domingo, 11 de agosto de 2024

A DEPOSIÇÃO DA RAINHA VASTI E A ASCENSÃO DE ESTER



SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 07

Texto Base: Ester 1:10-12,16,17,19; 2:12-17

“Antes, dá maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes” (Tiago 4:6).

Ester 1:10-12,16,17,19

10.E, ao sétimo dia, estando já o coração do rei alegre do vinho, mandou a Meumã, Bizta, Harbona, Bigtá, Abagta, Zetar e a Carcas, os sete eunucos que serviam na presença do rei Assuero,

11.que introduzissem na presença do rei a rainha Vasti, com a coroa real, para mostrar aos povos e aos príncipes a sua formosura, porque era formosa à vista.

12.Porém a rainha Vasti recusou vir conforme a palavra do rei, pela mão dos eunucos; pelo que o rei muito se enfureceu, e ardeu nele a sua ira.

16.Então, disse Memucã na presença do rei e dos príncipes: Não somente pecou contra o rei a rainha Vasti, mas também contra todos os príncipes e contra todos os povos que há em todas as províncias do rei Assuero.

17.Porque a notícia deste feito da rainha sairá a todas as mulheres, de modo que desprezarão a seus maridos aos seus olhos, quando se disser: Mandou o rei Assuero que introduzissem à sua presença a rainha Vasti, porém ela não veio.

19.Se bem parecer ao rei, saia da sua parte um edito real, e escreva-se nas leis dos persas e dos medos, e não se revogue que Vasti não entre mais na presença do rei Assuero, e o rei dê o reino dela à sua companheira que seja melhor do que ela.

Ester 2:12-17

12.E, chegando já a vez de cada moça, para vir ao rei Assuero, depois que fora feito a cada uma segundo a lei das mulheres, por doze meses (porque assim se cumpriam os dias das suas purificações, seis meses com óleo de mirra e seis meses com especiarias e com as coisas para a purificação das mulheres),

13.desta maneira, pois, entrava a moça ao rei; tudo quanto ela desejava se lhe dava, para ir da casa das mulheres à casa do rei;

14.à tarde, entrava e, pela manhã, tornava à segunda casa das mulheres, debaixo da mão de Saasgaz, eunuco do rei, guarda das concubinas; não tornava mais ao rei, salvo se o rei a desejasse e fosse chamada por nome.

15.Chegando, pois, a vez de Ester, filha de Abiail, tio de Mardoqueu (que a tomara por sua filha), para ir ao rei, coisa nenhuma pediu, senão o que disse Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres; e alcançava Ester graça aos olhos de todos quantos a viam.

16.Assim, foi levada Ester ao rei Assuero, à casa real, no décimo mês, que é o mês de tebete, no sétimo ano do seu reinado.

17.E o rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele graça e benevolência mais do que todas as virgens; e pôs a coroa real na sua cabeça e a fez rainha em lugar de Vasti.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, abordaremos o intrigante tema da deposição da rainha Vasti e a ascensão de Ester ao trono. A narrativa se desenrola no grandioso cenário do Império Persa, sob o reinado de Assuero (Xerxes I). Vasti, a rainha, é destituída de sua posição após se recusar a atender uma ordem do rei durante um banquete. Esse evento precipitou uma busca por uma nova rainha, culminando na escolha de Ester, uma jovem judia, que por sua beleza e graça, conquistou o favor do rei. Esse episódio, além de ser uma fascinante narrativa de reviravoltas palacianas, serve como prelúdio para os acontecimentos posteriores que evidenciam a providência divina.

A ascensão de Ester ao trono não é apenas um conto de superação pessoal, mas também um elemento crucial no plano de Deus para salvar o povo judeu de um plano genocida. Assim, ao estudarmos a deposição de Vasti e a ascensão de Ester, veremos como Deus orquestra eventos históricos e pessoais para cumprir Seus propósitos soberanos.

I. O BANQUETE DE ASSUERO E A RECUSA DE VASTI

1. O rei Assuero

Assuero, também conhecido pelo nome grego Xerxes, era filho de Dario e governou o vasto Império Persa por duas décadas (486-465 a.C.). Seu reino se estendia "desde a Índia até a Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias" (Ester 1:1), refletindo a grandeza e o poder de seu domínio. No terceiro ano de seu reinado, Assuero organizou um evento monumental, convidando a nobreza imperial e os líderes das províncias para exibir a grandiosidade de seu reino e suas riquezas. Essa celebração opulenta durou 180 dias.

Historicamente, acredita-se que durante esse evento, Assuero discutiu com seus generais e conselheiros os planos para uma expedição militar contra a Grécia. Essa campanha, conforme detalhado pelo historiador grego Heródoto (484-425 a.C.), resultou em um grande fracasso para os persas. Esta tentativa de expansão e o seu consequente insucesso demonstram a complexidade e as dificuldades enfrentadas por Assuero em seu reinado, que buscava tanto a glória militar quanto a estabilidade interna. A narrativa do Livro de Ester se insere neste contexto de poder, opulência e desafios, ilustrando as intrigas e os eventos que moldaram a história do império persa.

2. Um banquete público, outro exclusivo

No final dos 180 dias de celebração, o rei Assuero, em uma demonstração de sua generosidade e poder, ofereceu um grande banquete para todo o povo de Susã, a capital do império. Esse evento foi realizado no pátio do jardim de seu palácio e destacava-se pelo luxo e a ostentação que refletiam a riqueza do império persa. A festa, planejada para durar sete dias, oferecia uma abundância de comida e bebida, sem restrições, permitindo que todos se entregassem à celebração sem limites (Ester 1:5-8).

A decoração do banquete de Assuero era magnífica. O jardim estava adornado com cortinas brancas e azuis, amarradas com cordões de linho fino e púrpura, e os convidados reclinavam-se em sofás de ouro e prata sobre um pavimento de alabastro, mármore, madre-pérola e pedras preciosas (Ester 1:6). Os servos serviam vinho real em abundância, conforme a generosidade do rei, e a bebida era oferecida em vasos variados, cada um diferente do outro, enfatizando ainda mais a singularidade e o esplendor do evento (Ester 1:7).

Paralelamente ao banquete de Assuero, a rainha Vasti, cuja identidade alguns estudiosos associam à Améstris mencionada por Heródoto, organizou um banquete exclusivo para as mulheres no palácio real (Ester 1:9). Este evento restrito, embora menos grandioso em termos de convidados, refletia o papel importante que as mulheres da corte desempenhavam e a tradição de eventos separados por gênero nas culturas antigas.

