1º Trimestre de 2025
SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 07
Texto Base: Romanos 1:1-4; Filipenses 2:5-11
“dos quais são os pais, e dos
quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus
bendito eternamente. Amém!” (Rm.9:5).
Romanos 1:
1.Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo,
separado para o evangelho de Deus,
2.o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas
Escrituras,
3.acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo
a carne,
4.declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de
santificação, pela ressurreição dos mortos, — Jesus Cristo, nosso Senhor.
Filipenses
2:
5.De sorte que haja em vós o mesmo sentimento
que houve também em Cristo Jesus,
6.que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a
Deus.
7.Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo,
fazendo-se semelhante aos homens;
8.e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo
obediente até à morte e morte de cruz.
9.Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome
que é sobre todo o nome,
10.para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão
nos céus, e na terra, e debaixo da terra,
11.e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória
de Deus Pai.
INTRODUÇÃO
Nesta lição, exploraremos um dos mistérios mais sublimes da fé
cristã: a união das naturezas humana e divina em Jesus Cristo. Esse
ensinamento, amplamente fundamentado nas Escrituras, é essencial para
compreendermos a obra redentora de Cristo e o propósito eterno de Deus em se
revelar à humanidade por meio de seu Filho.
Jesus, plenamente homem, experimentou as limitações e os desafios
da condição humana, sendo capaz de simpatizar com as nossas fraquezas (Hb.4:15).
Ao mesmo tempo, Ele é plenamente Deus, eterno e imutável, possuindo a plenitude
da divindade (Cl.2:9). A confissão dessa verdade foi crucial para a formulação
da ortodoxia cristã e enfrentou sérias oposições ao longo da história da
Igreja.
Abordaremos as heresias do Nestorianismo, que separa as naturezas
de Cristo em duas pessoas distintas, e do Monofisismo, que confunde as duas
naturezas ao ponto de negar sua coexistência plena. Essas distorções foram
refutadas no Concílio de Calcedônia (451 d.C.), que estabeleceu o ensino
cristológico como base da fé. Por fim, analisaremos como essas ideias
equivocadas continuam a surgir, sob diferentes formas, nos dias atuais,
desafiando-nos a defender a verdadeira doutrina cristã com clareza e firmeza.
Esta Lição tem como propósito reafirmar as naturezas humana e
divina de Jesus e, ao mesmo tempo, mostrar as principais heresias contrárias ao
ensino doutrinário da natureza cristológica: o Nestorionismo e o Monofisismo, dois
pensamentos considerados heréticos no Concilio de Calcedônio, em 451, hoje um
bairro de Istambul, na Turquia.
Em seguida, estudaremos uma perspectiva atual em que essas
heresias se apresentam com uma aparência moderna.
I. O ENSINO BÍBLICO DA DUPLA NATUREZA DE JESUS
1. “Descendência de Davi segundo a carne”
(Rm.1:3)
Este texto de Romanos 1:3 destaca uma verdade central da
cristologia: Jesus é plenamente humano e, ao mesmo tempo, plenamente divino. A
expressão "descendência de Davi segundo a carne" sublinha a realidade
histórica e física de Jesus como um ser humano nascido em uma linhagem específica.
Ele não foi apenas um espírito celestial ou uma figura mítica; Ele pertenceu a
uma família concreta dentro do povo de Israel, cumprindo as profecias
messiânicas do Antigo Testamento, como as promessas feitas a Davi (2Sm.7:12-16;
Is.11:1).
A genealogia de Jesus, registrada em Mateus 1 e Lucas 3, evidencia
essa linhagem humana. Por meio de Maria, Jesus foi concebido pelo Espírito
Santo (Mt.1:20; Lc.1:35), o que preservou Sua santidade e pureza, garantindo
que Ele não herdasse a natureza pecaminosa de Adão. Esse nascimento miraculoso
revela o elo perfeito entre Suas naturezas humana e divina.
Essa realidade é crucial para a obra redentora de Cristo. Como
descendente de Davi, Ele é o Messias prometido; como Deus encarnado, Ele é o
Salvador perfeito capaz de reconciliar a humanidade com Deus. Portanto, a dupla
natureza de Jesus é uma verdade que fundamenta tanto a identidade de Cristo
quanto a eficácia de Sua missão salvadora.
