domingo, 9 de março de 2025

A SALVAÇÃO NÃO É OBRA HUMANA

         1º Trimestre de 2025

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 11

Texto Base: Efésios 2:1-10

“Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5).

Efésios 2:

1.E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,

2.em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência;

3.entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também

4.Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,

5.estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),

6.e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;

7.para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.

8.Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.

9.Não vem das obras, para que ninguém se glorie.

10.Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus prepararam para que andássemos nelas.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, exploraremos a doutrina bíblica da salvação, destacando seu fundamento na graça de Deus e seu acesso pela fé em Cristo Jesus (Ef.2:8,9). Este ensino central ao Cristianismo reafirma que a salvação não pode ser conquistada por méritos humanos, mas é um dom divino que evidencia o amor e a misericórdia de Deus. Além disso, examinaremos algumas concepções equivocadas que surgiram ao longo da história, distorcendo a mensagem genuína do evangelho. Essas visões, muitas vezes fundamentadas em obras humanas ou filosofias errôneas, afastam os crentes da verdade bíblica, comprometendo a vida espiritual e a comunhão com Deus. Assim, entender a salvação pela graça é essencial para a vivência plena da fé cristã e para resistir a falsas interpretações que podem desviar do caminho da verdade.

I. A SALVAÇÃO SOB A GRAÇA DE DEUS

1. A descrição do estado espiritual humano (Ef.2:1-3)

“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência; entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também”.

O apóstolo Paulo descreve neste texto a gravidade da condição espiritual do ser humano antes da obra regeneradora de Deus, enfatizando a universalidade e profundidade do pecado.

A expressão "mortos em ofensas e pecados" (Ef.2:1) não apenas aponta para a separação espiritual de Deus, mas para a total incapacidade do homem de se reconciliar com Ele por seus próprios esforços. Esse estado de morte espiritual se manifesta em um estilo de vida alinhado ao "curso deste mundo" (Ef.2:2), revelando a conformidade com os valores contrários à vontade divina.

Paulo também menciona a influência do "príncipe das potestades do ar" (Ef.2:2b), uma referência ao domínio de Satanás sobre o sistema mundano e os "filhos da desobediência" que seguem sua liderança. Essa rebelião é ampliada pela busca desenfreada dos desejos da carne, que controlam não apenas o corpo, mas a mente e os sentimentos humanos (Ef.2:3). Assim, os seres humanos caídos são chamados de "filhos da ira", indicando a justa condenação divina sobre aqueles que permanecem em pecado.

Essa descrição destaca a realidade devastadora do pecado e a necessidade de intervenção divina para libertar o ser humano dessa condição. Sem a graça de Deus, como será demonstrado nos versículos subsequentes, o homem está irremediavelmente perdido. Efésios 2:1-3 serve como um lembrete da grandeza da salvação oferecida por Cristo, que transforma essa condição de morte espiritual em vida abundante para aqueles que creem (Ef.2:4,5).

2. Mortos em ofensas e pecados (Ef.2:1,5)

“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)”.

As expressões "mortos em ofensas e pecados" (Ef.2:1) e "mortos em nossas ofensas" (Ef.2:5) são descrições cruciais da condição humana antes da regeneração em Cristo. Aqui, Paulo utiliza uma metáfora poderosa para comunicar a realidade da separação espiritual do ser humano em relação a Deus.

A morte espiritual, conforme descrita, não significa inexistência ou aniquilação, mas um estado de alienação completa do Criador, incapacidade de buscar ou agradar a Deus por conta própria (Is.59:2; Rm.3:10-12). Essa separação inclui tanto o afastamento da comunhão com Deus quanto a sujeição ao pecado e à condenação divina.

A metáfora da morte espiritual ilustra a inércia espiritual do ser humano: assim como um cadáver não pode reagir ou reviver por si mesmo, o pecador não tem condições de buscar a salvação sem a intervenção divina. É nesse contexto que Efésios 2:1-5 apresenta a graça de Deus como a única solução. Deus, por sua imensa misericórdia e amor, "nos vivificou juntamente com Cristo" (Ef.2:5), uma referência à regeneração operada pelo Espírito Santo, que restaura a vida espiritual perdida no pecado (João 3:5,6; Tt.3:5).