Os dois banquetes, embora separados por gênero, simbolizavam a coexistência das esferas pública e privada no império persa. O banquete público de Assuero era uma afirmação de poder e magnanimidade, um evento político e social que reafirmava a estabilidade e a opulência do seu reinado. Por outro lado, o banquete de Vasti, restrito às mulheres, sublinhava a importância e a influência das mulheres na corte, mesmo que suas ações e decisões fossem frequentemente confinadas ao âmbito privado.

O cenário dos banquetes estabelece o palco para os eventos subsequentes do Livro de Ester. A narrativa sugere que, embora Assuero estivesse no auge de seu poder, a tensão nas relações pessoais e a dinâmica de gênero na corte persa poderiam ter implicações significativas. O pedido de Assuero para que Vasti se apresentasse perante seus convidados masculinos, e a subsequente recusa de Vasti, desencadeariam uma série de eventos que culminariam na ascensão de Ester como rainha.

Em resumo, os banquetes de Assuero e Vasti são mais do que meras festividades; eles são uma representação das complexas interações sociais e políticas do império persa. A opulência e a segregação de gênero nos banquetes refletem as hierarquias e as normas culturais da época, preparando o leitor para entender as tensões e as resoluções que seguirão na narrativa do Livro de Ester.

3. O convite à rainha Vasti

No sétimo dia do banquete oferecido pelo rei Assuero, a atmosfera estava carregada de euforia e celebração. O rei, tendo consumido uma quantidade significativa de vinho, estava em um estado de grande exultação e agitação – “o coração do rei estava alegre do vinho” (Ester 1:10). Este contexto de embriaguez e exaltação é crucial para entender o que ocorreu a seguir.

Movido por um desejo de exibir o esplendor de seu reino e a beleza de sua rainha, Assuero ordenou que Vasti fosse trazida à sua presença, “com a coroa real, para mostrar aos povos e aos príncipes a sua formosura, porque era formosa à vista” (Ester 1:11). Este ato, embora aparentemente uma simples demonstração de orgulho, carrega implicações significativas sobre a dinâmica de poder e gênero na corte persa.

A ordem do rei, embora aparentemente uma simples demonstração de orgulho e vaidade, carrega consigo profundas implicações. Assuero queria mostrar a todos a formosura de Vasti, tratando-a como um troféu para aumentar sua própria glória e prestígio. A solicitação do rei foi entregue por sete eunucos, simbolizando a formalidade e a seriedade do decreto real.

A rainha Vasti, ao receber a ordem do rei através dos sete eunucos que ele enviou, tomou uma decisão audaciosa: recusou-se a comparecer (Ester 1:12). Veremos a repercussão e as consequências deste ato no próximo tópico.

II. VASTI RESISTE À ORDEM DO REI E É DEPOSTA

1. A recusa da rainha

No sétimo dia do grandioso banquete oferecido pelo rei Assuero, o clima de festividade estava no auge, exacerbado pelo consumo abundante de vinho (Ester 1:10). Nessa atmosfera de embriaguez e exaltação, Assuero, desejando exibir não apenas as riquezas de seu reino, mas também a beleza de sua rainha, ordenou que Vasti fosse trazida à sua presença, adornada com a coroa real, para ser exibida diante de seus convidados (Ester 1:11).

Surpreendentemente, Vasti recusou-se a comparecer. Ao desobedecer a uma ordem direta do rei, Vasti desafiou a autoridade de Assuero. Este ato de desobediência foi extremamente ousado, considerando a cultura persa, onde a palavra do rei era lei e a desobediência poderia resultar em severas consequências.

A recusa de Vasti causou um grande tumulto. Assuero ficou extremamente irado, e seus conselheiros expressaram preocupações sobre as implicações dessa desobediência. Eles temiam que a atitude de Vasti pudesse inspirar outras mulheres a desobedecerem a seus maridos, minando a ordem social e a autoridade masculina em todo o reino (Ester 1:16-18). Para evitar tal crise, os conselheiros sugeriram uma medida drástica: Vasti deveria ser destituída de seu título de rainha, e uma nova rainha deveria ser escolhida.

Justificativas para a desobediência de Vasti

Fontes extrabíblicas e interpretações tradicionais às vezes justificam a desobediência de Vasti, alegando que a ordem do rei era indecorosa ou mesmo absurda. Alguns sugerem que Assuero queria que Vasti aparecesse vestindo apenas a coroa real, o que seria uma grave violação de decoro.

No entanto, a Bíblia não fornece detalhes sobre a natureza específica do pedido do rei, limitando-se a dizer que Vasti foi convocada para mostrar sua formosura aos convidados do banquete.

Perigos da Eisegese

A utilização de fontes extrabíblicas pode enriquecer nossa compreensão do contexto histórico e cultural dos eventos bíblicos. No entanto, é importante distinguir entre exegese, que busca extrair o significado original do texto, e eisegese, que projeta interpretações e significados alheios ao texto bíblico. Quando fontes externas são usadas para sugerir interpretações que não são sustentadas pelo texto bíblico, corre-se o risco de distorcer o sentido das Escrituras.

A Narrativa bíblica

A narrativa bíblica é concisa e simples: uma festa pública estava em andamento, e a rainha Vasti recusou-se a atender ao chamado do rei. A Bíblia não dá detalhes sobre os motivos de Vasti ou a natureza precisa da ordem do rei. Alguns estudiosos modernos e tradições interpretativas têm tentado pintar Vasti como uma figura de dignidade e virtude, resistindo a uma ordem indecorosa. Contudo, o texto bíblico não apoia explicitamente essa leitura.

Amestris e Vasti

A identidade de Vasti é outro ponto de debate. Alguns sugerem que Vasti poderia ser a mesma Amestris mencionada por Heródoto, descrita como uma mulher astuta e sanguinária. Se Vasti é de fato Amestris, então a interpretação de seu caráter e suas ações pode ser influenciada por essas descrições extrabíblicas. Amestris é retratada como uma figura de poder e intriga, o que poderia contrastar com a imagem de uma rainha virtuosa resistindo a um pedido indecoroso.

