domingo, 12 de abril de 2020

Aula 03 – ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO - Subsídio


2º Trimestre/2020
Texto Base: Efésios 1:4-12
“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade, e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef.1:4,5).
Efésios 1:
4.como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade,
5.e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,
6.para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado.
7.Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça,
8.que Ele tornou abundante para conosco em toda a sabedoria e prudência,
9.descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo,
10.de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;
11.nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade,
12.com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que primeiro esperamos em Cristo.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da Eleição e Predestinação, temas sobremodo importantes no estudo da soteriologia (doutrina da salvação da humanidade por Jesus Cristo). A doutrina da Eleição em Cristo é sobremaneira importante e esclarecedora do quanto Deus na Sua preciosa graça nos amou de maneira infinda, ainda nos refolhos da eternidade, dando a nós a gloriosa oportunidade de sermos partícipes do seu povo amado. O Deus Pai, em Seu Filho Jesus Cristo, por meio de sua presciência, nos elegeu para a salvação e nos predestinou “para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef.1:5), e nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef.1:3).

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES – ELEIÇÃO: CONCEITO

Antes de explorarmos os tópicos propostos da Lição, vamos, inicialmente, procurar entender o que é eleição. Primeiramente, diríamos que eleição é um processo de escolha que envolve duas partes e um objetivo; uma das partes é aquela que faz a escolha, ou que escolhe; a outra parte é a escolhida. O objetivo da eleição será a função, ou o papel que o eleito deverá cumprir.
Para entendermos melhor esse processo, vamos tomar um exemplo material: a eleição para prefeito de uma cidade.

1. O poder para eleger

Todos poderão querer ser prefeito, mas ser prefeito não depende só da vontade de cada um; a vontade maior, ou a vontade primeira, é a de quem tem o poder para escolher, no caso, o eleitor.
-No Plano Espiritual, Deus é quem escolhe; é Ele quem elege, ou escolhe, conforme o Senhor Jesus afirmou aos seus discípulos: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós e vos nomeei...” (João 15:16).
-No processo de Salvação também a escolha é de Deus: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef.1:4).

2. O eleito, ou escolhido, precisa tomar posse do cargo

Voltando ao nosso exemplo - a eleição do prefeito -, ele foi eleito pelo povo, porém, apurada a votação, embora tenha sido eleito, ele não se torna prefeito, não entra no exercício do poder, automaticamente, é preciso tomar posse do cargo. A posse do cargo é uma decisão exclusiva de quem foi eleito, compete a ele tomar posse, ou não; porém, enquanto não tomar posse não entra no exercício de seus direitos.
Nem todos os eleitos tomam posse do cargo para o qual foram eleitos. Na história de nossa República temos dois exemplos: Primeiro - Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 – 1919); foi eleito pela segunda vez, em 1º de março de 1918; acometido pela gripe espanhola, não pode tomar posse no dia 15 de novembro de 1918; faleceu meses depois, em janeiro de 1919. Segundo - Tancredo Neves; ele foi eleito Presidente da República, mas nunca foi presidente, pois faleceu antes de tomar posse, em 21 de abril de 1985.
No Plano Espiritual, e bíblico, acontece o mesmo com as pessoas: foram eleitos por Deus (Deus elegeu todos os seres humanos para a salvação – 1Tm.2:4-6), porém, muitos morreram sem tomar posse da Salvação.

3. Somente a autoridade constituída pode dar a posse do eleito, e somente no lugar determinado

Não é o eleitor, ou o que escolheu, que dá posse ao eleito. De acordo com a lei existe um lugar e uma autoridade constituída que tem o poder de conferir a posse ao eleito: é o juiz eleitoral; é este que tem a competência para conferir o Diploma que vai garantir a posse e o exercício do poder do cargo.
Assim, quer por ignorância, quer por desobediência voluntária, tomar posse num outro lugar de sua preferência pessoal e perante uma outra autoridade qualquer, embora tenha sido eleito, escolhido, sua posse não terá valor legal; seu Diploma é falso; seus atos administrativos serão nulos. Ele responderá, perante a lei, pelos seus erros. Para tomar posse é preciso entrar pela porta certa.
No Plano espiritual e bíblico, o Eleito precisa tomar posse no lugar certo e perante a Autoridade legalmente constituída.
-O Lugar certo: o Calvário. Deus, na Sua soberania, amor e graça, elegeu todos os seres humanos, sem distinção, para a salvação - “que quer que todos os homens se salvem...” (1Tm.2:4 c/c João 3:16) -, porém, Ele pré-estabeleceu um único lugar onde a pessoa poderia tomar posse de sua Salvação: o Calvário.
-A Autoridade certa: Jesus Cristo; este é o único que tem a competência para conferir ao homem o Diploma de posse da sua Salvação (Atos 4:12).
A posse do eleito não é automática e nem obrigatória, ela exige o exercício e a manifestação da vontade, indo ao lugar determinado, comparecendo perante a autoridade competente. No Plano salvífico, em respeito ao livre arbítrio, Deus deixou ao ser humano, ao eleito, a decisão de ir, ou não, ao Calvário, e ali, aos pés da cruz, receber de Jesus, e este crucificado, o competente Diploma que lhe garantirá a posse de sua Salvação – “quem crer será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc.16:16).
É certo que muita gente, por ignorância, ou mesmo desobediência, está procurando tomar posse em lugares errados e recebendo diplomas falsos de quem não foi credenciado por Deus. Jesus é o único que pode conferir o Diploma verdadeiro. Foi o que disse o apóstolo Pedro: “E em nenhum outro há Salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12).

4. O eleito recebe o Penhor ou garantia para o exercício do Cargo

Quando o eleito comparece ao lugar determinado e perante a autoridade competente, esta autoridade lhe entrega seu Diploma de posse. Este Diploma é a garantia, ou penhor, de que pode exercer o cargo para qual foi escolhido.
No Plano Espiritual também há um Penhor, ou garantia: o Espírito Santo. O apóstolo Paulo é quem diz: “...e, tendo também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, para a redenção da promessa de Deus, para louvor da sua glória” (Ef.1:14).

5. O objetivo da eleição: o exercício do cargo

No plano político o homem precisa saber para que foi eleito. Assim, não exercendo com dignidade e eficiência o seu cargo, estará traindo a confiança de quem o elegeu.
No Plano Espiritual, ou bíblico, a Palavra de Deus diz: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef.1:4). Ao que parece, está bem claro o objetivo de nossa Eleição e qual é o desejo daquele que nos elegeu.
Sabemos que quando um eleito se corrompe, quando desvia de suas funções, pode ser punido e até perder o cargo. Assim acontece, também, no Plano Espiritual. Exorta o apóstolo Paulo: “Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus” (1Co.6:9,10).
Tendo sido explicado o que é eleição, trataremos a seguir dos tópicos propostos para esta Aula.

