segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Aula 12 – AS DORES DO ABANDONO


Texto Básico: 2Timóteo 4:9-18
 

“Deus faz que o solitário viva em família; liberta aqueles que estão presos em grilhões; mas os rebeldes habitam em terra seca”(Sl 68:6)
 

INTRODUÇÃO

Estamos estudando neste trimestre a respeito das aflições do justo; uma série de Aulas que tentam explicar por que passamos por aflições. Na primeira Aula vimos que, enquanto estivermos neste mundo, as aflições são inevitáveis na vida do crente.
Nesta Aula, estudaremos os efeitos que o abandono ocasiona na vida do servo de Deus. O abandono é uma das piores experiências pelas quais um ser humano pode passar. Pense em um soldado sendo abandonado para morrer em um campo de combate; ou um pastor, que depois de dedicar toda sua vida à uma igreja, ser abandonado por ela na sua velhice; ou ainda um bebê sendo deixado de lado por sua própria mãe. Pasmem, esses incidentes acontecem com frequência e que não estão distantes de nós. Nem Jesus escapou do abandono; antes de ser crucificado, foi deixado de lado por todos os seus discípulos. O nosso consolo é saber que Deus não nos deixa só. O Senhor nos enviou o Espírito Santo justamente para nos consolar e nos guiar em todas as coisas (João 14:16).

I. O ABANDONO FAMILIAR

A família em nossos dias vem sofrendo os mais duros ataques por parte do Diabo. Vícios no lar, infidelidade dos cônjuges, alto índice de divórcio, drogas, violência doméstica e abandono de filhos são alguns dos exemplos mais comuns dessa ação diabólica. Satanás sabe muito bem que se atingir a família, atingirá a sociedade como um todo, bem como ao maior projeto estabelecido por Deus para salvação da humanidade, que é a Igreja. Certamente a manutenção da instituição familiar constitui-se no maior desafio que se nos apresentam nos dias de hoje, no presente século. O adversário de nossas almas tem atacado violentamente a família, porque sabe que, uma vez atingida a família, a um só tempo, estará destruída tanto a sociedade, quanto cada um dos integrantes da família.
O comportamento humano é construído sobre os alicerces lançados na família. Entretanto, a cada dia fica mais difícil encontrar famílias saudáveis. É comum famílias desestruturadas que não cuidam dos seus próprios integrantes, não lhes suprindo as mais básicas necessidades. Muitas das vezes abandonam seus ente queridos nos momentos em que mais precisam de amparo. Paulo adverte que “se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel”(1Tm 5:8).
Este tópico da nossa lição fala em especial de três situações de abandono na família:
1. Na doença. A sentença divina sobre o homem, por causa do seu pecado, atingiu diretamente a questão da saúde. A terra foi maldita e, como algo maldito, traria infelicidade, incômodo e aborrecimento para o homem(ler Gn 3:17). A natureza passou a colaborar para um crescente desequilíbrio do organismo humano, desequilíbrio que levaria, mais cedo ou mais tarde, à extinção da atividade, com a degeneração do organismo, que estaria fadado a se desfazer, voltando a ser pó, o mesmo pó que o Senhor havia tomado para formar o homem. Ninguém, portanto, está imune às doenças, nem mesmo os filhos de Deus.
Quando a doença chega, todos precisamos de ajuda das pessoas da família. Mas, infelizmente, o que se tem visto é o abandono nesses momentos mais necessários; abandonam o doente à própria sorte, demonstrando assim uma atitude impiedosa e anticristã, uma verdadeira ausência de amor a Deus e ao seu próximo. Uma pessoa que não demonstra amor ao seu próximo, que vê, como amará a Deus que nunca viu?(1João 4:20).
2. No vício. O Diabo sempre teve interesse em devorar o ser humano através de seus ardis (1Pe 5:8). As drogas de um modo geral têm sido usadas por Satanás para destruir o ser humano, tanto jovem, adolescentes, adultos, as famílias constituídas. O desejo dele é a preservação da humanidade fora dos planos da salvação de Deus.
Muitos não suportam uma pessoa viciada conviver no seu mesmo ambiente social, por isso a abandonam à própria sorte, o que faz ainda mais piorar a vida dessa pessoa. Sem direção e desamparada, a pessoa viciada perde a noção de certo e errado e, para satisfazer o vício, é capaz de roubar e até matar. Alguns chegam até o suicídio, por se sentirem sozinhos e abandonados pelos amigos e pelos da família.
Lidar com viciado não é fácil, mas é nessa hora que a família precisa fazer-se presente e estar unida para ajudá-lo a livrar-se dos vícios. Todavia, a pessoa drogada deve aceitar, incondicionalmente, a mão amiga, quando esta oferece ajuda a qualquer custo.
Um dos maiores problemas a ser vencido, para a pessoa que usa qualquer substância química, é a dificuldade de amar o próximo, pois o amor ao seu ego, faz com que a pessoa fique cega para as pessoas que estão ao seu redor. Para ela só existe sua satisfação, custe o que custar e para quem custar. Desta forma, a pessoa dependente química ofende muito aqueles que a amam e deve se arrepender, pedindo a Deus que a lave com Seu precioso sangue, e também deve pedir perdão às pessoas ofendidas, que foram roubadas e que as deixaram sem dormir de preocupação, ferindo-as, humilhando-as, e deixando-as sem esperança em suas vidas pessoais devido a sua situação.
3. Na terceira idade. A chamada terceira idade é talvez o momento em que as pessoas mais precisam de assistência por parte dos seus familiares, em razão do esmaecimento das  forças, com as consequentes doenças. Em nossa sociedade, muitas vezes, os idosos são desprezados; algumas famílias chegam a desampará-los por completo, colocando-os em casas de repouso ou asilos, sem nenhuma assistência familiar. A Bíblia relata que os mais velhos devem ser respeitados e ouvidos pelos mais novos (Js 23:1-2; Lm 5:12,14; Lv 19:12; Ex 20:12). O mandamento do Senhor de honrar o pai e a mãe continua válido para os dias atuais (Ef 6:1-3).