2. “Declarado Filho de Deus em poder” (Rm.1:4)
A expressão "declarado Filho de Deus em poder", em
Romanos 1:4, é uma proclamação grandiosa da divindade de Jesus Cristo. Esse
título, combinado com "nosso Senhor", reflete Sua posição exaltada e
Sua identidade como Deus encarnado. Enquanto Romanos 1:3 enfatiza Sua
humanidade, Romanos 1:4 afirma claramente Sua natureza divina. Isso revela a
perfeita união das duas naturezas de Cristo: plenamente humano e plenamente
divino.
A ressurreição é o marco que declara, de forma pública e
definitiva, a divindade de Jesus. É "em poder" que Ele é reconhecido
como Filho de Deus, uma expressão que implica autoridade, majestade e a
plenitude de Sua identidade divina. Em Romanos 9:5, Paulo aprofunda essa
realidade ao afirmar que Cristo, segundo a carne, é descendente de Israel, mas,
simultaneamente, é "Deus bendito eternamente". Esta declaração é uma
das mais diretas na Bíblia sobre a divindade de Jesus, reconhecendo-O como
verdadeiro Deus, digno de adoração e louvor.
Essa verdade é fundamental para o cristianismo: Jesus não é apenas
um profeta ou um mestre moral, mas o Deus encarnado, o Criador que assumiu a
forma de criatura para redimir a humanidade. Essa união de divindade e
humanidade é a base para a reconciliação entre Deus e os homens. Além disso, a
menção de Sua linhagem israelita e Sua posição divina destaca a fidelidade de
Deus às promessas feitas a Israel, ao mesmo tempo que abre o caminho para a
salvação de toda a humanidade.
3. O antigo hino cristológico (Fp.2:5,6).
“De sorte
que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”.
O antigo hino cristológico encontrado em Filipenses 2:5-11 é um
dos textos profundos e teologicamente ricos sobre as naturezas humana e divina
de Jesus. Em Filipenses 2:5,6, Paulo nos exorta a ter o mesmo sentimento de
humildade que caracterizou Cristo. A expressão “sendo em forma de Deus” (morphê
theou) sublinha a essência divina de Jesus, indicando que Ele possui plenamente
a natureza e os atributos de Deus de maneira imutável e eterna.
O apóstolo descreve a pré-existência de Cristo como Deus e
enfatiza que Ele não considerou a igualdade com Deus algo a ser
"usurpado" ou agarrado egoisticamente. Isso não significa que Jesus
renunciou à Sua divindade, mas que, em Sua encarnação, Ele voluntariamente
escolheu abrir mão de exercer os privilégios e glórias inerentes à Sua posição
divina para cumprir o plano redentor de Deus Pai.
Ao assumir a “forma de servo” (morphê doulou) e ser “semelhante
aos homens” (Fp.2:7), Jesus demonstrou uma profunda humildade. Ele tomou a
posição mais baixa, experimentando as limitações da humanidade sem, contudo,
abandonar ou perder Sua divindade. Essa união perfeita entre a natureza divina
e a humana é um mistério sublime que reafirma o ensino bíblico de que Jesus é totalmente
Deus e totalmente homem.
O termo morphê é crucial aqui, pois revela que Jesus, ao
assumir a forma humana, não deixou de ser Deus; antes, Ele revelou a Sua
divindade na humildade do serviço e na obediência até a morte. Essa passagem
celebra não apenas a humilhação de Cristo, mas também a Sua exaltação posterior
(Fp.2:9-11), onde Deus Pai O eleva a uma posição de suprema autoridade,
reafirmando Sua divindade e o direito de ser adorado por toda criação.
O referido hino reflete a fé dos primeiros cristãos na dupla
natureza de Cristo e na Sua obra redentora. Ele serve como uma poderosa
lembrança de que a verdadeira grandeza está na humildade e na obediência a
Deus, tal como demonstrado perfeitamente em Jesus.