Em resumo, o episódio da recusa de Vasti e sua subsequente deposição levanta questões importantes sobre poder, autoridade, e a posição das mulheres na sociedade persa antiga. Enquanto as fontes extrabíblicas podem oferecer contextos adicionais, é crucial interpretar a narrativa bíblica com base no que o texto realmente revela. A Bíblia nos fornece uma narrativa clara: Vasti recusou-se a obedecer ao comando do rei durante um banquete, resultando em sua deposição. Especulações sobre os motivos e o caráter de Vasti devem ser cuidadosamente avaliadas para evitar projeções indevidas que possam obscurecer a mensagem e a intenção original do texto bíblico.

2. A aplicação da lei

A recusa de Vasti foi um ato que, aos olhos do rei e seus conselheiros, não apenas desafiava a autoridade de Assuero, mas também podia incitar desobediência entre outras mulheres do império.

Apesar da fúria inicial, Assuero não tomou uma decisão imediata e arbitrária. Ele suportou o constrangimento de ver seus eunucos voltarem sem a rainha e submeteu o caso à consideração de seus conselheiros sábios, entendidos na lei dos medos e persas (Ester 1:13,14).

Este ato de consultar os sábios demonstra a prudência do rei e o respeito pelas normas legais. Assuero reconhecia a importância de uma decisão que não apenas refletisse sua autoridade, mas que também fosse consistente com a lei do império.

Então, Assuero perguntou aos sábios e entendidos sobre a lei: “O que, segundo a lei, se devia fazer da rainha Vasti, por não haver cumprido o mandado do rei Assuero?” (Ester 1:15). Esta questão indica a preocupação do rei em assegurar que sua resposta à desobediência de Vasti estivesse em conformidade com a legislação vigente.

A questão também destaca a dificuldade da situação: o rei precisava reafirmar sua autoridade, não apenas sobre a rainha, mas sobre todo o império. A capacidade de Assuero de governar seria posta em dúvida se ele não tomasse uma medida decisiva e legalmente respaldada.

Veja que, mesmo em um estado de fúria e constrangimento, o rei demonstrou prudência ao buscar orientação legal antes de tomar uma decisão. Este episódio sublinha a importância das normas legais e do processo judiciário no governo persa, refletindo uma sociedade onde o respeito às leis era fundamental para a manutenção da ordem e da autoridade.

3. A sentença de Vasti

Após a rejeição pública de Vasti em aparecer diante do rei e seus convidados, Assuero, embora irritado, não tomou uma decisão imediata. Em vez disso, consultou seus conselheiros, evidenciando uma liderança que valoriza o conselho e a prudência, mesmo sob pressão. Esta consulta visava entender a implicação da recusa de Vasti dentro do contexto das leis persas e medas.

Entre os conselheiros estava Memucã, que interpretou a ação de Vasti como uma ameaça à ordem social e familiar em todo o reino. Ele argumentou que a desobediência da rainha poderia incitar outras mulheres a desprezar seus maridos, causando um desrespeito generalizado e desordem (Ester 1:16-18).

Para evitar essa repercussão negativa, Memucã aconselhou que Vasti fosse deposta e seu título de rainha fosse dado a outra mulher que fosse mais obediente e respeitasse o rei. Ele propôs também que um decreto fosse enviado a todas as províncias, afirmando que cada homem deveria ser o senhor em sua própria casa, reforçando a autoridade masculina no lar (Ester 1:19-22).

O conselho de Memucã agradou a Assuero e seus nobres e implementou as seguintes recomendações:

ü  Deposição de Vasti. Vasti foi formalmente destituída de seu título e posição como rainha. Esta ação não apenas a punia pela desobediência, mas também servia como um exemplo para todas as mulheres do império sobre as consequências de desrespeitar a autoridade de seus maridos.

ü  Decreto real. Um decreto foi emitido e enviado a todas as províncias do império persa. O decreto, escrito nas línguas de cada povo, estabelecia que cada homem deveria ser o senhor em sua casa, reforçando a hierarquia familiar e a importância da autoridade masculina (Ester 1:22).

Análise e reflexão

A sentença de Vasti pode ser vista sob várias perspectivas:

a)   Perspectiva social e política. A decisão de depor Vasti e o subsequente decreto buscavam manter a ordem social e evitar qualquer desafio à autoridade estabelecida. Isso mostra a preocupação do governo persa em preservar a estrutura social e a estabilidade do império.

b)   Liderança e responsabilidade. A decisão de Assuero de consultar seus conselheiros antes de tomar uma decisão final demonstra prudência e a importância de liderança baseada em conselhos sábios. Isso também reflete a ideia de que um líder deve ser capaz de tomar decisões difíceis para preservar a ordem e a autoridade. Para líderes cristãos e estudiosos da Bíblia, esta história oferece uma lição sobre a importância da prudência, da consulta e da liderança responsável.

c)   Implicações para o futuro. A deposição de Vasti abriu caminho para a ascensão de Ester, que se tornaria uma figura crucial no livramento dos judeus da ameaça de extermínio. Esta mudança na liderança real foi um ponto de virada que teve implicações significativas para a história do povo judeu.

III. ESTER, A JUDIA, SE TORNA RAINHA EM TERRA ESTRANHA

1. Quatro anos depois

Quatro anos após a deposição de Vasti, a busca por uma nova rainha para o império persa teve início. Esse evento não foi apenas uma questão de realeza, mas estava profundamente entrelaçado com as circunstâncias políticas e militares da época, bem como com a dinâmica pessoal do rei Assuero (Xerxes I).

Em 480 a.C., Assuero liderou uma grande expedição militar contra a Grécia, culminando na Batalha de Salamina. Esta batalha naval foi um desastre para os persas, resultando na quase total destruição de sua frota. O fracasso militar teve profundas repercussões, não apenas enfraquecendo o poder persa, mas também afetando o moral e a autoridade do rei Assuero.

Desmoralizado e frustrado, Assuero retornou a Susã, a capital do império, para reorganizar seu governo e reassumir o controle após a derrota. Foi durante este período de reflexão e reorganização que a memória de Vasti voltou à sua mente (Ester 2:1). Assuero começou a lembrar-se de Vasti e do decreto que havia emitido contra ela. Este reflexo de saudade e arrependimento é mencionado em Ester 2:1, onde se sugere que o rei ponderou sobre suas ações e a perda de Vasti.

Para lidar com a solidão e a necessidade de uma nova rainha, os conselheiros mais próximos de Assuero sugeriram a organização de um concurso para escolher uma nova rainha. Esta proposta visava não apenas preencher o vazio deixado por Vasti, mas também revitalizar a corte com a presença de uma nova figura real (Ester 2:2-4).

