domingo, 14 de julho de 2024

RUTE E NOEMI – ENTRELAÇADAS PELO AMOR

 


3° Trimestre de 2024

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 03

Texto Base: Rute 1:6-8; 14-19

“Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me afaste de ti; porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt.1:16).

Rute 1.6-8; 14-19

6.Então se levantou ela com as suas noras, e voltou dos campos de Moabe, porquanto na terra de Moabe ouviu que o Senhor tinha visitado o seu povo, dando-lhe pão.

7.Por isso saiu do lugar onde estivera, e as suas noras com ela. E, indo elas caminhando, para voltarem para a terra de Judá,

8.Disse Noemi às suas noras: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o Senhor use convosco de benevolência, como vós usastes com os falecidos e comigo.

14.Então levantaram a sua voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela.

15.Por isso disse Noemi: Eis que voltou tua cunhada ao seu povo e aos seus deuses; volta tu também após tua cunhada.

16.Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus

17.Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.

18.Vendo Noemi, que de todo estava resolvida a ir com ela, deixou de lhe falar.

19.Assim, pois, foram-se ambas, até que chegaram a Belém; e sucedeu que, entrando elas em Belém, toda a cidade se comoveu por causa delas, e diziam: Não é esta Noemi?

INTRODUÇÃO

Nesta lição, exploraremos o tema "Rute e Noemi: entrelaçadas pelo amor", destacando o valor de uma amizade em Deus e a maturidade da vida cristã. A história de Rute e Noemi começa em meio a uma crise familiar, da qual emerge uma bela amizade. Essa relação não só culmina na chegada do rei Davi, mas também integra a linhagem de Jesus no Novo Testamento. O amor que entrelaça Rute e Noemi está profundamente conectado ao advento do nosso Salvador. Assim, a amizade entre elas não se limita ao contexto de Davi, mas também prefigura a vinda do Rei Jesus.

I. A PROPOSTA DE NOEMI

1. Uma crise em família

Para compreender o valor e o significado dos atos de Noemi, é crucial considerar as circunstâncias de sua vida. Noemi, cujo nome significa "agradável", enfrentou uma série de tragédias que transformaram sua vida de maneira drástica.

O principal provedor da casa, seu marido Elimeleque, cujo nome em hebraico significa "Meu Deus é Rei", faleceu. Após a morte de Elimeleque, seus filhos, Malom e Quiliom, se tornaram os novos responsáveis pela família. No entanto, os nomes de Malom ("doença") e Quiliom ("definhamento") sugerem que eles possivelmente sofriam de problemas de saúde desde o nascimento, o que poderia ter contribuído para suas mortes prematuras. Ambos se casaram com mulheres moabitas: Malom com Rute, cujo nome significa "amizade", e Quiliom com Orfa, que significa "pescoço". Tragicamente, ambos os filhos de Noemi morreram, deixando viúvas Rute e Orfa.

Essas perdas devastadoras marcaram profundamente Noemi, que expressou seu sofrimento ao ponto de preferir ser chamada de Mara, que significa "amargosa" (Rute 1:20). A transformação de Noemi, de "agradável" a "amargosa", reflete a intensidade de sua dor e a profundidade da crise que ela enfrentava. A sequência de desastres – a fome que os forçou a sair de Belém, a morte do marido, e a morte dos filhos – criou um cenário de desespero e desolação.

2. Tirando força da fraqueza

Todas as pessoas, inclusive os cristãos, enfrentam dias maus (Ec.7:14). A diferença está em como reagimos nas tempestades da vida (Ef.6:13; Mt.7:24-27). Noemi, apesar da imensa dor pela perda do marido e dos filhos, não se entregou à autopiedade ou autocomiseração. Ao saber que Deus havia abençoado seu povo com alimento, ela decidiu retornar a Belém, demonstrando uma força interior admirável (Rt.1:6,7).

A viagem de mais de 120 quilômetros entre Moabe e Belém era uma jornada árdua, especialmente para uma mulher idosa. Noemi, no entanto, encontrou força na fraqueza, enfrentando as montanhas e os desafios físicos (Hb.11:34). Essa decisão exigia não apenas força física, mas também uma resiliência emocional e espiritual significativa.

Se Noemi tivesse se deixado paralisar pela dor e pela tristeza, nunca teria empreendido essa jornada desafiadora. Sua ação nos mostra que, embora os problemas da vida possam nos abater, não devemos permitir que eles nos imobilizem (Pv.24:10).

Noemi exemplifica como a fé e a determinação podem transformar a adversidade em um caminho de esperança e renovação. Sua coragem e liderança, mesmo em momentos de fraqueza, são um poderoso testemunho de como é possível tirar força da fraqueza, encontrando renovação e propósito em Deus.

3. Sem manipulação emocional

Quando Noemi decidiu retornar a Belém, suas noras, Rute e Orfa, prontamente se dispuseram a acompanhá-la. No entanto, no início da jornada, Noemi mostrou uma profunda consideração e altruísmo ao liberar ambas para retornarem às casas de seus pais (Rt.1:7,8; 2:11). Mesmo em sua avançada idade e situação difícil, Noemi colocou as necessidades e o futuro de suas noras acima dos seus próprios sentimentos e necessidades.

Ao liberar Rute e Orfa, Noemi reconheceu que, de volta às suas origens, elas teriam a oportunidade de casar novamente e constituir novas famílias (Rt.1:8-13). Esta atitude de Noemi reflete uma aceitação madura e consciente de sua própria condição pessoal, sem recorrer à manipulação emocional. Ela não apelou aos sentimentos das noras para que permanecessem com ela, demonstrando uma conduta ética e respeitosa que é fundamental para a construção de relacionamentos saudáveis.

A manipulação emocional é uma prática sutil e muitas vezes começa a se manifestar desde a infância (Pv.20:11). No entanto, Noemi exemplificou que pessoas emocional e espiritualmente saudáveis não recorrem a tais artifícios. Ao invés de usar sua vulnerabilidade para influenciar suas noras, Noemi agiu com integridade, permitindo-lhes a liberdade de escolha. Este comportamento evidencia que o pecado não escolhe idade, e a integridade de caráter é uma marca de maturidade espiritual.

Noemi, ao agir sem manipulação emocional, não apenas preservou a dignidade e o bem-estar de Rute e Orfa, mas também criou um ambiente onde a lealdade e o amor genuíno puderam florescer. A decisão de Rute de permanecer com Noemi, apesar da liberação oferecida, é um testemunho da força de um relacionamento construído sobre bases sólidas de respeito e altruísmo.

