entre o homem com Deus e consigo mesmo, mas igualmente regulava o relacionamento do homem com seu próximo.
Quando os líderes não agiam conforme as diretrizes de Deus estabelecidas em suas leis, Ele chamava atenção através dos seus Profetas. Veja o que Deus diz através do profeta Ezequiel contra os líderes infiéis de Israel: “2. Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize aos pastores: Assim diz o Senhor Jeová: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas? 3. Comeis a gordura, e vos vestis da lã, e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. 4. A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. 5. Assim, se espalharam, por não haver pastor, e ficaram para pasto de todas as feras do campo, porquanto se espalharam. 6. As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes e por todo o alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a face da terra, sem haver quem as procure, nem quem as busque”(Ez 34:2-6).
Nota-se que as palavras do Senhor dirigidas aos líderes de Israel são de condenação absoluta: "Ai dos pastores de Israel". O profeta os acusa de estarem cuidando de si mesmos em vez de estarem cuidando das ovelhas: "Ai dos pastores que se apascentam a si mesmos!". Como se não fosse terrível o bastante ignorarem as necessidades das ovelhas por estarem por demais ocupados consigo mesmos, estes líderes ainda tratavam o povo com extrema brutalidade, pois o profeta diz: “Comeis a gordura, e vos vestis da lã, e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas" e "dominais sobre elas com rigor e dureza". O interesse daqueles líderes estava muito mais nos benefícios materiais que poderiam receber das ovelhas: “carne, gordura, lã”, do que nos benefícios espirituais que poderiam e deveriam repartir no cuidado do rebanho. Para Ezequiel, o interesse daqueles líderes não estava centrado no chamado de Deus e na liderança e sim no poder e no controle que exerciam sobre o povo.
Outra triste constatação que o profeta descreve é a de que os líderes estavam negligenciando por completo suas responsabilidades, mesmo as mais básicas. O profeta diz: “A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes”. Mas que situação tão terrível! Por que estes líderes agiam assim desta maneira? Além da absoluta falta de interesse verdadeiro pelo povo, eles agiam desta maneira em parte por ignorância e em parte por preguiça. O despreparo dos líderes é notório e a preguiça de muitos deles também. Dizem eles: “deixa o rebanho pra lá; o rebanho só me interessa pelo que posso conseguir dele, o resto é realmente irrelevante”. Pensam e agem assim porque sabem que o povo os tem em alta estima e ninguém vai realmente querer peitar o "ungido do Senhor".
O resultado direto deste descaso e ignorância não demora a ser sentido. Ovelhas sem cuidados pastorais e maltratadas tendem a se espalhar, por não haver pastor, e acabam por tornar-se pasto para todas as feras do campo. Este é o triste fim de todas as situações de abuso espiritual que encontramos, mesmo nos dias de hoje: ovelhas dispersas, abandonadas e sendo devoradas por todos os tipos de "feras" – é um claro descaso com a justiça social. Todavia, Deus tratará com firmeza aqueles que não viverem à altura dos compromissos assumidos como pastores e servos a serviço do povo de Deus. Ele diz: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o Senhor”(Jr 23:1). Porque somos ovelhas do pasto do Senhor, e Ele se mostra aborrecido quando somos maltratados por aqueles que deveriam realmente cuidar de nós.
II. O PROFETA É ENVIADO AO REI
“Então, enviou o rei Zedequias e fez vir à sua presença Jeremias, o profeta, à terceira entrada, que estava na Casa do Senhor; e disse o rei a Jeremias: Pergunto-te uma coisa; não me encubras nada”(Jr 38:14).
Logo depois do resgate de Jeremias da cisterna, Zedequias procurou falar com ele mais uma vez. O profeta foi levado até à “terceira entrada” do Templo (local exato desconhecido) para encontrar-se com o rei. Essa acabou sendo sua última entrevista com o monarca infeliz. O rei parecia fora de si e desesperado, esperando ouvir alguma palavra positiva da parte do Senhor, ao pedir a Jeremias: “não me encubras nada”. Ao mesmo tempo, ele não estava disposto a fazer aquilo que salvaria sua vida e a do seu povo.
