domingo, 15 de agosto de 2021

Aula 08 – NAAMÃ É CURADO DA LEPRA

 

3º Trimestre/2021


Texto Base: 2 Reis 5.1-10,14,25-27


 “Então, desceu e mergulhou no Jor dão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou, como a carne de um menino, e ficou purificado” (2Rs.5:14).

V.P.: “Deus não opera milagres necessariamente segundo nossas expectativas. Ele faz da forma e no momento que lhe apraz”.

2 Reis 5:

1.E Naamã, chefe do exército do rei da Síria, era um grande homem diante do seu senhor e de muito respeito; porque por ele o SENHOR dera livramento aos siros; e era este varão homem valoroso, porém leproso.

2.E saíram tropas da Síria e da terra de Israel levaram presa uma menina, que ficou ao serviço da mulher de Naamã

3.E disse esta à sua senhora: Tomara que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra.

4.Então, entrou Naamã e o notificou a seu senhor, dizendo: Assim e assim falou a menina que é da terra de Israel

5.Então, disse o rei da Siria: Vai, anda, e enviarei uma carta ao rei de Israel. E foi e tomou na sua mão dez talentos de prata, e seis mil siclos de ouro, e dez mudas de vestes.

6.E levou a carta ao rei de Israel. dizendo: Logo, em chegando a ti esta carta, saibas que eu te enviei Naamã, meu servo, para que o restaures da sua lepra.

7.E sucedeu que, lendo o rei de Israel a carta, rasgou as suas vestes e disse: Sou eu Deus, para matar e para vivificar, para que este envie a mim, para eu restaurar a um homem da sua lepra? Pelo que deveras notai, peço-vos, e vede que busca ocasião contra mim.

8.Sucedeu, porém, que, ouvindo Eliseu, homem de Deus, que o rei de Israel rasgara as suas vestes, mandou dizer ao rei: Por que rasgaste as tuas vestes? Deixa-o vir a mim, e saberá que há profeta em Israel

9.Veio, pois, Naamã com os seus cavalos e com o seu carro e parou d porta da casa de Eliseu.

10.Então, Eliseu lhe mandou um mensageiro, dizendo: Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado.

14.Então, desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou, como a carne de um menino, e ficou purificado.

25.Então, ele entrou e pôs-se diante de seu senhor. E disse-lhe Eliseu: De onde vens, Geazi? E disse: Teu servo não foi nem a uma nem a outra parte.

26.Porém ele lhe disse: Porventura, não foi contigo o meu coração, quando aquele homem voltou de sobre o seu carro, a encontrar-te? Era isso ocasião para tomares prata e para tomares vestes, e olivais, e vinhas, e ovelhas, e bois, e servos, e servas?

27.Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua semente para sempre. Então, saiu de diante dele leproso, branco como a neve.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos de Naamã e sua cura miraculosa. Ele era um ministro do alto escalão do governo da Síria, cuja capital era Damasco. A sua cura miraculosa ocorreu pela instrumentalidade de Eliseu, por meio de um método inusitado. Naamã possuía diversas qualidades -“chefe do exército do rei da síria, grande homem diante do seu rei e de muito respeito, o Senhor Deus dera livramento aos siros (foi usado por Deus), homem valoroso” (2Rs.5:1). Naamã tinha tudo, era influente e qualificado, mas havia um “porém”: era leproso (2Rs.5:1). Ser leproso significava viver à margem da sociedade, significava um futuro incerto e uma morte iminente, significava não ter nada. O que adianta ter tudo na vida e não ter nada? O que adianta conquistar o mundo inteiro e não ter esperança nenhuma, não ter uma vida normal com saúde e paz interior? O que adianta ter tudo na vida se essa pessoa caminha a passos largos para a morte iminente?

Nesta vida, a pessoa pode ser a mais importante do meio em que vive, pode ser a mais rica e influente, pode ser a mais bela, pode conquistar todos os óscares de melhor ator, pode ter conquistado o Nobel pela mais impressionante experiência científica, pode ser o mais destacado desportista, há sempre nessa pessoa um “porém”; havia um na vida de Naamã, mas Deus operou um grande milagre na vida dele, mas para o milagre acontecer havia uma condição: despir-se da soberba. Quando isto foi tirado e obedeceu à Palavra e Deus, o milagre aconteceu, não somente em seu corpo físico, também na alma! Certamente, este foi o maior milagre; pois, “que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc.8:36).

1. NAAMĀ, O CHEFE DO EXÉRCITO SÍRIO

1. Naamã, um comandante honrado

Naamã era um comandante da Síria admirado e respeitado por todos devido às suas muitas vitórias em batalhas. Esse destacado general havia conquistado tudo que desejava, porém havia perdido aquilo que mais prezava: sua saúde física. Ele era leproso e isto afetava a sua integridade, o convívio com a família amada e o deixava deprimido.

Naquela época, a lepra era o mal mais temido; não havia remédio para combater esse terrível mal. Essa doença afastava a pessoa do convívio familiar, dos amigos, da sociedade, de qualquer relacionamento pessoal. Essa doença espoliava qualquer ânimo de iniciativa de vida, despia a pessoa de qualquer esperança, só a morte era certa. A pessoa contaminada era obrigada a viver fora da cidade, e seus bens com os quais teve contato, e até mesmo a casa onde morava, deveriam ser destruídos e queimados, e quando avistasse qualquer pessoa deveria gritar: imundo, imundo! Essa era a situação de Naamã.

Não somente a lepra do corpo físico dominava Naamã, mas também a lepra do homem interior. Existia nele um terrível mal: a soberba. A Bíblia diz que a “soberba precede a ruína” (Pv.16:18). A única maneira de Naamã suplantar aquele mal era eliminar primeiramente a soberba que dominava todo o seu interior. Quando isso aconteceu, Deus operou milagrosamente em sua vida. É isso o que pode acontecer em qualquer ser humano.

2. A escrava, uma testemunha de Deus

O problema de Naamã era humanamente insolúvel, a morte se aproximava velozmente. Certamente, Naamã procurou a ajuda de seu deus sírio Baal-zebube, porém, esse falso e impotente deus não podia cuidar nem de si próprio, pois era apenas uma imaginação do ser humano. Só existia uma solução para o problema de Naamã: exercitar sua fé no Deus vivo e poderoso, no Deus de Israel, pois só Ele é o dono da vida, é o Criador da vida, é o Todo – Poderoso Senhor dos céus e da terra, só Ele é a solução para os problemas humanamente insolúveis. Mas quem iria abrir a porta da esperança para este grande general? Quem iria despertar a fé em Naamã no Deus vivo, único e verdadeiro? No Deus de Israel? A porta da esperança viria do meio mais improvável: uma escrava israelita, uma menina aparentemente sem nenhuma credibilidade.

