segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Aula 06 – A VERDADEIRA FÉ NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS


3º Trimestre/2014

 
Texto Base: Tiago 2:1-13

 
“Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores” (Tg 2:8,9).

 

INTRODUÇÃO

Acepção é a tradução de uma palavra grega que, literalmente, significa “receber o rosto”, ou seja, fazer julgamentos e estabelecer diferenças baseadas em considerações externas, tais como aparência física, status social ou raça. É uma atitude considerada anticristã pela Bíblia Sagrada (cf. Rm 2:11; Ef 6:9; Cl 3:25).

Tiago 2:1-13 enfatiza, com cabível exortação, que nenhum cristão pode alegar-se ser verdadeiramente cristão se vive desprezando as pessoas devido à condição social delas. O Cristianismo nivela todas as pessoas. Embora os cristãos possam estar em níveis diferentes na sociedade terrena, somos todos iguais diante de Deus; “não há acepção de pessoas”; ninguém é mais importante do que qualquer outro (ler Rm 3:23).

Deus ordena que amemos o nosso próximo incondicionalmente, independente de sua condição social, econômica, física, etc. (Lv 19:18; Mt 22:39). O cumprimento deste mandamento foi muito mais difícil no início da igreja, à época em que a Epístola de Tiago foi escrita, haja vista que o mundo de então era caracterizado por profundas divisões sociais que eram aceitas normalmente pela maioria esmagadora da sociedade. Àquela época, agir com humildade era manifestação de fraqueza, não de virtude, e fazer distinção de pessoas por aparência ou por condições físicas ou socioeconômica era visto como algo absolutamente natural. Logo, a mensagem cristã ao ser proclamada, teria um impacto enorme na sociedade de então, porque ela batia fortemente de frente com toda essa cultura, ao pregar a humildade, o perdão, a misericórdia, a igualdade entre os seres humanos, etc.

Nesta Aula, mostraremos, pelas Escrituras Sagradas, que a verdadeira fé em Cristo e a acepção de pessoas são atitudes incompatíveis entre si e, justamente por isso, não podem coexistir na vida de quem aceitou o Evangelho de Jesus Cristo (Dt 10:17; Rm 2:11; Tg 2:1,9).

I. A FÉ NÃO PODE FAZER ACEPÇÃO DE PESSOAS (Tg 2:1-4)

Tiago diz que nós podemos testar nossa fé pela maneira como nós tratamos as pessoas. Não podemos separar relacionamento humano de comunhão divina (1João 4:20). A maneira como nos comportamos com as pessoas indica o que realmente nós cremos sobre Deus.

1. Em Cristo a fé é imparcial. Tiago diz que a fé verdadeira é conhecida pelo relacionamento imparcial com as pessoas (Tg 2:1-4). Favoritismo e acepção de pessoas não são atitudes de um cristão. Dois visitantes entram na igreja: um rico e outro pobre; oferecer maiores privilégios ao rico e desprezar o pobre é negar a nossa fé no Senhor da glória. Jesus não valorizava as pessoas pela cor da pele, pela beleza das roupas, ou pelo dinheiro. Jesus não julgava as pessoas pela aparência (Mt 22:16). Ele, sendo o Senhor da glória, se fez pobre e não julgou as pessoas pela aparência. Jesus acolheu os ricos e os pobres; os religiosos e os publicanos; os doentes e as crianças; os israelitas e os gentios. Sua Palavra orienta-nos a não julgarmos as pessoas pela aparência (João 7:24).

2. O amor de Deus tem de ser manifesto na igreja local. Conforme Tiago Tg 2:2-4, havia na igreja do primeiro século uma clara acepção de pessoas por parte de alguns que frequentavam as reuniões. Veja o que diz Tiago:

2. Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com vestes preciosas, e entrar também algum pobre com sórdida vestimenta,

3. e atentardes para o que traz a veste preciosa e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui, num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé ou assenta-te abaixo do meu estrado,

4. porventura não fizestes distinção dentro de vós mesmos e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?

Pelo que se depreende do referido texto, Tiago deve ter presenciado este pecado bem de perto. Segundo Silas Daniel, à época de Tiago os judeus convertidos ao cristianismo ainda se reuniam nas sinagogas – “ajuntamento” -, ao estilo judaico e, por isso, muito provavelmente, ainda traziam consigo práticas das sinagogas de seus dias que se chocavam com a essência do Evangelho. Tais praticas haviam, inclusive, já sido alvo de repreensão de Jesus, como podemos ver em Mt 23:6 – “e amam os primeiros lugares nas ceias, e as primeiras cadeiras nas sinagogas”.

Veja os seguintes detalhes retirados do texto supra:

- “... anel de ouro no dedo, com vestes preciosas...” (Tg 2:2). Silas Daniel, citando Harper, diz que o anel de ouro indicava que esse homem era do Senado ou um nobre romano, pois durante os primeiros anos do Império romano, somente homens nessa posição tinham o direito de usar esse tipo de anel. Já “vestes preciosas” é uma referência a belas togas brancas, que eram uma vestimenta usada frequentemente por candidatos a um ofício politico.

- “... abaixo do meu estrado” (Tg 2:3). Segundo Silas Daniel, esta expressão é uma alusão ao fato de que, em uma sinagoga, pessoas de uma posição inferior ficavam em pé ou sentavam no chão. Logo, “abaixo do meu estrado” deve ser compreendido como “aos meus pés”. Isto é, enquanto as cadeiras das sinagogas e os demais assentos do “ajuntamento” eram reservados para os anciãos, escribas, fariseus e saduceus, e a qualquer outra pessoa na congregação que fosse detentora de privilegiada posição social, os pobres ficavam em pé ou no chão.

Pelo que se depreende de Tiago 2:1-4, essas mesmas atitudes estavam ocorrendo nos ajuntamentos dos cristãos judeus. Por isso, Tiago declara contundentemente: “porventura não fizestes distinção dentro de vós mesmos e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?” (v.4).

A Igreja de Cristo tem como princípio eterno produzir um ambiente regado de amor e acolhimento, e para isto “não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3:28).

3. Não sejamos perversos (2:4).Não fizestes distinção entre vós mesmos e não vos tornastes juízes tomados de perversos pensamentos?” (ARA). A discriminação contra o pobre é atribuída a “perversos pensamentos”.

Na comunidade cristã, destinatária da Epístola de Tiago, havia uma excessiva deferência em relação aos ricos e poderosos, resultando em desrespeito e humilhação às pessoas mais pobres. Tal comportamento manifesta uma falha na prática da “lei régia” que eles tinham ouvido (cf. Tg 1:22-25).

