domingo, 7 de junho de 2015

Aula 11 – A ÚLTIMA CEIA


2º Trimestre/2015

 
Texto Base: Lucas 22:7-20

“Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós” (1Co 5:7).

 

INTRODUÇÃO

Na última Ceia de Páscoa foi instituída a Ceia do Senhor Jesus. Esta é a lembrança contínua da Sua entrega por nós. A morte de Jesus significa a completa demonstração do interesse divino em ter novamente comunhão conosco. A Ceia do Senhor aponta para o passado (1Co 11:23-25) e ali vemos a cruz de Cristo e seu sacrifício vicário em nosso favor, mas ela também aponta para o futuro (1Co11:26) e ali vemos o Céu, a festa das Bodas do Cordeiro (Ap 19:9), quando Ele vai nos receber como Anfitrião para o grande banquete celestial. Jesus Cristo será o centro do banquete que Deus Pai vai oferecer (Ap 2:7).

I. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ÚLTIMA CEIA

A Páscoa era uma festa fundamental para o povo de Deus. Por isso, Lucas 22:7 destaca: ”Chegou o dia da Festa dos Pães Asmos, em que importava comemorar a Páscoa”. Essa festa era obrigatória e marcava a memória com a lembrança da libertação da escravidão no Egito para uma vida nova e livre (Ex 12).

1. A instituição da páscoa judaica. A Páscoa judaica foi instituída na noite da libertação do povo hebreu do Egito. A primeira Páscoa foi celebrada no final do dia 14 do mês de Abibe, aproximadamente no ano de 1445 a.C. Dali em diante deveria ser celebrada anualmente (Êx 12:17-24). A Páscoa instituída por Yahweh no Egito foi acompanhada por leis que regiam a sua observância.

A palavra Páscoa é derivada do verbo hebraico Pesah, que significa “passar por cima”. Esse nome surgiu em face do registro bíblico de que o anjo da morte, ou anjo destruidor, passou por sobre as casas marcadas com o sangue do cordeiro pascal, quando ele matou os primogênitos do Egito - “E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito” (Êx 12:23). O cordeiro foi imolado e seu sangue aspergido no batente das portas. De igual modo, Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Isto tem a ver com nossa redenção.

O nome hebraico do mês que aconteceu a primeira Páscoa é Abibe, que significa “espigas verdes”, que corresponde a março-abril em nosso calendário. Durante o Exílio babilônico foi substituído pelo nome Nisã que significa “começo, abertura” (Ne 2:1).

2. Contexto histórico da Páscoa. Deus disse a Abraão que sua descendência seria peregrina, sob servidão e aflição, durante 430 anos (Gn 15:13-16; Ex 12:40,41). A peregrinação no Egito começou com a ida de Jacó e seus filhos. Um dos filhos de Jacó, José, tornou-se governador do Egito, e, durante o seu governo os hebreus não sofreram nenhum tipo de agravo ou sofrimento. Mas, “depois do falecimento de José e de seus irmãos e de toda aquela geração, levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José” (Êx 1:6-8). A partir de então os egípcios começaram a afligir os israelitas, e a tratá-los com dureza (Êx 1:11-14). Quando os sofrimentos dos filhos de Israel estavam sendo insuportáveis, então clamaram ao Seu Deus, e os seus clamores subiram aos céus por causa de sua servidão (Êx 2:23). Deus interveio em favor de Seu povo, chamando Moisés, que após 40 anos de preparo no deserto apascentando ovelhas, foi enviado diante de Faraó para que começasse a libertação do Seu povo do Egito. Em obediência ao chamado de Deus, Moisés compareceu perante Faraó e lhe transmitiu a ordem divina: “Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto” (Êx 5:1). Para conscientizar Faraó da seriedade dessa mensagem da parte de Deus, Moisés, mediante o poder de Deus, invocou pragas como julgamento contra o Egito. No decorrer de várias dessas pragas, Faraó concordava em deixar o povo ir, mas a seguir, voltava atrás, uma vez a praga suspendida. Soou a hora da décima e derradeira praga, aquela que não deixava aos egípcios nenhuma alternativa senão a de libertar os israelitas. Deus disse a Moisés: “À meia-noite eu sairei pelo meio do Egito; e todo o primogênito na terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó, que se assenta com ele sobre o seu trono, até ao primogênito da serva que está detrás da mó, e todo primogênito dos animais. E haverá grande clamor em toda a terra do Egito, qual nunca houve semelhante e nunca haverá” (Êx 11:4-6).

Visto que os israelitas também habitavam no Egito, como podiam escapar do anjo destruidor? O Senhor Deus emitiu uma ordem específica ao Seu povo; a obediência a esta ordem traria a proteção divina a cada família dos hebreus, com seus respectivos primogênitos. Cada família tinha que tomar um cordeiro macho de um ano de idade, sem defeito e sacrificá-lo ao entardecer do dia 14 de Abibe; famílias menores podiam repartir um único cordeiro entre si (Êx 12:3-6). O sangue do cordeiro sacrificado devia ser aspergido nas duas ombreiras e na verga da porta de suas casas. Quando o Anjo passasse, passaria por cima daquelas casas que tivessem o sangue aspergido conforme ordenado (daí o termo Páscoa, do hebraico pesah, que significa “pular além da marca”, “passar por cima”, dando a ideia de poupar, de proteger (Êx 12:13)). Assim, pelo sangue do cordeiro morto, os israelitas foram protegidos da condenação à morte executada contra os primogênitos egípcios.

3. O ritual da páscoa judaica. O registro bíblico nos mostra que a Páscoa era uma cerimônia familiar -“Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família” (Êx 12:3). Não podia ser um animal de qualquer idade. Cada família devia escolher um cordeiro ou cabrito sem defeito, sem mácula, com a idade de “um ano” (Êx 12:5).

O cordeiro era levado para dentro de casa no dia 10 de Abibe, e mantido ali até o dia 14 do mesmo mês. Período durante o qual era observado pela família que iria sacrificá-lo. Caso não possuísse algum defeito, o animal era então sacrificado (Êx 12:3,6).

O cordeiro (ou cabrito) após ser imolado, o seu sangue era aspergido com um molho de hissopo nas ombreiras (partes verticais da porta) e na verga da porta (parte horizontal sobre as ombreiras) da casa em que comeriam o cordeiro (Êx 12:7,22). O sangue nas ombreiras e na verga da porta era o sinal que identificava a casa dos hebreus dos egípcios. O Senhor Deus havia falado a Moisés, seu servo em Êxodo 12:12,13: “E eu passarei pela terra do Egito esta noite e ferirei todo primogênito na terra do Egito, desde os homens até os animais; e sobre todos os deuses do Egito farei juízos. Eu sou Deus. E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito”.

Deus ordenou o sinal do sangue, não porque Ele não tivesse outra forma de distinguir os israelitas dos egípcios, mas porque queria ensinar ao seu povo a importância da obediência e da redenção pelo sangue, preparando-o para o advento do “Cordeiro de Deus”, que séculos mais tarde tiraria o pecado do mundo (João 1:29).

A morte dos primogênitos era um desafio consumado em juízo sobre os falsos deuses egípcios. Porque quase todos os deuses do Egito eram semelhantes a algum animal, com feições humanas. Logo, a morte do primogênito de cada tipo de animal mostraria a falibilidade e a impotência das divindades pagãs que haveriam de protegê-los.

O cordeiro (ou cabrito) era abatido, esfolado (isto é, tirava-se a pele), suas partes internas eram tiradas e assim eram limpas e depois recolocadas no lugar, daí então o cordeiro era assado inteiro, com a cabeça, as pernas e a fressura (Êx 12:9). O animal tinha que estar bem assado, nada cru, e sem que lhe quebrasse nenhum osso (Êx 12:46; Nm 9:12). Após a carne ser assada no fogo, era comida pela família com pães asmos e ervas amargas (alfaces bravas, etc. - Êx 12:8). Cada um dos componentes desta celebração tinha um sentido literal e espiritual, que Deus tinha em mente transmitir não somente aos filhos de Israel, como a seus descendentes (Êx 12:24-27).

A Ceia Pascal devia ser comida pelos membros de cada família. Se a família fosse pequena demais para comer o cordeiro, chamavam-se os seus vizinhos mais próximos até que houvesse número suficiente para comer o cordeiro todo naquela noite (Êx 12:4,8). Quaisquer sobras de carne deviam ser queimadas antes do amanhecer (Êx 12:10). De acordo com a tradição judaica, família pequena significava aquela com menos de dez pessoas. Eles deviam calcular quanto cada um poderia comer e assim determinar se deviam se reunir com alguma outra família (Êx 12:4). Depois da construção do Templo, Deus ordenou que a celebração da Páscoa e o sacrifício do cordeiro fossem realizados em Jerusalém (Dt 16:1-6).