Naamã havia conquistado tudo que desejava, porém havia perdido aquilo que mais prezava: sua saúde física; tornara-se leproso. A menina israelita, por sua vez, perdera tudo que mais amava, porém manteve saudável a sua fé. Apesar da indignação de ser raptada, de perder o contato com a sua amada família, de ser reduzida à vil escravidão, de perder a sua infância, de ter de servir a um tirano, inimigo de seu povo, e pior ainda, um leproso, apesar de tudo isso manteve firme sua confiança em Deus, mostrou-se disposta a testemunhar sua fé naquele ambiente hostil, oferecendo uma benção àquele que a ofendeu. Pregou ela: “tomara o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra” (2Rs.5:3).

A atitude e a fé dessa menina israelita nos dão a seguinte lição: nem sempre o ambiente onde vivemos, estudamos e trabalhamos vem a ser aquilo que gostaríamos, mas nunca deixará de ser um lugar de oportunidade onde nossa fé, mesmo com lágrimas, poderá ser semeada e mudanças alegres poderão ser colhidas (veja Salmo 126:6).

3. A caravana de Naamã

As boas novas de possibilidade de cura de Naamã logo se espalharam, chegando até ao trono do rei da Síria, Ben-Hadade. Aquele reino próspero e poderoso nada podia fazer em benefício de seu herói, mas o “fraco” reino de Israel, por ele saqueado, possuía homens de Deus com dons de cura. O opressor agora dependia do oprimido, o forte precisava do fraco, e dessa forma o nome de Deus seria exaltado entre as nações.

Entretanto, a burocracia distorceu a mensagem daquela menina mensageira. Ela dissera que havia um homem de Deus em Samaria, mas o comandante do exército e o rei da Síria entenderam que era o rei de Israel quem promoveria tal cura (cf. 2Reis 5:6). Em vez de verem a qualidade do “homem de Deus”, preferiram confiar em títulos e posições. Quantos não agem deste modo em nossos dias? A burocracia eclesiástica está aí distorcendo a simplicidade da mensagem do evangelho. O rei Jorão, rei de Israel, era apóstata; não possuía nenhuma autoridade espiritual e moral, apesar de estar pastor do povo de Israel.

Ben-Hadade enviou seu general favorito ao rei de Israel, com uma grande comitiva, um batalhão fortemente armado e uma considerável fortuna, a fim de encorajar a cooperação do rei Jorão: “encontrar o tal profeta milagroso”. Naamã levou à presença do rei Jorão, como retribuição à sua petição, a exorbitante quantia de 10 talentos de prata (350 kg), 6.000 siclos de ouro (68 kg) e dez vestes festivais (trajes de luxo adornados com pedras preciosas). Certamente uma parte daquele tesouro caberia ao profeta que o curasse.

A abordagem de Naamã foi direta e honesta, mas o rei de Israel interpretou mal aquele pedido, confundindo com um pretexto para provocar uma nova guerra (cf. 2Rs.5:7). Sua cegueira espiritual o impedia de enxergar a grande oportunidade que Deus havia proporcionado. Imaginem a repercussão internacional que seu reino poderia obter se o grande Naamã fosse socorrido pelo Deus de Israel? O rei Jorão sabia que Eliseu tinha esse poder, mas a idolatria que maculava sua alma o impedia de raciocinar com clareza.

II. O MERGULHO NO RIO JORDÃO

1. Eliseu não se impressionou com a pompa

Quando o rei de Israel acabou de ler a carta do rei da Síria, rasgou as suas roupas em sinal de medo e disse: “Por acaso sou Deus, com poder de tirar a vida ou dá-la, para que este envie a mim um homem para eu curá-lo de sua lepra? Como vocês podem notar e ver, ele está procurando um pretexto contra mim” (2Rs.5:7). Mas, quando Eliseu, homem de Deus, soube da reação de Jorão repreendeu a sua estupidez e sua incredulidade: “por que rasgastes as tuas vestes? Deixa-o vir a mim e saberá que há profeta em Israel” (2Rs.5:8). Eliseu se prontificou a receber Naamã. Não havia poder no palácio, pois todos ali eram idólatras; mas, havia um profeta de Deus em Israel com poder para purificar o comandante sírio e restaurá-lo.

Levaram, pois, o leproso Naamã à casa do profeta; certamente, com toda a sua pompa de autoridade. Porém, Eliseu desprezou isso, e não conversou com Naamã pessoalmente; apenas enviou um mensageiro com as instruções do que Naamã deveria fazer para ser curado de sua doença (2Rs.5:10); se ele obedecesse ao que foi prescrito, seria curado. Eliseu prescreveu que Naamã se lavasse sete vezes no rio Jordão. Eliseu mandou Naamã agir assim como uma simples demonstração de humildade e obediência. O general orgulhoso precisava entender que a cura jamais viria pela ação humana ou por meios naturais; ela viria, sim, milagrosamente, pela graça e pelo poder de Deus. Porém, era necessário se humilhar e obedecer à palavra do profeta de Deus. É claro que Naamã se recusou atender a receita de Eliseu; para ele isso era uma verdadeira humilhação (cf.2Rs.5:11,12). O orgulho e a desobediência não levam a coisa nenhuma!

2. A decepção e a cura de Naamã

Naamã esperava um modo mais solene e chamativo de cura; ele esperava que o profeta o recebesse com honras e que lhe tocasse com as mãos, mas a ordem foi de mergulhar sete vezes nas águas turvas do rio Jordão. A decepção de Naamã foi evidente (2Rs.5:11,12). Indignado, afirmou que as águas de sua terra nativa, Damasco, eram melhores do que as do Jordão. Percebe-se sem dificuldade que Naamã sofria de duas enfermidades: orgulho e lepra. A primeira precisava de cura tanto quanto a segunda.

Por fim, seus oficiais o persuadiram a obedecer ao profeta em algo tão simples (2Rs.5:13) – “Então os seus oficiais se aproximaram e lhe disseram: meu pai, se o profeta tivesse dito alguma coisa difícil, por acaso o senhor não faria? Muito mais agora que ele apenas disse: ‘lave-se e você ficará limpo”. Então Naamã desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus, e a sua pele se tornou como a pele de uma criança, ficou totalmente limpo” (2Rs.5:14). Mas, para que isso acontecesse, Naamã teve de descer da carruagem do orgulho e obedecesse a palavra do homem de Deus. Como alguém bem disse: ”Ele engoliu o orgulho, e a lepra o deixou”.

Perante Deus não há lugar para soberba; Naamã precisava aprender esta lição. Se alguém busca uma bênção de Deus, que a busque com humildade e fé, ou nada receberá – “pois todo aquele que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado” (Lc.14:11).