Imagine a seguinte cena na congregação local de cristãos: um senhor de aparência distinta, vestindo trajes da moda e usando “anéis de ouro” acaba de chegar. Um membro da congregação com toda gentileza e civilidade conduz o visitante ilustre até ao “lugar de honra” na primeira fileira. Outro visitante chega logo em seguida. Desta vez, é um homem pobre em trajes muito humildes, ou seja, vestimentas velhas e gastas em virtude das condições de vida difíceis dessa pessoa. Desta vez, o homem da congregação procura, habilmente, poupar os presentes de qualquer embaraço e diz ao visitante que fique em pé nos fundos do templo ou se acomode no chão, diante de um dos assentos; esta atitude é quase inacreditável. Gostaríamos de imaginar que se trata apenas de um exemplo exagerado, mas, se perscrutarmos nosso coração, veremos que, muitas vezes, temos preconceito contra pessoas e, desse modo, nos tornamos “juízes tomados de perversos pensamentos”.

Tiago apresenta duas razões pelas quais os cristãos devem evitar este tipo de comportamento discriminatório: Primeira, o tratamento preferencial prestado ao rico estabelece um franco contraste com a atitude de Deus, que escolheu os pobres “para serem ricos em fé” (Tg 2:5-7); Segunda, toda manifestação de favoritismo é condenada pela “lei régia”, que exige o amor ao próximo (Tg 2:8-13).

Infelizmente, ainda hoje, há pessoas que se deixam guiar por esses critérios iníquos. Isso só revela o quão distante os seus corações estão ainda do verdadeiro Evangelho. Que Deus nos livre de cairmos nesse mesmo pecado! Que em nossas igrejas e no nosso dia a dia tratemos a todos com honra, amor e respeito, independente da condição social de cada um. A nossa obrigação é expressar de forma prática o fato de que todos os cristãos constituem um só corpo em Cristo.

II. DEUS ESCOLHEU OS POBRES AOS OLHOS DO MUNDO (Tg 2:5-7).

Hoje há muitos ensinos distorcidos e anti-bíblicos sobre questões financeiras; ensinos que conduzem o crente ao mercenarismo, ao procurar servir a Deus para ser servido ou para ser abençoado, financeiramente.

Se os pobres são ricos na fé e devem ser honrados na Casa de Deus, não há fundamento na afirmação de que a pobreza é uma maldição, estando atrelada ao pecado ou a algum “encosto”. Isso é uma invencionice, e muitos crentes, por falta de conhecimento, estão sendo enganados por homens que mercadejam a Palavra de Deus.

“... Não tenho prata nem ouro...” (Atos 3:6). Estas palavras não foram proferidas por um crente fraco e sem fé; não foram proferidas por um homem fora da direção e da vontade de Deus; não foram proferidas por alguém com problemas espirituais; não foram proferidas por uma pessoa em desespero pela falta de dinheiro. Estas palavras - “não tenho prata e nem ouro” - foram proferidas por um homem de Deus, por um homem chamado por Jesus para ser Apóstolo, por um homem de fé e de oração; ele estava indo orar, no Templo - “E Pedro e João subiam juntos ao Templo a hora da oração, a nona” (Atos 3:1). Pedro e João eram crentes, eram Apóstolos, eram fiéis. Amavam a Jesus e estavam empenhados em fazer a Sua Obra, porém, “não tinham prata e nem ouro”. Se você, meu irmão, não tem recursos financeiros, saiba que Pedro e João também não tinham.

Alguns pregadores usam com frequência a passagem bíblica de Deuteronômio 28:1-14 para fundamentar seus argumentos em favor da riqueza. Destacam as expressões contidas nos versículos 12 e 13 –”... emprestarás a muita gente, porém tu não tomarás emprestado... E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda, e estarás em cima e não embaixo...”. Não dizem, contudo, que estas promessas foram feitas à nação de Israel, e com uma condição: “... quando obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para guardar e fazer”. A Palavra de Deus coloca a obediência antes da benção e o servir a Deus antes de ser servido.

À luz do Novo Testamento, não é pecado ser pobre, nem ser rico; somos livres para trabalhar e conquistar dignamente os nossos bens. Por isso, o texto de Tiago 2:1-7 apresenta algumas lições quanto à convivência em comunhão entre ricos e pobres na Casa de Deus:

1. Não deve haver acepção de pessoas (vv.1,4). Não podemos nos deixar influenciar por ideologias humanas, e sim pela Palavra de Deus, segundo a qual os ricos não devem menosprezar os pobres; nem estes, valendo-se do complexo de inferioridade, se indignar contra aqueles.

2. Não deve haver desprezo aos pobres (vv.2,3). É uma tendência humana julgar as pessoas pela aparência (1Sm 16:7; João 7:24). No entanto, não devemos tratar melhor alguém só porque exibe um anel de ouro ou usa vestes preciosas. Ninguém é superior perante o Senhor. Todos devem se humilhar diante dEle (Lc 18:9-14).

3. Os pobres devem ser honrados (Tg 2:5).Ouvi, meus amados irmãos. Porventura, não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?”. Aqui, trata da soberana escolha de Deus. É claro que a salvação não é apenas para os pobres, porém esse versículo deixa claro que o Senhor prioriza a riqueza da fé, e não a prosperidade financeira.

4. A principal razão para não desonrar o pobre (Tg 2:6,7).Mas vós desonrastes o pobre. Porventura, não são os ricos que vos oprimem e não são eles que vos arrastam para tribunais?”. Porventura, não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado?”.

Aqui, Tiago mostra que os crentes, destinatários de sua Epístola, desonravam os pobres porque nãos os tratavam como Deus os trata. Tiago traz à memória da igreja que quem a oprimia era justamente os ricos. Estes os arrastavam aos tribunais. Como podiam eles desonrar os pobres, aos quais Deus tinha profundo apreço, e favorecer os ricos que os oprimia e blasfemavam o bom nome de Cristo?

A discriminação social na igreja é algo reprovável diante de Deus. “Por isso, o favoritismo, a parcialidade e quaisquer tipos de discriminação devem ser combatidos com rigor na igreja local, principalmente pelas lideranças. Quem discrimina não compreendeu o que é o Evangelho!”.

III. A LEI REAL, A LEI MOSAICA E A LEI DA LIBERDADE (Tg 2:8-13).

Em Tiago 2:2-4 é ilustrado o problema da discriminação contra o pobre, ato este atribuído a “perversos pensamentos”(2:4). Em Tg 2:8-13 são apresentadas duas razões pelas quais os cristãos devem evitar este tipo de favoritismo: Primeira, o tratamento preferencial prestado ao rico estabelece um franco contraste com a atitude de Deus, que escolheu os pobres “para serem ricos em fé” (Tg 2:5-7); Segunda, toda manifestação de favoritismo é condenada pela “lei real” que exige amor ao próximo (Tg 2:8-13).

