“......Senhor, está enfermo aquele a quem
amas” (João 11:3).
Ao observar a aflição de muitos irmãos, pedindo oração para que Deus
resolva suas causas e de seus familiares, causas essas que, muitas vezes,
humanamente falando, são quase impossíveis de serem resolvidas, a gente questiona:
por que o crente fiel e obediente a Deus sofre?
Este é um dos assuntos mais intrigantes da vida. Os profetas
analisaram esta questão e ficaram muitas vezes angustiados com o sofrimento do
justo. O salmista Asafe, por exemplo, entrou numa crise espiritual, porque
olhava de sua janela e via o ímpio prosperando, tendo saúde, amigos, e ele, que
era um crente piedoso, dirigente do coral do Templo, autor de vários hinos
pertencente ao hinário dos cultos de adoração a Deus, era castigado com lutas e
provações, as mais amargas que se possa imaginar. Isto quase levou esse servo
de Deus a ter inveja do ímpio o que quase comprometeu para sempre a sua vida
espiritual. Disse ele: “quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram;
pouco faltou para que escorregassem os meus passos. Pois eu tinha inveja dos
soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios” (Sl.73:2,3).
Lembrei também de Maria e Marta, irmãs de Lázaro - família que
Jesus muito amava. Esta família estava passando por um momento dramático:
Lázaro estava muito enfermo. O fato dessa família ser amiga de Jesus não
impediu que ela enfrentasse a enfermidade. Nós também - o fato de sermos
cristãos não significa que temos uma carta de alforria ou um documento de
imunidade das lutas e das provações da vida. Não estamos resguardados em uma
redoma de vidro à prova de tempestades e lutas. Não temos imunidades especiais;
temos, sim, imanência sobrenatural, temos a presença de Jesus conosco. Ele está
conosco no vale da dor. Ele está conosco no leito da enfermidade. Ele está
conosco nas agruras, nas tempestades da vida.
Jesus amava Lázaro, mas ele ficou
doente, a ponto de chegar a morrer. Não é simples conciliar o amor de Jesus
com o sofrimento. Marta e Maria não tinham outra solução, a não ser pedir
socorro a Jesus, e mandaram na medida certa, dizendo: “......Senhor, está
enfermo aquele a quem amas”(João 11:3). Observe que elas não disseram: “aquele
que te ama está enfermo, mas aquele a quem amas está enfermo”. Por quê? Porque
quem ama tem pressa em socorrer a pessoa amada.
Aquelas duas mulheres acreditavam que Jesus viria, porque Ele
muito amava Lázaro. Mas no mesmo dia que Jesus recebeu a notícia, Lázaro morreu;
e mandou um recado que a doença de Lázaro era para glória de Deus. Jesus passou
mais dois dias na cidade onde estava, e mais um dia para chegar em Betânia. Quando
chegou, a Bíblia registra que Lázaro já estava morto e sepultado há quatro
dias.
E agora, o que fazer? Essa é uma situação dramática; esse é um
momento de muita dor; essa é uma situação adversa para a qual muitas vezes não
temos resposta imediata. Marta e Maria tiveram que enfrentar o problema da
demora de Jesus. Talvez este seja um dos maiores dramas da vida:
-Por que Jesus demora?
-Por que as providências divinas parecem carrancudas?
-Por que algumas situações parecem estar contra nós?
-Por que as coisas ruins acontecem com pessoas boas?
A aparente demora de Jesus é pedagógica. Ele sabe o que estamos
passando. Quando Ele parece demorar, na verdade está trabalhando para fazer
algo maior e melhor em nossa vida, porque o plano dele é melhor que o nosso
plano. A ressurreição de um morto é um milagre maior do que a cura de um
doente. A ressurreição de um morto, há quatro dias sepultado, é maior do que a
ressurreição de um morto que acabou de morrer.
Devemos nos conscientizar de que Jesus conhece todos os problemas
que nos afetam, que nos machucam. Ele sabe o que é a dor do sem-teto, porque
não tinha onde reclinar a sua cabeça. Ele sabe o que é a dor da solidão, porque
na hora mais angustiante de sua vida, no Getsemani, nem os seus discípulos mais
achegados estavam do seu lado, quando Ele estava com o rosto em terra suando
gotas de sangue, clamando ao pai: “meu Pai, se possível, passe de mim este
cálice!”(Mt.26:39). Ele sabe o que é a dor da perseguição, porque foi
perseguido desde a sua infância por Herodes; foi perseguido pelos fariseus,
pelos escribas, pelos sacerdotes, pela multidão. Ele sabe o que é a dor da
traição, porque o seu discípulo em quem ele investiu, o traiu lhe dando um
beijo traidor. Ele sabe o que é ser ultrajado, cuspido, zombado, escarnecido,
porque ele passou por isso no caminho do calvário. Ele sabe o que é a dor da
enfermidade, porque a Bíblia diz que Ele foi enfermado, Ele tomou sobre si as
nossas dores, as nossas enfermidades, os nossos pecados. Jesus sabe o que é a
dor do desamparo, porque lá na cruz do calvário, quando foi feito pecado por
nós, deu um grito de desamparo: “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” (Mt.27:46); e, naquele momento, Ele foi ferido; naquele
momento, Ele foi traspassado; naquele momento, Ele sentiu o drama da angústia
avassalando a sua alma.
Portanto, Cristo sabe o que estamos passando. Se ele quiser, Ele
pode restaurar a nossa sorte agora. Não existe causa perdida para Jesus. Não
existe problema que Ele não possa resolver. Não existe situação irrecuperável
para Ele. Talvez haja algumas causas na vida que consideramos perdidas. Talvez
alguém esteja pensando que seu casamento não tem mais jeito. Quem sabe, com
relação à saúde, os médicos já lavraram a sentença: “não tem cura”. Mas afirmo uma coisa importantíssimo: se
Jesus quiser, tem jeito; para Ele não há causa perdida; para Ele nada é impossível!
Às vezes Deus permite que soframos, para que experimentemos da sua
consolação, da sua intervenção milagrosa. Ele sabe o que está fazendo. Ele sabe
quem somos, onde estamos, o que estamos passando. Ele pode trazer o socorro de
que tanto precisamos. Foi assim que ocorreu com Marta e Maria. Lázaro estava
morto e sepultado há quatro dias; era uma causa perdida para muitos, mas, para
Jesus, era uma causa vitoriosa. Lázaro foi ressuscitado e a glória de Deus foi
manifestado naquele instante.
- Deus está conosco no vale da dor.
- Deus está conosco no leito da enfermidade.
- Deus está conosco nas agruras, nas vicissitudes, nas tempestades
da vida.
- “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na
angústia; pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os
montes se transportem para o meio dos mares; ainda que as águas rujam e se
perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza, o Senhor dos
exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio” (Sl.46).
Portanto, as provas pelas quais passamos são inevitáveis,
repentinas e, muitas vezes, inadministráveis, porém, são pedagógicas. Todas elas
são trabalhadas por Deus para nosso bem final. Nosso Deus ainda continua
transformando vales em mananciais, desertos em pomares, noites escuras em
manhãs cheias de luz, vidas esmagadas pelo sofrimento em troféus de sua
generosa graça.
Que Deus esteja atento às nossas orações, súplicas e intercessões,
e que possamos entender o seu silêncio no momento das provações. Amém?
Luciano de Paula Lourenço
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