II. AS HERESIAS CONTRA O ENSINO BÍBLICO DA DUPLA
NATUREZA DE JESUS
1. Quem foi Nestório?
Nestório, que foi bispo de Constantinopla entre 428 e 431,
tornou-se figura central de um dos maiores debates cristológicos da história da
Igreja. Ele questionou o uso do termo Theotokos (“portadora de Deus” ou
“mãe de Deus”) aplicado a Maria, preferindo Christotokos (“portadora de
Cristo” ou “mãe de Cristo”), argumentando que Maria foi a mãe da natureza
humana de Jesus, mas não de Sua divindade. Essa distinção, em sua essência,
visava preservar o ensino bíblico sobre a eternidade de Deus, uma vez que o
Pai, o Filho e o Espírito Santo existem eternamente e não possuem origem
temporal (Salmos 90:2; Isaías 40:28).
Embora a intenção de Nestório fosse afirmar que as naturezas
divina e humana de Cristo permaneciam distintas e que Maria não poderia ser
chamada "mãe de Deus" no sentido de gerar Sua divindade, a forma como
ele apresentou suas ideias foi interpretada como uma separação excessiva entre
as naturezas de Cristo. Isso levou à acusação de que ele negava a unidade da
pessoa de Cristo — uma posição rejeitada pela ortodoxia.
O termo Theotokos, defendido por Cirilo de Alexandria,
ganhou ampla aceitação no Concílio de Éfeso (431). Ele não buscava exaltar
Maria acima de sua posição bíblica, mas proteger a doutrina da encarnação. A
intenção era enfatizar que Jesus, desde o momento de Sua concepção, era uma só
pessoa com duas naturezas inseparáveis: totalmente Deus e totalmente homem.
Apesar da derrota teológica de Nestório no Concílio de Éfeso, é
importante reconhecer que suas preocupações não eram infundadas. Ele se opunha
a excessos que poderiam levar à Mariolatria e buscava resguardar a pureza
doutrinária contra o Arianismo, que negava a plena divindade de Cristo.
Contudo, sua abordagem acabou criando divisões, resultando no Nestorianismo, um
movimento que separava radicalmente as duas naturezas de Cristo, uma posição
considerada herética pela Igreja.
O debate destaca a importância de equilíbrio e clareza ao tratar
de questões doutrinárias sensíveis, especialmente em torno do mistério da
encarnação de Cristo. O ensino bíblico, reafirmado pelo Concílio de Calcedônia
(451), é que Jesus é uma pessoa com duas naturezas, divina e humana, unidas
inseparavelmente, sem confusão ou divisão.
2. Nestorianismo
O Nestorianismo, associado ao bispo Nestório, emergiu como uma
tentativa de explicar o mistério da união entre as naturezas divina e humana de
Jesus Cristo. Embora Nestório apoiasse o Credo Niceno-Constantinopolitano
(381), que afirmava tanto a divindade quanto a humanidade de Cristo, a
controvérsia girou em torno de sua compreensão dessa união.
A acusação central contra Nestório foi que ele separava demais as
naturezas divina e humana, sugerindo que essas naturezas não estavam unidas em
uma única pessoa, mas sim existiam como duas pessoas distintas. Segundo seus
críticos, isso implicava que Cristo era uma espécie de “personalidade
dividida”. A analogia que teria sido usada para explicar sua posição —
comparando a união de Cristo com a união matrimonial em que marido e mulher são
“uma só carne” (Gênesis 2:24) — reforçou a percepção de que ele promovia uma
divisão radical entre as naturezas de Cristo.
Essa visão foi considerada herética no Concílio de Éfeso em 431,
que reafirmou que Cristo é uma única pessoa (hipóstase) com duas naturezas
distintas, mas inseparáveis. Essa unidade foi declarada indispensável para
preservar tanto a plena divindade quanto a plena humanidade de Jesus,
essenciais para a obra de redenção. A condenação de Nestório no concílio levou
ao seu exílio por ordem imperial.
É importante notar que alguns estudiosos argumentam que as ideias
de Nestório podem ter sido mal compreendidas ou distorcidas por seus
opositores, especialmente por Cirilo de Alexandria, seu principal adversário
teológico. Ainda assim, o movimento nestoriano se espalhou em regiões
orientais, formando a base para a Igreja Assíria do Oriente, que rejeitou os
decretos do Concílio de Éfeso.