I. ELEITOS PARA UMA VIDA SANTA E IRREPREENSÍVEL

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade” (Ef.1:4).

1. A Eleição divina

Antes que houvesse o mundo, nos refolhos da eternidade, Deus nos elegeu em Cristo (Ef.1:4) -“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo...” (Ef.1:4). Portanto, Deus planejou a nossa salvação antes de lançar os fundamentos da terra; antes que houvesse céus e Terra, Deus já havia decidido nos eleger em Cristo para a salvação (2Tm.1:9) – “...antes dos tempos eternos” (2Tm.1:9); ”...desde o princípio...” (2Ts.2:13).
- “Nos elegeu”(Ef.1:4). Escolher pecadores para serem salvos em Cristo Jesus, foi um ato misericordioso e soberano de Deus. A inciativa foi toda de Deus: Ele nos tem abençoado (Ef.1:3); Ele nos elegeu (Ef.1:4); Ele nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para louvor e glória da Sua graça (Ef.1:5,6). Este era o Plano de Deus, o qual jamais foi frustrado nem anulado. Mesmo diante da nossa rebeldia e transgressão, o plano de Deus permaneceu intacto e vitorioso.
Nenhum problema neste mundo ou no mundo por vir pode cancelar essa eleição divina. Paulo pergunta: "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós" (Rm.8:33,34). O apóstolo ainda diz: "Aquele que começou a boa obra em vós irá aperfeiçoá-la até o dia de Cristo Jesus" (Fp.1:6).
Nossa vida está segura nas mãos de Jesus, e das suas mãos ninguém pode nos tirar. Ele mesmo diz: “e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos” (João 10:28).

2. As condições da eleição

A Eleição é um ato soberano Deus. Pela Sua graça e misericórdia, Ele escolheu todas as pessoas para a salvação. Aquele que tem o poder da eleição, manifestou a Sua vontade de salvar todos os seres humanos; é o que está escrito: “Porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1Tm.2:3,4).
Deus não faz acepção de pessoas, conforme Pedro declarou: “...Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (Atos 10:34,35). Perceba a expressão usada por Pedro: “aquele que, em qualquer nação...”.
Deus não ficou, apenas, no querer; Ele providenciou, também, os meios pelos quais todos pudessem alcançar a Salvação: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tito 2:11).
Nós poderíamos até duvidar desse desejo de Deus em salvar todos os seres humanos, se Ele tivesse preparado, de antemão, um lugar na eternidade para aqueles que não viessem a ser salvos; mas, Deus não preparou esse lugar. Na eternidade, Deus preparou para o ser humano um único lugar: o Céu; ou, na expressão usada por Jesus, a “Casa do meu Pai” – “Na casa de meu Pai há muitas moradas...vou preparar-vos lugar” (João 14:2).
O lugar que Deus preparou na eternidade, conhecido como Inferno, segundo afirmou Jesus, foi “para o diabo e seus anjos”. Portanto, não tendo sido preparado um outro lugar para o homem, é para lá que caminham os que rejeitaram e rejeitam a Salvação – “Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt.25:41).
Todos os ímpios, de todos os tempos, após o Juízo Final perante o “Grande Trono Branco”, infelizmente, serão lançados no mesmo lugar onde Satanás estará por toda eternidade – no lago de Fogo: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre...E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” (Ap.20:10,15).

3. O Agente da Eleição (Ef.1:4)

“...nos elegeu nele [Jesus Cristo]...”. Como se vê, o Agente da nossa Eleição é o nosso Senhor Jesus Cristo. Deus não nos escolheu em nós mesmos, por nossos méritos, mas em Cristo. Como bem diz o Rev. Hernandes Dias Lopes, a eleição não anula a cruz de Cristo; antes, a inclui. Não somos salvos à parte de Cristo e de seu sacrifício vicário, mas através de Sua morte substitutiva. À parte de Cristo não existe eleição para a Salvação. Portanto, a eleição é cristocêntrica. “Deus colocou a nós e a Cristo juntos na Sua mente. Resolveu tornar-nos Seus próprios filhos através da obra redentora de Cristo” (Stott).

4. O propósito da Eleição: vida santa e irrepreensível (Ef.1:4)

Deus nos elegeu em Cristo, e com o propósito de sermos santos e irrepreensíveis diante dEle. Na Nova Aliança, Deus está formando um povo universal para que seja santo (Ef.1:4) e especial (Pd.2:9,10).
-Vida santa. Nenhuma pessoa deve considerar-se eleita de Deus se não vive em santidade. “A santificação não é a causa, mas a prova da nossa eleição. A eleição é a raiz da salvação, não seu fruto; enganam-se aqueles que pensam que a doutrina da eleição promove e estimula uma vida relaxada. Somos eleitos para a santidade, e não para o pecado. Somos salvos do pecado, e não no pecado. Uma pessoa que se diz segura de sua salvação e não vive em santidade está provando que não é eleita. Aqueles que não são santos não podem ter comunhão com Deus nem jamais verão a Deus. No Céu, só entrarão os santos. Uma pessoa que não ama a santidade não suportará o Céu”, afirma o Rev. Hernandes Dias.
-Vida irrepreensível. Além da santidade, Deus nos elegeu para sermos “irrepreensíveis”. No Antigo Testamento, a palavra “irrepressível” é aplicada para um sacrifício imaculado; ela quer dizer “sem qualquer espécie de mancha”; era uma palavra usada para um animal apto para o sacrifício. O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando William Barclay, afirma que a palavra “irrepressível” (gr. amomos) concebe toda a vida e todo o homem como uma oferenda a Deus. Cada parte da nossa vida, nosso trabalho, nosso lazer, nossa vida familiar, nossas relações pessoais, deve fazer parte da nossa oferenda a Deus. Esta é a nova vida dos eleitos.
Portanto, a Eleição tem como alvo nos levar a uma vida limpa, pura, santa. Somos a Noiva do Cordeiro que está se adornando para Ele. Não somos escolhidos para viver na lama, mas para viver como sal e como luzeiros do mundo, e apresentar-nos a Jesus como a Noiva pura, santa e sem defeito (Ef.5:27).
“para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”.

II. PREDESTINADOS PARA FILHOS DE ADOÇÃO

“e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef.1:5).
A bênção da Eleição, da Predestinação e da Adoção, são bênçãos que nos animam, que nos motivam a louvar a Deus. Um Dia olharemos a face do Senhor, porque Ele nos elegeu para si mesmo, nos predestinou e nos adotou como filhos. A Sua divina graça e infinito amor nos proporcionou isso. Por isso, devemos tributar-lhe toda a glória por esta nossa posição em Cristo.