II. O ABANDONO EM SITUAÇÕES DIFÍCEIS

Existem muitas situações difíceis pelas quais podemos sofrer as consequências do abandono em nossa vida. Dentre elas o comentarista da lição destaca:
1. O Abandono no desemprego. O desemprego é um dos fatores mais drásticos que uma pessoa pode passar, principalmente aqueles que tem família para sustentar e com débitos pendentes de liquidação. Geralmente, nessas horas até mesmo aqueles que se diziam amigos desaparecem; até os familiares fogem, pois temem emprestar dinheiro e ouvir as lamentações do desempregado. A Bíblia ensina  a amar o próximo e ajudá-lo nos momentos de necessidade(ver Lc 10:25-37). Creio que se formos fiéis ao Senhor ele não nos abandonará nesse momento difícil. Está escrito que  o Senhor não desampara os seus santos”(Sl 37:28).
2. Da amizade. A Bíblia nos mostra exemplos de amizade verdadeira, sincera e desinteressada, como a de Davi e Jônatas (1Sm 18:1), ou a de Rute e Noemi (Rt 1:8-18). É o desejo de todos nós ter uma amizade como essa. Mas é frequente as pessoas serem traídas por aqueles que pareciam grandes amigos. Até Paulo sentiu a dor do abandono de seus amigos mais chegados (cf 2Tm 4:16). Ele sentiu de perto o peso do abandono da amizade, num momento em que mais precisava de uma mão amiga. Já perto do fim da sua vida, preso em Roma, Paulo reclama a Timóteo do abandono de seus irmãos mais próximos. O texto básico desta Aula (2Tm 4:9-18) mostra claramente os sentimentos de tristeza e abandono que tomaram conta de Paulo nesse momento difícil. Paulo sabia que estava chegando perto do fim de sua vida, e pede a Timóteo que vá vê-lo depressa. Mais do que precisar da companhia de Timóteo, Paulo queria lhe ministrar um último ensinamento: mostrar a Timóteo como um cristão deveria morrer por sua fé. Em seguida, Paulo esclarece o porquê está sozinho: Demas o havia desamparado, amando as coisas do mundo; Crescente, Tito e Tíquico também estavam longe, provavelmente pregando o Evangelho; apenas Lucas tinha ficado com ele. E por isso Paulo pede a Timóteo que tome a Marcos e vá vê-lo (convém notar que este é o mesmo João Marcos, sobrinho de Barnabé, que Paulo recusou anos antes como companheiro, porque ele os tinha abandonado na viagem, mas agora ele era útil, e Paulo o reconheceu). Paulo relata a Timóteo o problema que teve com Alexandre, o latoeiro (provavelmente o mesmo blasfemador citado em 1Tm 1:20), para que Timóteo guarde-se dele. Paulo termina o relato dizendo que ninguém o assistiu em sua defesa, mas ele sentiu a presença do Senhor o amparando – “Ninguém me assistiu na minha primeira defesa; antes, todos me desampararam. Que isto não seja imputado”(2Tm 4:16). Nota-se que Paulo se recusou a ficar amargurado por essa experiência. Sua oração pelos que o abandonaram é semelhante à oração de Estevão por seus assassinos: “Senhor, não lhes imputes este pecado”(At 7:60).
A Bíblia nos adverte a não abandonar o amigo – “Não abandones o teu amigo... (Pv 27:10). Devemos ser fieis, leais e amorosos – “Em todo tempo ama o amigo...” (Pv 17:17).
3. Da igreja. É dito por muitos que a igreja é a extensão do lar, da família. Um dos muitos modos de referir-se à igreja é como família de Deus. Entende-se que a família vive de relacionamentos, logo, como espaço para relacionamentos, precisa proporcionar um ambiente propício a que seus membros possam relacionar-se saudavelmente. Nós somos membros uns dos outros, então, devemos cuidar uns dos outros. Infelizmente, há igrejas que se esquecem de seus membros, não os visitam, não oram por eles e não lhes tratam as feridas. Até mesmo os missionários muitas vezes estão abandonados pelas igrejas que os enviaram, passando por diversas necessidades. Jesus disse que os falsos cristãos seriam caracterizados justamente pelo desamor e desprezo em relação aos desvalidos (Mt 25:31-46).
É hora de acordarmos para este problema; a igreja precisa tratar as carências dos seus membros. Somos um só corpo (1Co 12:12); se um membro padece, todo o corpo padece (1Co 12:26-27). Devemos cuidar e zelar uns dos outros, para que a igreja de Cristo desfrute perfeita saúde. Deus deseja que Seus filhos vivam em comunhão uns com os outros (Sl 133) e que os desvalidos, desfavorecidos e vitimados pela vida encontrem apoio, atenção e ajuda em Sua casa (Tg 1:27). Convém lembrar que Deus usa os crentes para consolar outros crentes, como fez com Tito em relação a Paulo (2Co 7:6).

III. O DEUS QUE NÃO ABANDONA

1. Na angústia. É justamente nos momentos de angústia e aflição que o ser humano sente-se esquecido por todos, inclusive pelos mais chegados. Quantas vezes nos sentimos sozinhos, angustiados e esquecidos pelos nossos amigos, parentes e pelos nossos irmãos em Cristo. Mas, mesmo nos momentos difíceis da vida, existe alguém que nunca nos abandona, Jesus.
Portanto, se a angustia bater no seu coração, lembre que você pode invocar o Senhor. O Salmo 50:15 diz: "invoca-me no dia da angustia, eu te livrarei, e tu me glorificarás". Foi assim que Ana alcançou a benção de ter um Filho (1Sm 1). Foi assim que Moisés alcançou os milagres nas horas mais difíceis. Foi assim que aconteceu com o cego de Jericó; ele gritava pedindo que Jesus tirasse dele aquela angústia, a cegueira física: “Jesus Filho de Davi, tem misericórdia de mim”; o Senhor atendeu o seu pedido, ele foi curado, física e espiritualmente. Jairo também foi até Jesus num momento de angústia, a sua filha estava morrendo; quando estava pedindo a misericórdia do Senhor, recebe uma má noticia: “não precisa mais incomodar o Mestre, ela[a criança] já morreu”. Em muitas das vezes você vai encontrar pessoas que querem incentivar você a desistir, mas não desista! Jairo mesmo recebendo a noticia da morte de sua filha confiou em Jesus e alcançou a benção. Somente em Deus encontramos refúgio e fortaleza nos momentos de angústia. Está escrito:“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia (Sl 46:1).
É bom ressaltar que Deus nem sempre nos livra “da” angústia, mas “na” angústia. Ele não é o Deus da previsão e sim, da provisão. Não é o Deus da previdência e sim da providência. Ele não age antes, mas também não se atrasa. Ele disse: “e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”(Mt 28:20).
Seja qual for as tuas angústias ou problemas, continuem confiando em Deus. Ele nos livra “nos” problemas e “nas” angústias – “Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; livrá-lo-ei e o glorificarei” (Sl 91:15).
2. O amigo. O verdadeiro amigo é aquele que se dispõe a tomar a carga do outro, de colocar o seu próprio destino juntamente ao do outro, de compartilhar as agruras, as dificuldades e as adversidades. O amigo se conhece no momento das dificuldades, não no momento das vitórias e das realizações. Como diz Salomão, o amigo ama em todo o tempo (Pv 17:17a) e não pode abandonar o seu amigo (Pv 27:10).
Ser amigo é algo muito profundo e, em um modo geral, nunca teremos muitos amigos, pois é muito intensa a intimidade do amigo. Esta intimidade faz com que tenhamos, quase sempre, poucos amigos, mas não importa a quantidade, mas, sim, a qualidade desta amizade. Os amigos de Paulo não eram muitos(Cl 4:11), mas o suficiente para que o apóstolo não ficasse desamparado e prosseguisse o seu ministério.
Os amigos não são muitos, mas, mais importante do que isto, é saber que o crente, além de ter os seus indispensáveis amigos, tem um amigo que é mais chegado do que um irmão (Pv 18:24b), a saber, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Jesus chamou Seus discípulos de amigos, em lugar de servos (João 15:15). Nós também temos esse privilégio. Ele é o amigo fiel, que não nos abandona na hora da angústia.
Ao morrer em nosso lugar, Jesus ofereceu a maior prova de amor e lealdade que um amigo pode dar (João 15:13). Cristo morreu na cruz do Calvário para que hoje tivéssemos direito à vida eterna. Para termos esse amigo fiel ao nosso lado, apenas precisamos aceitá-lo como Salvador pessoal. Ele tomou sobre Si nossas enfermidades e nossas dores (Is 53:4), inclusive as dores da discriminação e do abandono.
Abraão foi chamado de “amigo de Deus”(2Cr 20:7;Is 41:8; Tg 2:23). O fato de Abraão ser chamado de “amigo de Deus” já é suficiente para buscarmos seguir o seu exemplo, já que, como servos do Senhor Jesus, também somos reputados como seus amigos (João 15:15). Se Abrão é chamado amigo de Deus é porque tinha o mesmo sentimento de Deus, tinha uma profunda comunhão com o Senhor. Comunhão é o estado em que há uma comunidade de sentimentos, de propósitos, de ideias, ou seja, os sentimentos, os propósitos e as ideias de Abrão e de Deus eram iguais, eram idênticos, eram comuns. Disse Jesus: “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (João 15:14).
3. A sua Igreja. A igreja é um projeto exclusivamente divino, concebido, executado e sustentado por Deus. É por isso que podemos ter a certeza, e a história tem demonstrado isto, que nada pode destruir a Igreja. Durante estes quase dois mil anos em que a igreja tem participado da história da humanidade, muitos homens poderosos se levantaram contra a Igreja, tentaram destruí-la e não foram poucas as vezes em que se proclamou que a Igreja estava vencida. No entanto, todos estes homens passaram, mas a Igreja se manteve de pé, vencedora, demonstrando que não se trata de obra humana, mas de algo que é divino e contra o qual todos os poderes das trevas não têm podido prevalecer. Jesus prometeu que estaria com a Igreja, sempre: “eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”(Mt 28:20). Ao revelar o Seu mistério, isto é, a Igreja, disse que a edificaria e que as portas do inferno não prevaleceria contra ela(Mt 16:18).
Jesus foi constituído Senhor sobre todas as coisas (Mt 28:18; Rm 14:9) e não deixaria de sê-lo com relação à sua Igreja, que Ele comprou com o seu próprio sangue (At 20:28). Tendo criado a Igreja, nada mais natural que seja o seu Senhor, o seu Rei, o seu Governante. Portanto, Jesus jamais abandona a Sua Igreja.

