domingo, 7 de janeiro de 2024

IMAGENS BÍBLICAS DA IGREJA

         1º Trimestre/2024

Subsídio para a Lição 02

Texto Base: Efésios 5:25-32; 1Pedro 2:9,10

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pd.2:9).

Efésios 5:

²⁵Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela,

²⁶para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,

²⁷para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.

²⁸Assim devem os maridos amar a sua própria mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo.

²⁹Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;

³⁰porque somos membros do seu corpo.

³¹Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne.

³²Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja. 

1Pedro 2:

⁹Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;

¹⁰vós que, em outro tempo, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.

INTRODUÇÃO

A Bíblia apresenta diversas imagens que revelam um determinado aspecto da natureza da Igreja de Cristo. São símbolos, metáforas e descrições encontradas na Bíblia que representam a Igreja, seja como Templo do Espirito Santo, o Corpo de Cristo ou a Noiva de Cristo. Essas imagens são diversas e oferecem diferentes perspectivas sobre a natureza e o papel da Igreja. Nesta lição, abordaremos as seguintes imagens: A Noiva de Cristo; a Esposa de Cristo; o Rebanho de Deus; Geração eleita; Sacerdócio real; Nação Santa e Povo adquirido; Corpo de Cristo; Santuário de Deus; Casa de Deus.

I. IMAGENS QUE DESCREVEM UM RELACIONAMENTO

1. A Noiva de Cristo

A "Noiva de Cristo" é uma das imagens mais poéticas e profundas encontradas na Bíblia para descrever a relação entre Cristo e a Igreja. Essa metáfora é mencionada em diferentes passagens bíblicas, como em Efésios 5:25-32 e Apocalipse 19:7-9, e serve para ilustrar a relação de amor, compromisso e união entre Jesus Cristo e os seus seguidores, a Igreja.

a)   Simbolismo do amor e da união. Assim como o casamento representa uma união íntima entre um marido e uma esposa, a imagem da Noiva de Cristo retrata a proximidade e o amor profundo entre Cristo e a sua Igreja. Esse relacionamento é caracterizado por um amor sacrificial, cuidadoso e redentor por parte de Cristo, que deu sua vida pela Igreja.

b)   A purificação da Igreja. A metáfora da Noiva de Cristo também aborda o tema da purificação e santificação da Igreja. Em Efésios 5, Paulo compara o amor de Cristo pela Igreja ao amor de um marido por sua esposa e enfatiza que Cristo deu a si mesmo para purificar e santificar a Igreja, tornando-a radiante, sem mancha ou ruga.

c)   A consumação da união. No livro de Apocalipse, a imagem da Noiva de Cristo é associada à consumação final da história, quando a união entre Cristo e a Igreja será plenamente realizada. O casamento simbólico entre o Cordeiro (Cristo) e a Noiva (a Igreja) representa a culminação da redenção e a entrada na eternidade, onde a Igreja desfrutará plenamente da presença e comunhão com Cristo.

d)   A responsabilidade da Igreja. A metáfora da Noiva também implica uma responsabilidade por parte da Igreja em se preparar para esse casamento espiritual. Isso envolve viver de acordo com os valores e princípios do Reino de Deus, permanecendo fiel a Cristo e se preparando espiritualmente para a sua volta.

Enfim, essa imagem da Noiva de Cristo oferece uma perspectiva profunda e rica sobre o relacionamento entre Cristo e a Igreja, destacando o amor, a intimidade, a purificação e a esperança da consumação final da história, quando a união entre Cristo e os seus seguidores será plenamente realizada. É uma metáfora que ressalta a importância da fidelidade e do compromisso da Igreja com Cristo.

2. A Esposa de Cristo

Esta imagem descreve a relação entre Cristo e a sua Igreja. É mencionada principalmente nas Epístolas do Novo Testamento, como em Efésios 5:22-33, onde Paulo faz uma comparação entre o relacionamento matrimonial humano e a relação entre Cristo e a Igreja.

a)   Cristo como o Esposo. Na analogia da Esposa de Cristo, Jesus é retratado como o Esposo. Assim como um marido ama, cuida, protege e se sacrifica por sua esposa, Cristo demonstra amor incondicional, sacrifício e cuidado pela sua Igreja. Sua entrega na cruz é um exemplo supremo desse amor sacrificial.

b)   A Igreja como a Esposa. A Igreja, composta por todos os crentes em Cristo, é representada como a Esposa. Isso destaca a relação íntima e especial entre Cristo e seus seguidores, caracterizada por amor, compromisso, fidelidade e união espiritual.

c)   Amor sacrificial e redentor. Assim como o amor de um marido pela esposa deve ser sacrificial e redentor, o amor de Cristo pela Igreja é exemplificado por seu sacrifício na cruz. Ele deu sua vida para redimir a humanidade e purificar a Igreja, permitindo que ela viva em comunhão com Deus.

d)   Unidade e intimidade espiritual. A analogia da Esposa de Cristo enfatiza a unidade e a intimidade espiritual entre Cristo e a Igreja. Isso significa que os crentes são chamados a uma relação de proximidade com Cristo, sendo transformados à sua imagem e participando da comunhão com Ele.

e)   Futuro glorioso. A metáfora da Esposa de Cristo também aponta para um futuro glorioso, quando a união entre Cristo e a Igreja será plenamente realizada na eternidade. Isso é retratado simbolicamente como as bodas do Cordeiro no livro do Apocalipse, representando a consumação final e a plenitude da comunhão entre Cristo e a sua Igreja.

