domingo, 9 de fevereiro de 2025

AS NATUREZAS HUMANA E DIVINA DE JESUS

         1º Trimestre de 2025

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 07

Texto Base: Romanos 1:1-4; Filipenses 2:5-11

“dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém!” (Rm.9:5).

Romanos 1:

1.Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus,

2.o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras,

3.acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne,

4.declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, — Jesus Cristo, nosso Senhor.

Filipenses 2:

5.De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,

6.que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus.

7.Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;

8.e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz.

9.Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome,

10.para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,

11.e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, exploraremos um dos mistérios mais sublimes da fé cristã: a união das naturezas humana e divina em Jesus Cristo. Esse ensinamento, amplamente fundamentado nas Escrituras, é essencial para compreendermos a obra redentora de Cristo e o propósito eterno de Deus em se revelar à humanidade por meio de seu Filho.

Jesus, plenamente homem, experimentou as limitações e os desafios da condição humana, sendo capaz de simpatizar com as nossas fraquezas (Hb.4:15). Ao mesmo tempo, Ele é plenamente Deus, eterno e imutável, possuindo a plenitude da divindade (Cl.2:9). A confissão dessa verdade foi crucial para a formulação da ortodoxia cristã e enfrentou sérias oposições ao longo da história da Igreja.

Abordaremos as heresias do Nestorianismo, que separa as naturezas de Cristo em duas pessoas distintas, e do Monofisismo, que confunde as duas naturezas ao ponto de negar sua coexistência plena. Essas distorções foram refutadas no Concílio de Calcedônia (451 d.C.), que estabeleceu o ensino cristológico como base da fé. Por fim, analisaremos como essas ideias equivocadas continuam a surgir, sob diferentes formas, nos dias atuais, desafiando-nos a defender a verdadeira doutrina cristã com clareza e firmeza.

Esta Lição tem como propósito reafirmar as naturezas humana e divina de Jesus e, ao mesmo tempo, mostrar as principais heresias contrárias ao ensino doutrinário da natureza cristológica: o Nestorionismo e o Monofisismo, dois pensamentos considerados heréticos no Concilio de Calcedônio, em 451, hoje um bairro de Istambul, na Turquia.

Em seguida, estudaremos uma perspectiva atual em que essas heresias se apresentam com uma aparência moderna.

I. O ENSINO BÍBLICO DA DUPLA NATUREZA DE JESUS

1. “Descendência de Davi segundo a carne” (Rm.1:3)

Este texto de Romanos 1:3 destaca uma verdade central da cristologia: Jesus é plenamente humano e, ao mesmo tempo, plenamente divino. A expressão "descendência de Davi segundo a carne" sublinha a realidade histórica e física de Jesus como um ser humano nascido em uma linhagem específica. Ele não foi apenas um espírito celestial ou uma figura mítica; Ele pertenceu a uma família concreta dentro do povo de Israel, cumprindo as profecias messiânicas do Antigo Testamento, como as promessas feitas a Davi (2Sm.7:12-16; Is.11:1).

A genealogia de Jesus, registrada em Mateus 1 e Lucas 3, evidencia essa linhagem humana. Por meio de Maria, Jesus foi concebido pelo Espírito Santo (Mt.1:20; Lc.1:35), o que preservou Sua santidade e pureza, garantindo que Ele não herdasse a natureza pecaminosa de Adão. Esse nascimento miraculoso revela o elo perfeito entre Suas naturezas humana e divina.

Essa realidade é crucial para a obra redentora de Cristo. Como descendente de Davi, Ele é o Messias prometido; como Deus encarnado, Ele é o Salvador perfeito capaz de reconciliar a humanidade com Deus. Portanto, a dupla natureza de Jesus é uma verdade que fundamenta tanto a identidade de Cristo quanto a eficácia de Sua missão salvadora.

2. “Declarado Filho de Deus em poder” (Rm.1:4)

A expressão "declarado Filho de Deus em poder", em Romanos 1:4, é uma proclamação grandiosa da divindade de Jesus Cristo. Esse título, combinado com "nosso Senhor", reflete Sua posição exaltada e Sua identidade como Deus encarnado. Enquanto Romanos 1:3 enfatiza Sua humanidade, Romanos 1:4 afirma claramente Sua natureza divina. Isso revela a perfeita união das duas naturezas de Cristo: plenamente humano e plenamente divino.

A ressurreição é o marco que declara, de forma pública e definitiva, a divindade de Jesus. É "em poder" que Ele é reconhecido como Filho de Deus, uma expressão que implica autoridade, majestade e a plenitude de Sua identidade divina. Em Romanos 9:5, Paulo aprofunda essa realidade ao afirmar que Cristo, segundo a carne, é descendente de Israel, mas, simultaneamente, é "Deus bendito eternamente". Esta declaração é uma das mais diretas na Bíblia sobre a divindade de Jesus, reconhecendo-O como verdadeiro Deus, digno de adoração e louvor.

Essa verdade é fundamental para o cristianismo: Jesus não é apenas um profeta ou um mestre moral, mas o Deus encarnado, o Criador que assumiu a forma de criatura para redimir a humanidade. Essa união de divindade e humanidade é a base para a reconciliação entre Deus e os homens. Além disso, a menção de Sua linhagem israelita e Sua posição divina destaca a fidelidade de Deus às promessas feitas a Israel, ao mesmo tempo que abre o caminho para a salvação de toda a humanidade.

3. O antigo hino cristológico (Fp.2:5,6).

“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”.

O antigo hino cristológico encontrado em Filipenses 2:5-11 é um dos textos profundos e teologicamente ricos sobre as naturezas humana e divina de Jesus. Em Filipenses 2:5,6, Paulo nos exorta a ter o mesmo sentimento de humildade que caracterizou Cristo. A expressão “sendo em forma de Deus” (morphê theou) sublinha a essência divina de Jesus, indicando que Ele possui plenamente a natureza e os atributos de Deus de maneira imutável e eterna.

O apóstolo descreve a pré-existência de Cristo como Deus e enfatiza que Ele não considerou a igualdade com Deus algo a ser "usurpado" ou agarrado egoisticamente. Isso não significa que Jesus renunciou à Sua divindade, mas que, em Sua encarnação, Ele voluntariamente escolheu abrir mão de exercer os privilégios e glórias inerentes à Sua posição divina para cumprir o plano redentor de Deus Pai.

Ao assumir a “forma de servo” (morphê doulou) e ser “semelhante aos homens” (Fp.2:7), Jesus demonstrou uma profunda humildade. Ele tomou a posição mais baixa, experimentando as limitações da humanidade sem, contudo, abandonar ou perder Sua divindade. Essa união perfeita entre a natureza divina e a humana é um mistério sublime que reafirma o ensino bíblico de que Jesus é totalmente Deus e totalmente homem.

O termo morphê é crucial aqui, pois revela que Jesus, ao assumir a forma humana, não deixou de ser Deus; antes, Ele revelou a Sua divindade na humildade do serviço e na obediência até a morte. Essa passagem celebra não apenas a humilhação de Cristo, mas também a Sua exaltação posterior (Fp.2:9-11), onde Deus Pai O eleva a uma posição de suprema autoridade, reafirmando Sua divindade e o direito de ser adorado por toda criação.