2. O Concurso real

A escolha de uma nova rainha para substituir Vasti, ocorrida após a desastrosa campanha militar de Assuero contra os gregos, foi um evento significativo tanto política quanto espiritualmente.

O plano envolvia reunir as mais belas jovens virgens do império persa, que deveriam passar por um extenso período de preparação e embelezamento sob os cuidados de Hegai, o eunuco responsável pelo harém real (Ester 2:3). Este processo de seleção e embelezamento era rigoroso e detalhado, refletindo a grandiosidade e a complexidade da corte persa. As jovens passavam por doze meses de tratamentos de beleza antes de serem apresentadas ao rei (Ester 2:12).

Entre as muitas jovens escolhidas para participar do concurso estava Hadassa, conhecida como Ester, uma jovem judia criada por seu primo Mardoqueu. Ester se destacou rapidamente aos olhos de Hegai e, eventualmente, ganhou o favor do rei Assuero (Ester 2:7-9, 2:17).

Em 479 a.C., Ester foi coroada rainha, substituindo Vasti. Esta elevação de uma jovem judia ao posto de rainha do poderoso império persa é um testemunho da providência divina e da soberania de Deus, que coloca pessoas estratégicas em posições de influência para cumprir Seus propósitos.

Ester não foi apenas uma figura decorativa; sua posição como rainha lhe deu uma plataforma de influência significativa. Ela utilizaria essa posição para interceder pelo povo judeu, demonstrando coragem e sabedoria em tempos de crise. Embora o livro de Ester não mencione diretamente Deus, a narrativa mostra como Ele trabalha através de circunstâncias e decisões humanas para proteger e promover o Seu povo.

3. A obediência de Ester

A obediência de Ester é um aspecto fundamental na narrativa do livro que leva seu nome, destacando-se por sua fidelidade e respeito a Mardoqueu, seu primo e tutor. Esta virtude de Ester é um tema recorrente que demonstra a dinâmica de confiança e sabedoria entre eles.

Mardoqueu instruiu Ester a não revelar sua origem e sua família (Ester 2:10). A razão exata dessa ordem não é explicitada no texto, mas pode-se inferir que Mardoqueu estava protegendo Ester de possíveis preconceitos ou perigos que poderiam surgir devido à sua etnia judaica. Embora o processo de seleção da nova rainha não fosse restrito por questões étnicas, Mardoqueu pode ter previsto situações em que o preconceito contra judeus poderia prejudicar Ester ou sua posição.

Ester seguiu as instruções de Mardoqueu rigorosamente, demonstrando uma obediência que não exigia explicações detalhadas. Essa atitude reflete uma relação de confiança mútua e respeito profundo. A obediência de Ester é uma expressão de sua humildade e lealdade, qualidades que a destacam como uma figura admirável na narrativa.

Mardoqueu mostrava uma preocupação constante pelo bem-estar de Ester, passando diariamente pelo pátio da casa das mulheres para saber como ela estava (Ester 2:11). Esta vigilância contínua revela o afeto e a responsabilidade que ele sentia por ela, assim como a importância que Ester tinha para ele.

A relação entre Mardoqueu e Ester é marcada por respeito e cuidado mútuo. Ele desempenhava o papel de protetor e guia, enquanto Ester, por sua vez, demonstrava respeito e confiança em suas decisões. Este relacionamento é fundamental para a narrativa, pois estabelece a base de apoio emocional e estratégico que Ester necessitará para enfrentar os desafios futuros.

Ester passou pelos doze meses de preparação, como era costume para todas as virgens que se apresentavam ao rei (Ester 2:12). Esse período de preparação incluía tratamentos de beleza e cuidados especiais, o que sublinha a importância e o rigor do processo de seleção da nova rainha.

Quando chegou a sua vez de ser apresentada ao rei Assuero, Ester destacou-se entre todas as outras mulheres. O rei a amou mais do que a todas as outras e ela encontrou graça e benevolência diante dele. Assuero colocou a coroa real na cabeça de Ester e a fez rainha em lugar de Vasti (Ester 2:17).

CONCLUSÃO

O tema da deposição da rainha Vasti e a ascensão de Ester destaca-se como uma narrativa rica em lições sobre providência divina, obediência e sabedoria estratégica. A história começa com a deposição de Vasti, que recusou o comando do rei Assuero, levando a uma decisão legal e ponderada para manter a ordem e o respeito no reino. Em contraste, a ascensão de Ester, marcada por sua obediência e humildade, demonstra como a confiança nas instruções de Mardoqueu e a providência de Deus podem mudar o destino de uma pessoa e de um povo.

A transição de Vasti para Ester como rainha não apenas mostra a importância de liderança e submissão, mas também prepara o caminho para a atuação crucial de Ester na salvação de seu povo. Ester, ao seguir os conselhos de Mardoqueu e confiar na sabedoria divina, exemplifica a força e a coragem necessárias para enfrentar grandes desafios. Assim, a história ressalta que, mesmo nas circunstâncias mais adversas, a providência divina pode operar para transformar situações difíceis em oportunidades de redenção e vitória.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Rute – uma perfeita história de amor.

Pr. Elinaldo Renovato de Lima. O caráter do cristão. CPAD.

Comentário Bíblico Beacon. Volume 2.


domingo, 4 de agosto de 2024

O LIVRO DE ESTER

         


SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 06

Texto Base: Ester 1:1-9

“Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento doutra parte virá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Ester 4:14).

Ester 1:

1.E sucedeu, nos dias de Assuero (este é aquele Assuero que reinou, desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias);

2.naqueles dias, assentando-se o rei Assuero sobre o trono do seu reino, que está na fortaleza de Susã,

3.no terceiro ano de seu reinado, fez um convite a todos os seus príncipes e seus servos (o poder da Pérsia e Média e os maiores senhores das províncias estavam perante ele),

4.para mostrar as riquezas da glória do seu reino e o esplendor da sua excelente grandeza, por muitos dias, a saber, cento e oitenta dias.

5.E, acabados aqueles dias, fez o rei um convite a todo o povo que se achou na fortaleza de Susã, desde o maior até ao menor, por sete dias, no pátio do jardim do palácio real.

6.As tapeçarias eram de pano branco, verde e azul celeste, pendentes de cordões de linho fino e púrpura, e argolas de prata, e colunas de mármore; os leitos eram de ouro e de prata, sobre um pavimento de pórfiro, e de mármore, e de alabastro, e de pedras preciosas.

7.E dava-se de beber em vasos de ouro, e os vasos eram diferentes uns dos outros; e havia muito vinho real, segundo o estado do rei.