Na Páscoa realizada no Egito, a cabeça da família foi o responsável para abater o cordeiro (ou cabrito) em cada casa, e todos deviam permanecer dentro da casa até o amanhecer para que não fossem mortos pelo anjo da punição e da destruição (Êx 12:22,23). Os participantes comeram em pé, e com os lombos cingidos (vestidos), com o cajado na mão, com as sandálias nos pés, e que comessem apressadamente para que estivessem prontos para uma longa jornada. À meia-noite (como Deus havia dito a Moisés), todos os primogênitos dos egípcios foram mortos, mas o anjo passou por alto as casas em que o sangue havia sido aspergido (Êx 12:11,23). Toda família egípcia em que havia um varão primogênito foi atingida, desde a casa do próprio Faraó até os primogênitos dos prisioneiros, e assim, o Senhor Deus executou o seu juízo sobre os egípcios.

O âmago do evento da Páscoa é a graça salvadora de Deus. Deus tirou os israelitas do Egito, não porque eles eram um povo merecedor, mas porque Ele os amou e porque Ele era fiel ao seu concerto (Dt 7:7-10). Semelhantemente, a salvação que recebemos de Cristo nos vem através da maravilhosa graça de Deus (Ef 2:8-10; Tt 3:4,5).

II. A CELEBRAÇÃO DA ÚLTIMA CEIA

1. A preparação (Lc 22:7-13). Os preparativos para a refeição da última páscoa de Jesus com os seus discípulos foram muito mais solenes do que as comemorações anteriores, porque tinham por objetivo marcar profundamente o dia em que foi celebrada a grande Páscoa para toda a humanidade, por toda a história. É a chamada Páscoa eficaz. Desse dia em diante todo regime de escravidão do pecado estaria derrotado. Trata-se, portanto, de caminhar para uma nova vida presenteada por Deus.

Segundo Leon L. Morris, a páscoa não era apenas mais uma refeição, mas, sim, uma festa muitíssimo importante. Devia ser comida em posição reclinada, e havia exigências tais como a inclusão de ervas amargas na refeição. Destarte, uma quantidade considerável de preparação era necessária. A refeição não era solitária, mas, sim, era comida em grupos que usualmente consistiam de dez a vinte pessoas.

Jesus encarregou Pedro e João de fazer os preparativos necessários para o pequeno grupo (somente Lucas dá os nomes deles aqui). Não é contrário à razão terem perguntado onde seria - “E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos?”(Lc 22:9). Eram galileus, e precisariam de orientação quanto ao lugar aonde seria preparada a Páscoa. E nessa agitação efervescente por causa da festa havia poucos lugares livres, a despeito da tradicional disposição dos jerusalemitas de tornar disponíveis acomodações sem nada cobrarem.

E Jesus disse a Pedro e João que eles deveriam procurar um homem com um cântaro de água – “Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar” (Lc 22:10). Encontrar um homem levando um cântaro seria um fato distintivo, pois somente as mulheres usualmente carregavam cântaros de água (os homens carregavam odres de água). Os discípulos haveriam de dizer certas palavras ao dono da casa: “O mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a Páscoa com os meus discípulos? Então, ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei os preparativos” (Lc 22:11,12). “Grande cenáculo” significava um espaçoso ambiente mobiliado, provavelmente havia sofás prontos com cobertas estendidas sobre eles. “Os hospedeiros costumavam oferecer suas casas durante a festa, em troca das peles de animais e utensílios usados para a refeição. O preparo da Páscoa incluiria a busca de fermento na casa e o preparo dos vários elementos da refeição”. Eles seguiram as instruções e prepararam a refeição de Páscoa.

2. A celebração e a substituição. Lucas 22:19-23 quis mostrar que a Ceia cristã substituiu a Páscoa judaica, assumindo o significado que a Páscoa possuía e levando esse significado ao máximo. Dessa forma, a Ceia do Senhor assumiu um significado universal, e a libertação que ela proporciona não é só a de Israel das mãos opressoras do Egito, mas a libertação total e para todos os povos. É importante conhecermos os detalhes de como Jesus modificou a Páscoa judaica transformando-a num memorial:

a) A Páscoa judaica celebrava o fato de Deus ter libertado o seu povo do cativeiro egípcio; a Ceia do Senhor celebra o fato de Deus nos ter libertado da escravidão do pecado.

b) O cordeiro sacrifical da Páscoa judaica aplacou o anjo da morte; o Pão da Ceia significa o corpo de Cristo, partido na condenação do nosso pecado.

c) O vinho da Páscoa judaica simbolizava o sangue do cordeiro nas portas; o vinho da Ceia do Senhor simboliza o sangue de Cristo dado por nós. A sua morte é que nos compra a vida eterna.

d) A Páscoa judaica representava a antiga aliança de Deus com o seu povo; a Ceia do Senhor nos lembra da sua Nova Aliança.

Através de todos esses detalhes, reconhecemos o valor que devemos dar à Ceia do Senhor. O cordeiro pascal foi substituído na Ceia cristã pelo pão, e o sangue do cordeiro pelo vinho, símbolo do sangue de Jesus. Então, podemos definir qual é o significado da Ceia do Senhor: ela simboliza o supremo dom do amor de Deus em Jesus, que entregou seu próprio corpo e derramou seu sangue em nosso lugar para nos perdoar os pecados.

Mas é válido lembrar que o traidor também estava participando dessa celebração: ”todavia, a mão do traidor está comigo à mesa” (Lc 22:21). Quem era ele? Jesus sabia, mas não contou. Lucas 22:23 diz que a ansiedade tomou conta de todos os que participavam daquele momento. “Serei eu? Será você? Quem vai trair Jesus e o evangelho?”, indagaram os discípulos entre si. Que nós não traiamos Jesus de maneira nenhuma, mas nos disponhamos, se preciso for, até a morrer anunciando a nova vida que Ele dá.

III. OS ELEMENTOS DA ÚLTIMA CEIA

São elementos da Santa Ceia: o pão e o vinho, por representarem, respectivamente, o corpo e o sangue de Cristo, oferecidos em resgate da humanidade (1Co 11:24,25). É a explicita, profunda e confortadora simbologia das Sagradas Escrituras.

1. O Pão. Jesus na noite em que fora traído tomou o pão e tendo dado graças, o partiu e disse: “... Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim”(Lc 22:19). Jesus manda os discípulos pegar o pão e comer, pois o pão estava representando o seu corpo que fora entregue por todos nós. Jesus aponta o objetivo pela qual deveriam pegar e comer do pão: manter viva a memória do seu nome.

O pão da Ceia não é o corpo literal de Cristo, nem está ele presente invisivelmente. Quando Jesus disse que aquele pão era o seu corpo oferecido por nós, não estava falando literalmente, porque ainda estava vivo e o seu corpo não tinha sido partido por nós na cruz. Estando vivo, não podia pegar com suas mãos parte do seu corpo em forma de pão para oferecer aos seus apóstolos dizendo: “isto é o meu corpo que é oferecido por vós; fazei isto em memória de mim” (Lc 22:19). Jesus, então, usou uma linguagem simbólica, como fez em outras ocasiões: “Eu sou a porta”, “Eu sou o caminho”, “Eu sou a videira” (João 10:7-9;14:6; 15:1) e assim por diante. Representa, então, a sua encarnação, que ele tomou um corpo humano e deixou sua glória (João 1:14); nasceu de uma virgem e viveu entre os pecadores em perfeição de conduta. Era Ele o Homem Perfeito, idôneo para servir de sacrifício pelos nossos pecados (Hb 7:26; 2Co 5:21). Ele partiu o pão da Ceia significando que ia se sacrificar em resgate da humanidade caída e escravizada pelo Diabo.

2. O Vinho. Identificado na Bíblia como "fruto da vide" e "cálice do Senhor" (Lc 22:18;1Co 11:27), o vinho na Ceia simboliza o sangue de Cristo vertido na cruz para redimir a todos as pessoas que o aceitarem com Senhor e Salvador, e ratificar a “Nova Aliança” ou “Novo Testamento”(Lc 22:20). O apóstolo Pedro assim escreveu: "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado" (1Pe 1:18,19).