O referido hino reflete a fé dos primeiros cristãos na dupla natureza de Cristo e na Sua obra redentora. Ele serve como uma poderosa lembrança de que a verdadeira grandeza está na humildade e na obediência a Deus, tal como demonstrado perfeitamente em Jesus.

II. AS HERESIAS CONTRA O ENSINO BÍBLICO DA DUPLA NATUREZA DE JESUS

1. Quem foi Nestório?

Nestório, que foi bispo de Constantinopla entre 428 e 431, tornou-se figura central de um dos maiores debates cristológicos da história da Igreja. Ele questionou o uso do termo Theotokos (“portadora de Deus” ou “mãe de Deus”) aplicado a Maria, preferindo Christotokos (“portadora de Cristo” ou “mãe de Cristo”), argumentando que Maria foi a mãe da natureza humana de Jesus, mas não de Sua divindade. Essa distinção, em sua essência, visava preservar o ensino bíblico sobre a eternidade de Deus, uma vez que o Pai, o Filho e o Espírito Santo existem eternamente e não possuem origem temporal (Salmos 90:2; Isaías 40:28).

Embora a intenção de Nestório fosse afirmar que as naturezas divina e humana de Cristo permaneciam distintas e que Maria não poderia ser chamada "mãe de Deus" no sentido de gerar Sua divindade, a forma como ele apresentou suas ideias foi interpretada como uma separação excessiva entre as naturezas de Cristo. Isso levou à acusação de que ele negava a unidade da pessoa de Cristo — uma posição rejeitada pela ortodoxia.

O termo Theotokos, defendido por Cirilo de Alexandria, ganhou ampla aceitação no Concílio de Éfeso (431). Ele não buscava exaltar Maria acima de sua posição bíblica, mas proteger a doutrina da encarnação. A intenção era enfatizar que Jesus, desde o momento de Sua concepção, era uma só pessoa com duas naturezas inseparáveis: totalmente Deus e totalmente homem.

Apesar da derrota teológica de Nestório no Concílio de Éfeso, é importante reconhecer que suas preocupações não eram infundadas. Ele se opunha a excessos que poderiam levar à Mariolatria e buscava resguardar a pureza doutrinária contra o Arianismo, que negava a plena divindade de Cristo. Contudo, sua abordagem acabou criando divisões, resultando no Nestorianismo, um movimento que separava radicalmente as duas naturezas de Cristo, uma posição considerada herética pela Igreja.

O debate destaca a importância de equilíbrio e clareza ao tratar de questões doutrinárias sensíveis, especialmente em torno do mistério da encarnação de Cristo. O ensino bíblico, reafirmado pelo Concílio de Calcedônia (451), é que Jesus é uma pessoa com duas naturezas, divina e humana, unidas inseparavelmente, sem confusão ou divisão.

2. Nestorianismo

O Nestorianismo, associado ao bispo Nestório, emergiu como uma tentativa de explicar o mistério da união entre as naturezas divina e humana de Jesus Cristo. Embora Nestório apoiasse o Credo Niceno-Constantinopolitano (381), que afirmava tanto a divindade quanto a humanidade de Cristo, a controvérsia girou em torno de sua compreensão dessa união.

A acusação central contra Nestório foi que ele separava demais as naturezas divina e humana, sugerindo que essas naturezas não estavam unidas em uma única pessoa, mas sim existiam como duas pessoas distintas. Segundo seus críticos, isso implicava que Cristo era uma espécie de “personalidade dividida”. A analogia que teria sido usada para explicar sua posição — comparando a união de Cristo com a união matrimonial em que marido e mulher são “uma só carne” (Gênesis 2:24) — reforçou a percepção de que ele promovia uma divisão radical entre as naturezas de Cristo.

Essa visão foi considerada herética no Concílio de Éfeso em 431, que reafirmou que Cristo é uma única pessoa (hipóstase) com duas naturezas distintas, mas inseparáveis. Essa unidade foi declarada indispensável para preservar tanto a plena divindade quanto a plena humanidade de Jesus, essenciais para a obra de redenção. A condenação de Nestório no concílio levou ao seu exílio por ordem imperial.

É importante notar que alguns estudiosos argumentam que as ideias de Nestório podem ter sido mal compreendidas ou distorcidas por seus opositores, especialmente por Cirilo de Alexandria, seu principal adversário teológico. Ainda assim, o movimento nestoriano se espalhou em regiões orientais, formando a base para a Igreja Assíria do Oriente, que rejeitou os decretos do Concílio de Éfeso.

Do ponto de vista doutrinário, a rejeição do Nestorianismo foi crucial para salvaguardar a verdade bíblica da união das naturezas de Cristo. Como Paulo ensina, em Cristo habita “toda a plenitude da divindade corporalmente” (Col.2:9). Ele é um único mediador entre Deus e os homens, plenamente Deus e plenamente homem, sem divisão ou confusão.

3. Monofisismo

O Monofisismo, derivado do grego monos (único) e physis (natureza), foi uma doutrina cristológica defendida por Êutiques, líder monástico de Constantinopla. Essa visão afirmava que, após a encarnação, as duas naturezas de Cristo — divina e humana — se fundiram em uma única natureza, que era uma espécie de composição híbrida, nem totalmente divina nem totalmente humana. Essa perspectiva foi rejeitada no Concílio de Calcedônia em 451, que reafirmou a doutrina bíblica e ortodoxa de que Jesus possui duas naturezas completas e distintas, divina e humana, unidas de forma inseparável em uma única pessoa.

a) Ilustração. O Monofisismo pode ser comparado ao conceito de ligas metálicas, como o bronze, que resulta da fusão de cobre e estanho. Após a mistura, o bronze não mantém as propriedades originais de cada componente; ele se torna uma nova substância híbrida. De maneira semelhante, Êutiques alegava que, na pessoa de Cristo, as naturezas divina e humana foram amalgamadas em algo completamente novo, comprometendo a plenitude de ambas.

Porém, essa analogia é incompatível com a compreensão bíblica e teológica. A ideia de que Cristo seria algo “meio divino e meio humano” contradiz a revelação de que Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ele possui uma plena humanidade, igual à nossa, exceto pelo pecado (Hb.4:15), e uma plena divindade, sendo o eterno Filho de Deus (Col.2:9).

b) Refutação Bíblica. A doutrina bíblica é clara ao apresentar Jesus como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sem mistura, confusão ou alteração de suas naturezas. O apóstolo Paulo ensina que Cristo é descendente de Israel “segundo a carne” (sua plena humanidade) e, ao mesmo tempo, “Deus bendito eternamente” (sua plena divindade) (Rm.9:5). Em Filipenses 2:5-11, Paulo reafirma que Jesus, sendo em forma de Deus, assumiu a forma de servo, ou seja, tornou-se plenamente humano sem abdicar de sua divindade.

Além disso, a Escritura enfatiza que Jesus é único mediador entre Deus e os homens (1Tm.2:5). Essa mediação exige que Ele seja plenamente Deus para representar Deus aos homens e plenamente homem para representar a humanidade diante de Deus. Se as naturezas de Cristo fossem fundidas, sua obra redentora seria comprometida, pois Ele não poderia ser o sacrifício perfeito e suficiente para redimir a humanidade.