Do ponto de vista doutrinário, a rejeição do Nestorianismo foi
crucial para salvaguardar a verdade bíblica da união das naturezas de Cristo.
Como Paulo ensina, em Cristo habita “toda a plenitude da divindade
corporalmente” (Col.2:9). Ele é um único mediador entre Deus e os homens,
plenamente Deus e plenamente homem, sem divisão ou confusão.
3. Monofisismo
O Monofisismo,
derivado do grego monos (único) e physis (natureza), foi uma
doutrina cristológica defendida por Êutiques, líder monástico de
Constantinopla. Essa visão afirmava que, após a encarnação, as duas naturezas
de Cristo — divina e humana — se fundiram em uma única natureza, que era uma
espécie de composição híbrida, nem totalmente divina nem totalmente humana.
Essa perspectiva foi rejeitada no Concílio de Calcedônia em 451, que reafirmou
a doutrina bíblica e ortodoxa de que Jesus possui duas naturezas completas e
distintas, divina e humana, unidas de forma inseparável em uma única pessoa.
a) Ilustração. O Monofisismo pode ser comparado
ao conceito de ligas metálicas, como o bronze, que resulta da fusão de cobre e
estanho. Após a mistura, o bronze não mantém as propriedades originais de cada
componente; ele se torna uma nova substância híbrida. De maneira semelhante,
Êutiques alegava que, na pessoa de Cristo, as naturezas divina e humana foram
amalgamadas em algo completamente novo, comprometendo a plenitude de ambas.
Porém, essa analogia é incompatível com a compreensão bíblica e
teológica. A ideia de que Cristo seria algo “meio divino e meio humano”
contradiz a revelação de que Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ele
possui uma plena humanidade, igual à nossa, exceto pelo pecado (Hb.4:15), e uma
plena divindade, sendo o eterno Filho de Deus (Col.2:9).
b) Refutação Bíblica. A doutrina bíblica é clara ao
apresentar Jesus como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sem mistura, confusão
ou alteração de suas naturezas. O apóstolo Paulo ensina que Cristo é
descendente de Israel “segundo a carne” (sua plena humanidade) e, ao mesmo
tempo, “Deus bendito eternamente” (sua plena divindade) (Rm.9:5). Em Filipenses
2:5-11, Paulo reafirma que Jesus, sendo em forma de Deus, assumiu a forma de
servo, ou seja, tornou-se plenamente humano sem abdicar de sua divindade.
Além disso, a Escritura enfatiza que Jesus é único mediador entre
Deus e os homens (1Tm.2:5). Essa mediação exige que Ele seja plenamente Deus
para representar Deus aos homens e plenamente homem para representar a
humanidade diante de Deus. Se as naturezas de Cristo fossem fundidas, sua obra
redentora seria comprometida, pois Ele não poderia ser o sacrifício perfeito e
suficiente para redimir a humanidade.
Enfim, o Monofisismo falha ao compreender a unidade das duas
naturezas de Cristo conforme revelado na Bíblia. Jesus Cristo é único em sua
pessoa, possuindo simultaneamente duas naturezas completas, divina e humana,
unidas de forma inseparável e sem confusão. Essa verdade é essencial para a fé
cristã, pois fundamenta a doutrina da salvação e da mediação perfeita de Cristo
em favor da humanidade. O Concílio de Calcedônia, ao rejeitar o Monofisismo,
reafirmou esse ensino, defendendo a integridade da cristologia bíblica e
preservando o entendimento correto sobre quem Jesus realmente é.
4. O Concílio de Calcedônia
O Concílio de Calcedônia, realizado em 451 d.C., foi um marco na
definição da doutrina cristológica ortodoxa. Ele reafirmou a verdadeira
natureza de Jesus Cristo como uma única pessoa divina com duas naturezas
completas e distintas — humana e divina. O documento do Concílio, conhecido
como “Definição de Calcedônia”, esclarece que essas duas naturezas
coexistem “sem confusão, sem mudança, sem divisão e sem separação”. Essa
formulação refutou tanto o Monofisismo (que fundia as naturezas em uma só)
quanto o Nestorianismo (que as separava em duas pessoas).