3. Deus ainda opera milagres, e não misticismos

Eliseu prescreveu 07(sete) mergulhos do rio Jordão (2Rs.5:14). Por que sete e não outro número? A Bíblia não diz. Segundo os estudiosos, o número sete, que Eliseu usou, representa a perfeição de Deus na simbologia hebraica. Concordo com o pr. Claiton quando afirma que “tal fato não nos dá o direito de usar uma forma de numerologia em nossos cultos ou campanhas intermináveis. Podemos e devemos invocar as bênçãos de Deus, pois esperamos o seu agir milagroso. Onde Ele age não é preciso numerologia ou superstição, pois o poder de Deus está acima de tudo isso”.

Hoje, infelizmente, existem muitas formas de superstições em muitas das chamadas denominações evangélicas; e, individualmente, de modo consciente, ou não, muitos evangélicos estão praticando diversas formas de superstição. Isto é ruim! É sinal de que a Palavra de Deus não está sendo ensinada de forma satisfatória. Quem conhece e vive de acordo com a Bíblia Sagrada não pode deixar-se envolver por superstições. Contudo, ao que parece, existe, no momento, muito “fogo estranho” no altar.

-Hoje, fala-se em “fogueira santa”. Para que orar se bastará escrever nossos “problemas” numa folha de papel, e mediante uma oferta à altura do problema que se pretende resolver, queimá-lo no altar do “deus” fogo? Isto desvia o povo, privando-o da comunhão com Deus. Em lugar de Deus, usa-se o fogo. Isto é idolatria. Este foi e continua sendo um meio usado por Satanás para tornar o homem independente de Deus. Por que Deus, se o fogo pode resolver meus problemas, somente às custas de um “sacrifício” financeiro? Isto é superstição, e exploração! Dirão alguns: o fogo é usado, apenas, como ponto de contato no sentido de fortalecer a fé. Porém, nós entendemos que o nosso ponto de contato que nos liga a Deus é Jesus. Somente Jesus! Ele é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm.2:5), o ponto de contato entre o homem e Deus.

-Fala-se em “benzimento” de água. Na atualidade, à semelhança da Igreja Católica, algumas Denominações Evangélicas estão “benzendo” copos com água. Isto é superstição! No futuro construirão o “Altar da Água Santa”. Todo problema relativo ao pecado será resolvido com a purificação da água santa do altar; isto é Satanás substituindo a purificação “pelo sangue”. Isto é idolatria! Nesse sentido, o Hinduísmo foi mais arrojado – “santificou” um rio inteiro – basta banhar-se no rio Ganges e estará purificado, segundo creem esses idólatras.

-Fala-se em “sacrifício” do Boi. Hoje, segundo se ouve dizer, estão exigindo o sacrifício do segundo boi de Gideão (Juízes 6:25). Segundo afirmam, se alguém possui dois imóveis, então deve doar o segundo à Igreja. Assim sucessivamente. Este é o sacrifício do segundo boi do pai de Gideão. Isto é superstição! Amanhã, talvez construam um altar ao boi, onde os sacrifícios serão oferecidos. Isto é abominável!

-Fala-se no poder da oração feita no Monte. Hoje, há quem pense que a oração feita nos montes é mais poderosa que as feitas em nossos templos. Isto é superstição! Amanhã, talvez, construirão altares nos cumes dos montes. Isto é pura superstição! Israel, quando se entregou à idolatria dos pagãos, também agia assim; cria-se em “deuses” que eram fortes nos altos e em deuses que eram fortes nas “planícies”; construíam, também, seus altares, nos altos.

-Fala-se em outras “aberrações” doutrinárias. É claro que seria cansativo enumerar, comentar sobre tantas crendices, baboseiras antibíblicas, superstições que estão sendo utilizadas para enganar os incautos. Tais como: “dia do descarrego”, “meia-noite de libertação”, “noite da quebra de feitiços”, “dia do óleo santo de Israel”; “corrente dos empresários”, “culto da sexta-feira 13”, “sexta feira forte”, “shampoo sagrado”, “vale do sal”, “manto sagrado”, “campanha dos 318 de Abraão”, e outras aberrações.

Podemos e devemos invocar o agir de Deus sem precisar utilizar-se dessas superstições citadas. Como bem disse o pr. Claiton, “onde Ele age não é preciso numerologia ou superstição, pois o poder de Deus está acima de tudo isso. E mesmo que não haja um milagre visível, Ele está agindo, pois a fé é confiar nEle, mesmo quando as coisas não acontecem do nosso jeito (Hb.11:13). Não por acaso, Jesus disse que “muitos leprosos haviam em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (Lc.4:27)”.

III. GEAZI É ACOMETIDO DA LEPRA

1. A rejeição dos presentes

Após a sua cura física e sentimental, a transformação na vida de Naamã foi completa - Deus mudou-lhe o exterior e o interior, e fez dele um novo homem. Disse Naamã: “eis que tenho conhecido que em toda a terra não há Deus, senão em Israel” (2Rs.5:15). Com gratidão, voltou a Eliseu a fim de recompensá-lo com uma grande fortuna pela bênção recebida (2Rs.5:15). O profeta alegrou-se, não pela fortuna que lhe foi oferecida, mas pela preciosidade de uma vida transformada e agora consagrada ao verdadeiro Deus. Eliseu sabia que aquele milagre não era obra dele e, sim, de Deus. Apesar de ser uma pessoa humilde e que tinha uma escola de profetas para manter, ele sabia que seria um erro terrível receber aquela recompensa. Eliseu achava injusto tirar proveito daquilo que Deus fizera através dele. Então, ele disse: “vive o Senhor, em cuja presença estou, que a não tomarei. E instou com ele para que a tomasse, mas ele recusou” (2Rs.5:16). A cura de Naamã foi um ato misericordioso de Deus, e que nenhuma soma de dinheiro poderia retribuir. Deus não atende os necessitados por um preço estipulado; se assim fosse, somente seria atendido quem pudesse pagar.

Naamã, agora, propôs servir somente a Deus por toda sua vida; disse ele a Eliseu: ”nunca mais oferecerá este teu servo holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao Senhor” (ler 2Rs.5:17). A restauração espiritual jamais se fará se os instrumentos usados por Deus neste ministério cederem à tentação do vil metal, passarem a amar o dinheiro, a raiz de toda a espécie de males (1Tm.6:10). O amor do dinheiro promove a apostasia. Como, pois, poderemos combatê-la se não fugirmos destas coisas e seguirmos a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência e a mansidão (1Tm.6:11)?

2. Homens de Deus não se deixam vender

Naamã se converteu ao Deus de Israel e desejou recompensar Eliseu. O profeta, contudo, não aceitou nenhum presente dele (2Rs.5:16) - “Tão certo como vive o Senhor, em cuja presença estou, não aceitarei nada. Naamã insistiu com ele para que aceitasse, mas ele recusou”. A atitude de Eliseu ao recusar o presente de Naamã revela que os verdadeiros servos de Deus não negociam milagres e curas do Senhor por presentes ou favores humanos.