Enfim, o Monofisismo falha ao compreender a unidade das duas naturezas de Cristo conforme revelado na Bíblia. Jesus Cristo é único em sua pessoa, possuindo simultaneamente duas naturezas completas, divina e humana, unidas de forma inseparável e sem confusão. Essa verdade é essencial para a fé cristã, pois fundamenta a doutrina da salvação e da mediação perfeita de Cristo em favor da humanidade. O Concílio de Calcedônia, ao rejeitar o Monofisismo, reafirmou esse ensino, defendendo a integridade da cristologia bíblica e preservando o entendimento correto sobre quem Jesus realmente é.

4. O Concílio de Calcedônia

O Concílio de Calcedônia, realizado em 451 d.C., foi um marco na definição da doutrina cristológica ortodoxa. Ele reafirmou a verdadeira natureza de Jesus Cristo como uma única pessoa divina com duas naturezas completas e distintas — humana e divina. O documento do Concílio, conhecido como “Definição de Calcedônia, esclarece que essas duas naturezas coexistem “sem confusão, sem mudança, sem divisão e sem separação”. Essa formulação refutou tanto o Monofisismo (que fundia as naturezas em uma só) quanto o Nestorianismo (que as separava em duas pessoas).

Principais Pontos da Formulação Teológica:

a)   Duas naturezas plenas e distintas. As naturezas humana e divina de Cristo permanecem completas e intactas. A natureza divina não é diminuída pela encarnação, e a natureza humana não é absorvida ou alterada pela divindade. Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, conforme Romanos 9:5, que descreve Cristo como descendente de Israel segundo a carne e, simultaneamente, como o “Deus bendito eternamente”.

b)   Uma só Pessoa e subsistência. Apesar da distinção entre as naturezas, elas coexistem em uma única Pessoa. Cristo não é dividido em duas pessoas, mas é o mesmo Filho Unigênito, o Verbo eterno de Deus que assumiu a natureza humana. Essa união pessoal é permanente e foi plenamente realizada na encarnação (João 1:14).

c)   Sem confusão ou mistura. O Concílio rejeitou qualquer ideia de fusão ou confusão das naturezas, como defendido pelo Monofisismo. Cristo é plenamente humano e plenamente divino, mas sua humanidade não se torna divina, nem sua divindade é limitada ou transformada pela humanidade.

d)   Sem divisão ou separação. Em oposição ao Nestorianismo, o Concílio enfatizou que as duas naturezas estão unidas de forma inseparável. Essa unidade garante que Cristo seja capaz de atuar como mediador entre Deus e os homens, representando ambos de maneira perfeita (1Tm.2:5).

O documento do Concílio sublinha que a encarnação não é uma conversão de Deus em homem, nem de homem em Deus. Antes, é a assunção da natureza humana pelo Verbo eterno, mantendo a distinção entre a natureza divina e a humana. Jesus é, ao mesmo tempo, plenamente homem — com emoções, fraquezas e limitações físicas (Hb.4:15) — e plenamente Deus, eterno, Todo-Poderoso e Onisciente (Col.2:9).

A definição de Calcedônia é amplamente reconhecida como uma das formulações teológicas mais precisas e completas sobre a cristologia bíblica. Ela harmoniza passagens como João 10:30 (“Eu e o Pai somos um”), que aponta para a divindade de Cristo; como João 10:33-37, que reflete sua relação única com o Pai.

O documento do Concílio continua a ser uma referência fundamental para a doutrina cristã até os dias de hoje, preservando a compreensão correta da identidade e missão de Cristo como o Salvador. Sua ênfase na integridade das duas naturezas de Cristo é essencial para a fé cristã, pois fundamenta a doutrina da salvação e a obra redentora do Senhor Jesus.

III. O PERIGO DESSAS HERESIAS NA ATUALIDADE

1. Os monofisitas na atualidade

A heresia monofisita, condenada no Concílio de Calcedônia (451), continua sendo um desafio teológico em alguns contextos cristãos, embora muitas igrejas associadas ao monofisismo tenham nuances teológicas mais complexas do que a acusação histórica de heresia pode sugerir. A tradição monofisita foi perpetuada principalmente por meio das igrejas ortodoxas orientais, como a Igreja Ortodoxa Copta, a Igreja Apostólica Armênia, a Igreja Ortodoxa Etíope (Abissínia) e os Jacobitas sírios.

Essas igrejas rejeitaram a decisão de Calcedônia que proclamava Cristo como uma única pessoa com duas naturezas, uma humana e outra divina, plenamente distintas, mas unidas. Historicamente, elas preferiram usar o termo "miaphysis" (uma natureza composta, conforme usado por Cirilo de Alexandria) em vez de "monophysis" (uma única natureza). Isso implica que Cristo tem uma natureza "unida" divina e humana após a encarnação, uma formulação que ainda levanta controvérsias, mas difere do monofisismo extremo de Êutiques.

Quem são eles hoje?

Os grupos monofisitas — ou, mais precisamente, miaphisitas — continuam presentes na tradição cristã oriental. Esses grupos mantêm uma prática devocional rica e são conhecidos por sua forte ênfase na divindade de Cristo e no mistério da encarnação. Apesar das diferenças teológicas, muitos desses cristãos se identificam como ortodoxos, mesmo que rejeitem o Concílio de Calcedônia. São eles: as igrejas ortodoxas, cópita, armênia, abissínia e jacobitas.

O Perigo Doutrinário

A principal preocupação com o monofisismo na atualidade está relacionada à sua cristologia desequilibrada, que pode:

Ø    Minimizar a humanidade de Jesus. O monofisismo extremo pode levar à ideia de que a humanidade de Cristo foi absorvida pela divindade, comprometendo a realidade da encarnação. Isso enfraquece a verdade bíblica de que Jesus experimentou plenamente as limitações, sofrimentos e tentações da natureza humana (Hb.4:15).

Ø    Alterar a compreensão da salvação. Se Cristo não fosse plenamente humano, Ele não poderia ser o representante perfeito da humanidade diante de Deus, essencial para a redenção (Rm.5:15-19).

Ø    Criar confusão teológica. Para cristãos não familiarizados com as diferenças históricas e terminológicas, a falta de clareza pode levar a interpretações equivocadas ou ao sincretismo doutrinário.

Resposta bíblica e teológica

Como cristãos, é importante manter o equilíbrio da doutrina definida em Calcedônia: Jesus é plenamente Deus e plenamente homem em uma única Pessoa, sem confusão ou mistura de naturezas. As Escrituras fundamentam essa verdade:

Ø    Divindade plena de Jesus. Ele é chamado Emanuel, "Deus conosco" (Mt.1:23), e "o Verbo que se fez carne" (João 1:14).

Ø    Humanidade plena de Jesus. Ele sofreu, chorou e morreu como qualquer ser humano (Mt.26:38; João 19:30).

Ø    Cristo como Mediador perfeito. "Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem" (1Tm.2:5).

Para dialogar com adeptos dessa tradição, é necessário:

Ø    Entender a terminologia. Muitas dessas igrejas rejeitam o rótulo de monofisitas e preferem "miaphisitas". Compreender suas perspectivas ajuda a construir pontes para o diálogo.