Principais Pontos da Formulação
Teológica:
a)
Duas naturezas plenas e distintas. As
naturezas humana e divina de Cristo permanecem completas e intactas. A natureza
divina não é diminuída pela encarnação, e a natureza humana não é absorvida ou
alterada pela divindade. Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, conforme
Romanos 9:5, que descreve Cristo como descendente de Israel segundo a carne e,
simultaneamente, como o “Deus bendito eternamente”.
b)
Uma só Pessoa e subsistência. Apesar da
distinção entre as naturezas, elas coexistem em uma única Pessoa. Cristo não é
dividido em duas pessoas, mas é o mesmo Filho Unigênito, o Verbo eterno de Deus
que assumiu a natureza humana. Essa união pessoal é permanente e foi plenamente
realizada na encarnação (João 1:14).
c)
Sem confusão ou mistura. O Concílio
rejeitou qualquer ideia de fusão ou confusão das naturezas, como defendido pelo
Monofisismo. Cristo é plenamente humano e plenamente divino, mas sua humanidade
não se torna divina, nem sua divindade é limitada ou transformada pela
humanidade.
d)
Sem divisão ou separação. Em
oposição ao Nestorianismo, o Concílio enfatizou que as duas naturezas estão
unidas de forma inseparável. Essa unidade garante que Cristo seja capaz de
atuar como mediador entre Deus e os homens, representando ambos de maneira
perfeita (1Tm.2:5).
O documento do Concílio sublinha que a encarnação não é uma
conversão de Deus em homem, nem de homem em Deus. Antes, é a assunção da
natureza humana pelo Verbo eterno, mantendo a distinção entre a natureza divina
e a humana. Jesus é, ao mesmo tempo, plenamente homem — com emoções, fraquezas
e limitações físicas (Hb.4:15) — e plenamente Deus, eterno, Todo-Poderoso e
Onisciente (Col.2:9).
A definição de Calcedônia é amplamente reconhecida como uma das
formulações teológicas mais precisas e completas sobre a cristologia bíblica.
Ela harmoniza passagens como João 10:30 (“Eu e o Pai somos um”), que aponta
para a divindade de Cristo; como João 10:33-37, que reflete sua relação única
com o Pai.
O documento do Concílio continua a ser uma referência fundamental
para a doutrina cristã até os dias de hoje, preservando a compreensão correta da
identidade e missão de Cristo como o Salvador. Sua ênfase na integridade das
duas naturezas de Cristo é essencial para a fé cristã, pois fundamenta a
doutrina da salvação e a obra redentora do Senhor Jesus.
III. O PERIGO DESSAS HERESIAS NA ATUALIDADE
1. Os monofisitas na atualidade
A heresia monofisita, condenada no Concílio de Calcedônia (451),
continua sendo um desafio teológico em alguns contextos cristãos, embora muitas
igrejas associadas ao monofisismo tenham nuances teológicas mais complexas do
que a acusação histórica de heresia pode sugerir. A tradição monofisita foi
perpetuada principalmente por meio das igrejas ortodoxas orientais, como a
Igreja Ortodoxa Copta, a Igreja Apostólica Armênia, a Igreja Ortodoxa Etíope
(Abissínia) e os Jacobitas sírios.
Essas igrejas rejeitaram a decisão de Calcedônia que proclamava
Cristo como uma única pessoa com duas naturezas, uma humana e outra divina,
plenamente distintas, mas unidas. Historicamente, elas preferiram usar o termo
"miaphysis" (uma natureza composta, conforme usado por Cirilo de
Alexandria) em vez de "monophysis" (uma única natureza). Isso implica
que Cristo tem uma natureza "unida" divina e humana após a
encarnação, uma formulação que ainda levanta controvérsias, mas difere do monofisismo
extremo de Êutiques.
Quem são eles hoje?
