quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Aula 07 – A FÉ SE MANIFESTA EM OBRAS


3º Trimestre/2014

 
Texto Básico: Tiago 2:14-26

 
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5:16).

 

INTRODUÇÃO

A fé é uma doutrina chave no cristianismo. O pecador é salvo pela fé (Ef 2:8,9). O justo vive pela fé (Rm 1:17). Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11:6). Tudo o que é feito sem fé é pecado (Rm 14:23). Em Hebreus 11 encontramos a galeria da fé, em que homens e mulheres creram em Deus, viveram e morreram pela fé. Fé é a confiança de que a Palavra de Deus é verdadeira, não importam as circunstâncias.

Nesta Aula, veremos a importância de manifestar nossa fé por meio de nossas obras. Para que a ortodoxia gere frutos é necessário que ela seja encarnada na vida, se manifeste nas ações; é necessário que seja algo mais do que mero conhecimento; é necessário que se materialize em ortopraxia.

Não basta falar bonito ou saber o que falar, se não houver ação. Não raro, muito do que é falado nos púlpitos raramente é praticado, e isso tem colocado o testemunho de muitos em desvantagem. A verdadeira fé salvífica é tão vital que não poderá deixar de se expressar por ações, e pela devoção a Jesus Cristo; Tiago chama isso de “religião pura e imaculada para com Deus” (Tg 1:27). Portanto, as obras sem a fé são obras mortas; a fé sem obras é fé morta.

I. DIANTE DO NECESSITADO, A NOSSA FÉ SEM OBRAS É MORTA (Tg 2:14-17)

1. Fé e Obras. A julgar pela dedicação da Epístola no capitulo 1:1 – “aos irmãos da dispersão” -, o local da dispersão era o local onde Paulo pregou muito, para os judeus que estavam fora da palestina. Não é impossível que estes crentes tenham escutado o que Paulo tinha falado a respeito da doutrina da justificação, e que desenvolveram uma implicação errada acerca da justificação. Ou seja, para eles, se você é justificado pela fé em Cristo Jesus, o que você faz ou como você vive isso não vai ter muito impacto em seu relacionamento com Deus. Isto é o que em Teologia nós chamamos de antinomianismo, ou seja, a ideia de que a fé e a graça excluem as obras, atitude, comportamento e o andar diante de Deus. Tiago, porém, no capítulo 2:14-26, confronta essa compreensão errada, e afirma que a fé salvadora sempre vem acompanhada da evidência. Então neste sentido, fé e obras são dois lados de uma mesma moeda: a fé sendo a raiz da salvação e as obras sendo fruto dela. Onde tem uma vai ter a outra. Onde falta uma a outra também falta.

Alguém pode aparentar que tem fé, mas não vai ter obras se essa fé não é verdadeira. Pode haver que pessoas sejam retas, morais, que tenham obras, todavia lhe falta fé, que é a raiz de toda obra verdadeira.  Então fé e obras são dois lados de uma mesma moeda. São duas coisas que andam juntas. Então não há nem a necessidade de jogar Tiago contra Paulo, porque a fé que Tiago condena não é a fé que Paulo recomenda em Romanos; e as obras que Paulo condena, dizendo que nós não somos salvos pelas obras, não são as obras que Tiago recomenda. Paulo estava falando contra o legalismo, por isso ele enfatizava um lado da moeda; e Tiago está falando contra o antinomianismo - a libertinagem -, por isso ele está enfatizando o outro lado da moeda. Portanto, os dois homens de Deus estão absolutamente de acordo.

Em nossa vida cristã, o equilíbrio deve sempre ser uma busca incessante: uma fé que seja pura, centrada somente em nosso Senhor Jesus; e, por outro lado, uma vida que demonstre a realidade dessa fé através da prática das obras.

2. A “morte” da fé. “Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2:17). Tiago é claro em afirmar que a fé sem as obras está morta (Tg 2:17; 2:26), e uma fé morta não salva ninguém. Ortodoxia sem piedade produz morte. Quando, então, se constata a “morte” da fé? Responde o Rev. Hernandes Dias Lopes: (1)

a) quando a fé não desemboca em vida santa. A fé morta está divorciada da prática da piedade. Há um hiato, um abismo entre o que a pessoa professa e o que a pessoa vive. Ela crê na verdade, mas não é transformada por essa verdade. A verdade chegou à sua mente, mas não desceu a seu coração. É um erro pensar que apenas recitar ou defender um credo ortodoxo faz de uma pessoa um cristão. Aceitação intelectual, apenas, não é fé salvadora. A fé que não produz vida, que não gera transformação, é uma fé espúria (Mt 7:21).

