segunda-feira, 14 de abril de 2014

Aula 03 – DONS DE REVELAÇÃO


2º Trimestre/2014

 
Texto Básico: 1Co 12:8,10; Atos 6:8-10; Daniel 2:19-22

 
Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1Co 14:26).

 

INTRODUÇÃO


Paulo relacionou três grupos de Dons espirituais, a saber: três Dons de Revelação (Palavra de sabedoria, Palavra de ciência - ou conhecimento e do Discernimento de espíritos); três Dons de Poder (Fé, Cura e Operação de milagres); três Dons de Elocução (Profecia, Variedade de línguas e Interpretação de línguas). É certo que em nenhuma deles o objetivo de Paulo foi o de quantificar os Dons, ou seja, definir quantos são, mas, o de qualificá-los, ou seja, discorrer sobre o objetivo e o uso correto de cada um.

Quanto aos Dons de Revelação, que estudaremos nesta Aula, são dados pelo Espírito Santo para que as pessoas revelem mistérios ocultos aos homens, com a tomada de atitudes e condutas que evidenciem que Deus sabe todas as coisas e que nada lhe fica oculto. São evidências da onisciência divina no meio do Seu povo. Por intermédio dos Dons de Revelação, a Igreja de Cristo manifesta sabedoria, ciência e discernimento sobrenaturais. Eles são de grande necessidade aos santos, habilitando-os a entenderem muito mais e a combaterem os espíritos do erro e suas artimanhas por toda parte. Hoje, estamos presenciando a proliferação, inclusive dentro das igrejas, de falsas doutrinas, de imitação dos dons, de modernismos teológicos, de inovações antibíblicas, de falsos avivalistas, de "milagreiros" ambulantes, etc. Por isso que é tão importante a manifestação destes Dons na Igreja. Reavivemos, pois, o dom que há em nós (2Tm 1:6).

I. A PALAVRA DA SABEDORIA


“Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria”(1Co 12:8a).

1. Conceito. "Sabedoria", segundo o Dicionário Bíblico Beacon quer dizer "julgamento de Deus diante das demandas feitas pelo homem, especificamente pela vida cristã". Esta “Sabedoria” não é o resultado da capacidade cognitiva humana; é uma capacidade divina de julgar as questões práticas do nosso dia a dia de maneira que o nome do Senhor seja exaltado.

De acordo com Estêvam Ângelo de Souza, "a palavra de sabedoria é a sabedoria de Deus ou, mais especificamente, um fragmento da sabedoria divina, que é dada por meios sobrenaturais". É uma capacidade vinda diretamente de Deus, mediante a ação direta do Espírito Santo em nossas vidas tornando-nos capazes de resolver problemas tidos como insolúveis.

A liderança, bem como todos aqueles que querem servir à Igreja de Cristo, deve buscar este Dom a fim de administrar e servir com excelência. A Bíblia nos mostra que os diáconos eram homens cheios do Espírito Santo e que Estêvão dispunha de tanta sabedoria que ninguém conseguia se sobrepor a ele durante a sua pregação (At 6:10).

Tiago exorta todo crente a buscar em Deus a Sabedoria – “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (Tg 1:5). Aqui, Tiago está falando a respeito da "habilidade de tomar decisões em circunstâncias difíceis"; não diz respeito ao conhecimento adquirido pelo homem. Muitos homens são dotados de grande capacidade intelectual, mas infelizmente desconhecem a Deus.

Jesus agradeceu ao Pai por esta revelação aos seus ‘pequeninos’: “Graças de dou, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste às criancinhas; assim, ó Pai, porque assim te aprouve”.

2. A Bíblia e a palavra de Sabedoria. No Antigo Testamento, temos alguns exemplos notórios deste Dom:

- Quando da construção do Tabernáculo – “Assim, trabalharam Bezalel, e Aoliabe, e todo homem sábio de coração a quem o SENHOR dera sabedoria e inteligência, para saberem como haviam de fazer toda obra para o serviço do santuário, conforme tudo o que o SENHOR tinha ordenado. Porque Moisés chamara a Bezalel, e a Aoliabe, e a todo homem sábio de coração em cujo coração o SENHOR tinha dado sabedoria, isto é, a todo aquele a quem o seu coração movera que se chegasse à obra para fazê-la”(Êx 36:1,2).

- José, filho de Jacó, teve momentos especiais em sua vida, em que demonstrou ter a sabedoria concedida por Deus, em situações extremamente significativas. Na prisão, interpretou os sonhos dos servos de Faraó, os quais se cumpriram plenamente. Chamado ao palácio real, diante de todos os sábios, adivinhos e conselheiros do rei, interpretou os sonhos proféticos que Deus concedera ao monarca egípcio, e, ainda por cima, deu instruções e consultoria gratuita sobre planejamento, economia, contabilidade e finanças a Faraó. Se não fosse a Sabedoria do Espírito de Deus, jamais o jovem hebreu teria tamanha capacidade para interpretar os misteriosos sonhos das vacas gordas e das vacas magras. Por isso, e por vontade divina, foi elevado à posição de Governador do Egito (cf. Gn 41:14-41).

- Salomão, usou a sabedoria divina ao julgar o caso daquelas mulheres que lutavam pela posse de um recém-nascido (1Rs 3:16-28). Todos os que ouviram a sentença do rei temeram ao Senhor, pois sabiam que sobre o monarca atuara uma Sabedoria sobrenatural vinda diretamente de Deus (1Rs 3:28).

- O profeta Daniel, além do Dom da ciência ou conhecimento, ele também foi contemplado pelo Dom da Palavra da Sabedoria (cf. Dn 1:17; 5:11,12; 10:1).

Em o Novo Testamento, há diversas referências quanto à aplicabilidade dessa sabedoria divina:

- Paulo exorta aos colossenses a que saibam transmitir a palavra aos ouvintes, dizendo: "Andai com sabedoria pata com  os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um" (Cl 4.5,6). A falta dessa Sabedoria de Deus pode causar graves prejuízos à pregação do evangelho. Sem a Sabedoria advinda do Espírito Santo, o espaço será ocupado pela arrogância. Pregador arrogante traz escândalo e prejuízos à Obra de Cristo. Não precisa nem citar exemplos; há muitos hoje em plena atividade!

- Estevão é um exemplo claro em que a Palavra da Sabedoria era manifestada. A exposição das Escrituras realizada por ele contagiou sobremaneira os ouvintes e muita inveja aos sábios da sinagoga. Veja o que diz o texto sagrado: “E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos Libertos, e dos cireneus, e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão. E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava” (At 6:9-10).

Essa mesma sabedoria tem sido identificada na vida de irmãos humildes ao longo da História da Igreja. Há casos em que pessoas de pouca instrução formal, usadas por Deus, transmitem mensagens de profundo significado e conteúdo espiritual, que provocam admiração nos que o ouvem.

E interessante que anotemos que o Dom da Palavra da Sabedoria não faz do seu portador uma pessoa mais sábia do que as outras. Segundo Stanley M. Horton, "o Espírito não torna a pessoa sábia por meio deste Dom, nem significa que a pessoa mais tarde não possa cometer erros (cf. o exemplo do rei Salomão que, no fim da vida, não só errou, mas pecou)”.

3. Uma liderança sábia. A Palavra da Sabedoria é um Dom necessário ao pastoreio - na administração e liderança.  O pr. Elinaldo Renovato, citando Eurico Bergstém, disse que “esse Dom proporciona, pela operação do Espírito Santo, uma compreensão (Ef 3:4) da profundidade da sabedoria de Deus, ensinando a aplicá-la, seja no trabalho seja nas decisões no serviço do Senhor, e a expô-la a outros, de modo a ser bem entendida”.