Ø    Afirmar a verdade bíblica. A Bíblia apresenta Jesus como o Emanuel — Deus que se fez homem — sem comprometer nenhuma das duas naturezas (1Tm.3:16).

Ø   Testemunhar com respeito e clareza. O objetivo é edificar em amor (Ef.4:15), apresentando a verdade de forma respeitosa, mas firme.

O desafio das heresias monofisitas destaca a importância de estarmos bem fundamentados na doutrina bíblica e prontos para responder com mansidão e temor (1Pd.3:15), sempre apontando para o Cristo verdadeiro e glorificado.

2. Kenoticismo

O Kenoticismo é uma doutrina teológica que se baseia na ideia de que Jesus Cristo, ao se encarnar, esvaziou-se de certos atributos divinos para assumir a natureza humana. Essa perspectiva é derivada da palavra grega “kenosis”, que significa “esvaziamento”. A passagem bíblica que frequentemente é citada para ilustrar essa ideia é Filipenses 2:7, onde está escrito que Jesus "a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens”.

Essa doutrina busca explicar como Jesus Cristo, sendo Deus, viveu entre os homens, destacando o conceito de "esvaziamento". Contudo, ela deve ser cuidadosamente analisada, pois as interpretações exageradas podem levar a distorções na compreensão da natureza divina de Cristo.

As linhas principais do Kenoticismo

a)   Esvaziamento funcional. Essa interpretação sugere que o Verbo eterno manteve todos os seus atributos divinos, mas escolheu voluntariamente não usá-los durante sua vida terrena, operando sob a submissão à vontade do Pai e a direção do Espírito Santo.

b)   Esvaziamento essencial. Essa visão mais radical propõe que Jesus abandonou ou suspendeu temporariamente certos atributos divinos, como Onipotência, Onisciência e Onipresença, enquanto esteve encarnado. Essa posição é teologicamente problemática, pois sugere que Jesus não seria plenamente Deus durante sua encarnação.

Resposta Bíblica ao esvaziamento de Cristo

A expressão "a si mesmo se esvaziou" (Fp.2:7) não significa que Cristo deixou de ser Deus ou abriu mão de Sua essência divina. Em vez disso, o esvaziamento refere-se à renúncia voluntária de Sua glória celestial (João 17:5) e à submissão às limitações humanas para cumprir a missão redentora. Ele assumiu a forma de servo, sujeitando-se às condições da existência humana sem abdicar de Sua divindade. Cristo nunca deixou de ser Deus. Ele revelou sua natureza divina ao:

ü  Perdoar pecados, um atributo exclusivo de Deus (Marcos 2:5-7; Lucas 7:48).

ü  Receber adoração legítima, algo devido somente a Deus (Mateus 8:2; 9:18; 15:25; João 9:38).

ü  Demonstrar autoridade sobre a natureza, acalmando tempestades e exercendo poder absoluto sobre a criação (Mt.8:26,27; Mc.4:39; Sl.65:7; 89:9).

Esses atos confirmam que, mesmo na forma de servo, Jesus era plenamente Deus e plenamente homem. Ele esvaziou-se da glória divina, mas não de Sua essência divina.

O esvaziamento foi uma condição necessária para que Jesus se tornasse o Messias e nosso Redentor. Ele escolheu não usar Sua glória celeste para experimentar plenamente a condição humana, identificando-se com nossa fragilidade e sujeição ao sofrimento (Hb.4:15). Contudo, Ele não abriu mão de Sua divindade. Jesus permaneceu Deus, com todos os Seus atributos intactos, enquanto vivia como um homem perfeito.

Problemas da doutrina kenótica extrema

ü  Negação implícita da divindade de Cristo. Se Cristo perdeu qualquer atributo essencial, Ele deixou de ser Deus, o que é incompatível com as Escrituras (Col.2:9).

ü  Comprometimento da salvação. Apenas um Cristo plenamente divino e plenamente humano pode ser o mediador perfeito entre Deus e os homens (1Tm.2:5).

ü  Contradição com os atos divinos de Cristo. Como Jesus poderia demonstrar atributos divinos, como Onisciência (João 2:25; 16:30), se os tivesse abandonado?

Enfim, o kenosis não é uma diminuição da essência divina de Cristo, mas a renúncia voluntária de Suas prerrogativas de glória para cumprir o plano redentor. Ele permaneceu plenamente Deus e plenamente homem em sua encarnação. A Bíblia apresenta Cristo como o Emanuel — “Deus conosco” (Mt.1:23) — que realizou Sua obra salvífica sem deixar de ser Deus em nenhum momento. Essa verdade deve ser firmemente defendida contra interpretações que comprometem a cristologia bíblica.

3. Mariolatria

A expressão “mãe de Deus”, adotada pelo Concílio de Éfeso em 431 e defendida por Cirilo de Alexandria, tornou-se uma base significativa para a veneração de Maria no catolicismo romano. Essa terminologia, em grego Theotokos (portadora de Deus), foi introduzida para enfatizar a unidade entre as naturezas divina e humana de Cristo em uma única Pessoa. Contudo, o uso e a interpretação dessa expressão têm gerado desdobramentos teológicos e práticos que se afastam do ensino bíblico, culminando na mariolatria — a exaltação indevida de Maria.

A origem da expressão “mãe de Deus”

O propósito original da expressão não era a exaltação de Maria, mas a defesa da natureza divina de Cristo contra as heresias da época, como o nestorianismo. Entretanto, ao longo dos séculos, o termo foi reinterpretado, resultando em práticas que atribuem a Maria um status quase divino, o que vai além do ensino bíblico.

A crítica bíblica à mariolatria

a)   Maria foi mãe de Jesus em sua humanidade. Maria é reconhecida como a mãe de Jesus em sua humanidade, mas Deus é eterno, sem começo ou fim (Salmos 90:2; Isaías 40:28). Portanto, a expressão “mãe de Deus” é inadequada se interpretada como implicando que Maria tenha contribuído para a divindade de Jesus.

b)   A humildade de Maria nas Escrituras. Maria, em sua humildade, jamais buscou glória para si mesma. Ao contrário, ela reconheceu sua necessidade de salvação - “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc.1:46,47). Essa declaração demonstra que Maria se via como serva de Deus e dependente de Sua graça, e não como uma figura divina.

c)   Cristo como o único mediador. A Bíblia é clara ao afirmar que há um único mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo (1Tm.2:5). Qualquer prática ou doutrina que sugira que Maria ou qualquer outro possa interceder em um nível equivalente a Cristo contraria o ensino bíblico.

d)   Veneração versus Adoração. Enquanto a Bíblia nos ensina a honrar aqueles que servem a Deus fielmente, a veneração de Maria no catolicismo muitas vezes ultrapassa os limites, transformando-se em práticas de adoração que são reservadas exclusivamente a Deus (Êx.20:3-5; Mt.4:10).