II. A CONVICÇÃO AMOROSA

1. Uma amizade provada e aprovada

A amizade entre Rute e Noemi é um exemplo profundo de lealdade e amor genuíno. Quando Noemi, em seu altruísmo, sugeriu pela segunda vez que suas noras retornassem às casas de seus pais, Orfa, embora triste, decidiu seguir o conselho da sogra. Chorando, ela abraçou Noemi e voltou para seu povo, mostrando que seu amor e força moral, embora sinceros, não eram tão profundos quanto os de Rute (Rt.1:14).

Rute, em contraste, demonstrou uma firmeza e uma devoção inabaláveis. Quando Noemi insistiu que ela seguisse o exemplo de Orfa, Rute revelou a profundidade de seu compromisso e amor por sua sogra, além de uma clara declaração de fé no Deus de Israel (Rt.1:15,16). Suas palavras são um testemunho poderoso: “Aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt.1:16). Esta declaração não apenas afirmava sua lealdade a Noemi, mas também sua decisão de abraçar a fé e a cultura de Israel.

A firmeza de Rute foi um reflexo do caráter de Noemi, que, em sua dor e vulnerabilidade, agiu com altruísmo e integridade. A amizade entre elas foi forjada em meio a adversidades e provações intensas, mas, ao invés de se enfraquecer, ela se fortaleceu. A insistência de Noemi para que Rute tomasse sua própria decisão extraiu a verdade do coração de Rute, revelando uma convicção amorosa que transcendeu laços familiares e culturais.

As verdadeiras amizades, como a de Rute e Noemi, são testadas e aprovadas nas dificuldades. Elas resistem às mais intensas provas, mostrando que o amor genuíno e a lealdade não se abalam facilmente. Rute se destacou não apenas como uma nora devotada, mas como uma amiga fiel que, diante das adversidades, escolheu permanecer ao lado de Noemi, compartilhando suas dores e esperanças. Esta amizade é um exemplo eterno de como os laços de amor e fé podem superar qualquer desafio, provando-se verdadeiros e duradouros.

2. Amizade na adversidade

Salomão escreveu: “O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade” (Pv.17:17). Rute exemplificou essa verdade de maneira notável, mostrando disposição para enfrentar qualquer dificuldade ao lado de sua sogra viúva e idosa. Suas palavras, “onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu” e “onde quer que morreres, morrerei eu” (Rt.1:16,17), revelam um nível profundo amizade, companheirismo e comprometimento.

Rute não apenas fez promessas; ela as transformou em ações concretas ao longo de sua vida. Ao escolher permanecer com Noemi, Rute demonstrou uma amizade que transcende as circunstâncias e os desafios, provando-se leal em tempos de adversidade. Sua decisão de deixar sua terra natal e adotar a fé e os costumes de Israel destaca seu altruísmo e a profundidade de seu amor.

Essa amizade na adversidade contrasta fortemente com o individualismo prevalente em nossos dias. Em uma época onde os relacionamentos muitas vezes são superficiais e centrados no interesse próprio, o exemplo de Rute nos desafia a reavaliar a qualidade de nossas próprias relações. Somos convidados a refletir sobre o nível de comprometimento e lealdade que temos com nossos amigos e familiares.

Rute nos ensina que amizades verdadeiras não são meras alianças de conveniência, mas sim laços que resistem às dificuldades e provações. Em vez de buscar o que é mais fácil ou conveniente, somos chamados a cultivar relacionamentos baseados em amor genuíno e sacrifício mútuo. A história de Rute e Noemi nos inspira a ser amigos que amam em todos os momentos, especialmente na adversidade, e a valorizar as conexões profundas que enriquecem e dão sentido às nossas vidas.

3. Um amor prático

Ao chegar a Belém, Rute não se permitiu ser paralisada por expectativas irrealistas ou pela tristeza de sua situação. Demonstrando um amor prático e resoluto, ela se prontificou a realizar um trabalho humilde e penoso: juntar espigas caídas nas plantações durante a colheita (Rt.2:2). Este trabalho, instituído nos dias de Moisés, era reservado aos pobres e necessitados (Lv.19:9,10; 23:22; Dt.24:19).

A atitude de Rute reflete um princípio fundamental da Palavra de Deus: os ricos devem compartilhar suas riquezas e ajudar os necessitados (Mt.6:19-21; 1Tm.6:17-19; Tg.5:1-6), mas os pobres também têm a responsabilidade de trabalhar para garantir seu sustento, quando fisicamente capazes (Gn.3:19; 2Ts.3:10-13). Rute exemplificou este princípio ao trabalhar diligentemente nos campos de Boaz. Seu esforço e dedicação impressionaram o chefe dos trabalhadores (Rt.2:7).

Rute não se limitou a professar seu amor por Noemi; ela o demonstrou através de ações concretas. Diariamente, ela recolhia espigas com esforço e dedicação, garantindo o sustento para si e para sua sogra. Ao final de cada dia, levava tudo para Noemi, demonstrando cuidado e responsabilidade (Rt.2:17,18).

Esta abordagem prática do amor é um poderoso testemunho de fé em ação. Rute não apenas falava sobre seu amor e devoção; ela vivia esses sentimentos através de seu trabalho árduo e sua disposição em enfrentar dificuldades. A Bíblia nos instrui a amar não apenas com palavras, mas com ações e em verdade (1João 3:18).

Rute exemplifica essa instrução de maneira excepcional. Sua história nos desafia a refletir sobre como expressamos nosso amor e cuidado pelos outros em nossas vidas diárias. Em um mundo onde as palavras podem ser vazias e as promessas quebradas, Rute nos mostra que o verdadeiro amor é prático, sacrificial e dedicado, evidenciado através de ações concretas e consistentes.

III. A CONVICÇÃO DA MULHER: “O TEU DEUS É O MEU DEUS”

1. Uma fé fervorosa

Rute é um exemplo notável de fé fervorosa. Sua declaração convicta a Noemi, "o teu Deus é o meu Deus" (Rt.1:16), revela sua profunda devoção ao Deus de Israel. Esta devoção não era superficial, mas enraizada em uma decisão consciente de buscar refúgio no Deus de Israel (Rt.2:12).

A fé de Rute era prática e visível. Ela demonstrou um compromisso inabalável com Noemi e uma confiança plena no Deus de Israel. Esta fé a levou a agir com diligência e a seguir princípios éticos elevados, mesmo em circunstâncias difíceis. Rute não se deixou levar pelo desespero ou pela tentação de buscar soluções fáceis. Em vez disso, sua vida refletia uma firme confiança em Deus e uma disposição para trabalhar arduamente e viver com integridade (Rute 3:10). Sua dedicação e comportamento exemplar lhe conferiram uma excelente reputação, a ponto de Boaz declarar: "Toda a cidade do meu povo sabe que és mulher virtuosa" (Rt.3:11).