Moisés tinha esse Dom; diversas são as passagens do livro do Pentateuco que mostram isso na vida desse maravilhoso líder, quando conduzia o povo de Israel, pelo deserto, rumo à Terra Prometida; leia Deuteronômio 34:9-12 e tira suas conclusões.

Quando os líderes do povo de Deus são aquinhoados pelo Espírito Santo com esse Dom, dispõem de uma diversidade de serviços ou ministérios que dinamizam a Obra de Cristo e se desenvolve com facilidade, e a edificação da igreja é feita com sabedoria. Os problemas, que são inevitáveis, ao surgirem serão solucionados com sapiência e eficácia (At 6:1-7 - altruísmo; 15:11-21 – primeiro Concílio(dirimir dúvidas e questões doutrinárias originadas pelo grande influxo de convertidos gentios na igreja - trabalhando pela unidade da Igreja).

II.  PALAVRA DA CIÊNCIA


“[...] e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência” (1Co 12:8).

1. O que é? Palavra da Ciência ou Conhecimento é o poder de comunicar informação que foi divinamente revelada. Um exemplo está na forma como Paulo usa expressões como "vos digo um mistério" (1Co 15:51) e “dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor” (1Ts 4:15). O Espírito Santo concede a alguns dos seus servos conhecimento para que possam ver as coisas como Deus vê. Sem que haja qualquer comunicação natural a respeito de um fato, o Senhor permite ao servo portador deste dom que tenha acesso a fatos e as ocorrências que estavam ocultas, com o propósito único e exclusivo de edificar, exortar e promover o crescimento espiritual de alguém.

Não há nada neste Dom que o nivele a um mero exercício de adivinhação, como, lamentavelmente, se tem disseminado em muitos lugares. A adivinhação não passa de uma imitação fajuta e irrazoável deste Dom, no mais das vezes sendo pura operação maligna (vide At 16:16), vez que tal prática é abominável aos olhos do Senhor (Lv 20:27; Ez 12:24).

Segundo Estêvam Ângelo de Souza, “a palavra do conhecimento não é algo que se aprende através do processo educacional. Nem ainda por conhecimento profundo, adquirido mediante estudo das Escrituras, muito embora seja este um meio eficiente para obtermos conhecimento de Deus. Não é bíblico admitir que um dom sobrenatural tenha o propósito de substituir o estudo sistemático da Palavra de Deus. Seria um erro muito sério presumir tal coisa (Mt 22:29). Por outro lado, temos a lamentar que muitos cristãos se mostram ávidos por ‘revelações’ e extremamente ‘interessados’ por obras escatológicas e negligenciam o estudo da doutrina bíblica, como considerando-a uma terceira ou quarta prioridade. Muitos erros e dolorosas desilusões seriam evitados mediante o conhecimento básico da Bíblia” (SOUZA, E. Â. Os nove dons do Espírito Santo. RJ: CPAD, 1985, pp.37,38,44,45).

2. Sua função. O Dom da palavra do conhecimento não tem o propósito de tomar o lugar devido ao estudo regular da Palavra de Deus. É dado como provimento divino para servir em necessidade espiritual, para ocasiões especiais, como e quando bem parece ao Espírito de Deus. Como diz o pr. Elinaldo Renovato, “a manifestação deste Dom  tem a finalidade de preservar a vida da Igreja, livrando-a de qualquer engano ou artimanha do maligno”.

3. Exemplos bíblicos da Palavra da Ciência. A Palavra da Ciência ou do conhecimento não se referi ao conhecimento científico que se adquire nas cátedras das universidades; refere-se, sim,  à capacidade sobrenatural concedida diretamente pelo Espírito Santo, que nos habilita a conhecer fatos e circunstâncias que se acham ocultos. Muitos são os exemplos bíblicos que poderiam ser citados. Vejamos alguns:

a) Profeta Eliseu – desmascarando Geazi, quando este cobiçou os bens de Naamã (2Rs 5:25,26) – “Então, ele entrou e pôs-se diante de seu senhor. E disse-lhe Eliseu: De onde vens, Geazi? E disse: Teu servo não foi nem a uma nem a outra parte. Porém ele lhe disse: Porventura, não foi contigo o meu coração, quando aquele homem voltou de sobre o seu carro, a encontrar-te? Era isso ocasião para tomares prata e para tomares vestes, e olivais, e vinhas, e ovelhas, e bois, e servos, e servas?”.

b) Profeta Eliseu – quando revelou os planos de guerra do rei da Síria (2Rs 6:8-12). Quando o rei da Síria pensou em atacar o exército de Israel surpreendendo-o em determinado lugar, o profeta alertou o rei de Israel sobre os planos do rei da Síria, inimigo de Israel.

c) Profeta Eliseu – tem o conhecimento sobre a cura do rei da Síria, Bem-Hadade, e da sua sucessão no trono (2Rs 8:7-12) - "Depois veio Eliseu a Damasco, estando Ben-Hadade, rei da Síria, doente; e lho anunciaram, dizendo: O homem de Deus é chegado aqui. Então o rei disse a Hazael: Toma um presente na tua mão, e vai a encontrar-te com o homem de Deus; e pergunta por ele ao Senhor, dizendo: Hei de sarar desta doença? Foi, pois, Hazael a encontrar-se com ele, e tomou um presente na sua mão, a saber: de tudo o que de bom havia em Damasco, quarenta camelos carregados; e veio, e se pôs diante dele e disse: Teu filho Ben-Hadade, rei da Síria, me enviou a ti, a dizer: Sararei eu desta doença? E Eliseu lhe disse: Vai, e dize-lhe: Certamente viverás. Porém, o Senhor me tem mostrado que certamente morrerá. E afirmou a sua vista, e fitou os olhos nele até se envergonhar; e o homem de Deus chorou. Então disse Hazael: Por que chora o meu senhor? E ele disse: Porque sei o mal que hás de fazer aos filhos de Israel; porás fogo às suas fortalezas, e os seus jovens matarás à espada, e os seus meninos despedaçarás, e as suas mulheres grávidas fenderás. E disse Hazael: Pois, que é teu servo, que não é mais do que um cão, para fazer tão grande coisa? E disse Eliseu: O Senhor me tem mostrado que tu hás de ser rei da Síria". O que se cumpriu, certamente.

d) O profeta Daniel – Deus mostrou ao Seu servo, quando lhe revelou a interpretação do sonho de Babucodonosor, o que iria acontecer aos grandes impérios mundiais, a partir do império babilônico (Dn 2:2,3,17-19). Trata-se de um caso bem emblemático do que significa receber o conhecimento, ou a revelação de Deus. O rei tivera um sonho muito estranho, que o perturbara sobremaneira, e ninguém soube interpretar o sonho, por uma razão muito óbvia: o rei não se lembrava do sonho! Mas Daniel, usando a Palavra da Ciência, de maneira didática, com precisão histórica, interpretou o sonho, mostrando ao rei o desenrolar dos acontecimentos de sua época e de eventos futuros.

A revelação dada a Daniel acerca dos impérios mundiais demonstra quão grande é a sabedoria de Deus, como recurso divino para ocasiões especiais, em que de nada adianta a sabedoria humana, ou os conhecimentos adquiridos pela experiência de quem quer que seja. Quis Deus utilizar-se de um rei estrangeiro ao seu povo para revelar segredos sobre acontecimentos que teriam lugar na História, na ocasião, e para o futuro. A visão de Nabucodonosor é uma referência à Escatologia, com base nas interpretações dadas pelo Altíssimo a Daniel seu servo, que estava vivendo naquele País, com uma missão de mais alto significado.

e) Pedro – quando desmascarou a mentira de Ananias e Safira (At 5:1-10). Naquele momento, o Espírito Santo revelou a Pedro, através da Palavra da ciência, o que Ananias e Safira haviam feito em segredo.

III. DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS


E a outro [...] o dom de discernir os espíritos”(1Co 12:10).

1. O Dom de Discernir os espíritos. É a capacidade sobrenatural, concedida pelo Espírito Santo a alguns crentes para que identifiquem operações espirituais em acontecimentos e fatos do cotidiano: espíritos enganadores, demoníacos e humanos. Por intermédio deste dom, percebemos o aspecto espiritual envolvido nas mais diversas e simples ocorrências do dia-a-dia, não nos deixando cair nos laços do adversário.

É importante observar que o Dom do discernimento é uma identificação súbita e momentânea, numa determinada situação, da operação espiritual, não se confundindo com o discernimento corriqueiro que todo cristão deve ter, por estar em comunhão com o Senhor e ter em si o Espírito Santo que o orienta a cada dia.

2. As fontes das manifestações espirituais.  Segundo o pr. Elinaldo Renovato, “as fontes de manifestações espirituais basicamente são três: Deus, homem (da carne) ou do maligno. Em determinadas ocasiões, uma manifestação espiritual pode apresentar-se, no meio da congregação, ou diante de um servo de Deus, com aparência de genuína, e ser uma manifestação diabólica, ou artimanha de origem humana. Pelo entendimento e pela lógica humana, nem sempre é possível avaliar a origem das manifestações espirituais. Mas, com o Dom de discernir os espíritos o servo de Deus ou a igreja não será enganada”.

3. Discernindo as manifestações espirituais. Através do Dom de Discernimento pode-se saber a diferença entre uma manifestação espiritual legitima e uma falsa manifestação. Para caracterizar a legitimidade de uma manifestação espiritual é necessário passar por duas provas: A prova doutrinária e a prova prática.

A prova doutrinária pode basear-se no ensino do apóstolo João, exarado em 1João 4:1-6:

“Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo. Filhinhos, sois de Deus e já os tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo. Do mundo são; por isso, falam do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro”.

A prova prática tem base no ensino de Jesus, quando advertiu acerca dos falsos profetas, que podem ser conhecidos pelos “seus frutos”, ou seja, pelo seu caráter, demonstrado em seu testemunho, na vida prática (cf. Mt 7:15-20).

Podemos observar esse Dom sendo manifestado em várias ocasiões no ministério de Pedro e Paulo.

- Pedro desmascarou Simão e revelou que o mágico se encontrava amargurado e preso por laço de iniquidade – “Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua iniqüidade e ora a Deus, para que, porventura, te seja perdoado o pensamento do teu coração; pois vejo que estás em fel de amargura e em laço de iniquidade” (Atos 8:20-23).

- Paulo, na ilha de Pafos, por ocasião de sua primeira viagem missionária, confrontou-se com uma ação diabólica declarada com o objetivo de impedir a pregação do evangelho ali, e a conversão de uma autoridade pública. Mas o apóstolo, cheio do Espírito Santo, percebeu as artimanhas do Adversário, e, na autoridade de Deus, declarou que o opositor do evangelho ficaria cego por algum tempo, o que de pronto aconteceu. Por causa disso o procônsul creu (cf. At 13:12).

- Paulo, na cidade de Filipos, por ocasião de sua segunda viagem missionária, discerniu que uma jovem estava possessa de espírito advinhador (At 16:16-24). O texto mostra a forma como Paulo agiu, quando estavam “indo [...] para um lugar de oração”. A jovem saiu ao encontro dos missionários – Paulo e Silas - e, por muitos dias, seguia-os, dizendo: “estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação”. Sua proclamação era verdadeira, mas Paulo se recusou a aceitar o testemunho de demônios. Para um crente incauto, aquela mulher estava, de certa forma, ajudando a pregação de Paulo. Entretanto, devemos ter em mente que qualquer revelação que tenha por fonte o Diabo é uma revelação que, ainda que contenha uma parte de verdade, deve ser repreendida em nome do Senhor Jesus. Angustiado com a situação infeliz da jovem, o apóstolo ordenou no nome de Jesus Cristo que o demônio se retirasse dela. Na mesma hora, ela foi liberta daquela escravidão terrível e se tornou uma pessoa equilibrada e racional.

Nos dias de tanto engano e de tanta atuação do “espírito do anticristo”, mais do que nunca, torna-se preciso que tenhamos o devido discernimento de tudo o que acontece à nossa volta e de tudo o que se quer introduzir no nosso meio. Devemos ter a mesma estrutura da igreja de Éfeso que pôs à prova os que se diziam apóstolos, mas não o eram (Ap 2:2). Quantos problemas seriam evitados na igreja se funcionasse, correta e biblicamente, o Dom do discernimento dos espíritos. A desonestidade do espírito humano, que leva comunidades inteiras a escândalos e desgraças, poderia ser evitada por alguém que tratasse desse espírito, revelando por discernimento o problema antes de se agravar.

Busquemos, pois, o Dom do discernimento dos espíritos, pois, conquanto seja o Espírito quem distribui os dons conforme o Seu querer (1Co 12:11), Ele necessita de pessoas bem dispostas para que efetue a Sua obra (Lc 1:17). Se todos nos pusermos à disposição do Senhor, certamente escolherá alguns para que todos nós sejamos ricamente abençoados e evitemos ser tragados pelo engano destes dias difíceis em que vivemos.

CONCLUSÃO

Conhecendo a Palavra, tendo o Dom da palavra de ciência e da sabedoria, tendo o discernimento do homem espiritual e sendo complementados pela manifestação do Dom do discernimento dos espíritos, certamente saberemos descobrir todas as ciladas do inimigo ao longo do caminho e, a exemplo de Esdras e daquele povo que o seguia, chegaremos sãos e salvos a Jerusalém (Ed 8:31,32), não a Jerusalém terrena, mas a celestial “adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap 21:2).

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 58 – CPAD.

1Corintios (como resolver conflitos na Igreja) – Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento – William Macdonald. Mundo Cristão.

Os Dons do Espírito Santo – Dr. Caramuru Afonso Francisco. PortalEBD.

 (1) Dons Espirituais & Ministeriais(servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário) – Elinaldo Renovato. CPAD

domingo, 6 de abril de 2014

Aula 02 - O PROPÓSITO DOS DONS ESPIRITUAIS


 2º Trimestre/2014

 
1Corintios 12:8-11;13:1,2

 
“Assim, também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles, para a edificação da igreja” (1Co 14:23)

 

INTRODUÇÃO


Os Dons Espirituais são recursos indispensáveis para o Corpo de Cristo. Eles contribuem sobremaneira para a expansão e edificação da Igreja. São sempre concedidos aos crentes visando um propósito específico. Qual é este propósito? A edificação de todos os membros do Corpo. Infelizmente, alguns fazem um uso errado dos Dons. Usam-nos para alcançar interesses pessoais. Em vez de glorificar o nome do Senhor, utilizam-se dos Dons a fim de galgar posições eclesiásticas. Muitos não estão mais sendo usados pelo Espírito Santo, mas estão tentando usar o Espírito. Eles estão enganando a si próprios. O Senhor conhece nossos corações e as nossas intenções. Haverá um dia que teremos que prestar contas ao Senhor a respeito do uso dos nossos dons e talentos. Neste dia muitos ouvirão do próprio Senhor a quem tentaram enganar: “... Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:23). Isso é muito sério, amado irmão!