CONCLUSAO

Na época do profeta Isaias, o povo de Israel experimentaram grande sofrimento e, por isso, se sentiam abandonado e esquecido por Deus. Mas Deus lhes deu a seguinte resposta: “Pode uma mulher esquecer-se também do filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, me não esquecerei de ti”(Is 49:15). Esta resposta de Deus é a garantia divina a todo crente que passar por períodos de provação, ou até mesmo ser esquecido pelo seu ente querido. O amor de Deus por nós é maior do que a afeição natural que uma mãe amorosa dedica a seus filhos. Sua compaixão por nós nunca cessará, sejam quais forem as circunstâncias da nossa vida. Ele zela por nós com grande amor e ternura, e estejamos convictos de que Ele nunca nos abandonará. A evidência do grande amor de Deus é que Ele nos gravou nas palmas das suas mãos, de tal maneira que nunca nos esquecerá. As marcas dos cravos nas suas mãos, estão sempre diante dos seus olhos como lembrança do grande amor que Ele tem por nós, e do seu cuidado. Portanto, ainda que a família e os amigos venham a abandonar-nos, Deus sempre nos acolherá. Ele está sempre ao nosso lado. Amém!

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Revista Ensinador Cristão – nº 51 – CPAD.

domingo, 9 de setembro de 2012

EDUCAÇÃO CRISTÃ CONTINUADA – Aula 12


DESCOBRINDO O NOVO TESTAMENTO

1 e 2 PEDRO, 1, 2 e 3 JOÃO

Texto Básico: 1Pedro 2:1-5


 

Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis”(2Pedro 3:14).

 

INTRODUÇÃO


Dando continuidade ao estudo panorâmico do Novo Testamento vamos estudar nesta Aula as Epístolas de Pedro e João.

As Epístolas de Pedro

A primeira foi escrita para encorajar cristãos perseguidos e confusos e para exortá-los a permanecer firmes na sua fé (1Pe 5:12). A segunda foi escrita a cristãos que estavam sendo ameaçados pelo falso ensino interno(2Pe 2:1). Como antídoto, Pedro enfatiza a verdade e as implicações éticas do Evangelho contra os falsos mestres.

As Epístolas de João

A primeira foi escrita com o propósito de dar garantia aos que creram em Cristo acerca da certeza da salvação(1João 5:13). A segunda foi escrita para alertar a igreja sobre o perigo dos falsos mestres. A Terceira foi escrita para alertar a igreja sobre o perigo dos falos líderes. Os problemas que motivaram o idoso apóstolo a escrever estas Epístolas ainda atingem a igreja hoje. Os tempos mudaram, mas o homem é o mesmo. Os problemas podem ter aspectos diferentes, mas em essência são os mesmos.
O contexto das três cartas de João mostra uma igreja assediada pelos falsos mestres. Muitos desses falsos mestres saíram de dentro da própria igreja (1João 2:19) e se corromperam teológica e moralmente. O apóstolo Paulo havia alertado para essa possibilidade (At 20:29,30). A heresia é nociva. Ela engana e mata. Não podemos ser complacentes com o erro. Não podemos tolerar a mentira. Não podemos apoiar a causa dos falsos mestres.
Hoje, ainda, há muitos falsos profetas, muitos falsos mestres e muito engano religioso. A igreja evangélica brasileira tem sido condescendente com muitos ensinos estranhos à Palavra de Deus. Precisamos nos acautelar. Precisamos nos firmar na verdade para vivermos de modo digno de Deus.

I. 1 PEDRO, RESPONDENDO À PERSEGUIÇÃO

1. Autoria. O autor da Epístola se apresenta como Pedro, apóstolo de Jesus Cristo(1Pe 1:1). Alguns críticos duvidam que Pedro seja o autor da Carta, devido o excelente nível do grego empregado. Um pescador Galileu seria capaz de escrever tão bem? Muitos dizem que não. No entanto, como nossa cultura mostra através de várias exemplos, pessoas com habilidade linguística natural podem desenvolver o uso da linguagem de forma extraordinária. Pedro tinha trinta anos de experiência como pregador, sem falar na inspiração do Espírito Santo e, provavelmente, na contribuição de Silvano(1Pe 5:12) para a redação da Carta. Quando Atos 4:13 diz que Pedro e João eram “iletrados e incultos”, refere-se apenas a sua falta de instrução rabínica.
As referencias externas de que Pedro escreveu esta Epístola são antigas e praticamente universais. Eusébio conta 1Pedro entre os livros aceitos por todos os cristãos. Policarpo e Clemente de Alexandria o consideram autêntico.
2. Destinatários. A Epístola é dirigida aos forasteiros ou peregrinos da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia(1Pe 1:1). Alguns destes, talvez hajam se convertido no dia de Pentecostes, ao ouvirem a mensagem de Pedro, e retornaram às suas respectivas cidades levando a fé que acabavam de conhecer(cf At 2:9,10). Estes crentes são chamados “peregrinos e forasteiros”(1Pe 2:11), relembrando-lhes, assim, que a peregrinação cristã ocorre num mundo hostil a Jesus Cristo; mundo este, do qual só podem esperar perseguição. É provável que Pedro escreveu esta Carta em resposta a informes dos crentes da Ásia Menor sobre a crescente oposição a eles(1Pe 4:12-16), ainda sem consentimento do governo (1Pe 2:12-17).
Pedro escreveu de “Babilônia”(1Pe 5:13). Isto pode referir-se literalmente à cidade de Babilônia, na Mesopotâmia, ou pode ser uma expressão figurada referente a Roma, o centro principal de oposição a Deus, no século primeiro.
3. Contexto e Tema. Pedro trata particularmente do sofrimento na vida cristã. Até então, seus leitores haviam sido ultrajados e ridicularizados por causa de Cristo (1Pe 4:14,15). Ao que parece, a prisão, o confisco dos bens e a morte violenta ainda eram tribulações que estavam por vir. Mas esta Carta magnífica não trata apenas do sofrimento. Fala das bênçãos herdadas por aqueles que aceitam o Evangelho e de como os cristãos devem relacionar-se com o mundo, o estado, a família e a Igreja. Também fornece instruções sobre os presbíteros e a disciplina eclesiástica.
A mensagem preeminente de 1Pedro diz respeito à submissão e ao sofrer, perseverando na retidão, por amor a Cristo, de conformidade com o próprio exemplo dEle(1Pe 2:18-24; 3:9-5:11). Pedro assegura aos fiéis que eles obterão o favor e a recompensa de Deus ao sofrerem por causa da justiça. No contexto desse ensino do sofrimento por Cristo, Pedro ressalta os temas conexos da salvação, da esperança, do amor, da fé, da santidade, da humildade, do temor a Deus, da obediência e da submissão.

II. 2 PEDRO, O VERDADEIRO CONHECIMENTO CRISTÃO

1. Data e destinatários. Na saudação(2Pe cap. 1), Simão Pedro identifica-se como o autor da Carta. Mais adiante ele declara aos seus leitores que esta é a sua segunda Epístola(2Pe 3:1), indicando assim que está escrevendo aos mesmos crentes da Ásia Menor, a quem dirigira a primeira Epistola(1Pe 1:1). Visto que Pedro, assim como Paulo, foi executado por decreto do perverso Nero (que, por sua vez, morreu em junho de 68 d.C.), é mais provável que Pedro escreveu esta Epístola entre 66 e 68 d.C., pouco antes do seu martírio em Roma (2Pe 1:13-15).
2. Conteúdo. Este Epístola solenemente instrui os crentes a tomarem posse da vida e da piedade, mediante o verdadeiro conhecimento de Cristo.
O primeiro capítulo acentua a importância do crescimento cristão. Tendo começado pela fé, o crente deve buscar diligentemente a excelência moral, o conhecimento, a temperança, a perseverança, a piedade, o amor fraternal e a caridade(amor altruísta), que levam à fé madura e ao verdadeiro conhecimento do Senhor Jesus (2Pe 1:3-11).
O segundo capítulo adverte solenemente contra os falsos profetas e mestres que surgem dentro das igrejas. Pedro os denuncia como anarquistas e perniciosos (2Pe 2:1,3; 3:17), que se comprazem nas concupiscências da carne (2Pe 2:2,7,10,13,14,18,19); são cobiçosos (2Pe 2:2,14,15), arrogantes (2Pe 2:18) e obstinados (2Pe 2:10) e que desprezam a autoridade (2Pe 2:10-12). Pedro procura resguardar os verdadeiros crentes contra as suas heresias destrutivas (2Pe 2:1) pondo a descoberto seus motivos e conduta malignos.
No terceiro capítulo, Pedro refuta o ceticismo desses mestres, no tocante à vinda do Senhor (2Pe 3:3,4). Assim como a geração dos dias de Noé, enganada, zombava da ideia do juízo da parte de Deus, através de um grande dilúvio, esses outros zombadores estão igualmente cegos quanto às promessas da volta de Cristo. Mas, com a mesma certeza manifesta no julgamento pelo dilúvio (2Pe 3:5,6), Cristo voltará e desintegrará a presente Terra, no fogo (2Pe 3:7-12), e criará uma nova ordem sob a justiça (2Pe 3:13). Tendo em vista esse fato, os crentes devem viver vidas santas e piedosas na presente era (2Pe 3:11,14).