O comandante sírio obteve permissão para levar uma carga de terra em duas mulas de volta para sua terra natal a fim de poder adorar ao Deus verdadeiro na terra deslocada de Israel (2Rs.5:17) – “Então Naamã disse: se você não quer, então peço que seja permitido a este seu servo levar duas mulas carregadas de terra; porque este seu servo nunca mais oferecerá holocausto nem sacrifício a outros deuses, a não ser ao Senhor”.

Naamã exercitou sua fé, mesmo com o preconceito arraigado em seu coração, mesmo com a decepção na corte do rei Jorão, mesmo não entendendo a lógica do profeta, e agora, depois de curado, exercitou mais uma vez a sua fé na convicção de que o “Deus de Israel” o acompanharia de volta a seu país (2Rs.5:17).

3. Por ganância, Geazi é acometido da lepra (2Rs.5:21-24)

Geazi, estudante de teologia, servo de Eliseu, talvez cotado para suceder o seu mestre, não resistiu à tentação das riquezas materiais e tomou alguns bens do general sírio. Ele tinha um coração cobiçoso e, daí, intentou desvirtuar o ato gracioso de Deus, visando proveito próprio material. Nas suas transgressões, ele traiu Eliseu, mentiu a Naamã e a Eliseu, e desonrou o nome de Deus (2Rs.5:26). Assim sendo, Geazi abandonou a fé em Deus. Por causa da cobiça pelos bens terrenos ele foi julgado por Deus: ficou leproso durante toda a sua vida (2Rs.5:27). O apóstolo Paulo exortou a Timóteo da seguinte maneira: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm.6:10).

Geazi é o tipo de obreiro materialista, mercenário.  Ele apostatou-se da fé, trocou o Senhor pelo dinheiro, Deus por Mamom. Geazi engendrou um plano diabólico para tirar o máximo proveito daquela situação. Certamente o fascínio do lucro fácil causou um desequilíbrio na mente daquele cobiçoso discípulo, a ponto de usar o santo nome de Deus para justificar sua cobiça. Disse ele: “tão certo como vive o Senhor, hei de correr atrás dele e receberei alguma coisa” (2Rs.5:20). Aproveitando-se da euforia e da boa fé do novo convertido Naamã, usou o nome do profeta, inventando a chegada de novos hóspedes como pretexto para ganhar um pouco do que Eliseu recusou. E, como um pecado chama outro pecado, o jeito foi continuar mentindo para acobertar o seu deslize. Mas de Deus não se esconde nada. Deus fez com que Eliseu soubesse de tudo por meio de uma visão (2Rs.5:26). Geazi, embora conhecesse bem de perto os prodígios do Senhor, em lugar de exercitar, abandonou a sua fé, trocando o sustento de Deus por um modo “mais fácil” de prover o seu conforto.

Veja como são as coisas, um pagão estrangeiro foi curado, pela nobreza de sua fé, enquanto um israelita, um estudante de teologia, tomou o lugar do pagão, para a desonra de sua fé. Assim como Acã, Ananias e Safira, Judas Iscariotes, Geazi também vendeu sua alma por prazeres efêmeros. A cobiça desse jovem só lhe trouxe maldição, pois com a prata que surrupiou de Naamã, herdou também a lepra que antes era dele (2Rs.5:27). Geazi foi à procura de Naamã em busca de “alguma coisa” e terminou sem “coisa alguma”. Foi em busca de valores materiais, mas perdeu os valores espirituais. É um perigo quando alguém troca o “Ser” pelo “Ter”.

Geazi ficou à margem da sociedade israelita, pois os leprosos não tinham como conviver com os demais israelitas. Não pode haver comunhão entre a luz e as trevas.

CONCLUSÃO

A cura de Naamã constitui uma ilustração clássica do evangelho da graça. A maravilhosa graça de Deus traduz a bondade do Senhor e o seu desejo de favorecer o homem, de ser misericordioso com o ser humano, ainda que o homem não mereça esta benevolência divina, vez que pecou e se rebelou contra o seu Criador. Mas, apesar do pecado, Deus mostra seu amor em relação ao ser humano, por intermédio da sua graça.

Por ter sido comandante do exército sírio, Naamã era inimigo de Deus; humanamente falando, sua situação era desesperadora e impossível de solucionar, pois sofria de lepra. Por ser gentio, era estranho às promessas e à aliança de Deus, e não tinha direito à benção do Senhor (Ef.2:11,12). A graça de Deus, porém, o alcançou e Naamã só teve de se humilhar e agir conforme a instrução do Senhor. Por fim, lavou-se em obediência à Palavra de Deus e se tornou um novo homem com pele e coração renovados.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Novo e Antigo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Beaccon – volume 2.

Roy B.Zuck. A Teologia do Antigo Testamento.

domingo, 8 de agosto de 2021

Aula 07 – O MINISTÉRIO DE ELISEU

 

3º Trimestre/2021


Texto Base: 2 Reis 3:5,9-11,14-18; 4:1-7,38-41


“E disse Josafá: Não há aqui algum profeta do SENHOR, para que consultemos ao Senhor por ele? Então, respondeu um dos servos do rei de Israel e disse: Aqui está Eliseu, filho de Safate, que deitava água sobre as mãos de Elias” (2Rs.3:11).

2 Reis 3:

5.Sucedeu, porém, que, morrendo Acabe, se revoltou o rei dos moabitas contra o rei de Israel.

9.E partiu o rei de Israel, e o rei de Judá, e o rei de Edom; e andaram rodeando com uma marcha de sete dias, e o exército e o gado que os seguia não tinham água.

10.Então, disse o rei de Israel: Ah! Que o Senhor chamou a estes três reis, para os entregar nas mãos dos moabitas.

11.E disse Josafá: Não há aqui algum profeta do SENHOR, para que consultemos ao Senhor por ele? Então, respondeu um dos servos do rei de Israel e disse: Aqui está Eliseu, filho de Safate, que deitava água sobre as mãos de Elias.

14.E disse Eliseu: Vive o Senhor dos Exércitos, em cuja presença estou, que, se eu não respeitasse a presença de Josafá, rei de Judá, não olharia para ti nem te veria.

15.Ora, pois, trazei-me um tangedor. E sucedeu que, tangendo o tangedor, veio sobre ele a mão do Senhor.

16.E disse: Assim diz o senhor: Fazei neste vale muitas covas.

17.Porque assim diz o SENHOR: Não vereis vento e não vereis chuva; todavia, este vale se encherá de tanta água, que bebereis vós e o vosso gado e os vossos animais.