1. A Predestinação

e nos predestinou...para si mesmo...”.
A palavra "predestinar" significa “destinar com antecipação”, ou seja, significa determinar o futuro, e se aplica aos propósitos de Deus inclusos na Eleição da Igreja, “em Cristo”. A Predestinação abrange o que acontecerá a todos os que integram a “universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb.12:23).
Concordo com o comentarista do estudo sobre “Eleição e Predestinação” na Bíblia de Estudo Pentecostal, o qual afirma que assim como a Eleição, a Predestinação refere-se ao Corpo coletivo de Cristo (isto é, a verdadeira Igreja), e abrange indivíduos somente quando incluso neste Corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo (Ef.1:5,7,13; cf. Atos 2:38-41; 16:31). Deus predestina seus eleitos a serem: justificados (Rm.3:24; 8:30); glorificados (Rm.8:30); conformados à imagem do Filho (Rm.8:29); santos e inculpáveis (Ef.1:4); adotados como filhos (Ef.1:5); redimidos (Ef.1:7); participantes de uma herança (Ef.1:14); para louvor da Sua glória (Ef.1:12; 1Pd.2:9); participantes do Espírito Santo (Ef.1:13; Gl.3:14) e; criados em Cristo Jesus para boas obras (Ef.2:10).

2. Filhos por adoção

Deus, nos refolhos da eternidade, elegeu a Sua Igreja (Ef.1:4), e todos aqueles que fazem parte dela foram predestinados para filhos de adoção por Jesus Cristo (Ef.1:5). Aos membros de Sua Eleita (a Igreja) Deus destinou-os a serem membros de Sua própria família. A eleição da graça outorga a nós não apenas um novo nome, um novo status legal e uma nova relação familiar, mas também uma nova imagem, a imagem de Cristo (Rm.8:29). O interesse divino é que sejamos transformados em réplicas, imagens de Jesus Cristo e retratos vivos dEle.

3. Os privilégios da adoção

Ser filho de Deus é um privilégio superlativo, pois dantes éramos apenas escravos, perdidos para sempre, destituídos da glória de Deus (Rm.3:23).
O ser humano foi criado para viver como companheiro de Deus (Gn.1:26), mas por causa da Queda, ele perdeu este status; passou a ser apenas mais um item da criação; não havia nenhum benefício para o ser humano; sua situação era caótica e tenebrosa. Porém, aprouve a Deus nos adotar como Seus filhos e nos tornar partícipes da Sua glória eterna. Através do sacrifício de Cristo, Deus nos trouxe de volta à Sua família e nos tornou seus herdeiros, junto com o Senhor Jesus (Rm.8:17) – “E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo...”.
Sob a lei romana, os filhos adotados tinham os mesmos direitos e privilégios dos filhos biológicos. Mesmo que tivessem sido escravos, os filhos adotados tornavam-se herdeiros plenos em suas novas famílias. Paulo usou este termo para mostrar a força e a permanência do relacionamento dos crentes com Deus. Esta adoção ocorre através de Jesus Cristo, pois somente o Seu sacrifício em nosso favor nos permite receber o que Deus pretendia para nós. Somos filhos de Deus. Recebemos um novo nome, uma nova herança. Deus nos escolheu para vivermos como filhos amados. O próprio Espirito Santo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus (Rm.8:16).
“A todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome” (João 1:12).
Deus nos elegeu em Cristo numa eternidade passada e deu-nos a condição e filhos agora, como um bem presente, mas este bem presente, isto é, a nossa adoção de filhos, implica também responsabilidade, pois o Pai celestial não mima seus filhos. Pelo contrário, Ele “nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade” (Hb.12:10).
Veja que as duas afirmações de Paulo são paralelas - em Efésios 1:4: “nos elegeu nele [...] para que fôssemos santos”; em Efésios 1:5: “ele nos predestinou [...] para filhos de adoção”. Como afirma John Stott, é inconcebível que desfrutemos de um relacionamento com Deus, como filhos, sem aceitarmos a obrigação de imitar o Pai e cultivar a semelhança entre os membros da família. Assim, a adoção como filhos e filhas de Deus traz tanto uma vantagem como uma “desvantagem”, um imenso ganho e uma perda necessária. Ganhamos acesso a Ele, como Pai, mediante a redenção, ou o perdão, mas perdemos o direito de falhar, começando imediatamente pela obra de santificação do Espirito Santo, até que finalmente nos tornemos perfeitos no Céu.
O que parece unir o privilégio e a responsabilidade que nossa adoção implica é a expressão “em sua presença”(Ef.1:4) ou “diante dele”. Pois viver na presença consciente do Pai celestial é tanto um privilégio imensurável quanto um desafio constante de agradar a Ele.
Logo, a verdade da eleição e predestinação divina deve nos levar à justiça, não ao pecado; e a uma sincera gratidão em espírito de adoração, não ao orgulho. Em consequência, devemos ser santos e irrepreensíveis pera Ele (Ef.1:4), e viver “para louvor e glória da Sua graça” (Ef.1:6).

III. A SUBLIMIDADE DO PROPÓSITO DIVINO NA PREDESTINAÇÃO

A Predestinação é um ato resoluto da graça e do amor de Deus; diz respeito apenas à salvação do ser humano, condicionada à fé em Cristo Jesus; jamais à condenação eterna.