Enfim, a analogia da Esposa de Cristo oferece uma visão poderosa e poética da relação de amor, cuidado, compromisso e intimidade entre Cristo e a sua Igreja. É uma metáfora que convida os crentes a viverem em resposta a esse amor, comprometendo-se com Cristo e buscando uma relação íntima e transformadora com Ele.

3. Rebanho de Deus

A analogia da Igreja como "Rebanho de Deus" é uma das imagens mais significativas encontradas na Bíblia para descrever a relação entre os crentes e Deus, especialmente em referência ao cuidado, orientação e proteção divina sobre o seu povo. Esta metáfora é usada por diversas vezes ao longo das Escrituras, especialmente nos Salmos, nos Evangelhos e nas epístolas do Novo Testamento.

a)   Liderança e cuidado divino. A analogia do Rebanho destaca a função de Deus como o Pastor, e os crentes como o rebanho. Assim como um pastor guia, protege, alimenta e cuida de suas ovelhas, Deus demonstra um cuidado amoroso e compassivo em relação ao seu povo, os guiando nos caminhos da retidão e suprindo suas necessidades espirituais.

b)   Dependência e confiança. As ovelhas são animais que dependem totalmente do pastor para orientação e proteção. Da mesma forma, a analogia do Rebanho destaca a dependência dos crentes em Deus. Isso enfatiza a importância da confiança e da submissão à vontade divina, reconhecendo que Deus é aquele que provê, protege e guia.

c)   Unidade e comunhão. O conceito de Rebanho também ressalta a importância da unidade entre os crentes. Assim como um rebanho é composto por várias ovelhas que estão juntas sob o cuidado do pastor, os crentes são chamados a viver em comunhão, apoio mútuo e solidariedade na fé.

d)   O papel do Pastor supremo, Jesus Cristo. Em várias passagens dos Evangelhos, Jesus se apresenta como o Bom Pastor (João 10:11-18), enfatizando seu amor, sacrifício e cuidado pelas suas ovelhas. Ele é aquele que conduz, protege e dá a vida pelo seu rebanho.

e)   Responsabilidades e chamado para os líderes espirituais. A metáfora do Rebanho também traz à tona a responsabilidade dos líderes na Igreja, como pastores, para cuidar do rebanho de Deus, seguindo o exemplo de Cristo como o Supremo Pastor.

Em resumo, a imagem da Igreja como o Rebanho de Deus ressalta a relação íntima entre os crentes e Deus, destacando o cuidado divino, a dependência em Deus, a unidade entre os fiéis e a liderança providencial de Cristo sobre a sua Igreja. Essa metáfora convida os crentes a confiar na orientação e no cuidado divino e a viverem em unidade sob a liderança do Bom Pastor.

II. IMAGENS QUE DESCREVEM FUNÇÃO

1. Geração eleita, Sacerdócio real, Nação santa e Povo adquirido

Essas imagens da Igreja destacam a identidade, a função e a responsabilidade dos crentes como parte do povo de Deus. Elas enfatizam a soberania de Deus na eleição, o acesso direto a Ele, a chamada para viver uma vida santa e a redenção proporcionada por Cristo, moldando a identidade e missão da comunidade cristã.

a) Geração eleita. Essa imagem é encontrada em 1Pedro 2:9, onde os crentes são chamados de "geração eleita". Todos os que estão mergulhados no “Corpo” de Cristo (1Co.12:13) são eleitos; mas, individualmente, a certeza dessa eleição depende da condição da fé pessoal e viva em Jesus Cristo, e da perseverança na união com Ele em santidade. O propósito de Deus na eleição da Igreja é que ela seja santa e irrepreensível (Ef.1:4) – “...nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele...”.

Nenhuma pessoa deve considerar-se eleita de Deus se não vive em santidade. A santificação não é a causa, mas a prova da nossa eleição. A eleição é a raiz da salvação, não seu fruto; e o cumprimento desse propósito ao crente como individuo dentro da Igreja é condicional.

Cristo nos apresentará “santos e irrepreensíveis diante dele (Ef.1:4), somente se continuarmos na fé. A Bíblia mostra isso claramente: Cristo irá “vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé e não vos moverdes da esperança do evangelho” (Cl.1:22,23).

Enganam-se aqueles que pensam que a eleição da Igreja promove e estimula uma vida relaxada. Somos eleitos para a santidade, e não para o pecado. Somos salvos do pecado, e não no pecado. Jesus se manifestou para desfazer as obras do diabo (1João 3:8). Uma pessoa que se diz segura de sua salvação e não vive em santidade está provando que não é eleita. Aqueles que não são santos não podem ter comunhão com Deus nem jamais verão a Deus (Hb.12:14). No céu, só entrarão os santos. Uma pessoa que não ama a santidade não suportará o Céu.

Somos a “Noiva” do Cordeiro que está se adornando para Ele. Não somos, portanto, eleitos para viver na lama, mas para viver como luzeiros do mundo e apresentar-nos a Jesus como a “Noiva” pura, santa e sem defeito (Ef.5:27).

“...Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef.5:25-27.

Portanto, a eleição tem como alvo nos levar a uma vida limpa, pura, santa; ninguém é eleito sem estar unido a Cristo pela fé, imbuído num processo de santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb.12:14). Pedro exorta a todos os eleitos (1Pd.1:2) da seguinte forma: “mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pd.1:15,16).