Essa vivificação enfatiza que a salvação não é mérito humano, mas um ato soberano e gratuito de Deus. A expressão “E vos vivificou” (Ef.2:1) demonstra que Deus é quem toma a iniciativa em salvar o pecador, sendo a graça o elemento central na obra de redenção (Ef.2:4,5). A metáfora reforça a completa dependência do ser humano da obra de Deus, apontando para a centralidade de Cristo como aquele que trouxe vida ao que estava espiritualmente morto (João 14:6). Isso confirma que a salvação é obra exclusiva da graça divina, impossibilitando qualquer vanglória humana (Ef.2:8,9).

3. A exegese de Éfeso 2:8-10

A passagem de Efésios 2:8-10 é fundamental para o entendimento bíblico da salvação como uma obra inteiramente divina, sem qualquer contribuição humana. O texto afirma:

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (ARC).

a) A graça como fundamento da salvação. A palavra "graça" (do grego charis) enfatiza o favor imerecido de Deus, concedido sem mérito humano. A salvação não é alcançada por esforço, moralidade ou obras humanas, mas é inteiramente um presente divino. A.T. Robertson esclarece que a expressão "isto é dom de Deus" (Ef.2:8) se refere ao ato completo da salvação pela graça, não especificamente à fé. Assim, a fé é o instrumento que apropria a salvação, enquanto a graça é o fundamento.

b) A fé como meio, não como mérito. Norman Geisler resume bem o papel da fé: “a fé é o meio e a salvação é o fim”. Fé, no contexto bíblico, não é uma obra humana, mas uma resposta gerada pela ação de Deus no coração humano (João 6:44; Fl.1:29). A fé não carrega mérito em si mesma; ela simplesmente confia e recebe o dom da salvação.

c) A exclusão de mérito humano. A frase "não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef.2:9) reforça que qualquer tentativa de complementar a obra de Cristo desvirtua o evangelho. As boas obras, embora essenciais para a vida cristã, não são causa, mas consequência da salvação. Efésios 2:10 explica que somos “feitura sua” (do grego poiema, significando “obra-prima”), criados em Cristo Jesus para realizar boas obras, que Deus já preparou. Isso demonstra que as obras fluem da nova vida em Cristo, não são a base dela.

Enfim, Efésios 2:8-10 rejeita as ideias de mérito humano ou sinergismo (uma cooperação humana na salvação). Este texto fundamenta a doutrina da justificação pela fé somente (sola fide) e destaca a soberania de Deus na salvação. Para o crente, essa verdade gera humildade, gratidão e um desejo de cumprir as boas obras como reflexo da transformação operada por Deus.

Esta exegese refuta interpretações errôneas de que fé ou obras humanas possam completar a salvação, enfatizando que é exclusivamente um ato de Deus, pela graça, mediado pela fé, com um propósito: glorificar a Deus através de uma vida transformada e dedicada ao bem.

Sinopse: A SALVAÇÃO SOB A GRAÇA DE DEUS

A primeira parte do estudo deste tópico aborda a condição espiritual do ser humano antes da obra regeneradora de Cristo, conforme Efésios 2:1-3. O apóstolo Paulo descreve a humanidade como "mortos em ofensas e pecados", enfatizando a incapacidade do homem de se salvar por seus próprios méritos. Essa morte espiritual se manifesta na submissão ao curso deste mundo e à influência de Satanás, levando os pecadores a uma vida de desobediência e condenação.

A segunda parte aprofunda a metáfora da morte espiritual em Efésios 2:1,5, mostrando que sem a intervenção divina, o ser humano permaneceria alienado de Deus. A regeneração, portanto, é um ato exclusivo da graça divina, que vivifica aqueles que estão espiritualmente mortos.

A terceira parte trata da exegese de Efésios 2:8-10. Este texto esclarece que a salvação é um dom gratuito de Deus, acessado por meio da fé, sem qualquer mérito humano. A fé é apresentada como um instrumento para receber a graça, e não como uma obra meritória. A passagem também destaca que as boas obras são resultado da transformação operada por Deus, não um meio de obtenção da salvação.