Jeremias inquiriu o rei severamente: “Se eu lhe der uma resposta, você não me matará? E, aconselhando-te eu, ouvir-me-ás?”(38:15). Zedequias então “jurou” não fazer mal a Jeremias, e que não permitiria que os príncipes lhe fizessem mal. Convencido pelo juramento do rei de que ele estava sendo sincero, Jeremias aconselhou-o a entregar-se aos príncipes do rei da Babilônia(38:17). Ele assegurou a Zedequias que, se ele o fizesse, não salvaria apenas a sua vida, da sua família, mas também salvaria a cidade de Jerusalém: “esta cidade não será queimada”. Jeremias declarou, por outro lado, que se Zedequias não se entregasse, a cidade seria queimada e ele não escaparia das mãos dos caldeus (38:18).
A angústia mental do rei ficou evidente ao confessar a Jeremias: “receio-me dos judeus que se passaram para os caldeus; que me entreguem nas suas mãos e escarneçam de mim”(Jr 38:19). Mas Jeremias assegurou-lhe que isso não ocorreria em seu caso(Jr 38:20), se o rei acolhesse os conselhos de Deus, que eram propostos através do profeta.
Jeremias continua a advertir Zedequias sobre o preço da recusa em se render. E termina sua advertência, dizendo: “E esta cidade ele queimará”(Jr 38:23), isto é, a culpa pela destruição da cidade recairá sobre Zedequias. Mesmo assim, o rei não conseguiu encontrar forças para seguir o conselho do profeta.
Fica claro com base nesse incidente que os termos de Deus para nossa salvação sempre são difíceis para a carne e o sangue: (1) Eles atacam nosso orgulho; (2) Eles subjugam nossa obstinação; (3) Eles requerem uma fé real.
III. A QUESTÃO DE ORDEM SOCIAL
A palavra que do SENHOR veio a Jeremias, depois que o rei Zedequias fez concerto com todo o povo que havia em Jerusalém, para lhes apregoar a liberdade: que cada um despedisse forro o seu servo e cada um, a sua serva, hebreu ou hebréia, de maneira que ninguém se fizesse servir deles, sendo judeus, seus irmãos. E ouviram todos os príncipes e todo o povo que entrou no concerto que cada um despedisse forro o seu servo e cada um, a sua serva, de maneira que não se fizessem mais servir deles; ouviram, pois, e os soltaram. Mas, depois, se arrependeram, e fizeram voltar os servos e as servas que tinham libertado, e os sujeitaram por servos e por servas”(Jr 34:8-11).
Neste tópico falaremos do conselho de Deus, através do profeta Jeremias, acerca dos escravos em Israel à época do cerco babilônico, narrado em Jeremias 34:8-22. O cerco da cidade de Jerusalém pelo exército de Nabucodonosor foi um momento escuro na história de Israel. Nessa época, o rei Zedequias fez um pacto com o povo para libertar seus escravos hebreus.
Em Israel, a legislação hebraica sobre o escravo hebreu era diferente da praticada em outras sociedades do mundo antigo. Por razões de falência econômica, o israelita se vendia como escravo ao seu irmão, mas somente seria mantido como escravo por um período de seis anos, sendo liberto no início do sétimo ano de escravidão, conforme determinava a lei mosaica(cf. Ex 21:2; Dt 15:2). Ao final desse tempo, seu senhor deveria libertá-lo, suprindo-o generosamente com recursos suficientes para iniciar uma nova vida. Em suma: na lei mosaica, a escravidão era mecanismo social destinado a proteger o pobre, habilitando-o a alcançar a condição de auto-sustento. Todavia, em Judá a escravidão fora corrompida, pois as pessoas ricas escravizaram sem interrupção seus patriotas judeus. A intenção inicial de uma provisão caridosa ao pobre se desvirtuara ao se transformar numa instituição opressora.