Portanto, a eleição é coletiva e abrange o ser humano como indivíduo somente à medida que este se identifica e se une ao Corpo de Cristo, a Igreja, em santidade.

b) Sacerdócio real. Essa imagem também é encontrada em 1Pedro 2:9, onde os crentes são chamados de "sacerdócio real". Isso significa que todos os crentes têm acesso direto a Deus e desempenham um papel sacerdotal, não necessitando de intermediários para se achegar a Ele. Esse conceito se baseia na ideia de que, em Cristo, todos os crentes têm acesso à presença de Deus e podem oferecer sacrifícios espirituais, louvor e serviço.

c) Nação Santa. Essa designação também é mencionada em 1Pedro 2:9, onde os crentes são chamados de "nação santa". Isso destaca a separação dos crentes para viverem uma vida dedicada a Deus e aos seus propósitos. Reflete a ideia de santidade, chamando os crentes para viverem de maneira distinta, moral e espiritualmente, separados do padrão do mundo e consagrados a Deus.

d) Povo adquirido. Essa expressão é encontrada em 1Pedro 2:9, onde os crentes são chamados de "povo adquirido". Isso enfatiza a redenção e a aquisição do povo de Deus por meio do sacrifício de Cristo. Reflete a ideia de propriedade divina, mostrando que os crentes foram comprados e pertencem a Deus, chamando-os a viverem de acordo com os seus propósitos.

2. Corpo de Cristo

A metáfora da Igreja como o "Corpo de Cristo" é uma das imagens mais poderosas e expressivas encontradas nas Escrituras para descrever a relação entre Cristo e os crentes que formam a Igreja. Essa analogia é encontrada em passagens como 1Coríntios 12:12-27 e Efésios 4:11-16.

a)   Unidade na diversidade. Assim como um corpo humano é composto por muitas partes diferentes, mas interdependentes, a metáfora do Corpo de Cristo destaca a diversidade de dons, talentos e papéis dentro da Igreja. Cada membro desempenha uma função específica e necessária para o funcionamento saudável do todo.

b)   Cristo como a Cabeça do Corpo. Assim como a cabeça controla e coordena o funcionamento do corpo humano, Cristo é retratado como a cabeça do corpo da Igreja. Ele é a fonte de autoridade, direção e unidade para os crentes, que se submetem à sua vontade e se relacionam com Ele de forma íntima.

c)   Interdependência e cooperação. A imagem do Corpo de Cristo ressalta a importância da interdependência entre os membros da Igreja. Cada parte precisa das outras para funcionar corretamente. Isso encoraja os crentes a trabalharem juntos, apoiarem-se mutuamente e valorizarem as contribuições de todos para o bem-estar coletivo da Igreja.

d)   Cuidado mútuo. Assim como no corpo humano, quando uma parte sofre, todo o corpo é afetado, a metáfora do Corpo de Cristo enfatiza o cuidado mútuo entre os crentes. Encoraja-os a se preocuparem uns com os outros, a compartilharem alegrias e dores, e a prestarem apoio e suporte em tempos de necessidade.

e)   Unidade na diversidade. Embora haja diversidade de dons, talentos e funções na Igreja, a imagem do Corpo de Cristo destaca a importância da unidade. Todos os membros são igualmente importantes e devem trabalhar em conjunto para o bem-estar e crescimento espiritual do Corpo.

Enfim, essa metáfora oferece uma visão profunda e prática da identidade e função da Igreja. Ela destaca a importância da unidade, cooperação, interdependência e submissão a Cristo como a Cabeça do Corpo, fornecendo um modelo valioso para a vida e o serviço dentro da Igreja.

III. IMAGENS QUE DESCREVEM HABITAÇÃO

1. Santuário de Deus

A imagem da Igreja como "Santuário de Deus" é uma metáfora que enfatiza a santidade, a presença e a habitação de Deus no meio do seu povo, os crentes. Essa analogia é encontrada em várias passagens das Escrituras, incluindo 1Coríntios 3:16,17 e 2Coríntios 6:16.

a)   Presença de Deus. Assim como o santuário é um local dedicado à presença e ao culto a Deus, a metáfora do Santuário de Deus destaca que os crentes são habitação do Espírito Santo e o local onde Deus escolhe residir. Isso enfatiza a intimidade da relação entre Deus e seu povo, onde Ele se relaciona pessoalmente com os crentes.

b)   Santidade e consagração. O santuário é um lugar consagrado, separado para o serviço e a adoração a Deus. Da mesma forma, a imagem do Santuário de Deus enfatiza a necessidade de os crentes viverem vidas santas, separadas do pecado e dedicadas à vontade e aos propósitos de Deus.

c)   Comunidade de adoração e serviço. Assim como o santuário é um lugar onde as pessoas se reúnem para adorar e servir a Deus, a metáfora do Santuário de Deus destaca a importância da comunidade cristã reunida para cultuar, louvar e servir a Deus em unidade e amor mútuo.

d)   Responsabilidade de zelar pelo santuário. Da mesma forma como o santuário físico requer cuidado, limpeza e proteção, a metáfora do Santuário de Deus chama os crentes a cuidarem da comunidade, evitando divisões, pecados e influências negativas que possam prejudicar a santidade e a unidade do corpo de Cristo.

e)   A presença da Glória de Deus. No contexto bíblico, o santuário muitas vezes é associado à presença da glória de Deus. Similarmente, a metáfora do Santuário de Deus enfatiza a manifestação da glória de Deus na vida dos crentes, à medida que eles vivem em obediência e comunhão com Ele.

Enfim, essa imagem da Igreja como o Santuário de Deus ressalta a importância da santidade, da presença divina, da comunidade de adoradores e do cuidado mútuo entre os crentes. Ela encoraja os cristãos a viverem como santuários vivos, honrando a presença de Deus em suas vidas e mantendo a comunhão e a adoração como parte integral de sua existência como crentes em Cristo Jesus.