III. 1 JOÃO, A CERTEZA DO CRENTE

1. Autoria e Propósito.
a) Autoria. Há um consenso quase unânime na história da igreja, por meio de evidências externas e internas, que essa Carta foi escrita pelo apóstolo João. Muito embora o nome do apóstolo não apareça no corpo da missiva, como acontece em outras epístolas, a semelhança com o quarto evangelho e com as outras duas missivas, no que tange ao vocabulário, ao estilo, ao pensamento e ao escopo não deixa dúvida de que o evangelho e as três cartas podem ser considerados obras do mesmo autor. Destacaremos duas evidências de autoria joanina:
 - Em primeiro lugar, as evidências externas. Os pais da igreja do segundo século, como Policarpo (69-155), Papias (60-130), Clemente de Alexandria (150-215), e Irineu (150-200) dão testemunho eloquente da autoria joanina dessa missiva. Tertuliano, no começo do terceiro século, Cipriano, nos meados do terceiro século, e Eusébio, no quarto século, também dão testemunho que João foi o autor desta Carta. Todas as três epístolas se acham nos manuscritos mais antigos. A primeira Epístola está incluída também nas mais antigas versões da igreja do Oriente e do Ocidente, a saber, a Siríaca e a Latina.
 - Em segundo lugar, as evidências internas. A Primeira Carta de João tem forte semelhança com o evangelho segundo João. É impressionante a semelhança entre o evangelho de João e as epístolas quanto aos paralelos verbais e à escolha de palavras. O vocabulário tanto nas epístolas quanto no evangelho mostra semelhança inconfundível. Ambos os livros enfatizam os mesmos temas: amor, luz, verdade, testemunho e filiação. Tanto a Epístola quanto o evangelho revelam o uso literário de contraste: vida e morte, luz e trevas, verdade e mentira, amor e ódio.
b) Propósito. O apóstolo João teve um duplo propósito ao escrever essa Carta:
- Em primeiro lugar, expor os erros doutrinários dos falsos mestres. Esses falsos mestres estavam  disseminando suas heresias perniciosas. João mesmo diz: "Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar" (1João 2:26). João escreveu para defender a fé e fortalecer as igrejas contra os falsos mestres e sua herética doutrina. Esses falsos mestres haviam saído de dentro da própria igreja (1João 2:19). Eles se desviaram dos preceitos doutrinários. João identificou o surgimento de uma perigosa heresia que atacaria implacavelmente a igreja no segundo século, a heresia do gnosticismo.
O gnosticismo era uma espécie de filosofia religiosa que tentava fazer um concubinato entre a fé cristã e a filosofia grega. Os gnósticos, influenciados pelo dualismo grego, acreditavam que a matéria era essencialmente má e o espírito essencialmente bom. Esse engano filosófico desembocou
em grave erro doutrinário. Os gnósticos diziam que o corpo, sendo matéria, não podia ser bom. Por conseguinte, negavam a encarnação de Cristo.
As principais crenças do gnosticismo são: a impureza da matéria e a supremacia do conhecimento. Com isso, a filosofia gnóstica produziu uma aristocracia espiritual por um lado e uma acentuada imoralidade por outro. O gnosticismo ensinava que a salvação podia ser obtida por intermédio do conhecimento, em vez da fé. Esse conhecimento era esotérico e somente poderia ser adquirido por aqueles que tinham sido iniciados nos mistérios do sistema gnóstico.
O gnosticismo ensinava que o corpo era uma vil prisão em que a parte racional ou espiritual do homem estava encarcerada, e da qual precisava ser libertada pelo conhecimento (gnosis). Os gnósticos acreditavam na salvação pela iluminação. Essa iluminação podia ser mediante a comunicação de um conhecimento esotérico em alguma cerimônia secreta de iniciação.
- Em segundo lugar, confirmar os verdadeiros crentes na doutrina dos apóstolos. João escreve para fortalecer e encorajar os crentes em três áreas essenciais: Primeira, a área doutrinária, mostrando a eles que Jesus é o Filho de Deus e que aqueles que crêem em seu nome têm a vida eterna (1João 5:13); Segunda, a área moral, mostrando que aqueles que crêem em Cristo, são purificados em seu sangue, habitados pelo seu Espírito e apartados do mundo devem, por conseguinte, aguardar a sua vinda, vivendo em santidade e pureza (2:3-6); Terceira, a área social, mostrando que aqueles que foram amados por Deus devem agora, como prova do seu amor por Deus, amar os irmãos (1João 4:20,21). Esse amor não é apenas de palavras, mas um amor prático que se evidencia na assistência ao necessitado (1João 3:17,18).
2. Destinatários. A Primeira Carta de João não foi endereçada a uma única igreja nem a uma pessoa específica, mas às igrejas do primeiro século. Trata-se de uma Carta circular, geral ou universal. Não há dúvida que ela circulou primeiramente entre as igrejas da Ásia e João tinha suas razões para escrevê-la em face dos perigos que atacavam as igrejas daquele tempo. Entretanto, seus ensinos e suas exortações não se restringem àquela época e àquelas igrejas. As doutrinas e exortações são tão oportunas para as igrejas de hoje como o foram para as igrejas daquele tempo.
João não lida com nenhuma situação específica de determinada igreja. Essa Carta é uma espécie de tratado teológico, onde João submete os crentes a três testes distintos: o teste teológico, ou seja, se acreditam que Jesus é o Filho de Deus; o teste moral, ou seja, se vivem de forma justa; e o teste social, se amam uns aos outros.
Quando João escreveu essa Carta, da cidade de Éfeso, muitos dos cristãos já pertenciam à segunda ou terceira geração. Nessa época, a igreja de Éfeso já havia perdido o seu primeiro amor (Ap 2:4). O amor estava se esfriando. O perigo que atacava a igreja não era a perseguição, mas a sedução. O problema não vinha de fora, mas de dentro. Jesus já havia alertado que "[...] muitos falsos profetas se levantariam, e enganariam a muitos" (Mt 24:11). Paulo já alertara os presbíteros da igreja de Éfeso acerca dos lobos que entrariam no meio do rebanho e de homens pervertidos que se levantariam no meio deles para arrastarem após si os discípulos (At 20:29,30). Esses falsos mestres saíram de dentro da própria igreja (1João 2:19) para fazer um casamento espúrio entre o cristianismo e a filosofia secular. Esse sincretismo produziu uma perniciosa heresia chamada gnosticismo, como explicamos no item 1.b acima. É esse perigo mortal que João combate nesta Epístola.
3. Principais ênfases da Primeira Carta de João. A Primeira Carta de João é marcada por contrastes: luz e trevas, vida e morte, santo e pecador, amor e ódio, Cristo e anticristo. Destacaremos as principais ênfases desta Epístola:
a) Ela é uma Carta geral. Essa Epístola não foi endereçada a uma igreja específica, mas a todos os crentes. Ela é uma Carta escrita de um pai para os seus filhos (1João 2:1,12,18,28; 3:1,7,18,21; 4:1,4,7,11; 5:2,21).
b) Ela é uma Carta apologética. João combate com ousadia os falsos mestres e suas perniciosas heresias. Os hereges cometiam três erros básicos: doutrinário, moral e social. Eles negavam a realidade da pessoa teantrópica de Cristo, ou seja, sua natureza divino-humana. Negavam a necessidade de uma vida santa como prova do conhecimento de Deus e negavam a prática do amor como evidência da conversão.
c) Ela é uma Carta de segurança espiritual. A expressão: "nós sabemos" é usada nessa Carta treze vezes para dar segurança aos crentes. A Epístola garante aos crentes que Deus enviou seu Filho ao mundo para salvar o homem, acentuando a doutrina da encarnação. A Carta assegura aos crentes que aqueles que creem têm a vida eterna.
d) Ela é uma Carta pessoal e espiritual. Muito embora essa Epístola esteja repleta de doutrina, a ênfase é sobre a justiça pessoal, a pureza, o amor e a lealdade a Jesus Cristo, o Filho de Deus.
e) Ela é uma Carta que enfatiza o amor. O amor a Deus e o amor aos irmãos caminham juntos (1João 2:7- 11; 3:1-3; 3:11-17; 3:23; 4:7-21). Quem não ama vive nas trevas. Quem não ama não conhece a Deus. A prova do nosso amor por Deus é o nosso amor ao irmão (1João 4:20,21).
f) Ela é uma Carta que enfatiza a essência do próprio Deus. João diz duas coisas muito importantes acerca do ser de Deus: "Deus é luz, e não há nele treva nenhuma" (1João 1:5). Deus é amor e por causa desse amor ele nos enviou seu Filho para nos redimir do pecado (1João 4:7-10,16). Em outras palavras Deus é luz e se revela; Deus é amor e se entrega a si mesmo. Deus é a fonte de luz para a mente e a fonte de calor para o coração dos seus filhos.
g) Ela é uma Carta que enfatiza a divindade de Cristo. João combate os hereges gnósticos mostrando que Jesus é o Filho de Deus, o Messias prometido, o ungido de Deus (1João 1:7; 2:1,22; 3:8; 4:9,10,14,15; 5:1,9-13,18,20). Já na introdução de sua primeira Epístola, João ensina sobre a humanidade e a divindade de Jesus Cristo. Os falsos profetas negavam que Jesus é o Cristo (2.22) e que ele é o Filho de Deus (1João 2:23; 4:15).
h) Ela é uma Carta que enfatiza a humanidade de Cristo. Contrariando os ensinos gnósticos que proclamavam que a matéria era essencialmente má, João mostra que Jesus veio em carne (1João 1:1-3,5,8; 4:2,3,9,10,14; 5:6,8,20).
i) Ela é uma Carta que enfatiza que Jesus é o Salvador. Jesus morreu pelos pecados dos homens (1João 1:7; 2:1,2; 3:5,8,16; 4:9,10,14). O Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo (1João 4:14). Ele manifestou-se para tirar os pecados e nele não existe pecado (1João 3:5). Com respeito ao pecado do homem, Jesus é: primeiro, o nosso advogado junto ao Pai (1João 2:1) e, segundo, a propiciação pelos nossos pecados (1João 2:2; 4:10). Um sacrifício propiciatório restaura a relação quebrada entre duas partes. É um sacrifício que reconcilia o homem e Deus.
j) Ela é uma Carta que enfatiza o Espírito vivendo dentro do crente. O Espírito é quem nos faz conscientes de que Deus permanece em nós (1João 3:24) e habita em nós e nós habitamos nele (1João 4:13).
k) Ela é uma Carta que enfatiza a necessidade de separação do mundo. O amor a Deus e o amor ao mundo são incompatíveis e irreconciliáveis (1João 2:15-17; 3:1,3,13; 4:3-5; 5:4; 5:19). O mundo é hostil a Deus e ao crente (1João 3:1). Os falsos profetas são do mundo e não de Deus, porque falam a linguagem do mundo (1João 4:4,5). Todo o mundo está sob o maligno (1João 5:19). Por isso, o crente deve vencer o mundo pela fé (1João 5:4). Todos os desejos do mundo são passageiros (1João 2:17). Entregar o coração ao mundo que marcha para a destruição é uma verdadeira loucura.
l) Ela é uma Carta que enfatiza a necessidade de obediência aos mandamentos divinos. A prova moral de que pertencemos à família de Deus é a obediência (1João 2:3-8,29; 3:3-15,22-24; 4:20,21; 5:2-4,17-19,21). O conhecimento de Deus e a obediência a Deus devem caminhar sempre juntos. Aquele que diz que conhece a Deus, mas não guarda seus mandamentos é mentiroso (1João 2:3-5). A obediência a Deus é uma das condições para termos nossas orações respondidas (1João 3:22). Somos conhecidos como crentes pela obediência a Deus e pelo amor aos irmãos.