1. Predestinação e Salvação

Uma coisa devemos atentar: a Eleição precede a Predestinação. Diz o texto sagrado: “como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo [...] e nos predestinou...para si mesmo ... (Ef.1:4,5). Aqui, mostra que a eleição precede a predestinação; isto é, a Eleição é anterior à Predestinação. Deus Pai nos elegeu em Cristo para que depois fôssemos predestinados.
Quando aceitamos Cristo como Salvador, participamos de um plano que foi elaborado antes da fundação do mundo. Em Cristo, estamos predestinados ao Céu; ou seja, se estivermos em Cristo, iremos para o Céu.
Há uma ilustração na Bíblia de Estudo Pentecostal sobre a Eleição e a Predestinação, que é bastante pedagógica e que nos faz entender, simultaneamente, estes dois elementos:
“Podemos comparar a Igreja eleita a um grande navio viajando para o Céu. Cristo é o Capitão e Piloto desse Navio. Todos os que desejam estar nesse Navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem no Navio, acompanhando seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém abandone esse Navio e ao seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. E todos os que estão dentro desse Navio estão predestinados a serem salvos. Deus convida a todos a entrar a bordo do Navio eleito mediante Jesus Cristo. Quem aceitar o convite e entrar será salvo, quem rejeitar será condenado – ‘Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado’ (Mc.16:16)”.
Predestinação fatalista. Esta não tem apoio nas Escrituras Sagradas. O que é isto? É a doutrina que ensina que Deus já fez escolhas antecipadas de quem vai para o Céu ou de quem vai para o Inferno.
Observe que todas as vezes, no Novo Testamento, onde há a palavra predestinação, os pronomes, substantivos e verbos estão no plural. Não iremos encontrar uma passagem no singular. Vejamos alguns exemplos:
-Efésios 1:4,5: “como também nos elegeu [...] e nos predestinou [...]. Fazendo uma análise semântica deste texto, a pergunta que se faz é: para quem o apóstolo Paulo escreveu essa passagem? Para uma pessoa particular ou para a igreja? Certamente, para a igreja. Aqui, o apóstolo não está falando para Timóteo; ele não mandou uma cartinha para Tito; Ele não está dirigindo-se apenas a uma pessoa; os verbos e os pronomes estão no plural - "nos predestinou", "nos elegeu". Portanto, ele está falando para a Igreja. Em Cristo, fomos eleitos. Em Cristo, a Igreja foi eleita para salvação. Mesmo que muitos não permaneçam nela, ela vai para o Céu. A Igreja vai para o Céu e a pessoa que está na igreja irá para o Céu; porém, se essa pessoa sair da igreja, certamente, irá para o inferno.
-1Pedro 2:9,10: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que, em outro tempo, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia”.
Veja, aqui, o pronome "vós". Paulo está falando de quem? Claro que é da Igreja. Paulo não está falando de pessoas no singular, ele está falando da Igreja, que é formada por um conjunto de pessoas; e essas pessoas participam dela se quiserem. Se uma pessoa estiver na Igreja, irá para o Céu; se não estiver na Igreja, vai para o inferno. Portanto, para permanecer salvo em Cristo, a pessoa precisa estar na Igreja, é a condição “sine qua non”.
Os ímpios estão determinados ao inferno (Sl.9:17), não porque Deus queira levá-los para lá. Não. O desejo de Deus é que “todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1Tm.2:4). Os ímpios vão para o Inferno por seus próprios meios, deliberações e vontade. Quem faz a escolha de estar dentro ou fora da Igreja (a universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus”– Hb.12:23) é a própria pessoa.
-Romanos 8:29,30: “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”.
Neste texto, quem vai ser glorificado? A Igreja. Portanto, o apóstolo está falando da Igreja. O emprego está no plural.
Se Paulo fosse o grande teólogo da predestinação fatalista, conforme alguns liberais e os que são adeptos desta falaciosa corrente doutrinária, então quando Paulo fosse tratar dele mesmo, ele teria que se tratar como um já eleito e predestinado. Não é verdade?
Se Paulo fosse mesmo o grande teólogo da predestinação fatalista - de que o homem já nasceu destinado a ir para o céu ou para o inferno - então quando ele tivesse tratado de si próprio, teria falado, conjugando, que já estaria garantido a sua salvação. Certo? Veja o que ele falou de si próprio, em Filipenses 3.13,14: “irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.
Se Paulo acreditasse numa predestinação fatalista, isto é, que o Céu já estava garantido, ele deveria ter dito assim: "Irmãos, quanto a mim, já alcancei a salvação; prossigo para aquilo que já foi determinado para mim". Era assim que ele deveria ter dito! Mas, observe atentamente que não foi isto que ele disse; ele disse: “quanto a mim, não julgo que o haja alcançado”.
Portanto, não acreditamos é em uma predestinação fatalista, ou seja, que Deus já fez escolhas antecipadas de quem vai para o Céu ou de quem vai para o Inferno. Não. Acreditamos, sim, que a Igreja vai para o Céu e cremos que as pessoas que vivem no pecado vão para o Inferno. Vão por querem, porque rejeitam o único Caminho que pode levar o ser humano ao Céu: Jesus Cristo (João 14:6).
Assim como a Arca de Noé foi eleita para abrigar pessoas justas diante de Deus e livrá-las do juízo divino contra a civilização antediluviana, Deus elegeu a Sua Igreja, constituída de povos de todas as nações, gentios e judeus, salvas pelo sangue de Jesus Cristo, com o fim de abrigar todos aqueles que foram salvas em Cristo Jesus. No dilúvio, todos que adentraram a Arca de Noé estavam predestinados a serem salvas do juízo divino. Assim, também, todos os que fazem parte da Igreja de Cristo estão predestinados à salvação eterna. Porém, todos aqueles que estão fora dela e que dela saírem, escolhendo a apostasia, terão o mesmo destino dos demais ímpios (Sl.9:17).

2. Predestinação e amor

A Predestinação é um ato resoluto do amor de Deus. Ao nos predestinar para filhos de adoção por Jesus Cristo, Deus não fez isto como uma medida de emergência, depois que o pecado subjugou a criação; pelo contrário, esse era o Seu plano imutável, o “beneplácito de sua vontade” (Ef.1:5), desde o princípio. Por isso, quando alguém pergunta por que Deus continuou com a criação se sabia que seria seguida pela Queda, uma resposta que se pode oferecer provisoriamente é que Ele nos predestinou para uma honra maior do que a própria criação nos daria. Ele intentava nos adotar, nos tornar filhos e filhas em sua família. Foi um ato resoluto de amor (Ef.2:4,5).
Um filho natural pode vir quando os pais não esperam ou até mesmo quando não querem ou ainda não se sentem preparados, mas a adoção é um ato consciente, deliberado e resoluto de amor; é uma escolha voluntária.
Portanto, um filho adotado deve sua posição à graça, e não ao direito. Nós nos tornamos filhos de Deus porque Ele generosamente derramou Seu amor e Sua graça sobre nós. Pense nisso!

CONCLUSÃO

Deus, com seu amor infindo e com sua maravilhosa graça, elegeu a Sua Igreja e Predestinou para si mesmo todos aqueles que pertencem a essa Igreja. No refolho da eternidade, Deus determinou o futuro da Igreja -  a Igreja vai para o Céu. Poderia mencionar muitas passagens a respeito desse assunto, mas uma delas é 1Tessalonicenses 4:16,17. Neste texto encontramos Paulo falando sobre a vinda de Cristo e o futuro da Igreja: “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”.
Deus nos predestinou para Ele, para vivermos diante dEle, e não para vivermos longe dEle, sem intimidade com Ele, sem comunhão com Ele. Fomos eleitos para Deus, para andarmos com Ele, para nos deleitarmos nEle. Ele é a nossa fonte de prazer. Ele é o amado da nossa alma. Na presença dEle é que encontramos plenitude de alegria (Sl.16:11). Glórias, honras e louvores sejam dadas a Ele!
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A IGREJA ELEITA. Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a noiva gloriosa de Cristo.
SHEDD, Russel. Epístolas da Prisão: uma análise. São Paulo: Edições Vida Nova,
2005, p. 15.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.

