domingo, 18 de dezembro de 2016

Aula 13 – FIDELIDADE A DEUS


4º Trimestre/2016

Texto Base: Filipenses 4:10-20

 
"Posso todas as coisas naquele que me fortalece" (Fp.4:13).

INTRODUÇÃO

Com esta Aula concluímos o 4º Trimestre letivo de 2016. Aprendemos que, embora sejamos filhos de Deus, estamos sujeitos a enfrentar algumas crises em nossa caminhada. Lembremos que o deserto é a trajetória de nossa caminhada rumo à Pátria Celestial. Logo, enfrentamos momentos difíceis, mas Deus está conosco nos dando a vitória diante das intempéries; Ele está no controle de tudo. O Deus que sustentou o povo de Israel no deserto durante 40 anos, que sustentou Abraão e seus descendentes é o Deus que vai nos sustentar e ajudar-nos a enfrentar as adversidades da vida. O que Ele quer de nós? Certamente, fidelidade a Ele. O que é fidelidade? É a característica de quem tem bom caráter, é fiel e demonstra respeito por alguém e pelo compromisso assumido com outrem; é sinônimo de lealdade. Se Deus procura os fiéis da terra para que estejam com Ele, a fidelidade, entre outras virtudes, é algo que atrai a atenção de Deus. A vida de Paulo é um exemplo de como podemos vencer as crises e permanecer fiéis ao Senhor. A Epístola aos Filipenses nos dá uma visão clara sobre a fidelidade de Paulo a Deus, a despeito das circunstâncias adversas.

I. A FIDELIDADE DE PAULO EM MEIO ÀS CRISES

1. Destemor e ousadia. Paulo, durante 16 anos, após sua conversão, pregou no vale do Jordão, na Síria e na Cilícia. Foi especialmente perseguido pelos judeus, que o consideravam um grande traidor. Fez quatro grandes viagens missionárias, sendo que na última foi a Roma como prisioneiro, para ser julgado, e nunca mais retornou para a Judéia. Ele tinha consciência de sua missão, especialmente, no mundo gentio. Pregou a Palavra de Deus com zelo, destemor e ousadia, e não se deixou abater pelas dificuldades. Nada o demovia de pregar o Evangelho.

Paulo estava preso em Roma, no corredor da morte, na antessala do martírio, com o pé na sepultura, com o pescoço na guilhotina de Roma, mas escreve aos filipenses e diz: “E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho” Fp.1:12). O que aconteceu a Paulo que contribuiu para maior proveito do evangelho? Ele foi preso em Damasco, rejeitado em Jerusalém, esquecido em Tarso, apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica e Beréia, foi chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto, enfrentou feras em Éfeso, foi preso em Jerusalém e acusado em Cesaréia, enfrentou um naufrágio em sua viagem para Roma, foi picado por uma víbora em Malta e chegou algemado na capital do império. Entretanto, ele olhou todas essas circunstâncias adversas com os olhos da submissão à vontade de Deus, dizendo que elas haviam contribuído para o progresso do evangelho.

Porque ele estava preso, a igreja foi mais encorajada a pregar – “e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor” (Fp.1:14).

Porque ele estava preso, a guarda pretoriana foi evangelizada - “De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana e por todos os demais lugares” (Fp.1:13).

Porque ele estava preso, escreveu Cartas que abençoaram o mundo inteiro. Das treze Epístolas que escreveu, cinco foram escritas na prisão, a saber: aos Efésios; aos Filipenses; aos Colossenses; Filemon e; 2Timóteo. Através destas Cartas, Paulo transmitiu às comunidades cristãs e aos seus discípulos uma fé fervorosa em Jesus Cristo, na sua morte e ressurreição. Deus espera de todos os verdadeiros líderes, obreiros e todos os cristãos autênticos que não se intimidem diante das perseguições, tribulações e crises.

2. Alegria em meio às crises. Paulo, embora fosse um prisioneiro, era muito feliz, e incentivava e ainda incentiva todos os crentes a se regozijarem em Cristo. Ainda que preso, oprimido por circunstâncias adversas, Paulo, na Epístola à Igreja de Filipos, irrompe em brados de alegria, revelando que a alegria verdadeira é imperativa, ultracircunstancial e cristocêntrica – “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez vos digo: alegrai-vos” (Fp.4:4).

A Epístola aos Filipenses foi escrita na prisão, em Roma, e a nota dominante em toda a Carta é a alegria triunfante. A alegria apresentada envolve uma ardente expectativa da iminente volta de Cristo. O fato de essa expectativa ser dominante no pensamento de Paulo é observado em suas cinco referências à volta de Cristo, e em cada referência há uma nota de alegria (Fp.1:6,10; 2:16; 3:20; 4:5).

A alegria do cristão não é ausência de problemas nem está colocada em coisas; ela procede de Deus, é sustentada por Deus e consumada por Ele. O evangelho que nos alcançou é a boa-nova de grande alegria; o Reino de Deus que está dentro de nós é alegria no Espírito Santo; o fruto do Espírito é alegria. A ordem de Deus para nós é: "Alegrai-vos" (Fp.4:4). O mundo não pode dar nem tirar essa alegria, pois ela vem do Céu, vem de Deus. Não permitamos, portanto, que as crises enfraqueçam a nossa fé e roubem a nossa alegria.

3. Servindo a Deus em meio às crises. Paulo enfrentou muitas crises em sua vida pessoal e ministerial, mas em tudo ele foi fiel ao Senhor. Nenhuma crise, por mais aguda que ela se apresentasse, não arrefeceu o seu ânimo, o seu ministério. Ele trabalhou diuturnamente, sem intermitência, com saúde ou doente; em liberdade ou na prisão; na fartura ou passando necessidades. Jamais deixou de trabalhar pela causa de Cristo.

- Foi preso várias vezes. O Livro de Atos revela sua prisão em Filipos, em Jerusalém, em Cesaréia e em Roma. Paulo passou preso boa parte da sua atividade apostólica. Ele podia estar encarcerado, mas a Palavra de Deus não estava algemada. Era um embaixador em cadeias. Jamais se sentiu prisioneiro de homens, mas sempre prisioneiro de Cristo.

- Foi açoitado várias vezes pelos judeus. O Livro de Atos não é exaustivo em relatar os diversos açoites que Paulo sofreu. Temos informação que ele foi açoitado em Filipos, mas muitas outras vezes seu corpo foi surrado a ponto de dizer para os gálatas que trazia no corpo as marcas de Cristo (Gl.6:17). Cinco vezes recebeu dos judeus trinta e nove açoites, com base no modelo judaico exarado em Deuteronômio 25:2-5. Segundo o estudioso Fritz Rienecker, “a pessoa tinha as suas duas mãos presas a um poste e suas roupas eram removidas, de modo que seu peito ficava a descoberto. Com um chicote feito de uma correia de bezerro e duas de couro de jumento ligadas a um longo cabo, a pessoa recebia um terço das trinta e nove chicotadas no tórax e dois terços nas costas. Esse castigo era tão severo que muitos sucumbiam a ele”.

- Foi açoitado várias vezes pelos romanos. Paulo não foi apenas castigado pelos judeus, foi também castigado pelos romanos. Se a quarentena de açoites era um castigo judaico (Dt.25:1-3), fustigar com caras era um castigo romano. O Livro de Atos só relata os açoites que Paulo sofreu em Filipos, mas em 2Co.11:23b-25) Paulo nos informa que três vezes foi fustigado com varas.

- Foi apedrejado. Paulo não foi apenas açoitado pelos judeus e pelos gentios, foi também apedrejado. Na sua Primeira Viagem Missionária, ele foi apedrejado em Listra e foi arrastado da cidade como morto. Deus o levantou milagrosamente para prosseguir seu trabalho missionário. A vida de Paulo é um milagre; seu sofrimento, um monumento; suas cicatrizes, seu vibrante testemunho.

Paulo foi perseguido, rejeitado, esquecido, apedrejado, fustigado com varas, preso, abandonado, condenado à morte, degolado. Mas, em vez de fechar as cortinas da vida com pessimismo, amargura e ressentimento, termina erguendo ao Céu um tributo de louvor ao Senhor: "eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro até aquele dia" (2Tm.1:12).

Em Roma, na antessala do martírio, de forma imperturbável, impressionante e com alegria na alma, Paulo ergue ao Céu sua última doxologia: “combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé. desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas a todos aqueles que amarem a sua vinda” (2Tm 4:7,8). "a Ele [o Senhor Jesus Cristo], glória pelos séculos dos séculos. Amém" (2Tm.4:18b).

Paulo tombou na terra, pelo martírio, mas ergueu-se no Céu para receber a recompensa, como o mais vitorioso e destacado bandeirante da fé.