A popularidade da mariolatria

A expressão “mãe de Deus” ganhou força devido à sua ampla aceitação e uso no catolicismo romano, mesmo sendo teologicamente questionável. Atos 8:9-11 serve como um exemplo de como a popularidade de uma ideia não valida sua veracidade. No texto, o povo de Samaria deu crédito a Simão, um mágico, por suas práticas impressionantes, confundindo seu engano com poder divino. Essa passagem nos adverte sobre o perigo de aceitar algo como verdade apenas porque é amplamente seguido ou promovido.0

Embora Maria seja digna de respeito por seu papel único na história da redenção como a mãe de Jesus (Lc.1:28), a exaltação exagerada que resulta em mariolatria desvia a glória de Deus, que é o único digno de adoração (Isaías 42:8). A fé cristã deve se basear na Bíblia, e não na popularidade de tradições ou interpretações humanas.

Finalmente, a doutrina da mariolatria nos desafia a discernir entre o que é bíblico e o que é tradição humana. Devemos honrar Maria por sua humildade, obediência e fé, mas nunca atribuir a ela atributos ou funções que pertencem exclusivamente a Deus. O foco da adoração e da fé deve estar em Cristo, o Emanuel, que é “Deus conosco” (Mt.1:23).

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta Lição que as naturezas humana e divina de Jesus reafirmam a singularidade da pessoa de Cristo, o Deus-Homem. Ele é plenamente Deus, coexistindo eternamente com o Pai e o Espírito Santo, e plenamente homem, assumindo a nossa humanidade sem pecado para cumprir o plano de redenção. Essa verdade central é fundamental para a fé cristã, pois somente alguém que fosse verdadeiramente Deus poderia satisfazer as demandas da justiça divina, e somente alguém que fosse verdadeiramente homem poderia representar a humanidade como substituto perfeito.

A história da Igreja, por meio de concílios como os de Éfeso (431) e Calcedônia (451), demonstrou a necessidade de combater heresias que distorcem o entendimento bíblico da pessoa de Cristo, como o nestorianismo e o monofisismo. Essas falsas doutrinas continuam a influenciar práticas e crenças em diferentes contextos, exigindo vigilância e fidelidade à Palavra de Deus.

Em nosso tempo, é vital conservar o ensino das Escrituras, que apresenta Jesus como o único mediador entre Deus e os homens (1Tm.2:5). Ele é o Emanuel, Deus conosco (Mt.1:23), o Verbo que se fez carne (João 1:14) e o Senhor exaltado acima de todo nome (Fp.2:9-11). Que o estudo desta Lição nos motive a adorar e servir a Cristo com mais fervor, reconhecendo a profundidade de Seu sacrifício e a glória de Sua divindade. Assim, testemunhamos ao mundo a fé no Salvador perfeito, o Deus que se fez homem para nos salvar.

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

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Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

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Pr. Eurico Bergstén. As Grandes Doutrinas da Bíblia. CPAD.

Pr. Ciro Sanches Zibordi. Em Defesa da Fé Cristã. CPAD.

Pr. Esequias Soares. Heresias e Modismos. CPAD.

Silas Daniel. Seitas e Heresias. CPAD.

Pr. Raimundo de Oliveira. O Nome. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. O Papado e o dogma de Maria – à luz da Bíblia e da história.

Dicionário Wycliffe. CPAD.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

O FILHO É IGUAL COM O PAI

        1º Trimestre de 2025

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 06

Texto Base: João 10:30-38

“Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de equidade é o cetro do teu reino’ (Hb.1:8).

João 10:

30.Eu e o Pai somos um.

31.Os judeus pegaram, então, outra vez, em pedras para o apedrejarem.

32.Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual dessas obras me apedrejais?

33.Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia, porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.

34.Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses?

35.Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada),

36.àquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?

37.Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis.

38.Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras, para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim, e eu, nele.

INTRODUÇÃO

A relação entre o Filho e o Pai é um dos mistérios mais sublimes da fé cristã, revelado nas Escrituras como uma verdade central: Jesus Cristo, o Filho de Deus, é plenamente igual ao Pai em essência, poder e glória. Negar essa igualdade é desvirtuar a doutrina bíblica sobre a Trindade e a própria identidade divina de Cristo.

Ao afirmar ser o Filho de Deus, Jesus deixou claro que não era uma mera criatura ou um ser subordinado em essência ao Pai. Suas declarações, ações e obras demonstram sua plena divindade, compartilhando dos mesmos atributos e prerrogativas divinas. Esse foi o cerne do embate com os líderes religiosos, que viam suas afirmações como blasfêmia, pois entendiam que Ele estava se declarando igual a Deus (João 5:18).

Nesta lição, estudaremos como a Bíblia fundamenta a igualdade do Filho com o Pai, explorando textos que apresentam sua unidade de essência, autoridade e propósito. Veremos também como essa doutrina fortalece nossa fé, mostrando que Jesus não é apenas o mediador entre Deus e os homens, mas o próprio Deus encarnado, digno de nossa total confiança, adoração e obediência. Que este estudo nos conduza a uma compreensão mais profunda do Filho, que glorifica o Pai em tudo e nos revela a plenitude do Deus Triúno.

I. A DOUTRINA BÍBLICA DA RELAÇÃO DO FILHO COM O PAI

1. Ideia de filho

No pensamento judaico, a palavra "filho" transcende a relação biológica, carregando a ideia de igualdade de natureza, identidade, e continuidade com o pai. Essa perspectiva está enraizada na cultura e nas Escrituras, sendo amplamente reconhecida no paralelismo poético e nos discursos de Jesus.

O Salmo 8:4 exemplifica esse conceito por meio do paralelismo sinonímico, no qual "homem mortal" e "filho do homem" são usados como expressões equivalentes, reforçando a ideia de identidade de natureza. De forma similar, Jesus, ao repreender os escribas e fariseus, utiliza o termo "filhos" para evidenciar que eles compartilhavam da mesma natureza e comportamento daqueles que mataram os profetas (Mateus 23:29-31). Aqui, o termo "filhos" não se refere a uma relação genética, mas a uma continuidade espiritual e moral com seus antecessores.

No caso de Jesus, o título "Filho de Deus" carrega um significado muito mais profundo. Ele não apenas reflete uma relação funcional ou subordinada, mas declara sua plena igualdade com o Pai em essência e divindade. Essa é uma das razões pelas quais os líderes religiosos de seu tempo consideraram suas palavras uma blasfêmia, reconhecendo que Ele, ao se declarar Filho de Deus, estava reivindicando ser igual a Deus (João 5:18).

Portanto, compreender o conceito de "filho" à luz das Escrituras nos ajuda a perceber que Jesus não é um ser criado ou inferior ao Pai, mas coigual, coexistente e coeterno com Ele. Essa identidade reforça a verdade de que o Filho reflete perfeitamente a glória e a natureza do Pai (Hebreus 1:3), consolidando a base para a doutrina da Trindade e da plena divindade de Cristo.

2.  Significado teológico da relação do Filho com o Pai

A relação entre o Filho e o Pai, no contexto teológico, revela uma igualdade absoluta de essência e substância. Isso significa que Jesus Cristo, ao ser chamado "Filho de Deus", não apenas carrega o título de uma relação especial com o Pai, mas declara sua plena divindade e consubstancialidade com Ele.