1. A Lei Real (2:8).Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis”.

De acordo com Tiago, tratar o rico com deferência e desconsideração com o pobre constitui uma transgressão da lei, que diz: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. Essa prescrição é chamada de “lei real”, pois foi dada pelo Rei, e governa as outras leis. Muitas vezes, tomamos decisões com base nas retribuições que advirão. Somos egocêntricos. Tratamos bem os ricos porque esperamos recompensas materiais ou sociais. Desprezamos os pobres porque é pouco provável que nos possam trazer benefício semelhante. A “lei real” proíbe a exploração egoísta e nos ensina a amar o próximo como a nós mesmos. E se perguntarmos: “quem é o meu próximo?”, descobrimos na parábola do bom samaritano (Lc 10:25-37) que ele é qualquer pessoa com uma necessidade que podemos ajudar e suprir.

O amor é o cumprimento de toda a lei. Amar é tratar as pessoas como Deus nos trata. Na parábola do bom samaritano (Lc 10:25-37), o sacerdote e o levita tinham uma fé ortodoxa. Eles serviam no templo, mas eles falharam em viver a fé amando o próximo. A fé era ortodoxa, mas estava morta (Lc 10:31,32). Tiago estava convidando os seus leitores a obedecerem à lei real do amor, que os proibia de discriminar qualquer pessoa que viesse a participar da sua comunhão. Nós devemos favorecer a todos, seja pessoa rica ou pobre.

Segundo Tiago, dar atenção especial aos ricos, em detrimento do pobre, é pecado. E aqueles que estão envolvidos neste ato são transgressores, por não terem respeitado a “lei real” de Tiago 2:8 – “Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores (Tg 2:9). As nossas atitudes e os nossos atos em relação aos outros devem ser guiados pelo amor.

2. A Lei Mosaica.Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu, pois, não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei” (Tg 2:11).

Segundo o pr. Eliezer de Lira, “na época em que a Epístola de Tiago foi escrita os judeus faziam distinção entre as leis religiosas mais importantes e as menos importantes, segundo os critérios estabelecidos por eles mesmos. Os judeus julgavam que o não cumprimento de um só mandamento acarretaria a culpa somente daquele mandamento desobedecido. Mas quando a Bíblia afirma: ‘Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás’, está asseverando o aspecto coletivo da lei, isto é, quem desobedece um único preceito, quebra, ao mesmo tempo, toda a lei. Embora os crentes da igreja não adulterassem, faziam acepção de pessoas; eles não atendiam a necessidade dos órfãos e das viúvas e, por isso, tornaram-se transgressores da lei’”.

O mesmo Deus que proibiu o adultério também proibiu o homicídio. Um homem que não é culpado de adultério pode, no entanto, ter cometido homicídio. Acaso ele é transgressor da lei? Sem dúvida! De acordo com o espirito da lei, devemos amar nosso próximo como a nós mesmos. O adultério certamente constitui uma transgressão desse princípio, e o homicídio também. Pode-se dizer o mesmo do esnobismo e da discriminação; se cometemos um desses pecados, deixamos de cumprir a lei.

Portanto, a lei é como uma corrente com dez elos, o rompimento de um dos elos representa o rompimento de toda a corrente. Deus não permite que guardemos algumas leis de nossa preferência e não outras. Se tropeçarmos em um único ponto da “lei real”, somos culpados da lei inteira - “Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos” (Tg 2:10).

3. A Lei da Liberdade.Assim falai e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade” (Tg 2:12). Aqui, Tiago está dizendo que como cristãos não estamos sob a servidão da lei, mas sob a ‘lei da liberdade’, ou seja, a liberdade de fazer o que é certo. Quem é verdadeiramente salvo - liberto do pecado, dos preconceitos e da maneira mundana de pensar (Rm 6:18) -, desfruta de tal liberdade (João 8:36; Gl 5:1,13). Entretanto, tal liberdade deve vir acompanhada da coerência: “assim falai e assim procedei...” (Tg 2:12). Esta expressão de Tiago refere-se a palavra e atos. O modo de viver deve ser coerente com a profissão verbal. É a conduta do crente em relação aos demais irmãos que demonstrará se ele é, de fato, um liberto em Cristo ou não.

No regime da graça, amamos incondicionalmente o nosso próximo e somos recompensados quando obedecemos. Não o fazemos para receber a salvação, mas porque já somos salvos. Não obedecemos por medo do castigo, mas por amor àquele que morreu por nós e ressuscitou. No Tribunal de Cristo, os galardões serão distribuídos de acordo com esse padrão. Não se trata de salvação, mas de recompensa.

As transgressões da “lei da liberdade serão julgadas no Tribunal de Cristo. “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2:13). “Misericórdia” era exatamente o que os crentes não estavam demonstrando quando insultavam as pessoas pobres. Se eles continuassem a fazer discriminações, estariam correndo o risco de enfrentar o seu próprio julgamento sem misericórdia. Esta é uma excelente declaração da ética do Novo Testamento: o que nós fazemos aos outros, na verdade, fazemos a Deus, e ele igualmente nos retribui. Nós comparecemos diante de Deus precisando da sua misericórdia. Precisamos constantemente de sua misericórdia. Quando negamos o perdão a outros, depois de nós mesmos o termos recebido, mostramos que não compreendemos nem valorizamos a misericórdia que Deus tem para conosco.

O mundo está procurando provas de que Deus é misericordioso. Mostrar que somos pessoas que tiveram misericórdia e que expressam misericórdia irá chamar a atenção do mundo. O mundo vai ver que por causa de nosso relacionamento com Cristo, que é misericordioso, expressamos ações misericordiosas. Não mostrar misericórdia nos deixa sujeitos unicamente ao julgamento de Deus. Mas, ao demonstrarmos misericórdia, passamos a estar sujeitos à misericórdia de Deus, como também ao seu julgamento. Devido ao caráter de Deus, a sua misericórdia triunfa sobre o seu juízo contra nós.

CONCLUSÃO

A salvação não está baseada em mérito humano nem mesmo em nossas obras. A salvação não é comprada nem merecida (Ef 1:4-7; 2:8-10). Deus ignora diferenças nacionais (salvou Cornélio). Ele ignora diferenças sociais (salva senhores e escravos: Filemom e Onésimo). A escolha divina não está baseada no que a pessoa tem (1Co 1:26,27). É possível uma pessoa ser pobre neste mundo e rica no vindouro. Ser rica neste mundo e pobre no vindouro (1Tm 6:17,18). Devemos tratar as pessoas como Deus as trata, e não de acordo com o seu status social. A verdadeira fé não faz acepção de pessoas.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

domingo, 27 de julho de 2014

Aula 05 – O CUIDADO AO FALAR E A RELIGIÃO PURA


3º Trimestre/2014

 
Texto Base: Tiago 1.19-27

 
“.... Mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1:19).

 

INTRODUÇÃO

Zenão – um pensador antigo – disse: “temos dois ouvidos, mas apenas uma boca; assim podemos escutar mais e falar menos”. Tiago adverte: “Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar” (Tg 1:19). Quanto menos falar, menos risco a pessoa tem de tropeçar. Alerta o sábio Salomão: “No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente” (Pv 10:19). Falar é uma necessidade básica, e ouvir é uma responsabilidade vital para aqueles que desejam construir relacionamentos saudáveis e maduros. Todavia, precisamos falar o necessário, na hora certa e de forma eficaz, sem “jogar conversa fora”.