II. ABNEGAÇÃO ANTE O SOFRIMENTO

1. A disposição de Paulo em sofrer pelos cristãos de Filipos (Fp.2:17,18). Paulo era um homem pronto a dar sua vida por outros, não por constrangimento, mas com grande alegria – “E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós. E vós também regozijai-vos e alegrai-vos comigo por isto mesmo” (Fp.2:17,18). Ele demonstra uma alegria imensa mesmo estando na antessala da morte e no corredor do martírio. Suas palavras não são de revolta nem de lamento. Ele foi perseguido, apedrejado, preso e açoitado com varas. Ele enfrentou frio, fome e passou provações. Ele enfrentou inimigos de fora e perseguições de dentro. Ele, agora, está em Roma, sendo acusado pelos judeus diante de César, aguardando uma sentença que pode levá-lo à morte; mas, a despeito dessa situação, sua alma está em festa, e seu coração está exultante de alegria.

Paulo usa a figura da “libação” para expressar sua disposição de dar sua vida pelo evangelho e pela igreja, para mostrar que a morte dele completaria o sacrifício dos filipenses. A libação era um rito comum na religião judaica. No judaísmo, a libação era o derramamento de vinho ou azeite sobre a oferta do holocausto (cf. Ex.29:40,41; Nm.15:5,7,10; 28:24). Não era uma oferta pelos pecados, mas uma oferta de gratidão ao Senhor. Paulo, portanto, entendia sua morte como oferenda derramada sobre o sacrifício da igreja (Fp.2:17) e derramada no mais verdadeiro sentido sobre o holocausto [sacrifício total] do Messias Jesus (Rm.8:32). O martírio de Paulo coroaria sua vida e seu apostolado. Contudo, Paulo deseja que esse sacrifício seja colocado como crédito aos Filipenses, e não a seu próprio favor. Sendo assim, não haveria motivo para lágrimas. Essa perspectiva levou Paulo a dizer: “...me regozijo com todos vós. E vós também regozijai-vos e alegrai-vos comigo por isto mesmo”.

Atualmente, muitos têm feito da obra do Senhor um meio mercantilista, mas, também, é notório que muitos crentes estão dispostos a dar a sua vida pelo Senhor.

2. A disposição de Epafrodito (Fp.2:25-30). “Julguei, contudo, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e, por outro lado, vosso enviado e vosso auxiliar nas minhas necessidades; Porque, pela obra de Cristo, chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso da vida, para suprir para comigo a falta do vosso serviço” (Fp.2:25,30).

O apóstolo Paulo faz menção carinhosa de um obreiro dedicado e abnegado chamado Epafrodito. Este valoroso e dedicado obreiro só é citado na Carta aos Filipenses, no capítulo 2:25-30 e no capítulo 4:18, mas é o suficiente para compreendermos seu profundo amor por Jesus e pela Igreja. Não sabemos se ele é o Epafras de Colossenses 4:12, não há como afirmar isso com certeza. Em todo caso, sabemos que morava em Filipos, era um gentil, e que pode ter sido um presbítero da igreja.

Paulo queria que os filipenses soubessem o quanto ele estimava Epafrodito, de modo que ele o caracterizou através de três nomes (cf. Fp.2:25):

·    Meu irmão, significando um irmão em Cristo.  Se nós estamos em Cristo, há um elo de amor fraternal que nos une uns aos outros. Essa é uma palavra que destaca a relação de família.

·    Meu cooperador, que significa que ele também estava trabalhando para o Reino de Deus. Epafrodito era um trabalhador na obra de Cristo e um ajudador de Paulo.

·    Meu companheiro nos combates, referindo-se à solidariedade entre os crentes que estão lutando na mesma batalha. A vida cristã não é um parque de diversões, uma colônia de férias, mas um campo de guerra. Epafrodito estava no meio desse campo de lutas com o apóstolo Paulo. Epafrodito era um homem que sabia trabalhar com os outros, qualidade essencial na vida cristã e no serviço do Senhor. Sejamos “cooperadores e companheiros de lutas”, para o bem da obra do Senhor.

Epafrodito colocou as necessidades dos outros acima de suas próprias. Ele estava sempre pronto a fazer os trabalhos mais comuns e menos honrosos. Hoje, são muitos os interessados em trabalhos agradáveis e visíveis. Deve-se reconhecer e agradecer a Deus a vida daqueles que fazem trabalho rotineiro, sem alarde e sem visibilidade. Por fazer o trabalho árduo, Epafrodito se humilhou. Deus, porém, o exaltou, registrando seu fiel serviço no capítulo 2 da Carta aos Filipenses, para conhecimento das gerações vindouras.

3. Paulo e os judaizantes (Fp 3.1-8). Paulo, mesmo sob algemas, não cala sua voz. Ele denuncia e desmascara os falsos mestres com veemência - “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão! Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne”(Fp.3:2,3).

Paulo adverte os crentes a se guardarem de um grupo de pessoas em particular que ele descreveu usando três termos depreciativos diferentes: cães, maus obreiros e circuncisão. É provável que essas três expressões se refiram ao mesmo grupo de pessoas: os falsos ensinadores, que procuravam submeter os cristãos ao judaísmo e ensinavam que só haveria justificação para quem guardasse a lei e seus rituais. Veja a tríplice advertência de Paulo:

a) “Guardai-vos dos cães”. Aqueles ensinadores eram considerados “cães”. Na Bíblia, os “cães” são animais imundos. Esse termo era usado pelos judeus para descrever os gentios. Nas terras do Oriente, os cães eram criaturas sem lar e, como não tinham dono, viviam nas ruas procurando alimento onde pudessem. Paulo vira o feitiço contra o feiticeiro, aplicando a alcunha de “cães” aos falsos ensinadores do judaísmo que procuravam corromper a Igreja. Eles é que viviam à margem da Igreja, procurando sobreviver de rituais e de cerimônias. Apanhavam migalhas quando podiam estar assentados à mesa dentro da festa.

2. “Guardai-vos dos maus obreiros”. Aqueles ensinadores eram “maus obreiros”. Eles eram obreiros da iniquidade (Lc.13:27) e obreiros fraudulentos (1Co.11:13). Desviavam a atenção de Cristo e de Sua redenção perfeita e a fixavam em rituais ultrapassados e em obras humanas. Eles trabalhavam contra Deus e para desfazerem a obra de Deus. Laboravam para o erro e para desviarem as pessoas da verdade. Para esses mestres judaizantes, agir com justiça era observar a lei e segui-la em seus múltiplos detalhes e cumprir suas inumeráveis regras e prescrições. Mas Paulo estava seguro de que a única classe de justiça que agrada a Deus consiste em render-se livremente à Sua graça.

3. “Guardai-vos da circuncisão”. Paulo se refere a esses ensinadores como homens da “circuncisão” ou da “falsa circuncisão”(ARA). Esses ensinadores que se diziam cristãos de origem judaica erroneamente acreditavam que era essencial que os gentios seguissem todas as leis do Antigo Testamento, dizendo que os crentes gentios tinham que ser circuncidados para que pudessem ser salvos. Esses mestres judaizantes trocaram a graça de Deus por um rito físico. Eles queriam inserir na mensagem do evangelho a obrigatoriedade da circuncisão como condição indispensável para a salvação (At.15:1). Assim, a salvação deixava de ser pela fé somente e passava a depender do esforço humano. Eles se vangloriavam de uma incisão na carne, em vez de uma mudança no coração. Eles cortavam o prepúcio do órgão sexual masculino, porém não cortavam o prepúcio do coração. Paulo escarnece dessa falsa confiança deles no rito da circuncisão, em vez de confiarem na graça de Deus. A preocupação de Paulo era que nada ficasse no caminho da verdade simples de sua mensagem: que a salvação, para judeus e gentios, igualmente, vem somente através da fé em Jesus Cristo.

III. APRENDENDO A VENCER AS CRISES

1. A crise da falta de firmeza espiritual (Fp.4:1).Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amado”. Na igreja de Filipos, havia perigos internos e externos. A igreja estava sendo atacada por falsos mestres e por falta de comunhão. A heresia e a desarmonia atacavam a igreja. Existiam problemas doutrinários e relacionais. A igreja estava sendo atacada por fora e por dentro. Diante desses perigos, e por causa das promessas extraordinárias e certas, exaradas no capítulo anterior, nos versículos 20 e 21, Paulo exorta-os a continuarem “firmes no Senhor”, opondo-se à falsa doutrina e à divisão interna.