O texto de Jeremias 34:15,19 indica que uma aliança solene havia sido realizada no Templo entre o povo e seus escravos. É possível sentir uma onda de piedade varrer a cidade. “Todo o povo”, incluindo “príncipes [...], passou por meio das porções do bezerro”(34:19), isto é, juraram libertar seus escravos. Esse, aliás, era um método dos povos antigos de ratificar um tratado (Gn 15:10,17). Esse ritual significava que a parte que violasse o pacto teria o mesmo destino do animal sacrificado. Assim, este era um ato ignominioso de traição e de deslealdade, acrescido do perjúrio (Êx 34:18,20). Jeremias aprovou de todo coração essa atitude, pois indicava um passo primoroso em direção a Deus.
Logo depois que isso foi feito, o exército babilônico subitamente levantou o cerco contra Jerusalém e foi embora. Quando lemos o texto de Jeremias 37:1-10 percebemos que o exército egípcio havia chegado do sul. Então, Nabucodonosor imediatamente deslocou suas tropas para enfrentá-lo. Jerusalém, por um tempo, esteve livre e houve grande júbilo na cidade. Visto que os campos do lado de fora da cidade podiam ser trabalhados novamente, os líderes em Jerusalém rapidamente deixaram de reconhecer suas promessas. Os escravos que haviam sido libertos foram escravizados novamente e colocados para trabalhar.
Em termos muito claros, Jeremias denunciou o rei e o povo. Ele disse: ”Recentemente vocês se arrependeram [...] Mas, agora, voltaram atrás e profanaram o meu nome”(Jr 34:15,16 NVI). Visto que não deram ouvidos a Deus para apregoarem a “liberdade, cada um ao seu irmão”, Ele declara: “eis que eu vos apregoo a liberdade [...] para a espada, para a pestilência e para fome”(Jr 34:17). Além disso, Deus disse: “eu darei ordem [...] e os (babilônios) farei tornar a esta cidade [...] e pelejarão [...] a tomarão, e a queimarão”(Jr 34:22). Aqui vemos a clara indignação divina. Em vez dos babilônios, foi o próprio Deus quem liberou a espada para a destruição de Judá.
Um estudo das ações de Zedequias e do povo revela a pobreza moral de Judá nessa hora triste: (1) Os líderes da nação tinham quebrado uma aliança que fizeram voluntariamente e a ratificaram na casa de Deus; (2) Eles, consequentemente, profanaram o caráter de Deus, em cujo nome o juramento havia sido feito; (3) Eles eram indecisos e inconstantes na sua devoção a Deus; (4) Eles rapidamente se dobraram diante da lei da conveniência; (5) Seu arrependimento foi superficial, porque: (a) foi motivado pelo medo das conseqüências; (b) foi uma mudança de conduta sem uma verdadeira mudança de coração; (c) seus resultados foram superficiais e temporários.
CONCLUSÃO
Não resta dúvida que os profetas no Antigo Testamento foram incansáveis no afã de promover a justiça social ao povo de Israel. Entretanto, suas profecias, em muitas ocasiões, não foram bem recebidas pelos líderes que se desviaram das leis do Senhor. A consequência disso foi a deterioração do sistema política e social, com sequelas irreversíveis no padrão moral e espiritual do povo de Israel. Até hoje, o povo de Israel ainda sofre pelos erros cometidos no passado e por não darem créditos às profecias dos homens escolhidos por Deus, os profetas. Apesar de não terem sido ouvidos em sua geração, os seus ideais permanecem vívidos e influenciam a todos aqueles que, sem preconceito, procuram direcionamento nas suas realizações espiritual, bem como no orbe político e social. Todavia, a maior expectativa que o mundo pode ter com relação à prática governamental justa e equânime será, sem dúvida, no iminente governo milenial de nosso Senhor Jesus Cristo, o príncipe da Paz(Is 9:6).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
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Fonte de Pesquisa: Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. Bíblia de Estudo Pentecostal. Bíblia de Estudo das Profecias. O novo dicionário da Bíblia. Revista Ensinador Cristão – CPAD nº 43. Guia do leitor da Bíblia Ezequiel e Jeremias. A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck. Comentário Bíblico Beacon – CPAD - volume 4. Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento – William Macdonald.

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