domingo, 19 de dezembro de 2010

MARIA - MÃE DE JESUS - UMA MULHER DÍGNA DE SER IMITADA


INTRODUÇÃO
Quero, por ocasião da comemoração do natal de Jesus Cristo, falar de uma mulher que merece estar no pedestal. É claro que se ela estivesse viva ela diria: “longe de mim tal merecimento”. Mas para falar de Maria, mãe de Jesus, eu digo como Paulo: “Dai a cada um o que lhe é devido:.... a quem honra, honra”(Rm 13:7).
Maria é uma mulher digna de ser imitada não só pelas mulheres, mas por todos os cristãos de todos os tempos: por sua humildade, coragem, abnegação, fervor e fidelidade a Deus. Ela foi uma mulher que esteve pronta a correr todos os riscos para realizar a vontade de Deus. Vejamos a seguir algumas características importantes dessa mulher maravilhosa.
1. Maria uma mulher escolhida por Deus para ser a mãe do Senhor Jesus. Ser a mãe do Messias era o desejo de qualquer mulher israelita. O povo esperava um Messias da linhagem de Davi, porém um Messias ditatorial, guerreiro, libertador, déspota, invencível, mas nunca jamais imaginaram vir o Messias de alguma cidade da Galiléia, a Galiléia dos Gentios (Mt 4:15), principalmente de uma família pobre de Nazaré. O povo de Jerusalém desdenhava os judeus da Galiléia e dizia que eles não eram puros em virtude do seu contato com os gentios. Eles especialmente desprezavam os habitantes de Nazaré (João 1:45,46), mas Deus, em sua graça, escolheu uma jovem pobre, da pequena cidade de Nazaré, na pobre região da Galiléia, para ser a mãe do Messias prometido. Essa escolha teve sua origem na graça de Deus e não em qualquer mérito dela. Deus não chama as pessoas porque são especiais, mas elas se tornam especiais porque Deus as chama.
Quando o anjo aparece a Maria, pela primeira vez, quando da escolha para ser a mãe do Salvador ele diz; “...Salve, agraciada; o Senhor é contigo”(Lc 1:28). Agraciada significa favorecida, não merecedora, pois graça significa favor não merecido. Observe, também, que a mensagem do anjo estava na criança, e não em Maria. O Filho seria grande, não ela(Lc 1:31-33). O nome da criança resumia o propósito do seu nascimento. Ele seria o Salvador do mundo(Lc 1:31; Mt 1:21). O anjo revela a Maria que a concepção seria um milagre. Disse-lhe o anjo: “Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso o que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus”(Lc 1:35).
O Deus Filho tornou-se humano por meio de uma concepção milagrosa, operada pelo Espírito Santo no ventre de Maria. O Deus infinito, o Criador do universo, tornou-se um pequeno embrião humano no ventre de Maria. Dentre muitas jovens ricas daquela época e de famílias que moravam em Jerusalém, escolheu uma humilde e simples jovem da mais humilde e desprezível cidade dos termos de Israel. Considero isso um privilégio! “...porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”(1 Sm 16:7).
2. Maria, uma mulher disponível para Deus - “Disse então Maria. Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1:38). O anjo chamou Maria de “favorecida”, porém, ela preferiu um termo bem mais humilde: serva. Não serva de Gabriel, de José ou de homem algum, mas do próprio Senhor. Essa atitude de Maria resume toda a sua filosofia de vida. Maria se coloca nas mãos de Deus para a realização dos propósitos de Deus. Ela é serva. Ela está pronta. Ela se entrega por completo, sem reservas ao Senhor. Ela está pronta a obedecer e oferecer sua vida, seu ventre, sua alma, seus sonhos ao Senhor. Ela está disponível para Deus. Ela está pronta a sofrer riscos, a desistir dos seus anseios em favor dos propósitos de Deus. Ela está pronta a ser uma sócia de Deus, não uma igual com Deus, mas uma serva. Ela diz: “cumpra-se em mim conforme a tua palavra”. Estes termos mostram que ela estava disponível para Deus. De todos os úteros da terra, o seu útero foi escolhido para ser o ninho que ternamente acalentaria o Filho de Deus feito homem. A serva de Deus, Maria, se apresenta, bate continência ao Senhor dos Exércitos e se coloca às suas ordens.