A igreja deve permanecer firme no Senhor por causa de sua herança (Fp.1:6) e vocação celestial (Fp.3:20,21). Ela deve permanecer firme, a despeito da hostilidade dos legalistas (Fp.3:2) e dos libertinos (Fp.3:18,19). Deve permanecer firme diante dos sinais de desarmonia nos relacionamentos (Fp.2:3,4) e dos desacordos de pensamento (Fp.4:2).

Paulo encerra Filipenses 4:1 com a seguinte expressão: “amados”. Ele ama de fato os crentes de Filipos, e esse é um dos segredos de sua eficácia na obra do Senhor.

2. A crise da desarmonia (Fp.4:2,3). “Rogo a Evódia e rogo a Síntique que sintam o mesmo no Senhor” (Fp.4:2). Nem tudo era maravilhoso e perfeito na igreja de Filipos. Ali estava acontecendo algo que é muito comum nestes últimos dias da Igreja: a dissensão, oriunda de problemas de relacionamentos. Evódia e Síntique eram duas irmãs que ocupavam posição de liderança na igreja, que haviam se esforçado com Paulo no evangelho, mas, agora, estavam em discórdia na igreja. Elas tinham nomes bonitos (Evódia significa “doce fragrância”, e Síntique “boa sorte”), mas estavam vivendo de maneira repreensível. O relacionamento interrompido delas não era um problema pequeno; muitos havia se tornados crentes através de seus esforços (cf. Fp.4:3), mas a sua briga estava causando uma dissensão na igreja. Não temos detalhes da causa de sua discórdia (talvez seja bom assim!), mas Paulo rogou a elas que resolvessem a situação. O apóstolo emprega a palavra “rogo” duas vezes, para mostrar que essa exortação é dirigida a uma e outra. Paulo as incentiva que “sintam o mesmo no Senhor”.

É impossível sermos unidos em todas as coisas da vida diária, mas quanto às coisas “no Senhor” é possível reprimir pequenas diferenças a fim de que o Senhor possa ser magnificado e para que sua obra avance. É válido ressaltar que:

- Na vida cristã não há comunhão vertical sem comunhão horizontal. Não podemos estar unidos a Cristo e desunidos com os irmãos. A lealdade mútua é fruto da lealdade a Cristo. A irmandade humana é impossível sem o senhorio de Cristo. Ninguém pode estar em paz com Deus e em desavença com os seus irmãos. Por isso, a desunião dos crentes num mundo fragmentado é um escândalo. Devemos ser um povo diferente do mundo ímpio, senão, nossa evangelização é inócua.

- A desarmonia é contrária à natureza da igreja (Fp.4:3). A igreja deve ser marcada pelo trabalho conjunto, pelo auxílio recíproco e pela esperança futura. Há uma realidade celestial acerca da igreja, a saber, o nome dos crentes está escrito no livro da vida, e lá no céu não há divisão; a igreja na Terra deve ser uma réplica da igreja do Céu. A igreja que seremos deve ensinar a igreja que somos. É contrária à natureza da igreja confessar a unidade no Céu e praticar a desunião na Terra. Todos os crentes, lavados no sangue do Cordeiro, têm seus nomes escritos no livro da vida e serão introduzidos na cidade santa (Lc.10:17-20; Hb.12:22,23; Ap.3:5; 20:11-15). O fato de irmos morar juntos no Céu deveria nos ensinar a viver em harmonia na Terra.

3. Vencendo as crises (Fp.4:11).Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho”. Embora estivesse muito satisfeito com a generosidade dos filipenses, Paulo esclareceu que tinha aprendido um importante segredo para a vida cristã: que ele poderia se contentar com o que tinha, fosse muito ou pouco. Paulo explicou que a sua suficiência estava somente em Cristo, que provê a força para que enfrentemos todas as crises.

É importante que os crentes percebam que o “contentamento” bíblico não significa uma acomodação em relação aos desafios da vida, nem tampouco um desinteresse por melhorar o crescimento profissional, educacional, etc. Trata-se de um estado de alma, que possuímos em Cristo tudo quanto nos é necessário para nossa alegria, paz e comunhão com Deus e os homens.

Para Paulo, o contentamento que experimentava na riqueza e pobreza, na fartura ou miséria, eram reflexos de uma mesma realidade vivida na presença de Deus. A certeza de que Deus estava nele, que havia concedido a ele o seu Reino, transcendia suas experiências pessoais e as colocava num universo eterno. Penso que foi isso que Jesus experimentou. Sua vida não foi sempre um arranjo de fatos agradáveis. Experimentou o abandono, angústia, tristeza, traição, alegria e exultação, e todas essas experiências fizeram parte do Reino que havia sido entregue.

É bom ressaltar que o contentamento não será encontrado na próxima curva, na visita ao shopping center, no novo emprego ou nas coisas simples e rotineiras, mas nas experiências que a graça de Deus nos concede dia a dia. Contentamento não significa não passar pelos vales sombrios da morte, mas gozar a plenitude do Reino, do amor, da justiça e da paz.

Para ter o verdadeiro contentamento, lembre-se de que tudo pertence a Deus e que aquilo que temos nos foi dado por Ele. Sejamos agradecidos pelo que temos, não cobiçando o que os outros possuem. Peçamos sabedoria para usarmos sabiamente o que temos. Oremos pedindo ao Senhor a graça necessária para abandonarmos o desejo exasperado pelo que não temos. Confiemos que Deus suprirá as nossas necessidades.

Muitas pessoas que se dizem cristãs têm sido fiéis e leais ao Senhor Jesus enquanto as condições permitem, isto é, enquanto tudo está bem, quando os ventos são favoráveis, quando não falta dinheiro, quando a família está com saúde. Porém, vindo as aflições, perseguições, carência de dinheiro, etc., deixam de olhar para o Autor e Consumador da fé (Hb.12:2), e começam a murmurar e a questionar a Deus pela situação que está atravessando. Daí começa o descontentamento, a tristeza, e em seguida partem para a infidelidade, que é um sinal de desconfiança e incerteza. É fácil ser fiel quando tudo vai bem. Quando as coisas vão mal, a fidelidade é um “sacrifício”. O que o Espírito Santo deposita dentro de nós através da fidelidade atravessa qualquer barreira, transpondo todos os obstáculos contrários à fé. E Deus sempre está provando a nossa fidelidade para com Ele. Devemos estar cônscios de que os desertos não são apenas os momentos difíceis por que passamos aqui, não! Os “desertos” são a trajetória de nossa jornada rumo ao Céu. Pense nisso!

CONCLUSÃO

O contentamento de Paulo diante das crises era resultado da sua comunhão com Deus. Ele aprendera com o Senhor a se contentar em toda e qualquer circunstância. Disse ele: “Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade”. Paulo sabia “estar abatido” ou “humilhado” (ARA), isto é, quando não tinha suprimento para as necessidades básicas da vida, e também sabia “ser honrado”, ou seja, quando recebia mais do que necessitava. “Em todas as circunstâncias” - já tinha experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez. Como Paulo aprendeu tal lição? Simplesmente porque tinha a certeza de estar na vontade de Deus onde quer que estivesse, fossem quais fossem as circunstâncias. Sabia que estava ali pela vontade de Deus. Assim, se passasse fome, era porque Deus queria que ele passasse fome. Se estivesse fartura, era porque Deus planejou que fosse assim. Estando ocupado fielmente no serviço do Rei, ele podia dizer: “Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”. Portanto, quer Paulo tivesse muito ou pouco, ele era capaz de manter a vida em equilíbrio por causa do contentamento. Que lição importante para todos os crentes, das igrejas locais de hoje, aprenderem! Que possamos seguir o exemplo de Paulo e aprender com o Senhor a ter paz e contentamento mesmo enfrentando crises.

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 68. CPAD.

Pr. Elienai Cabral. O Deus da Provisão, Esperança e sabedoria divina para a Igreja em meio ás crises. CPAD.

Rev. Caramuru Afonso Francisco. Filipenses – A alegria triunfante no meio das provas.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Aula 12 - SABEDORIA DIVINA PARA TOMADA DE DECISÕES


4º Trimestre/2016


Texto Base: 1Rs 4:29-34

"Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento" (Pv.2:6)

 
INTRODUÇÃO

Nesta Aula, estudaremos os últimos dias do reinado de Davi e a tumultuada escolha de seu sucessor. Como nessa vida tudo é passageiro, chegou o momento de o rei apresentar o seu sucessor; o “homem segundo o coração de Deus” devia passar o bastão da liderança do reino de Israel. Precisou da direção divina para tomar esta decisão. Foi um momento difícil, pois envolveu muitos interesses. O poder sempre fascinou o homem e não seria agora que este estigma da personalidade humana deixaria de manifestar-se naqueles que são obcecados pelo poder e o querem a qualquer custo. Salomão foi o sucessor de Davi no trono, à revelia de muitos, como, por exemplo, Adonias (o filho de Davi), Joabe (comandante do exército), Abiatar (um dos principais conselheiros de Davi) e vários outros. Era um tempo de forte crise na família de Davi, mas Deus abençoou o novo rei, concedendo-lhe sabedoria para reinar com justiça e equidade. Seu reino foi um dos mais prósperos e abençoados de Israel.