Os escritores dos três primeiros Evangelhos empregam a expressão “fruto da vide” (Mt 26:29; Mc 14:25; Lc 22:18). O vinho não fermentado é o único “fruto da vide” verdadeiramente natural, contendo aproximadamente 20% de açúcar e nenhum álcool. A fermentação destrói boa parte do açúcar e altera aquilo que a videira produz. O vinho fermentado não é produzido pela videira.

Jesus instituiu a Ceia do Senhor quando Ele e seus discípulos estavam celebrando a Páscoa. A lei da Páscoa em Êx 12:14-20 proibia, durante a semana daquele evento, a presença de fermento ou qualquer agente fermentador. Deus dera essa lei porque a fermentação simbolizava a corrupção e o pecado (cf. Mt 16:6,12; 1Co 5:7,8). Jesus, o Filho de Deus, cumpriu a lei em todas as suas exigências (Mt 5:17). Logo, teria cumprido a lei de Deus para a Páscoa, e não teria usado vinho fermentado.

A Ceia do Senhor foi instituída logo depois da refeição pascal. Por isso, lemos que Jesus tomou o cálice depois de haver ceado. Ao fazê-lo, declarou que o cálice era a Nova Aliança no seu sangue. Trata-se de uma referência à aliança que Deus prometeu à nação de Israel em Jeremias 31:31-34. É uma promessa incondicional segundo a qual Deus concordou em usar de misericórdia para com eles e não se lembrar de seus pecados e iniquidades. Os termos da Nova Aliança também são descritos em Hebreus 8:10-12. Todos os que creem no Senhor Jesus recebem os benefícios prometidos. Quando o povo de Israel se voltar para o Senhor, também desfrutará as bênçãos da Nova Aliança, um acontecimento que ocorrerá no reino milenar de Cristo na terra.

Do mesmo modo que o pão, quando fez referência ao cálice da Nova Aliança (Lc 22:20) no seu sangue, que foi derramado por nós, também falou de maneira simbólica. Portanto, não ocorreu e, ainda hoje quando participamos da Ceia do Senhor, não ocorre a transubstanciação, isto é, a transformação das substâncias que compõem o pão e o vinho em verdadeira carne e sangue de Jesus. Não! Quem acredita que essa transformação ocorre entende o texto de forma equivocada. Devemos crer, com toda a reverência e ação de graças, mas, simbolicamente, em memória de Jesus Cristo (1Co 11:24,25)

CONCLUSÃO

A Ceia do Senhor foi instituída por ocasião da última Páscoa que Jesus participou com os apóstolos, na noite em que foi traído e preso (Lc 22:14,15,18). Trata-se não apenas de uma recordação, mas, sobretudo, de um testemunho, pois anunciamos a sua morte (“... anunciais a morte do Senhor...”) e a sua volta (“... até que venha”). Sua morte nos reconciliou com Deus, e a sua volta nos coroará de glória, por meio da nossa redenção (1Co 11:26;Rm 5:10;Ef 4:30).

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 62. CPAD.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD

Comentário Lucas – à Luz do Novo Testamento Grego. A.T. ROBERTSON. CPAD

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

John Vernon McGee. Através da Bíblia – Lucas. RTM.

Leon L. Morris. Lucas (Introdução e Comentário). VIDA NOVA.

MARCOS – O Evangelho dos Milagres. Hernandes Dias Lopes.

HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. CPAD.

 

domingo, 31 de maio de 2015

Aula 10 – JESUS E O DINHEIRO


2º Trimestre/2015

Texto Base: Lucas 18:18-24

 “E, vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas!” (Lc 18:24)

 

INTRODUÇÃO

O Dinheiro é o maior senhor de escravos do mundo. Há indivíduos que fazem do dinheiro a razão da sua vida. Pessoas se casam, divorciam, matam e morrem pelo dinheiro. Muitas pessoas, sem uma dimensão da eternidade, tem sua vista obscurecida pelas coisas temporais e passageiras e, portanto, acaba se deixando dominar pela avareza, pelo desejo de acumulação de riquezas, que é uma insensatez total, como deixou bem claro Jesus na parábola do rico insensato (Lc 12:13-21) - “porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”(Lc 12:15). Lamentavelmente, não são poucos os que acabam se perdendo na caminhada para o céu por causa do dinheiro.

Riquezas e glórias vêm de Deus, contudo, o dinheiro não é um tesouro para ser usado de forma egoísta, apenas para o nosso deleite. Deus nos dá o dinheiro para O glorificarmos com ele, e fazemos isso, quando cuidamos da nossa família, dos domésticos da fé e de outras pessoas necessitadas, inclusive nossos inimigos (Mt 5:44). A Bíblia revela que a avareza tem sido um obstáculo para muitos alcançarem a salvação, como nos casos do mancebo de qualidade (Mt 19:22; Lc 18:23), de Judas Iscariotes (Lc 22:3-6; João 12:4-6), de Ananias e Safira (At 5:1-5,8-10), de Simão, o mago (At 8:18-23) e de muitos outros, como afirmou Paulo em sua carta a Timóteo (1Tm 6:9,10). Deus assim nos exorta: “se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração” (Sl 62:10).

I. DINHEIRO, O DEUS MAMOM

O Dinheiro é mais que uma moeda, é um deus, é Mamom. É o ídolo que tem o maior número de adoradores neste mundo. Milhões de pessoas se prostram em seu altar todos os dias e dedicam tempo, talentos, vida e devoção a esse deus. Muitas pessoas pisam arrogantemente no próximo e sacrificam até a família para satisfazerem os caprichos insaciáveis dessa divindade. No sermão do monte, Jesus disse que não podemos servir a Deus e às riquezas ao mesmo tempo. Ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Ninguém pode servir a Deus e às riquezas. A confiança em Deus implica no abandono de todos os ídolos. Quem coloca a sua confiança no dinheiro, não pode confiar em Deus para a sua própria salvação. Nossos corações somente têm espaço para uma única devoção e nós só podemos nos entregar para o único Senhor.

Que lugar o dinheiro ocupa na sua vida? O relato de Lucas 18:18-24 revela a situação espiritual de muita gente. O texto fala de um homem que sentia sede de salvação, porém, tinha o grande obstáculo da riqueza, dos bens materiais, um dos maiores inimigos da vida espiritual. De todas as pessoas que vieram a Cristo, esse homem é o único que saiu pior do que chegou. Ele foi amado por Jesus, mas, mesmo assim, desperdiçou a maior oportunidade da sua vida. A despeito do fato de ter vindo à pessoa certa, de ter abordado o tema certo, de ter recebido a resposta certa, ele tomou a decisão errada. Ele amou mais o dinheiro do que a Deus, mais a terra do que o céu, mais os prazeres transitórios desta vida do que a salvação da sua alma.

1. Esse homem possuía excelentes qualidades, porém vivia insatisfeito. Destacamos várias qualidades excelentes desse jovem. Entretanto, todas essas qualidades que alistamos não puderam preencher o vazio da sua alma.

a) Ele era riquíssimo (Lc 18.23). Esse jovem possuía tudo que este mundo podia lhe oferecer: casa, bens, conforto, luxo, banquetes, festas, jóias, propriedades, dinheiro. Ele era dono de muitas propriedades. Embora jovem, já era muito rico. Certamente, ele era um jovem brilhante, inteligente e capaz.

b) Ele era proeminente (Lc 18:18). Lucas diz que ele era um homem de posição. Ele possuía um elevado status na sociedade. Ele tinha fama e glória. Era também líder famoso e influente na sociedade. Talvez ele fosse um oficial na sinagoga. Tinha reputação e grande prestígio.

c) Ele era virtuoso (Lc 18:21;Mt 19.20) - "Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?". Aquele jovem julgava ser portador de excelentes predicados morais. Ele se olhava no espelho da lei e dava nota máxima para si mesmo. Considerava-se um jovem íntegro. Não vivia em orgias nem saqueava os bens alheios. Vivia de forma honrada dentro dos mais rígidos padrões morais. Possuía uma excelente conduta exterior. Era um modelo para o seu tempo.

d) Ele era insatisfeito com sua vida espiritual (Mt 19:20). "Que me falta ainda?". Ele tinha tudo para ser feliz, mas seu coração ainda estava vazio. Seu dinheiro e reputação não preencheram o vazio da sua alma. Estava cansado da vida que levava. Nada satisfazia aos seus anseios. Ser rico não basta; ser honesto não basta; ser religioso não basta. Nossa alma tem sede de Deus.

e) Ele era uma pessoa sedenta de salvação (Lc 18:18). Sua pergunta foi enfática: "Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Ele estava ansioso por algo mais que não havia encontrado no dinheiro. Ele sabia que não possuía a vida eterna, a despeito de viver uma vida correta aos olhos dos homens. Ele não queria enganar a si mesmo. Ele queria ser salvo.

f) Ele foi a Jesus com pressa (Mc 10:17). "E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro". Naquela época, pessoas tidas como importantes não corriam em lugares públicos, mas esse jovem correu. Ele tinha pressa. Muitos querem ser salvos, mas deixam para amanhã e perecem eternamente. Esse jovem não pode mais esperar, ele não pode mais protelar. Ele não aguentava mais. Ele não se importou com a opinião das pessoas. Ele tinha urgência para salvar a sua alma.

g) Ele foi a Jesus de forma reverente (Mc 10:17). "[...] e ajoelhando-se...” (Mc 10:17). Esse jovem se humilhou caindo de joelhos aos pés de Jesus. Ele demonstrou ter um coração quebrantado e uma alma sedenta. Não havia dureza de coração nem qualquer resistência. Ele se rendeu aos pés do Senhor.

h) Ele foi amado por Jesus (Mc 10:21). "E Jesus, fitando-o, o amou". Jesus viu o seu conflito, o seu vazio, a sua necessidade; viu o seu desespero existencial e se importou com ele e o amou.