2. Casa de Deus

A metáfora da Igreja como "Casa de Deus" é uma das imagens bastantes significativas encontradas nas Escrituras para descrever o povo de Deus, os seguidores de Cristo. Essa analogia é mencionada em várias passagens, como 1Timóteo 3:15 e Hebreus 3:6, destacando diferentes aspectos da identidade e função da igreja.

a)   Lar espiritual. Assim como uma casa é um lugar de habitação e pertencimento, a metáfora da Casa de Deus enfatiza que os crentes são membros de uma comunidade espiritual, um lar espiritual onde encontram identidade, acolhimento e pertencimento. Isso destaca a importância do senso de família espiritual entre os crentes.

b)   Habitação da presença de Deus. A imagem da Casa de Deus enfatiza que a Igreja é o lugar onde a presença de Deus habita. Não apenas como um local físico, mas como um povo redimido pelo qual Deus escolheu residir por meio do Espírito Santo. Isso destaca a importância da comunhão íntima com Deus na vida da Igreja.

c)   Unidade na diversidade. Assim como uma casa pode ter diferentes cômodos ou áreas, a Igreja como a Casa de Deus destaca a diversidade de dons, talentos, culturas e habilidades entre os crentes. Essa diversidade é unida pela fé em Cristo, proporcionando um lugar onde todos são igualmente valorizados e incluídos.

d)   Fundação e estrutura. Uma casa precisa de uma fundação sólida para permanecer firme. Da mesma forma, a imagem da Casa de Deus destaca a importância de Cristo como a fundação da Igreja. Ele é o alicerce sobre o qual a Igreja é construída, fornecendo estrutura e estabilidade à vida espiritual dos crentes.

e)   Responsabilidade de cuidar da casa. Assim como uma casa precisa de manutenção e cuidado, os crentes são chamados a cuidar da Casa de Deus, promovendo a unidade, cuidando uns dos outros, servindo, amando e zelando pela saúde espiritual da Igreja.

Enfim, essa imagem da Igreja como a Casa de Deus ressalta a ideia de um lar espiritual onde os crentes encontram identidade, comunhão com Deus e uns com os outros. É uma metáfora poderosa que convida os crentes a viverem em unidade, amor e responsabilidade mútua, reconhecendo que fazem parte de uma comunidade espiritual que Deus escolheu para ser Sua morada.

3. O privilégio de ser Igreja

À luz do que estudamos nesta Lição, podemos fazer algumas considerações:

-Primeira, a Igreja de Cristo é uma instituição formada por salvos que se relaciona com Deus e, por isso, eles fazem parte de seu rebanho. Ao compreender a Igreja como o Rebanho de Deus, reconhece-se a relação íntima entre os crentes e Deus. Essa analogia ressalta a importância da dependência, cuidado mútuo e submissão ao Pastor supremo, que é Cristo.

-Segunda, a Igreja de Cristo é uma instituição formada de salvos que exercem uma função sacerdotal diante de Deus perante o mundo. A compreensão da Igreja como um Sacerdócio Real enfatiza a responsabilidade dos crentes de terem acesso direto a Deus, de oferecerem adoração e intercessão, e de representarem Deus ao mundo por meio de suas vidas e serviço.

-Terceira, a Igreja é uma instituição em que Deus habita e vive. A visão da Igreja como Casa de Deus destaca a presença e a habitação do próprio Deus no meio do Seu povo. Essa imagem ressalta a importância da santidade, do cuidado e da unidade entre os crentes como um lugar onde Deus escolheu residir.

-Quarta, fazer parte da Igreja proporciona uma oportunidade de comunhão espiritual, permitindo o crescimento pessoal na fé e a conexão com outros crentes, onde se compartilham experiências, orações e ensinamentos.

-Quinta, é um privilégio fazer parte da Igreja porque quem está dentro dela é predestinado à salvação eterna com Deus (Ef.1:5). Fora da Igreja, não há salvação para o ser humano, pois Cristo virá buscar a Sua Igreja redimida, que é, metaforicamente, a Sua Noiva.

Estas e outras considerações enfatizam o privilégio de fazer parte da Igreja de Cristo. É, de fato, uma honra participar de uma instituição divina onde se experimenta a comunhão com Deus, a responsabilidade sacerdotal e a habitação divina. Essa compreensão é fundamental para motivar todos nós a vivermos em consonância com os propósitos de Deus, buscando uma vida de santidade, serviço e amor ao próximo no Corpo de Cristo.

CONCLUSÃO

As diversas imagens que descrevem a Igreja revelam a riqueza e a complexidade da identidade e função da comunidade cristã. Cada metáfora - seja a Igreja como o Corpo de Cristo, a Noiva de Cristo, a Casa de Deus, o Santuário de Deus, o Rebanho de Deus, entre outras - oferece perspectivas distintas e complementares sobre o papel e a natureza dos crentes dentro da Igreja. Em conjunto, essas imagens ressaltam a importância da unidade na diversidade, da comunhão íntima com Deus e uns com os outros, do compromisso com a santidade e a missão de Deus no mundo. Elas convidam os crentes a viverem em harmonia, cooperação e amor mútuo, refletindo a diversidade de dons, talentos e papéis, mas todos contribuindo para o bem-estar e crescimento espiritual do Corpo de Cristo.

Essas imagens não apenas ilustram a identidade da Igreja, mas também trazem consigo responsabilidades e desafios. Elas enfatizam a necessidade de cuidar uns dos outros, de viver em santidade, de ser a presença de Deus no mundo e de se engajar ativamente na missão divina.

Portanto, juntas, essas imagens da Igreja oferecem um quadro rico e inspirador do que significa ser parte da Igreja - um chamado para viver em comunhão íntima com Deus, refletir seu caráter amoroso, apoiar uns aos outros e ser agentes de transformação positiva no mundo.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Atos, A ação do Espirito Santo na vida da igreja.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Efésios, a noiva gloriosa de Cristo.