I. CRISE FAMILIAR NO REINO DAVÍDICO

1. A velhice do rei (1Rs.1:1-4). O rei Davi havia envelhecido, estava no fim da sua vida, e Israel ainda não sabia quem lhe sucederia no trono; essa demora gerou uma crise entre os filhos de Davi e no reino. Adonias, seu filho indisciplinado, considerava a si mesmo como o herdeiro legítimo do trono. Cheio de orgulho, dizia ao povo: “depois de meu pai, eu serei o rei”. Diante da fragilidade de Davi, Adonias intitulou-se rei (1Rs.1:5) antes mesmo do seu pai falecer, e à revelia de muitos.

Para tudo tem o seu tempo determinado, inclusive de passar o bastão do reino. Como bem diz o pastor Elienai Cabral, “a hora de encerrar uma carreira é tão importante quanto o seu começo; é preciso saber escolher e formar sucessores”. O Senhor já tinha dito a Davi quem seria o seu sucessor, talvez isso o tivesse deixado tranquilo para tomar essa decisão no momento certo (cf. 1Cr.22:9).

Devido ao tumulto que Adonias causara, Davi designou seu filho Salomão como seu sucessor no trono. Não sei se essa era a vontade de Davi, mas teve que cumprir a vontade do Senhor. O reino de Israel pertencia ao Senhor, não a Davi ou a qualquer outro. Por essa razão, o rei de Israel era um representante de Deus, que tinha como tarefa realizar a sua vontade para com a nação. Deste modo, Deus pôde escolher a pessoa que Ele mesmo quis estabelecer como rei, sem seguir as linhas habituais de sucessão. Davi não era herdeiro de Saul, e Salomão não era o filho mais velho de Davi. Mas isso não importou para serem escolhidos por Deus. Portanto, Salomão não chegou ao trono por uma simples indicação de Davi, mas por uma escolha divina, e mesmo, antes de apresentá-lo ao povo, Davi já sabia dessa revelação divina.

2. Adonias e os valentes de Davi. A indicação de Salomão à sucessão do trono de Israel não se deu de forma amistosa e pacífica. Muitos interesses foram manifestados de forma vergonhosa e desrespeitosa. Os filhos mais velhos de Davi - Amnom e Absalão - haviam morrido, e Quileabe, provavelmente, também não era mais vivo. Adonias, vendo que seu pai demorava em indicar o seu sucessor, quis usurpar o trono, sabendo ele que era o imediato na linha sucessória. O problema é que Deus já havia escolhido Salomão, e já tinha orientado Davi a respeito da sucessão (1Cr.22:9,10). Contudo, Adonias seguiu o caminho do seu irmão, Absalão, e engendrou um golpe, através do qual passaria à frente de Salomão e reclamaria o trono para si. Aproveitando-se da enfermidade do pai, Adonias apoderou-se do trono pela violência, induzindo Joabe (comandante do exército) e Abiatar (um dos principais conselheiros de Davi) a conspirar contra a vontade do rei. Estes dois homens se renderam à busca por interesses próprios, após uma vida inteira de lealdade a Davi. De fato, o que observamos eram homens insubmissos, ávidos pelo poder e que desejavam sentar-se no trono a qualquer custo. Mas, o sacerdote Zadoque, o profeta Natã e os valentes de Davi não apoiaram a atitude de Adonias, pois ele estava desrespeitando o rei publicamente e usurpando o trono. Certamente, eles já sabiam quem seria o sucessor de Davi, pois este, em algum momento, já os tinha mencionado que Salomão lhe sucederia no trono de Israel. Era Deus quem estava no comando de Israel; Ele era e é o legítimo rei e dono dessa nação. Portanto, a competência para escolher o sucessor de Davi pertencia a Deus. Davi apenas indicou Salomão a Israel como seu sucessor, mas foi Deus quem o escolheu (1Cr.22:9).

3. A atitude de uma mãe em meio à crise. Diante do movimento subversivo iniciado por Adonias, o profeta Natã foi até a mãe de Salomão e contou-lhe o que estava acontecendo. Ciente disso, ela relata a Davi sobre as pretensões de Adonias. Ao ouvir as notícias, Davi ordenou todos os preparativos para a entronização de Salomão, e proclamou-o rei sobre todo o Israel. A tentativa de golpe de Adonias fracassou e os seus seguidores espalharam-se. Adonias teve que reconhecer que Salomão era o rei e ele deveria submeter-se ao seu reinado.

O primeiro erro de Adonias foi tentar antecipar um título que não lhe pertencia: “Então, Adonias, filho de Hagite, se levantou, dizendo: Eu reinarei. E preparou carros e cavalheiros e cinquenta homens que corressem adiante dele” (1Rs.1:5). O texto deixa bem claro o desejo de Adonias em usurpar o trono de seu pai, Davi. Ele seguiu os mesmos passos de Absalão, seu irmão. Mas Davi tomou ciência do fato e constituiu Salomão rei, acabando assim com a rebelião de Adonias. Desta forma, Davi cumpre a vontade de Deus, quando confirma Salomão no trono: “E, de todos os meus filhos (porque muitos filhos me deu o Senhor), escolheu Ele o meu filho Salomão para se assentar no trono do reino do Senhor sobre Israel. E me disse: Teu filho Salomão, ele edificará a minha casa e os meus átrios, porque o escolhi para filho e eu lhe serei por pai. E estabelecerei o seu reino para sempre, se perseverar em cumprir os meus mandamentos e os meus juízos, como até ao dia de hoje” (1Cr.28:5-7).

Salomão foi o escolhido de Deus para dar continuidade a linhagem davídica, de onde, séculos depois, viria o Senhor Jesus. Portanto, Salomão chegou ao trono por uma escolha divina, e esta escolha fora feita antes mesmo de Salomão nascer, e Davi era cônscio disso (1Cr.22:8,9).

Quando Salomão assumiu o trono, seu pai ainda estava vivo. Adonias, sentindo-se rejeitado e sem entender a direção de Deus, continuou a conspirar contra Salomão. Por causa da sua traição, ele poderia ser morto. Mas, apavorado com a possibilidade de morrer, correu para o Santuário e, chegando lá, "agarrou-se às pontas do altar", lugar dos sacrifícios a Deus. Era um lugar em que ninguém ousaria cometer uma violência. Por isso, Adonias "pegou das pontas do altar". A simbologia desse altar é a misericórdia e a justiça de Deus.

O altar, que tinha quatro pontas (ou chifres) e era feito com madeira de cetim e coberto com cobre, ficava no pátio onde eram feitos os sacrifícios. Foi nas pontas desse altar que Adonias, no desespero para não morrer, agarrou-se. O texto da Bíblia, na versão Almeida Revista e Corrigida, diz que Adonias foi "e pegou das pontas do altar" (1Rs.1:50) e assim sua vida foi salva da morte.

Adonias tornou-se reincidente na sua ambição pelo trono, mesmo tendo sido liberto da morte ao "agarrar-se nas pontas do altar". Logo em seguida, continuou conspirando contra Salomão e acabou sendo morto (1Rs.2:25,32).

Fazendo um paralelo entre essa experiência do reino de Israel e a situação do rei Davi, enfermo e enfraquecido no seu reino, com o contexto da igreja de Cristo hoje, ficaremos absortos diante do que acontece. Líderes que envelhecem e perdem a força de governo na igreja acabam criando situações de conflito para a sucessão pastoral. Nossos líderes, às vezes, perdem a noção do seu papel na Igreja, e pessoas com intenção egoísticas formam grupos que traem a confiança pastoral gerando mal-estar no seio da igreja. Que o Senhor nos guarde dessas atitudes e que nossos líderes saibam o tempo de passar o bastão para o seu legítimo sucessor.

Antes de morrer, Davi tomou duas providências que visavam o futuro tanto de seu filho, Salomão, como de toda a nação de Israel (1Rs.2:1-12):

·    Reuniu todo o povo e os homens do governo para entregar a seu filho a autoridade real e explicar ao povo o que estava acontecendo; e

·    Aconselhou Salomão a guardar a Lei de Moisés, andando nos caminhos de Deus, e livrar-se de todos aqueles que representavam algum tipo de ameaça à unidade e à integridade da nação de Israel. Certamente não queria que este cometesse os mesmos erros que ele cometeu. Depois de aconselhar Salomão, Davi partiu a estar com o Senhor, deixando um legado exemplar e basilar.