2. Esse homem possuía excelentes qualidades, porém vivia enganado (Lc 18:18-23). As virtudes do jovem rico eram apenas aparentes. Ele superestimava suas qualidades. Ele deu a si mesmo nota máxima, mas Jesus tirou sua máscara e revelou-lhe que a avaliação que fazia de si, da salvação, do pecado, da lei e do próprio Jesus era muito superficial.

a) Ele estava enganado a respeito da salvação (Lc 18:18). Ele viu a salvação como uma questão de mérito e não como um presente da graça de Deus. Ele perguntou: "Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?". Seu desejo de ter a vida eterna era sincero, mas estava enganado quanto à maneira de alcançá-la. Ele queria obter a salvação por obras e não pela graça. Todas as religiões do mundo ensinam que o homem é salvo pelas suas obras. Na índia, multidões que desejam a salvação deitam sobre camas de prego ao sol escaldante; balançam-se sobre um fogo baixo; sustentam uma das mãos erguida até se tornar imóvel; fazem longas caminhadas de joelhos. No Brasil, vemos as romarias, onde pessoas sobem conventos de joelhos e fazem penitência pensando alcançar com isso o favor de Deus. Muitas pessoas pensam que no dia do juízo Deus vai colocar na balança as obras más e as boas obras e a salvação será o resultado da prevalência das boas obras sobre as obras más. Mas a salvação não consiste daquilo que fazemos para Deus, mas do que Deus fez por nós em Cristo Jesus.

b) Ele estava enganado a respeito de si mesmo (Lc 18:18-21). O jovem rico não tinha consciência de quão pecador ele era. O pecado é uma rebelião contra o Deus santo. Ele não é simplesmente uma ação, mas uma atitude interior que exalta o homem e desonra a Deus. O jovem rico pensou que suas virtudes externas poderiam agradar a Deus. Porém, a Escritura diz que todas as nossas justiças são como trapo da imundícia aos olhos do Deus santo (Is 64:6).

O jovem rico pensou que guardava a lei, mas havia quebrado os dois principais mandamentos da lei de Deus: amar a Deus e ao próximo. Ele era idólatra. Seu deus era o dinheiro. Seu dinheiro era apenas para o seu deleite. Sua teologia era baseada em não fazer coisas erradas, em vez de fazer coisas certas.

Jesus disse para o jovem rico: "Ainda te falta uma coisa: vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me." (Lc 18:22). O que faltava a ele? O novo nascimento, a conversão, o buscar a Deus em primeiro lugar. Ele queria a vida eterna, mas não renunciou os seus ídolos. 

c) Ele estava enganado a respeito da lei de Deus (Lc 18:20,21). Ele mediu sua obediência apenas por ações externas e não por atitudes internas. Aos olhos de um observador desatento ele passaria no teste, mas Jesus identificou a cobiça em seu coração. Esse é o mandamento subjetivo da lei. Ele não pode ser apanhado por nenhum tribunal humano. Só Deus consegue diagnosticá-lo. Jesus viu no coração desse homem o amor ao dinheiro como a raiz de todos os seus males (1Tm 6:10). O dinheiro era o seu deus; ele confiava nele e o adorava.

d) Ele estava enganado a respeito de Jesus (Lc 18:18; Mc 10:17). Ele chamou Jesus de Bom Mestre, mas não está pronto a lhe obedecer. Ele pensou que Jesus era apenas um rabi e não o Deus verdadeiro, feito carne. Jesus queria que o jovem se visse a si mesmo como um pecador antes de ajoelhar-se diante do Deus santo. Não podemos ser salvos pela observância da lei, pois somos rendidos ao pecado. A lei é como um espelho; ela mostra a nossa sujeira, mas não remove as manchas. O propósito da lei é trazer o pecador a Cristo (Gl 3:24). A lei pode trazer o pecador a Cristo, mas não pode fazer o pecador semelhante a Cristo. Somente a graça pode fazer isso.

e) Ele estava enganado acerca da verdadeira riqueza (Lc 18:22). Depois de perturbar a complacência do homem com a constatação de que uma coisa lhe faltava, Jesus o desafia com uma série de cinco imperativos: "Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e vem, e segue-me". Esses cinco imperativos são apenas uma ordem que exige uma só reação. Ele deve renunciar aquilo que se constitui no objeto de sua afeição antes de poder viver debaixo do senhorio de Deus.

O jovem rico perdeu a riqueza eterna, por causa da riqueza temporal. Ele preferiu ir para o inferno a abrir mão do seu dinheiro. Mas que insensatez, ele não pode levar um centavo para o inferno. Ele rejeitou a Cristo e a vida eterna. Agarrou-se ao seu dinheiro e com ele pereceu. Saiu triste e pior, por ter rejeitado a verdadeira riqueza, aquela que não perece. O homem rico se tornou o mais pobre entre os pobres.

II. O DINHEIRO, BENS E POSSES NAS PERSPECTIVAS SECULAR E CRISTÃ

1. Perspectiva secular. Na perspectiva secular, o dinheiro tem sido apresentado como a principal fonte de felicidade. Nós vivemos num mundo materialista e consumista. As pessoas valem quanto têm. Presenciamos uma brutal inversão de valores. As coisas externas estão se tornando mais importantes que os valores internos. Neste mundo, embriagado pela avareza, a riqueza material vale mais que a honra. O dinheiro passou a ser mais importante que o caráter. O brilho do ouro tem entenebrecido a mente de muitas pessoas e corrompido suas almas. O dinheiro é a mola que gira o mundo.

Por que as pessoas amam tanto o dinheiro? Há duas razões: Primeiro, elas pensam que se tiverem dinheiro poderão comprar muitas coisas e exercer influência sobre outras pessoas. Mas será que a posse de bens materiais e a influência sobre outras pessoas nos garantirão felicidade? Segundo, elas pensam que se tiverem dinheiro, posses, se sentirão seguras. Muitas pessoas pensam: Ah! Se eu morasse naquele bairro, em um apartamento duplex; se eu trabalhasse na empresa que gosto, e tivesse o carro dos sonhos, eu seria feliz! Pensam que a felicidade está nas coisas. Pensam que a felicidade está no ter. Assim, só se preocupam com o que é terreno e correm atrás de ilusões. Se essa teoria fosse verdadeira, os ricos seriam felizes e os pobres infelizes. No entanto, a experiência prova o contrário. A riqueza tem sido fonte de angústias. Os ricos vivem tensionados pelo desejo insaciável de ganhar sempre mais e com o pavor de perder o que acumularam. Muitas pessoas que ceifam a própria vida são abastadas financeiramente.

O que a Palavra de Deus tem a dizer? O apóstolo Paulo diz que a piedade com o contentamento e não o dinheiro é grande "[...] fonte de lucro" (1Tm 6:5). O dinheiro não produz contentamento. O contentamento significa uma suficiência interior que nos mantém em paz apesar das circunstâncias exteriores. Disse Paulo: "[...] porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação" (Fp 4:11).

Nós não nascemos apenas para esta vida. Somos destinados à eternidade. A morte não é o fim da linha. O dinheiro, porém, tem vida curta. Ele não dura para sempre. Está fadado a se extinguir. O dinheiro não pode cruzar conosco a fronteira do túmulo. Ele não irá conosco para a eternidade - "Porque nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele" (1Tm 6:7).