O exemplo de Rute nos ensina que a fé verdadeira não é apenas uma questão de palavras, mas de ações concretas que refletem uma profunda devoção a Deus. Em um mundo frequentemente marcado por superficialidade e compromissos frágeis, Rute nos desafia a viver nossa fé com fervor, integridade e determinação. Sua história é um testemunho de como a fé fervorosa pode transformar vidas e inspirar aqueles ao nosso redor, mostrando que a verdadeira devoção a Deus se manifesta em todas as áreas da nossa vida.

2. Uma fé que inspira

A fé de Rute foi profundamente inspirada pela vida e crença de sua sogra, Noemi. Quando Rute se referiu ao Deus de Noemi como seu próprio Deus, ela estava dando um poderoso testemunho de sua fé (Rt.1:16). Este testemunho não surgiu no vácuo; foi nutrido pelo exemplo de Noemi, que, apesar das adversidades, manteve sua fé e devoção a Deus.

Em todos os tempos, as mulheres mais velhas desempenham um papel crucial na resistência aos ventos da superficialidade espiritual. Sua missão é ser piedosas, dedicadas a Deus e à família, mesmo diante das pressões de uma sociedade que frequentemente valoriza o materialismo e a superficialidade. Através de suas vidas e exemplos, elas têm a capacidade de inspirar e ensinar as mulheres mais jovens, conforme orientado em Tito 2:3-5-“Semelhantemente, as mulheres mais velhas devem viver de modo digno. Não devem ser caluniadoras, nem beber vinho em excesso; antes, devem ensinar o que é bom. Devem instruir as mulheres mais jovens a amar o marido e os filhos, a viver com sabedoria e pureza, a trabalhar no lar, a fazer o bem e a ser submissas ao marido. Assim, não envergonharão a palavra de Deus (NVT).

Noemi exemplificou esse papel ao viver de maneira que refletia sua fé em Deus, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Sua integridade, sabedoria e dedicação não passaram despercebidas a Rute, que escolheu seguir o Deus de Noemi e adotar um estilo de vida fundamentado na fé e na moralidade.

Este relacionamento intergeracional é fundamental para a transmissão de valores espirituais e morais. As mulheres mais velhas, ao viverem suas vidas com fé fervorosa e autenticidade, oferecem às mais jovens um modelo a seguir. Elas mostram que a verdadeira beleza e valor residem na piedade e no serviço a Deus e à família.

A fé de Rute, inspirada por Noemi, nos lembra que nosso testemunho e exemplo podem ter um impacto profundo e duradouro na vida de outros. Ao resistir às pressões mundanas e manter uma devoção sincera a Deus, as mulheres mais velhas podem inspirar as novas gerações a viverem com fé, integridade e amor. Desta forma, a chama da fé é passada adiante, iluminando o caminho para as futuras gerações.

3. Sensibilidade sob liderança

As Escrituras destacam a profunda sensibilidade espiritual das mulheres, como evidenciado nos relatos de Lucas e João, de terem sido as primeiras a testemunhar e crer na ressurreição de Jesus (Lc.24:1-10; João 20:11-18). Este exemplo ressalta o extraordinário potencial feminino para discernir e responder à obra de Deus (Lc.8:1-3).

É de grande valor quando esse potencial feminino é reconhecido e cultivado sob uma liderança séria e responsável; uma liderança que orienta o trabalho das mulheres, protegendo-as de exploração ou manipulação em sua fé (Fp.4:3; Rm.16:12; Mc.12:38-40; 2Tm.3:6,7).

Quando as mulheres são capacitadas e encorajadas a exercer sua sensibilidade espiritual em um ambiente seguro e de apoio, elas podem desempenhar um papel significativo no avanço do Reino de Deus e na edificação da Igreja Local. Sua perspectiva única e sensibilidade espiritual trazem uma riqueza incomparável à vida da igreja e à missão do evangelho.

No entanto, é importante que essa liderança seja séria e responsável, garantindo que as mulheres sejam respeitadas e valorizadas por sua contribuição, e não exploradas ou subestimadas. O apoio e encorajamento mútuo entre líderes e membros da igreja são essenciais para cultivar um ambiente onde todos possam crescer e florescer em sua fé e serviço a Deus.

Ao reconhecer e promover a sensibilidade espiritual das mulheres sob uma liderança responsável, a igreja pode experimentar uma maior plenitude e diversidade no cumprimento de sua missão. As mulheres são preciosas colaboradoras no Reino de Deus, e seu potencial e sensibilidade espiritual devem ser valorizados e cultivados em todos os aspectos da vida da igreja.

CONCLUSÃO

A história de Rute e Noemi nos oferece um poderoso testemunho do poder transformador do amor, da fé e da amizade em meio às adversidades da vida. Por meio do relacionamento profundo entre essas duas mulheres, somos lembrados da importância da lealdade, do comprometimento e da solidariedade em nossas jornadas individuais e comunitárias.

Rute, com sua fé fervorosa e amor prático, demonstrou como a devoção a Deus e aos outros pode guiar nossas escolhas e ações, mesmo em meio às circunstâncias mais desafiadoras. Noemi, por sua vez, personifica a força e a resiliência que podem surgir da amizade e do apoio mútuo.

Além disso, esta Lição nos chama a refletir sobre o papel essencial das mulheres na história da redenção e na vida da igreja. Desde os tempos bíblicos até os dias atuais, as mulheres têm desempenhado um papel fundamental como testemunhas da fé, agentes de transformação e colaboradoras no ministério do evangelho.

Portanto, ao contemplarmos a história de Rute e Noemi, somos desafiados a cultivar relacionamentos fundamentados no amor e na confiança mútua, a valorizar o potencial e a sensibilidade espiritual das mulheres em nossa Igreja Local, e a buscar alicerçar nossas vidas no firme fundamento da fé em Deus e no compromisso com o bem-estar uns dos outros.

Que possamos aprender com o exemplo de Rute e Noemi, e que o amor, a amizade e a fé que as uniram continuem a inspirar e fortalecer nossos próprios relacionamentos e caminhadas espirituais, hoje e sempre.

-----------------------

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Rute – uma perfeita história de amor.

Pr. Elinaldo Renovato de Lima. O caráter do cristão. CPAD.