3. Maria, uma mulher disposta a correr riscos para fazer a vontade de Deus – “... cumpra-se em mim segundo a tua palavra”(Lc 1:38). Para fazer a vontade de Deus há um preço a cumprir. Sempre foi assim ao longo da história da igreja àqueles que ergueram a bandeira de obediência ao Senhor Deus. Maria arriscou tremendo reveses em sua vida quando se propôs em fazer a vontade do Senhor: ser a Mãe do Salvador do mundo, o Messias.
a) Risco de censuras do povo. Ao aparecer grávida na cidade de Nazaré Maria estava exposta às mais aviltantes censuras, haja vista que o anjo apareceu somente a ela, e não ao povo de um modo geral. Imagine explicar uma gravidez, não explicável, para sua família!. Maria passou um tempo da sua vida sob uma nuvem de suspeita por parte da família e dos vizinhos.
b) Risco de ser abandonada pelo seu noivo, José, por não acreditar em sua gravidez milagrosa. Já que assumiu o compromisso de obedecer a Deus, como enfrentar o homem que amava e lhe dizer que estava grávida e que ele não seria o pai? Certamente, não foi fácil! Mas ela estava disposta a sofrer o desprezo e a solidão. Na verdade, José não acreditou em Maria, pois resolveu abandoná-la(Mt 1:19). Mas o anjo apareceu para ele e lhe contou a verdade e ele creu na mensagem do anjo e nas palavras de Maria(Mt 1:20). A Bíblia não registra nenhuma palavra direta de José. Ele simplesmente obedeceu.
c) Risco de ser apedrejada em público. O risco de Maria ser apedrejada era enorme, pois esse era o castigo para uma mulher adúltera. Como ela já estava comprometida com José(Mt 1:19), ele poderia, com base nos ditames da Lei Mosaica, mandar apedrejá-la. A Lei era enfática: “Se houver moça virgem desposada e um homem a achar na cidade, e se deitar com ela, trareis ambos à porta daquela cidade, e os apedrejareis até que morram: a moça, porquanto não gritou na cidade, e o homem, porquanto humilhou a mulher do seu próximo. Assim exterminarás o mal do meio de ti”( Dt 22:23,24).
Percebe-se que Maria dispôs-se a pagar um alto preço por sua obediência ao projeto de Deus. Maria era uma jovem pobre, agora grávida, com o risco de ser abandonada pelo noivo e apedrejada pelo povo. Mas ela não abre mão de ir até o fim, de lutar até a morte, de sofrer todas as estigmatizações possíveis para cumprir o projeto de Deus.
4. Maria, uma mulher feliz porque creu em Deus – “Bem-aventurada aquela que creu que se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas”(Lc. 1:45). Bem-aventurada quer dizer muito feliz. Maria não foi considerada feliz porque foi pedida em casamento por um milionário da região, nem por ser considerada a moça mais bonita de Nazaré, nem por ser a mais simpática da região, não. Isabel chama-a de muito feliz porque ela creu em Deus. Maria mesmo reconheceu que por ser a mãe do Salvador, ela seria considerada uma mulher muito feliz por todas as gerações(Lc 1:48).
5. Maria, uma mulher disposta a andar com Deus, mesmo diante das crises que a rodeavam. Maria, uma serva de Deus que merece ser imitada e respeitada. Nada poderia abalar sua fé, nem mesmo as piores crises. Tudo suportou por amor a Deus.
a) A crise do desabrigo. Após andar 130 quilômetros a pé ou de jumento, de Nazaré até Belém, ela dar à luz uma linda criança, o seu primogênito, o Filho do Altíssimo, o Verbo que se fez carne. Bem, o Filho do Altíssimo deve ter nascido em berço de ouro, por ser também da linhagem do rei Davi! Não, todos sabemos que ele nasceu numa humilde manjedoura, rodeados de animais, e num local não muito cheiroso. Se ela duvidou de Deus? Não, claro que não! Maria, além de uma mulher exemplar, ela era uma serva do Senhor, plenamente submissa a Ele. Ela não duvidou de Deus, não lamentou, não murmurou, nem se exaltou. Não reivindicou seus direitos, nem exigiu tratamento especial. Ela dá à luz ao seu filho sem um lugar propício, sem um médico ou parteira. Ela está sozinha com o seu marido, sem luzes, sem holofotes, sem cuidados, sem proteção humana.