II. SALOMÃO BUSCA SABEDORIA PARA REINAR

1. O novo rei (1R.3:3,4). Morto Davi, Salomão tornou-se rei de Israel. Reinou entre 970 e 930 a.C. Ele começou seu reinado com fé no Senhor e amor a Ele. Procurou obedecer aos estatutos do Senhor e a lei de Moisés (1Rs.3:3). Como uma demonstração de gratidão e de seu caráter piedoso, ele foi a Gibeão para lá sacrificar ao Senhor, e sacrificou mil holocaustos (1Rs.3:4). Ele demonstrou não estar preocupado em obter poder, riquezas ou fama; ele buscou, antes de tudo, a presença de Deus. Procurou também adquirir sabedoria para governar o seu povo com equidade e justiça. Foi no reinado de Salomão que Israel chegou ao apogeu da sua glória. Sua época foi marcada por justiça, paz, prosperidade e prestígio internacional.

2. Salomão pede sabedoria a Deus (1Rs.3:5-14). Em Gibeão, apareceu-lhe o Senhor de noite, em sonho, e disse-lhe: "[...] Pede o que quiseres que te dê" (1Rs.3:5). Diante dessa oportunidade inigualável, Salomão proferiu uma das mais belas orações da Bíblia, uma oração que agradou a Deus. Ele orou pedindo sabedoria e um coração entendido, isto é, capacidade para tomar decisões coerentes com a verdade revelada na Lei de Moisés.

“E disse Salomão: De grande beneficência usaste tu com teu servo Davi, meu pai, como também ele andou contigo em verdade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; e guardaste-lhe esta grande beneficência e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como se vê neste dia. Agora, pois, ó SENHOR, meu Deus, tu fizeste reinar teu servo em lugar de Davi, meu pai; e sou ainda menino pequeno, nem sei como sair, nem como entrar. E teu servo está no meio do teu povo que elegeste, povo grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela sua multidão. A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo?” (1Rs.3:6-9).

Com esse pedido, Salomão demonstrou reconhecer três verdades importantíssimas: (a) ele era humanamente incapaz de governar Israel; (b) seu sucesso dependia única e exclusivamente do favor de Deus e; (c) o povo de Israel não era propriedade sua, e sim do próprio Jeová, Deus de Israel.

Deus se agradou de seu pedido (1Rs.3:10) e atendeu sua oração (1Rs.3:11-14). Todavia, o dom da sabedoria que Deus deu a Salomão não era uma garantia de que ele sempre andaria em retidão. Por essa razão, Deus acentuou que a vida longa de Salomão dependeria de “andares nos meus caminhos”(1Rs.3:14). Posteriormente, a infidelidade de Salomão impediu a realização integral da vontade de Deus na sua vida (1Rs.11:1-8).

Concordo com o Pr. Elienai Cabral, quando diz que “o melhor bem que podemos receber de Deus é a sabedoria; ela ajuda-nos a enfrentar as crises de forma correta”. Todavia, não adianta ter sabedoria de Deus e não andar em seus caminhos. Poderemos ter sucesso nesta vida, mas corremos o risco de perdermos a vida eterna, que é insubstituível.

3. O desejo de construir um Templo para Deus (2Sm.7:1-3). Davi desejou construir o Templo - “E sucedeu que, estando o rei Davi em sua casa, e que o Senhor lhe tinha dado descanso de todos os seus inimigos em redor; disse o rei ao profeta Natã: ora, olha, eu moro em casa de cedros e a Arca de Deus mora dentro de cortinas...”(2Sm.7:1-2).

Porém, Deus não permitiu que Davi construísse o Templo - “Mas sucedeu, na mesma noite, que a palavra do Senhor veio a Natã, dizendo: vai e dize a Davi meu servo: Assim diz o Senhor: Tu me não edificarás uma casa para morar...” (1Cr.17:3-4).

Motivo: Davi havia matado muita gente em batalhas – “... Por isso você não construirá um templo em honra do meu nome, pois derramou muito sangue na terra, diante de mim” (1Cr.22:8).

Por decisão de Deus, Salomão construiria o Templo. Disse Deus a Davi - “E há de ser que, quando forem cumpridos os teus dias, para ires a teus pais, suscitarei a tua semente depois de ti, a qual será dos teus filhos, e confirmarei o seu reino. Este me edificará casa; e eu confirmarei o seu Reino” (1Cr.17:11). Coube, pois, a Salomão a bênção e o privilégio de construir o primeiro, o mais rico, e o mais belo dos Templos (cf.1Reis 5 a 8 e 2Cr.2 a 7). Construir um Templo era uma necessidade e iria contribuir para a união das famílias e o fortalecimento do reino de Israel.

III. SABEDORIA PARA EDIFICAR O TEMPLO

1. Salomão faz aliança com Hirão (1Rs.5:1-12). Salomão não quer saber de guerras, quer alianças; seu reino é de paz. Ele fez aliança com Hirão, o rei gentio de Tiro, que controlava as amplas reservas de madeira do Líbano. Hirão havia mantido um relacionamento amistoso com Davi, e desejava fazer o mesmo com Salomão. Prontificou-se, portanto, a fornecer madeira para Salomão edificar o Templo para o Senhor. Salomão enviaria trabalhadores ao norte do Líbano para ajudar a cortar as árvores. As toras seriam levadas ao mar Mediterrâneo e transportadas em jangadas até algum ponto próximo a cidade de Jope e, de lá, carregadas para Jerusalém. Como pagamento pela madeira, Salomão forneceria mantimentos à casa de Hirão de ano em ano.

2. A construção do Templo. A construção foi realizada em sete anos e meio - entre o quarto até o décimo primeiro ano do reinado de Salomão (1Rs.6:37,38). Davi passou para o seu filho as plantas do Templo, conforme o Senhor lhe dera (1Cr.28:11-19). Todo o material – como a prata, o ouro e as pedras preciosas -, o projeto, bem como toda a liturgia da vida religiosa foram providenciados por Davi e entregues a Salomão.

Quando o Templo ficou todo pronto, Salomão convocou todo o Israel para uma grande festa de dedicação. Ele convocou os principais líderes do povo e todo o povo, e ordenou o translado da Arca da Aliança para o Templo. No dia do cortejo, que foi feito com grande pompa, em que todos os sacerdotes e levitas cantavam salmos e o povo festejava, foi imolado um imenso número de ovelhas e bois em sacrifício.

Na nova Aliança, não há mais uma obrigatoriedade do templo para que haja a manifestação da presença de Deus, pois agora o corpo do salvo é o templo do Espírito Santo, conforme diz o apóstolo Paulo: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1Co.6:19,20).

Sendo, portanto, o corpo do salvo, templo, é algo que é sagrado, algo que se encontra dedicado para o serviço de Deus. Nosso corpo é morada do Espírito Santo, é a Sua habitação. Sendo assim, devemos manter o nosso corpo em perfeita santidade, porque Deus é santo.

Não só não podemos usar nosso corpo como instrumento do pecado, porque isto é comportamento de quem não alcançou a salvação (Rm.6:12,13), como também devemos ter o corpo pronto para ser oferecido em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional (Rm.12:1).

Assim, quando Paulo nos afirma que o nosso corpo é templo do Espírito Santo, está nos dizendo que o corpo deve ser uma parte do homem que deve ser destinada a agradar ao Senhor. O corpo é um local onde devemos adorar a Deus, um lugar onde devemos demonstrar a pureza de nosso interior, um lugar que deve demonstrar o perdão dos nossos pecados, um lugar onde tudo o que façamos tenha por objetivo agradar a Deus. Muito ao contrário dos que defendem a falsa doutrina de que “Deus só quer o coração", o que a Bíblia nos ensina, através desta figura, é que o corpo é o lugar em que devemos adorar a Deus, ou seja, servi-lo. É através do corpo que estaremos comprovando se, realmente, fomos santificados, fomos perdoados, fomos purificados e se, realmente, estamos agradando a Deus.

3. A Arca da Aliança. A Arca da Aliança representava a presença de Deus entre o seu povo. Salomão trouxe-a do Tabernáculo antigo para o local onde ela haveria de ficar, no santuário do Templo, de forma definitiva (2Cr.5:2-7). Ela foi colocada no local chamado de Santo dos Santos, sendo que aí somente uma vez por ano era permitida a entrada do sumo sacerdote.

Depois que os sacerdotes saíram do santuário, uma nuvem encheu a Casa do Senhor (2Cr.5:11-14). Os sacerdotes não puderam ficar de pé, para ministrar, tamanha era a glória de Deus naquele lugar. “Então, disse Salomão: O SENHOR tem dito que habitaria nas trevas. E eu te tenho edificado uma casa para morada e um lugar para a tua eterna habitação. Então, o rei virou o rosto e abençoou a toda a congregação de Israel, e toda a congregação de Israel estava em pé” (2Cr.6:1-3). Depois de um breve discurso (2Cr.6:1-11), Salomão se dirigiu a Deus, com uma das mais belas orações da Bíblia (2Cr.6:14-42).