I. OS DONS NÃO SÃO PARA ELITIZAR O CRENTE


1. A igreja coríntia. Ao visitar a igreja de Cristo em Corintos, Paulo relatou que ali havia a manifestação de muitos Dons Espirituais (1Co 1:7). Corinto era uma cidade cosmopolita, marcada pela idolatria, paganismo e imoralidade. Ser um crente fiel naquela cidade não era fácil. Logo, Deus concedeu muitos dons do Espírito Santo àqueles irmãos a fim de que tivessem condições de lutar contra a idolatria, a imoralidade e permanecessem em santidade. Todavia, a igreja de Corinto estava longe de ser uma igreja espiritual. O pecado havia adentrado ali. Paulo chama os irmãos de Corinto de carnais e meninos (1Co 3:1). Fica então a pergunta: O que torna o crente espiritual? Os Dons?. Podemos aprender, por intermédio dos irmãos de Corinto, que não. Quem tem poder para santificar os crentes é o Espírito Santo.

2. Uma igreja de muitos Dons, mas carnal - “E eu, irmãos não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo”(1Co 3:1). Paulo nos conta que a igreja de Corinto usufruía todos os Dons Espirituais. Ainda assim, essa é a única igreja que o apóstolo chama de “carnal, como crianças em Cristo” (1Co 3:1).

Quando Paulo inicia a carta de 1Corintios, reconhece, no capítulo primeiro, que Deus havia abençoado a igreja com toda sorte de bênçãos espirituais, de Dons Espirituais, ao ponto de “não lhes faltar dom nenhum”. Corinto era uma igreja carismática no sentido bíblico da Palavra, ou seja, tinha os “carismas” do Espírito de Deus, os Dons, através dos quais desenvolvia seu serviço prestando culto a Deus e cumprindo a sua missão neste mundo.

Mas, Satanás sempre trabalha para que o povo de Deus não triunfe em união, na unidade de seus membros, na oração, na vigilância, no exercício da pregação do evangelho, em fim, ele sempre artimanha para que a igreja perca o caráter de Cristo e se desvie dos padrões de conduta condizente com a lei moral e espiritual de Deus. Foi o que aconteceu com a igreja de Corinto, que com menos de três anos de fundada começou a desviar-se dos padrões de conduta e de doutrina que o apóstolo havia estabelecido por ocasião de sua fundação. A igreja tinha carisma, mas não caráter. Tinham dons, mas não piedade. Era uma igreja que vivia em êxtase, mas não tinha um testemunho consistente. Tinha uma liturgia extremamente viva, pentecostal, mas a igreja não tinha a prática do evangelho. Faltava amor entre os crentes e santidade aos olhos de Deus. Era uma igreja de excessos, onde faltava ordem e decência.

Alguém, de forma sucinta, descreveu a situação daquela igreja da seguinte maneira: ”A igreja estava no mundo, como deveria estar, mas o mundo estava na igreja, como não deveria estar”. Esta é situação comum em muitas igrejas de hoje, infelizmente.

A seguir, mostramos alguns problemas que demonstram o quanto essa igreja era carnal:

a) Problemas de unidade (1Co 1:10 – 4:21). Paulo soube que havia divisões na igreja, que estava dividida em 4 grupos. Grupos que se formaram em torno de personalidades, de pessoas que tinham tido uma participação no passado recente da igreja, como o próprio Paulo e Apolo (1Co 3:4). Havia até um grupo que talvez fosse o mais perigoso deles que era o “Grupo de Cristo” - “... e eu, de Cristo” – 1Co 1:12. Eles diziam que não eram seguidores de homem algum e sim de Cristo. Era como se dissessem: não queremos estar debaixo da orientação ou da instrução e autoridade de qualquer homem porque recebemos tudo diretamente de Cristo. Alguns estudiosos têm identificado este grupo como o “grupinho dos espirituais” que falavam em línguas e gloriavam-se por terem experiências extraordinárias; que não aceitavam a autoridade de Paulo na igreja, e outras coisas mais.

b) Problemas morais e disciplinares (1Co 5:1 – 6:20).

- Relação incestuosa (1Co 5:1). Um homem vivia com sua madrasta e que era do conhecimento de todos, como se vê nas palavras de Paulo: “Geralmente se ouve que há entre vós imoralidade...” (1Co 5:1). O que mais incomodava o apóstolo Paulo era a falta de uma atitude firme por parte da igreja com relação àquela pessoa. Ou seja, a igreja deveria constatar que conduta moral e espiritualidade são duas coisas que andam juntas. Temos de ter as duas coisas; e quando temos uma e não a outra, ou a espiritualidade é falsa ou a moralidade é falsa. Mas a genuína espiritualidade exige uma conduta de acordo com as verdades do evangelho.

- Problema de litígio (1C0 6:1-6). Havia um irmão que estava processando outro num tribunal secular. Aqueles irmãos não chegaram a um acordo, e talvez por questão de terra ou talvez de dinheiro e negócios, este irmão estava em litígio com outro. Por isso estava processando-o no tribunal da cidade. Com esta atitude estava expondo o Evangelho à vergonha diante dos ímpios (1C 6:6).

- Prostituição religiosa. Havia um grupo que estava voltando à prática da prostituição religiosa (1Co 6:18-19), o que era comum na cidade de Corinto. Isso era praticado nos templos onde se cultuava a deusa Afrodite.

c) Problemas com casamento e divórcio (1Co 7). Devido ao fato de a prostituição e a imoralidade serem comuns, os casamentos em Corinto estavam sendo destruídos, e os cristãos não estavam certos de como deveriam reagir. Paulo deu respostas diretas e práticas.

Com base nestas demonstrações de carnalidade da igreja de Corinto, a despeito de possuir todos os dons listados por Paulo, nos conscientizamos de que “as manifestações espirituais na igreja local não são propriamente indicadoras de seriedade, espiritualidade e santidade”. Uma igreja onde predomina estes tipos de pecado, “nem de longe pode ser chamada de espiritual, e sim de carnal”.

3. Dom não é sinal de superioridade espiritual. O culto tem três aspectos: Deus é adorado, o povo de Deus é edificado e os incrédulos são convencidos de seus pecados. Se formos à igreja para adorar com o propósito de demonstrarmos a nossa espiritualidade, estaremos laborando em erro. O culto é para a edificação e não para exibição. Mas a igreja de Corinto estava transformando o culto num palco de exibição em vez de um canal para edificação.  Ela tinha todos os Dons (1Co 1:7), não lhe faltava Dom algum, porém, ela tentou colocar o Dom de “Variedade de Línguas” como o Dom mais importante, como um símbolo de status espiritual. (1)

É importante ressaltar que os Dons espirituais não são aferidores de espiritualidade. Você não mede a espiritualidade de uma igreja pela presença dos Dons espirituais nela. Se você fosse medir o grau de espiritualidade de uma igreja pelos Dons, a igreja de Corinto seria campeã de espiritualidade, pois tinha todos os Dons; mas a realidade dessa igreja era outra: era uma igreja carnal (1Co 3:1).

Alguns cristãos em Corinto haviam recebido o Dom Espiritual de Línguas. Em vez de usar este Dom para engrandecer a Deus e edificar outros cristãos, empregavam-no para se exibirem. Levantavam-se durante os cultos, falavam em línguas que ninguém entendia e esperavam que os outros ficassem impressionados com sua proficiência linguística. Exaltavam os Dons de sinais acima de outros Dons e afirmavam que quem possuía o Dom de línguas era espiritualmente superior aos outros irmãos. Essa atitude gerou orgulho e inveja e levou outros membros da congregação a sentirem-se inferiores e sem valor. Paulo julgou necessário, portanto, corrigir as atitudes equivocadas e estabelecer mecanismos de controles para o exercício dos Dons, especialmente de línguas e profecia.