Nenhuma das coisas que as pessoas cobiçam tem qualquer permanência. Quando uma pessoa morre, ela deixa tudo. O seu dinheiro não pode ser levado para o outro mundo. Não tem carro de mudança-transportando valores num enterro, nem gavetas em caixões, nem bolsos em mortalhas. Entre o nascimento e o falecimento, podemos juntar muito ou pouco, mas na hora final teremos de deixar tudo. Quando o primeiro bilionário do mundo, John Rockfeller, morreu, alguém perguntou ao seu contador: "Quanto o dr. John Rockeffeler deixou?" Ele respondeu: "Ele deixou tudo, não levou um centavo".

Portanto, quando falamos de perspectiva secular, nos referimos a maneira individualista, egoísta e mesquinha de lidar com o dinheiro. A iniciativa de acumular bens para si é diametralmente oposta a do Evangelho, que ordena compartilharmos o que se tem. Uma parábola de Jesus que sugere isso é a do "Rico Insensato", uma pessoa obstinada a somente acumular bens nesse mundo e não atentar seriamente para o que importa. Qual é a importância dos tesouros que você busca acumular aqui em relação à vida porvir?

2. Perspectiva cristã. A perspectiva cristã não incentiva a busca pela riqueza material, pelo contrário, desestimula (cf. Lc 12:33; Lc 16:25; Lc 18:22-24; 1Tm 6:8,17; Tg 5:1-3). As coisas espirituais, por serem de natureza eterna, ganham primazia sobre as materiais, que são apenas temporais.

Na perspectiva cristã, o dinheiro, como valor material, não é visto como senhor, mas apenas como um servo. Desta feita, não deixe o dinheiro dominá-lo, domine-o. Não deixe o dinheiro ser seu patrão, faça dele um servo. O problema não é possuir dinheiro, mas ser possuído por ele. O problema não é ter dinheiro, mas o dinheiro nos ter. O problema não é carregar dinheiro no bolso, mas carregá-lo no coração.

Na perspectiva cristã coloca-se os bens a serviço dos outros, como fez Barnabé (At 4:36,37). Qual foi a última vez que você fez algo que trouxe glória ao nome de Deus e alegria para as pessoas? Qual foi a última vez que fez uma oferta generosa para ajudar uma pessoa necessitada? Qual foi a última vez que enviou uma oferta para um missionário? Qual foi a última vez que entregou uma oferta de gratidão a Deus? Qual foi a última vez que repartiu um pouco do muito que Deus lhe tem dado? O apóstolo Paulo dá o belo exemplo da pobre igreja da Macedônia que se doou e ofertou generosamente aos pobres da Judéia, pessoas que a Igreja não conhecia pessoalmente (2Co 8:1-4).

III. DINHEIRO, BENS E POSSES NOS ENSINOS DE JESUS

1. Jesus alertou sobre os perigos da riqueza (Lc 18:24-25; Mc 10.23-25). Jesus não condena a riqueza, mas a confiança nela. Os que confiam na riqueza não podem confiar em Deus. A raiz de todos os males não é o dinheiro, mas o amor a ele (1Tm 6.10). Há pessoas ricas e piedosas. O dinheiro é um bom servo, mas um péssimo patrão. A questão não é possuir dinheiro, mas ser possuído por ele.

Jesus ilustrou a impossibilidade da salvação daquele que confia no dinheiro: "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus'' (Lc 18:25). O camelo era o maior animal da Palestina e o fundo de uma agulha o menor orifício conhecido na época. Alguns intérpretes tentam explicar que esse fundo da agulha era uma porta da muralha de Jerusalém onde um camelo só podia passar ajoelhado e sem carga. Contudo, isso altera o centro do ensino de Jesus: a impossibilidade definitiva de salvação para aquele que confia no dinheiro.

2. Jesus ensinou a confiança em Deus. A confiança em Deus é a disposição espiritual pelo qual o crente entrega-se, sem reservas, aos cuidados de Deus. Confiar em Deus é estar convicto de que Ele está no comando de todas as coisas. Vós, os que temeis ao Senhor, confiai no Senhor; ele é seu auxílio e seu escudo” (Sl 115:11). “Aqueles que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não se abala, mas permanece para sempre”(Sl 125:1).

Se você quer entender melhor o que é confiar, imagine-se fazendo o seguinte: escolha uma pessoa que você conhece bem e em que você confia; imagine que esta pessoa está parada atrás de você; você fecha os olhos, relaxa o corpo e se deixa cair livremente para trás; se você acreditar que esta pessoa não vai deixá-lo cair de jeito nenhum, então você confia nesta pessoa. Basicamente, confiar significa entregar-se completamente nas mãos de outra pessoa, acreditando que ela vai fazer o que prometeu. Confiar em Deus é viver convictos de que tudo está em suas mãos.

Podemos confiar em Deus até nas coisas mais sofridas. Como no caso de Abraão, que nem sempre, ou quase nunca, sabia porque Deus fazia as coisas, mas confiava que Deus sabia o que fazia e iria fazer tudo bem feito. Assim também nós podemos acreditar que os planos de Deus a nosso respeito são sempre os melhores. Muito melhores do que nós poderíamos querer ou imaginar. Mesmo que muitas vezes não sabemos porque Deus nos deixa doentes, ou sem dinheiro, ou com outro problema qualquer, devemos saber que Deus faz tudo para o nosso bem. Ele assim prometeu: "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8:28).

A confiança no Senhor não serve como desculpa para a preguiça. A fé conduz à ação e não à inércia. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance e depois descansar em Deus, confiando que ele cuidará daquilo que nós não podemos fazer.

A confiança em Deus não elimina a oração. Pelo contrário, é por confiarmos no Senhor que levamos a Ele os nossos pedidos – “Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças”(Fp 4:6). A criança confia no pai e por isso descansa, não se preocupando com o alimento do dia seguinte. Quando entramos em um ônibus e dormimos, estamos confiando nossas vidas aos cuidados do motorista. Confiemos em Deus, entregando-lhe a direção da nossa existência.

IV. DINHEIRO, BENS E POSSES NA MORDOMIA CRISTÃ

Desde que o homem pecou, houve uma desorganização de valores na sua vida. Em consequência disto, a posse de bens passou a ser um alvo na existência do homem sem Deus e sem esperança. Isto só tem se aguçado na história da humanidade e, como nunca, vivemos num mundo onde o ter sobrepuja o ser.

Pela Bíblia sabemos que não é pecado ser rico e não é uma virtude ser pobre. Ninguém irá para o céu por ser pobre; ninguém irá para o inferno por ser rico. O Senhor Jesus morreu tanto pelo pobre como pelo rico. Não é a riqueza nem a pobreza que irá definir onde o homem irá estar na eternidade, mas o aceitar ou o rejeitar o Senhor Jesus como Salvador.

O Mordomo Fiel, rico ou pobre, no exercício da Mordomia Cristã, faz do dinheiro que possui uma bênção para a obra de Deus, para si mesmo, para sua família, bem como para a comunidade que o cerca.

Assim, ao mesmo tempo em que a Palavra de Deus garante a cada ser humano a possibilidade de sujeitar bens de acordo com a sua vontade e de deles usufruir para a satisfação de suas necessidades, também estabelece que o objetivo do homem e da mulher não deve ser o acúmulo de riquezas para si ou a sua exaltação por causa dos bens que tenha a seu dispor, mas que tudo isto seja um instrumento para que a glória de Deus se manifeste na administração destes bens que lhe forem confiados por Deus, o único e verdadeiro dono de todas as coisas.

1. Avaliando a intenção do coração. A maneira que lidamos com o dinheiro reflete quem somos internamente. Nós pertencemos a Deus? Nós confiamos em Deus? O nosso tesouro está em Deus ou no dinheiro? Você tem sentido alegria ao doar? Tem pedido a Deus para multiplicar sua sementeira para poder ajudar ainda mais pessoas?

Mas é bom enfatizar que não basta apenas dar sua oferta ao necessitado, ou sua oferta ou dízimo na igreja, mas a atitude com que se faz essas coisas. A questão não é apenas doar, mas doar-se. Como bem disse o pr. José Gonçalves, “o ensino de Jesus sobre o uso das riquezas vai muito além da simples doação de bens e ações filantrópica. Ele não se limitava a avaliar apenas as ações exteriores, mas, sobretudo, voltava-se para as atitudes interiores. Dessa forma, Jesus valorizou as atitudes da mulher pecadora na casa de Simão, o leproso, e de Maria de Betânia, irmã de Marta e de Lázaro (Lc 7:36-50). Não era, portanto, apenas se desfazer dos bens, mas a atitude e intenção com que isso era feito (Lc 11:41; 21:1-4)”.