Pr. Hernandes Dias Lopes. 1Pedro – Com os pés no vale e o coração no Céu.

Pr. Elienai Cabral. A Igreja e Sua Missão. CPAD.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

A ORIGEM DA IGREJA

         1º Trimestre/2024

Subsídio para a Lição 01

Texto Base: Atos 2:1,2; 37,38

“E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At.2:38).

Atos 2:

1.Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;

2.e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.

37.Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos?

38.E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.

INTRODUÇÃO

Com esta Aula damos início ao período letivo da EBD no ano de 2024. No primeiro trimestre estudaremos a respeito da doutrina da Igreja segundo a sua origem, natureza e missão neste mundo. Nesta primeira lição, trataremos da origem da Igreja. Procuraremos responder as seguintes questões: Como o povo de Deus é formado na Bíblia? Como a Igreja foi planejada por Deus? O que a Igreja é de fato? Para Paulo, a Igreja é a “coluna e firmeza da verdade” (1Tm.3:15); para Pedro, a “geração eleita” (1Pd.2:9); para nós, o que a Igreja é? Nesta lição, mostraremos o que a Bíblia, de fato, revela sobre a Igreja de Deus. Veremos que a ekklesia, a Igreja de Deus, longe de ser meramente uma associação de pessoas, é uma instituição divina.

I. O POVO DE DEUS NA BÍBLIA E NA HISTÓRIA

1. No Antigo Testamento

O povo de Deus no Antigo Testamento é primariamente representado pelos israelitas, descendentes de Abraão, a quem Deus escolheu como um povo especial para Si mesmo (Gn.12:1-3). A aliança feita com Abraão foi reafirmada com Moisés na forma da Lei (Torá) no Monte Sinai. Os israelitas foram chamados para obedecer a Deus, viver de acordo com Sua vontade e ser um testemunho às nações ao redor, exibindo a santidade e o amor de Deus. Ao longo do Antigo Testamento, vemos como o povo de Deus enfrentou desafios, rebeliões, castigos divinos e restaurações. Os profetas também desempenharam um papel crucial ao chamarem o povo de volta à fidelidade a Deus e anunciarem a vinda do Messias.

O termo hebraico "qahal" é frequentemente usado no Antigo Testamento para se referir ao ajuntamento, à congregação ou à Assembleia do povo de Deus. Ele descreve o povo de Israel reunido em diversos contextos, sejam eles de natureza cultual, social, política ou cúltica. A palavra "qahal" é usada em várias passagens para descrever o povo escolhido por Deus como uma comunidade unida. Essa reunião poderia ocorrer para a adoração a Deus, para receber instruções religiosas, para tomar decisões importantes, como nos aspectos políticos e legais, ou simplesmente como uma multidão reunida. Em Deuteronômio 4:10, Juízes 20:2, 1Samuel 17:47, 1Reis 8:22, 1Crônicas 13:2 e Neemias 5:7, o termo "qahal" é usado para descrever o povo de Israel reunido em diferentes situações. Isso mostra a ideia de um povo que se reúne, seja para adorar a Deus, tomar decisões coletivas ou simplesmente estar juntos como uma comunidade.

Portanto, o "qahal" no Antigo Testamento refere-se à assembleia ou congregação do povo de Israel, tanto em contextos religiosos quanto em situações sociais, políticas ou comunitárias. Essa assembleia representava a união e identidade do povo de Deus no Antigo Pacto.

2. No Novo Testamento

No Novo Testamento, o povo de Deus é expandido para incluir todos os que creem em Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Jesus veio não apenas para os judeus, mas para toda a humanidade (João 3:16). A Igreja é frequentemente retratada como o novo povo de Deus, formado por judeus e gentios que se unem em Cristo (Ef.2:14-22). Jesus Cristo inaugurou uma Nova Aliança através do Seu sacrifício na cruz, abrindo o caminho para a salvação e redenção de todos que creem Nele. O Espírito Santo é derramado sobre os crentes, capacitando-os a viverem vidas transformadas e a proclamarem o Evangelho em todo o mundo.

O termo grego "ekklesia" é frequentemente traduzido como "igreja" no Novo Testamento e se refere à assembleia dos crentes em Jesus Cristo. Essa palavra tem uma conotação diferente do termo hebraico "qahal" do Antigo Testamento, especialmente em relação à sua forma e função. Enquanto o "qahal" no Antigo Testamento se referia principalmente ao ajuntamento físico do povo de Israel, o termo "ekklesia" no Novo Testamento adquire um significado mais espiritual e abrangente; ele se refere à comunidade dos crentes em Cristo, independentemente de sua origem étnica, raça ou nacionalidade. A ênfase do termo "ekklesia" está na comunhão espiritual e no vínculo dos seguidores de Cristo, unidos pela fé nele.

Nos escritos do Novo Testamento, a "ekklesia" é frequentemente descrita como o Corpo de Cristo (1Co.12:27), a Noiva de Cristo (Ef.5:25-27), a comunidade dos santos (Atos 9:31), entre outras descrições. Ela é vista como um povo espiritual unido pelo sacrifício de Cristo e pelo poder do Espírito Santo, composto por todos os que creem Nele, independentemente de sua origem étnica ou nacionalidade.

Portanto, a "ekklesia" no contexto neotestamentário difere do termo "qahal" do Antigo Testamento, pois se refere não apenas a uma raça ou nação específica, mas a todos os crentes em Cristo, independentemente de sua origem étnica, unidos em uma comunidade espiritual pela fé em Jesus e redimidos pelo seu sangue.