IV. 2 JOÃO, ANDANDO NA VERDADE E NO AMOR

1. Generalidades. Esta é uma das cartas mais curtas do Novo Testamento. É classificada como uma das cartas gerais. O propósito maior desta pequena missiva é alertar a igreja acerca da necessidade de se viver à luz da verdade. Muitas heresias estavam sendo espalhadas pelos falsos mestres e a igreja precisava se acautelar para não naufragar na fé. Conhecer a verdade, andar na verdade e permanecer na verdade são as orientações de João à igreja para não sucumbir diante deste cerco dos falsos mestres.
Assim como na Primeira Carta de João, há três provas insofismáveis que autenticam o verdadeiro crente: as provas doutrinária, social e moral, ou seja, a fé, o amor e a obediência. Estas mesmas provas podem ser vistas nesta Epístola: a verdade (2João 1-3), o amor (2João 4-6) e a obediência (2João 7-13).
A segunda Carta é dirigidaà senhora eleita e aos seus filhos..." (2João 1). Não existe consenso entre os eruditos acerca dos destinatários desta Carta. Há várias opiniões:
Primeira, João estaria escrevendo para uma mulher cristã e seus filhos. O argumento é que os versículos 1,4,5,13 estão no singular.
Segunda, João estaria escrevendo para uma mulher chamada Electa e seus filhos. Aqueles que subscrevem esta interpretação entendem que a palavra "eleita" é o nome próprio dessa mulher cristã.
Terceira, João estaria escrevendo para uma irmã que hospedava uma igreja em sua casa. Como no primeiro século não havia templos, esta mulher hospedava em sua casa uma comunidade cristã. Vemos vários casos em que igrejas se reuniam nos lares (1Co 16:19; Cl 4:15; Rm 16:5; Fm 2).
Quarta, João estaria escrevendo para uma igreja local, uma vez que ele usa várias vezes o plural nesta pequena Epístola (2João 6,8,10,12).
Em consonância com a maioria dos fiéis expositores bíblicos, subscrevemos esta última posição. Contudo, ainda permanece uma pergunta: por que João usou a expressão "irmã eleita" sem citar seu nome, ou por que omitiu o nome da igreja? Temos conjecturas e nenhuma certeza. Mui provavelmente João fez isto por prudência, uma vez que a perseguição à igreja naquele tempo já se tornava assaz furiosa.
2. Contexto e Tema. O contexto desta Epístola é o ministério amplamente difundido de pregadores itinerantes na igreja primitiva, ainda praticado hoje em alguns meios evangélicos. Evangelistas e ministros da Palavra eram acolhidos nas congregações e lares que visitavam e dos quais recebiam alimentos e, por vezes, dinheiro. Infelizmente, falsos mestres e charlatões religiosos não hesitavam em usar esse costume como forma de obter lucro fácil e propagar heresias como o gnosticismo.
Se já era necessário advertir acerca de hereges e “aproveitadores religiosos” no século primeiro, o que o apóstolo João diria se visse a miscelânea de falsas religiões e seitas de nossos dias?
O Tema central de 2João é a importância de não cooperar com alguém que espalha doutrinas falsas acerca da Pessoa de nosso Senhor Jesus (2João 10-11). A heresia não é apenas um erro, mas também uma obra iníqua. Pode enviar almas à ruína eterna. Se não quisermos ser parceiros destes enganadores e cúmplices desta obra iníqua é preciso que não ofereçamos nenhum incentivo aos que a realizam.
O apóstolo João conclui sua segunda Epístola assim: "Ainda tinha muitas coisas que vos escrever; não quis fazê-lo com papel e tinta, pois espero ir ter convosco, e conversaremos de viva voz, para que a nossa alegria seja completa. Os filhos da tua irmã eleita te saúdam" (2João 12,13). João passa da instrução para o anseio pela comunhão. Não basta instruir os crentes; para o apóstolo, ele anseia estar com eles, a fim de que sua alegria seja completa. O cristianismo não é apenas conhecimento, mas também relacionamento. As demais instruções apostólicas seriam transmitidas não pela forma escrita, mas pela comunicação oral.
O presbítero João, o último remanescente do grupo de apóstolos, transmite à igreja destinatária, as saudações da igreja remetente. Trata-se de uma igreja eleita saudando outra igreja eleita. O amor verdadeiro se comunica e se expressa.