No Novo Testamento, essa verdade é reafirmada pelas próprias palavras de Jesus. Em João 8:42, Ele afirma: "Eu saí e vim de Deus", indicando sua origem divina e eterna. Essa declaração vai além de uma missão terrena, revelando sua natureza eterna como aquele que é gerado, mas não criado, sendo coigual e coeterno com o Pai. Em João 16:28, Jesus explica a plenitude de sua obra redentora, declarando: "Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez, deixo o mundo e vou para o Pai". Isso demonstra o plano divino de envio e retorno, que reflete sua posição única como o Verbo encarnado, o Filho que compartilha da glória e essência do Pai.

Quando Jesus afirmou: "Meu Pai trabalha até agora, e eu também" (João 5:17), Ele revelou a continuidade de sua obra divina com a do Pai. Tal declaração gerou forte reação entre os líderes religiosos, que entenderam a profundidade de suas palavras. O texto segue dizendo: "Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque [...] dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus" (João 5:18). Isso confirma que os ouvintes de Jesus compreenderam sua afirmação como uma reivindicação inequívoca de igualdade com o Pai.

Essa relação expressa na declaração de Jesus não é meramente funcional, mas ontológica. O Filho possui a mesma essência, poder e glória que o Pai. João 10:30 reforça essa unidade: "Eu e o Pai somos um". Essa verdade é fundamental para a fé cristã, pois afirma que a salvação e a revelação de Deus ao mundo acontecem por meio de Jesus, que é Deus em toda a plenitude (Col.2:9).

Portanto, o título "Filho de Deus" não diminui Jesus, mas o exalta, declarando que Ele é Deus verdadeiro, participante da mesma natureza divina do Pai, digno de adoração e glorificação como Senhor e Salvador.

3. O Filho é Deus

A expressão "Filho de Deus" é mais do que um título simbólico ou honorífico; ela revela a natureza divina e a relação única e eterna de Jesus Cristo com o Pai. No contexto bíblico, a designação de Jesus como "Filho" não implica inferioridade ou criação, mas declara sua igualdade em essência, poder e glória com o Pai. O autor de Hebreus expõe essa verdade de forma contundente ao citar o Salmo 45:6,7:

"Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino" (Hb.1:8).

Esse texto identifica o Filho como Deus, reconhecendo sua soberania e eternidade. Ele é descrito como aquele que governa com justiça, em linha com a essência divina. O Salmo 45:6,7, que serve de base para esta declaração, enfatiza: "O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade. Tu amas a justiça e aborreces a impiedade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros".

A aparente duplicidade na menção de "Deus" nos versículos 6 e 7 intrigou rabinos ao longo da história. No entanto, a carta aos Hebreus resolve essa questão ao mostrar que o texto aponta para o relacionamento entre o Pai e o Filho. O "Deus" que é ungido no Salmo refere-se ao Filho, enquanto o "Deus" que ungiu é o Pai. Essa interação revela a unidade plural de Deus — uma doutrina central no cristianismo conhecida como a Trindade.

A epístola aos Hebreus utiliza essa passagem para demonstrar a superioridade de Cristo em relação a todas as coisas criadas, inclusive aos anjos, e para reafirmar sua divindade. O contexto deixa claro que o Filho não é um ser criado, mas o soberano eterno, digno de adoração.

Ademais, o próprio Jesus afirmou sua divindade em várias ocasiões. Ele se declarou um com o Pai (João 10:30), aceitou adoração (Mt.14:33; João 20:28), perdoou pecados (Mc.2:5-7) e reivindicou atributos divinos como eternidade e onipresença (João 8:58; Mt.28:20). Todas essas declarações reforçam que ser "Filho de Deus" significa ser da mesma substância e possuir a mesma essência divina do Pai.

A doutrina da divindade de Cristo é fundamental para a fé cristã. Negá-la é rejeitar a própria base da salvação, pois apenas um Salvador divino poderia realizar a obra redentora que Jesus realizou. Ele é o Deus encarnado, o Emanuel, "Deus conosco" (Mt.1:23), que reina para sempre no trono celestial.

II. A HERESIA DO SUBORDINACIONISMO

1. Origenes

O subordinacionismo é uma doutrina que deturpa o ensino bíblico ao apresentar o Filho como inferior ao Pai em essência ou natureza. Essa heresia também pode estender-se ao Espírito Santo, considerado menos divino em comparação com o Pai e o Filho. A ideia central dessa visão é a subordinação ontológica — e não apenas funcional — entre as Pessoas da Trindade, o que contradiz a revelação bíblica sobre a igualdade de essência das três Pessoas divinas.

Orígenes (185–254 d.C.), um dos principais teólogos da Igreja Primitiva, desempenhou um papel importante no desenvolvimento do pensamento cristão, mas suas obras apresentam aspectos controversos. Sua vasta produção literária inclui ideias que influenciaram tanto os ortodoxos quanto os heréticos. Apesar de ser reconhecido por suas contribuições teológicas e hermenêuticas, Orígenes é frequentemente associado ao subordinacionismo devido a algumas de suas declarações sobre a Trindade.

Segundo seus críticos, Orígenes defendeu uma visão na qual o Filho seria subordinado ao Pai, e o Espírito Santo subordinado ao Filho, sugerindo uma hierarquia de natureza dentro da Trindade. Essa interpretação encontra eco em conceitos neoplatônicos, nos quais o ser supremo (Deus) emana outras realidades divinas em níveis decrescentes de perfeição. Contudo, essa visão não se alinha à revelação escriturística.

A controvérsia de Niceia (325 d.C.) ilustra a complexidade da influência de Orígenes. Enquanto alguns apoiadores de Ário utilizavam os escritos de Orígenes para justificar a inferioridade do Filho, outros, como Alexandre de Alexandria, opunham-se a Ário também baseados em Orígenes. Isso reflete a ambiguidade e as contradições dentro das próprias obras do teólogo.

A Bíblia, por sua vez, revela claramente a igualdade das Pessoas da Trindade em essência, mesmo que haja distinções funcionais em suas obras redentoras e providenciais. Textos como Mateus 28:19 (“batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”) e 2Coríntios 13:13 (“a graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”) afirmam a unidade e igualdade de essência entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Portanto, enquanto Orígenes trouxe muitas contribuições para o pensamento cristão, suas ideias subordinacionistas devem ser avaliadas criticamente e rejeitadas, uma vez que não estão em conformidade com a doutrina bíblica da Trindade. Essa heresia subestima a plena divindade do Filho e do Espírito Santo, comprometendo a compreensão correta de Deus e do evangelho.

2. No período pré-niceno

Segundo pesquisa que fiz em alguns dicionários bíblicos e na rede Web, nos séculos II e III, a Igreja cristã enfrentou o desafio de formular uma teologia que mantivesse o monoteísmo judaico enquanto reconhecia a plena divindade de Jesus Cristo e do Espírito Santo. O subordinacionismo, embora uma tentativa de preservar o monoteísmo, acabou comprometendo a igualdade essencial entre o Pai e o Filho. Essa posição foi sustentada por alguns líderes e teólogos pré-nicenos, que afirmavam que Cristo era subordinado ao Pai em natureza, status ou função.