b) A crise do desterro. Por força de um intento maligno do rei Herodes em matar o seu filho, Maria foge para o Egito. A crise agora foi ainda mais cruenta: era a crise de se sentir sem lugar certo para morar. Maria está enfrentando a crise de sentir-se desterrada, perseguida, ameaçada. Vão para um lugar onde serão ninguém, onde todos os vínculos importantes estarão ausentes. Ela é humilde o bastante para fugir. Corajosa o suficiente para enfrentar os perigos do deserto. Ela caminha sintonizada pelas mãos da Providencia Divina. Ser mãe do Messias em vez de trazer-lhe status, glória e honra traz-lhe solidão, perseguição, desterro. Ela obedece à voz do anjo que imperativamente disse: “...permanece lá até que eu te avise...”(Mt 2:13).
c) A crise da discriminação social. Após o retorno do Egito, Maria foi morar em Nazaré da Galiléia, juntamente com José e Jesus. Nazaré era considerada como subúrbio do fim do mundo. Era um dos maiores covis de ladrões e prostitutas da época. O comentário geral era que de Nazaré não saía nada de bom (João 1:46). Era uma região sem vez, sem voz, sem representatividade. Era um lugar de péssima reputação. Mas é lá nesse caldeirão de terríveis iniquidades, nessa região da sombra da morte, que o Filho de Deus vai crescer para ser o Salvador do Mundo. É como se Deus estivesse armando a sua barraca nas malocas mais perigosas da vida. O Filho de Deus, o Rei dos reis, deveria ser chamado não de cidadão da gloriosa Jerusalém, mas de Nazareno, termo pejorativo, sem prestigio.
6. Maria, a mãe privilegiadarecebeu nos braços o Filho de Deus – o seu próprio Salvador e Senhor. Imagine ser mãe de um ser que foi preexistente a tudo e a todos. A Bíblia notifica e reivindica esse fato. Jesus é preexistente a todas as coisas – “Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas”(Cl 1:17). Maria se torna mãe do seu Salvador e Senhor, isto é um fato, que pode ser visto com clareza, à luz das Escrituras:
a) O anjo disse a Maria que o seu filho seria o Filho do Altíssimo (Lc 1:32). Jesus, como Filho de Deus foi preexistente à sua mãe. Ele é o Pai da eternidade (Is 9:6). Ele é o Criador do Universo(Gn 1:1; João 1:3). Maria é mãe da natureza humana do Verbo eterno e divino(João 1:1). Quando o catolicismo romano proclama Maria “mãe de Deus”, deixa de perceber a incongruência lógica e teológica dessa afirmação, haja vista que Jesus é preexistente à Maria. A simples afirmação de que Maria é mãe de Deus despoja-O de seus atributos exclusivos de eternidade e divindade, pois se Deus teve mãe, Ele teve inicio, e se teve inicio, não é eterno, e se não é eterno, não pode ser Deus.
b) Os anjos proclamaram em Belém que o filho de Maria era o Salvador, o Messias e o Senhor – “É que vos nasceu hoje, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”(LC 2:11). Os anjos não fizeram nenhuma menção a Maria, mais disseram que tinha nascido o Salvador e Senhor, o Cristo esperado, o Senhor e Salvador de Maria e de todo o ser humano. Essa noticia dos anjos não foi dada no Templo, mas nas Campinas. Não foi dada aos sacerdotes, mas aos humildes pastores de ovelhas. Os anjos disseram que tinha nascido o Cristo, o Senhor. Seu trono está firmado para sempre, não terá fim(Lc 1:33). Todos os reinos dos povos cairão, mas seu reinado será estabelecido para sempre.