18.E ainda isto é pouco aos olhos do SENHOR; também entregará ele os moabitas nas vossas mãos.

2 Reis 4:

1.E uma mulher das mulheres dos filhos dos profetas, clamou a Eliseu dizendo: Meu marido, teu servo, mor reu; e tu sabes que o teu servo temia ao SENHOR; e veio o credor a levar-me os meus dois filhos para serem servos.

2.Eliseu lhe disse: Que te hei de eu fazer? Declara-me que é o que tens em casa. E ela disse: Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite.

3.Então, disse ele: Vai, pede para ti vasos emprestados a todos os teus vizinhos, vasos vazios, não poucos.

4.Então, entra, e fecha a porta sobre ti e sobre teus filhos, e deita o azeite em todos aqueles vasos, e põe à parte o que estiver cheio.

5.Partiu, pois, dele e fechou a porta sobre si e sobre seus filhos; e eles lhe traziam os vasos, e ela os enchia.

6.E sucedeu que, cheios que foram os vasos, disse a seu filho: Traze-me ainda um vaso. Porém ele lhe disse: Não há mais vaso nenhum. Então, o azeite parou.

7.Então, veio ela e o fez saber ao homem de Deus; e disse ele: Vai, vende o azeite e paga a tua dívida; e tu e teus filhos vivei do resto.

38.E voltando Eliseu a Gilgal, havia fome naquela terra; e os filhos dos profetas estavam assentados na sua presença; e disse ao seu moço: Põe a panela grande ao lume e faz um caldo de ervas para os filhos dos profetas.

39.Então, um saiu ao campo a apanhar ervas, e achou uma parra brava, e colheu dela a sua capa cheia de colocíntidas; e veio e as cortou na panela do caldo; porque as não conheciam.

40.Assim, tiraram de comer para os homens. E sucedeu que, comendo eles daquele caldo, clamaram e disseram: Homem de Deus, há morte na panela. Não puderam comer.

41.Porém ele disse: Trazei, pois, farinha. E deitou-a na panela e disse: Tirai de comer para o povo. Então, não havia mal nenhum na panela.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do Ministério do profeta Eliseu. A convocação de Eliseu para o ministério profético foi feita pelo próprio Deus que instruiu o profeta Elias acerca disso no Monte Horebe (cf.1Rs.19:16). O seu ministério durou algo em torno de cinquenta anos, desde sua chamada, atravessando toda a última metade do século 9 a.C., cobrindo os reinados de Acabe, Acazias, Jeorão, Jeú, Jeocaz e Joás. Vale ressaltar que Eliseu permaneceu como servo de Elias até que este foi trasladado (1Rs.19:21; 2Rs.3:11). Eliseu também completou a missão de Elias, com referência à unção de Hazael como rei da Síria e a unção de Jeú como rei de Israel (2Rs.8:12,13; 9:1-10; cf. 1Rs.19:15,16). A narrativa acerca do ministério do profeta Eliseu está registrada nos livros de Reis - 1Rs.19 e 2Rs.2-9;13.

No registro do ministério do profeta Eliseu, percebemos uma diversificação bem interessante com relação a sua atuação, indo desde o contato com uma viúva endividada até homens ricos, poderosos e monarcas. Ele era influente no palácio de Israel (2Rs.5:8; 6:9,12,21,22; 6:32-7:2; 8:4; 13:14-19) e em outros reinos, como em Judá na época do reinado de Josafá (2Rs.3:11-19) e na Síria (2Rs.8:7-9). Eliseu também agiu como líder das escolas de profetas, seguindo a tradição de Samuel (2Rs.4:38-44; 6:1-7; cf. 1Sm.19:20).

O ministério do profeta Eliseu ficou muito conhecido pelos grandes milagres que ocorreram através dele. Em toda Bíblia, com exceção de Jesus, nenhuma outra pessoa realizou mais milagres do que Eliseu. Nesta Aula estudaremos sobre três deles: o milagre das águas que alagaram um vale, sem que houvesse chuva; a multiplicação do azeite da viúva; e a aniquilação da morte presente na panela de ensopado servido por um dos servos do profeta. Este homem de Deus era enérgico e contundente quando precisava; porém, compassivo e prestativo com os que sofriam ou necessitavam de ajuda.

I. ELISEU SALVA TRÊS REIS E SEUS EXÉRCITOS

1. Reis bons e maus

No período do reino dividido houve a alternância de reis bons e maus. Conforme os livros de 1 e 2 Reis, o que caracterizava esses reis serem bons ou maus não era apenas o modo como eles administravam o reino ou lideravam o povo, mas a forma como eles se relacionavam com Deus.

A história narra que a frequência de reis maus no reino do Norte (Israel) foi mais intensa do que no reino do Sul (Judá), pois seus reis promoveram a adoração a falsos deuses desde o início. Embora obras poderosas tenham sido realizadas pelos profetas, como Elias e Eliseu, que até mesmo ressuscitaram pessoas, Israel sempre recaía no mau proceder. Como consequência, Deus permitiu que o reino do Norte fosse destruído pela Assíria; é o que vamos ver na Aula nº 10.

Judá durou cem anos a mais do que Israel, mas também sofreu a punição divina. Poucos reis de Judá acataram os avisos dos profetas de Deus e tentaram levar a nação de volta para Jeová. O rei Ezequias, por exemplo, foi um dos reis bons de Judá; no seu reinado houve um extraordinário avivamento espiritual; estudaremos sobre ele na Aula nº 11. Também, o rei Josias foi um bom rei; ele decidiu livrar Judá da adoração falsa e restaurou o Templo. Quando foi encontrada uma cópia bem antiga da Lei de Deus dada por meio de Moisés, Josias ficou profundamente comovido, e foi motivado a intensificar sua campanha de reforma. Infelizmente, os sucessores de Josias não seguiram o bom exemplo desse bom rei, de modo que Deus permitiu que reino da Babilônia conquistasse Judá e destruísse Jerusalém, e o Templo. Os sobreviventes foram exilados em Babilônia; Deus predisse que esse exílio duraria 70 anos. Judá ficou desabitada todo esse tempo até que, como prometido, a nação teve permissão de voltar para sua própria terra. Ao contrário do reino do Norte, onde todos os seus reis foram maus, que nunca retornou do cativeiro assírio.

No entanto, nenhum outro rei da dinastia de Davi governaria até o reinado do prometido Libertador, o Messias. A história da maioria dos reis que ocuparam o “trono de Davi” em Jerusalém prova que humanos imperfeitos não são qualificados para governar; apenas o Messias estaria perfeitamente qualificado a isso. Assim, Deus disse ao último desses reis davídicos: “Retira a coroa [...] certamente não virá a ser de ninguém, até que venha aquele que tem o direito legal, e a ele é que terei de dá-lo” (Ez.21:26,27).