Certo pastor, ao ser confrontado em razão de seu adultério, respondeu: "E daí se eu estou cometendo adultério? Eu prego melhores sermões do que antes". Esse homem estava dizendo que enquanto ele acreditasse e pregasse doutrinas ortodoxas, não importava a vida que ele levava. Mas Tiago ataca esse tipo de pensamento. Isso é fé morta.

b) quando a fé é meramente intelectual. Constata-se a “morte” da fé quando ela atinge apenas o intelecto. A pessoa consente com certas verdades, mas não é transformada por elas. No versículo 14, Tiago pergunta: "Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?". Quando Tiago usa a palavra semelhante, ele está falando de um certo tipo de fé, ou seja, a fé apenas verbal em oposição à fé verdadeira. Ainda no versículo 14, ele pergunta: "Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé e não tiver obras?". A fé aqui descrita existe apenas na base da pretensão. A pessoa diz que tem fé, mas na verdade não tem.

As pessoas com uma fé morta substituem obras por palavras. Elas conhecem as doutrinas, mas elas não praticam a doutrina. Elas têm discurso, mas não têm vida. A fé está apenas na mente, mas não na ponta dos dedos.

c) quando a fé não produz frutos dignos de arrependimento. Essa fé é ineficiente, inoperante e não produz nenhum resultado. Ela tem sentimento, mas não ação. Tiago dá dois exemplos para ilustrar a fé morta (Tg 2:15,16): um crente vem para a igreja sem roupas próprias e sem comida. Uma pessoa com uma fé morta vê essa situação e não faz nada para resolver o problema do irmão necessitado. Tudo o que ele faz é falar algumas palavras piedosas (Tg 2:16). Comida e roupa são necessidades básicas (1Tm 6:8; Gn 28:20). Como crentes, devemos ajudar a todos e, principalmente, aos que professam a mesma fé (Gl 6:10). Deixar de ajudar o necessitado é fechar o coração ao amor de Deus (1João 3:17,18). O sacerdote e o levita podiam pregar sobre sua fé, mas não demonstraram a sua fé (Lc 10:31,32).

II. EXEMPLOS VETEROTESTAMENTÁRIOS DE FÉ COM OBRAS (Tg 2:18-25)

1. Não basta “crer”.Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e estremecem” (Tg 2:19). Somente crer não é uma experiência salvadora. Você não conhece uma pessoa salva pelo conhecimento que adquire nem pelas emoções que demonstra, mas pela vida que vive (Tg 2:18). A fé dos demônios tem um estágio mais avançado de fé que muitos crentes, porque a fé dos demônios não é apenas intelectual, mas também emocional - eles creem e tremem. No que os demônios creem? O Rev. Hernandes Dias, citando Warren Wiersbe, responde a essa pergunta: (1)

Em primeiro lugar, os demônios creem que Deus é um só. Os demônios creem na existência de Deus. Eles não são nem ateístas nem agnósticos. Eles creem na "shemma" judaica: "Ouve ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor". Mas essa crença dos demônios não pode salvá-los.

Em segundo lugar, os demônios creem na divindade de Cristo. Os demônios corriam para ajoelhar-se diante de Cristo para adorá-lo (Mc 3:11,12). Eles sabiam quem era Jesus. Eles se prostravam aos pés do Senhor Jesus.

Em terceiro lugar, os demônios creem na existência de um lugar de penalidades eternas. Eles sabem que o inferno foi criado para o diabo e seus anjos. Eles sabem que o inferno é destinado para todos aqueles cujos nomes não forem encontrados no Livro da Vida. Eles não negam a existência do inferno (Mt 8:29; Lc 8:31). Eles creem nas penalidades eternas.

Em quarto lugar, os demônios creem que Cristo é o supremo Juiz que os julgará. Os demônios sabem que terão de comparecer diante de Cristo, o supremo juiz. Eles creem no julgamento final. Eles creem que todo joelho se dobrará diante de Cristo.

Entretanto, os demônios estão perdidos, eternamente perdidos. Uma fé meramente intelectual e emocional coloca-nos apenas no patamar dos demônios.

Portanto, irmãos, não basta somente “crer”. É necessário que a fé seja compromissada com ação. Tiago demonstra que a fé não consiste em um discurso, mas em convicção autêntica, seguida da prática de obras de amor. Em Tiago 2:18 é mostrado que a única maneira de os outros saberem que você tem fé é por uma vida que a comprove - “...mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Neste versículo a palavra-chave é “mostrar”. É impossível mostrar fé sem obras. A verdadeira fé e as obras são inseparáveis.

Tiago apresenta dois exemplos de fé operante encontrados no Antigo Testamento: Abrão, um hebreu, e Raabe, uma gentia. Vejamos mais detalhes nos itens seguintes.