8.E o beber era, por lei, feito sem que ninguém forçasse a outro; porque assim o tinha ordenado o rei expressamente a todos os grandes da sua casa que fizessem conforme a vontade de cada um.

9.Também a rainha Vasti fez um banquete para as mulheres da casa real do rei Assuero.

INTRODDUÇÃO

Com esta Lição iniciamos a segunda parte do estudo deste Trimestre letivo. Vamos estudar agora o Livro de Ester. Este Livro é uma narrativa fascinante e única no cânon bíblico. Apesar da ausência de menção explícita a Deus, sua história é uma poderosa demonstração da providência e da soberania de Deus sobre as circunstâncias da vida.

O Livro de Ester oferece lições valiosas sobre a soberania de Deus, a importância da coragem moral e a lealdade à fé e ao povo de Deus; ele nos ensina que, mesmo quando Deus parece ausente, Ele está ativamente envolvido na proteção e provisão para Seu povo. As histórias de intervenção divina, justiça e redenção que permeiam o livro continuam a ressoar com poder e relevância na vida dos crentes contemporâneos.

Ao estudarmos o Livro de Ester, somos lembrados de que Deus está presente em todas as circunstâncias da vida, trabalhando para o bem daqueles que O amam. A história de Ester nos encoraja a confiar na providência divina, a defender o que é justo e a permanecer firmes em nossa fé, sabendo que Deus é soberano sobre todas as coisas.

I. A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO

1. A Categorização de Ester

O Livro de Ester é um componente essencial das Escrituras, com uma categorização única tanto na Bíblia Hebraica quanto na Bíblia Cristã.

Na Bíblia Hebraica

O Livro de Ester pertence aos Ketuvim, a terceira seção da Bíblia Hebraica. Esta seção inclui onze livros variados em estilo e tema, abrangendo poesia, sabedoria e narrativa histórica.

Dentro dos Ketuvim, Ester é um dos cinco livros conhecidos como Megillot, ou "Rolos". Estes livros são: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester. Cada um desses livros é lido publicamente durante uma das principais festas judaicas:

  • Cântico dos Cânticos é lido na Páscoa.
  • Rute é lido no Pentecostes (Shavuot).
  • Lamentações é lido no Tisha B'Av.
  • Eclesiastes é lido no Sucot.
  • Ester é lido no Purim.

Ester é particularmente significativo durante o Purim, uma festa que celebra a salvação dos judeus da destruição planejada por Hamã. Durante Purim, o Livro de Ester é lido integralmente na sinagoga, lembrando os fiéis do heroísmo de Ester e da providência divina.

Na Bíblia Cristã

Na Bíblia Cristã, Ester é categorizado entre os livros históricos, um agrupamento que traça a história de Israel desde a entrada na Terra Prometida até o período pós-exílico. Esta seção inclui livros como Josué, Juízes, Rute, Samuel, Reis, Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.

Ester é reconhecido pela sua canonicidade e aceito como parte da revelação divina escrita. A canonicidade do livro é destacada por sua inclusão na lista dos livros inspirados das Escrituras Sagradas, conforme mencionado em 2Timóteo 3:16,17, que afirma que toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, repreensão, correção e instrução na justiça.

Importância teológica e litúrgica

Embora Deus não seja mencionado explicitamente no Livro de Ester, a narrativa é um testemunho poderoso da providência divina. A ausência de menção direta a Deus serve para enfatizar como Ele opera por trás das cenas, usando pessoas e circunstâncias para cumprir Seus propósitos.

Ester também destaca a importância da identidade e da fé judaica em um contexto de dispersão. O livro mostra como a fidelidade ao povo de Deus pode levar à proteção e preservação divina, mesmo em terras estrangeiras.

A história de Ester e Mardoqueu oferece lições valiosas de coragem, liderança, e a importância de se posicionar pelo que é justo e verdadeiro, mesmo diante de grande perigo.

2. Características literárias

O Livro de Ester, com sua narrativa vibrante e intricada, possui várias características literárias que o distinguem e realçam seu valor teológico, histórico e literário. A seguir, exploramos algumas dessas características:

Narrativa e estrutura

ü Intriga e suspense. A narrativa de Ester é rica em intriga e suspense. Desde a deposição da rainha Vasti até o desmascaramento e queda de Hamã, a história mantém o leitor engajado com uma série de reviravoltas dramáticas. A tensão é habilmente construída, especialmente na cena em que Ester se aproxima do rei sem ser convocada, um ato que poderia ter resultado na sua morte.

ü Estrutura Quiástica. A estrutura quiástica (“construção de palavras e ideias contrastantes que auxiliam na compreensão e no destaque da mensagem”) é evidente no Livro de Ester, onde os eventos iniciais são espelhados nos eventos finais. Exemplos: a elevação de Hamã e o decreto para exterminar os judeus é contrastada com a humilhação de Hamã e o decreto que salva os judeus; a ascensão de Ester e Mardoqueu é espelhada pela queda de Vasti e Hamã.

Personagens e desenvolvimento

ü Caracterização. Os personagens são bem delineados e desenvolvidos ao longo da narrativa. Ester evolui de uma jovem judia anônima a uma rainha corajosa e decisiva. Mardoqueu é apresentado como um homem íntegro e sábio, cujo papel de liderança é crucial para a sobrevivência dos judeus. Hamã é caracterizado como o vilão arquetípico, cuja arrogância e ódio levam à sua própria destruição.

ü Diálogo e monólogo. Os diálogos no livro são vitais para o desenvolvimento da trama e para a revelação das motivações e caráter dos personagens. Os monólogos, especialmente de Hamã, revelam seu orgulho e intenções malignas, enquanto os diálogos entre Ester e o rei mostram sua sagacidade e coragem.

Temas e motivos

ü Providência divina. Um dos temas centrais é a providência divina. Embora Deus não seja mencionado explicitamente, a narrativa sugere fortemente que os eventos são guiados por uma mão invisível. A escolha de Ester como rainha, o descobrimento da conspiração contra o rei por Mardoqueu, e a série de coincidências que levam à queda de Hamã são todos vistos como atos da providência divina.

ü Reversão e ironia. A reversão de destinos é um motivo recorrente. Hamã, que planejou a morte de Mardoqueu, acabou sendo enforcado na forca que ele mesmo preparou. Mardoqueu, que estava destinado à morte, foi exaltado. Esta ironia dramática sublinha a justiça retributiva presente no livro.