I. PRONTO PARA OUVIR TARDIO PARA FALAR (Tg 1:19,20)

“Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”.

A comunicação é a chave para um relacionamento saudável. Dependendo da maneira como nos comunicamos, podemos dar vida ou matar um relacionamento. Portanto, esteja pronto para ouvir e prudente no falar.

1. Pronto para ouvir (1:19). “Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir...”. Aqui, trata-se de uma ordem incomum, dada quase em tom de humor. É como dizer: “apressem-se em ouvir!”. O termo "pronto", no grego, é “táxys”, de onde vem nossa palavra táxi (rápido). O táxi é um carro de serviço. Ele deve estar sempre disponível. Seu objetivo é atender o cliente, sempre. Se vamos usar um táxi, é porque temos pressa. Não podemos esperar. Assim ocorre também com a comunicação. Devemos ter rapidez para ouvir. Significa que devemos estar prontos para ouvir a Palavra de Deus, bem como todo conselho e admoestação justos. Devemos nos sujeitar ao ensino do Espírito Santo.

O rev. Hernandes Dias Lopes – em seu livro “Tiago (transformando provas em Triunfo)” – disse que é preciso que estejamos prontos para ouvir a voz de Deus, a voz da consciência, a voz de nosso próximo. Hoje estamos perdendo o interesse em ouvir, e o resultado disso é a família em desarmonia, é a sociedade fragmentada. Se nós estivéssemos prontos para ouvir, com a mesma disposição que estamos prontos a falar, certamente haveria menos ira e mais encontros abençoadores e saudáveis entre nós.

Hoje, estamos substituindo relacionamentos por coisas. Os pais já não têm mais tempo para os filhos. Eles estão muito ocupados e não podem mais ajudar os filhos nos deveres da escola, nem ouvir o que os filhos têm a dizer sobre suas fantasias de criança ou suas angústias da adolescência.

O diálogo está morrendo entre marido e mulher. Os casamentos estão acabando, o índice de divórcio está crescendo espantosamente, porque os cônjuges estão correndo atrás do urgente e deixando o que é importante de lado; estão valorizando coisas e não relacionamentos; estão substituindo pessoas por coisas.

Temos de ouvir com os ouvidos, com os olhos e com o coração. Precisamos disponibilizar tempo e atenção para os outros. As pessoas são mais importantes que as coisas.

2. Tardio para falar (1:19). É surpreendente como Tiago insiste em tratar do nosso modo de falar! Adverte-nos a ser cuidadosos em nossas conversas. O que Tiago quer dizer com “tardio” é que devemos refletir primeiro, e não falar de imediato. É preciso saber a hora de falar e também o que falar. O que temos a dizer é verdadeiro? É oportuno? Edifica? Transmite graça aos que ouvem? Geralmente falamos antes de pensar, de ouvir, de orar, de medir as consequências. Devemos ter muito cuidado com isso, pois: "a morte e a vida estão no poder da língua..." (Pv 18:21). As palavras podem dar vida ou matar.

Salomão teria concordado plenamente com Tiago. Ele disse: “O que guarda a boca conserva a sua alma. Mas o que muito abre os lábios a si mesmo se arruína” (Pv 13:3). Por isso, Davi orava a Deus e pedia: "Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; vigia a porta dos meus lábios!" (Sl 141:3). Muito transgride quem fala para depois pensar, fala sem refletir e fala mais do que o necessário. Diz o sábio Salomão: “Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente” (Pv 10:19); “Até o tolo, quando se cala, é tido por sábio” (Pv 17:28). Quem fala demais acaba caindo em pecado. Precisamos, pois, estar atentos sobre o que falamos, como falamos, quando falamos, com quem falamos e por que falamos.

3. “Tardio para se irar” - Controle a sua ira. “Mas todo o homem seja... tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”. O verdadeiro crente deve saber se controlar tanto verbal quanto emocionalmente, deve saber lidar com a palavra e também com a ira.

Quem se irrita com facilidade não produz a justiça que Deus espera de seus filhos. Quem perde a calma transmite uma impressão equivocada do cristianismo. A maior demonstração de força está no autodomínio, e não no domínio sobre os outros. Diz Salomão: “Melhor é o longânimo do que o valente, e o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16:32). Em geral, a ira humana é desgovernada, destruidora e pecaminosa; é obra da carne, e não opera a justiça de Deus. A Palavra de Deus não proíbe o crente de ficar indignado, irado, contra o pecado, a injustiça (Lc 19:45), entretanto, estabelece limites para o nosso temperamento não se achar descontrolado, deixando-nos impulsivamente irados – “irai-vos e não pequeis...” (Ef 4:26). Diz o sábio Salomão: “Retém as suas palavras o que possui o conhecimento, e o homem de entendimento é de precioso espírito” Pv 17:27).

Caim não soube controlar suas emoções, sua tempestividade, por isso cometeu grave crime – “...E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante” (Gn 4:5). Caim irou-se, não dominou sua ira, e esta o levou à prática do homicídio – “...e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou” (Gn 4:8). Caim, um homem descontrolado pela ira!

Precisamos aprender a lidar com nossos sentimentos. Um indivíduo temperamental provoca grandes transtornos na família, no trabalho, na igreja e na sociedade. O cristão, que é templo do Espírito Santo, tem de levar a sua mente cativa a Cristo (2Co 10:5) e manifestar o fruto do Espirito Santo: o domínio próprio (Gl 5:22).

II. PRATICANTE E NÃO APENAS OUVINTE DA PALAVRA (Tg 1:21-25)

1. Enxertai-vos da Palavra (Tg 1:21). “Pelo que, rejeitando toda imundícia e acúmulo de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar a vossa alma”.

Para que a Palavra de Deus seja enxertada efetivamente no coração do crente, primeiramente é necessária que ele desaposse de seu coração toda impureza e maldade - " despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade"(ARA). A Palavra de Deus é comparada a uma semente, e o coração do homem, a um solo. Antes de lançarmos a semente precisamos preparar a terra. Jesus falou de quatro tipos de solo: o solo endurecido, o superficial, o congestionado e o frutífero (Mt 13:3-9). Antes de acolhermos a Palavra, precisamos remover a erva daninha da impureza e da maldade. Também é requerida uma atitude correta para receber a Palavra: "... recebei com mansidão a palavra em vós enxertada...". A mansidão é o oposto da ira (Tg 1:19). É necessário adubar o terreno para que a semente frutifique. A Palavra deve ter raízes profundas em nossa vida; senão, seremos destruídos quando as tempestades derem de ímpetos contra nós. Tiago fala ainda acerca do resultado da recepção da Palavra: "... a qual pode salvar a vossa alma". Quando nascemos da Palavra, ouvimos a Palavra, recebemos a Palavra e praticamos a Palavra, podemos ter garantia da salvação.