Os grupos monofisitas — ou, mais precisamente, miaphisitas —
continuam presentes na tradição cristã oriental. Esses grupos mantêm uma
prática devocional rica e são conhecidos por sua forte ênfase na divindade de
Cristo e no mistério da encarnação. Apesar das diferenças teológicas, muitos
desses cristãos se identificam como ortodoxos, mesmo que rejeitem o Concílio de
Calcedônia. São eles: as igrejas ortodoxas, cópita, armênia, abissínia e
jacobitas.
O Perigo Doutrinário
A principal preocupação com o monofisismo na atualidade está
relacionada à sua cristologia desequilibrada, que pode:
Ø Minimizar
a humanidade de Jesus. O monofisismo extremo pode levar à ideia de que a
humanidade de Cristo foi absorvida pela divindade, comprometendo a realidade da
encarnação. Isso enfraquece a verdade bíblica de que Jesus experimentou
plenamente as limitações, sofrimentos e tentações da natureza humana (Hb.4:15).
Ø Alterar
a compreensão da salvação. Se Cristo não fosse plenamente humano, Ele não poderia
ser o representante perfeito da humanidade diante de Deus, essencial para a
redenção (Rm.5:15-19).
Ø Criar
confusão teológica. Para cristãos não familiarizados com as diferenças
históricas e terminológicas, a falta de clareza pode levar a interpretações
equivocadas ou ao sincretismo doutrinário.
Resposta bíblica e teológica
Como cristãos, é importante manter o equilíbrio da doutrina
definida em Calcedônia: Jesus é plenamente Deus e plenamente homem em uma única
Pessoa, sem confusão ou mistura de naturezas. As Escrituras fundamentam essa
verdade:
Ø Divindade
plena de Jesus. Ele é chamado Emanuel, "Deus conosco" (Mt.1:23),
e "o Verbo que se fez carne" (João 1:14).
Ø Humanidade
plena de Jesus. Ele sofreu, chorou e morreu como qualquer ser humano (Mt.26:38;
João 19:30).
Ø Cristo
como Mediador perfeito. "Porque há um só Deus e um só Mediador entre
Deus e os homens, Jesus Cristo, homem" (1Tm.2:5).
Para dialogar com adeptos dessa tradição, é necessário:
Ø Entender
a terminologia. Muitas dessas igrejas rejeitam o rótulo de monofisitas e
preferem "miaphisitas". Compreender suas perspectivas ajuda a
construir pontes para o diálogo.
Ø Afirmar
a verdade bíblica. A Bíblia apresenta Jesus como o Emanuel — Deus que se
fez homem — sem comprometer nenhuma das duas naturezas (1Tm.3:16).
Ø Testemunhar
com respeito e clareza. O objetivo é edificar em amor (Ef.4:15),
apresentando a verdade de forma respeitosa, mas firme.
O desafio das heresias monofisitas destaca a importância de
estarmos bem fundamentados na doutrina bíblica e prontos para responder com
mansidão e temor (1Pd.3:15), sempre apontando para o Cristo verdadeiro e
glorificado.
2. Kenoticismo
O Kenoticismo é uma doutrina teológica que se baseia na ideia de
que Jesus Cristo, ao se encarnar, esvaziou-se de certos atributos divinos para
assumir a natureza humana. Essa perspectiva é derivada da palavra grega
“kenosis”, que significa “esvaziamento”. A passagem bíblica que frequentemente
é citada para ilustrar essa ideia é Filipenses 2:7, onde está escrito que Jesus
"a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se
semelhante aos homens”.
Essa doutrina busca explicar como Jesus Cristo, sendo Deus, viveu
entre os homens, destacando o conceito de "esvaziamento". Contudo,
ela deve ser cuidadosamente analisada, pois as interpretações exageradas podem
levar a distorções na compreensão da natureza divina de Cristo.
As linhas principais do Kenoticismo
a)
Esvaziamento
funcional. Essa interpretação sugere que o Verbo eterno manteve todos os
seus atributos divinos, mas escolheu voluntariamente não usá-los durante sua
vida terrena, operando sob a submissão à vontade do Pai e a direção do Espírito
Santo.
b)
Esvaziamento
essencial. Essa visão mais radical propõe que Jesus abandonou ou suspendeu
temporariamente certos atributos divinos, como Onipotência, Onisciência e Onipresença,
enquanto esteve encarnado. Essa posição é teologicamente problemática, pois
sugere que Jesus não seria plenamente Deus durante sua encarnação.