Depois da dedicação do Templo, o Senhor apareceu mais uma vez a Salomão e ordenou que ele obedecesse à Lei e conduzisse o povo à obediência, com a promessa de que, sob estas condições, os olhos do Senhor estariam sempre sobre aquele lugar, mas caso Israel desobedecesse, seria submetido à severa disciplina (1Rs.9:1-9; 2Cr.7:11-22). O Templo era muito grande e muito bonito, conforme contam as Sagradas Escrituras. Com o passar do tempo, ele se tornou o referencial maior para o povo de Israel. Infelizmente, o Templo de Salomão foi destruído no ano 586 a.C., pelos exércitos da Babilônia, quando, então, o Reino do Sul foi levado cativo.

CONCLUSÃO

A Bíblia não oferece respostas específicas para as inúmeras questões que surgem ao longo da vida; não resolve os problemas de forma explícita, mas nos fornece os princípios gerais. Precisamos de sabedoria para aplicá-los aos desafios da vida diária. Durante o reinado de Salomão, a riqueza e o poder de Israel foram incomparáveis. Os quarenta anos do seu reinado foram de glória crescente para Israel. Deus também deseja dar a todos nós sabedoria para vivermos uma vida santa e vencer as crises que surgirem em sua caminhada. “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (Tg.1:5). "Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento" (Pv.2:6)

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (AntigoTestamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 68. CPAD.

Pr. Elienai Cabral. O Deus da Provisão, Esperança e sabedoria divina para a Igreja em meio ás crises. CPAD.

Dr. Caramuru Afonso Francisco. Ester, uma rainha altruísta. PortalEBD_2007.

C. F. Demaray. Ester - Comentário Bíblico Beacon.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Aula 11 - O SOCORRO DE DEUS PARA LIVRAR O SEU POVO


4º Trimestre/2016

Texto Base: Ester 5:1-6

"Os justos clamam, e o SENHOR os ouve e os livra de todas as suas angústias" (Sl.34:17).

 

INTRODUÇÃO

 

Nesta Aula, estudaremos acerca da providência divina para socorrer o seu povo na hora da aflição. Teremos como exemplo a conduta corajosa, equilibrada e altruísta de uma jovem simples, chamada Ester, que salvou seu povo de um terrível massacre, com destaque para o altruísmo, isto é, a atitude de atendimento ao outro, um dos aspectos do amor divino, como vemos em 1Corintios 13:5. Ester era filha adotiva e prima de Mordecai ou Mardoqueu. Tornou-se rainha e esposa de Xerxes, rei da Pérsia, e foi a responsável pela preservação dos judeus. O Senhor colocou Ester no palácio, tornando-a rainha para que intercedesse por seu povo. Deus guardou o povo judeu, livrando-o da morte. Com isso, aprendemos que nada em nossas vidas acontece por acaso. Todas as coisas cooperam para o nosso bem (Rm.8:28).

I. A PROVIDÊNCIA DE DEUS

1. A providência divina na história de Ester (Ester 4:13,14). O Deus Todo-Poderoso, que governa a história segundo a sua vontade e propósitos, determinou que a jovem Ester se tornasse rainha do império mundial, o império Persa, para que no momento certo fosse o instrumento de Deus para livrar o seu povo da destruição. Mardoqueu, tio de Ester, a alertou sobre isto: “Então Mardoqueu mandou que respondessem a Ester: Não imagines no teu íntimo que por estares na casa do rei, escaparás só tu entre todos os judeus. Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento de outra parte sairá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?”.

Quantas ocasiões há em que Deus usa pessoas, próximas ou não, parentes ou não, para alertar-nos de perigos que estão por vir e, então, somos colocados diante de uma decisão séria que terá consequências, muitas vezes, não apenas sobre nossa vida, mas também sobre a vida de muitas outras pessoas. Do nosso silêncio, do nosso discernimento espiritual e da nossa subsequente obediência pode depender o destino de outras vidas, a salvação ou a perdição, o perigo ou o livramento.

Deus sabia perfeitamente, desde o nascimento de Ester e sua adoção por parte de seu tio Mardoqueu, que seria necessária a presença dela, na condição de rainha, na corte do rei Assuero, para que este se inclinasse em favor do povo escolhido de Deus. No tempo determinado, Ester ficou ciente da missão que Deus lhe incumbira. Ela demonstrou uma conduta corajosa, equilibrada e altruísta, que salvou seu povo de um terrível massacre. Para que os acontecimentos tivessem o desenrolar que tiveram, além da coragem e altruísmo de Ester, concorreram a providência de Deus e Sua intervenção na história.

É bom lembrar também da história de José, do Egito, que, no tempo de fome, estava na posição de príncipe no Egito e pôde ser o “salvador” do povo judeu, o povo com quem Deus fizera aliança.

Por que, às vezes, ficamos ansiosos e preocupados com nosso futuro, se podemos confiar no Deus Todo-Poderoso, sábio e amoroso? Se a nossa vida está nas mãos deste Deus e se nós estamos passando por situações de ameaça, de perigos, de seriíssimas decisões, lembremos de que, como na história de Ester, Ele já providenciou as pessoas que colocará no nosso caminho para ajudar-nos. Portanto, não desanime, não desista, não se entregue à derrota. Deus é com você. Ele está olhando para você e providenciará o seu livramento na hora certa, usando as pessoas certas, na hora certa, no lugar certo. Deus está no controle de todas as coisas. Nada em nossa vida acontece por acaso. Creia na providência de Deus!

2. A festa do rei da Pérsia (Ester 1:5-8). Certa feita, o rei Xerxes preparou um grande banquete para todo o povo de Susã, que se prolongou por sete dias. Cento e vinte e sete províncias estavam representadas nessa festa. Nos jardins do palácio, maravilhosamente decorados, serviram vinho real que, além de servido à vontade, era consumido em vasos de ouro. No final da festa, Xerxes, embriagado, ordenou a seus mordomos que trouxessem à sua presença a rainha Vasti, que, nesse interim, oferecia um baquete em separado para as mulheres. O rei queria apresentá-la ao público para todos contemplarem sua formosura. Vasti se recusou a comparecer e, dessa forma, o rei ficou grandemente furioso.

A rainha Vasti se recusou a desfilar diante dos amigos do rei, possivelmente por ser contra o costume persa uma mulher apresentar-se diante de uma reunião pública de homens. Este conflito entre o costume persa e a ordem do rei colocou-a em uma difícil situação, e ela escolheu não obedecer à ordem de seu marido embriagado, na esperança de que ele, mais tarde, recobrasse o juízo. Alguns sugerem que Vasti estava grávida de Artaxerxes, que nasceu em 483 a. C., e não queria ser vista em público naquele estado. Qualquer que tenha sido o motivo, sua atitude foi uma quebra de protocolo que também colocou Assuero em uma situação difícil. Se uma ordem era expedida por um rei persa, ela nunca poderia deixar de ser atendida. E mais, Assuero se preparava para invadir a Grécia, e ele havia convidado muitos importantes oficiais, de todo o império para ver o seu poder, riqueza e autoridade. Caso a sua autoridade sobre a própria esposa fosse colocada em dúvida, sua credibilidade militar, o maior critério de sucesso para um rei da antiguidade, seria prejudicada. Além disso, o rei Assuero estava acostumado a ter o que queria.

Concordo com o que disse C. F. Demaray: “se Ester veio ao reino com um propósito especifico (Et.4:14), certamente podemos dizer que o nobre exemplo de modéstia feminina de Vasti não pode ser facilmente esquecido. Nosso mundo moderno precisa de mais mulheres como esta rainha, relutante em expor seus corpos seminus para a contemplação da multidão. Talvez aumentemos nossa consideração por Vasti se pensarmos que não havia realmente uma lei ou costume, que tornasse inapropriado para as esposas estarem presentes em um banquete com seus maridos. Parece que ela se recusou a obedecer ao pedido do rei por motivos pessoais. Provavelmente, percebeu que por causa de sua escolha poderia perder a sua posição, ou até mesmo a própria vida”.