A Fundamentação do Subordinacionismo

Os defensores do subordinacionismo no período pré-niceno frequentemente apelavam a passagens das Escrituras que, interpretadas isoladamente ou fora de contexto, pareciam indicar que o Filho era inferior ao Pai. Entre essas passagens estavam:

  • João 14:28: “O Pai é maior do que eu”.
  • 1Coríntios 15:28: “Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou...”.
  • Marcos 13:32: “Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai”.

Esses textos eram interpretados de forma literal e desvinculados do restante do testemunho bíblico que enfatiza a igualdade do Filho com o Pai em essência e divindade. A exegese pobre e a falta de uma compreensão sistemática das Escrituras contribuíram para essa distorção.

A influência do pensamento filosófico

O subordinacionismo foi também moldado pela influência do pensamento grego, especialmente o neoplatonismo. Essa filosofia enfatizava uma hierarquia no ser, com uma fonte suprema (o Uno) e emanações subsequentes que eram inferiores em perfeição. Alguns teólogos cristãos, ao buscar explicar a relação entre o Pai e o Filho, usaram categorias filosóficas que colocaram o Filho como uma "emanada" ou "derivada" do Pai, comprometendo a plena igualdade entre eles.

Resposta teológica

A igreja, desde cedo, percebeu a necessidade de enfrentar essas interpretações equivocadas. Com base em uma leitura mais cuidadosa das Escrituras, foi reafirmado que:

  • João 1:1-3 apresenta o Filho como o Verbo que "era Deus" e que estava com Deus desde o princípio.
  • Colossenses 2:9 declara que “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”.
  • Hebreus 1:3 descreve o Filho como o “resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser”.

Estes textos e muitos outros demonstram que qualquer subordinação aparente de Jesus ao Pai refere-se à sua encarnação e missão redentora, e não à sua essência ou natureza divina.

Enfim, o subordinacionismo pré-niceno foi uma tentativa de proteger a crença no Deus único, mas que resultou em comprometer a divindade absoluta de Cristo. Esse período preparou o terreno para debates mais profundos, culminando no Concílio de Nicéia (325 d.C.), onde foi afirmado que o Filho é "da mesma substância" (homoousios) do Pai, corrigindo os erros dessas interpretações iniciais e estabelecendo a base para a doutrina da Trindade conforme entendida pela ortodoxia cristã.

3. Métodos usados pelos subordinacionistas

Os subordinacionistas, ao longo da história, desenvolveram métodos específicos para sustentar suas doutrinas que negam ou diminuem a igualdade essencial entre o Filho e o Pai. Esses métodos baseiam-se em uma abordagem seletiva das Escrituras e em interpretações que ignoram o contexto e a harmonia geral da revelação bíblica.

Os subordinacionistas destacam passagens que apresentam Jesus em sua humanidade, ignorando ou rejeitando textos que afirmam sua plena divindade. Por exemplo:

  • João 14:28: “O Pai é maior do que eu” - é citado para sustentar uma suposta inferioridade ontológica (investigação teórica do ser) de Jesus em relação ao Pai.
  • 1Coríntios 15:28: “Então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou” - é usado para alegar que a sujeição funcional de Cristo implica inferioridade em essência.

Essas passagens, no entanto, precisam ser interpretadas à luz do contexto mais amplo das Escrituras, que afirmam claramente a divindade e igualdade do Filho com o Pai (João 1:1-3; Colossenses 2:9; Hebreus 1:3).

Os subordinacionistas negligenciam a distinção entre a missão de Jesus como o Verbo encarnado e sua natureza eterna. Textos que falam de Jesus em submissão ao Pai referem-se, em sua maioria, à sua encarnação e ao propósito de cumprir o plano redentor, onde Ele assumiu voluntariamente uma posição de servo (Fp.2:5-8). Essa submissão não é uma declaração de inferioridade em essência, mas de função dentro do plano de salvação.

Esses grupos frequentemente interpretam passagens que usam títulos humanos para Jesus, como “Filho do Homem” ou “Filho de Deus”, de forma a reduzir seu status divino. A expressão “Filho de Deus”, por exemplo, é erroneamente entendida por subordinacionistas como uma indicação de que Jesus é um ser criado, subordinado ao Pai, ao invés de ser da mesma essência divina.

Passagens que afirmam claramente a divindade de Jesus são ignoradas ou reinterpretadas de forma tendenciosa. Por exemplo:

  • João 1:1: “E o Verbo era Deus” - é desconsiderado, ou traduzido de forma distorcida, como ocorre na Tradução do Novo Mundo.
  • Hebreus 1:8: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos” - é minimizado ou reinterpretado para negar a igualdade do Filho com o Pai.

Além das Escrituras, muitos subordinacionistas, como foi dito anteriormente, recorrem ao pensamento filosófico, como o neoplatonismo, que ensina uma hierarquia de seres divinos. Essa influência filosófica levou a concepções heréticas que colocam o Filho como um ser, simplesmente, “emanado” do Pai, inferior em essência.

A igreja ortodoxa, desde cedo, identificou e refutou esses métodos. A harmonia das Escrituras demonstra que Jesus é plenamente Deus e plenamente homem. Textos como João 1:1-3, Colossenses 1:15-17 e Hebreus 1:3,4 confirmam que o Filho é eterno, de mesma substância que o Pai, e digno de adoração.

Enfim, os métodos subordinacionistas baseiam-se em um manuseio inadequado das Escrituras e em pressupostos filosóficos externos que distorcem a genuína doutrina bíblica. A verdade bíblica, no entanto, permanece clara: o Filho é igual ao Pai em essência e natureza, sendo verdadeiro Deus, digno de adoração e adorado junto com o Pai e o Espírito Santo como o único Deus verdadeiro.

III. COMO O SUBORDINACIONISMO SE APRESENTA HOJE

1. No contexto islâmico

O islamismo é uma das principais religiões que nega explicitamente a filiação divina de Jesus, reinterpretando ou rejeitando a doutrina bíblica sobre sua natureza como o Filho de Deus. Essa negação reflete um entendimento equivocado tanto da expressão “Filho de Deus” quanto do significado teológico que ela carrega no Novo Testamento.

a) Jesus no Islã. O Alcorão reconhece Jesus (Isa, em árabe) como Messias e Profeta, mas rejeita categoricamente sua divindade e filiação divina. Ele é descrito como um grande mensageiro de Deus, mas inferior a Maomé, que é considerado o último e maior dos profetas. Essa hierarquização subverte a narrativa bíblica, que apresenta Jesus como o Filho eterno, coigual ao Pai em essência e natureza (João 1:1-3; Hebreus 1:3).

b) Equívoco sobre a filiação divina. O Alcorão interpreta erroneamente a expressão “Filho de Deus”, associando-a a uma relação conjugal ou biológica entre Deus e Maria. Essa concepção antropomórfica é baseada numa compreensão literalista e limitada, que não reflete o verdadeiro ensino cristão. A Bíblia não sugere qualquer tipo de reprodução física em relação à filiação de Jesus, mas declara que Ele é o Filho de Deus no sentido de origem e essência. Ele é o Verbo encarnado, enviado pelo Pai, nascido pelo poder do Espírito Santo (Lucas 1:35).