V. 3 JOÃO, PRATICANDO A HOSPITALIDADE CRISTÃ

O apóstolo João, também chamado de "o presbítero", escreveu sua segunda Carta para alertar sobre o perigo dos falsos mestres; nesta terceira Carta ele adverte sobre os falsos líderes. Na segunda Carta, os falsos mestres apelavam para o amor, mas negavam a verdade. Na terceira Carta, o falso líder apela para a verdade, mas nega o amor.
A segunda Carta coloca o aspecto negativo da hospitalidade; a terceira Carta o lado positivo da hospitalidade. A segunda Carta alerta para o perigo de exercer hospitalidade com os falsos mestres (3João 7-11). A terceira Carta alerta para a necessidade de hospedar e receber os pregadores fiéis da Palavra de Deus (3João 5-8).
Se os crentes não devem acolher os falsos mestres em suas casas, de bom grado devem receber os servos de Deus. John Stott acertadamente diz que estas duas cartas devem ser lidas juntas para obtermos uma equilibrada compreensão dos deveres e limites da hospitalidade cristã.
Uma das palavras-chave desta Terceira Carta de João é a palavra “testemunho” (3João 3,6,12). Ela significa não somente o que dizemos, mas também o que fazemos. Cada cristão é uma testemunha, seja boa ou má. Somos parte do problema ou da sua solução. Somos bênção ou maldição. Não há neutralidade quando se trata da vida cristã.
Essa Carta fala sobre três homens: Gaio, Diótrefes e Demétrio (3João 1,9,12). Na igreja visível, há salvos e perdidos. Há crentes genuínos e crentes falsos. Há os que amam a Deus e buscam a sua glória, e aqueles que amam a si mesmos e estão interessados apenas em sua própria projeção.
Na igreja militante há pessoas que trabalham com Deus e para Deus e pessoas que trabalham contra Deus. Há trigo e joio. Há ovelhas e lobos. É de bom alvitre examinarmo-nos a nós mesmos. O apóstolo Paulo exorta: "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados" (2Co 13:5).
Destinatário da Carta: "O presbítero ao amado Gaio, a quem eu amo na verdade"(3João 1). Diferente da segunda Carta, a terceira é endereçada a um homem, e não à igreja. O nome Gaio era muito comum entre os romanos. O Novo Testamento faz referência a três homens que possuíam esse nome: Gaio, de Corinto (1Co 1:14; Rm 16:23), Gaio, de Macedónia (At 19:29), e Gaio, de Derbe (At 20:4). Embora John Stott esteja inclinado a aceitar o último Gaio como o destinatário dessa Epístola, não há como identificar com certeza quem é este Gaio para quem João escreve.
João não apenas chama Gaio de "amado" três vezes (3João 1,2,5), mas também reforça o conceito, afirmando "a quem eu amo na verdade". O amor cristão não é apenas para ser sentido, mas também para ser declarado e demonstrado. Gaio era um homem especial. Era daquele tipo de gente que atraía as pessoas pela sua bondade, amor e testemunho.
O Rev. Augustus Nicodemus chama a atenção para o fato de que em nossos dias, por causa da aceitação crescente do homossexualismo em nossa sociedade decaída, o genuíno amor fraternal entre irmãos em Cristo pode ser visto de modo suspeito, especialmente pelos que têm a mente envenenada pela impureza sexual.
O amor de Jesus por João e de João por Gaio tem sido usado pelos homossexuais para justificar o que sentem entre si. Na verdade, tal sentimento homossexual é chamado por Paulo de "[...] paixões infames" (Rm 1.26). É bastante diferente do amor cristão entre dois irmãos em Cristo (Lopes, Augustus Nicodemus. II,III João e Judas).

CONCLUSÃO

Os tempos mudaram, mas o homem é o mesmo. As heresias que atacaram a igreja no passado mudaram o vestuário e os cosméticos, mas sua essência é a mesma. Nas palavras de Augustus Nicodemus, "os mesmos erros daquela época se manifestam hoje, usando outra embalagem".
Assim como os falsos mestres saíram de dentro da igreja, hoje há muitos falsos mestres que estão pervertendo o evangelho dentro das próprias igrejas. A igreja evangélica brasileira é um canteiro fértil onde têm florescido muitas novidades estranhas à Palavra de Deus. Precisamos nos acautelar. Precisamos nos firmar na verdade e saber que todos aqueles que não trazem a doutrina de Cristo são movidos pelo espírito do anticristo. Dentre tantos perigos que atacam a igreja contemporânea, destacamos três: o liberalismo, o misticismo e o pragmatismo.
Não podemos calar nossa voz diante de crendices que se espalham nas igrejas, onde pregadores supostamente espirituais recomendam aos fiéis colocar um copo d'água sobre o televisor e depois da oração de consagração beber essa água ungida como se ela passasse a ter poderes sobrenaturais. O pragmatismo tornou-se filosofia de ministério em muitas igrejas.
Para o pragmatismo, a verdade não mais importa, e sim os resultados. A fidelidade foi substituída pelo lucro. O sucesso tomou o lugar da santidade. A igreja tornou-se um clube, onde multidões se aglomeram para buscar o que gostam, e não para receber o que precisam. A mensagem da cruz foi substituída pela pregação da prosperidade. A mensagem do arrependimento foi trocada pelo calmante da autoajuda. As glórias do mundo porvir foram substituídas pelos supostos direitos que o homem exige de Deus nesta própria vida.
Por estas e muitas outras razões, estudar estas Epístolas é uma necessidade vital para a igreja contemporânea.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Panorama do Novo Testamento – ICI, São Paulo, 2008).

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Novo Testamento).

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

1,2,3João (Como ter garantia da salvação) – Rev. Hernandes Dias Lopes.

 

 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Aula 11 – INVEJA, UM GRAVE PECADO


Texto Básico: 1João 2:9-15
“O coração com saúde é a vida da carne, mas a inveja é a podridão dos ossos”(Pv 14:30).