Enfim, esse estudo reforça a doutrina da salvação exclusivamente pela graça, rejeitando qualquer ideia de mérito humano. O entendimento dessa verdade deve gerar no crente humildade, gratidão e compromisso com uma vida que glorifique a Deus.

II. SOTERIOLOGIAS INADEQUADAS NA ANTIGUIDADE

1. Os reencarnacionistas

O termo “soteriologia” refere-se aos diversos ensinos religiosos inadequados sobre a salvação. O primeiro deles é a doutrina da reencarnação. Esta doutrina é uma das crenças religiosas mais antigas e amplamente difundidas, com raízes no Hinduísmo e forte presença no Budismo, Jainismo e Sikhismo. Essa doutrina ensina que a alma humana atravessa múltiplos ciclos de nascimento e morte (samsara), evoluindo espiritualmente até alcançar a perfeição ou libertação final (moksha). Nas religiões ocidentais, essa crença foi adaptada por movimentos como o Espiritismo Kardecista, que defende a purificação moral por meio de sucessivas vidas terrenas.

a) Origem e fundamentação inadequada da reencarnação. Os defensores dessa doutrina compartilham uma visão de autossalvação baseada no esforço humano, excluindo o papel redentor de Cristo. Isso contrasta diretamente com o ensino bíblico sobre a unicidade da vida e o julgamento posterior (Hb.9:27). Salmos 78:39 também reconhece a fragilidade humana e a transitoriedade da existência terrena, enquanto João 9:1-3 refuta qualquer ligação automática entre vidas passadas e sofrimento presente, desmentindo a lógica reencarnacionista.

b) A reencarnação como uma visão antibíblica. A doutrina da reencarnação elimina a necessidade de um Salvador, promovendo uma salvação alcançada por méritos pessoais, algo contrário à graça divina revelada nas Escrituras (Ef.2:8,9). A reencarnação nega a suficiência do sacrifício de Cristo, essencial para a reconciliação entre Deus e a humanidade (Rm.5:8-11). Além disso, essa visão ignora a doutrina da ressurreição, que é o fundamento da esperança cristã (1Co.15:12-22).

c) Impactos espirituais e culturais. A adoção da reencarnação por algumas culturas ou movimentos ocidentais, como o Espiritismo e o Movimento Nova Era, reflete um sincretismo religioso que desvia da verdade bíblica. Essa visão pode levar a uma espiritualidade centrada no esforço humano e na busca de mérito, afastando as pessoas da dependência de Cristo e da obra transformadora do Espírito Santo.

d) A resposta cristã à doutrina da reencarnação. A apologética cristã deve enfatizar que a salvação é um dom de Deus, recebido pela fé em Cristo, e não pelo esforço humano. As Escrituras claramente ensinam que cada pessoa vive uma única vida e enfrentará o julgamento após a morte (Hb.9:27). É necessário abordar esse tema com clareza, apresentando a mensagem do evangelho como resposta definitiva às necessidades espirituais da humanidade, oferecendo libertação, perdão e vida eterna em Cristo.

Assim, a reencarnação é incompatível com a fé cristã e precisa ser rejeitada como uma visão inadequada sobre a salvação. A igreja deve estar equipada para identificar e refutar tais crenças, apresentando com clareza o caminho bíblico da salvação.

2. Os galacionistas

Os galacionistas eram um grupo de legalistas judaizantes que enfrentaram o apóstolo Paulo na província da Galácia, conforme descrito na Epístola aos Gálatas. Esses judeus convertidos ao Cristianismo insistiam que os gentios deveriam observar a Lei de Moisés, incluindo a prática da circuncisão, como condição indispensável para a salvação (Atos 15:1). Essa posição refletia um esforço para mesclar a graça da nova aliança em Cristo com as exigências cerimoniais da antiga aliança, criando um evangelho híbrido.

a) A controvérsia e o contexto bíblico. O apóstolo Paulo condena essa visão como uma distorção do verdadeiro evangelho (Gl.1:7). Ele argumenta que a justificação não vem pelas obras da Lei, mas pela fé em Cristo Jesus (Gl.2:16). O cerne da mensagem paulina é que a Lei expõe o pecado, mas não pode salvar (Rm.3:20). A tentativa dos galacionistas de impor a Lei como requisito para a salvação subvertia a obra redentora de Cristo, negando a suficiência de Sua morte e ressurreição.