2. Três reis – Israel, Judá e Edom - vão à guerra contra os moabitas (2Reis 3:4-9)

Durante o reinado do rei Acabe, o rei dos moabitas havia sido obrigado a pagar tributo anual a Israel. Porém, com a morte de Acabe, o rei Mesa (rei dos moabitas) julgou oportuno a se rebelar.

O rei Acazias não havia feito nada a espeito da rebelião de Moabe. Quando o seu sucessor, o rei Jorão, subiu ao poder, procurou recuperar o controle sobre esse território, pois não desejava perder a soma considerável que os moabitas pagavam como tributo. Em busca da vitória contra o rei de Moabe, Jorão pediu a Josafá (rei de Judá) para se aliar a ele e, mais uma vez, este tomou a decisão insensata de ajudá-lo como fizera à época de Acabe (cf. 1Reis 22, episódio em que Josafá quase perdeu a vida ao se aliar com Israel). Os dois reis decidiram marchar pelo lado ocidental do mar Morto, rumo ao leste, passando por Edom, e rumo ao Norte, até Moabe. Por ser vassalo de Josafá na época, o rei de Edom se viu obrigado a participar da campanha militar.

3. A predição de Eliseu se cumpriu (2Reis 3:9-25)

Ainda com relação à guerra dos três reis contra os moabitas, quando se aproximaram de Moabe, ficaram sem água. Em resposta à declaração insolente de Jorão de que a culpa era de Deus, Josafá sugeriu que consultasse um profeta do Senhor. Quando souberam que o profeta Eliseu estava nas cercanias, os três reis desceram para falar com ele. A princípio, Eliseu deixou claro que não tinha nenhuma ligação com o rei idólatra de Israel e sugeriu que procurasse os profetas idólatras do pai dele; o pai dele era Acazias, e os seus profetas eram do ídolo Baal. A resposta de Jorão talvez tenha sugerido que o problema não era causado por ídolos, mas pelo Senhor. Em deferência a Josafá, Eliseu concordou em consultar o Senhor. Enquanto um harpista tocava, veio o poder de Deus sobre Eliseu, e o profeta predisse que o vale se encheria de água, mas não proveniente de chuva; também predisse a derrota dos moabitas (2Rs.3:15-18).

Na manhã seguinte, águas corriam no vale, vindas da direção de Edom. À luz do sol nascente, as águas pareciam sangue para os moabitas, daí suporem que os reis de Israel, Judá e Edom haviam lutado entre si. Quando se apressaram até o arraial de Israel para recolher espólios, foram recebidos com um ataque devastador. Os israelitas entulharam os campos cultiváveis com pedras, taparam todos os poços e cortaram todas as boas árvores da região.

Não importa pessoas infiéis existirem no meio das fiéis, o Senhor sempre irá intervir a favor dos que o temem.

II. ELISEU AUMENTA O AZEITE DA VIÚVA

1. A situação das viúvas em Israel

Na época de Eliseu, a condição das viúvas era lastimosa; a morte do marido deixava a mulher vulnerável econômica e socialmente, razão pela qual necessitava de proteção legal e de amparo por parte das lideranças políticas e religiosas. Deus exortou que esse amparo fosse levado a sério (Is.1:16-23; Jr.22:3) - “Ouve a palavra do Senhor, ó rei de Judá, que te assentas no trono de Davi; tu, e os teus servos, e o teu povo, que entrais por estas portas. Assim diz o Senhor: Exercei o juízo e a justiça e livrai o espoliado da mão do opressor; e não oprimais...à viúva” (Jr.22:2,3).

Segundo o pr. Esdras Bento, “além da angústia que acompanhava a viuvez, a perda da proteção legal do esposo colocava a viúva em situação de pobreza e penúria. Caso o marido deixasse alguma dívida, a viúva era obrigada a assumir os compromissos financeiros do faltoso, o que implicava, às vezes, na venda dos bens, da entrega dos filhos à servidão, e a todo tipo de exploração da parte dos credores”.

Nessa época, a viúva tinha somente duas opções: mendigar ou prostituir-se. A Bíblia narra que uma viúva de um dos discípulos dos profetas de Israel, após a morte do seu marido, ficou numa situação muito difícil: falta de alimento, dívidas e a ameaça de seus dois filhos serem vendidos como escravos. Dívida tira o sono e incomoda quem a tem, ainda mais quando o credor exige levar - em resgate da dívida - o que lhe era mais precioso na face da terra: seus dois filhos e fazer deles seus escravos. Essa mulher enfrentou a possibilidade de o credor tomar seus dois filhos para um período de escravidão. O texto em levítico 25:39-42 determina que se o devedor não pudesse pagar a sua dívida, ele era obrigado a servir ao credor como escravo até o ano do jubileu.

Mas aquela viúva tinha algo muito poderoso e indispensável para qualquer um que esteja nessa terrível situação: fé e temor a Deus. Movido por esses dois pilares de sua vida, ela recorreu ao Dono de todas as coisas – Deus; ela foi ao profeta Eliseu e pediu sua ajuda. Deus interveio e concedeu-lhe a provisão suficiente para atender a sua urgente necessidade e a de seus dois filhos. De acordo com o historiador Flavo Josefo, a viúva desta história era a esposa de Obadias, o mordomo de Acabe, em 1Reis 18. Segundo Flavo Josefo, o motivo de a família estar endividada era que Obadias havia sustentado os 100 profetas do Senhor que ele escondera de Acabe e Jezabel. Todavia, Deus interveio em favor dessa família que temia a Ele (cf.2Rs.4:3-7). Quero dizer que o Deus de Elizeu é também o nosso Deus; Ele é imutável - “eu, o Senhor, não mudo...” (Ml.1:17).

2. Uma única botija de azeite foi suficiente para Deus operar o milagre

Diante do clamor daquela viúva (2Rs.4:1), Eliseu ficou sensibilizado e não hesitou em atendê-la. Tal como Elias fizera em Sarepta (1Reis 17), usou do pouco que ela tinha para resolver o problema. Deus compadeceu-se daquela mulher sofredora e interveio na sua causa; sabe por quê? Porque o Senhor é compassivo, misericordioso e longânime; está escrito: “piedoso é o Senhor e justo; o nosso Deus tem misericórdia” (Sl.116:5). “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as Suas misericórdias não têm fim” (Lm.3:22).  

A dinâmica do milagre

a)  um pouco de azeite. Diante do clamor da viúva, o profeta Eliseu perguntou-lhe: “que te hei de eu fazer? Declara-me que é o que tens em casa, e ela disse: tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite” (2Rs.4:2). Ora, para Deus o “nada” já é muita coisa, quanto mais uma botija de azeite. Eliseu compreendeu o que Deus podia fazer usando um simples vaso com azeite, a princípio insignificante; e então falou à mulher e a seus filhos para pedir emprestado aos vizinhos a maior quantidade de frascos vazios que pudessem (cf. 2Rs.4:3-5). O azeite era uma mercadoria muito apreciada em Israel, servia como alimento, medicamento, cosmético, combustível e para fins religiosos.