Comentário Bíblico Beacon. Volume 2.

sábado, 13 de julho de 2024

EXEMPLOS DE METÁFORAS E PARALELISMOS NO LIVRO DE RUTE

 

I. EXEMPLOS DE METÁFORAS NO LIVRO DE RUTE

O Livro de Rute, embora uma narrativa histórica, contém várias metáforas que enriquecem a história e fornecem profundidade adicional ao texto. Aqui estão alguns exemplos:

1.    Asas de Refúgio:

o    Texto: “O Senhor retribua o que você fez! Que você seja ricamente recompensada pelo Senhor, o Deus de Israel, sob cujas asas você veio buscar refúgio.” (Rute 2:12)

o    Metáfora: Boaz compara a proteção que Rute buscou em Deus a estar sob as asas de uma ave, sugerindo segurança, cuidado e acolhimento.

2.    Cheia e Vazia:

o    Texto: “Não me chamem de Noemi”, disse ela. “Chamem-me de Mara, pois o Todo-Poderoso tornou minha vida muito amarga. De mãos cheias eu parti, mas de mãos vazias o Senhor me trouxe de volta.” (Rute 1:20-21)

o    Metáfora: Noemi usa as metáforas de “cheia” e “vazia” para descrever sua mudança de sorte, de prosperidade e felicidade para perda e desolação.

3.    Campo:

o    Texto: “Assim Rute foi ao campo e apanhava espigas atrás dos ceifeiros. Por acaso, ela entrou justamente na parte da lavoura que pertencia a Boaz, da família de Elimeleque.” (Rute 2:3)

o    Metáfora: O campo onde Rute colhe grãos pode ser visto como uma metáfora para o campo da vida, onde as oportunidades e as providências de Deus se manifestam de maneiras inesperadas.

4.    Redenção:

o    Texto: “Então Boaz anunciou aos líderes e a todo o povo ali presente: ‘Hoje vocês são testemunhas de que comprei de Noemi toda a propriedade de Elimeleque, Quiliom e Malom. Também adquiri Rute, a moabita, viúva de Malom, para ser minha mulher, a fim de manter o nome do falecido com a sua herança, para que o nome dele não desapareça do meio de sua família e de sua cidade. Hoje vocês são testemunhas!’” (Rute 4:9-10)

o    Metáfora: A ideia de Boaz como redentor de Rute e da família de Noemi é uma metáfora para a redenção divina, onde Deus resgata e restaura aqueles que são fiéis a Ele.

5.    Semente e Colheita:

o    Texto: “Boaz tomou Rute, e ela se tornou sua mulher. Boaz a possuiu, e o Senhor concedeu que ela engravidasse dele, e ela deu à luz um filho.” (Rute 4:13)

o    Metáfora: A vida de Rute pode ser vista como uma semente que, plantada em solo fértil (fé em Deus e fidelidade), produz uma colheita abundante (um filho e linhagem messiânica).

6.    Descanso:

o    Texto: “Minha filha, eu preciso procurar um lar seguro para você, onde você seja bem tratada.” (Rute 3:1)

o    Metáfora: Noemi busca um “lar seguro” para Rute, o que metaforicamente representa a busca por estabilidade, segurança e paz na vida de Rute.

Essas metáforas no Livro de Rute não apenas embelezam a narrativa, mas também fornecem insights profundos sobre temas de fé, providência divina, redenção e a busca humana por segurança e pertencimento.

II. EXEMPLOS DE PARALELISMOS NO LIVRO DE RUTE

O paralelismo é uma técnica literária comum na Bíblia Hebraica, onde ideias ou themes são repetidos e contrastados para realçar um ponto ou fornecer ênfase. No Livro de Rute, encontramos diversos exemplos de paralelismo que ajudam a estrutura narrativa e enfatizam temas importantes.

Aqui estão alguns exemplos de paralelismo no Livro de Rute:

1.    Paralelismo de Destino:

o    Texto: "Então Noemi disse às suas noras: 'Vão, voltem para a casa de suas mães! Que o Senhor seja leal com vocês, como vocês foram leais com os falecidos e comigo. O Senhor conceda que cada uma de vocês encontre segurança no lar doutro marido'." (Rute 1:8-9)

o    Paralelismo: Noemi deseja que suas noras encontrem segurança e felicidade, espelhando o desejo de que Deus seja leal com elas assim como elas foram leais com suas famílias e com Noemi. Este paralelismo destaca a reciprocidade da lealdade e bênção.

2.    Paralelismo de Retorno:

o    Texto: "Assim Noemi voltou das terras de Moabe, com Rute, a sua nora, a moabita. Elas chegaram a Belém no início da colheita da cevada." (Rute 1:22)

o    Paralelismo: A viagem de volta de Noemi e Rute é paralela ao início da colheita da cevada, simbolizando um novo começo e a providência de Deus. A volta a Belém marca o início de um período de restauração.

3.    Paralelismo de Identidade:

o    Texto: "Noemi disse: 'Voltem, minhas filhas; por que viriam comigo? Ainda posso ter filhos que poderiam tornar-se seus maridos? Voltem, minhas filhas, vão embora, porque sou velha demais para ter outro marido'." (Rute 1:11-12)

o    Paralelismo: A repetição da pergunta retórica de Noemi ("Ainda posso ter filhos...?") destaca sua incapacidade e desesperança, contrastando com a juventude e as possibilidades de suas noras.

4.    Paralelismo de Bênção:

o    Texto: "Boaz respondeu: 'Fui informado de tudo o que você tem feito por sua sogra desde a morte do seu marido: como deixou seu pai e sua mãe e a sua terra natal e veio viver com um povo que você não conhecia bem. O Senhor lhe retribua o que você fez! Que você seja ricamente recompensada pelo Senhor, o Deus de Israel, sob cujas asas você veio buscar refúgio'." (Rute 2:11-12)

o    Paralelismo: Boaz menciona as ações de Rute e, em seguida, invoca a bênção de Deus sobre ela. Esse paralelismo realça a relação entre as ações justas de Rute e a recompensa divina.

5.    Paralelismo de Fidelidade:

o    Texto: "Onde você for eu irei, onde você ficar eu ficarei! O seu povo será o meu povo e o seu Deus será o meu Deus! Onde você morrer eu morrerei, e ali serei sepultada. Que o Senhor me castigue com todo rigor, se outra coisa que não a morte me separar de você!" (Rute 1:16-17)

o    Paralelismo: A repetição dos compromissos de Rute com Noemi ("Onde você... eu...") destaca sua devoção absoluta e incondicional, enfatizando a profundidade de seu compromisso.