b) A mensagem central de Gálatas. Paulo demonstra que a salvação é exclusivamente pela graça, mediante a fé (Ef.2:8,9), e que os crentes são livres do jugo da Lei (Gl.5:1). Ele contrasta o sistema da Lei com o evangelho da graça, apontando que a justificação vem por meio da fé e não por obras humanas. Ao ressaltar a liberdade cristã, Paulo refuta o legalismo e afirma que a verdadeira obediência brota do Espírito Santo e não de um cumprimento forçado da Lei (Gl.5:16-18).

c) O perigo do legalismo. Os galacionistas representam um perigo constante para a fé cristã, pois o legalismo é uma tentativa de misturar o mérito humano com a graça divina. Essa visão não apenas desvaloriza o sacrifício de Cristo, mas também conduz os crentes a uma relação de escravidão espiritual, baseada no medo e na performance, em vez de liberdade e amor.

d) Aplicação para a Igreja atual. As influências legalistas ainda são perceptíveis em algumas vertentes religiosas contemporâneas, que buscam impor regras e tradições humanas como condições para a salvação. A igreja deve estar alerta para não cair em práticas semelhantes, mantendo firme o entendimento de que a salvação é inteiramente obra de Deus, sem depender de esforços humanos ou aderência a rituais religiosos.

Os galacionistas, enfim, são um exemplo histórico de como a distorção do evangelho pode desviar a igreja da verdade. A defesa do evangelho da graça por Paulo continua sendo um marco teológico essencial, lembrando-nos de que Cristo completou a obra de redenção de maneira plena e perfeita. Assim, o foco do crente deve estar na graça divina e na liberdade encontrada em Cristo.

3. Os gnósticos

Os gnósticos apresentavam uma visão soteriológica profundamente marcada pelo dualismo, associando a matéria ao mal e o espírito ao bem. Essa visão maniqueísta, influenciada pelo ensino de Mâni (216-276), separava a existência em dois reinos opostos: o reino da luz e o reino das trevas, em constante luta. No contexto gnóstico, o objetivo da salvação era libertar o espírito humano da "prisão" do mundo material e de forças planetárias opressoras. Essa libertação, segundo eles, seria alcançada por meio de um conhecimento secreto e místico, chamado gnosis. Esse conhecimento, contudo, era considerado exclusivo dos “espirituais”, excluindo a maioria das pessoas que, na visão gnóstica, eram "materiais" e incapazes de receber essa iluminação.

a) Refutação teológica. A Bíblia refuta claramente a visão gnóstica em vários aspectos:

  • A criação não é inerentemente má. Deus criou o mundo material e declarou que tudo era bom (Gn.1:31). A ideia gnóstica de que a matéria é má é contrária ao relato bíblico da criação.
  • A salvação é universal e não elitista. A mensagem do evangelho é inclusiva. Deus deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (1Tm.2:4). Textos como Tito 2:11 e Atos 17:30 enfatizam que a graça de Deus é manifestada para todas as pessoas, sem distinção de classe espiritual ou acesso a um "conhecimento secreto".
  • Cristo é o único meio de salvação. Enquanto os gnósticos pregavam que a salvação vinha por meio de um conhecimento místico, a Bíblia afirma que a redenção é obtida exclusivamente pela fé em Jesus Cristo e em Sua obra expiatória (Ef.2:8,9).

b) O poder do mal é limitado. Os gnósticos atribuíam um poder quase igualitário entre as forças do mal e do bem. Contudo, as Escrituras deixam claro que o Diabo, embora tenha influência no mundo, está subordinado à autoridade de Deus (Jó 1:12; 2:6). Deus é soberano, e nenhum poder pode se comparar ao Seu (Sl.135:6; Cl.1:16,17).

As ideias gnósticas ainda influenciam algumas correntes filosóficas e espirituais modernas, como o esoterismo e certos movimentos "New Age". A Igreja deve estar vigilante para reconhecer e refutar essas doutrinas que distorcem a verdade do evangelho.