3. A destituição da rainha Vasti (Ester 1:13-22). Vasti se recusou ser exibida como objeto naquela festa profana, onde ali só tinha bêbados. Diante da recusa, o rei consultou seus sábios, e estes lhe disseram que o comportamento da rainha seria um péssimo exemplo para as demais mulheres do reino. Um dos sábios da corte, por nome Memucã, sugeriu que Vasti fosse deposta por meio de um edito real, que seria enviado a todo o seu reino. Sabendo que a lei dos medos e persas era inalterável, os sábios, talvez, sugeriram essa media drástica para garantir que Vasti não retornasse ao poder e os punisse. Agindo precipitadamente, o rei concordou com a sugestão e a transformou em lei, ordenando que fosse publicada em todas as províncias do seu reino, segundo a língua da cada povo. Além disso, o edito estipulava que todo homem fosse senhor em sua casa e que sua linguagem fosse predominante em seu lar. Com certeza essa lei não fez com que as mulheres daquele país respeitassem a seus maridos. O respeito entre homem e mulher vem da mútua apreciação como seres criados à imagem de Deus, não de ordens e pronunciamentos legais. A obediência forçada é um substituto pobre para o amor e o respeito que esposas e maridos devem ter uns pelos outros.

II. ESTER NO PALÁCIO DE ASSUERO

1. Mardoqueu e Ester. Em 485 a.C., Dario Histapes, rei da Pérsia, o que reinara na época da conclusão do segundo templo de Jerusalém (vide 2Cr.36:22,23;Ed.1:1-4;Ed.5-6), morreu, sendo sucedido por seu filho Assuero (Xerxes I). A miraculosa história da rainha Ester e de seu primo Mardoqueu inicia-se no terceiro ano do reinado deste extraordinário monarca, em 483 a.C.,103 anos após Nabucodonozor ter levado cativos os judeus(2Rs.25), 54 anos após Zorobabel ter guiado os primeiros grupos de exilados de volta a Jerusalém(Ed.1:2), e 25 anos antes de Esdras guiar o segundo grupo para Jerusalém (Ed.7).

a) Mardoqueu. Era um homem de fé, temente a Deus e estava entre os cativos judeus que serviam aos interesses do rei em Susã. Era um homem que não recuava em seus propósitos, mesmo que isso lhe custasse a vida (Et.4:1,2).

A Bíblia relata-nos que Mardoqueu era da tribo de Benjamim, descendente de um certo Quis, que havia sido levado cativo para a Babilônia no tempo de Nabucodonosor, na primeira leva de judeus (Et.2:5;2Cr.36:9,10), o que demonstra que Mardoqueu era de uma linhagem de judeus que, desde cedo, serviram ao governo, primeiramente babilônico, depois, persa. Ele era primo de Ester, tendo-se tornado seu pai de criação, visto que ela ficara órfã (Et.2:6).

Mardoqueu era um exemplo de autêntica humildade, confiança e obediência a Deus. A despeito de ter sido promovido e exaltado pelo próprio rei, nenhum direito reivindicou; sequer exigira as glórias que lhe eram devidas, mas retornou ao trabalho cotidiano (Et.6:11,12), deixando tudo nas mãos do Senhor. Mais tarde, esse extraordinário homem foi honrado e reconhecido como protetor do povo judeu (Et.10).

Mardoqueu instituiu a festa judaica do Purim. Ele teve uma longa carreira de serviços prestados ao rei e em favor dos judeus. Ele foi o segundo no reino da Pérsia, depois de Assuero – “Porque o judeu Mardoqueu foi o segundo depois do rei Assuero, e grande para com os judeus, e agradável para com a multidão de seus irmãos, procurando o bem do seu povo e trabalhando pela prosperidade de toda a sua nação” (Et.10:3). Na vida de Mardoqueu, Deus combinou caráter e circunstâncias para realizar grandes coisas.

b) Ester. Esta virtuosa mulher, surge no texto sagrado como uma menina judia órfã, sem pai nem mãe, que precisou ser acolhida por seu primo Mardoqueu. Embora seja apresentada como “Hadassa” em Et.2:7, é a única vez em que ela é assim denominada, sendo, então, dali por diante chamada de “Ester”, nome também hebraico, que significa “estrela” e que dá a entender que a pessoa que tem tal nome é uma “pessoa cativante, charmosa e sensual”. O texto sagrado não diz o motivo destes dois nomes, mas entendem os estudiosos da Bíblia que o nome de Ester deve ter sido dado a Hadassa pelos funcionários do rei quando a levaram para a casa do rei da Pérsia. Por ser moça bela de parecer e formosa à vista, foi-lhe dado o nome de “Ester”, que é, certamente, a versão hebraica do nome persa que se lhe deu e cujo significado era “estrela”.

Ester viveu no reinado da Pérsia, o reino dominante do Oriente Médio após a queda da Babilônia em 539 a. C.. Os parentes de Ester deveriam estar entre os exilados que preferiram não voltar para Jerusalém, embora Ciro, o rei da Pérsia, tenha expedido um decreto permitindo que eles voltassem. Os exilados judeus desfrutavam de uma grande liberdade na Pérsia, e muitos permaneceram porque haviam se estabelecido ali ou temiam a perigosa jornada de volta à sua terra natal.     

A beleza e o caráter de Ester conquistaram o coração de Assuero(ou Xerxes), e assim o rei fez de Ester sua rainha. No trono, a agora rainha Ester não alterou a sua conduta e postura. Diz-nos a Bíblia que, mesmo após sua coroação, Ester continuou a obedecer ao seu pai de criação, Mardoqueu, não declarando a sua nacionalidade nem a sua parentela (Et.2:20). “O sucesso não subiu à cabeça”, como diz o conhecido dito popular. Ester manteve a sua humildade, não se ensoberbeceu, apesar da vitória alcançada.

Muitos, em nossos dias, não têm esta postura. O presente século é habitado por pessoas orgulhosas (2Tm.3:4), pessoas que, assim que atingem uma posição vantajosa na sociedade, no seu local de trabalho e, até mesmo, na igreja local, esquecem-se de que são pó (Sl.103:14), de que são como a flor da erva (1Pd.1:24), que é menos do que nada (Is.41:24), passando a agir com arrogância, como verdadeiros “donos do mundo”, humilhando o próximo, prejudicando a todos quantos estão à sua volta. O resultado destes que se exaltam é o pior possível: serão abatidos repentinamente, por uma direta ação divina, pois a Palavra de Deus é bem clara: “A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra”(Pv.29:23). Quem não tem humildade, é visitado pelo próprio Deus. Quem o diz é o Senhor, em Seu diálogo com Jó: “Olha para todo soberbo, e humilha-o, e atropela os ímpios no seu lugar” (Jó 40:12).

2. A busca de uma jovem para o lugar de Vasti (Ester 2:1-11). Depois de algum tempo, o rei pareceu ter se arrependido do que fizera com Vasti. A frase “lembrou-se de Vasti” (Et.2:1) pode significar que o rei começou a sentir saudades da sua rainha e do que ela havia feito por ele. Mas, também se lembrou que em sua raiva a havia expulsado da sua presença com um decreto que não poderia ser anulado. Então, seus conselheiros propuseram trazer ao palácio moças virgens de boa aparência e formosura para que ele escolhesse uma como rainha em lugar de Vasti. Conforme as jovens eram trazidas a Susã, juntou-se a elas Ester, uma virgem que morava em Susã. Após a morte dos seus pais, foi adotada pelo primo Mordecai (ou Mardoqueu), benjamita, cujo ancestral, Quis, fora levado cativo para a Babilônia juntamente com Jeconias, rei de Judá (2Rs.24:14-16).

As jovens ficaram aos cuidados de um eunuco por nome Hegai, que era guarda das mulheres. Hegai, encarregado do harém, demonstrou predileção por Ester e se apressou em providenciar unguentos e os devidos alimentos para ela, além de jovens escolhidas para acompanhá-la. Também as levou para morar nos melhores aposentos da casa das mulheres. Obedecendo à ordem de Mordoqueu, Ester não revelou sua etnia. Embora ele não pudesse contatá-la diretamente, encontrou formas de receber noticias dela todos os dias.

Ester não estava somente participando de um concurso. O Senhor estava direcionando seus passos, ali no palácio, para algo grande. Ela fazia parte do desígnio de Deus para ajudar o seu povo.

3. Ester é escolhida para o lugar de Vasti (Ester 2:12-18). O curso preparatório para apresentar as jovens à câmara do rei teve a duração de doze meses. As moças passaram por um programa intensivo de embelezamento, incluindo perfumes, especiarias e cosméticos. Chegada a vez de cada jovem comparecer diante do rei, tinha a permissão para escolher qualquer coisa que desejasse em termos de roupas e joias, a fim de se apresentar da forma mais bela possível. Então, a moça passava uma noite com o rei e nunca mais poderia voltar, salvo se o agradasse e fosse requisitado pelo nome.