6.    Paralelismo de Nomeação:

o    Texto: "As mulheres disseram a Noemi: 'Louvado seja o Senhor, que hoje não a deixou sem resgatador! Que o seu nome seja celebrado em Israel!' Ele restaurará a sua vida e a sustentará na velhice. Pois a sua nora, que a ama e que é melhor do que sete filhos, o deu à luz." (Rute 4:14-15)

o    Paralelismo: A bênção das mulheres de Belém sobre Noemi repete e reforça a importância do resgatador e da nora de Noemi, Rute, comparando sua importância a "sete filhos", um símbolo de completude e perfeição.

Esses exemplos de paralelismo no Livro de Rute mostram como essa técnica literária é usada para realçar temas centrais como lealdade, providência divina, e redenção, proporcionando uma maior profundidade e beleza ao texto.

 

 

domingo, 7 de julho de 2024

LIÇÃO 02: O LIVRO DE RUTE

          3° Trimestre de 2024

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 02

Texto Base: Rute 1:1-5

“E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos” (Rt.1:1).

Rute 1:

1.E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de
Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos.

2.E era o nome deste homem Elimeleque, e o nome de sua mulher, Noemi, e os nomes de seus dois filhos, Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e vieram aos campos de Moabe e ficaram ali.

3.E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos,

4.os quais tomaram para si mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos.

5.E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim esta mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido.

INTRODUÇÃO

O livro de Rute é uma perfeita história de amizade, amor e redenção. Ele exalta o amor e a virtude de uma mulher moabita. O livro fala da oportunidade de reconciliação para todas as nações estrangeiras que buscam abrigo debaixo das mãos do Deus vivo (Rute 2:12). Em Boaz e Rute, os israelitas e gentios são personificados.

Antônio Neves de Mesquita diz que o livro de Rute nos coloca face a face com um drama de família. Nesse drama surgem vários problemas: o problema da crise financeira; o problema da imigração; o problema da doença; o problema da morte; o problema da viuvez; o problema da pobreza e; o problema da amargura contra Deus. Ao mesmo tempo, o livro de Rute nos fala sobre: a força da amizade; a beleza da providência; a recompensa da virtude.

O livro de Rute é uma história cheia de emoções profundas, em que se destacam o poder do amor e a vitoriosa providência divina. Nesse sentido, este livro, que trata de amizade e amor, é um contraste com o livro de Juízes, que trata de guerras e contendas.

No livro de Juízes, o julgamento de Deus está mostrando à nação de Israel a loucura do pecado; no livro de Rute, o amor e a virtude estão sendo recompensados. Na verdade, o livro de Rute trata a respeito de Deus; Ele é a personagem principal desse precioso livro.

Vale ressaltar que em uma sociedade dominada pelos homens, as personagens centrais desse romance são duas mulheres que desafiaram a crise e agiram com fé na providência divina. A primeira era uma judia idosa, pobre, viúva e sem filhos; a outra, uma gentia viúva que se apegou à sua sogra e se converteu ao Deus de Israel.

Além de oferecer-nos abençoadoras lições morais e espirituais, o livro de Rute é um tributo divino às mulheres, verdadeiras heroínas em tempos de crise.

I. A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO

1. Na Bíblia Hebraica

Segundo pesquisa que fiz, a Bíblia Hebraica, também conhecida como Tanakh, é dividida em três seções principais:

a)   Torá (Lei ou Pentateuco): Compreende os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés — Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

b)   Neviim (Profetas): Subdividida em Profetas Anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e Profetas Posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas Menores).

c)   Ketuvim (Escritos): A terceira e última seção, que inclui uma variedade de livros de diferentes gêneros literários.

A seção dos Ketuvim (Escritos) é composta por onze livros que abrangem poesias, sabedoria, histórias e apocalípticos. Os livros incluídos são:

  • Salmos
  • Provérbios
  • Cântico dos Cânticos
  • Rute
  • Lamentações
  • Eclesiastes
  • Ester
  • Daniel
  • Esdras-Neemias
  • Crônicas

Dentro dos Ketuvim, existe um subgrupo conhecido como Megillot, ou "Cinco Rolos", que são lidos em ocasiões específicas do calendário judaico. Esses cinco livros são:

a)   Cântico dos Cânticos: Lido durante a Páscoa.

b)   Rute: Lido durante o Shavuot (Festa das Semanas ou Pentecostes), que celebra a colheita.

c)   Lamentações: Lido no Tisha B'Av, dia de jejum que lembra a destruição dos Templos de Jerusalém.

d)   Eclesiastes: Lido durante o Sucot (Festa dos Tabernáculos).

e)   Ester: Lido durante o Purim.

A POSIÇÃO DO LIVRO DE RUTE

O Livro de Rute, embora seja uma narrativa histórica breve, está estrategicamente posicionado entre os Megillot devido à sua relevância litúrgica e temática.

Contexto Litúrgico e Histórico do Livro de Rute

Shavuot (Pentecostes). Rute é tradicionalmente lido durante o Shavuot, que celebra a colheita de trigo. A história de Rute se passa durante a época da colheita, o que estabelece um paralelo direto com a festa. Além disso, Shavuot é também associado à entrega da Torá, e a conversão de Rute ao judaísmo (Rute 1:16,17).

Estrutura e Conteúdo

ü  Narrativa e Genealogia. O livro de Rute tem quatro capítulos que narram a história de Rute, uma moabita que se casa com um israelita e, após sua viuvez, demonstra lealdade à sua sogra Noemi. A história culmina com Rute casando-se com Boaz e sendo incluída na linhagem de Davi, e, por extensão, na genealogia de Jesus (Rute 4:13-22).

ü  Temas Centrais. O livro destaca temas de lealdade, redenção e providência divina. A inclusão de Rute na comunidade de Israel prefigura a aceitação de gentios na fé judaica, sublinhando a universalidade do amor e da graça de Deus.

Posição na Tanakh

Na Tanakh, a posição de Rute varia dependendo da tradição textual, mas geralmente é encontrada entre os Escritos, refletindo sua importância tanto histórica quanto litúrgica.

Portanto, a inclusão do Livro de Rute na seção dos Ketuvim (Escritos) da Bíblia Hebraica e seu lugar entre os Megillot (Cinco Rolos) sublinha sua significância não apenas como uma narrativa histórica, mas como um texto litúrgico e teológico. A leitura de Rute durante Shavuot (Pentecostes) conecta a história da colheita com a história de fidelidade e redenção, reforçando a interligação entre a vida cotidiana e a fé. Através de Rute, somos lembrados do poder do compromisso, da inclusão e da providência divina na trajetória do povo de Deus.