3. Na história cristã

Ao longo da história cristã, a compreensão do povo de Deus continuou a evoluir. A Igreja passou por períodos de crescimento, perseguição, reformas e expansão global. O entendimento da identidade do povo de Deus, sua missão e propósito foi moldado por teólogos, líderes e eventos históricos.

A Reforma Protestante enfatizou a importância da fé pessoal em Jesus Cristo, a autoridade das Escrituras, a necessidade da evangelização e a centralidade da graça na salvação. Com a Reforma, a Igreja é vista como parte integrante do povo de Deus, convocada para viver em santidade, amor e serviço ao mundo.

Em resumo, para os cristãos evangélicos, o povo de Deus é um conceito dinâmico e abrangente que começa no Antigo Testamento com Israel, se expande para incluir todos os crentes em Jesus Cristo no Novo Testamento e continua a ser uma comunidade chamada para viver em adoração, serviço e testemunho ao redor do mundo ao longo da história cristã.

Historicamente, tem havido uma diferença de interpretação entre as tradições católica e protestante em relação à estrutura e à autoridade da Igreja. A visão católica tende a enfatizar a autoridade papal e a sucessão apostólica, incluindo a ideia de que a autoridade é transmitida através do papado, com o Papa sendo considerado o sucessor de Pedro, enquanto a visão protestante tende a enfatizar a autoridade das Escrituras e a autonomia das Igrejas locais.

Na tradição católica, acredita-se que o Papa, como sucessor de Pedro, detém autoridade suprema sobre a Igreja como um todo, enquanto os bispos em comunhão com ele exercem autoridade sobre suas dioceses individuais. Essa visão é baseada na interpretação de passagens bíblicas, incluindo a passagem de Mateus 16:18,19, onde Jesus diz a Pedro: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja". A tradição católica interpreta essa declaração como uma fundação para a autoridade papal. Só que a expressão “sobre esta pedra" está relacionada à resposta de Pedro, que disse: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. É sobre Cristo que a Igreja foi edificada e não sobre Pedro. Jesus afirmou que Ele próprio era a pedra (Mt.21:42). A afirmação de Jesus é uma interpretação veraz do Salmo 118:22. O próprio Pedro identifica Jesus como sendo a “pedra” (Atos 4:11,12; 1Pd.2:4-6). E mais: (a) Enquanto Pedro é mencionado na segunda pessoa (tu), a expressão “esta pedra" está na terceira pessoa; (b) Pedro (petros) é um substantivo masculino, enquanto pedra (petra), um feminino singular. Consequentemente, estas palavras não têm a mesma referência. Ainda que Jesus tivesse falado em aramaico, o original grego inspirado traz as distinções.

O interessante é que até as próprias autoridades teológicas católicas concordam que a referência bíblica em estudo não está relacionada a Pedro. O destaque aqui é para João Crisóstomo e Agostinho. Agostinho, em seu comentário sobre o evangelho de João, escreveu: “Nesta pedra, então, disse Ele, a qual tu confessaste, eu construirei minha Igreja. Esta Pedra é Cristo; e nesta fundação o próprio Pedro construiu". Assim, não existe fundamento bíblico nem subsidio histórico para consubstanciar a figura de Pedro como papa (Ef.2:20).

Por outro lado, a tradição protestante, especialmente após a Reforma do século XVI, enfatizou a autoridade suprema das Escrituras Sagradas (sola scriptura) e defendeu a ideia de que a Igreja é composta por crentes regenerados, unidos pela fé em Cristo e pela comunhão uns com os outros, não dependendo necessariamente de uma hierarquia eclesiástica centralizada. Jesus Cristo é o Sumo Pastor da Igreja.

A definição apresentada pela denominação pentecostal americana sobre a Igreja reflete uma compreensão teológica que enfatiza a visão da Igreja como o Corpo de Cristo, um conceito que também é encontrado nas Escrituras, especialmente no Novo Testamento. De acordo com essa visão, a Igreja é entendida como o Corpo de Cristo, um organismo espiritual vivo, composto por todos os crentes verdadeiros que estão em comunhão com Deus através do Espírito Santo. É considerada como a habitação de Deus, onde o Espírito Santo opera e reside entre os crentes.

A referência bíblica a essa compreensão da Igreja pode ser encontrada em várias passagens, como em Efésios 1:22,23, que fala sobre Cristo como a Cabeça sobre todas as coisas para a Igreja, que é o seu Corpo, e em Efésios 2:22, que menciona os crentes sendo edificados juntos para serem morada de Deus no Espírito. Além disso, a referência a "a igreja dos primogênitos, que estão inscritos no céu", em Hebreus 12:23, sugere a ideia de uma Assembleia Universal dos redimidos. Essa perspectiva pentecostal destaca a importância da presença e do poder do Espírito Santo na vida da Igreja e a inclusão de todos os crentes, regenerados, como parte integrante da Assembleia Universal dos redimidos, unidos por sua fé em Cristo e pelo trabalho do Espírito Santo em suas vidas.

A ênfase na Grande Comissão, que é a incumbência dada por Jesus Cristo aos seus discípulos para fazerem discípulos de todas as nações (Mt.28:18-20), destaca o papel missionário e evangelístico da Igreja na propagação do evangelho e no cumprimento do propósito de Deus na Terra.

É importante observar que diferentes tradições e denominações cristãs têm suas próprias ênfases teológicas e interpretações das Escrituras em relação à natureza e à missão da Igreja. Essas interpretações podem variar, mas todas buscam compreender e viver conforme os princípios fundamentais da fé cristã conforme encontrados nas Escrituras.