Enfim, o dualismo gnóstico, que tenta colocar o bem e o mal em uma competição igualitária, contradiz a soberania de Deus e a mensagem inclusiva da salvação em Cristo. Ao rejeitar essas ideias, os cristãos reafirmam que a salvação é um dom de Deus, acessível a todos pela fé em Jesus Cristo, sem discriminação. A mensagem do evangelho não é elitista nem restrita; é um chamado universal para todos os que creem.

Sinopse: SOTERIOLOGIAS INADEQUADAS NA ANTIGUIDADE

Este estudo aborda três doutrinas equivocadas sobre a salvação que surgiram na antiguidade: a reencarnação, o legalismo judaizante dos galacionistas e o gnosticismo.

A doutrina da reencarnação, presente no Hinduísmo, Budismo e Espiritismo, ensina a evolução da alma por múltiplas vidas. Essa crença se opõe ao ensino bíblico da unicidade da vida e do julgamento final (Hb.9:27), além de eliminar a necessidade de um Salvador, promovendo a autossalvação por mérito pessoal. O evangelho refuta essa visão ao afirmar que a salvação é pela graça, mediante a fé em Cristo (Ef.2:8,9).

Os galacionistas, grupo judaizante enfrentado por Paulo, tentavam combinar a graça do evangelho com a observância da Lei de Moisés, especialmente a circuncisão (Atos 15:1). Paulo condena essa prática como uma distorção do evangelho (Gl.1:7) e enfatiza que a justificação vem apenas pela fé, sem a necessidade de obras da Lei (Gl.2:16; Ef.2:8,9). O legalismo, além de ser um erro teológico, aprisiona os crentes em um sistema de méritos, negando a suficiência da obra redentora de Cristo.

O gnosticismo promovia um dualismo entre matéria (má) e espírito (bom), ensinando que a salvação era alcançada por um conhecimento secreto (gnosis), reservado a poucos iluminados. Essa visão elitista contradiz a revelação bíblica de que Deus criou o mundo como algo bom (Gn.1:31) e deseja que todos sejam salvos (1Tm.2:4). O evangelho ensina que Cristo é o único meio de salvação (Ef.2:8,9) e que a redenção não depende de conhecimento oculto, mas da graça de Deus.

Ao analisar essas soteriologias inadequadas, este estudo reforça a importância de defender o evangelho bíblico, que proclama a salvação como um dom divino acessível a todos pela fé em Jesus Cristo.

III. AS SOTERIOLOGIAS INADEQUADAS DE HOJE

1. O Islamismo

A soteriologia islâmica apresenta uma perspectiva profundamente distinta do cristianismo. No Islã, a salvação é primariamente meritocrática, baseada no equilíbrio entre boas e más ações de uma pessoa, conforme registrado no Alcorão (13:22-23). Os muçulmanos acreditam que, no Dia do Juízo, as boas ações daqueles que forem mais piedosos pesarão mais, permitindo que entrem no Paraíso. Além disso, o Alcorão enfatiza que Allah não ama os pecadores, apenas os piedosos e gratos (Alcorão 2:190, 276). Este conceito, repetido em várias passagens do Alcorão, reflete uma visão condicional do amor divino, diferente da perspectiva cristã.

O cristianismo, porém, ensina que a salvação não é baseada em méritos ou obras, mas é um dom gratuito de Deus, acessível pela fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8,9). A expiação dos pecados é essencial na fé cristã, realizada unicamente através do sacrifício de Jesus (Hebreus 9:22; João 14:6). Em contraste, no Islã, não há conceito de expiação vicária. O perdão é obtido diretamente de Allah, e a salvação depende da obediência aos mandamentos divinos e da misericórdia de Allah.

Enquanto o Islã afirma que Allah não ama os pecadores, o cristianismo proclama que Deus ama a todos, incluindo os pecadores (João 3:16; Romanos 5:8). Essa diferença fundamental reflete as distintas concepções de Deus em ambas as religiões. Para o cristianismo, o amor de Deus é incondicional e estende-se mesmo àqueles que ainda não se voltaram a Ele.

A ideia islâmica de salvação pelas obras contrasta diretamente com o ensino cristão da justificação pela fé. Romanos 10:9,10 destaca que a salvação começa no momento em que uma pessoa crê no coração que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos e confessa publicamente Sua soberania. Esta fé, no entendimento cristão, transforma o pecador e o reconcilia com Deus, um conceito que é ausente na soteriologia islâmica.