7. Maria, e o dia de seu maior sofrimento. Quando da apresentação de Jesus no Templo, em cumprimento aos ditames da Lei( Lc 2:27), Simeão, um ancião de Jerusalém, disse à Maria que “uma espada transpassará a tua alma”(Lc 2:35). É claro que Maria não entendeu nada do que se dizia de Jesus naquele momento, apenas se admirava do que se dizia de Jesus(Lc 2:33). Mas, trinta e três anos após cumpriu-se esta profecia, lá na cruz do calvário. Foi um dia negro da história da humanidade e, principalmente, na vida de Maria, contudo, um dia mais glorioso da história da humanidade. Era um dia de contrastes: Jesus morria, Jesus vencia; Jesus era humilhado, Jesus era glorificado; Ele era cercado de ódio por todos os lados, mas transbordando de amor por todos os poros.
Ao pé da cruz, está Maria sofrendo indescritivelmente ao ver seu filho primogênito morrendo sem sangue, exausto, sem forças. Ali, uma espada traspassou a sua alma. A espada era invisível, mas não o seu efeito. Na cruz, Jesus confia sua mãe a João, seu discípulo amado. Diz o trecho bíblico em João 19:26, 27: “ Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis ai teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa”. Ali na cruz, Jesus revelou seu amor cheio de cuidado por sua mãe. Ali, Jesus ensina que os filhos precisam cuidar dos pais. Jesus, o fez porque José já havia morrido e seus irmãos não acreditavam nEle(João 7:5), e além do mais, João era sobrinho de Maria.
8. Maria, a discípula de Jesus. Maria só despertou-se para seguir realmente a Jesus, após a sua morte e ressurreição, mais precisamente após a sua ressurreição. Por seus irmãos não crerem em Jesus(João 7:5), apesar dos milagres que Ele operava na Galiléia(João 7:3), Maria, certamente, duvidava que Jesus fosse o Messias, é tanto que ela e seus outros filhos foram prender a Jesus, achando que Ele estava “fora de si”(Mc 3:20), por estar há muito tempo sem comer. Com as multidões sempre o pressionando, Jesus não tinha sequer tempo para alimentar-se. Maria e seus filhos estavam preocupados com Jesus, mas não entendiam o seu ministério. Mas, após a sua ressurreição toda a sua família, inclusive Maria, tornou-se discípulos de Jesus. Com certeza, eles estavam dentre os quinhentos que Jesus aparecera (1Co 15:6). É tanto que Maria e os irmãos de Jesus estavam entre aqueles que aguardavam, em oração, a promessa do derramamento do Espírito Santo, no cenáculo (cf At 1:14). É a última vez que Maria aparece na Bíblia. Fechou sua passagem pela Bíblia com chave de ouro: recebeu o Batismo com o Espírito Santo e tornou-se uma discípula de Jesus revestida de poder. Observe bem que no cenáculo, Maria tomou o seu lugar com os outros cristãos que aguardavam a promessa do Batismo com o Espírito Santo. Ela não estava separada dos demais e nem acima deles. Ela estava na companhia daqueles que eram seguidores do Senhor Jesus. A Bíblia não diz que Maria recebeu uma porção especial do Espírito. Ela não foi mais cheia que os demais, não. Na verdade, seu lugar doravante foi discreto. Seus filhos, Tiago e Judas, são mencionados e escreveram livros da Bíblia, mas Maria não é citada mais, nem pelos apóstolos, nem pelos seus próprios filhos. O propósito dela não era estar no centro do palco, mas trazer ao mundo Aquele que é a Luz do mundo, o único digno de ser adorado e obedecido.
CONCLUSÃO
Ao longo da sua vida, por sua limitada humanidade, Maria não entendeu todos os aspectos do ministério do seu Filho, mas, sempre soube o seu papel e o desempenhou com discrição, jamais buscando ocupar um lugar central na vida e ministério de Jesus. Os evangelhos não denunciam nenhuma posição de destaque que coloque Maria acima de qualquer pessoa. Ela não foi, em momento algum, o centro das atenções. O realce maior que se dá a essa mulher extraordinária é a posição de serva do Senhor, tomando como destaque o único mandamento que ela deixou: “Fazei tudo o que ele vos disser”(João 2:5).
Que Deus nos ajude a imitar a essa bem-aventurada mulher, e jamais colocá-la num pedestal que nunca Deus a colocou, nem ela jamais aceitaria, mas imitando seu exemplo como humilde serva de Deus. Amém!

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