Resposta Bíblica ao esvaziamento de Cristo
A expressão "a si mesmo se esvaziou" (Fp.2:7) não
significa que Cristo deixou de ser Deus ou abriu mão de Sua essência divina. Em
vez disso, o esvaziamento refere-se à renúncia voluntária de Sua glória
celestial (João 17:5) e à submissão às limitações humanas para cumprir a missão
redentora. Ele assumiu a forma de servo, sujeitando-se às condições da
existência humana sem abdicar de Sua divindade. Cristo nunca deixou de ser
Deus. Ele revelou sua natureza divina ao:
ü Perdoar pecados, um
atributo exclusivo de Deus (Marcos 2:5-7; Lucas 7:48).
ü Receber adoração legítima, algo
devido somente a Deus (Mateus 8:2; 9:18; 15:25; João 9:38).
ü Demonstrar autoridade sobre a natureza,
acalmando tempestades e exercendo poder absoluto sobre a criação (Mt.8:26,27;
Mc.4:39; Sl.65:7; 89:9).
Esses atos confirmam que, mesmo na forma de servo, Jesus era
plenamente Deus e plenamente homem. Ele esvaziou-se da glória divina, mas não
de Sua essência divina.
O esvaziamento foi uma condição necessária para que Jesus se
tornasse o Messias e nosso Redentor. Ele escolheu não usar Sua glória celeste
para experimentar plenamente a condição humana, identificando-se com nossa
fragilidade e sujeição ao sofrimento (Hb.4:15). Contudo, Ele não abriu mão de
Sua divindade. Jesus permaneceu Deus, com todos os Seus atributos intactos,
enquanto vivia como um homem perfeito.
Problemas da doutrina kenótica extrema
ü Negação implícita da divindade de Cristo. Se
Cristo perdeu qualquer atributo essencial, Ele deixou de ser Deus, o que é
incompatível com as Escrituras (Col.2:9).
ü Comprometimento da salvação. Apenas
um Cristo plenamente divino e plenamente humano pode ser o mediador perfeito
entre Deus e os homens (1Tm.2:5).
ü Contradição com os atos divinos de Cristo. Como
Jesus poderia demonstrar atributos divinos, como Onisciência (João 2:25;
16:30), se os tivesse abandonado?
Enfim, o kenosis não é uma diminuição da essência divina de
Cristo, mas a renúncia voluntária de Suas prerrogativas de glória para cumprir
o plano redentor. Ele permaneceu plenamente Deus e plenamente homem em sua
encarnação. A Bíblia apresenta Cristo como o Emanuel — “Deus conosco” (Mt.1:23)
— que realizou Sua obra salvífica sem deixar de ser Deus em nenhum momento.
Essa verdade deve ser firmemente defendida contra interpretações que
comprometem a cristologia bíblica.
3. Mariolatria
A expressão “mãe de Deus”, adotada pelo Concílio de Éfeso
em 431 e defendida por Cirilo de Alexandria, tornou-se uma base significativa
para a veneração de Maria no catolicismo romano. Essa terminologia, em grego Theotokos
(portadora de Deus), foi introduzida para enfatizar a unidade entre as
naturezas divina e humana de Cristo em uma única Pessoa. Contudo, o uso e a
interpretação dessa expressão têm gerado desdobramentos teológicos e práticos
que se afastam do ensino bíblico, culminando na mariolatria — a exaltação indevida de Maria.
A origem da expressão “mãe de Deus”
O propósito original da expressão não era a exaltação de Maria,
mas a defesa da natureza divina de Cristo contra as heresias da época, como o
nestorianismo. Entretanto, ao longo dos séculos, o termo foi reinterpretado,
resultando em práticas que atribuem a Maria um status quase divino, o que vai
além do ensino bíblico.