2. Praticai a Palavra (Tg 1:22-24).E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era”.

Não basta receber a Palavra enxertada; é preciso também obedecer-lhe. De nada adianta ter uma Bíblia ou mesmo lê-la como um livro qualquer. Devemos traduzir a Bíblia em ações. Suas palavras devem se materializar em nosso modo de viver. Ao ler as Escrituras, devemos sempre permitir que elas mudem nossa vida para melhor. Professar grande amor pela Palavra de Deus ou considerar-se um grande estudioso da Bíblia não passará de um modo de se enganar se o conhecimento crescente não nos tornar cada vez mais semelhante a Jesus.

Quem é “ouvinte da Palavra”, mas não muda seu comportamento, “é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural”. Ou seja, vê a própria imagem de relance no espelho toda a manhã e depois se esquece completamente do que viu. Ele não tirou proveito nenhum do espelho e do fato de ter se olhado nele. Claro que alguns elementos de nossa aparência não podem ser mudados, mas pelo menos podem nos tornar mais humildes! E, quando o espelho nos diz que é hora de lavar o rosto, fazer a barba, pentear os cabelos, ou escovar os dentes, devemos atender. De outro modo, é inútil ter o espelho.

É fácil ler a Bíblia de forma descuidada ou por obrigação sem nos tocarmos pela leitura. Vislumbramos o ideal de Deus para nós, mas nos esquecemos rapidamente dEle e continuamos a viver como se já fôssemos perfeitos. Nossa presunção impede o progresso espiritual. (1)

3. Persevere ouvindo e agindo (Tg 1:25).Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (ARA).

Neste texto, Tiago mostra aquele que considera, atentamente, a Palavra de Deus e tem por hábito colocá-la em prática. Para ele, a Bíblia é a lei perfeita, a lei da liberdade, porque é somente obedecendo à lei de Deus que a verdadeira liberdade pode ser encontrada (compare com João 8:31,32). Ao obedecer, esse indivíduo descobre a verdadeira libertação do modo de pensar carnal. A verdade o liberta. Esse indivíduo colhe os benefícios das Escrituras. Não se esquece daquilo que leu. Antes, procura colocar a leitura em prática na vida diária. Como cristãos, nós somos salvos pela graça de Deus, e a salvação nos liberta do controle do pecado. Como crentes, nós somos livres para viver como Deus nos criou para viver. Naturalmente, isso não quer dizer que somos livres para fazer o que quisermos (cf 1Pe 2:16; Gl 5:13) – agora somos livres para obedecer a Deus. A obediência simples como a de uma criança traz bênçãos inestimáveis para a alma. O indivíduo será bem-aventurado no que realizar.

III. A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1:26,27)

Em Tiago 1:26,27, vemos um contraste entre a falsa religião e a religião pura e sem mácula. O termo “religião” representa os padrões de comportamento associados à crença religiosa e diz respeito às manifestações exteriores, e não ao espírito interior. Refere-se às expressões da crença no culto e no serviço, e não à doutrina em que a pessoa crê.

1. A falsa religiosidade.Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã” (Tg 1:26).

A religião pura e verdadeira vai muito além de doutrinas e ritos. Hoje há um grande abismo entre o que professamos e o que vivemos; entre o que dizemos e o que fazemos; entre a nossa profissão de fé e a nossa prática de vida; entre o cristianismo teórico e o cristianismo prático. Esse distanciamento entre verdades inseparáveis, essa falta de consistência e coerência, dá à luz uma religião esquizofrênica e farisaica.

Tiago aponta o sério risco de se viver uma religião descomprometida, mística, teórica, descontextualizada, sem praticidade e sem pertinência histórica. Ele diz que não basta o ritual bonito, a liturgia pomposa, a exterioridade irretocável. É preciso celebrar a liturgia da vida. Para tanto, ele coloca o prumo de Deus em nós e questiona-nos: somos verdadeiros religiosos ou não? Como saber se somos? No controle da língua.

Tiago afirma que a língua é como animal selvagem. Se for controlada e refreada de modo apropriado, poderá ser usada para o bem. Mas seus poderes de destruição serão enormes, se for deixada a seu bel-prazer. A pessoa que deixa de controlar sua língua acaba enganando o próprio coração na questão da veracidade de sua religião. Ele é um mero “ouvinte” da Palavra e, quando falha em colocar em prática aquilo que ouve, mostra que sua religião é vã: vazia, inútil e infrutífera. Pode observar todas as cerimônias religiosas e, desse modo, parecer extremamente piedoso, mas está apenas enganando a si mesmo.

Miriã e Arão, um casal sem o controle da língua. Dando um salto bíblico de mais de 3.400 anos, falemos de Miriã e de Arão, irmãos de Moisés, que não souberam dominar a língua e murmuraram contra Moisés – “E falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cuxita, que tomara, porquanto tinha tomado a mulher cuxita” (Nm 12:1). Miriã, como líder da rebelião, só não morreu por causa da intercessão de Moisés. Porém, ficou temporariamente leprosa.

A língua funciona como aferidora do coração. Ela é como uma radiografia que revela o que está em nosso interior. Não há coração puro se a língua é impura. Não há língua santa se o coração é um poço de sujeira. Não há cristianismo verdadeiro sem santidade da língua. Se o coração estiver certo, a língua mostrará isso.

A língua desenfreada é apenas um exemplo da “religião vã”. Qualquer comportamento incoerente com a fé cristã é vão. Conta-se a história do dono de um mercantil que fingia ser um homem piedoso. Morava num apartamento em cima do comércio e, todas as manhãs, gritava para seu assistente no andar de baixo:

-  João!

-  Sim, senhor.

-  Já misturou água no leite?

-  Sim, senhor.

-  Já mudou a data de vencimento da manteiga?

-  Sim, senhor.

-  Já requentou o pão de ontem?

-  Sim, senhor.

-  Então suba aqui para fazer o devocional!

Tiago diz que uma religião como essa é vã, falsa. Deus não se contenta com rituais; seu interesse maior é pela vida de piedade prática.

2. A verdadeira religião (Tg 1:27). “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo”.

A religião verdadeira não é um simples ritual, não é misticismo ou encenação, mas é ter uma vida separada para Deus. É guardar-se incontaminado do mundo, ou seja, do sistema de valores pervertidos, corruptos, sujos, imorais e inconsequentes.

A religião que agrada ao Senhor é rechaçar o mal ainda que mascarado de bem. O mundo é atraente, ele arma um cenário encantador para nos atrair. Contudo, o mundo jaz no maligno(1João 5:19).

O verdadeiro religioso tem compaixão dos necessitados (Tg 1:27). Tiago associa, dentro da comunidade cristã, a verdadeira religião com práticas adequadas, e mostrando que a fé verdadeira está associada não apenas à fé, mas com o que fazemos para espelhar nossa fé. O cuidado dos necessitados não é o conteúdo do cristianismo, mas sua expressão. A preocupação prática da religião de uma pessoa é o cuidado pelos outros. A religião é a prática da fé, é a fé em ação. Palavras não substituem obras (Tg 2:14-18; 1João 3:11-18).