Muitas vezes, nos sentimos como aquela viúva quando percebemos que o que nos resta parece algo absolutamente insignificante, mas aquilo que achamos insignificante pode ser usado por Deus a nosso favor. Deus tem poder para transformar em muito, transbordante, superlativo, aquilo que nos parece pouco.

b) Deus age com o que você tem. Perceba que quando o profeta Eliseu perguntou à viúva sobre o que ela tinha em casa, a resposta da mulher veio em um tom desanimador: “tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite”. Como eu disse, se para Deus o nada já é muita coisa, quanto mais uma botija de azeite. A provisão milagrosa lhe veio mediante o que ela já tinha: um vaso de azeite. Mas, a provisão foi dada na medida da fé que a mulher tinha e da sua capacidade de armazenamento. Deus provê dentro da capacidade do necessitado. Deus usou o que ela possuía para multiplicar-lhe os recursos e realizar o milagre de que ela precisava. Para Deus operar um milagre a quantidade não faz nenhuma diferença. Exemplos:

-Moisés – tinha um cajado: “… e os filhos de Israel passaram pelo meio do mar em seco…” (Êx.14:16,21,22).

-Sansão – tinha uma queixada de um jumento: “… e feriu com ela mil homens” (Jz.15:15).

-Davi – tinha uma funda e cinco pedras: “e assim… prevaleceu contra o gigante filisteu…” (1Sm.17:40,50).

-A viúva de Sarepta – tinha farinha na panela e azeite na botija: “… e assim comeu ela… e a sua casa muitos dias” (1Rs.17:12,14,15).

-Os discípulos – tinham cinco pães e dois peixinhos: “… e deram de comer a quase cinco mil homens” (Mc.6:37-44).

-Dorcas só tinha uma agulha e linha, com isto costurava ajudando os necessitados (Atos 9:36,39).

-A viúva pobre só tinha duas pequenas moedas (Mc.2:42), mas deu a maior oferta.

-A mulher do profeta – tinha apenas uma botija de azeite, e foi a partir desta botija de azeite que Deus operou o milagre - “e sucedeu que, todos os vasos foram cheios…” (2Rs.4:2,6,7). Ela vendeu o azeite, pagou a dívida e ainda pôde manter o sustento da família com o que sobrou (2Rs.4:6,7).

E você, o que é que tem em casa? O milagre depende do que se têm. Deus irá operar o milagre em sua vida a partir do que você tem. Ele pode usar o pouco que temos e transformá-lo em muito. Nós podemos nem ter tudo, e, contudo, podemos ter conosco alguma coisa que Deus é capaz de abençoar abundantemente - “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (Ef.3:20). Não perca a esperança! O pouco pode ser transformado em muito se for colocado nas mãos do Senhor e por ele abençoado (cf.Mc.6:30-44). Portanto, coloque tudo o que você tem nas mãos de Deus e, ainda que seja pouco, se fará mais que suficiente. Tem disposição para trabalhar? É muita coisa para Deus! “Sem fé é impossível agradar a Deus”.

3. Fé, obediência e família unida

Para Deus operar o milagre em tua vida ele requer três coisas: obediência, fé e ação. Elizeu deu uma orientação à mulher: “vai, pede para ti vasos emprestados a todos os teus vizinhos, vasos vazios, não poucos. Então, entra, e fecha a porta sobre ti e sobre teus filhos, e deita o azeite em todos aqueles vasos, e põe à parte o que estiver cheio. Partiu, pois, dele e fechou a porta sobre si e sobre seus filhos; e eles lhe traziam os vasos, e ela os enchia” (2Rs.4:3-5). A mulher obedeceu à orientação do servo de Deus, usando o que ela tinha em suas mãos, e o milagre da multiplicação do azeite aconteceu. A orientação do profeta Eliseu foi simples e objetiva:

a) “...pede para ti vasos emprestados a todos os teus vizinhos, vasos vazios, não poucos”. Às vezes temos que fazer algo que esteja ao nosso alcance para receber o que Deus nos quer dar.

b) “...fecha a porta sobre ti e sobre teus filhos...”. A mulher devia fechar a porta, ficar a sós com seus filhos e trabalhar. O que se percebe aqui é que o homem de Deus, Eliseu, não buscou notoriedade no milagre. Elizeu tinha plena certeza de que Deus era quem estava operando aquele grande milagre. Então a glória pertencia a Deus e não ao profeta. Talvez uma das causas da escassez de milagres hoje esteja na publicidade desenfreada. Deus quer privacidade, mas os homens gostam de notoriedade; gostam de aparecer e vangloriar-se; deixam a porta aberta (televisão, WhatsApp, Instagram, e-mail, youtube etc.) para serem vistos! Nem sempre as bênçãos de Deus acontecem no meio de muita gente; neste sentido, Jesus orientou assim: “mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu pai, que está em secreto. Então seu pai, que vê em secreto, o recompensará” (Mt.6:6).

c) “...fechou a porta sobre si e sobre seus filhos, eles lhe traziam os vasos e ela os enchia”.  A mulher pegou as vasilhas e começou a enchê-las a partir da botija de azeite que ela tinha em sua casa. Foi ela quem encheu as vasilhas e não o profeta. Eliseu somente deu a orientação. Da mesma forma, Deus nos orienta, conforme as nossas forças e os nossos recursos, a agirmos e buscarmos a solução para os nossos problemas. Mas nós é que devemos que correr atrás, que devemos buscar, que devemos agir. O que falha é a nossa fé e jamais a promessa do Senhor. Ele sempre nos concede mais do que aquilo que lhe pedimos. Se a viúva tivesse mais vasos, teria recebido ainda muito mais azeite, pois haveria em Deus o bastante para enchê-los. Portanto, precisamos agir com fé, pois a fé sem obras, sem atitudes, sem ação, é morta.

d) Família unida. Outro fator que nos chama a atenção neste episódio foi a união da família para sair dessa crise financeira. Veja que a mulher foi ajudada por seus filhos. A participação de nossos filhos na obra de Deus é mui maravilhosa. A união e unidade familiar contribuem sobremaneira para que haja milagre numa casa. Deus se agrada de uma família unida em torno de um ideal sagrado. Uma família dividida, desunida, egoísta, é uma família destruída.