2. Na Bíblia Cristã

É do nosso conhecimento que a Bíblia Cristã organiza o Antigo Testamento em quatro seções principais:

a)   Pentateuco. Os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio).

b)   Livros Históricos. Relatam a história de Israel desde a entrada na Terra Prometida até o período do cativeiro e o retorno. Incluem Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.

c)   Livros Poéticos. Contêm poesia e sabedoria, incluindo Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos.

d)   Livros Proféticos. Divididos em Profetas Maiores (Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel) e Profetas Menores (doze livros menores).

Categoria e Gênero

ü  Histórico e Poético. Na Bíblia Cristã, o Livro de Rute é categorizado como um livro histórico devido à sua narrativa e contexto temporal. No entanto, sua escrita é também reconhecida pela beleza poética, empregando linguagem rica e expressiva que revela aspectos emocionais e subjetivos dos personagens.

Estrutura

  • Quatro Capítulos. O livro está organizado em quatro capítulos, totalizando 85 versículos. Cada capítulo desenvolve uma parte crucial da história:

a)   Capítulo 1: Introdução e o retorno de Rute e Noemi a Belém.

b)   Capítulo 2: Rute encontra trabalho nos campos de Boaz.

c)   Capítulo 3: Rute segue o conselho de Noemi e busca proteção com Boaz.

d)   Capítulo 4: Boaz se torna o redentor de Rute e a genealogia que leva a Davi é estabelecida.

Narrativa e Estilo

·         Narrativa Rica. O livro utiliza um estilo narrativo que mistura diálogos diretos e descrições vivas, proporcionando um entendimento profundo das motivações e emoções dos personagens. Exemplos incluem as conversas entre Noemi e Rute (Rute 1:12-21), as interações entre Rute e Boaz (Rute 2:13,20), e a orientação estratégica de Noemi (Rute 3:1).

·         Aspectos Poéticos. A obra exibe uma beleza poética através do uso de paralelismos, metáforas e uma estrutura literária bem definida que enriquece a narrativa. O hebraico clássico é utilizado de maneira a dar profundidade e elegância à história.

Temas e Mensagens

·         Fidelidade e Redenção. Os temas centrais do livro incluem a lealdade (Rute a Noemi), a providência divina e a redenção (Boaz como redentor). A história de Rute, uma moabita, que se torna parte da linhagem de Davi e, por extensão, da genealogia de Jesus, sublinha a inclusão e a graça de Deus.

·         Aspectos subjetivos e humanos. O livro explora profundamente os aspectos humanos e emocionais dos personagens, como a dor da perda, a lealdade familiar, a esperança e a renovação.

Importância na Bíblia Cristã

a)   Conexão com o Novo Testamento:

·         Genealogia de Jesus. O Livro de Rute estabelece a linhagem de Davi, que é crucial para a genealogia de Jesus Cristo (Mateus 1:5). Isso reforça a continuidade da promessa divina desde o Antigo até o Novo Testamento.

·         Modelo de fidelidade e obediência. Rute é frequentemente citada como exemplo de fidelidade e obediência, refletindo virtudes que são exaltadas no Novo Testamento.

b)   Leitura e Reflexão:

·         Litúrgica e Devocional. Embora não tenha um papel litúrgico fixo na tradição cristã como tem no judaísmo durante o Shavuot, o Livro de Rute é frequentemente lido e estudado por seu valor devocional e moral.

Enfim, a organização do Livro de Rute na Bíblia Cristã destaca sua dupla natureza como um texto histórico e poético. Composto por quatro capítulos, o livro narra a história de fidelidade, providência divina e redenção com uma linguagem rica e expressiva. Embora categorizado como um livro histórico, sua beleza poética e profundidade emocional oferecem lições valiosas sobre lealdade, inclusão e a soberania de Deus. A história de Rute não só enriquece o entendimento do Antigo Testamento, mas também estabelece fundamentos importantes para a teologia cristã, especialmente em relação à linhagem messiânica de Jesus Cristo.

3. Autoria e data

a) Autoria. A questão da autoria do Livro de Rute é objeto de debate entre os eruditos. A tradição judaica, conforme registrado no Talmude, atribui a autoria a Samuel. Vários fatores sustentam essa atribuição:

ü  Referências a Jessé e Davi. O texto faz referência a Jessé e Davi de uma maneira que sugere familiaridade e contemporaneidade com esses personagens (Rute 4:17). Samuel, como profeta e juiz, teve um papel significativo na unção de Davi como rei, o que reforça essa hipótese.

ü  Atmosfera histórica. As características do livro sugerem uma ambientação no início do período da monarquia de Israel, uma época em que Samuel estava ativo.

b) Data. Baseando-se na atribuição tradicional a Samuel e nas referências internas do texto, a datação do Livro de Rute pode ser estimada em torno do século X a.C. Especificamente:

ü  Contexto monárquico. O livro parece refletir um período em que a monarquia estava se estabelecendo, um tempo que coincide com o início do reinado de Davi.

ü  Estilo literário. A linguagem e o estilo literário utilizados no Livro de Rute são consistentes com outras obras desse período, caracterizando o hebraico clássico e narrativas históricas da era monárquica.

Conquanto não haja consenso absoluto sobre a autoria e data exata do Livro de Rute, a tradição que atribui a autoria a Samuel e a evidência interna que sugere um ambiente do início da monarquia de Israel oferecem uma base sólida. Assim, o livro é provavelmente datado do século X a.C., refletindo uma época de transição e estabelecimento da monarquia em Israel, com Samuel como o autor mais provável.

II. O CONTEXTO HISTÓRICO

1. No tempo dos juízes

O Livro de Rute se situa no período dos juízes, uma época de transição e instabilidade na história de Israel, que durou aproximadamente três séculos, desde a morte de Josué (cerca de 1375 a.C.) até a ascensão de Saul como o primeiro rei de Israel (1050 a.C.). Este período é caracterizado por repetidos ciclos de pecado, opressão, arrependimento e libertação, conforme registrado no Livro dos Juízes.

Características do Período

a)   Anarquia e apostasia:

ü  Desobediência e idolatria. Após a morte de Josué, Israel frequentemente se desviava dos mandamentos de Deus, adorando deuses estrangeiros e praticando a idolatria (Juízes 2:11-13). Uma frase que identifica bem aquela época sombria é: “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Jz.17:6).