A crítica bíblica à mariolatria
a)
Maria foi mãe de Jesus em sua humanidade. Maria é
reconhecida como a mãe de Jesus em sua humanidade, mas Deus é eterno, sem
começo ou fim (Salmos 90:2; Isaías 40:28). Portanto, a expressão “mãe de
Deus” é inadequada se interpretada como implicando que Maria tenha
contribuído para a divindade de Jesus.
b)
A humildade de Maria nas Escrituras. Maria, em
sua humildade, jamais buscou glória para si mesma. Ao contrário, ela reconheceu
sua necessidade de salvação - “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu
espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc.1:46,47). Essa declaração
demonstra que Maria se via como serva de Deus e dependente de Sua graça, e não
como uma figura divina.
c)
Cristo como o único mediador. A Bíblia
é clara ao afirmar que há um único mediador entre Deus e os homens: Jesus
Cristo (1Tm.2:5). Qualquer prática ou doutrina que sugira que Maria ou qualquer
outro possa interceder em um nível equivalente a Cristo contraria o ensino
bíblico.
d)
Veneração versus Adoração. Enquanto
a Bíblia nos ensina a honrar aqueles que servem a Deus fielmente, a veneração
de Maria no catolicismo muitas vezes ultrapassa os limites, transformando-se em
práticas de adoração que são reservadas exclusivamente a Deus (Êx.20:3-5; Mt.4:10).
A popularidade da mariolatria
A expressão “mãe de Deus” ganhou força devido à sua ampla
aceitação e uso no catolicismo romano, mesmo sendo teologicamente questionável.
Atos 8:9-11 serve como um exemplo de como a popularidade de uma ideia não
valida sua veracidade. No texto, o povo de Samaria deu crédito a Simão, um
mágico, por suas práticas impressionantes, confundindo seu engano com poder
divino. Essa passagem nos adverte sobre o perigo de aceitar algo como verdade
apenas porque é amplamente seguido ou promovido.0
Embora Maria seja digna de respeito por seu papel único na
história da redenção como a mãe de Jesus (Lc.1:28), a exaltação exagerada que
resulta em mariolatria desvia a glória de Deus, que é o único digno de adoração
(Isaías 42:8). A fé cristã deve se basear na Bíblia, e não na popularidade de
tradições ou interpretações humanas.
Finalmente, a doutrina da mariolatria nos desafia a discernir
entre o que é bíblico e o que é tradição humana. Devemos honrar Maria por sua
humildade, obediência e fé, mas nunca atribuir a ela atributos ou funções que
pertencem exclusivamente a Deus. O foco da adoração e da fé deve estar em
Cristo, o Emanuel, que é “Deus conosco” (Mt.1:23).
CONCLUSÃO
Aprendemos nesta Lição que as naturezas humana e divina de Jesus
reafirmam a singularidade da pessoa de Cristo, o Deus-Homem. Ele é plenamente
Deus, coexistindo eternamente com o Pai e o Espírito Santo, e plenamente homem,
assumindo a nossa humanidade sem pecado para cumprir o plano de redenção. Essa
verdade central é fundamental para a fé cristã, pois somente alguém que fosse
verdadeiramente Deus poderia satisfazer as demandas da justiça divina, e
somente alguém que fosse verdadeiramente homem poderia representar a humanidade
como substituto perfeito.
A história da Igreja, por meio de concílios como os de Éfeso (431)
e Calcedônia (451), demonstrou a necessidade de combater heresias que distorcem
o entendimento bíblico da pessoa de Cristo, como o nestorianismo e o
monofisismo. Essas falsas doutrinas continuam a influenciar práticas e crenças
em diferentes contextos, exigindo vigilância e fidelidade à Palavra de Deus.
Em nosso tempo, é vital conservar o ensino das Escrituras, que
apresenta Jesus como o único mediador entre Deus e os homens (1Tm.2:5). Ele é o
Emanuel, Deus conosco (Mt.1:23), o Verbo que se fez carne (João 1:14) e o
Senhor exaltado acima de todo nome (Fp.2:9-11). Que o estudo desta Lição nos
motive a adorar e servir a Cristo com mais fervor, reconhecendo a profundidade
de Seu sacrifício e a glória de Sua divindade. Assim, testemunhamos ao mundo a
fé no Salvador perfeito, o Deus que se fez homem para nos salvar.
Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Referências
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