INTRODUÇÃO

A inveja significa antipatia ressentida contra outra pessoa que possui algo que não temos e queremos. É um pecado grave. Faz parte do rol das obras da carne exarado em Gl 5:19-21. “Carne” é a natureza pecaminosa com seus desejos corruptos, a qual continua no cristão após a sua conversão, sendo seu inimigo mortal. Aqueles que praticam as obras da carne não herdarão o reino de Deus(Gl 5:21). Por isso, essa natureza carnal pecaminosa precisa ser resistida numa guerra espiritual contínua, que o crente trava através do poder do Espírito Santo(ver Rm 8:4-14).
Uma pessoa invejosa perturba-se com o sucesso dos outros. Não se alegra com o que tem, mas se entristece pelo que o outro tem. Um invejoso nunca é feliz porque sempre está buscando aquilo que não lhe pertence. Um invejoso nunca é grato, pois está sempre querendo o que é do outro. Um invejoso nunca tem paz porque sua mesquinhez é como um câncer que lhe destrói os ossos. Disse bem o sábio: “...a inveja é a podridão dos ossos” (Pv 14.30).
Conta-se a seguinte história sobre a inveja. “Uma serpente estava perseguindo um vaga-lume. Quando estava a ponto de comê-lo, o vaga-lume disse: ‘Posso fazer uma pergunta?’. A serpente respondeu: ‘Na verdade, nunca respondo a perguntas das minhas vítimas, mas, por ser você, vou permitir’. Então o vaga-lume perguntou: ‘Fiz alguma coisa a você?’. ‘Não’, respondeu a serpente. ‘Pertenço à sua cadeia alimentar?’, perguntou o vaga-lume. ‘Não’, ela respondeu de novo. ‘Então, por que você quer me comer?’, indagou o inseto. ‘Porque não suporto vê-lo brilhar’”.
O invejoso se queixa de tudo e de todos, acredita que não conquistará o que o outro possui, não reconhece as suas habilidades e talentos, pois está e vive focado no outro; portanto, torna-se um eterno insatisfeito.
Existem três tipos de inveja. O primeiro deles é a inveja autodestrutiva; é quando nos sentimos inferiores diante da aparência ou conquista de outras pessoas; quando nos sentimos incapazes e pobres por viajarmos de ônibus enquanto o nosso vizinho vai de automóvel, por exemplo.
O segundo tipo, o mais grave, é a inveja patológica, aquela que nos faz querer destruir aquele que invejamos. A primeira manifestação de inveja patológica está documentada na Bíblia, quando a perfeita comunhão de Abel com Deus leva Caim ao desespero e ao assassínio do próprio irmão.
O terceiro tipo é a inveja criativa que você sente e usa para conquistar o que deseja. Em vez de odiar o outro pelo que ele tem, tenta encará-lo como um exemplo a ser seguido. Por exemplo: um aluno conseguiu as melhores notas na disciplina; este tipo de inveja pode ajudar a melhorar as notas para superar o outro; estimula a se aprofundar nos estudos para conquistas de melhores empregos. Só que este tipo de inveja pode incorrer numa medida de insatisfação sem fim, numa busca infindável por bens; quanto mais tem mais quer; a medida da suficiência numa chega ao fim; é um eterno insatisfeito. Portanto, qualquer que seja o tipo de inveja é prejudicial a saúde espiritual do cristão, pois ela tem origem maligna.
O invejoso não tem paz. Que Deus nos guarde!

I. A INVEJA NO PRINCÍPIO DO MUNDO

1. Inveja, um sentimento maléfico. A inveja é definida como uma vontade frustrada de possuir os atributos ou qualidades de outra pessoa. É o tipo mais antigo de pecado e afeta a saúde física, social e espiritual (Pv 14:30). De acordo com o Dicionário Vine, editado pela CPAD, a inveja “originou-se da fracassada tentativa de Satanás de usurpar os atributos divinos”. Ele permitiu que o orgulho e egoísmo dominassem seus pensamentos e ações, e logo o seu desejo foi o de ocupar o lugar de Deus. Ele queria ser maior que o Todo-Poderoso (Is 14:2-20), porém sua tentativa foi um fracasso e por causa disso foi determinado o seu destino: o lago de fogo e enxofre, ou seja, o inferno(Ap 20:10).
A pessoa que permite que a inveja se instale no coração desenvolve uma compreensão equivocada de si e dos outros e nutre um sentimento maléfico de crítica, ódio e perseguição. No princípio da humanidade, a inveja causou a primeira morte em nosso mundo: Caim matou seu irmão Abel(Gn 4:5). Precisamos vencer esses maus sentimentos e nutrir o coração com o verdadeiro amor que vem de Deus. Os que amam a Deus não podem abrigar ódio nem inveja.
2. Inveja, uma ação maligna. A inveja é um pecado com grande poder de dominação. Um pessoa dominada pela inveja está sempre propensa a praticar maldade, que é uma ação maligna. 
Observe a advertência do Senhor para Caim: “Por que te iraste? E por que desmaiou o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”(Gn 4:6,7). Esta advertência do Senhor evidencia o perigo devido ao poder destrutivo e dominador da inveja. A consumação do homicídio não deixa dúvida. Uma pessoa tomada por inveja está vulnerável ao pecado, e dificilmente se livra de seu poder de dominação. O invejoso vai sendo tomado por uma série de outros sentimentos e atitudes, e esse descontrole pode levá-lo a praticar atos absurdos como no caso de Caim, que matou seu irmão. “A pessoa que pratica a maldade é naturalmente perversa e está sempre pronta a prejudicar e a ofender ao próximo”.
3. A inveja leva à maldade. Além de Caim, tomemos como outro exemplo a inveja de Saul. Embora tivesse, a princípio, uma disposição favorável a Davi, Saul se demonstrou depois muito hostil a ele, perseguindo-o com o propósito de o matar. Essa mudança não se deu de uma hora para outra, mas gradualmente, na proporção em que Saul nutria a inveja no coração. Aparentemente, o problema começou quando o aplauso popular desviou-se dele para Davi. Era-lhe muito pesaroso ver o nome de Davi em evidência, e o dele em aparente esquecimento. Por isso, passou a tê-lo como rival e inimigo. Esse problema sempre estará presente onde existirem pessoas com inveja.
De Saul podemos compreender que a inveja produz uma série de sentimentos ruins como: baixa autoestima, ódio, suspeita, medo, culpa e ira. A consequência disso foi o afastamento de Deus, que Saul infelizmente experimentou.