sábado, 11 de abril de 2020

PÁSCOA E PANDEMIA



Por: Daniel Lima
Chocolate, coelhinho? Cantata especial nas igrejas? Almoço em família? Final de semana estendido? Estas imagens – tão comuns – representariam a Páscoa de muitos cristãos até o ano passado. Páscoa sempre foi uma celebração, um final de semana especial. Festas, refeições singulares e família reunida. É muito comum igrejas realizarem acampamentos ou retiros especiais aproveitando a data. Então, de repente, surge a pandemia...
Neste ano realmente creio que a Páscoa não será assim. Cantatas serão virtuais ou por meio das hoje famosas “lives”. Nós, os mais velhos, podemos até nos reunir com a família, mas sempre por meio da instrumentalidade de uma tela. No entanto, vejo nessa situação uma excelente oportunidade para reavaliarmos o que é a Páscoa. Certamente, muito embora algumas comemorações ajudem e outras atrapalhem, a Páscoa não se resume às festas e rituais, por mais saudáveis que alguns possam ser.
A origem da Páscoa é a libertação do povo de Israel do cativeiro no Egito (Êxodo 12). Nos versos 26 e 27 deste capítulo, lemos:
“Quando os seus filhos perguntarem: O que significa esta cerimônia? respondam-lhes: É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou sobre as casas dos israelitas no Egito e poupou nossas casas quando matou os egípcios”.
A Páscoa é a festa mais importante no calendário judaico. Faz referência à misericórdia e à fidelidade de Deus em cumprir suas promessas, e ao mesmo tempo aponta para o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O cordeiro era morto para simbolizar o fato de que um dia o justo morreria pelos injustos e o povo de Deus seria salvo; não por seu próprio mérito, mas pela graça de Deus.
Para nós, cristãos, a Páscoa é a realização de todo o plano de salvação de Deus. Estávamos todos condenados em nossos pecados e Deus mesmo providenciou o cordeiro puro e sem nenhum defeito para que, ao ser morto, pudesse pagar por nossos pecados (João 3.16-18). Sua vitória sobre a morte está no fato de que Cristo não apenas morreu, mas ressuscitou. Nós podemos reivindicar esta obra salvadora de Jesus (tanto o pagamento pelo pecado como a promessa de ressurreição) por meio da fé.
Como então encarar esta Páscoa sem as festas e aparatos com que estamos acostumados? Parece-me que o princípio maior que deveria nortear nossa celebração da Páscoa é que só houve salvação porque antes houve escravidão. Páscoa é alegria pela ressurreição, mas, para chegar ali, Cristo passou pela morte. E nós somos chamados para imitar sua vida. Aliás, essa é a própria definição de discipulado. Em Mateus 16.24-25 Jesus disse:
“Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará”.
A Páscoa representa a própria essência do evangelho. A intimidade com Deus, a glória do céu, as bênçãos oferecidas estão do outro lado do negar-se a si mesmo, do tomar sua cruz e do seguir a Jesus. Páscoa deveria ser para nós, cristãos, um momento de celebração, mas apenas após contemplarmos o sofrimento de Cristo, que deveria ser o nosso sofrimento. Não celebramos o sofrimento, mas somente após reconhecermos o sofrimento podemos dar o devido valor à benção, à Páscoa.
No meio de tanta dúvida, sofrimento, incerteza, a Páscoa é uma declaração contra o status quo. O status quo, a ideologia que afirma por um lado que não há esperança, que estamos caminhando para a destruição. A estes a mensagem da Páscoa aponta para o futuro e proclama a esperança da libertação. Para você que, como eu, às vezes se encontra desorientado, abatido, não entendendo o sofrimento, surpreso com sonhos despedaçados, com relacionamentos quebrados, com expectativas frustradas, a Páscoa é um sopro de esperança. É uma ousada afirmação de que este não é o fim da história, de que haverá um dia de consolo e paz a todos que esperam no Senhor (Apocalipse 21.4).
No entanto, este mesmo status quo por vezes afirma exatamente o contrário. Em sua insensatez, se disfarça de devoto e exige de Deus promessas que ele não fez, reivindica bênção que não é sua e se revolta diante da dor e do sofrimento, como se isso fosse estranho e injusto. A estes a Páscoa traz uma mensagem de confrontação, nos lembra que somos pecadores e que nosso destino, exceto pela graça, é mesmo a morte e a destruição. Para você, cristão como eu, que às vezes se levanta e pergunta a Deus: “Por que eu? Por que aquele outro, muito menos digno (aos meus olhos) que eu, tem tanto eu tão pouco? Por que eu, que te servi tão fielmente, sofro tanto?”. Para estes momentos, a mensagem da Páscoa é um sombrio alerta sobre o preço do pecado. Para chegar no domingo da ressurreição, Jesus passou pela sexta-feira da paixão. Refletir esta jornada de Jesus, que somos chamados a imitar, pode ser constrangedor, mas nos liberta de nossa justiça própria.
Minha oração por você e por mim (com certeza por mim) é que esta Páscoa despida de seus artefatos nos leve a uma postura de quebrantamento e gratidão por tão grande salvação! (Hebreus 2.3).
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Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, uma neta e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.


domingo, 5 de abril de 2020

Aula 02 – A SUBLIMIDADE DAS BÊNÇÃOS ESPIRITUAIS EM CRISTO


2º Trimestre/2020
Texto Base: Efésios 1:3,4,9-14
12/04/2020
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef.1:3).
Efésios 1:
3.Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo,
4.como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade,
9.descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo,
10.de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;
11.nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade,
12.com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que primeiro esperamos em Cristo;
13.em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa;
14.o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória.

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo do trimestre sobre “a Igreja Eleita”, trataremos nesta Aula a respeito da “Sublimidade das Bênçãos Espirituais em Cristo”. Em Sua soberania e vontade, nos refolhos da eternidade, Deus planejou eleger um povo e adorná-lo com ricas bênçãos, bênçãos essas de durabilidades eternas (Ef.1:3) - “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”. Todas essas riquezas vêm pela graça de Deus e são para a glória de Deus. A maior de todas as bênçãos é a plenitude da nossa redenção, que se dará na glorificação, que se concretizará quando Cristo voltar para levar a Sua Igreja à pátria celestial (João 14:3). Qual a garantia disso? O próprio Espírito Santo é o penhor ou garantia da toda a nossa herança (Ef.1:13,14). Como Selo Ele nos mantém unidos a Cristo para o Dia da nossa premiação no Tribunal de Cristo; como Penhor Ele garante que a nossa herança plena será preservada.
Portanto, as bênçãos do crente estão nas regiões celestiais, literalmente “nos céus”. Em vez de serem bênçãos materiais terrenas, são bênçãos espirituais nas regiões celestiais. E para o crente receber essas bênçãos é preciso estar unido a Cristo pela fé. A partir do momento em que o homem está em Cristo, ele se torna possuidor de todas elas. Estar em Cristo é participar de tudo o que Cristo fez, de tudo o que Ele é.