Os tempos mudaram, mas os mesmos erros do passado ainda estão sendo repetidos nas igrejas contemporâneas.  Muitos acham que os portadores de Dons Espirituais são crentes superiores aos demais, que têm um nível maior de espiritualidade e que, em razão disto, desfrutam de uma posição diferenciada no meio da comunidade. Este pensamento, inclusive, tem feito com que muitos crentes andem à procura destes irmãos a fim de que obtenham curas divinas, maravilhas, sinais ou profecias, num comportamento totalmente contrário ao que determina a Palavra de Deus, que ensina que os sinais seguem os crentes e não os crentes correm atrás de sinais (Mc 16:17,20). Os Dons do Espírito Santo são concedidos pela graça de Deus, pela sua bondade e misericórdia, apesar dos nossos deméritos.

II. EDIFICANDO A SI MESMO E AOS OUTROS


Deus concede Dons, primeiramente para a edificação, consolação e exortação da igreja, e também para o enriquecimento da vida espiritual de seu portador(1Co 14:1-4).

1. Edificando a si mesmo. “O que fala língua estranha edifica-se a si mesmo...” (1Co 14:4). Aqui, Paulo nos leva a entender que o Dom de Língua não visa à edificação da igreja, mas a própria intimidade com Deus da pessoa detentora deste Dom. Seu propósito não é a edificação da igreja, mas a auto-edificação. É por essa razão somente que este Dom é inferior aos demais Dons. Todos os outros Dons alistados na Bíblia são Dons para edificação da Igreja; o Dom de Língua é único concedido para edificação própria do usuário.

O contexto indica que o apóstolo não defende o uso desse Dom para auto-edificação. Pelo contrário, refuta qualquer forma de uso do Dom na igreja que não resulte na edificação dos outros. O amor pensa nos outros, e não em si mesmo. Se for usado em amor, o Dom de Línguas beneficiará os outros, e não apenas o indivíduo que fala.

Portanto, a pessoa que ora em “língua estranha” para a sua edificação pessoal deve fazê-lo entre si mesma e Deus, não devendo fazê-lo em voz alta durante o culto público, porque, embora esteja se fortalecendo, ela não fortalece a mais ninguém. 

2. Edificando os outros, até mesmo o não crente. Paulo preocupava-se sobremaneira com a edificação de todos os que estão na igreja no momento do culto. No Novo Testamento não há uma pessoa que mais estimulou a igreja a buscar os Dons Espirituais como o apóstolo Paulo. Todavia, prezava pela devida ordem no culto. Os Dons Espirituais têm como objetivo precípuo a edificação da igreja.

Paulo não despreza o Dom de Línguas; sabia que ele é uma dádiva do Espírito Santo e jamais rejeitaria algo proveniente do Espírito. Quando diz em 1Corintios 14:5 - “E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas” -, ele renuncia a qualquer intenção egoísta de limitar o Dom apenas a si mesmo e a um pequeno grupo de favorecidos. Seu desejo é semelhante àquele expressado por Moisés: “Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito”(Nm 11:29b). Porém, ao fazer essa afirmação Paulo sabia que não era da vontade de Deus que todos os cristãos tivessem um mesmo Dom(cf 1Co 12:29-30). Ele preferia que os corintos profetizassem, pois, ao fazê-lo, edificariam uns aos outros, enquanto que se falassem em línguas sem interpretação seus ouvintes não entenderiam e, portanto, não seriam beneficiados. Paulo prefere a edificação à exibição. Se alguém fala em outra língua, deve orar para que a possa interpretar, ou para que alguém a possa interpretar (cf 1Co 14:13).

Na igreja de Corinto, se não houvesse interprete, o irmão devia permanecer calado na igreja. Podia ficar em seu lugar e falar silenciosamente em outra língua consigo mesmo e com Deus, mas não tinha permissão de se expressar em público(cf 1Co 14:28). Essa exortação deve ser bastante usual para os nossos dias, em nossas igrejas!

III. EDIFICAR TODO O CORPO DE CRISTO


Os Dons Espirituais não foram dados à Igreja para projeção humana nem como aferidor para medir o grau da espiritualidade de uma pessoa. Os Dons foram dados para a edificação do Corpo de Cristo. Pelo exercício dos Dons a Igreja cresce de forma saudável. Assim, os Dons são importantíssimos e vitais para a Igreja. Eles são os recursos que o próprio Espírito Santo concedeu à Igreja par a que ela pudesse ter um crescimento saudável e também suprir as necessidades dos seus membros.

1. Os Dons na Igreja. O apóstolo Paulo nos induz a entender que quando os Dons são utilizados com amor, todo a igreja é edificada. Todos nós sabemos da influência destacada que o amor tem em termos de um desenvolvimento emocional sadio das crianças. Se isto é válido para a família humana, quanto mais será para a família de Deus! Esta é a razão da inclusão de 1Coríntios 13 entre os capítulos 12 e 14, que tratam dos Dons Espirituais.

Os Dons do Espírito são dados todos para o serviço, para a edificação do Corpo de Cristo, mas eles devem ser exercidos em amor, para que produzam o resultado desejado, isto porque sem o amor todos os Dons são sem valor, não importa quão espetaculares sejam (1Co 13:1-3). Desta forma, o amor é o "caminho sobremodo excelente", mais valioso até que os Dons mais elevados (1Co 12:31).

2. Os sábios arquitetos do Corpo de Cristo. “Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo (1Co 3:9-11).

A Igreja é o “Edifício de Deus”. Todos os servos de Deus são companheiros de trabalho nesse “Edifício”, ou melhor, todos os servos de Deus são colaboradores que pertencem a Deus e trabalham uns com os outros para o bem do Edifício de Deus, que é a Igreja.

Paulo descreve sua participação no início da congregação em Corinto: “pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento”. Ele diz que foi a Corinto para pregar Cristo e este crucificado. Uma igreja se formou nessa cidade como resultado da conversão de muitos cidadãos, por intermédio da sua pregação. Na sequência, Paulo acrescenta: “E outro edifica sobre ele”. Trata-se, sem dúvida, de uma referência a outros mestres que visitaram Corinto subsequentemente e construíram sobre o alicerce que já havia sido lançado naquele local. Contudo, o apóstolo adverte: “mas veja cada um como edifica sobre ele”.

O exercício do ministério de ensino na igreja local é algo extremamente sério! Alguns mestres haviam passado pela igreja de Corinto ensinando doutrinas divisivas e princípios contrários à Palavra de Deus. O fundamento da Igreja é Jesus Cristo (At 4:11; Ef 2:20; 1Pe 2:6). Ele é a Pedra sobre a qual a Igreja está edificada (Mt 16:18). A Igreja não poderia ser edificada sobre Pedro nem sobre Paulo, porque tanto Pedro quanto Paulo eram efêmeros. Eles passaram, mas Cristo permanece para sempre. Portanto, qualquer que edificar sobre Este fundamento deve ter muito cuidado. O fundamento pode ser forte, mas vários materiais podem ser escolhidos no processo de edificação.

Hoje, nós estamos vendo igrejas embriagadas pelo sucesso, pelos resultados. Elas querem quantidade a qualquer custo. Para encher os templos, os pregadores mudam a mensagem e oferecem um evangelho sem exigências. A riqueza do Evangelho é sonegada e também substituída pelas novidades do mercado da fé. As pessoas gostam de espetáculo e gostam de novidades. Elas não têm discernimento para identificar os perigos e os riscos das heresias que entram disfarçadamente dentro das igrejas. É nesse contexto que Paulo mostra que a igreja precisa construir e se edificar, mas com qualidade. Deus não está interessado apenas em número, ele quer vida.