ü  Opressão estrangeira. Como consequência da desobediência, Deus permitiu que nações estrangeiras oprimissem Israel. Esse ciclo de opressão levava o povo a clamar por libertação, e Deus levantava juízes para resgatá-los (Juízes 2:16-19).

b)   Desordem social e política:

ü  Ausência de liderança centralizada. A frase “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Juízes 17:6) resume bem a desordem moral e social daquele tempo. Sem uma liderança centralizada, Israel vivia em uma espécie de anarquia.

ü  Juízes locais. Os juízes eram líderes locais, levantados por Deus, que exerciam funções militares, civis e espirituais. Eles não governavam a nação inteira, mas geralmente atuavam em áreas específicas e por períodos limitados.

O Livro de Rute, enfim, embora curto, tem um impacto profundo na história de Israel. Ele liga a era dos juízes com a monarquia que se inicia com Saul e, mais significativamente, com Davi. A inclusão de Rute na genealogia de Davi (Rute 4:21,22) e, por extensão, na genealogia de Jesus (Mateus 1:5), sublinha a importância divina da história de Rute no plano redentor de Deus. A narrativa de Rute oferece uma contraposição esperançosa à anarquia do período, mostrando que Deus está sempre trabalhando para cumprir Seus propósitos, independentemente das circunstâncias externas.

2. Secularismo, hedonismo e idolatria

Após a morte de Josué e dos líderes de sua geração, Israel enfrentou uma profunda crise espiritual. A nova geração não tinha uma íntima comunhão com Deus e desconhecia Suas obras poderosas em favor do povo hebreu (Juízes 2:7-13). A ausência de líderes espiritualmente maduros e tementes a Deus deixou Israel vulnerável à influência das práticas pagãs dos cananeus.

Influências negativas: Secularismo e Hedonismo

a)   Secularismo:

ü  Desconexão com o Divino. Israel se afastou dos princípios e mandamentos de Deus, adotando uma visão de mundo centrada em valores terrenos e imediatos, ignorando a soberania divina.

ü  Sincretismo religioso. A fusão de crenças e práticas cananeias com a fé israelita resultou na diluição da pureza do culto a Yahweh.

b)   Hedonismo:

ü  Busca pelo prazer. O hedonismo, ou a busca incessante pelo prazer, levou Israel a práticas imorais. O culto a Astarote, a deusa do sexo e da guerra, era um exemplo claro disso.

ü  Decadência moral. A entrega aos prazeres carnais e à satisfação dos desejos imediatos resultou em um profundo declínio moral e espiritual.

Idolatria: adoração a Baal e a Astarote

a)   Culto a Baal:

ü  Baal, falso deus da chuva e fertilidade. Baal era adorado como o deus da chuva, essencial para a agricultura. A prática desse culto envolvia rituais que muitas vezes eram imorais e degradantes.

ü  Sacrifícios e ritos pagãos. A adoração a Baal incluía sacrifícios e ritos que iam contra os mandamentos de Deus.

b)   Culto a Astarote:

ü  Falsa deusa do sexo e guerra. Astarote era venerada através de práticas que incentivavam a licenciosidade sexual e a violência.

ü  Imoralidade ritual. Os rituais dedicados a Astarote frequentemente envolviam atos de prostituição sagrada e outras formas de imoralidade.

Consequências da falta de liderança espiritual

a)   Ciclos de apostasia e opressão:

ü  Rebelião e arrependimento. A falta de líderes espirituais resultou em ciclos de pecado, opressão por nações estrangeiras, arrependimento e temporária restauração através de juízes levantados por Deus (Juízes 2:16-19).

ü  Insegurança e anarquia. Sem direção divina, a sociedade israelita mergulhou na anarquia, vivendo segundo o que parecia certo a cada um (Juízes 17:6).

b)   Necessidade de caráter na liderança:

ü  Carisma versus caráter. No Reino de Deus, não basta ter carisma para liderar; é imprescindível ter caráter aprovado. As qualificações para liderança espiritual incluem integridade, sabedoria e temor a Deus (1Timóteo 3:2-13; 2Timóteo 2:15; Tito 2:7,8).

Enfim, o período pós-liderança de Josué foi marcado por secularismo, hedonismo e idolatria, resultando em grandes tragédias morais e espirituais para Israel. A falta de uma liderança espiritualmente madura e comprometida com Deus levou o povo a práticas degradantes e à instabilidade social. Esse contexto sublinha a importância de líderes com caráter sólido e um profundo compromisso com Deus, capazes de guiar o povo na justiça e na verdade.

3. Opressão, clamor e livramento

Durante o período dos juízes, a apostasia tornou Israel vulnerável aos ataques de seus inimigos. Em vários momentos, a nação sucumbiu ao pecado, afastando-se dos mandamentos de Deus e adotando práticas pagãs. Essa infidelidade repetida levou Israel a ser oprimido por nações estrangeiras, que saqueavam suas cidades e terras, mantendo o povo sob domínio opressor por longos períodos. Exemplos disso incluem:

a)   Opressão por Cusã-Risataim:

·         Juízes 3:7-9. Israel serviu aos Baalins e Aserás, o que provocou a ira de Deus. Ele permitiu que fossem oprimidos por Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, por oito anos. Ao clamar a Deus, Otniel foi levantado como juiz e libertador.

b)   Opressão por Eglom, rei de Moabe:

·         Juízes 3:12-14. Após se desviar novamente, Israel foi entregue a Eglom, rei de Moabe, por dezoito anos. Ehud, o benjamita, foi levantado por Deus para libertar o povo.

c)   Opressão por Jabim, rei de Canaã:

·         Juízes 4:1-3. Após a morte de Ehud, Israel voltou a pecar e foi oprimido por Jabim, rei de Canaã, por vinte anos. Débora e Baraque lideraram a libertação de Israel.

d)   Opressão por Midiã:

·         Juízes 6:1-6. Israel novamente pecou e foi oprimido pelos midianitas por sete anos. Gideão foi chamado por Deus para libertar o povo.

Os Juízes como Libertadores

Os juízes (hebraico: shophetim) não eram meramente magistrados civis, mas libertadores e líderes militares. Deus os levantava em resposta ao clamor de Israel, para julgar a causa do povo e livrá-los de seus opressores. Exemplos notáveis incluem:

a)   Otniel:

·         Juízes 3:9-11. Otniel, da tribo de Judá, libertou Israel da opressão de Cusã-Risataim e trouxe quarenta anos de paz.

b)   Baraque:

·         Juízes 4:10-15. Liderado por Débora, Baraque conduziu as forças israelitas à vitória contra Sísera, comandante do exército de Jabim.

c)   Gideão:

·         Juízes 7:16-25. Gideão, com um pequeno exército de trezentos homens, derrotou os midianitas, libertando Israel da opressão.