II. A INVEJA E SUA CONSEQUENCIA

1. Na vida de Caim. A família é o ambiente em que mais vivemos durante os primeiros anos de nossa vida, consequentemente é natural que nossos primeiros grandes problemas também aconteçam ali. As dificuldades que ocorrem no relacionamento entre irmãos são muitas e marcam muitas pessoas. Talvez a maior luta esteja exatamente relacionada a disputas, diferenças de oportunidades (ou de habilidade para aproveitá-las). A crise na família de Adão é um bom exemplo de inúmeros dramas familiares na história da humanidade.
Muitos conhecem a história dos irmãos Caim e Abel, filhos do primeiro casal da Terra, Adão e Eva. O resumo dos fatos é simples: Abel fez uma oferta aceitável ao Senhor, enquanto a oferta de Caim foi rejeitada. Isso trouxe profunda tristeza ao coração de Caim (Gn 4:2-5). Ele foi tomado por tamanha inveja que acabou por assassinar seu irmão. Entre a "concepção" do pecado e a prática de homicídio se deu algo realmente extraordinário, o próprio Senhor Deus foi ao encontro de Caim para adverti-lo do perigo iminente: "o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo"(Gn 4:7). Está escrito: “Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins” (Tiago 3:16).
Talvez seja a hora de você fazer uma autoavaliação e observar se tem admirado ou sentido inveja do seu irmão ou do seu próximo.
2. Na vida dos irmãos de José.E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque era filho de sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores. Seus irmãos, pois, o invejavam”(Gn 37:3,11). “E os patriarcas, movidos de inveja, venderam a José para o Egito; mas Deus era com ele”(At 7:9).
José, aos dezessete anos de idade, teve um sonho e contou a seus irmãos. Ele lhes disse: "Estávamos nós atando molhos no campo e eis que o meu molho, levantando-se, ficou em pé; e os vossos molhos o rodeavam e se inclinavam ao meu molho". Responderam-lhe seus irmãos: "Tu, pois, reinarás sobre nós e deveras terás domínio sobre nós?". Por causa dos seus sonhos e das suas palavras o odiavam ainda mais.
Teve José outro sonho e o contou a seus irmãos, dizendo: "Tive ainda outro sonho; e eis que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam perante mim”. Os irmãos o odiaram por causa do sonho e seu pai repreendeu-o porque entendeu que, segundo o sonho, todos eles viriam a inclinar-se com o rosto em terra diante dele.
Os irmãos de José, totalmente envolvidos pela inveja, decidiram matá-lo (Gn 37:18) e o teriam feito se Ruben, o primogênito, não lhes tivesse demovido o intento (Gn 37:18-21). A presença de José os incomodava. Por isso, não sossegaram enquanto não deram um fim nele.
José perdeu, de um momento para outro, toda a sua posição privilegiada que tinha na casa de seu pai. Perdeu a “túnica de várias cores” e foi posto numa cova no deserto, uma cova vazia e sem água (Gn 37:24). Seus irmãos, insensíveis e cegos pelo ódio e pela inveja, comiam pão enquanto seu irmão estava a sofrer terrivelmente naquela cova. José estava só, abandonado pelos seus próprios irmãos. Em fim, venderam-no como escravo, por vinte siclos de prata a negociantes ismaelitas, que o levaram para ser vendido no Egito. Mas, será que os invejosos irmãos de José tinham paz? A história mostra que não.
A inveja desvia o foco, conduzindo a energia da pessoa para o lado errado. É um sentimento ambicioso que não lhe permite vislumbrar o que está à sua frente nem o que lhe pertence. Por conta disso, pode gerar vingança, crimes, violência, enganos e maus-tratos, tudo pelo desejo de possuir o que o outro tem, de querer estar no lugar dele.
3. Na vida de Acabe, rei de Israel(1Rs 21:1-19). Vivemos em um mundo competitivo e cheio de atrativos para nossos olhos. Se o conceito de inveja - "desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem” -, se aplicava bem para o caso de Caim, o conceito "desejo violento de possuir bem alheio" é bastante apropriado ao caso de Acabe. Nabote possuía uma vinha ao lado do palácio do rei Acabe (1Rs 21:1), e esse rei invejoso desejou ardentemente aquele bem. A sua mulher insana arquitetou a morte de Nabote a fim de atender a cobiça de Acabe.
Inveja quase que se mistura com cobiça, um dos pecados registrados entre os dez mandamentos (Êx 20:17). Inveja não anda só, porém sempre muito mal acompanhada. Os diversos textos que tratam de inveja geralmente a colocam na companhia da maldade, da soberba, da mentira, do cinismo e da morte. O desejo despertado pela inveja é tão poderoso que acaba por tornar-se ocupação única do invejoso. Acabe não desejava mais comer, ou fazer qualquer outra coisa (1Rs 2:4). A combinação de pecados relacionados à inveja produz um veneno tão poderoso que ameaça de morte tanto as pessoas à sua volta como o próprio invejoso.
Como no caso de Caim, o final da história foi o juízo de Deus sobre Acabe e sobre Jezabel. A cobiça do rei Acabe teve uma consequência ainda mais funesta do que toda a sua idolatria. Acabe e sua mulher Jezabel muito haviam irado o Senhor por causa da intensa idolatria e da quase substituição do Senhor por Baal como deus nacional do reino do norte. Entretanto, a morte de Nabote, planejada covardemente por Jezabel, motivada pela cobiça do rei Acabe, foi a “gota d’água” da ira de Deus. Por causa disto, Deus sentenciou toda a casa de Acabe à morte. Foi, portanto, a inveja e a cobiça o estopim da destruição de toda a grande e extensa família de Acabe (1Rs 21; 2Rs 10:1-14).
4. Na vida do crente. Quem tem inveja não consegue andar para frente, pois seu tempo é ocupado em tentar ser alguém que não é, em tentar impressionar seus pares, e até mesmo tentar privar o invejado daquilo que ele possui. Se falarmos de forma honesta, não há crente fiel que em algum momento de sua vida não tenha sentido desprazer pelo sucesso de outro crente. Isso pode acontecer como qualquer pessoa, pois ter nascido de novo não nos isenta de ser assaltados por sentimentos incompatíveis com nossa posição em Cristo. Nossa natureza humana está sujeita às propensões pecaminosas herdadas de Adão. A inveja é pecado, e de alguma forma, todos já tivemos um sentimento de desconforto por ver uma pessoa que tem mais talentos do que nós, que possui algo que desejamos ou que está em uma posição de destaque em que nós gostaríamos de estar. Isso faz parte da natureza humana. Entretanto, o crente não pode se deixar dominar por esse sentimento.
5. Um pecado que pode ser dominado. A maldade pode ser dominada. O próprio Deus insinua isso quando dá o conselho a Caim: “...mas sobre ele deves dominar"(Gn 4:7). Esse "maravilhoso conselheiro" informa à pessoa envolvida na atitude de inveja que é possível controlar o desejo indômito de praticar maldade, produzido pela inveja, e é tarefa humana (minha e sua) controlar essa situação. É muito importante que a pessoa acometida por inveja entenda o valor do seu papel na solução do problema. Ela precisa arrepender-se. Ela precisa ser ajudada a encontrar os motivos que a levaram a esse sentimento para poder superar os problemas e encontrar caminho de vitória. Não se trata de culpar os outros ou de julgar-se incapaz, mas de tomar para si a responsabilidade e, com a graça de Deus (e ajuda de alguém, quando necessário), encontrar o caminho mais adequado. No caso de Caim, ele fez a opção errada, chegando ao absurdo de matar seu próprio irmão. A consequência do ato foi o juízo de Deus sobre ele.
III. INVEJA NA IGREJA: ANANIAS E SAFIRA (At  4:36-5:11)
O casal Ananias e Safira é o mais notável indicador de que a inveja tem real penetração na comunidade da fé, causando sofrimento na Igreja do Senhor Jesus.
No princípio da Igreja muitos irmãos tomaram a decisão de venderem suas propriedades, trazendo o produto da venda aos apóstolos (At 4:32-35). Desse modo, ninguém passava por carência de produtos básicos de sobrevivência, pois os recursos eram distribuídos aos que tivessem necessidades. Uma das pessoas que compunham a igreja vendeu um campo e "depositou aos pés dos apóstolos" (At 4:36-37). O casal Ananias e Safira resolveu imitar a prática, porém não fez isso com o coração íntegro, mas com dolo e com a semente do engano (At 5:1-11). O caráter destrutivo dessa atitude movida pela inveja era evidente.
1. A inveja destrói o ambiente saudável da igreja. Mesmo levando em conta o registro da prisão de Pedro e João (At 4:1-22), pode-se dizer com segurança que a história inicial da igreja primitiva é bastante animadora até o final do capítulo quatro de Atos dos Apóstolos. O retrato que temos é de uma igreja com poder do Espírito Santo, sermões abençoados, muitas conversões e batismos, curas e uma belíssima comunhão dos salvos (veja At 4:32-35, novamente). O ambiente não poderia ser mais saudável.
O início do capítulo cinco de Atos é como uma tragédia lamentável. A morte espetacular de Ananias, e depois de sua esposa, Safira, abrem caminho para um tempo em que, ainda que continuasse o crescimento e a manifestação da graça de Deus, experimenta-se sofrimento de diversas formas: prisão e perseguição (At 5:17-18), murmuração entre os crentes (At 6:1), martírio (At 7) e dispersão (At 8:4).
2. A inveja destrói a vida abundante dos membros da igreja. Além do mal que se destina à comunidade, a inveja produz danos irreparáveis na própria pessoa do invejoso. Ananias e Safira surgem como pessoas crentes, capazes de desenvolver diálogo entre si, membros da comunidade da fé e proprietários de bens. Eram abençoados e alcançaram a condição de ser bênção na vida da igreja, mas acabaram tornando-se problema para a igreja e trazendo a morte para si. "Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte" (Pv 14:12).
Assim como nos casos de Caim e de Acabe, também no caso de Ananias e Safira o resultado foi juízo de Deus sobre cada vida. Isso serve de lição àqueles que ainda não se libertou desse sentimento maligno.
3. O invejoso pode ser ajudado. Em muitos casos, pessoas que frequentam nossas igrejas dão todos os sinais de que estão envenenadas pela flecha da inveja, mas poderiam ser ajudadas mediante um trabalho preventivo, ou até mesmo mediante a confrontação, como fez o Senhor a Caim. Uma boa conversa (em alguns casos, um bom acompanhamento) poderá ser útil a fim de evitar que a semente perigosa da inveja frutifique em árvore frondosa, com frutos venenosos.
A igreja deve planejar estudos bíblicos e trabalhar para que todos os crentes tenham boa saúde espiritual, e vivam de modo a honrar o nome do Senhor -  isso significa viver longe da inveja.

CONCLUSÃO

Há pessoas que servem de modelo para nossa caminhada pessoal, mas se não vigiarmos nosso coração, tais pessoas acabam sendo alvo de inveja, e não de admiração. Analise suas emoções, aprenda a admirar e não invejar a prosperidade, o sucesso, ou qualquer feito alheio. As conquistas devem inspirar-nos. Para conquistar, é preciso ter vontade, coragem, força, energia, integridade e confiança, percorrendo o caminho até à vitória. Infelizmente, os invejosos só veem o final, não analisam o processo. Conscientize-se  de que o contentamento e a gratidão nos ajudam a ser pessoas não invejosas (1Ts 5:18). Amém!
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Revista Ensinador Cristão – nº 51 – CPAD.
Reconhecer e vencer a inveja – Série Vida Cristã(Conflitos da Vida, editora Cristã Evangélica).