3. Despenseiros dos Dons. Nós somos "despenseiros da multiforme graça de Deus", e recebemos a ordem para sermos "bons despenseiros". Diz o apóstolo Pedro: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1Pe 4:10). Aqui, o apóstolo exorta a igreja sobre como o Dom de Deus deve ser administrado. Na verdade, ele destaca o uso altruísta dos Dons de Deus a serviço de outras pessoas; mais prioritariamente de toda a Igreja. Nesta mesma linha de exortação, o apóstolo Paulo diz: "Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos" (1Co 12:7, BJ). Dessa forma, os despenseiros de Deus - ministros ou membros da igreja -, precisam ter muito cuidado no uso dos dons concedidos pelo Senhor para provisão, alimentação espiritual e edificação.

Portanto, cada cristão deve colocar o Dom que recebeu a serviço de todos, porque, ao receberem Dons, os cristãos se tornam “despenseiros da graça de Deus”. A charis (graça) é a fonte dos “charismatas” (dons, carismas). Quem os recebe, recebe a graça de Deus. Assim, ter um Dom Espiritual é como ter um “depósito da graça”, que deve extravasar. É válido ressaltar que o cristão é alguém que é discípulo de Jesus, o Senhor que se fez Servo e veio ao mundo não para ser servido, mas para servir (Mc 10:45); Ele, que usou a bacia e a tolha como seus distintivos. Muitos hoje estão precisando aprender esta doutrina: “da bacia e da toalha”.

CONCLUSÃO

“A Igreja de Jesus Cristo tem uma missão que transcende a esfera humana, pois recebeu a incumbência de fazer com que a ““... multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3.10). Sua Missão, na Terra, é a proclamação do Evangelho, num mundo hostil às verdades de Cristo; um mundo que rejeita a Palavra de Deus. Diante dessa realidade, a Igreja precisa de poder sobrenatural. Os Dons Espirituais são um arsenal à disposição da Igreja para o cumprimento eficaz de sua Missão na Terra”. (2)

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 58 – CPAD.

1Corintios (como resolver conflitos na Igreja) – Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento – William Macdonald. Mundo Cristão.

Os Dons do Espírito Santo – Dr. Caramuru Afonso Francisco. PortalEBD.

(1)Rev. Hernandes Dias Lopes – 1Corintios – como resolver conflitos na Igreja.

(2) Dons Espirituais & Ministeriais(servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário) – Elinaldo Renovato. CPAD

 

segunda-feira, 31 de março de 2014

Aula 01 – E DEU DONS AOS HOMENS


2º Trimestre/2014

 
Texto Base: Rm 12:3-8; 1Co 12:4-7

 
“Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens” (Ef 4:8)

INTRODUÇÃO

Estamos iniciando mais um trimestre letivo, com um tema bastante relevante para os nossos dias: os Dons Espirituais e Ministeriais. Nunca foi tão necessária à igreja, nestes últimos tempos de sua permanência nesta Terra, a manifestação sobrenatural dos Dons Espirituais e Ministeriais!

Muitos que cristãos dizem ser estão passando por crises medonhas de identidade espiritual, o que tem motivado à frieza espiritual e ao indiferentismo com relação à busca da manifestação do Espirito Santo através dos Dons Espirituais. Pouco se fala hoje em buscar o batismo com Espirito Santo, muito menos em buscar os Dons Espirituais. A frieza tem tomado conta das igrejas de forma gélida e assustadora. A mornidão espiritual tem invadido a maioria das igrejas locais abalando perigosamente os seus pilares sustentadores: a fé, a esperança e o amor. Não somos mais aqueles pentecostais que amedrontavam e abalavam os principados e potestades. A maioria das igrejas está se conformando com o mundo; a maioria das igrejas está mais preocupada em estudar métodos e marketings para aumentar o número de membros, com vistas a alcançar um alvo hoje tão ambicionado: o dinheiro – o deus mamom. Essas igrejas não têm nenhuma moral em pregar contra a igreja de Laodicéia.

Todavia, Deus nunca deixou a sua Igreja sem remanescentes fiéis, nunca! Ainda há aqueles que não se dobraram a mamom, que não se renderam à secularização. Quer saber onde estes estão?  Muitos estão no anonimato, dentro das igrejas. Mas, poderás conhecer boa parte de seu contingente na Escola Bíblia Dominical aos domingos. Junte-se a nós neste trimestre para estudar sobre os Dons Espirituais e Ministeriais. Faça a sua vida espiritual valer a pena! “Assim, também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles, para a edificação da igreja” (1Co 14:12).

I.  OS DONS NA BÍBLIA


1. No Antigo Testamento. No Antigo Testamento, os Dons não estavam à disposição de todo o povo de Deus, como no Novo Testamento. Eles eram concedidos a pessoas especificas, chamadas por Deus para cumprir determinadas missões. É visto na concessão da capacidade para o serviço. Muito parecido com a maneira em que os Dons Espirituais operam no Novo Testamento, o Espírito capacitava certos indivíduos para o serviço. Considere o exemplo de Bezalel em Êxodo 31:2-5, o qual foi dotado para fazer muito do trabalho de arte relacionado com o Tabernáculo. Além disso, recordando a habitação seletiva e temporária do Espírito Santo, vemos que estes indivíduos foram dotados para executar determinadas tarefas, assim como reinar sobre o povo de Israel (por exemplo: Saul, Davi, Sansão, etc).

2. No Novo Testamento. Nesta Nova Aliança, os Dons de Deus estão à disposição de todos aqueles que fazem a Igreja do Senhor Jesus, os quais devem ser usados como ferramentas de trabalho com a finalidade de promover graça, poder e unção à Igreja no exercício de sua missão, de forma que Cristo seja glorificado.

Os Dons estão à disposição da Igreja, mas não são dados como presentes. Não são dados como se dá uma jóia para ser usada como adorno, ou enfeite. Não é, também, uma medalha usada como condecoração para ser exibida no peito, e que só serve para chamar a atenção para a pessoa que a usa. Sendo instrumento de trabalho, usar, ou não usar o Dom, não é uma questão de querer; Deus dá para ser usado!

Vemos a comprovação do que estamos afirmando nas palavras de Jesus, subjacentes nas Parábolas dos Talentos e das Minas(Mt 25:14-30 e Lc 10:11-27). Nem os Talentos, nem as Minas foram dados como presentes aos seus amigos. Foram, na verdade, dados aos servos para que fossem usados de acordo com os interesses do Senhor, o legitimo dono dos Talentos e das Minas. Contudo, um dos servos, ou não entendeu, ou foi negligente, pois, resolveu não trabalhar com o valor recebido – “... cavou na terra, e escondeu o dinheiro do seu senhor”(Mt 25:18). Perceba a expressão “o dinheiro do seu senhor”. Da mesma forma os Dons de Deus não se tornam propriedade daquele que os recebe. São dados para serem usados na Obra de Deus. A negligência, ou dolo pela não utilização, ou pelo uso indevido por parte de quem os recebe resultará em consequências negativas quando o Dono voltar, tal como aconteceu nessas duas Parábolas referidas: Lançai o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá planto e ranger de dentes”(Mt 25:30).

Assim, meu irmão, se você recebeu um, ou mais Dons, eles não lhes foram dados para você exibir sua espiritualidade, mas, para você mostrar serviços na Obra de Deus. Tampouco, você não pode enterrá-los.

II. OS DONS DE SERVIÇO, ESPIRITUAIS E MINISTERIAIS

1. Dons relacionados ao serviço cristão. Os Dons relacionados ao serviço cristão, ou seja, os dons chamados de “serviçais”, “dons de serviço” ou, ainda, “dons espirituais de ministérios práticos”, constantes da relação de Romanos 12:6-8, não se confundem com os Dons Espirituais. Esses Dons se distinguem dos outros Dons ministeriais porque seriam relacionados mais às ações do crente, à prática cristã, não visando o aperfeiçoamento espiritual dos crentes, como ocorre com os outros dons, que denominamos de “Dons Ministeriais”, estes elencados em Ef 4:11.