Apesar dos repetidos ciclos de infidelidade, Deus, em Sua longanimidade e misericórdia, ouvia o clamor do povo de Israel em seus momentos de dor e aflição. Deus ouve os que clamam a Ele com sinceridade e arrependimento (cf. Jeremias 29:12,13; Isaias 55:6).

III. PROPÓSITO E MENSAGEM DO LIVRO DE RUTE

1. O cetro de Judá

O Livro de Rute serve a vários propósitos, com o principal sendo a apresentação de Davi como descendente da tribo de Judá, a linhagem real da qual o Messias, "o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi" (Apocalipse 5:5), viria. Este propósito é profundamente enraizado na profecia de Gênesis 49:10 que diz: "O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos".

Embora Rúben fosse o primogênito de Jacó, ele perdeu sua posição de liderança devido ao seu ato de desonra ao se deitar com a concubina de seu pai (Gênesis 35:22; 49:4). Como resultado, a promessa feita a Abraão continuou através da descendência de Judá. Esta transferência de liderança sublinha a importância da linhagem de Judá na história redentiva de Israel.

O propósito de registrar a genealogia de Davi no Livro de Rute é significativo, especialmente considerando que, na época da suposta autoria de Samuel, o rei de Israel era Saul, um benjamita (1Samuel 9:1,2; 25:1). Ao destacar a ancestralidade de Davi, o livro não apenas legitima Davi como o futuro rei de Israel, mas também conecta a narrativa de Rute ao cumprimento das promessas messiânicas. Davi, como descendente direto de Judá, está diretamente ligado à linhagem de onde viria o Salvador, conforme prometido a Abraão.

2. Amor e redenção

Outro propósito central do Livro de Rute é destacar o amor de Deus e Seu plano de redenção da humanidade. Boaz e Rute, representando judeus e gentios, respectivamente, prenunciam a derrubada da barreira de separação entre os dois grupos (Efésios 2:11-16). A redenção é vista no livro tanto de forma literal quanto tipológica. Boaz, como o parente remidor, preserva a descendência de Elimeleque, mas ele também é um tipo de Cristo, nosso Redentor (Isaías 59:20; Lucas 1:68; Efésios 1:7; Tito 2:14).

Boaz atua como o goel (termo hebraico para a palavra "redimir", semelhante a "redentor", pelo qual a Bíblia hebraica e a tradição rabínica denotam um parente relativo apto a restaurar os direitos perdidos por uma pessoa próxima), que resgata Rute e Noemi da desolação, garantindo-lhes segurança e um futuro. Este ato de redenção literal é uma poderosa imagem da redenção espiritual realizada por Cristo. Boaz, em sua disposição de redimir Rute, reflete a obra redentora de Jesus Cristo, que resgata a humanidade do pecado e da morte. Assim, a história de Rute e Boaz se torna uma antecipação da obra redentora de Cristo, unindo judeus e gentios em um só Corpo pela fé.

3. Fidelidade e altruísmo

O livro de Rute também nos permite ver que nem tudo eram trevas nos dias dos juízes. Havia um remanescente fiel que temia a Deus e foi usado por Ele para cumprir Seus propósitos (Jó 42:2). Em um mundo de crescente iniquidade, o justo vive pela fé (Habacuque 2:4; cf. Mateus 24:12,13).

Rute e Noemi são exemplos de fidelidade em um tempo marcado pela anarquia e apostasia. Em meio à instabilidade e infidelidade dos dias dos juízes, a história de Rute destaca a fidelidade pessoal e a providência divina. A lealdade de Rute a Noemi, deixando seu próprio povo e deuses para seguir o Deus de Israel (Rute 1:16,17), é um testemunho poderoso de compromisso e fé. Esta fidelidade não só garantiu o sustento de ambas, mas também pavimentou o caminho para o surgimento da linhagem real de Davi, da qual viria o Messias.

Outra mensagem eloquente do livro é o valor do altruísmo em uma época dominada pelo egoísmo. Durante o período dos juízes, a maioria vivia segundo seus próprios padrões e interesses (Juízes 21:25). Noemi e Rute destoam desse padrão individualista. Noemi, apesar de sua amargura, pensa no bem-estar de suas noras e encoraja-as a retornar às suas famílias para encontrar novos maridos (Rute 1:8,9). Rute, por sua vez, demonstra um altruísmo notável ao insistir em ficar com Noemi, apesar das dificuldades que ambas enfrentariam (Rute 1:16-18).

O amor altruísta de Rute para com Noemi é um reflexo do amor descrito em 1Coríntios 13:5, que "não busca os seus próprios interesses". Esta atitude de abnegação e cuidado pelos outros destaca a diferença que uma vida centrada no amor pode fazer, mesmo em tempos de escuridão moral. A bondade de Boaz para com Rute e Noemi também exemplifica este princípio, mostrando como a fidelidade a Deus se manifesta em atos de bondade e generosidade para com os necessitados.

CONCLUSÃO

O Livro de Rute nos ensina que, a despeito da incredulidade e dos pecados do homem, Deus sempre trabalha para cumprir Seus desígnios. Sem violar o princípio do livre-arbítrio humano, o Todo-poderoso conduz a história e executa Seu plano eterno de redenção.

A história de Rute destaca como Deus, em Sua soberania e fidelidade, age por meio de pessoas comuns e em circunstâncias cotidianas para realizar Seus propósitos. Desde a dedicação de Rute a Noemi até a intervenção providencial de Boaz como parente remidor, vemos que Deus está ativamente envolvido na vida de Seus servos, transformando situações difíceis em oportunidades para demonstrar Sua graça e fidelidade.

O exemplo de Rute e Noemi ilustra que, mesmo em tempos de crise e aparente ausência de direção divina, Deus está trabalhando nos bastidores. Ele é fiel em todas as coisas (Isaías 64:4), e Sua presença se faz sentir nas ações de indivíduos que, movidos pela fé e amor, se tornam instrumentos da providência divina.

Assim, o Livro de Rute nos encoraja a confiar em Deus, a permanecer fiéis em nossa caminhada e a reconhecer que, em tudo, Ele é fiel. Ele continua a usar homens e mulheres para cumprir Seus propósitos, revelando Seu amor e redenção a todos os que O buscam com sinceridade.

-------------------------

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Rute – uma perfeita história de amor.

Pr. Elinaldo Renovato de Lima. O caráter do cristão. CPAD.

Comentário Bíblico Beacon. Volume 2.