2.  Abraão.Porventura Abraão, o nosso pai, não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?” (Tg 2:21). Abraão ouviu a voz de Deus e o obedeceu quando Ele ordenou que o patriarca oferecesse seu filho em holocausto. Abraão foi obediente à ordem de Deus porque cria que Ele era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar (Hb 11:18 - ARC). Foi sem dúvida uma prova difícil, mas Abraão confiou que Deus iria fazer o melhor, pois Ele mesmo havia prometido que faria de Abraão uma grande nação.

Para entendermos corretamente a afirmativa de Tg 2:21 devemos ler Gênesis 15:6. Nesta passagem, observamos que Abraão creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça. Abraão foi justificado por crer, ou seja, pela fé. Só mais adiante, em Gênesis 22, vemos Abraão oferecer seu filho e ser justificado por obras. Assim que creu no Senhor, Abraão foi justificado. Mas, no capítulo 22, Deus provou essa fé. O patriarca demonstrou a autenticidade de sua fé por meio da disposição de oferecer Isaque. Com a obediência, deixou claro que sua fé não era apenas uma crença intelectual, mas um compromisso do coração. A disposição de oferecer Isaque foi uma demonstração prática de fé do patriarca Abraão. Suas boas obras o levaram a ser chamado amigo de Deus (Tg 2:23).

3. Raabe. “E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho?” (Tg 2:25). Aqui, também, Tiago menciona o exemplo de Raabe. Essa mulher, que era meretriz, ouviu a Palavra de Deus e reconheceu que estava em uma cidade condenada. Ela não somente entendeu a mensagem, mas seu coração foi tocado (Js 2:11), e assim fez alguma coisa: protegeu os espias (Hb 11:31). Ela arriscou sua própria vida para proteger os espias. Mais tarde ela fez parte do povo de Deus (Mt 1:5) e tornou-se membro da genealogia de Cristo. Raabe não foi salva porque acolheu os espias, mas porque esse ato de hospitalidade comprovou que ela era, verdadeiramente, fiel ao Senhor.

Pergunta-se: Acaso essas obras de Abraão e Raabe, por si só, foram boas? Certamente não! No caso de Abraão, foi a disposição de matar o filho; no caso de Raabe, foi traição. Se removêssemos a fé dessas obras, elas seriam más, e não boas. Alguém disse que “sem a fé, essas obras seriam não apenas imorais e insensíveis, mas pecaminosas”. Se subtrairmos a fé de Abraão e Raabe, o resultado são obras do mal. Se as considerarmos frutos da fé, são obras da vida.

Conclui-se, então, que uma pessoa é também justificada por obras, e não somente por fé (Tg 2:24). Isso não significa que o cristão é justificado por fé acrescida de obras. A justificação se dá por fé em relação a Deus e por obras em relação aos homens. Deus justifica o cristão no momento em que ele crê. Alguém poderá dizer: “Mostra-me a realidade da tua fé”. A única maneira de fazer isso é por meio de boas obras.

III. A METÁFORA DO CORPO SEM O ESPÍRITO PARA EXEMPLIFICAR A FÉ SEM OBRAS (Tg 2:26)

1. Uma analogia do corpo sem espírito. Tiago termina a sua mensagem sobre fé e obras fazendo uma analogia do corpo sem espírito:Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tg 2:26).

Eis um excelente resumo da questão: Tiago compara a fé ao corpo humano, e as obras, ao espirito. O corpo sem espirito é morto, inútil e sem valor. De modo semelhante, a fé sem obras é morta, ineficaz e imprestável. Trata-se, obviamente, de uma fé espúria, e não da verdadeira fé salvadora.

Em síntese, Tiago testa nossa fé de acordo com a resposta que damos à seguinte pergunta: Estou disposto, como Abraão, a oferecer a Deus o que tenho de mais precioso? Estou disposto, como Raabe, a trair o mundo a fim de ser leal a Cristo? Ninguém é levado a agir se não tiver fé; a fé de uma pessoa não será real a menos que a leve à ação. A ação é a obediência a Deus.

2. Da mesma maneira: fé sem obras é morta. Tiago conclui a sua exortação, reafirmando seu tema central: a fé sem obras é morta. Do mesmo modo que o corpo sem seu espírito vivificante - “sem fôlego de vida” (Gn 2:7) -, não passa de um cadáver, assim também a fé, sem as obras que lhe dão vitalidade, é morta. Percebemos que Tiago está preocupado não com que as obras sejam “acrescentadas” à fé, mas, sim, com que se possua o tipo certo de fé, uma fé operante. Sem este tipo de fé, o cristianismo torna-se uma ortodoxia estéril e perde todo o direito de ser chamado de fé. (2)

CONCLUSÃO

A fé deve nos mover em prol de boas ações, não para sermos salvos, mas para demonstrar que somos salvos, que nossa fé não é estática, e que Deus pode usar nossas ações para fazer apresentar a fé pura e imaculada.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

(1) Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

(2) Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

 

 

 

 

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