3. Guardando-se da corrupção do mundo (Tg 1:27). Tiago, também, menciona outro aspecto da verdadeira religião: “... guardar-se da corrupção do mundo”. Para nos protegermos da corrupção do mundo, precisamos nos comprometer com o sistema ético e moral de Cristo, e não com o do mundo. Não devemos nos adaptar ao sistema de valores do mundo, baseado no dinheiro, no poder e no hedonismo. A verdadeira fé não significa nada se estivermos contaminados com estes valores. Não podemos amar o mundo nem ser amigo dele. Não podemos nos conformar com o mundo para não sermos condenados com ele.

Observe a exortação de João: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1João 2:15-17).

A Bíblia diz que “Demas amou o presente século”, ou seja, amou o mundo - abandonou deliberadamente e conscientemente a sua fé, apostatou-se (2Tm 4:10).

Estamos fisicamente no mundo, mas não espiritualmente nele (João 17:11-16). Estamos no mundo não para que ele nos contamine, mas para sermos nele instrumentos de transformação. No mundo somos embaixadores de Deus, somos ministros da reconciliação; somos sal, luz e perfume de Cristo (Mt 5:13,14; 2Co 2:15).

CONCLUSÃO

Concluindo esta Aula, devemos avaliar nossa fé com as seguintes perguntas: leio a Bíblia com o desejo humilde de receber a repreensão e o ensino de Deus e de ser transformado por Ele? Anseio por aprender a refrear a minha língua? Como reajo quando alguém começa a contar uma piada imprópria? Minha fé se manifesta em atos de bondade para com aqueles que não têm como retribuir?

Nos dias em que vivemos, em que "tudo é relativo", é preciso lembrarmos que o falar do crente deve ser sim, sim, não, não, e o que sai disto é de procedência maligna (Mt 5:37). Equivocam-se os faladores da atualidade que acham que suas palavras não são levadas em conta pelo Reto e Supremo Juiz. Não só nossas ações, mas também nossas palavras são levadas em conta diante de Deus. Tenhamos muito cuidado com o que falamos, pois tudo está sendo anotado perante o Senhor - “Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo” (Mt.12:36). Que possamos dizer como Jó: “Nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano” (Jó 27:4). Que os nossos ouvidos estejam prontos para ouvir, a nossa língua para falar sabiamente e a nossa vida para praticar tudo quanto aprendemos do Evangelho. Que este seja o compromisso de todos os cristãos, na presença de Deus, neste mundo!

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

(1) William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

 

 

 

 

 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Aula 04 – GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE


3º Trimestre/2014

 
Texto Básico: Tiago 1:9-11,16-18

 
“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1Pe 1:23).

 

INTRODUÇÃO


Nesta Aula, trataremos de três assuntos importantes. Primeiro - com base Tiago 1:9 – 11 -, trataremos sobre a forma como os cristãos devem encarar a pobreza e a riqueza. Estas condições sociais são enfatizadas por Tiago como circunstâncias transitórias da vida, como situações efêmeras, e também como conjunturas em meio às quais o cristão deve aprender a estar sempre satisfeito. Os cristãos verdadeiros, gerados pela Palavra da verdade e por estarem ligados pelo Evangelho, devem saber se relacionar com o outro independente da sua condição econômica e social. Segundo – com base em Tg 1:16,17 -, trataremos acerca de Deus como a fonte de todo bem verdadeiro. Terceiro - com base em Tg 1:18 -, trataremos acerca do maior de todos os dons que o Senhor nos concede: o de sermos gerados de novo pelo poder da Palavra de Deus.
 
I. A RELAÇÃO ENTRE OS POBRES E OS RICOS DA IGREJA (Tg 1:9-11)

A Bíblia jamais ensina que a riqueza em si é um mal. O próprio Deus deu a Salomão tanto a riqueza como a sabedoria (1Rs 3:12,13). Tudo depende de como a riqueza é adquirida, como é usada e qual o lugar que ela ocupa no coração de quem a possui. À luz das Escrituras Sagradas, o pobre é convidado a gloriar-se em Cristo pela sua nova posição de filho de Deus e pelo que tem permanente no Céu; enquanto o rico, no encontro com o Evangelho de Cristo, é convidado por Cristo a se humilhar para compreender a natureza passageira da sua riqueza.

1. Os pobres na igreja do primeiro século. A história da igreja e os estudos mostram que a igreja do primeiro século era composta de irmãos de condição muito pobre financeiramente. A maioria vinha das classes mais humildes da sociedade; havia ricos, mas poucos. Se Tiago está escrevendo para cristãos judeus na Palestina e Síria, muitos deles, ou quem sabe todos, deviam ser pobres. Temos noticias de uma grande fome que aconteceu por volta daquela época, e é possível que os cristãos, que padeciam no ostracismo, tenham sofrido de modo particularmente severo (veja Atos 11:28,29).

A pobreza, a carência, é uma das situações na vida em que o cristão é muito tentado. Ele é tentado pela falta daquilo que lhe é essencial para sua subsistência; ele também é tentado pela cobiça, pela inveja, pelo ressentimento ao ver outras pessoas receberem aquilo que ele não tem e não pode ter. Então, o irmão carente – materialmente falando - é muito provado por causa de sua situação.

A orientação de Tiago em 1:9 é que o cristão, cuja posição social e econômica é realmente baixa, deve gloriar-se na sua dignidade - “glorie-se na sua dignidade” (Tg 1:9) -, ou seja, não é pecado ser pobre, embora as igrejas neopentecostais ensinam que a vontade de Deus é que nós sejamos ricos e prósperos financeiramente. Este ensino é falso; não há em lugar nenhum do Novo Testamento esse tipo de ensino. Uma pessoa pode ser pobre e digna, especialmente se ela é cristã, se ela ama a Deus; se ela é discípula de Jesus Cristo, existe uma certa dignidade nisso. É claro que o “gloriar-se”, neste contexto, não significa a vanglória arrogante de alguém considerada poderosa, mas o alegre orgulho possuído pela pessoa que valoriza aquilo que Deus valoriza.

A palavra “dignidade” (“exaltação”, ARC) é usada em outros lugares do Novo Testamento como descrição do reino celestial ao qual Cristo foi elevado (Ef 4:8) e de onde desce o Espírito Santo (Lc 24:49). Pela fé, agora os crentes pertencem ao reino celestial como cidadãos (Fp 3:20) e também aguardam do Céu o Senhor Jesus, que transformará o “nosso corpo de humilhação“ em “corpo da sua glória” (Fp 3:21). Podemos afirmar, então, que “dignidade” inclui o gozo atual que o crente tem em seu “status” espiritual exaltado e também a esperança de participar do glorioso e eterno reino de Cristo.