c) Rejeição e acusações. Líderes islâmicos frequentemente acusam os cristãos de blasfêmia por acreditarem na filiação divina de Cristo. Essa rejeição ignora o contexto bíblico e o testemunho coerente das Escrituras, que apontam para Jesus como o Deus encarnado, digno de adoração (João 10:30; Colossenses 2:9). Ironicamente, até os demônios reconheceram Jesus como “o Filho do Deus Altíssimo” (Marcos 5:7), enquanto o islamismo nega essa verdade.

d) Significado teológico da filiação. A expressão “Filho de Deus” no Novo Testamento não indica um processo humano de reprodução, mas aponta para a relação eterna de Jesus com o Pai. Em João 8:42, Jesus declara que Ele veio do Pai, ressaltando sua origem divina. Como o Unigênito do Pai, Ele é único em sua natureza e missão (João 1:18). A concepção de Jesus pelo Espírito Santo (Mateus 1:18-20) demonstra sua origem divina, sem qualquer paralelo humano.

e) Refutação Bíblica. A Bíblia contradiz claramente a visão islâmica:

  • Em Efésios 1:21, Jesus é exaltado acima de todo principado e potestade, incluindo qualquer outro profeta ou líder.
  • Em Filipenses 2:9-11, Ele recebeu o nome que está acima de todo nome, e todo joelho deve se dobrar perante Ele, incluindo no céu e na terra.
    Esses textos deixam claro que a divindade de Cristo é central para a fé cristã e que sua filiação expressa igualdade com o Pai.

Enfim, no contexto islâmico, a negação da filiação divina de Jesus revela uma incompreensão teológica que resulta em uma doutrina incompatível com o cristianismo bíblico. Essa negação é um exemplo contemporâneo de subordinacionismo, que reduz Jesus a uma posição inferior, contrariando as Escrituras. A igreja deve continuar a proclamar a verdade de que Jesus é o Filho de Deus, plenamente divino, e a única esperança para a salvação da humanidade (João 14:6).

2. O movimento das Testemunhas de Jeová

As Testemunhas de Jeová sustentam uma teologia profundamente subordinacionista, que coloca Jesus em uma categoria inferior à do Deus Pai, identificado exclusivamente como Jeová. Essa visão distorce as Escrituras, fragmenta a unidade de Deus e compromete a fé cristã em sua essência.

a) A doutrina de “vários deuses”. O ensino das Testemunhas de Jeová admite a existência de “vários deuses”, com uma hierarquia de poderes. Eles consideram Jeová o Deus Todo-Poderoso, Jesus como um “deus poderoso” (escrito com “d” minúsculo em sua Tradução do Novo Mundo) e outros seres como "deuses menores". Essa teologia é derivada de uma interpretação equivocada de textos como João 1:1, que em sua tradução afirma que "a Palavra era um deus", desconsiderando o contexto gramatical e teológico do texto original em grego.

Essa perspectiva entra em conflito direto com a fé cristã bíblica, que afirma inequivocamente a existência de um único Deus verdadeiro. Como Paulo declara:

  • Em 1Coríntios 8:6: "Todavia, para nós há um só Deus, o Pai... e um só Senhor, Jesus Cristo". A tentativa de separar Jesus da categoria de Deus verdadeiro, colocando-O como um deus inferior, contradiz a teologia bíblica.

b) Jesus: Divindade verdadeira ou falsa? Um ponto crucial que desafia a teologia das Testemunhas de Jeová é a pergunta: “Jesus Cristo é uma divindade verdadeira ou falsa?”. Se for reconhecido como verdadeiro, isso implica que Ele compartilha a essência de Deus, corroborando a doutrina da Trindade. Contudo, se afirmam que Ele é um “deus falso”, caem em contradição com os próprios princípios bíblicos, pois os seguidores de Cristo seriam adoradores de um deus que não é legítimo, e elas (as Testemunhas de Jeová) estão admitindo que são seguidoras de um deus falso.

Como já foi dito anteriormente, a Bíblia é clara ao afirmar a divindade de Jesus como igual ao Pai:

  • João 10:30: “Eu e o Pai somos um”.
  • Hebreus 1:8: “Mas, do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos”.

Esses textos refutam qualquer ideia de Jesus como um ser inferior ou subordinado em essência ao Pai.

As Escrituras fazem menção de “deuses”, mas sempre no contexto de falsidade ou idolatria:

  • Gálatas 4:8: “...quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses”.

Dessa forma, qualquer tentativa de classificar Jesus como um "deus menor" equivale a colocá-Lo na mesma categoria de ídolos e falsidades espirituais. Isso é completamente incompatível com o testemunho bíblico que afirma a plenitude da divindade de Cristo (Col.2:9).

A ideia das Testemunhas de Jeová de que Jesus é uma divindade subordinada é insustentável tanto à luz das Escrituras quanto da lógica teológica. Ao negar a plena divindade de Cristo, seu sistema de crença:

  • Contradiz os fundamentos bíblicos do monoteísmo.
  • Fragmenta a unidade da Trindade, comprometendo a coigualdade das Pessoas divinas.
  • Enfraquece a mensagem de redenção, que depende de Cristo como Deus verdadeiro e Salvador.

Enfim, as Testemunhas de Jeová oferecem uma visão distorcida da pessoa de Jesus, desconsiderando os claros ensinamentos das Escrituras. A resposta à sua teologia está na afirmação bíblica de que Jesus é Deus verdadeiro, o Verbo encarnado, digno de adoração e coigual ao Pai. A fé cristã não admite a fragmentação da divindade, mas proclama a unidade e a plenitude de Deus em Cristo, nosso Senhor e Salvador.

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta Lição que o Filho é plenamente igual ao Pai em essência, poder, glória e majestade. A igualdade do Filho com o Pai é uma verdade central das Escrituras e da fé cristã, confirmada pelos próprios ensinamentos de Jesus e pela confissão apostólica. Ele é o Verbo que se fez carne, Deus manifestado em forma humana para realizar a obra da redenção e revelar a plenitude do Pai à humanidade.

Com base nos sólidos fundamentos escriturísticos apresentados, compreendemos que Jesus não é inferior ao Pai, mas compartilha da mesma natureza divina, sendo eterno, imutável e coigual a Ele. Essa verdade nos exorta a adorá-Lo, reconhecendo-O como o único mediador entre Deus e os homens, o Senhor sobre todas as coisas e o Salvador de nossas almas.

A doutrina da igualdade do Filho com o Pai nos fortalece na defesa da fé cristã contra heresias e nos conduz a uma adoração mais profunda e sincera, pois, como Paulo declarou, "nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl.2:9). Que a nossa confiança e louvor estejam sempre centrados no Filho, que é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser (Hb.1:3).

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Dicionário VINE.CPAD.

O Novo Dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.

Pr. Hernandes Dias Lopes. João.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Hebreus.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Colossenses.

Dicionário Wycliffe. CPAD.

Stanley M. Horton. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. CPAD.

Pr. Ciro Sanches Zibordi. Erros que os Pregadores Devem Evitar. CPAD.

Pr. Silas Daniel. Heresias e Modismos no Meio Evangélico. CPAD.

Vários autores. A Bíblia Responde. CPAD.