Enfim, a soteriologia islâmica reflete uma abordagem centrada no mérito humano e na misericórdia condicional de Allah, enquanto o Cristianismo autêntico é fundamentada na graça de Deus, por meio da fé em Jesus Cristo. Este contraste destaca a singularidade da mensagem cristã de redenção, que não apenas oferece salvação, mas também um relacionamento transformador com Deus. Ao dialogar com muçulmanos, é essencial compreender essas diferenças para apresentar a mensagem do evangelho com clareza e amor.

2. As Testemunhas de Jeová

A doutrina das Testemunhas de Jeová sobre a salvação é uma distorção do ensino bíblico, pois desloca o foco da obra redentora de Cristo para a dependência de uma organização humana. Eles ensinam que a salvação está ligada à fidelidade à sua organização e não exclusivamente à obra de Cristo. Contudo, a Bíblia é clara ao afirmar que Jesus é o único mediador e caminho para a salvação:

  • João 14:6 – “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”.
  • Atos 4:12 – “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”.

A ênfase bíblica, portanto, é na obra redentora de Cristo e não em qualquer instituição humana.

Essa teologia divide os salvos em duas classes:

Ø  A classe dos ungidos – restrita a 144 mil pessoas, que teriam acesso ao céu.

Ø  A grande multidão – os que herdarão a terra e não possuem as prerrogativas espirituais concedidas pela salvação em Cristo.

Essa perspectiva contraria diretamente a mensagem bíblica, que apresenta uma salvação universal em Cristo, disponível a todos que creem (João 3:16). Vamos analisar as principais afirmações desta doutrina e apresentar uma refutação com base nas Escrituras:

a) A classe dos 144 mil (Ap.7:4-8)

A ideia de que apenas 144 mil terão acesso ao céu é baseada em uma interpretação literal e descontextualizada de Apocalipse 7:4-8. No entanto, o contexto de Apocalipse mostra que os 144 mil representam um número simbólico da plenitude do povo de Deus, provenientes das 12 tribos de Israel. Além disso, o texto prossegue mencionando uma "grande multidão" (Ap.7:9), não como um grupo distinto, mas como a totalidade dos redimidos:

  • Apocalipse 7:9 – “Depois destas coisas olhei, e eis uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas”. Isso reforça que a salvação é universal e abrange todos os que pertencem a Cristo, independentemente de classe ou distinção.

Entretanto, existe outra linha de entendimento na doutrina pentecostal e protestante tradicional desses os 144 mil. Acredita-se que eles são “servos do nosso Deus” (Ap.7:3), provenientes das tribos dos filhos de Israel (Ap.7:4-8). Talvez sejam os primeiros convertidos de uma grande colheita de almas ganhas para Deus, dentre todas as nações e tribos e povos e línguas, durante a Tribulação (Ap.7:9). Eles representam um grupo especial chamado e selado por Deus, com um propósito específico no período da Grande Tribulação; eles serão instrumentos poderosos na pregação do Evangelho, contribuindo para uma grande colheita espiritual entre todas as nações (Ap.7:9).

Características dos 144 mil:

1)   Origem e identidade:

o    Provenientes das 12 tribos de Israel, indicando que Deus ainda tem um plano específico para o povo judeu no contexto escatológico (Ap.7:4-8).

o    Eles são descritos como fiéis, irrepreensíveis e consagrados, não se contaminando com práticas mundanas (Ap.14:4,5).

2)   Missão durante a Grande Tribulação:

o    Estes homens, selados por Deus, serão protegidos de forma sobrenatural contra os juízos divinos derramados sobre o mundo (Ap.7:3; Ap.9:4).

o    Embora protegidos dos juízos, não estarão imunes à perseguição do Anticristo, podendo sofrer o martírio como parte de seu testemunho (Ap.7:13,14).

3)   A sinalização divina:

o    Receberão um “selo” na testa, que simboliza sua consagração e pertencimento a Deus. Esse selo servirá como marca de proteção espiritual contra os juízos divinos (Ap.9:4) e como distinção em seu ministério (compare Ez.9:4-6).