Ester, porém, em vez de pedir enfeites seguiu o conselho de Hegai (provavelmente sugerindo que ela confiasse em sua beleza natural). Em todo caso, o rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres e a escolheu como rainha. Mais tarde, ofereceu um grande banquete em homenagem a ela.

Mesmo em terra estranha, criada pelo seu primo e estando no palácio à espera da escolha do rei, Ester não se portou como as outras moças que estavam ali. Ester foi diferente! E foi nessa diferença que Deus trabalhou. A Bíblia diz que ela achava graça ante todos os que a viam, e até o rei amou-a mais do que todas as outras e a fez rainha em lugar de Vasti.

Para o cristão, a vida representa um treinamento para, quando chegar o momento, reinar com Cristo. Em breve, o Espírito Santo apresentará a Igreja ao seu Rei Eterno, sem mácula, ruga ou coisa semelhante (Ef.5:27).

III. A CRISE CHEGA PARA O POVO DE DEUS

1. A trama de Hamã. Após o repouso proveniente da coroação de Ester, o adversário do povo de Deus já arquitetava uma forma de destruir Israel e, com isso, impedir que a humanidade pudesse ser salva, pois, se Israel fosse destruído, não poderia nascer o Salvador, pois a salvação viria dos judeus (Gn.12:3; João 4:22; Gl.3:16).

Assuero decidiu exaltar Hamã, elevando-o a segunda pessoa mais influente do reino (Et.3:1). Hamã era ganancioso, ardiloso, traiçoeiro; um mau exemplo para a própria família (Et.5.11-14). Ele era um descendente de Agague, rei dos amalequitas, tradicional povo inimigo do povo judeu (1Sm.15:8,9). Hamã, apesar de toda a sua exaltação por parte do rei Assuero, que o tornou a maior autoridade da Pérsia depois do rei, não estava contente, pois não admitia que Mardoqueu não se inclinasse nem se prostrasse diante dele, como havia sido ordenado por Assuero (Et.3:2-4).

Hamã, escravo que era da soberba, pecado terrível e que se constitui numa das três características que existem no mundo (1João 2:16), ao saber da recusa de Mardoqueu em venerá-lo ou adorá-lo, logo se tornou um instrumento de Satanás. Decidiu que não só mataria Mardoqueu, mas eliminaria todo o seu povo(Et.3:5,6), pois sabia que Mardoqueu era judeu e que, ao não se prostrar diante dele, nada mais fazia que cumprir a lei de Moisés.

Hamã persuadiu Assuero a fazer um decreto, ordenando a morte dos judeus. O rei aderiu ao plano de Hamã. Então foi feito um decreto para que todos os judeus fossem mortos e seus despojos saqueados (Et.3:13-15). A crise havia chegado para os judeus, trazendo tristeza e lamento. Mardoqueu vestiu-se de saco e foi para a porta do palácio de Assuero (Et.4:1-6).

Quando o coração humano não tem Cristo é um solo fértil para o surgimento, abrigo e crescimento do ódio. O cristão deve estar atento aos primeiros sinais dessa praga que mina as forças espirituais (Ef.4:26).

2. Ester toma conhecimento da trama contra seu povo (Et.4:1-16). Hamã, diante do seu prestígio, logo conseguiu do rei Assuero a ordem para a destruição completa do povo judeu (Et.3:7-15). Ao saber da notícia, Mardoqueu rasgou os seus vestidos e se vestiu de saco, claro sinal de humilhação e clamou com grande e amargo clamor pelo meio da cidade (Et.4:1). Mardoqueu informou a Ester acerca do decreto de morte do povo judeu (Et.4:7,8).

“Mardoqueu lhe fez saber tudo quanto lhe tinha sucedido, como também a oferta da prata que Hamã dissera que daria para os tesouros do rei pelos judeus, para os lançar a perder. Também lhe deu a cópia da lei escrita que se publicara em Susã para os destruir, para a mostrar a Ester, e lha fazer saber, e para lhe ordenar que fosse ter com o rei, e lhe pedisse, e suplicasse na sua presença pelo seu povo”.

Ester pediu a Mardoqueu que reunisse todos os judeus a fim de jejuar por ela. Os judeus atenderam ao pedido de Ester e puseram-se a jejuar e a se humilhar (Et.4:3).

3. A estratégia sábia de Ester (Et.5:1-8).  Embora fosse a rainha, Ester não podia entrar à presença do rei sem ser convidada. Ela arriscou a própria vida entrando à presença do rei sem ser chamada. Não havia sequer a garantia de que o rei a receberia. Mas, com cautela e coragem, Ester decidiu arriscar sua vida, abordando o rei a favor de seu povo. Ela elaborou seus planos cuidadosamente. Pediu aos judeus que jejuassem e orassem com ela antes de entrar à presença do rei. Então, no dia escolhido, Ester foi à presença de Assuero. Ao vê-la, o monarca apontou seu cetro e Ester tocou-o na ponta. O rei, deslumbrado pela beleza da rainha, perguntou-lhe: "Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição? Até a metade do reino se te dará" (Et.5:3).

Porém, em vez de expressar seu pedido de forma direta, Ester convidou o rei e Hamã para um banquete. Assuero era suficientemente sagaz para perceber que a rainha tinha algo em mente; no entanto, ela transmitiu a importância da questão, insistindo em um segundo banquete. Neste ínterim, Deus estava trabalhando “nos bastidores”. O Senhor fez com que o rei lesse os registros históricos do reino à noite, e descobrisse que Mardoqueu certa vez salvou a sua vida. Assuero não perdeu tempo para honrar Mardoqueu por tal ato (ver Et.6:1-13). Hamã não somente foi impedido de matar Mardoqueu, como também teve de sofrer a humilhação de vê-lo ser honrado publicamente.

Durante o segundo banquete, Ester revelou ao rei a conspiração de Hamã contra os judeus; Ester informou ao rei que havia um plano para matá-la, bem como ao povo judeu e este plano havia sido tramado por Hamã. Isso enfureceu o rei. Ester desmascarou Hamã diante de Assuero. Após algumas horas, Hamã morreu na forca que havia construído para Mardoqueu, e seu plano de exterminar os judeus fora frustrado. Em contraste com Ester, que arriscou tudo por Deus e venceu, Hamã arriscou tudo para alcançar seu propósito maligno e perdeu.

Deus ouviu a oração do seu povo e a coragem e determinação de uma mulher, que não viu limites para que o seu povo fosse salvo do intento maligno de Hamã. Isso é o que se chama de altruísmo, isto é, a atitude de atendimento ao outro, um dos aspectos do amor divino, como vemos em 1Coríntios 13:5; é um amor “que não busca os seus interesses”. E assim Deus impediu que o plano de Hamã fosse concretizado – agiu na hora certa.

Nossa primeira reação ao tomar conhecimento da história de Hamã é pensar que ele teve o que merecia. Mas a Bíblia nos leva a questões mais profundas. Quanto de Hamã há em mim? Será que quero controlar as pessoas? Sinto-me ameaçado quando as pessoas não gostam de mim tanto quanto penso que deveriam? Tenho sede de vingança quando meu orgulho é ferido? Confessemos estas atitudes a Deus e peçamos que ele as substitua por uma atitude de perdão. O autêntico cristianismo está baseado no amor (João 13:34,35). Qualquer atitude que fira este princípio deve ser rejeitada (1João 4:8).

CONCLUSÃO

Negar-se a si mesmo e viver em função do outro é o primeiro requisito para servirmos a Cristo (Mc.8:34; Lc.9:23). Ester dá-nos um exemplo: alcançou uma posição inimaginável não só na sociedade da sua época, mas diante de Deus, única e exclusivamente porque não viveu em função de si própria, mas em função dos outros. O amor divino é demonstrado em nós na medida em que não buscamos apenas os nossos interesses (1Co.13:5).

Ester correu risco de ela mesma vir a perder a sua vida, buscando guardá-la, mas, a tempo, seguiu o sábio conselho de Mardoqueu e, ao pôr a sua vida em risco por amor ao seu povo, ao povo de Deus, alcançou não só a sua sobrevivência, mas de todo o povo. Assim devemos também proceder: buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça, pois tudo o mais nos será acrescentado (Mt.6:33).

“Porque o judeu Mardoqueu foi o segundo depois do rei Assuero, e grande para com os judeus, e agradável para com a multidão de seus irmãos, procurando o bem do seu povo e trabalhando pela prosperidade de toda a sua nação”. (Et.10:3).

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (AntigoTestamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 68. CPAD.

Pr. Elienai Cabral. O Deus da Provisão, Esperança e sabedoria divina para a Igreja em meio ás crises. CPAD.

Dr. Caramuru Afonso Francisco. Ester, uma rainha altruísta. PortalEBD_2007.

C. F. Demaray. Ester - Comentário Bíblico Beacon.