II. A IGREJA COMO CRIAÇÃO DIVINA

1. A Igreja como um ideal de Deus

Desde a eternidade, a Igreja estava no coração de Deus e foi idealizada por Ele. O texto de Efésios 1:4 destaca que Deus nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor. Isso sugere que a eleição e o propósito da Igreja foram estabelecidos por Deus desde a eternidade, como parte de Seu plano redentor.

Além disso, o apóstolo Paulo, em sua Carta aos Efésios, faz referência a um "mistério" que foi revelado (Ef.3:3-6), e esse mistério é identificado como a Igreja. Isso implica que a ideia da Igreja como um Corpo de crentes de diferentes origens e culturas, unidos em Cristo, era algo oculto ou não completamente compreendido no passado, mas foi revelado por Deus através de Cristo.

A afirmação de que Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (Ef.5:25) ressalta o profundo amor de Cristo pela Igreja como sendo central em Sua obra redentora. Ele deu Sua vida para purificar e redimir a Igreja, demonstrando assim o amor sacrificial e redentor de Cristo pela comunidade dos crentes.

Portanto, de acordo com essa perspectiva cristã, a ideia da Igreja como um projeto divino, concebido na mente de Deus desde a eternidade e revelado por meio de Cristo, destaca a importância e a centralidade da igreja no plano redentor de Deus para a humanidade. A Igreja é vista como um corpo espiritual vivo, formado pela graça de Deus e pela obra salvífica de Cristo.

2. A Igreja como uma realidade concreta

A Igreja não permaneceu apenas como um ideal ou conceito abstrato de Deus. Ela se tornou uma realidade tangível e visível após a ascensão de Cristo e o derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes. O evento de Pentecostes é amplamente considerado como um momento crucial no estabelecimento e na manifestação visível da Igreja.

Após a ascensão de Jesus Cristo ao céu, os discípulos foram instruídos a aguardar a promessa do Espírito Santo (Atos 1:4,5). No dia de Pentecostes, conforme registrado em Atos 2, o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos reunidos em Jerusalém, capacitando-os de maneira poderosa. Isso resultou em uma manifestação visível e tangível da presença do Espírito Santo, acompanhada por sinais como línguas de fogo e a capacidade de falar em outras línguas. Este evento marcou o início da era da Igreja e é frequentemente considerado como o momento em que a Igreja foi energizada e capacitada pelo Espírito Santo para o seu ministério.

No discurso de Pedro durante o Pentecostes, ele expôs o evangelho de Jesus Cristo com poder e clareza, resultando na conversão de muitas pessoas naquele dia. O texto bíblico afirma que aproximadamente três mil pessoas foram acrescentadas à Igreja de Cristo após a pregação de Pedro (Atos 2:41). A partir desse momento, a Igreja começou a crescer à medida que o evangelho era pregado e o Espírito Santo agia no coração das pessoas.

Portanto, o Pentecostes é reconhecido como o momento em que a Igreja se tornou uma realidade tangível e visível, à medida que os discípulos foram capacitados pelo Espírito Santo para proclamar o evangelho e a comunidade dos crentes começou a se formar e a crescer. Esse evento é considerado fundamental na história da Igreja e na disseminação do evangelho.

3. A Igreja no Pentecostes

Depois do Pentecostes, Lucas destaca que “todos os dias acrescentava o Senhor à Igreja aqueles que se haviam de salvar” (Atos 2:47). Esta passagem destaca o crescimento contínuo da Igreja logo após o evento do Pentecostes. Ela enfatiza que, diariamente, Deus acrescentava à Igreja aqueles que estavam sendo salvos. Isso evidencia o movimento dinâmico do Espírito Santo na construção e no crescimento da comunidade dos crentes após a descida do Espírito no Pentecostes. Este movimento foi um momento crucial, transformando a Igreja de uma ideia ou plano divino em uma realidade viva e ativa. A partir desse ponto, a Igreja começou a se expandir à medida que o evangelho era proclamado; as pessoas eram convertidas e se uniam à comunidade dos crentes em Jesus Cristo.

Portanto, o Pentecostes marcou o início de uma nova era na história da Igreja, onde o Espírito Santo capacitou os discípulos a testemunhar de Cristo e, como resultado, muitos foram salvos e adicionados à Igreja. Essa transformação não só tornou a Igreja uma realidade concreta, mas também demonstrou a obra contínua e soberana de Deus em reunir e edificar Sua Igreja. Assim, a passagem de Atos 2 e os eventos posteriores ressaltam o papel do Espírito Santo na formação e no crescimento da Igreja, tornando-a uma realidade tangível e viva, em cumprimento ao plano divino de Deus desde a eternidade.

III. A IGREJA COMO A COMUNIDADE DOS SALVOS

1. Regenerados pelo sangue de Cristo

O termo "regenerado" está ligado à ideia de nascimento espiritual, transformação ou renovação interior. É um ato do Espírito Santo que ocorre no coração e na vida daqueles que creem em Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

O "sangue de Cristo" representa o sacrifício de Jesus na cruz. De acordo com a Bíblia, o sangue derramado por Cristo é o meio pelo qual a redenção e o perdão dos pecados são alcançados. A morte de Jesus é considerada o pagamento pelo pecado e a reconciliação entre Deus e a humanidade.

Portanto, ser "regenerado pelo sangue de Cristo" significa que, através da obra redentora de Jesus Cristo na cruz, uma pessoa experimenta uma transformação espiritual, sendo purificada e reconciliada com Deus. Essa regeneração espiritual é vista como um processo de renascimento espiritual, no qual a pessoa é renovada interiormente e passa a viver uma nova vida em comunhão com Deus (2Co.5:17). Essa expressão reflete a compreensão cristã da obra salvífica de Cristo, onde Seu sacrifício é considerado o fundamento da salvação e da transformação espiritual daqueles que creem Nele.