4)   Fidelidade e glória:

o    Tudo indica que serão mortos pelo Anticristo, pois em Apocalipse 14:3-5 eles estarão diante do trono de Deus cantando, indicando um relacionamento íntimo e privilegiado com o Senhor O texto afirma que o Cordeiro (Jesus glorificado) os honrará por sua fidelidade, como lemos em Apocalipse 14:3-5: “E cantavam um cântico novo diante do trono e diante dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra. Estes são os que não estão contaminados com mulheres, porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá. Estes são os que dentre os homens foram comprados como príncipes para Deus e para o Cordeiro. E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus”.

o    A descrição de serem "virgens" pode ser interpretada como pureza espiritual, denotando fidelidade absoluta a Deus e rejeição a qualquer forma de idolatria.

o    Os 144 mil são vistos como um sinal do plano redentor de Deus, mesmo em meio à Grande Tribulação, mostrando Sua fidelidade em alcançar o mundo com o Evangelho. Embora sejam identificados como mártires no desempenho de sua missão, eles também são exaltados e honrados pelo Cordeiro, participando da glória celestial.

Essa interpretação ressalta a soberania de Deus na história humana e Seu cuidado tanto com Israel quanto com as nações, trazendo salvação mesmo em tempos de julgamento.

b) A negação de privilégios espirituais à "grande multidão"

A doutrina das Testemunhas de Jeová afirma que a "grande multidão" não possui o Espírito Santo, não é filha de Deus e não tem Cristo como mediador. Isso, porém, contradiz frontalmente as Escrituras:

  • Romanos 8:9 – “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. Todos os cristãos verdadeiros têm o Espírito Santo habitando neles.
  • João 1:12 – “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”.
  • 1Timóteo 2:5 – “Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo”.

As Escrituras deixam claro que todos os que creem em Cristo, sem exceção, têm acesso a esses privilégios espirituais.

Refutação Geral

A doutrina das Testemunhas de Jeová é inconsistente com o ensino bíblico genuíno. A salvação em Cristo é apresentada como um ato da graça de Deus, pela fé, acessível a todos:

  • Efésios 2:8,9 – “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.

Portanto, qualquer ensino que limite a obra de Cristo ou condicione a salvação a uma organização religiosa contradiz o fundamento do Evangelho. O verdadeiro cristianismo proclama que Jesus Cristo é suficiente para salvar plenamente todos os que n’Ele creem.

3. O Mormonismo

O Mormonismo apresenta uma doutrina de salvação que combina elementos da fé cristã tradicional com práticas e crenças específicas da religião fundada por Joseph Smith Jr. Essa perspectiva diverge do ensinamento bíblico ortodoxo em pontos fundamentais, o que justifica uma análise crítica.

Doutrina Mórmon de Salvação:

a)   Salvação geral. Segundo o Mormonismo, todos os seres humanos experimentarão uma "salvação geral" após um período de castigo, à exceção de alguns considerados inaptos para o reino de Deus.

Este conceito conflita com o ensino bíblico de que após a morte vem o juízo final (Hb.9:27), sem uma segunda oportunidade de salvação.

b)   Salvação individual.

o    Para os mórmons, essa salvação exige fé em Jesus Cristo, arrependimento, batismo por imersão e a imposição de mãos, além de outros requisitos, como a obediência às leis e ordenanças específicas da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

o    Um requisito adicional controverso é reconhecer Joseph Smith Jr. como profeta e porta-voz de Deus.

c)   Ordenanças e mérito.

o    Os mórmons veem as boas obras e a observância das ordenanças como essenciais para a salvação, em contraste com o ensino bíblico de que a salvação é exclusivamente pela graça mediante a fé (Ef.2:8,9; Tt.3:5).

Refutação à Luz da Bíblia

a)   Salvação exclusiva em Cristo.

o    Jesus declarou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). Essa afirmação exclui a necessidade de mediadores adicionais, como Joseph Smith.

o    Atos 4:12 reforça que não há outro nome, além de Jesus, pelo qual possamos ser salvos.

b)   Salvação pela graça e não por obras.

o    O ensinamento de que a salvação exige mérito humano é contrariado por passagens claras como Efésios 2:8,9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.

o    A obra de Cristo na cruz foi completa e suficiente para a redenção (João 19:30; Hb.10:10-14).

c)   Universalidade da salvação em Cristo.

o    A salvação em Cristo é oferecida a todos, sem distinção, mas não é automática nem universal. Tito 2:11 diz: “A graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens”.

o    Porém, o Evangelho exige fé pessoal e arrependimento (Mc 1:15; At 2:38).