2. Entesourando no céu. A falsa prosperidade leva o homem a correr desenfreadamente para acumular riquezas, alcançar elevadas posições na sociedade e obter notoriedade e fama. Muitos, quando não estão entregues aos prazeres, quase sempre estão mergulhados no trabalho, empenhando-se para alcançar o sucesso. Salomão, também, agiu dessa maneira. Ele dedicou-se a construir mansões, palácios, pomares, açudes... e até mesmo um luxuoso Templo dedicado ao Senhor, mas seu coração continuou vazio. Ele achou que o acúmulo de riquezas lhe traria felicidade, entesourando prata, ouro, objetos de arte, imóveis e tudo mais que o dinheiro e o poder podem comprar, mas sua alma continuou insatisfeita. Depois de muito trabalhar, chegou à conclusão de que todo aquele empreendedorismo e acúmulo de riquezas eram destituídos de sentido e de valor permanente. Disse ele: “E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e que proveito nenhum havia debaixo do sol” (Ec 2:11).

Portanto, entesoure riquezas para a vida eterna. O que você semeia é o que colhe. Exorta assim o apóstolo Paulo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna” (1Tm 6:17-19).

CONCLUSÃO

O dinheiro não é um mal em si. A riqueza é uma bênção de Deus, tanto que Deus a concedeu a Salomão (1Rs 3:13), mas, e aqui está um caso típico, não podemos pôr nas riquezas o nosso coração (Mt 6:19-21). Devemos, sempre, buscar servir a Deus e lhe agradar. Esta deve ser a intenção do cristão. Se Deus nos conceder a riqueza, que nós a usemos para agradar a Deus. Se nos der a pobreza, que nós a usemos para agradar a Deus. O importante é que não façamos dos bens materiais, do dinheiro, o objetivo e a intenção de nossas vidas. Quem passa a pôr o seu coração nos tesouros desta vida, passa a ser um avarento, um ganancioso e, como tal, será um idólatra (Cl 3:5) e, assim, estará fora do reino dos céus (Ap 22:15). Aprendamos, pois, com Jesus o uso correto do dinheiro e como ser bons mordomos dos bens que nos foram confiados.

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 62. CPAD.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD

Comentário Lucas – à Luz do Novo Testamento Grego. A.T. ROBERTSON. CPAD

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

John Vernon McGee. Através da Bíblia – Lucas. RTM.

Leon L. Morris. Lucas (Introdução e Comentário). VIDA NOVA.

MARCOS – O Evangelho dos Milagres. Hernandes Dias Lopes.

HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. CPAD.

Dinheiro, a prosperidade que vem de Deus. Rev. Hernandes Dias Lopes.

domingo, 24 de maio de 2015

Aula 09 – AS LIMITAÇÕES DOS DISCÍPULOS


2º Trimestre/2015

Texto Base: Lucas 9:38-42,46-50

 
“E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam” (Lc 9:40).

 

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos das limitações que os discípulos de Jesus apresentavam. Conquanto privilegiados eram em ter o maior Mestre da história da humanidade ao lado deles de forma tão intima e imediata, eles não eram perfeitos. Percebemos isso quando lemos as quatro narrativas do Evangelho de Jesus Cristo, o qual mostra que eles eram homens rodeados de imperfeições e limitações. Aprenderam, sim, com o Mestre dos mestres e nunca mais foram as mesmas pessoas, mas não deixaram de ser humanos com todas as suas limitações.

Às vezes se imagina que a fé cristã para ser genuinamente bíblica deve anular todas as fragilidades humanas, eliminar todos as suas limitações. Mas não é assim que a coisa acontece, nem tampouco é isso o que ensinam as Escrituras Sagradas. É verdade que Deus trabalha com homens, porém, homens imperfeitos, limitados e que constantemente estão dependendo dEle. Em nossa caminhada espiritual não dá para fingirmos superioridades espirituais ou coisas semelhantes. Somos humanos, isto é, somos limitados em nossas ações. Por isso, a partir da realidade da vida de alguns discípulos e da maneira como Jesus tratou com eles, algumas lições podem ser aprendidas por nós.

I. LIDANDO COM A DÚVIDA

1. A oração e a fé. No dia seguinte (Lc 9:37) à experiência gloriosa do cume do monte da transfiguração, Jesus se deparou com uma situação característica daqueles que querem fazer a obra de Deus de qualquer maneira: improficuidade. Lucas 9:37-43 mostra a incapacidade angustiante dos discípulos de tratar de um caso de possessão demoníaca. O contraste é marcante. De um lado, temos aqueles que se regozijavam na luz de Deus no cume da montanha, e, do outro lado, aqueles que estavam sendo derrotados pelos poderes das trevas na planície. Aqueles discípulos que há pouco tempo tinham recebido poder sobre os demônios (Lc 9:1), agora estão derrotados diante deles (Lc 9:40). Será que houve algum fracasso na vida espiritual deles?

O certo é que agora os discípulos de Jesus estavam no vale cara a cara com o diabo, sem capacidade espiritual, colhendo um grande fracasso. Diante da incapacidade espiritual dos discípulos, o pai do menino possesso, clamou a Jesus em alta voz, explicando sua necessidade. Aquele menino, filho único, de tempos em tempos era possesso por um demônio. E agora o pai completa o seu sofrimento dizendo que rogara aos discípulos que lidassem com o demônio, mas que, infelizmente, eles não puderam. Há algumas lições importantes que podemos extrair desse episódio: (1)

a) no vale há gente sofrendo o cativeiro do diabo sem encontrar na igreja solução para o seu problema (Lc 9:39).

Aqui está um pai desesperado (Mt 17:15,16). O diabo invadiu a sua casa e está arrebentando com a sua família. Está destruindo seu único filho. Aquele jovem estava possuído por uma casta de demônios, que tornavam a sua vida um verdadeiro inferno. No auge do seu desespero o pai do jovem correu para os discípulos de Jesus em busca de ajuda, mas eles estavam sem poder.

A Igreja tem oferecido resposta para uma sociedade desesperançada e aflita? Temos confrontado o poder do mal?  A Igreja hoje está cheia de conhecimento, mas conhecimento apenas não basta, é preciso revestimento de poder. O reino de Deus não consiste de palavras, mas de poder.

b) no vale há gente desesperada precisando de ajuda, mas os discípulos estão perdendo tempo, envolvidos numa discussão infrutífera (Mc 9:14-18).

Os discípulos estavam envolvidos numa interminável discussão com os escribas, enquanto o diabo estava agindo livremente sem ser confrontado. Eles estavam perdendo tempo com os inimigos da obra de Deus em vez de fazer a obra.

A discussão, muitas vezes é saudável e necessária. Contudo, passar o tempo todo discutindo é uma estratégia do diabo para nos manter fora da linha de combate. Há crentes que passam a vida inteira participando de retiros e congressos, mas nunca entram em campo para agir. Sabem muito e fazem pouco. Discutem muito e trabalham pouco.

Os discípulos estavam discutindo com os opositores da obra de Deus (Mc 9:14). Discussão sem ação é paralisia espiritual. O inferno vibra quando a igreja se fecha dentro de quatro paredes, em torno dos seus empolgantes assuntos. O mundo perece enquanto a igreja está discutindo. Há muita discussão, mas pouco poder. Há multidões sedentas, mas pouca ação da igreja.

c) no vale os discípulos estão sem poder para confrontar os poderes das trevas (Lc 9:40; Mc 9:18; Mt 17:16). Por que os discípulos estão sem poder?

- Os discípulos não oraram (Mc 9:28,29). Não há poder espiritual sem oração. O poder não vem de dentro, mas do alto. Pouca oração, pouco poder. Nenhuma oração, nenhum poder.

- Os discípulos não jejuaram (Mc 9:28,29). O jejum nos esvazia de nós mesmos e nos reveste com o poder do alto. Quando jejuamos, estamos dizendo que dependemos totalmente dos recursos de Deus.

- Os discípulos tinham uma fé tímida (Mt 17:19,20). A fé não olha para a adversidade, mas para as infinitas possibilidades de Deus. Jesus disse para o pai do jovem: "Se tu podes crer; Tudo é possível ao que crê" (Mc 9:23). O poder de Jesus opera, muitas vezes, mediante a nossa fé.