Os Dons de Serviços são dádivas concedidas para o exercício contínuo dos crentes, mediante ações que gerem boas obras para a glorificação do nome do Senhor (Mt 5:16). Como eu disse, esses dons estão elencados na relação de Romanos 12:6-8, relação, porém, que não é exaustiva de dons desta natureza, vez que, na lista, também, se encontra o dom de profecia, que pode ser considerado ali seja como o Dom Ministerial de profecia, seja como o Dom espiritual de profecia.

A relação de Romanos 12:6-8 envolve sete dons, dentre eles estão seis relacionados ao serviço cristão:

a) Ministério (Rm 12:7). Consiste na disposição, capacidade e poder, dados por Deus, para alguém servir e prestar assistência prática aos membros e aos líderes da igreja, a fim de ajudá-los a cumprir suas responsabilidades para com Deus (cf. At.6:2,3).

b) Ensinar (Rm 12:7). É o dom espiritual de ensinar, tanto na teoria, como na prática; ensinar fazendo; ensinar a fazer e a entender. Não confundir com o ministério de ensino de Efésios 4:11 e Atos 13:1. Este dom é a capacidade e poder, dados por Deus para o crente examinar e estudar a Palavra de Deus, e de esclarecer, expor, defender e proclamar suas verdades, de tal maneira que outras pessoas cresçam em graça e em piedade.

c) Exortar (Rm 12:8). Exortar aqui é como dom: ajudar, assistir, encorajar, incentivar, estimular, animar, consolar, unir pessoas separadas, admoestar. Na vida terrena, temos, sempre, aflições, como nos disse o Senhor Jesus, mas é necessário que tenhamos sempre bom ânimo. Este ânimo é dado pelo Senhor e, portanto, é fundamental que as pessoas a quem o Senhor tem concedido este dom o exercitem, de modo a impedir que os crentes sejam tomados pelo desânimo, em especial nos instantes de aumento da iniquidade como os vividos pela Igreja neste período imediatamente anterior à vinda do Senhor.

d) Repartir (Rm 12:8). O sentido é doar generosamente, oferecer; distribuir aos necessitados sem esperar recompensa ou reconhecimento, movido pelo Espírito. Este dom ocupa-se da benevolência, beneficência, humanitarismo, filantropia, altruísmo.

e) Presidir (Rm 12:8). Aqui, o apóstolo fala-nos do governo na igreja, mostrando que, apesar de Cristo ser a Cabeça da Igreja, Ele constitui servos Seus para presidirem sobre o Seu povo. Mas, “presidir” não é dominar sobre o povo, mas estar à sua frente, ensinando-lhe por onde e para onde deve ir. Por isso, Pedro adverte os presbíteros para que não agissem como se tivessem domínio sobre a herança do Senhor (1Pe 5:3).

f) Exercitar misericórdia (Rm 12:8). É o dom de transformar em ações, em atitudes concretas o bem que desejamos a alguém. Misericórdia é o amor posto em ação, é a bondade tornada em ação concreta. Como diz o apóstolo Tiago, como podemos dizer que amamos alguém se não suprimos as suas necessidades (Tg 2:14-17), pois o amor não é amor de palavras, mas amor de obras (1João 3:16-18).

2. Conhecendo os Dons Espirituais.Assim também vós, já que estais desejosos de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja”(1Co 14:12).

Os Dons Espirituais são dotações e capacitações sobrenaturais que o Senhor Jesus, por intermédio do Espírito Santo, outorga à sua Igreja, visando a expansão universal da sua obra e a edificação dos santos.

Ao contrário do que pensavam certos crentes de Corinto, os Dons Espirituais, embora diversos, são procedentes do Único e Verdadeiro Deus: “E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”(12:6).

Os Dons Espirituais são chamados, no original grego, de "charismata", palavra que significa "graças", ou seja, os Dons Espirituais são favores imerecidos que Deus concede aos homens que estão dispostos a servi-lo.

A verificação do significado da palavra "charismata" é muito importante, pois demonstra, de forma cabal, que os Dons Espirituais são concessões divinas, decorrem do exercício da Sua infinita misericórdia, não havendo, portanto, qualquer merecimento, qualquer mérito por parte daqueles que são aquinhoados pelo Espírito Santo com um Dom Espiritual. O Dom Espiritual é concedido não porque alguém seja mais espiritual ou melhor do que outro, mas em virtude da soberana vontade do Senhor. Quem o diz não somos nós, mas a própria Palavra de Deus: "Mas um só mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”(1Co 12:11).

a) Objetivos dos Dons Espirituais. Os Dons Espirituais visam a edificação da igreja – “Assim também vós, já que estais desejosos de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja”(1Co 14:12).

b) Quantidade de Dons Espirituais. A Bíblia registra vários dons. Só em 1Corintios 12:8-10 Paulo relacionou três grupos de Dons Espirituais, a saber: Três Dons de saber (Palavra de sabedoria, Palavra de ciência - ou conhecimento - e do Discernimento de espíritos); três Dons de fazer (Fé, Cura e Operação de milagres); três Dons de falar (Profecia, Variedade de línguas e Interpretação de línguas). É certo que em nenhuma deles o objetivo de Paulo foi o de quantificar os Dons, ou seja, definir quantos são, mas, o de qualificá-los, ou seja, discorrer sobre o objetivo e o uso correto de cada um.

c) A distribuição dos Dons não é Uniforme. Quando afirmamos que a distribuição dos Dons não é uniforme, estamos dizendo que não existe um método, ou uma regra que o Espírito Santo deva seguir na concessão dos mesmos – “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”(1Co 12:11). É como Ele quer – ninguém pode estabelecer critérios. Não existe um número mínimo, ou máximo para cada Igreja Local; não existe a obrigatoriedade de cada crente receber pelo menos um, nem um limite máximo para cada pessoa.

d) Existe uma Condição Básica para o uso dos Dons Espirituais. Diríamos que os Dons de natureza Espiritual são destinados aos homens espirituais, ou seja, aqueles que receberam vida espiritual através do Novo Nascimento. As pessoas, lá fora, possuem os Dons Naturais, porém, os Espirituais são destinados à Igreja. Diríamos que a condição para o uso dos Dons Espirituais é a apresentação do corpo “em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, ou seja, uma vida colocada no altar, uma vida de consagração a Deus, uma vida de santificação. O Senhor Nosso Deus usa vasos limpos, ou purificados, vasos que não estejam em conformidade com o mundo.

3. Acerca dos Dons Ministeriais. Os Dons ministeriais são tratados como dádivas vindas da parte de Jesus, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação da igreja. Não se trata de operações episódicas, de demonstrações esporádicas e temporalmente limitadas, com vistas a um consolo, uma exortação, o suprimento de uma necessidade ou uma instantânea manifestação do poder de Deus para a igreja, mas de uma atividade contínua, no meio do povo de Deus, para que a igreja cumpra com suas tarefas neste mundo, quais sejam, a evangelização e o aperfeiçoamento dos salvos. Ou seja, os Dons Ministeriais são dádivas que são concedidas à Igreja pelo seu Comandante-Chefe, que escolhe, dentre os Seus servos, aqueles que devem coordenar, dirigir e orientar o povo de Deus. Através dos Dons Ministeriais, Cristo concede à Igreja homens que, diuturnamente, estarão servindo ao Corpo de Cristo, que serão, eles mesmos, verdadeiros Dons para a igreja.

a) Identificando os Dons Ministeriais. Os Dons Ministeriais são enumerados em Efésios 4:11 e 1Coríntios 12:28,29, a saber: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. São os dons Ministeriais propriamente dito.

b) Objetivos dos Dons Ministeriais. Os Dons Ministeriais são dados para aperfeiçoar ou equipar todos os crentes a fim de poderem servir ao Senhor e então edificarem o “Corpo de Cristo”. O processo é assim: (a) Os Dons equipam os santos; (b) Os santos então servem; (c) O Corpo enfim é edificado.