Enfim, a doutrina mórmon de salvação, ao incluir obras, ordenanças específicas e a mediação de Joseph Smith, contraria a mensagem central do Evangelho: a suficiência de Cristo como único Salvador. A verdadeira salvação, segundo a Bíblia, é acessível a todos os que se arrependem e creem em Jesus Cristo, sendo um dom gratuito da graça de Deus. Isso reafirma que a salvação não é uma conquista humana, mas uma dádiva divina, para a glória de Deus.

Sinopse: AS SOTERIOLOGIAS INADEQUADAS DE HOJE

Este tópico aborda três sistemas de crença que apresentam visões inadequadas sobre a salvação à luz das Escrituras: Islamismo, Testemunhas de Jeová e Mormonismo.

1. O Islamismo

A soteriologia islâmica é baseada no mérito das boas obras, onde a salvação é determinada pelo equilíbrio entre ações boas e más. Não há conceito de expiação vicária, e Allah não ama os pecadores, mas apenas os piedosos. Em contraste, o cristianismo ensina que a salvação vem exclusivamente pela graça de Deus, por meio da fé em Jesus Cristo (Ef.2:8,9; Rm.10:9,10).

2. As Testemunhas de Jeová

Essa crença distorce a doutrina bíblica ao condicionar a salvação à lealdade a uma organização humana, em vez da fé exclusiva em Cristo (João 14:6; Atos 4:12). A divisão entre uma classe celestial (144 mil) e uma terrena (a "grande multidão") é baseada em uma interpretação equivocada de Apocalipse 7. A Bíblia, no entanto, ensina que todos os crentes têm acesso às bênçãos espirituais em Cristo (Rm.8:9; João 1:12).

3. O Mormonismo

A salvação mórmon inclui um conceito de "salvação geral", permitindo que quase todos sejam salvos após um período de punição, e uma "salvação individual" que requer fé em Cristo, boas obras e a aceitação de Joseph Smith como profeta. Isso contradiz o ensino bíblico de que a salvação é exclusivamente pela graça (Ef.2:8,9) e que Cristo é o único mediador (1Tm.2:5).

A lição enfatiza que qualquer sistema que condicione a salvação ao mérito humano ou a uma organização religiosa se desvia da verdade bíblica. O Evangelho proclama que a salvação é um dom gratuito de Deus, acessível a todos os que creem em Cristo como Senhor e Salvador.

CONCLUSÃO

Nesta lição, aprendemos que a salvação é uma obra exclusiva de Deus, realizada por meio da graça e fundamentada no sacrifício de Jesus Cristo. Ela não pode ser obtida por méritos humanos, boas obras ou esforços religiosos, mas é um dom divino concedido àqueles que creem (Ef.2:8,9).

Exploramos como diversas doutrinas humanas tentam distorcer esse princípio, adicionando elementos que retiram de Cristo a centralidade do plano de redenção. Refutamos heresias que tentam substituir ou minimizar a obra completa de Cristo, reafirmando que Ele é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm.2:5).

O verdadeiro Evangelho nos chama a viver em gratidão, santidade e obediência, não como meios de alcançar a salvação, mas como frutos genuínos de quem é salvo. A salvação revela o amor de Deus, traz transformação e nos capacita para toda boa obra (2Tm.3:16,17).

Que possamos permanecer firmes na verdade do Evangelho, proclamando que a salvação é unicamente pela graça, mediante a fé em Cristo, para a glória de Deus.

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

O Novo Dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Efésios.

Bíblia de Estudo Apologética Cristã. CPAD.

Pr. Raimundo de Oliveira. Seitas e Heresias. CPAD.

Pr. Esequias Soares. Heresias e Modismos. CPAD.

Silas Daniel. Seitas e Heresias. CPAD.

Dicionário VINE.CPAD.

Dicionário Wycliffe. CPAD.

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