I. A NOVA POSIÇÃO EM CRISTO

Neste primeiro tópico trataremos de nossa posição em Cristo Jesus, que desfrutamos diante de Deus. Antes, perdidos; agora, salvos pela morte vicária de Jesus Cristo. Antes, destituídos da glória de Deus; agora, reconciliados com Deus. Antes, sem nenhum benefício espiritual; agora, cheios de bênçãos espirituais em Cristo nos lugares celestiais. Antes, escravos no pecado; agora, libertos do poder do pecado e selados pelo Espírito Santo.

1. A Doxologia

Após a sua saudação cristã – “graça e paz”, tratada na Aula anterior -, à Igreja de Cristo em Éfeso, Paulo apresenta uma lista de “todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”. Antes, porém, ele expõe uma bela doxologia de exaltação a Deus Pai, demonstrando que a vida cristã só tem sentido se tivermos sempre uma atitude de reconhecimento e ação de graça ao Doador de todas as bênçãos.
Paulo começa com a frase: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef.1:3). Aqui, Paulo volta sua atenção para Deus, e não propriamente para a Igreja, uma vez que tudo é dEle, tudo vem por meio dEle e tudo é para Ele (Rm.11:36). Todos nós devemos ser cônscios de que tudo que temos é para louvor e glória do glorioso nome do Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
O que Deus tem feito para que O louvemos de coração? A essa pergunta se responde da seguinte forma: “Ele nos tem abençoado com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo”. Todos os crentes são benditos quando recebem as bênçãos dos céus; Deus é bendito quando é louvado por tudo o que gratuitamente confere aos seus santos, não somente a estes, mas a todos os indivíduos abençoados por Deus através de Sua graça comum.
Só o Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, portanto, é digno de ser bendito, porque somente Ele é o perfeito doador de bênçãos, que nos dá “para louvor de sua glória” (Ef.1:6). Por três vezes, no primeiro capítulo de Efésios, Paulo enfatiza que a finalidade de todas as coisas realizadas por Deus para nós é o “louvor da sua glória” (Ef.1:6,12,14), é como se fosse o refrão desta doxologia. A finalidade de tudo o que Deus fez, está fazendo e fará é o louvor de Sua glória.

2. As bênçãos espirituais

O apóstolo Paulo, a despeito de sua fatídica e dolorosa situação como prisioneiro em Roma, e longe de colocá-la sob holofotes, ele eleva seus pensamentos às alturas excelsas e apresenta à igreja de Éfeso as gloriosas bênçãos espirituais que temos nas regiões celestes (Ef.1:3-14).
Percebe-se que as suas palavras, nos textos de Efésios 1:3-14, fluem de sua boca numa sequência como se fosse uma torrente contínua; ele não faz pausa para tomar fôlego, nem pontua as frases com pontos finais. Paulo não olha para as circunstâncias adversas, e sim para as bênçãos que Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo tem preparado para todos nós em Cristo Jesus nas regiões celestiais.
Três verdades devemos levar em consideração:
a) A fonte das bênçãos. Deus, o Pai, é a fonte de nossas bênçãos; é Ele quem nos enche de todas as bênçãos em Jesus Cristo. Ele é o dono do Universo, e nós somos seus filhos e herdeiros – “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef.1:3).
b) A natureza das bênçãos. Paulo enfatiza que as bênçãos que Deus nos dá em Cristo são espirituais. Provavelmente, a intenção de Paulo é contrastar com as bênçãos do povo de Deus do Antigo Testamento, bênçãos essas prometidas por Deus, em grande parte, materiais (cf. Dt.28:1-13).
É verdade que Jesus prometeu aos seus seguidores algumas bênçãos materiais, pois os proibiu de ficar ansiosos quanto a comida, bebida e roupas, e assegurou-lhes que o Pai celestial supriria suas necessidades se eles colocassem os interesses do reino de Deus e da sua justiça em primeiro lugar; mas, na Nova Aliança, as bênçãos prometidas ao povo de Deus, são eminentemente espirituais. Estas são mais importantes do que aquelas, porque não se corrompem; por isso, Jesus fez a seguinte exortação: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam” (Mt.6:19,20).
c) A esfera de fruição das bênçãos. Afirma o apóstolo: “Nas regiões celestiais em Cristo”. Esta frase só aparece em Efésios. Como compreender este ensino? Russell Shedd é de opinião que, em combinação com Ef.1:20, Paulo quer chamar nossa atenção para a realidade de que, quando estamos em Cristo, já estamos como que tirados deste mundo. O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando Curtis Vaughan, diz que a expressão "regiões celestiais" neste texto não se refere a uma localização física, mas a uma esfera de realidade espiritual à qual o crente foi elevado em Cristo, o que quer dizer se tratar não do Céu futuro, mas do céu que existe no cristão e em torno dele no presente. Os crentes, na realidade, pertencem a dois mundos (Fp.3:20): na perspectiva temporal, pertencem à terra; mas, espiritualmente, vivem em comunhão com Cristo e, por conseguinte, pertencem à esfera celestial.
As pessoas não convertidas estão interessadas primariamente nas coisas terrenas, porque esse é o lugar em que vivem; elas são filhas deste mundo (Lc.16:8). Mas, a vida do cristão está centrada no Céu (Cl.3:1); sua cidadania encontra-se no Céu (Fp.3:20); sua morada está no Céu (João 14:2,3); seu nome está escrito no Céu (Lc.10:20); seu Pai está no Céu (Mt.6:9).

3. A nova condição

“Em Cristo” (Ef.1:3). Esta é a nova condição do novo povo eleito por Deus; é a esfera em que este povo vive, e nela recebem todas as bênçãos (Ef.1:3). Está em Cristo é uma posição de intimidade com Ele, de um relacionamento íntimo com Ele; com a intimidade de uma vida transformada, de uma vida resgatada, salva; uma vida em que Cristo é realmente Senhor de nossa vida, aquele a quem já nos entregamos definitivamente de todo o coração. Aos crentes Colossenses, Paulo faz a seguinte exortação, que se aplica a todos nós:
1.Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.
2.Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra;
3.porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
4.Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em Glória” (Cl.3:1).
Portanto, a vida do crente que está em Cristo é o oposto da vida “em Adão”, escravizada pelo pecado (Rm.5:11-15), em que a natureza carnal atrai a pessoa a um materialismo mórbido e ao um orbe moralmente degradante (Gl.5:19-21).
Nas palavras de Russell P.Shedd, a expressão “em Cristo” tem a ideia de representação, uma representação total de nossa vida. Não devemos nos esquecer também de que estar “em Cristo” quer dizer estar no Espírito e ter o Espírito Santo em nós, unindo-nos a Cristo, e uns aos outros no Seu Corpo, a Igreja.
A expressão “em Cristo”, em Efésios, Paulo enfatiza não menos de seis vezes nos primeiros catorze versículos do capítulo primeiro: os crentes são fiéis em Cristo (Ef.1:1); escolhidos nele (Ef.1:4); recebem a graça nele (Ef.1:6); têm a redenção nele (Ef.1:7); são feitos herança nele (Ef.1:11); são selados nele (Ef.1:13) e assim por diante. Como bem afirma o Rev. Hernandes Dias Lopes, a vida do cristão está erguida acima das coisas passageiras; ele está no mundo, mas também está no Céu, pois não é limitado pelas coisas materiais que se esvaecem. 