ü Identidade e lealdade. A identidade judaica e a lealdade à comunidade são temas centrais. Ester deve escolher entre sua segurança pessoal e seu dever para com seu povo. Mardoqueu se recusa a se curvar a Hamã, demonstrando sua lealdade a Deus e sua identidade judaica.

Estilo e linguagem

ü Formalidade e protocolo. O livro usa uma linguagem que reflete a formalidade e o protocolo da corte persa. O uso de banquetes e decretos reais como dispositivos narrativos reforça o cenário imperial.

ü Uso de festas e banquetes. Os banquetes desempenham um papel crucial na trama, servindo como pontos de virada importantes. O banquete de Vasti leva à sua deposição, e os banquetes organizados por Ester são usados para revelar a conspiração de Hamã.

ü Simbolismo e metáfora. A narrativa emprega simbolismo e metáforas para enriquecer a história. Por exemplo, a coroa que Ester recebeu simboliza não apenas sua realeza, mas também sua responsabilidade para com seu povo. A forca preparada por Hamã se tornou um símbolo de sua própria destruição.

Estilo literário

ü Ausência de menção explicita de Deus. Uma característica notável é a ausência de qualquer menção explícita a Deus, oração, ou leis judaicas, o que é incomum em textos bíblicos. Isso força os leitores a reconhecerem a providência divina nas entrelinhas da narrativa.

ü Influência Persa. A influência da cultura e política persa é evidente no estilo literário. A atenção aos detalhes sobre a vida na corte persa e o uso de termos específicos da administração persa enriquecem a autenticidade do contexto histórico.

Em resumo, o Livro de Ester é uma obra-prima literária com uma narrativa envolvente, personagens complexos e uma estrutura sofisticada. A ausência de menção explícita a Deus e a presença de reviravoltas dramáticas servem para destacar a providência divina e a justiça moral. Sua categorização tanto na Bíblia Hebraica quanto na Cristã reflete sua importância teológica e literária. Essas características fazem de Ester uma narrativa poderosa sobre identidade, coragem, e a soberania de Deus nas circunstâncias da vida.

3. Autoria e data

3.1. Autoria

A autoria do Livro de Ester é tradicionalmente anônima, e o texto em si não atribui explicitamente a autoria a nenhum indivíduo. No entanto, diversas teorias e tradições surgiram ao longo do tempo:

a) Esdras ou Neemia

Alguns estudiosos sugerem que Esdras ou Neemias poderiam ser os autores do livro, devido ao estilo e à época em que viveram. Ambos tiveram papéis significativos na restauração da comunidade judaica após o exílio babilônico.

b) Mardoqueu

Outra tradição, particularmente presente no Talmude, sugere que Mardoqueu, uma das figuras centrais da narrativa, pode ter sido o autor ou, ao menos, uma fonte de informações essenciais para a composição do livro.

c) Autores anônimos da corte Persa

Alguns estudiosos acreditam que o autor poderia ter sido um judeu familiarizado com a corte persa, o que explicaria o conhecimento detalhado sobre a cultura, política e costumes persas presentes no texto.

3.2 Data

A data da composição do Livro de Ester também é um assunto de debate entre estudiosos. No entanto, há algumas pistas que nos ajudam a estimar um período aproximado:

a) Período do reinado de Xerxes I (Assuero)

O rei Assuero mencionado no livro é geralmente identificado como Xerxes I, que reinou sobre o Império Persa de 486 a 465 a.C. O contexto histórico e os eventos descritos sugerem que a narrativa se desenrola durante este período.

b) Data pós-exílica

A maioria dos estudiosos concorda que o livro foi escrito algum tempo após os eventos que descreve, provavelmente no período pós-exílico, entre o final do século V e o início do século IV a.C.; provavelmente, por volta do ano de 460 a.C. Isso é apoiado pela menção de práticas e costumes que refletem uma comunidade judaica já restabelecida.

c) Indícios textuais

O uso de termos persas, detalhes sobre a administração persa e o estilo literário indicam que o autor estava bem informado sobre a vida e a estrutura do Império Persa, sugerindo uma data próxima aos eventos descritos.

d) Tradições judaicas

As tradições judaicas que celebram o festival de Purim, instituído como resultado dos eventos narrados no livro, também sugerem que a composição do livro ocorreu enquanto essas tradições estavam sendo firmemente estabelecidas, o que corrobora uma datação não muito distante dos acontecimentos originais.

II. O CONTEXTO HISTÓRICO

1. O povo Hebreu no exílio

Para compreender plenamente o contexto histórico do Livro de Ester, é essencial examinar os eventos que levaram ao período do exílio e como isso influenciou a vida do povo hebreu.

a) Queda do reino do Norte (Israel) - 722 a.C.

Em 722 a.C., o Reino do Norte (Israel) caiu sob o poder dos assírios, conforme relatado em 2Reis 17:6. Este evento marcou o início de uma série de cativeiros que afetariam significativamente o povo hebreu. Os assírios deportaram muitos israelitas, dispersando-os por todo o seu império, o que resultou na famosa "dispersão" ou diáspora.

b) Queda do reino do Sul (Judá) e o cativeiro Babilônico - 605, 597, 586 a.C.

Pouco mais de 100 anos depois, o Reino do Sul (Judá) também enfrentou um destino semelhante. A Babilônia, sob o reinado de Nabucodonosor, levou Judá ao cativeiro em três levas distintas:

  • Primeira deportação (605 a.C.). Esta primeira deportação ocorreu quando Nabucodonosor derrotou o Egito e tomou controle do Território de Israel. Durante esta leva, nobres e jovens promissores de Judá, incluindo Daniel e seus amigos, foram levados para a Babilônia.
  • Segunda deportação (597 a.C.). Esta deportação seguiu uma revolta malsucedida contra a Babilônia, liderada pelo rei Joaquim. Nabucodonosor sitiou Jerusalém, capturou o rei Joaquim e levou mais cidadãos de Judá para o exílio, incluindo o profeta Ezequiel.
  • Terceira deportação (586 a.C.). Após outra revolta, Jerusalém foi completamente destruída. O templo foi queimado e a cidade arrasada. Este evento marcou a destruição total de Judá como uma entidade política independente, e muitos mais foram levados ao exílio babilônico.

c) Profecias de Jeremias e o período de exílio

O profeta Jeremias havia profetizado que o exílio na Babilônia duraria 70 anos (Jeremias 25:11; 29:10-14). Este período foi visto como um tempo de disciplina e purificação para o povo de Judá, particularmente no que diz respeito à idolatria que havia contaminado a nação. Ezequiel, contemporâneo de Jeremias, também abordou esse tema, enfatizando a necessidade de Israel abandonar seus ídolos e voltar-se para o Deus verdadeiro (Ezequiel 36:16-25).