É justamente esta combinação do “status” atual e da herança futura que Tiago destaca em Tiago 2.5: “Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?”. É claro que Tiago não é da Teologia da Libertação, que diz que Deus fez uma opção preferencial pelos pobres; aqui, ele está constatando uma realidade de que através da história o número de cristãos que vem das camadas mais humildes da sociedade é muito maior do que aqueles que vieram de entre os ricos, nobres, poderosos, influentes, intelectuais e os fazedores de opiniões deste mundo. É só ler a história da igreja que veremos que isso é uma verdade. Então há uma dignidade que os irmãos humildes se lembrem disso, e que Deus os recebe em seu reino.

2. Os ricos na igreja Antiga.E o rico, na sua insignificância, porque ele passará como a flor da erva(Tg 1:10). No início existiam poucos ricos na igreja; muitos que eram detentores de posses vendiam suas propriedades para serem repartidos com os pobres. Também, por serem cristãos, estavam sujeitos a todo tipo de assédio da classe dominante do governo local: havia prisões, arrestamento de bens, tortura e morte. E os judeus - não cristãos - proprietários de muitos bens negligenciavam as obrigações que pesavam sobre eles (Lv 19:10; 23:22; Dt 15:1-18; 1Tm 6:9,17-19). Por causa disso, e pelas suas atitudes, eles eram frequentemente repreendidos por Deus (Am 2:4-8; Lc 6.24; 18.24,25).

Tiago diz que os ricos são como a flor da erva, aquela flor bonita que existe nas campinas, mas que com o calor do sol se secam, se murcham; assim, os ricos passarão na sua insignificância. Portanto, não cobicem as riquezas, diz Tiago para aqueles crentes pobres do primeiro século; não fiquem com inveja dos ricos porque eles passarão num instante e vocês são herdeiros do reino que Deus tem reservado àqueles que O amam.

A lição aqui é que não devemos permitir que as alterações da nossa situação financeira influenciem o nosso compromisso com Deus. Se somos pobres, se temos uma condição humilde, gloriemo-nos nisso, demos graças a Deus por isso. Contudo, se temos condição de progredir, que o façamos; mas se não, lembremos que Deus nos tem reservado um tesouro ainda muito maior e infinitamente muito melhor. E se temos alguma riqueza material aqui neste mundo, lembremos que ela é passageira! Recentemente, o mundo passou por uma crise financeira, que veio de repente, de um dia para o outro muitos milionários ficaram na miséria, entre eles cristãos. Nos Estados Unidos, pessoas venderam suas mansões por míseros dólares, mansões que valiam milhões de dólares, para ter alguma coisa para sobreviver. O mundo está cheio de histórias de pessoas que eram riquíssimas, eram tranquilas financeiramente, mas que no dia seguinte amanheceram pobres sem absolutamente nada.

Se a nossa felicidade e estabilidade espiritual vão depender da oscilação da nossa situação financeira ou do sistema financeiro mundial, então nunca seremos cristãos perseverantes. Nós não devemos depender dessas coisas. Devemos, sim, colocar a nossa confiança em Deus e aguardar nEle e nEle ter o nosso conforto apenas. Esta é a orientação de Tiago.

3. Perante Deus, pobres e ricos são iguais. “O rico e o pobre se encontram; a todos o Senhor os fez”(Pv 22:2). “O que oprime o pobre insulta àquele que o criou, mas o que se compadece do necessitado o honra”(Pv 14:31). Não há predileção entre o rico e o pobre. Ambos foram criados por Deus. São gêmeos com aparências díspares.

Num texto que lembra bastante as denúncias dos profetas do Antigo Testamento, Tiago pronuncia julgamento sobre os ricos (Tg 5:1-6). E, da mesma forma que os “pobres” nos salmos, os cristãos devem olhar para o Senhor com paciência e perseverança, a fim de receberem livramento (Tg 5:7-11).

Contudo, nem Tiago nem os profetas condenam os ricos pelo simples fato de serem ricos. Tiago, por exemplo, enumera os pecados específicos pelos quais “o rico” será julgado: um egoísta acúmulo de dinheiro (Tg 5:2,3); luxo sem sentido (Tg 5:5); fraude contra o trabalhador (Tg 5:4); e perseguição ao justo (Tg 5:6). O fato de que Tiago não condena o rico, só porque ele é rico, provavelmente também é demonstrado em Tg 1:10,11, onde é possível que o “rico” seja um “irmão” em Cristo.

Portanto, jamais se pode avaliar a espiritualidade de uma pessoa pelo que ela possui de bens materiais. O pobre ao ser provado deve dizer: mas quão rico eu sou! O rico ao ser provado pelas glórias do mundo deve dizer: quão vulnerável eu sou! Cada um deve olhar para a sua vida na perspectiva da eternidade.

II. DEUS SÓ FAZ O BEM (Tg 1:16,17)

1. Não erreis (Tg 1:16). “Não erreis, meus amados irmãos”. Este versículo atua como uma transição entre Tg 1:12-15 e 17-18. Atribuir a Deus o intento maligno de tentar as pessoas é um assunto sério. Tiago quer ter a certeza de que seus leitores não se “enganarão” nesta questão. Muitas vezes, as pessoas que caem em pecado culpam Deus em vez de assumir a responsabilidade. Perguntam ao Criador: “Por que me fizeste assim?”. Proceder assim é enganar-se a si mesmo. Tudo o que Deus faz é bom. Na verdade, Ele é a fonte de “toda dádiva e todo dom perfeito” (Tg 1:17).

Como expusemos na Aula 02, de uma maneira que não sabemos explicar, Deus não é responsável pelos atos pecaminosos de suas criaturas; por isso, elas darão conta de seus atos pecaminosos junto a Deus; por isto, Deus não é injusto quando Ele as conduz para a condenação. A Bíblia responsabiliza o ser humano pelo pecado e pela decisão errada que ele comete. Não deixemos que a nossa fé venha esmaecer nem por um minuto, em pensar que a graça de Deus, que a soberania de Deus, nos dá uma desculpa para o pecado. Nós somos responsabilizados pelas Escrituras por todas as nossas ações. Portanto, “não erreis, meus amados irmãos”.

2. Toda boa dádiva e todo dom vêm de Deus. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto...” (Tg 1:17). Tudo o que Deus nos dá é bom. Toda boa dádiva procede das Suas mãos. Ele, muitas vezes, nos dá não o que pedimos, mas o que precisamos. Seriamos destruídos se Deus deferisse todas nossas orações. Muitas vezes pedimos uma pedra, pensando que estamos pedindo um pão; pedimos uma serpente, pensando que estamos pedindo um peixe. Deus, então, é tão bondoso, que não nos dá o que pedimos, mas o que necessitamos. Elizabeth George registra uma sublime mensagem sobre os paradoxos da oração:

Pedi a Deus força, para que eu pudesse alcançar êxito. Fui enfraquecido, para que pudesse aprender a humildade para obedecer...

Pedi saúde, para que eu pudesse fazer grandes coisas. Fiquei enfermo, para que pudesse fazer coisas melhores...