II. UMA VIDA CRISTOCÊNTRICA

A vida do crente é determinada por uma relação vital e redentiva entre ele e Cristo. Todas as atitudes, ações e decisões de um crente em Cristo devem estar subordinados aos ditames de nosso Senhor. Ele é a figura central da Igreja; é o ponto focal do povo de Deus. Portanto, a mente e o coração de todos que fazem a Igreja devem estar centralizados n’Ele. Viver uma vida fora da órbita de Cristo é um grande perigo para a alma, pois poderá ser catapultada para uma escuridão sem fim na eternidade sem Deus.

1. A revelação do mistério

“descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Ef.1:9,10).
Paulo ao escrever a Epístola de Efésios chama a atenção dos crentes para um grande “mistério”, mistério esse não no sentido de algo que não tem explicação, mas a respeito de uma verdade maravilhosa não conhecida até então. Esse “ministério”, que é o tema dominante da Epístola, é a eleição da Igreja, o novo povo de Deus, constituído de judeus e gentios, que estariam lado a lado formando o Corpo de Cristo, a Igreja. Deus está formando este novo povo para que todos os seus constituintes sejam Seus santos (Ef.1:1), Seu povo santo especial (1Pd.2:9,10). Deus nos escolheu em Cristo “para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele” (Ef.1:4). A única evidência da eleição é uma vida santa.
No presente momento os eleitos estão assentados em Cristo nos lugares celestiais; no futuro, vão compartilhar da sua glória como Cabeça de todas as coisas. À Igreja de Éfeso estava sendo revelado este grande mistério, que estava no coração de Deus desde a eternidade; eles, agora, eram partícipes do Corpo de Cristo, a Igreja, o povo de Deus da Nova Aliança; agora, “todos quantos o [Jesus Cristo] receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome” (João 1:12).

2. A plenitude dos tempos

Deus fez mais do que nos escolher em Cristo em uma eternidade passada e dar-nos a condição de filhos agora, como um bem presente; Ele também nos “revelou o mistério da sua vontade” para o futuro, isto é, “o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo [...] na dispensação da plenitude dos tempos” (Ef.1:10).
Segundo John Stott, “na dispensação da plenitude dos tempos”, quando o tempo se fundir com a eternidade novamente, o plano de Deus é “fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas”. Cristo já é a Cabeça de seu Corpo, a Igreja, mas um Dia “todas as coisas” reconhecerão sua liderança. No momento ainda há discórdia no universo, mas na plenitude dos tempos, a discórdia cessará, e a unidade pela qual ansiamos existirá sob a liderança de Jesus Cristo.
O propósito de Deus é o de estabelecer uma nova ordem, uma nova criação. Nessa nova ordem, o universo de Deus, no qual o pecado introduziu a desordem e a confusão, será restaurado à sua primitiva harmonia e unidade sob a supremacia de Jesus Cristo.
A expressão em Efésios 1:10 “de tornar a congregar em Cristo”(ARC) ou “de fazer convergir”(ARA), traduzindo do original grego, literalmente significa “debaixo de uma só cabeça”. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje traduz este texto da seguinte maneira: “Esse plano é unir, no tempo certo, debaixo da autoridade de Cristo, tudo o que existe no céu e na terra”. Vendo esta perfeição do futuro, devemos ser estimulados a viver aqui como se já estivéssemos lá (Rm.13:11-14).
É bom deixar claro que Ef.1:10 não trata de salvação universal no futuro, como muitos erroneamente interpretam o texto. Muitos torcem o texto para sugerir que no fim todas as coisas e todas as pessoas serão restauradas e reconciliadas em Cristo; porém, essa falaciosa teoria é totalmente estranha ao referido texto. Aqui, Paulo fala de “domínio universal”, e não de salvação universal. Atente bem a siso!

3. Louvor da sua glória

“nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade, com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que primeiro esperamos em Cristo” (Ef.1:11,12).
A Igreja – constituída de judeus e gentios -  é a eleita de Deus em Cristo (Ef.1:4; 1Ts.1:7); e, aqui neste texto, Paulo enfatiza que o propósito dessa eleição é para louvor da Sua glória, e que todas “as bênçãos nas regiões celestiais” são destinadas a este povo. Nas palavras de John Stott, nos tornamos povo ou propriedade de Deus não por acaso nem por escolha (ou seja, por nossa escolha). Pelo contrário, foi pela própria vontade soberana e pela bondade de Deus.
Por que Deus nos fez Seu povo? “Para o louvor da sua glória” (Ef.1:12). Como explicar melhor isto? No entendimento de John Stott, a glória de Deus é a revelação dEle, e a glória de Sua graça é a revelação que Ele faz de Si mesmo como um Deus gracioso. Viver para o louvor da glória de Sua graça é adorá-lo por meio de palavras e ações, como o Deus gracioso que Ele é, e fazer com que outras pessoas o vejam e o louvem também. Essa foi a vontade de Deus para Israel nos dias do Antigo Testamento, e é também seu propósito para o povo da Nova Aliança.
Portanto, somos a herança de Deus por causa da Sua vontade (Ef.1:5,9,11) e para louvor de Sua glória (Ef.1:5,6,12,14). O alvo de Deus é que a Sua glória (revelação de Deus) venha a ser conhecida por meio do Seu povo, o povo de Deus da Nova Aliança.