É válido enfatizar que o ingresso de alguém à Igreja não se dá por adesão, mas pela conversão. Logo, a Igreja é uma comunidade formada por pessoas regeneradas que fizeram uma pública profissão de fé. E o arrependimento (gr. “metanoeo”) é o primeiro passo para o ingresso da pessoa na Igreja. No discurso de Pedro durante o evento do Pentecostes, ele instruiu as pessoas a se arrependerem e serem batizadas em nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados (Atos 2:38). Essas palavras indicam o processo de ingresso na comunidade cristã da época e de sempre.

O arrependimento não se limita apenas a sentir remorso ou pesar por ações passadas, mas implica uma mudança de mente, um afastamento do pecado e uma volta para Deus. O batismo, então, é apresentado como uma expressão externa dessa mudança interna e é realizado em nome de Jesus Cristo, simbolizando a identificação com Ele e Sua mensagem. Essa compreensão é compartilhada por muitas denominações cristãs que consideram o batismo como um ato significativo de obediência e identificação com Cristo, sendo parte integrante do processo de início ou ingresso na comunidade da fé cristã. Na Bíblia, é frequentemente associado à ideia de conversão e transformação espiritual.

Portanto, a entrada na Igreja, entendida como a comunidade dos crentes em Cristo Jesus, envolve o arrependimento e o subsequente batismo em nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados.

2. Selados pelo Espírito Santo

O evento de Pentecostes é frequentemente considerado o nascimento da Igreja Cristã, quando os discípulos receberam o Espírito Santo conforme relatado no livro de Atos no Novo Testamento. Esse evento é fundamental para a compreensão da origem da Igreja.

O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, faz referência à unidade daqueles que creem em Cristo, independentemente de sua origem étnica, social ou status. Ele enfatiza que, ao receberem o Espírito de Deus, todos os crentes são batizados em um único Espírito para formar um único corpo, que é a Igreja de Cristo (1Co.12:13) - “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”. Esta passagem ressalta a união dos crentes através do Espírito Santo. A imagem do batismo no Espírito não se refere necessariamente ao batismo de água, mas simboliza a incorporação espiritual dos crentes no Corpo de Cristo, que é a Igreja. A diversidade é reconhecida (judeus, gregos, escravos, livres), mas a unidade é estabelecida pela ação do Espírito Santo. Essa unidade na diversidade é um tema recorrente no ensinamento de Paulo sobre a Igreja, enfatizando que todos os crentes compartilham de uma mesma fé e são membros do mesmo corpo espiritual, tendo recebido o Espírito de Deus como selo da sua pertença a Cristo e à comunidade de fé.

3. O Batismo de Cristo e do Espírito

O apóstolo Pedro, que exortou os presentes no dia Pentecostes a se arrependerem, disse: “e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2:38). Assim, podemos afirmar que Cristo batizou os crentes com o Espírito Santo e com fogo, um batismo de capacitação (Atos 1:4), enquanto o Espírito os batizou no Corpo de Cristo, um batismo de iniciação, formando a Igreja (1Co.12:13).

-Em Atos 1:4, Jesus instruiu Seus discípulos a aguardarem a promessa do Pai, que seria o batismo no Espírito Santo. Essa promessa foi cumprida no dia de Pentecostes, conforme registrado em Atos 2, quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos de maneira poderosa, capacitando-os para testemunhar sobre Cristo e para o ministério que teriam pela frente. Essa interpretação sustenta que o batismo com o Espírito Santo e com fogo, mencionado por João Batista e associado a Jesus em Mateus 3:11, é uma capacitação espiritual para serviço e ministério.

-Em 1 Coríntios 12:13, o apóstolo Paulo fala sobre os crentes sendo batizados em um Espírito para formar um Corpo, a Igreja. Essa passagem enfatiza a unidade dos crentes através do Espírito Santo, identificando-os como membros do Corpo de Cristo, independentemente de sua origem étnica ou status social. Essa interpretação ressalta o aspecto de iniciação espiritual e a participação dos crentes na comunidade de fé, como membros do corpo de Cristo.

Enfim, essas passagens sugerem duas ênfases distintas do trabalho do Espírito Santo na vida dos crentes: uma relacionada à capacitação para o serviço e ministério, e outra relacionada à união e participação na Igreja. Ambas as dimensões são consideradas parte do papel transformador e unificador do Espírito Santo na vida daqueles que creem em Cristo.

CONCLUSÃO

Concluímos esta Lição afirmando que a Igreja, como estabelecida no Novo Testamento após a morte e ressurreição de Jesus Cristo, tem suas raízes no plano divino. Sua fundação não se originou de ideias ou iniciativas humanas, mas surgiu pela vontade de Deus e foi consolidada quando os crentes foram unidos ao Corpo de Cristo pelo Espírito Santo.

É fundamental compreender que a Igreja não foi concebida por qualquer pessoa, mas enraizada no próprio Cristo, que é reconhecido como sua Cabeça. Essa realidade confere um significado especial e um privilégio notável em fazer parte desse Corpo espiritual.

A essência da Igreja reside na sua ligação com Cristo e na sua formação pelo desígnio divino, não sendo construída sobre teorias ou ideologias humanas. Portanto, fazer parte da Igreja, o Corpo de Cristo, é um privilégio incomparável (Ef.1:5), uma vez que esta comunhão é estabelecida pela vontade e plano soberano de Deus, com Cristo como seu fundamento e cabeça.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Atos, A ação do Espirito Santo na vida da igreja.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Efésios, a noiva gloriosa de Cristo.

Pr. Elienai Cabral. A Igreja e Sua Missão. CPAD.