Pedi riquezas, para que eu pudesse ser feliz. Foi me dada a pobreza, para que eu pudesse ser sábio...

Pedi poder, para que eu pudesse ter o louvor dos homens. Recebi fraqueza, para que eu sentisse a necessidade de Deus...

Pedi todas as coisas, para que pudesse desfrutar a vida. Foi me dada a vida, para que eu pudesse desfrutar todas as coisas...

Não recebi nada do que pedi, mas tudo de que precisava.

Quase que a despeito de mim mesmo, minhas orações não respondidas foram respondidas. Eu sou, dentre todos os homens, o mais ricamente abençoado (George, Elizabeth. Tiago – Crescendo em sabedoria e fé).

3. A origem de tudo o que é bom está no Pai das luzes.Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação” (Tg 1:17). De Deus só pode vir o bem. Todo o bem que temos e experimentamos vem lá do alto, do Pai das luzes, que é imutável.

Note que Tiago chama Deus de “Pai das luzes”; na Bíblia, a palavra pai significa, por vezes, criador ou fonte (cf. Jó 38:28). Assim, Deus é o Criador ou a fonte das luzes. Mas o que são essas luzes? Sem dúvida, compreendem os corpos celestes: o sol, a lua e as estrelas (Gn 1:14-18; Sl 136:7). Deus é a fonte de toda forma de luz existente no universo, “em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”. Deus é diferente de todos os corpos celestes criados por Ele. Enquanto estes estão sempre mudando, Deus permanece imutável.

É possível que Tiago tenha pensado não apenas no brilho declinante do sol e das estrelas, mas também em sua mudança de posição em relação à Terra, à medida que esta realiza sua rotação.

Os corpos celestes são caracterizados por variações. A expressão “sombra de mudança” pode significar sombra provocada por uma mudança. Neste caso, talvez se refira às sombras que incidem sobre a Terra por seu movimento em torno do sol. Deus é totalmente diferente; nele não há variação, não há sombra provocada por mudança. A sua criação gira, move, muda de posição; todavia, o Pai das luzes é imutável no seu propósito de nos fazer o bem. Ele não muda, ou seja, não é aquele que um dia nos ama, outro dia está com raiva de nós e nos manda a tentação para nos destruir, não. Seu propósito é imutável. Nele não há variação, nem mudança de sombra como existe nos luzeiros que Ele criou.

III. PRIMÍCIAS DE DEUS ENTRE AS CRIATURAS (Tg 1:18)

“Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas”.

1. Algo que somente Deus faz. Um exemplo maravilhoso das boas coisas que Deus nos dá é o nascimento espiritual, a regeneração. Nós somos salvos porque Deus decidiu nos tornar “primícias das suas criaturas” (seus próprios filhos). O nosso nascimento espiritual não se dá por acidente, nem porque Deus tinha que fazê-lo. Ser gerado de novo (2Co 5:17) é um presente para todos os crentes (veja João 3:3-8; Rm 12;2; Ef 1:5; Tt 3:5; 1Pedro 1:3,23; 1João 3:9), é uma ação realizada exclusivamente por Deus através do Santo Espírito; Ele limpa o homem dos seus pecados (Is 1:18), dando-lhe perdão e implantando-lhe um novo caráter.

2. A Palavra da verdade. A Palavra da verdade é o Evangelho, as Boas Novas da salvação (Ef 1:13; Cl 1:5; 2Tm 2:15). Como um proeminente exemplo das boas dádivas divinas, Tiago menciona o fato de que Deus “nos gerou pela palavra da verdade”.

Ele nos gerou é uma descrição do novo nascimento. Por meio do nascimento espiritual, nos tornamos seus filhos. Isto Ele fez a partir de sua determinação espontânea e gratuita, “segundo o seu querer”. Ou seja, Ele não foi obrigado a nos salvar por algum mérito nosso. Ele nos salvou segundo o seu livre querer. Não tínhamos como merecer, conquistar e nem comprar o amor de Deus por nós. Ele o expressou de forma inteiramente voluntário. Que motivo extraordinário de adoração!

O instrumento através do qual Deus realiza este nascimento espiritual é o Evangelho, a Palavra da verdade. Fomos gerados pela Palavra da Verdade, que salva a nossa alma (Tg 1:21). Assim como o nascimento natural vem pelo relacionamento do pai e da mãe, o nascimento espiritual vem por meio da Palavra e do Espírito (1Pedro 1:23). As Escrituras Sagradas, expressas na forma oral ou escrita, participam de todas as conversões autênticas. Sem a Bíblia não conheceríamos o caminho para a salvação. Aliás, nem saberíamos que Deus nos oferece a salvação!

Assim, a despeito de todas as circunstâncias difíceis da vida, podemos aplicar essa verdade afirmando que somos filhos de Deus, as primícias entre as criaturas do Senhor. Os destinatários da Epístola de Tiago, que sofriam grandes provações e tentações, precisavam saber dessa verdade.

3. O propósito de Deus. Tiago diz que o principal propósito de Deus é fazer da pessoa regenerada primícias das suas criaturas - “... para que fôssemos como que primícias das suas criaturas”.

No Antigo Testamento, as primícias eram a colheita do melhor fruto (Lv 23:10,11; Êx 23:19; Dt 18:4). Os cristãos para os quais Tiago escreveu faziam parte dos primeiros convertidos da Dispersão cristã. Por certo, todos os cristãos são como que primícias das criaturas de Deus, mas a expressão aqui se refere, primeiramente, aos cristãos judeus para quem Tiago escreve.

No Antigo Testamento, as primícias eram oferecidas a Deus em gratidão por sua generosidade e em reconhecimento a tudo que vem dele e pertence a Ele. Assim, todos os cristãos devem se apresentar a Deus como sacrifícios vivos (Rm 12:1,2).

Tiago compara os destinatários originais de sua Epístola aos primeiros feixes de cereal da colheita de Cristo. Serão seguidos de outros ao longo dos séculos, mas foram separados como padrão para mostrar os frutos da nova criação. Um dia, o Senhor encherá toda a terra de outros como eles (Rm 8:19-23). A colheita completa se dará quando o Senhor Jesus voltar para reinar sobre a terra.

Apesar de Tiago 1:18 se referir, originalmente, aos cristãos do século I, todos nós que honramos o nome de Cristo podemos aplicar perfeitamente esta passagem à nossa vida.

CONCLUSÃO


Todo aquele que é gerado pela Palavra da verdade possui um comportamento irrefragável de um verdadeiro filho de Deus, diante de um mundo de tanta desigualdade em todas as áreas da vida. O seu relacionamento íntimo com Deus e a aplicação das Escrituras Sagradas à sua vida diária, faze-o suportar, com alegria, todas as situações adversas. Ele é “ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3:15). Ele é cônscio do seu maior desafio: fazer o Evangelho ser conhecido num mundo dominado por relacionamentos distorcidos.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Rev. Hernandes Dias Lopes –  Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel  & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.