A idolatria era uma das principais razões para a disciplina divina sobre Judá. Esta disciplina visava extirpar a idolatria do coração do povo e restaurar sua lealdade exclusiva ao Senhor. Deus abomina todo pensamento, sentimento e comportamento idolátrico, como claramente exposto em Romanos 1:18-25. A idolatria não é meramente a adoração de imagens, mas qualquer coisa que ocupa o lugar de Deus em nossos corações (1João 2:15-17).

d) Retorno e reconstrução

Após o término dos 70 anos de exílio, conforme profetizado por Jeremias, Ciro, o rei da Pérsia, permitiu que os judeus retornassem à sua terra natal para reconstruir o templo e Jerusalém. Este retorno ocorreu em várias ondas, com Zorobabel, Esdras e Neemias desempenhando papéis fundamentais na restauração da nação judaica.

2. O fim do exílio

Durante o exílio babilônico, Deus não apenas julgava Judá por sua idolatria, mas também exercia Seu justo juízo sobre a própria Babilônia por sua iniquidade. O profeta Jeremias havia predito que Babilônia seria punida após 70 anos de dominação (Jeremias 25:12). Anteriormente, Deus já havia julgado a Assíria por meio do profeta Naum, deixando claro que Ele não inocenta o culpado (Naum 1:2,3).

A queda da Babilônia e a ascensão da Pérsia

Em 539 a.C., Ciro, o Grande, rei da Pérsia, derrotou Babilônia e anexou seu território ao império persa. Esta mudança de poder foi significativa para o povo judeu. Logo no primeiro ano de seu reinado, "despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia", levando-o a emitir um decreto que permitia o retorno dos judeus a Jerusalém e a reconstrução do templo (Esdras 1:1-3). Esta decisão foi em resposta à oração fervorosa de Daniel, que jejuou e orou intensamente pela restauração de Jerusalém, confessando os pecados de Israel (Daniel 9:1-19).

Lições sobre soberania e intervenção divina

O ensino bíblico sobre nosso relacionamento com as estruturas de poder terreno enfatiza a confiança na soberania de Deus e a busca humilde por Sua intervenção. Conforme 2Crônicas 7:14, Deus promete ouvir e curar a terra se Seu povo se humilhar, orar, buscar Sua face e se converter de seus maus caminhos. Este princípio é reiterado no Novo Testamento, onde Paulo exorta a igreja a orar por todos os homens, especialmente por aqueles em autoridade, para que possamos viver vidas tranquilas e piedosas (1Timóteo 2:1-4). A oração e a intercessão são ferramentas poderosas que contribuem para o cumprimento do maior propósito de Deus: a salvação de todos os homens, inclusive daqueles que não governam segundo os valores divinos.

3. O Pós-Exílio

O Livro de Ester narra eventos que ocorreram na capital do império persa, Susã, entre o primeiro e o segundo retorno dos judeus para Jerusalém. Após a queda da Babilônia em 539 a.C., o rei Ciro da Pérsia emitiu um decreto permitindo que os judeus retornassem à sua terra natal para reconstruir o Templo em Jerusalém (Esdras 1:1-3). No entanto, apesar deste decreto, a maioria dos judeus optou por permanecer nas cidades onde haviam se estabelecido na Babilônia, devido à estabilidade e à prosperidade que ali encontraram.

O Primeiro Retorno

Apenas cerca de 50 mil judeus retornaram a Jerusalém sob a liderança de Zorobabel, no segundo ano do reinado de Ciro, aproximadamente em 538 a.C. Este retorno é detalhado nos capítulos 1 a 6 do Livro de Esdras. Aqueles que voltaram enfrentaram enormes desafios, incluindo a reconstrução do Templo em meio à oposição dos habitantes locais e a necessidade de restabelecer a vida religiosa e social em Jerusalém.

Intervalo Entre os Retornos

Entre os capítulos 6 e 7 do Livro de Esdras, há um intervalo de cerca de 60 anos. É nesse período que se situam os eventos descritos no Livro de Ester, especificamente entre 483 e 473 a.C. Esse período é crucial para entender a situação dos judeus que permaneceram na diáspora.

A Situação dos Judeus na Diáspora

Estima-se que mais de um milhão de judeus viviam na região da Babilônia durante esse período. Embora tivessem a opção de retornar a Jerusalém, muitos preferiram ficar devido à estabilidade econômica e social que encontraram na Babilônia e nas cidades persas. Essa decisão criou uma comunidade judaica significativa e influente na diáspora, que teve que navegar a vida sob o domínio persa, preservando sua identidade e fé.

O Livro de Ester se passa nesse contexto de dispersão judaica e narra a história de Ester, uma jovem judia que se torna rainha da Pérsia, e seu primo Mardoqueu. Eles enfrentaram a ameaça existencial representada por Hamã, um oficial persa que planejou exterminar os judeus. Através da coragem e da astúcia de Ester e Mardoqueu, o plano de Hamã foi frustrado, e os judeus foram salvos.

III. PROPÓSITO E MENSAGEM DO LIVRO DE ESTER

1. A providência divina

O principal propósito do Livro de Ester é destacar o cuidado providencial de Deus com Seu povo, mesmo quando eles fazem escolhas que parecem estar fora de Seu propósito explícito. A decisão dos judeus de permanecer na Babilônia, sob o domínio do Império Persa, foi motivada por uma busca de estabilidade não só econômica, mas também cultural, social e religiosa. Os persas eram conhecidos por sua política de benevolência e tolerância, especialmente em relação à liberdade religiosa, o que tornou a vida na diáspora aparentemente mais atraente.

Escolha pela estabilidade

Os judeus que decidiram não retornar a Jerusalém fizeram isso com base em uma avaliação das condições que enfrentariam. Retornar à terra natal significava enfrentar a dura realidade de reconstruir uma cidade destruída, um templo em ruínas e uma sociedade desestruturada. Além disso, a viagem em si seria penosa e cheia de dificuldades. Em contraste, permanecer na Babilônia oferecia uma continuidade de vida relativamente estável e próspera.