2. A Palavra de Deus e a fé. “Se a falta de oração traz incredulidade, por outro lado, a falta de conhecimento da Palavra de Deus produz efeito semelhante. É isso o que mostra a história dos discípulos de Emaús” (Lc 24:13-35). Um desses discípulos chamava-se Cléopas, mas o outro ninguém sabe o seu nome. O Senhor Jesus, no mesmo dia que ressuscitou apareceu a esses dois discípulos quando se dirigiam para a aldeia de Emaús. Depois de dialogar com eles, Jesus percebeu o quanto eram incrédulos. Jesus passa a indicar que a raiz do problema é que eles não tinham absorvido aquilo que se ensina nas profecias bíblicas. Os profetas tinham falado com clareza suficiente, mas as mentes de Cléopas e do seu companheiro não tinham sido suficientemente alertas para captar aquilo que queriam dizer. Jesus reprovou a incredulidade dos dois discípulos e os chamou de néscios, isto é, desprovidos de conhecimento ou discernimento (Lc 24:25).

Jesus, então, dá a aqueles dois discípulos um estudo bíblico sistemático. Moisés e todos os profetas formaram o ponto de partida, mas Ele também passou para as coisas que se referiam a Ele em todas as Escrituras. Lucas não dá indicação alguma de quais passagens o Senhor escolheu, mas torna claro que a totalidade do Antigo Testamento era envolvida. Aqueles dois discípulos tinham ideias erradas daquilo que o Antigo Testamento ensinava, e, portanto, tinham ideias erradas acerca da cruz.

As ideias erradas daquilo que o Antigo Testamento ensinava, também, estavam impregnadas na mente dos onze apóstolos. A dúvida é um mal terrível que impregna a mente das pessoas, causando-lhes incredulidade, quando lhes falta o conhecimento da Palavra de Deus. Os apóstolos fugiram quando Jesus foi preso no Getsêmani (Mc 14:50); estiveram ausentes no Calvário (exceto João); não compareceram diante de Pilatos para reivindicar o seu corpo para o sepultamento; estiveram ausentes no seu sepultamento; não acreditaram na mensagem da sua ressurreição (Mc 16:11-14). Marcos nos informa que eles não deram credito ao testemunho de Maria Madalena (Mc 16:9-11) e não creram no testemunho dos dois discípulos que estavam de caminho para o campo (Mc 16:12,13). Jesus, então, aparece a eles quando estavam à mesa e censura-lhes a incredulidade e dureza de coração (Mc 16:14).

Muitos hoje estão como esses discípulos, não acreditam na ressurreição; não acreditam que Jesus virá outra vez; muitos, não acreditam mais em Deus, não acreditam que as Escrituras é a Palavra de Deus. Infelizmente, muitos têm se apostatado da fé. Isso é lamentável!

II. LIDANDO COM A PRIMAZIA E O EXCLUSIVISMO


1. Evitando a Primazia. Certa feita, enquanto Jesus se preparava para enfrentar o calvário, os discípulos estavam preocupados em saber quem era o maior (Lc 9:46-48). Isso revelava a ideia errada que eles tinham de Jesus. Para eles Jesus era um Messias-Rei dominador, um libertador de Israel, e eles, de algum modo, iriam participar de um poder dominante. E, na luta pelo poder, veio a competição pela supremacia. Quem manda mais? Certamente os discípulos foram tentados pelo orgulho espiritual. Certamente eles foram tentados a usufruir o poder que Jesus tinha lhes dado. Diante disso, Jesus entendeu que eles precisavam de um tratamento de choque.

Jesus lhes apresentou uma parábola viva. E usou para essa lição um elemento inesperado para eles. Jesus tomou uma criança e, certamente, a colocou no colo e lhes ensinou: “Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me recebe não recebe a mim, mas ao que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo é grande” (Lc 9:48). A criança, além de ser o símbolo da despretensão, da fraqueza e da dependência, era o símbolo da pureza de fé, da humildade e principalmente da falta de hipocrisia, isto é, da sinceridade e da transparência. Naqueles dias, a criança não tinha qualquer valor na sociedade, assim como os escravos. E a lição ensinada acabava com qualquer pretensão: o menor é o maior. Quem acolhe os pequenos, humildes e sinceros acolhe Jesus e a Deus Pai que o enviou!

A ambição humana não vê outro sinal de grandeza senão coroas, status, riquezas e elevada posição na sociedade. Porém, o Filho de Deus declara que o caminho para a grandeza e o reconhecimento divino é devotar-se ao cuidado dos mais tenros e fracos da família de Deus.

2. Evitando o exclusivismo. Novamente Jesus corrige os seus discípulos, agora acerca da intolerância e do exclusivismo estreito (Lc 9:49,50; Mc 9:38-41). João proíbe um homem que expulsava demônios em nome de Cristo, pelo simples fato de não fazer parte do grupo apostólico, de não estar lutando alinhado com eles. Na teologia de João, somente o grupo deles estava com a verdade; os outros eram excluídos e desprezados. João pensava que apenas os discípulos tinham o monopólio do poder de Jesus. O homem estava fazendo uma coisa boa, expulsando demônios; da maneira certa, em nome de Jesus; com resultado positivo, socorrendo uma pessoa necessitada. Contudo, mesmo assim, João o proíbe.

De igual modo, hoje, muitos segmentos religiosos tem a pretensão de serem os únicos que servem a Deus. Pensam e chegam ao disparate de pregarem com altivez como se fossem os únicos seguidores fiéis de Jesus e batem no peito com arrogância, como se fossem os únicos salvos. Muitos, tolamente, creem que Deus é um patrimônio exclusivo da sua denominação. Agem com soberba e desprezam todos quantos não aderem à sua corrente sectária. Muitos chegam até mesmo a perseguir uns aos outros, e se engalfinham em vergonhosas brigas e contendas, como acontecia na igreja em Corintos (1Co 6:7). Esse espírito intolerante e exclusivista está em desacordo com o ensino de Jesus, o Senhor da Igreja. Na verdade, muitas pessoas que não faziam parte dos doze demonstraram, algumas vezes, uma fé mais robusta em Jesus do que eles (cf. Mc 7:28,29; 15:42-46; Mt 8:10).

Jesus, então, repreende os discípulos e acentua que quem não é contra Ele, é por Ele (Lc 9:50). A lição que Jesus ensina é clara: não podemos ter a pretensão de julgar os outros nem de considerar-nos os únicos seguidores de Cristo, pelo fato de essas pessoas não estarem em nossa companhia, em nossa denominação.

Obviamente, Jesus não está dizendo que os hereges, os heterodoxos e aqueles que acrescentam ou retiram parte das Escrituras devam ser considerados os seus legítimos seguidores. Jesus não está ensinando aqui o inclusivismo religioso nem dando um voto de aprovação a todas as religiões. Jesus não comunga com o erro doutrinário; antes, o reprovou severamente. Jesus não aprova o universalismo nem o ecumenismo. Não há unidade espiritual fora da verdade. Contudo, Jesus não aceita a intolerância religiosa. Não podemos proibir nem rejeitar os outros pelo simples fato de eles não pertencerem ao nosso grupo.

Certa vez, no Antigo Testamento, Josué pediu a Moisés para proibir Eldade e Medade que estavam profetizando no campo. Ele exclama: “Moisés, meu senhor, proíbe-lhos”. Mas Moisés lhe responde: ”Tens tu ciúmes por mim? Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito” (Nm 11:26-29). Moisés ensina aqui que devemos evitar o exclusivismo.

III. LIDANDO COM A AVAREZA (Lc 12:13-21).

Segundo o dicionário Aurélio, avareza é o “excessivo e sórdido apego ao dinheiro; esganação”. A avareza é um pecado perigoso, pois facilmente conduz a outros pecados, como a mentira e a desonestidade. Jesus disse: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12:15). O valor de uma pessoa não consiste no valor de seus bens. Esse ensinamento pode ser ridicularizado por alguns que amam o dinheiro. E infelizmente essa foi a reação de alguns líderes religiosos diante das Palavras de Jesus (Lc 16:14). Curiosamente, hoje, os “pregadores da riqueza” fazem o mesmo. Igualmente zombam dos verdadeiros servos de Deus, que combatem a exagerada “teologia da prosperidade” e pregam a verdade revelada na Palavra de Deus.

Certa feita, Jesus ainda estava no meio da multidão, ensinando o povo a ter cuidado com os religiosos, quando alguém levantou uma questão: alguém pediu que Jesus fosse o juiz num caso de divisão de herança - “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança” (Lc 12:13). Essa solicitação estava na contramão dos ensinos de Cristo e por isso recebeu a censura dEle: “Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?” (Lc 12:14). Enquanto Jesus ensinava a se evitar uma atitude legalista e materialista, esse homem age de forma diametralmente oposta àquilo que fora ensinado. Ele estava preocupado com a herança.  Segundo a Bíblia de Estudo Nova Versão Internacional, esse pedido feito a Jesus não era algo estranho:

A lei, em Dt 21:17 promulgou a regra genérica de que um filho mais velho receberia o dobro da porção de um filho mais jovem. As disputas sobre tais questões eram em geral dirimidas pelos rabinos. Esse pedido que o homem fez a Jesus era egoísta e materialista…Jesus então lhe responde com uma Parábola a respeito das consequências da ganância”.