III. A MORTE QUE HAVIA NA PANELA

“E voltando Eliseu a Gilgal, havia fome naquela terra; e os filhos dos profetas estavam assentados na sua presença; e disse ao seu moço: Põe a panela grande ao lume e faze um caldo de ervas para os filhos dos profetas. Então, um saiu ao campo a apanhar ervas, e achou uma parra brava, e colheu dela a sua capa cheia de coloquíntidas; e veio e as cortou na panela do caldo; porque as não conheciam. Assim, tiraram de comer para os homens. E sucedeu que, comendo eles daquele caldo, clamaram e disseram: Homem de Deus, há morte na panela. Não puderam comer. Porém ele disse: Trazei, pois, farinha. E deitou-a na panela e disse: Tirai de comer para o povo. Então, não havia mal nenhum na panela” (2Reis 4:38-41).

1. A escola de profetas

A Escola de profetas na época de Elias e de Eliseu era dedicada ao ensino formal da Palavra de Deus e ao comportamento ético do futuro profeta. A preocupação com o aspecto espiritual do povo de Israel era a principal bandeira. Essas escolas já existiam na época do profeta Samuel; tudo indica que ele tenha sido o primeiro a tomar a iniciativa de organizar esse tipo de “ensino teológico” (cf.1Sm.10:5,10; 19:23).

Esses futuros profetas seriam mais tarde líderes que teriam de confrontar as falsas teologias e a idolatria que os maus reis obrigavam o povo a aceitar. Havia espaço ainda para a instrução na música sacra e na poesia (1Sm.10:5). O “professor”, um profeta mais experiente, transmitia o ensino com seu exemplo de vida e seu trabalho, e eram eles mesmos que consagravam os novos obreiros à missão de reconduzir o rebanho desgarrado de Israel ao aprisco do Senhor, o pastor de nossa alma (Sl.23). Muitos eram perseguidos por maus reis (1Rs.18:4).

Assim como era importante o estudo da Palavra de Deus naquela época, também o é atualmente. Infelizmente, os tempos mudaram e os seminários teológicos de hoje se “conformaram com o mundo” – procuram similaridades com as faculdades seculares e, por isso, buscam reconhecimento do MEC -, mas o prejuízo tem sido enorme, pois a teologia liberal tem predominado sobremaneira na maioria dos seminários com prejuízos incalculáveis à ortodoxia das Escrituras Sagradas.

No texto de 2Reis 6:1, verificamos que Eliseu era o líder maior entre os discípulos dos profetas, e era com ele que buscavam instrução. Geralmente os estudantes moravam juntos em uma casa ou em pequenas comunidades, onde o ensino era ministrado (2Rs.6:1,2). Alguns “seminaristas” eram casados e mantinham seus próprios lares (2Rs.4:1).

Percebe-se pelo contexto que, além da teoria, a execução de determinadas tarefas, sob permissão do instrutor, era permitida, como se observa no ocorrido de 2Reis 2:15-17 - “Vendo-o, pois, os filhos dos profetas que estavam defronte em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro e se prostraram diante dele em terra. E disseram-lhe: Eis que, com teus servos, há cinquenta homens valentes; ora, deixa-os ir para buscar teu senhor; pode ser que o elevasse o Espírito do Senhor e o lançasse em algum dos montes ou em algum dos vales. Porém ele disse: Não os envieis. Mas eles apertaram com ele, até se enfastiar; e disse-lhes: Enviai. E enviaram cinquenta homens, que o buscaram três dias, porém não o acharam”.

Esse processo interativo entre o líder e o liderado, entre o educador e o educando, era e é vital para produção do conhecimento. Em outras situações observamos que os filhos de profetas, quando já treinados, podiam agir por conta própria em determinadas situações (1Rs.20:35).

2. A morte na panela

A vida diária nas escolas de profetas não era nada cômoda. Os estudos eram exaustivos, as acomodações eram precárias (2Rs.6:1), a falta de recursos era uma constante (2Rs 4:1), o trabalho era árduo e, se não bastasse isso tudo, a comida era escassa, geralmente produzida por eles mesmos, em hortas comunitárias. As coisas ficavam ainda piores quando Deus enviava

estiagem que durava muitos anos (cf. 2Rs.8:1). Se a nação toda padecia, quanto mais aqueles que deixavam tudo pelo ministério de porta voz de Deus!

Foi exatamente nesse contexto de crise que Eliseu, o “homem de Deus”, chegou no seminário de Gilgal para uma “série de conferências”. A receptividade foi calorosa, mas a despensa estava vazia. Eliseu, então, enviou um dos alunos ao campo para colher frutos e raízes comestíveis, a fim de preparar um sopão para todos. Mas algo saiu errado: um dos ingredientes colhidos estragou a sopa, tornando-a amarga e venenosa. A “colocíntida” (2Rs.4:39), uma espécie de pepino selvagem, em pequenas quantidades era usada para fins medicinais, mas em grande quantidade tornava-se tóxica e extremamente amarga.

Uma das coisas admiráveis neste texto é que, embora o gosto estivesse horrível, todos comeram sem reclamar. O único comentário que surgiu foi quando atinaram para o perigo de conter algo venenoso. Ao perceberem isto, gritaram: “Há morte na panela!” (2Rs.4:40). O líder teve que agir imediatamente; Eliseu usou farinha, e esse ingrediente anulou o veneno. Deus permitiu tal acontecimento para mostrar o Seu cuidado aos que a Ele se consagram. Deus usa o homem, e o homem usa o que tem à mão. O milagre aconteceu, não por causa da farinha, mas pela fé de Eliseu. Ele poderia ter usado cevada, hortelã, pão ou qualquer outro ingrediente, e o resultado seria o mesmo.

Aprendemos com esses seminaristas que Deus cuida de Seus servos, geralmente usando o que eles têm à mão aliado à quantidade de sua fé. A viúva do profeta (2Rs.4:1-7) colocou perante Deus o pouquinho que tinha, e compreendemos o que é que aconteceu. Da mesma forma, se usarmos aquilo que temos, ainda que seja pouco, e usarmos com fé, grandes coisas Deus fará por nós. Creia nisso!

CONCLUSÃO

O ministério de Eliseu foi ratificado pelos milagres que Deus realizou por sua instrumentalidade. Foram 14 (quatorze) milagres ao longo de seu ministério, mas esses milagres foram uma clara demonstração do poder de Deus, que teve como propósito específico demonstrar a graça de Deus e sua glória nas mais diferentes situações. Em nenhum momento Eliseu ensoberbeceu-se do dom que havia recebido, e nem deixou transparecer que se tratava de algo que ele conseguia manipular através do domínio de alguma técnica. Não há dúvida nenhuma que em todos os milagres realizados estavam a unção de Deus.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Novo e Antigo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Beaccon – volume 2.

Roy B.Zuck. A Teologia do Antigo Testamento.

Caramuru Afonso Francisco. Eliseu e a Escola de profetas. PortalEBD_2013.

Poção Dobrada – Pr. José Gonçalves – CPAD.