Conforme Ef 4:14, quando os Dons operam de acordo com a vontade de Deus e os santos são ativos no serviço do Senhor, três perigos são evitados: imaturidade, instabilidade e ingenuidade – “para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente”.

- Imaturidade – “... para que não mais sejamos como meninos”.  Há crentes que nunca deixam de ser meninos espirituais, por falta de envolvimento no serviço de Cristo, e também porque não se dedicam à leitura devocional e ao estudo sistemático da Palavra de Deus. São subdesenvolvidos precisamente por falta de exercício nestes pilares. Foi para pessoas assim que o autor da Epístola aos Hebreus disse: ”Quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine de novo”(Hb 5:12).

- Instabilidade – “... inconstantes”. Instabilidade espiritual é um perigo! Cristãos imaturos são susceptíveis a novidades grotescas e modismos transitórios criados por charlatões profissionais. Tornam-se ciganos religiosos, andando de um lado para outro, isto é, inconstantes.

- Ingenuidade – “... levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens”. O perigo mais sério é a decepção. Os meninos espirituais são inexperientes na palavra da justiça. Suas faculdades não são exercitadas para discernir o bem e o mal (Hb 5:13,14). Encontram inevitavelmente alguém de uma seita falsa que os impressiona com seu zelo e sinceridade aparentes. Por empregar palavras religiosas, acreditam que se trata de um cristão verdadeiro. Se tivessem estudado a Bíblia Sagrada, perceberiam o quanto tal indivíduo joga traiçoeiramente com palavras. Por isso, que o ensino bíblico constante e progressivo, sob a unção de Deus, é indispensável para impedir que os crentes “meninos espirituais” sejam levados por "todo o vento de doutrina" (Ef 4:14).

III. CORINTO: UMA IGREJA PROBLEMÁTICA NA ADMINISTRAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS (1Co 12:1-11).

Os membros da igreja do Corinto tinham todos os Dons Espirituais de que precisavam para viver a vida cristã, testemunhar a favor de Cristo e posicionar-se contra o paganismo e a imoralidade de Corinto. Mas, em vez de usar o que Deus lhes deu, estavam discutindo a respeito de quais dons eram mais importantes. O simples fato de seus membros possuírem esses dons não era, de per si, sinal de espiritualidade autêntica.

Os cultos da igreja de Corinto eram notadamente pentecostais (1Co 12:13;14). Segundo o apóstolo Paulo, nenhum dom faltava a essa igreja (1Co 1:7). Todas as manifestações espirituais do Espírito Santo tinham lugar ali (1Co 12:4). Havia diversidades de ministérios do Senhor Jesus (1Co 12.5), e diversas operações do próprio Deus (1Co 12:6). No entanto, a desordem no culto de adoração a Deus (1Co 11:17-19) era notória. Os dons eram exercidos para demonstrar status de maturidade e espiritualidade, mas o resultado disso era o oposto: imaturidade e atitudes carnais(1Co 3:1-4). A desordem era tal que o próprio culto tornou-se um entrave para o progresso espiritual dos crentes. Parece que hoje estamos vivendo a síndrome daquela época: muito barulho e pouco fervor espiritual.

Hoje, em muitas igrejas vemos movimentos e agitação sem, contudo, haver espiritualidade. Está muito em voga o “falar em línguas”. Tem pregadores que, no momento da pregação, insistem que todas as pessoas presentes na igreja falem línguas, independentemente de serem ou não batizados com o Espírito Santo - pré-requisito para o dom de línguas. E em obediência ao tal pregador o auditório se agita e se envolve num tremendo barulho, sem nenhuma espiritualidade. Ora, se o objetivo do dom de línguas é a edificação individual do falante, então as línguas não devem ser faladas para que todos ouçam, mas devem fazer parte da devoção individual da pessoa.

Muitos têm confundido barulho com fervor espiritual, esquecendo-se que, nas Escrituras Sagradas, o barulho que chama a atenção da multidão é o da língua estranha enquanto sinal do batismo com o Espírito Santo(1Co 14:22), não enquanto dom espiritual. A inobservância desta regra bíblica somente trará escândalo e prejuízo à causa do Evangelho (1Co 14:23). Será que as pessoas que têm causado barulho intenso nas reuniões da igreja local, que perturbam a reunião, que impedem que as pessoas ouçam a mensagem, em especial as que não são crentes, costumam passar horas em oração, nas madrugadas, falando em línguas com o Senhor? Será que são pessoas que têm efetiva intimidade com Deus ou querem apenas aparecer, nas reuniões, chamando para si uma atenção que deveria estar voltada apenas para o Senhor? Será que têm sido demonstrações do poder de Deus ou instrumentos do adversário para atrapalhar a operação divina em nossas reuniões?

A maioria das vezes o que parece fervor espiritual é apenas sensacionalismo, resultante de motivações e mecanismos externos, que é efêmero. O genuíno fervor espiritual está intimamente vinculado com a maturidade cristã, que não é medida pela quantidade de dons que uma igreja exercita, mas pelo exercício da piedade e da vida cristã consagrada (Ef 4:17-32).

É o caráter do cristão, que chamamos de Fruto do Espírito, que identifica o genuíno cristão. O Fruto do Espírito é gerado pela ação do Espírito Santo, e se desenvolve dentro do “homem interior”; ele passa a fazer parte da personalidade do novo homem. Sendo gerado dentro do homem, o Fruto testifica das qualidades do homem, conforme ensinou o Senhor Jesus: Ou fazei a árvore boa, e o fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore”(Mt 12:33).

Há crentes que por ter um Dom Espiritual, quase sempre o de profecia, julga-se no direito de ser ouvido e até de dirigir a Igreja, passando por cima do pastor. Igreja não se dirige com os Dons Espirituais. Igreja tem que ser dirigida com a Palavra de Deus. Por isto é preciso conhecê-la. Paulo pensava assim, pois, disse que o neófito, ou novo convertido, não deveria ser separado para o Ministério – “Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo”(1Tm 3:6). É sabido que o novo convertido, ou neófito, pode receber os Dons Espirituais, mesmo antes do Batismo nas Águas. Isto, contudo, não o credencia para o Ministério. Para o Ministério é necessário amadurecimento espiritual; isto só se consegue através da formação do Fruto do Espírito na vida do homem.

CONCLUSÃO

Os Dons Espirituais e Ministeriais são dádivas divinas para a Igreja hodierna. A atualidade dos Dons espirituais é confirmada pelas Escrituras Sagradas e experiência cristã. Alguns erroneamente afirmam que os Dons foram apenas para a igreja do primeiro século. Mas não há qualquer analogia plausível para sustentar tal absurdo. A experiência pentecostal de incontáveis cristãos, em todas as épocas e lugares, é evidência complementar da atualidade dos Dons conforme a  verdade bíblica.

No uso dos Dons, o crente precisa conscientizar-se de que o Corpo de Cristo é formado por vários membros, com funções diferentes, mas isso não significa que um é mais importante que o outro. Todos têm os seu valor e devem funcionar em harmonia, visando o bem de todos e a glória do Senhor. Amém!

 

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 58 – CPAD.

1Corintios (como resolver conflitos na Igreja) – Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento – William Macdonald. Mundo Cristão.

Os Dons do Espírito Santo – Dr. Caramuru Afonso Francisco. PortalEBD.

Dons Espirituais & Ministeriais(servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário) – Elinaldo Renovato. CPAD