Como bem sabemos, a divisão de uma herança é sempre um problema, pois nesse momento aparecem a usura e a avareza. Com certeza, muita gente pensa: “Ah! Tudo estaria resolvido se aparecesse agora alguma herança”. Será que esse não é o desejo de alguns de nós nesse momento? Mas aí é que está o engano. É um erro pensar assim, pois a partir desse momento é que começam os conflitos e as dificuldades entre os herdeiros. Jesus foi muito claro quando disse: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12:15).

Jesus, então, contou a seguinte parábola: “a herdade de um homem rico tinha produzido com abundância. E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi à minha alma: alma, tens em depósito muitos bens, para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será? ” (Lc 12:16-20).

Irmãos, a vida não nos pertence! Os bens não nos pertencem! Nem a vida nem os bens são nossas propriedades; são apenas um empréstimo! Desta feita, de que adiantam os bens acumulados? As riquezas não podem atender as maiores necessidades da vida e nem mesmo nos libertar da ansiedade. Elas não são garantia de vida, porque a vida é um presente de Deus, do qual temos que prestar conta a qualquer momento.

Observe que Jesus chama o homem da parábola de louco. Ele foi chamado de louco não porque estivesse cometendo algum crime, escândalo, roubo ou adultério, mas porque era avarento, voltado somente para sua riqueza. Ele pensava que a alma se alimenta de cereal. Ele foi considerado um pecador tão perigoso quanto aquele que mata, rouba e adultera. Em outras palavras, esse homem era materialista ou ateu, como tantos que existem hoje em nossa sociedade, vivendo como se Deus não existisse.

Portanto, devemos entender que o dinheiro ou os bens não oferecem qualquer segurança, porque de um momento para o outro seu possuidor pode ser surpreendido com o chamado de Deus. Onde você tem depositado sua confiança? Nas suas posses? Nos seus bens? Desejo que sua segurança esteja totalmente depositada em Jesus Cristo!

Ao aceitarmos Jesus, podemos não nos tornar milionários, mas aqueles que aceitam tomar a cruz e segui-lo, certamente encontrarão a verdadeira riqueza, a riqueza espiritual, as quais Deus nos dará na eternidade: “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam” (1Co 2.9).

IV. LIDANDO COM O RESSENTIMETNO (Lc 17:3,4)

“Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe; e, se pecar contra ti sete vezes no dia e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me, perdoa-lhe”.

1. A necessidade de perdão. Na vida cristã não há somente o perigo de ofender outros. Há também o perigo de nutrir rancores, de se recusar a perdoar quando alguém que nos ofendeu pede perdão. É isso que o Senhor trata aqui em Lucas 17:3,4.

O perdão é uma necessidade vital para nossa alma, para nosso bem-estar. Mas o perdão não é fácil. É fácil pregar um sermão sobre o perdão até se deparar com alguém para perdoar. Mas Jesus Cristo nos informa e nos ensina que se eu não perdoar não posso orar; se eu não perdoar não posso adorar; se eu não perdoar não posso ofertar; se eu não posso perdoar eu não posso ser perdoado; se eu não perdoar, eu adoeço fisicamente, emocionalmente, espiritualmente; se eu não perdoar a minha alma, a minha vida será entregue aos verdugos da consciência e eu ficarei cativo e prisioneiro sem paz.

O perdão é uma terapia para a alma, um tônico para o coração, uma condição indispensável para a saúde emocional e física. Muitas enfermidades deixariam de existir se aprendêssemos a terapia do perdão. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. O perdão é o remédio necessário que tonifica o coração para caminharmos pela vida sem amargura. Sem perdão a vida torna-se um fardo insuportável e a alma fica prisioneira do ódio e da vingança. Sem perdão somos destruídos pelos nossos sentimentos.

Aliás, o perdão não é simplesmente uma questão de ação, mas de reação. Jesus ilustra isso no sermão do monte (Mt 5:39-41). Ele diz que quando uma pessoa nos ferir a face direita, devemos voltar-lhe a outra face. Quando a pessoa nos forçar a andar uma milha, devemos ir com ela duas milhas. Quando uma pessoa procurar nos tirar a capa, devemos dar-lhe também a túnica. O que, na verdade, Jesus estava ensinando? Ele não estava falando de ação, mas de reação.

O que representa essas três figuras alistadas por Jesus?  Primeiro, quando uma pessoa nos fere no rosto, ela agride a nossa honra. Segundo, quando uma pessoa nos força a fazer o que não desejamos, ela agride a nossa vontade. Terceiro, quando uma pessoa nos toma as vestes pessoais, ela agride o nosso bem mais íntimo e sagrado. Jesus, então, realça que mesmo que os pontos mais vitais da vida sejam atingidos - como a honra, a vontade e os bens inalienáveis -, devemos reagir transcendentalmente, ou seja, com perdão.

O perdão é a transcendência do amor, é vencer o mal com o bem. Perdoar é tratar o outro não como ele merece, mas segundo a misericórdia exige. O perdão não é a execução da justiça, mas o braço estendido da misericórdia. Perdoar é abrir mão dos seus direitos. Perdoar é colocar o outro na frente do eu. Perdoar é não se ressentir do mal, mas vencer o mal com o bem, abençoando o próprio malfeitor.

2. Perdão, uma vida de mão dupla. “... Perdoai e sereis perdoados” (Lc 6:37). Aqui, Jesus mostra que o perdão é uma via de mão dupla.

Você já percebeu que na palavra perdoar tem a palavra doar? Quem perdoa está doando alguma coisa. De certa forma misteriosa, o perdão de Deus depende de nosso perdão. O que Jesus ensinou na oração do Pai Nosso? Duas vezes ele fala sobre o perdão. Em Mateus 6:12 Ele diz assim: “perdoa as nossas dividas, assim como nós perdoamos”. Depois no versículo 15 ele diz: “se, porém, não perdoardes aos homens vosso pai celestial também não vos perdoará”. Portanto, se eu não perdoar, eu também não recebo perdão de Deus. É uma via de não dupla.

Quer consubstanciar este texto? Então leia Mateus 18:23-35, que fala sobre “a parábola do credor incompassivo”. Sabe qual é a conclusão desta parábola? Se vós não perdoardes as ofensas dos vossos irmãos, vosso pai celestial também não vos perdoará - “Assim vos fará também meu pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas” (Mt 18:35). Então, de certa forma o perdão de Deus depende do nosso perdão. Se você quer perdão de Deus, aprenda a liberar perdão para aquele que tem apedrejado você.

Quanto eu perdoo eu me pareço com Deus. Em Mateus capitulo 5, a partir do versículo 44, você vai entender. Jesus disse: “eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do pai que está nos céus...”. Aqui eu tenho a real compreensão que quando eu perdoo eu me pareço com Deus. Todo filho recebe uma herança genética do pai. Você não se parece com Deus quando você ora. Mas, quando você perdoa você se parece com Deus. Portanto, para que você seja filho do vosso Pai que está no Céu, tem que saber perdoar.

CONCLUSÃO

“Ao estudarmos as limitações dos discípulos, alguns fatos ficam em evidência. Observamos que a incapacidade para enfrentar Satanás em Lucas 9:40 é justificada em Mateus 17:20 pela falta de fé; a incredulidade dos discípulos no caminho de Emaús (Lc 24:13-35) é justificada pela falta de conhecimento das Escrituras (Lc 24:25-27); o desejo por grandeza e primazia (Lc 9:46-48) é uma consequência de terem se amoldado à cultura do mundo, e; a falta de perdão existe por não se reconhecer a natureza perdoadora do Pai celestial” (LBM. CPAD. p. 69).

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 62. CPAD.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD

Comentário Lucas – à Luz do Novo Testamento Grego. A.T. ROBERTSON. CPAD

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

John Vernon McGee. Através da Bíblia – Lucas. RTM.

Leon L. Morris. Lucas (Introdução e Comentário). VIDA NOVA.

MARCOS – O Evangelho dos Milagres. Hernandes Dias Lopes.

HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. CPAD.

(1) Hernandes Dias Lopes. MARCOS - O Evangelho dos Milagres.