III. O ESPÍRITO SANTO, PENHOR DA NOSSA HERANÇA

Em Cristo, temos uma linda herança (1Pd.1:1-4) e também somos a herança de Deus. Veja que no texto Paulo se refere a Igreja como herança e propriedade de Deus - “fomos feitos herança”(Ef.1:9). No Antigo Testamento, estas palavras eram aplicadas exclusivamente ao povo de Israel, mas agora são aplicadas ao novo povo de Deus, o povo da Nova Aliança, a Igreja eleita, cujo denominador comum é estar em Cristo.
Aqueles que são porção de Deus têm sua herança nEle. Somos valiosos nEle. Somos a herança de Deus, o Corpo de Cristo, o Seu Edifício, a Sua Noiva, a Menina dos olhos de Deus, a Delícia de Deus. Somos os santos de Deus (Ef.1:1), a herança de Deus (Ef.1:11) e a possessão de Deus (Ef.1:14).
Quando o indivíduo se converte a Cristo ele recebe o Espírito Santo e é batizado por Ele (1Co.12:13), ou seja, esse indivíduo é mergulhado na Igreja, tornando-se assim eleito e predestinado à salvação. O Espírito Santo nos dá a certeza de que Deus está ativo em nós; é o Santo Espírito da promessa (Ef.1:13), citado pelos profetas do Antigo Testamento (Ez.36:27; Jl.2:28) e prometido por Jesus a Seu povo (João 14:16,17; Lc.24:49; Atos 1:4,5; 2:33,38,39).
A seguir, veja duas imagens que o apóstolo Paulo utiliza para sublimar a significação do Espírito Santo em nossa vida.

1. O Espírito Santo é o Selo da Igreja

“...e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef.1:13).
O Espírito Santo é a marca distintiva do cristão (2Co.1:21,22; Ef.4:30). A presença dEle na Igreja é a prova de que esse povo pertence a Deus.
“Mas o que nos confirma convosco em Cristo e o que nos ungiu é Deus, o qual também nos selou...” (2Co.1:21,22).
“E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o Dia da redenção” (Ef.4:30).
Dois aspectos importantes merecem destaque:
a) O Selo com o Espírito Santo fala de propriedade. No mundo antigo, o selo representava o símbolo pessoal do proprietário. O gado, e até mesmo os escravos, eram marcados com um selo pelos seus donos, a fim de indicar a quem pertenciam. Deus pôs o Seu selo em nós porque nos comprou para sermos sua propriedade exclusiva (1Co.6:19,20; 1Pd.2:9). Deus colocou o Seu Espírito dentro do Seu povo para marcá-lo como Sua propriedade exclusiva (2Tm.2:19).
“Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” (2Tm.2:19).
b) O Selo com o Espírito Santo fala de segurança. A Bíblia tem várias ilustrações desse uso. Quando o rei Dario selou a boca da cova dos leões, Daniel não tinha condições de sair (Dn.6:17). No tempo em que Ester era rainha, o rei usou seu anel para selar suas cartas e documentos; e, uma vez feito isso, ninguém podia alterar o conteúdo (Et.8:8). Pilatos fez a mesma coisa quando ordenou que os soldados guardassem “o sepulcro como bem vos parecer”; e eles selaram a pedra do túmulo (Mt.27:65,66). Assim o crente pertence a Deus. O Espírito Santo foi-nos dado para estar para sempre conosco. Ele jamais nos deixará (João 14:16).

2. O Espírito Santo é o Penhor da nossa herança

“o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória” (Ef.1:14).
Quando estamos em Cristo, Deus não nos dá o Espírito somente como Selo; Ele é também o Penhor. Penhor é aquilo que é dado como garantia. Quando Deus nos deu o Espírito Santo, Ele estava se comprometendo a dar-nos toda a herança reservada para Seus filhos.
A Palavra grega para “penhor” é arrabõn, de origem semítica, cujo sentido original vem do meio comercial, quando uma pessoa comprovava algo e dava uma garantia em dinheiro como espécie de “entrada”, “sinal” ou “primeira prestação” (leia Gn.38:17). Portanto, a palavra penhor, garantia, representa a primeira parcela de um pagamento, a garantia de que o pagamento integral será efetuado.
Nos tempos do apóstolo Paulo os comerciantes usavam penhores com três finalidades: como pagamento adiantado, "entrada" que fechava um negócio; representava um compromisso de pagamento, e era uma amostra do que haveria de vir.
Imagine que você esteja querendo comprar um carro. O penhor seria a entrada que você paga, fechando o negócio; representaria também o compromisso de pagar o carro; e seria uma amostra do que seguiria – as parcelas restantes do dinheiro. De maneira semelhante, o Espírito Santo é o Penhor de que Deus nos comprou, a garantia. Sua presença em nós mostra o compromisso que Deus assumiu de nos redimir completamente. Talvez o melhor de tudo, a presença do Espírito Santo, vivendo em união conosco, nos dá um gosto antecipado, uma amostra de nossa herança, da nossa vida futura na presença de Deus. O Espírito Santo é o primeiro pagamento que garante aos filhos de Deus que Ele terminará sua obra em nós, levando-nos para a Sua glória (Rm.8:18-23; 1João 3:1-3).
“Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso, o mundo não nos conhece, porque não conhece a ele. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1João 3:1-3).
A palavra “penhor”, como “garantia”, também foi usada no grego para falar de “aliança de noivado, de compromisso”; é a garantia de que a promessa de fidelidade será guardada. Nossa relação com Deus é uma relação de amor. Jesus é o Noivo, e a sua Igreja é a Noiva.
É bom ressaltar o seguinte: “Uma aliança de noivado promete um casamento, mas não é parte desse casamento. A primeira prestação de uma compra de um objeto ou imóvel é mais do que uma garantia de pagamento; é, em si, a primeira parcela do preço total dessa compra. Assim é com o Espírito Santo; ao entregá-lo a nós, Deus não está apenas nos prometendo a herança final, mas, na verdade, está nos dando uma prévia dela” (John Stott).
Em resumo, podemos dizer que quando somos batizados no corpo de Cristo (1Co.12:13), o Espírito entra em nossas vidas e nos sela através da Sua presença. Ele é a garantia de Deus, dando-nos certeza de que nossa herança virá.

CONCLUSÃO

Através de Jesus Cristo, recebemos todas a bênçãos espirituais: fomos eleitos para receber a salvação, perdoados e depois adotados como seus filhos, recebemos os dons do Espirito Santo, o poder de fazer a vontade divina e a esperança da vida eterna com Cristo. Como temos um intimo relacionamento com Ele, podemos gozar agora dessas bênçãos nas “regiões celestiais”; estas “regiões celestiais” mostram que essas bênçãos são eternas e atemporais, elas vêm do Reino espiritual de Cristo. Cada bênção é concedida às pessoas que estão “em Cristo”. Tudo foi feito, é feito e será feito para “o louvor da sua glória” (Ef.1:6,12,14). Amém!
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A IGREJA ELEITA. Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a noiva gloriosa de Cristo.
SHEDD, Russel. Epístolas da Prisão: uma análise. São Paulo: Edições Vida Nova,
2005, p. 15.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.
GRAHAM, Billy. O Espírito Santo. Vida Nova, São Paulo, SP. 1983.