A escolha pela segurança e estabilidade na Babilônia é comparada em Provérbios 14:12, que diz: "Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte". Este versículo adverte sobre a confiança excessiva nas próprias percepções e julgamentos, que podem parecer corretos à primeira vista, mas levam a consequências negativas.

Ação providencial de Deus

Apesar das escolhas do povo judeu, o Livro de Ester revela que Deus continua a agir de forma soberana e providencial para proteger e preservar Seu povo. A história mostra que, mesmo na diáspora, Deus não abandonou os judeus. Ele usou Ester e Mardoqueu para frustrar os planos de Hamã e garantir a sobrevivência do povo judeu.

Lições espirituais

a)   Fidelidade de Deus. A narrativa de Ester demonstra que a fidelidade de Deus não está limitada pelas fronteiras geográficas ou pelas decisões humanas. Mesmo quando os judeus escolheram permanecer na Babilônia, Deus ainda cuidou deles e interveio em seu favor.

b)   Aparências enganosas. A escolha aparentemente lógica e segura de permanecer na Babilônia não foi isenta de perigos. A história de Ester mostra que a verdadeira segurança está em confiar na providência divina, não nas circunstâncias humanas.

c)   Providência oculta. O nome de Deus não é mencionado no Livro de Ester, mas Sua mão é claramente visível nos eventos que ocorrem. Este aspecto do livro ensina que Deus pode estar operando de maneira oculta e sutil para realizar Seus propósitos.

d)   Coragem e ação humana. A providência divina muitas vezes se manifesta através das ações corajosas de indivíduos fiéis. Ester e Mardoqueu são exemplos de como a coragem, a sabedoria e a fé podem ser instrumentos nas mãos de Deus para cumprir Seus planos.

2. Uma falsa estabilidade

O Livro de Ester transmite uma mensagem clara sobre o perigo de confiar nas falsas estabilidades que as estruturas do mundo oferecem, as quais podem parecer mais vantajosas e seguras. Inicialmente, os judeus em Susã viviam com uma sensação de estabilidade sob o domínio persa. O império persa era conhecido por sua benevolência e tolerância, especialmente em relação à liberdade religiosa, o que parecia proporcionar uma base sólida para uma vida estável e próspera.

Tudo parecia ir bem para os judeus em Susã até que surgiu a ordem de extermínio total dos judeus, decretada por Hamã (Et.3:7-13). Este decreto revelou a fragilidade da segurança que eles pensavam ter. A situação mudou drasticamente, e a estabilidade que parecia inabalável foi substituída pelo medo e pela incerteza. Este evento mostrou que a confiança nas estruturas humanas é sempre precária e pode ser destruída por mudanças repentinas nas circunstâncias políticas e sociais.

Dependência da intervenção Divina

Com a ameaça de aniquilação, o povo de Judá mais uma vez se viu completamente dependente da intervenção divina para sua sobrevivência. O livro de Ester mostra como Deus agiu de forma providencial para proteger Seu povo, movendo as estruturas humanas e usando Ester e Mardoqueu como instrumentos para a salvação dos judeus. Este relato ilustra que, mesmo em um império poderoso como o persa, a verdadeira segurança e estabilidade só podem ser encontradas em Deus.

Ester nos lembra que é melhor confiar no Senhor do que nos homens (Sl.118:9). A confiança em Deus proporciona uma segurança verdadeira e duradoura, enquanto a confiança nas estruturas humanas é sempre incerta e pode ser rapidamente abalada.

3. A festa de Purim

O Livro de Ester tem como propósito adicional registrar a instituição da Festa de Purim, estabelecida por Mardoqueu após o grande livramento que os judeus receberam (Ester 9:20-28). Purim, sendo o plural da palavra "Pur" que significa "lançar sorte", remete ao método usado por Hamã para determinar a data do extermínio dos judeus (Ester 3:7).

A festa de Purim comemora a reversão da sorte, a transformação do decreto de destruição dos judeus em um dia de alegria e celebração. Hamã, ao lançar sortes para escolher o dia da destruição dos judeus, acabou inadvertidamente escolhendo uma data que se tornaria um símbolo da intervenção divina e da salvação dos judeus através das ações de Ester e Mardoqueu.

Celebração de Purim

Purim é celebrado anualmente no 14º e 15º dias do mês de Adar (geralmente fevereiro ou março no calendário gregoriano), marcando a libertação dos judeus do perigo iminente de extermínio. A festa é caracterizada por:

a)   Leitura do Livro de Ester (Meguilá). Durante a festa, é tradicional ler o Livro de Ester em voz alta nas sinagogas. Cada vez que o nome de Hamã é mencionado, os participantes fazem barulho com matracas ou batem os pés para simbolicamente "apagar" seu nome.

b)   Troca de presentes e alimentos. Os judeus trocam presentes de comida e enviam porções a amigos e familiares. Este ato é conhecido como "mishloach manot" e simboliza a alegria e a comunhão.

c)   Doações aos pobres. Também é costume fazer doações aos necessitados, conhecido como "matanot la'evyonim", garantindo que todos possam participar da celebração.

d)   Festas e refeições. Purim é uma ocasião de festas e celebrações, incluindo uma refeição festiva especial conhecida como "seudat Purim".

Significado Espiritual

Purim não é apenas uma celebração histórica, mas também possui profundo significado espiritual:

a)   Providência Divina. A festa lembra os judeus da providência divina e da soberania de Deus. Apesar de Deus não ser mencionado explicitamente no Livro de Ester, Sua presença e intervenção são claramente percebidas.

b)   Resiliência e Fé. Purim destaca a resiliência do povo judeu e a importância da fé e confiança em Deus durante tempos de adversidade.

c)   Reversão de sorte. A história de Purim é um poderoso exemplo de como Deus pode transformar situações de desespero e destruição em momentos de salvação e alegria.

CONCLUSÃO

O Livro de Ester é uma poderosa narrativa sobre a providência divina e a soberania de Deus nas circunstâncias da vida. Situado no contexto histórico do exílio e pós-exílio dos judeus, Ester destaca a importância da fé, coragem e ação diante das adversidades.

Em essência, o Livro de Ester nos ensina sobre a importância de confiar em Deus, mesmo quando Ele parece ausente, e nos desafia a sermos corajosos e fiéis em nossas próprias circunstâncias, sabendo que Deus trabalha em todas as coisas para o bem daqueles que O amam.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Rute – uma perfeita história de amor.

Pr. Elinaldo Renovato de Lima. O caráter do cristão. CPAD.

Comentário Bíblico Beacon. Volume 2.