segunda-feira, 17 de março de 2014

Aula 12 – A CONSAGRAÇÃO DOS SACERDOTES


1º Trimestre/2014

 
Texto Básico: Êxodo 29:1-12

 



“E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22).

 








INTRODUÇÃO

Na Aula anterior tratamos acerca da escolha de Arão e seus filhos para o sacerdócio, escolha esta feita pelo próprio Deus. Nesta Aula, trataremos acerca do cerimonial de consagração sacerdotal para o serviço no Tabernáculo, cujos detalhes foram exarados no capítulo 29 de Êxodo. O significado primordial desse cerimonial era sublinhar o fato de que as pessoas que estavam ali para serem apresentadas para aquele serviço especial eram chamadas, escolhidas, eleitas pelo próprio Deus para aquela tarefa. Além disso, essa cerimônia dizia a todos os israelitas que aqueles homens escolhidos para o ofício sacerdotal se dedicariam, exclusivamente, àquele serviço para o qual estavam sendo apresentados. A cerimônia foi ministrada por Moisés e aconteceu à entrada do Tabernáculo, no pátio, na presença de todo o povo.

I. A CONSAGRAÇÃO DE ARÃO E SEUS FILHOS

Em uma cerimônia impressionante e muito bem preparada, Arão e seus filhos foram consagrados ao sacerdócio. Eles tinham de estar devidamente limpos e ataviados e deviam ter expiado seus pecados antes de assumir os deveres sacerdotais. O Deus vivo não é uma imagem impotente à qual os homens prestam culto segundo suas ideias. Somente Ele é quem determina os requisitos segundo os quais lhe é possível habitar com o seu povo. Vejamos alguns aspectos importantes dessa cerimônia de consagração:

1. A lavagem com água - "Então, farás chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os lavarás com água" (Ex 29:4). Água era aspergida sobre Arão e seus filhos, pois se tratava de uma lavagem simbólica. Qual era o propósito da lavagem? Era apontar para a pureza e perfeição de Cristo. A purificação se dava na porta da tenda para que todos os israelitas vissem. Deus é santo e o sacerdote deveria também ser santo: “[...] Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo" (Êx 19.2). Nossa santidade precisa ser vista por aqueles que não conhecem a Cristo a fim de que glorifiquem a Deus. Somos chamados para sermos "sal" e "luz" deste mundo, precisamos fazer a diferença no meio de uma sociedade perversa.

A água simboliza também a Palavra de Deus. Jesus declarou: "Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado" (João 15:3). A Palavra de Deus é pura e santa, por isso ela pode nos tornar limpos. Ela também tem o poder de penetrar no mais íntimo do nosso ser, ela chega onde nenhum homem pode alcançar (Hb 4:12).

Após a lavagem, os sacerdotes estavam prontos para colocar suas novas vestimentas, próprias e específicas para o trabalho que exerceriam. A mensagem aqui é que “não era suficiente que removessem a corrupção do pecado [pela lavagem da água], mas também “deveriam vestir as graças do Espírito, vestirem-se da justiça (Sl 132:9). Eles deveriam ser cingidos, como homens preparados e fortalecidos para o seu trabalho. E deveriam ser vestidos e coroados, como homens que consideravam o seu trabalho e as suas funções uma verdadeira honra” (Henry,Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento. CPAD).

2. A unção com óleo (Êx 30:22-33). Deus mandou Moisés fazer um óleo especial de unção. Os ingredientes eram “pura mirra, canela aromática, cálamo aromático, cássia e azeite de oliveiras” (Êx 30:23,24). Estas especiarias (duas vezes mais de mirra e cássia que os outros ingredientes) seriam misturadas com um him de azeite de oliva (cerca de 6,6 litros). Estes produtos aromáticos, por terem propriedades curativas e fragrância, tornavam a substância perfumada apropriadamente típica do Espírito Santo, que santifica e unge o povo de Deus. Esta composição foi usada primeiramente para ungir a tenda da congregação (o Tabernáculo) e sua mobília (Êx 30:26-29).

Depois da consagração do Tabernáculo, Moisés ungiu os sacerdotes para a função especial que desempenhariam (Êx 29:21; Êx 30:30). O óleo da santa unção era derramado sobre a cabeça de Arão e seus filhos: “E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista; este será o azeite da santa unção” (Êx 30:15). Este ato os consagraria ao ofício sagrado, simbolizando a unção do Espírito Santo nos servos de Deus.

Moisés disse a Israel que este óleo tinha de ser permanente (Ex 30:31); nunca deveria ser usado na “carne do homem” (Ex 30:32), ou seja, para propósitos comuns; e sua fórmula nunca deveria ser copiada. Haveria uma maldição em quem fizesse um óleo santo como este, ou aplicasse impropriamente (Ex 30:33).

O Espírito Santo é muito semelhante a esta combinação de substâncias odoríferas e óleo! Ele perfuma e cura a alma ungida; torna santo todos que o recebem; não pode ser falsificado e quem procura substitui-lo cai na condenação de Deus; não é dado ao mundo, mas a quem é redimido pelo sangue de Cristo; e sempre é o mesmo.

3. Animais são imolados como sacrifício (Êx 29:10-18). Os sacerdotes fariam primeiramente o sacrifício pelo pecado e, logo a seguir, o holocausto que servia para mostrar que os sacerdotes se consagravam inteiramente ao serviço do Senhor.

a) A oferta pelo pecado. Antes de ministrar em favor do povo era necessário que o sacerdote oferecesse sacrifícios de holocausto por sua própria vida (vv. 10-14). Eles deveriam colocar a mão na cabeça do animal a ser sacrificado (Êx 29:10), como confissão de que eram pecadores e pelos seus pecados deveriam morrer. A morte imediata do animal mostrava a pena do pecado, mas também indicava a expiação no sacrifício de Jesus na cruz (1Pe 1:18,19). A ação de pôr o sangue do novilho (v.12) nas pontas do altar e em sua base enfatizava a necessidade de dar a vida pela salvação. Partes do corpo do animal, inclusive a gordura, eram queimadas sobre o altar e o restante era levado para fora do acampamento, a fim de ser queimado (vv. 13.14), tipificando Cristo que “padeceu fora da porta” (Hb 13:11,12). Nenhuma parte desta oferta era comida pelos sacerdotes, como geralmente não se comiam as ofertas pelo pecado (Lv 4:11,12; cf Lv 10:17-20).

Quem serve na obra de Deus deve se lembrar de que é um pecador e deve se apoiar totalmente nos méritos de Cristo para sua salvação. Como Paulo disse a Timóteo, o obreiro de Deus deve cuidar primeiro de si mesmo, da sua própria salvação, da sua vida espiritual, para depois levar a salvação e a bênção de Deus aos outros: “Tem cuidado de ti mesmo [...] fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1Tm 4:16). Como alguém poderá ajudar perfeitamente aqueles que se encontram doentes enquanto ele mesmo ainda se encontra doente?

b) O holocausto em honra a Deus (Ex 29:18). Segundo Leo G. Cox, este holocausto era feito com um dos carneiros levado à cerimônia de consagração (Ex 29:1). Era morto de modo semelhante à oferta pelo pecado e o sangue era aspergido sobre o altar. Êx 29:17  fica mais claro assim: “Corte [o carneiro] em pedaços, lave as vísceras e as pernas e coloque-as ao lado da cabeça e das outras partes”(NVI]. O carneiro inteiro era queimado no altar como cheiro suave (v.18) para o Senhor.

No holocausto, a ideia intencional era de abnegação e não de expiação. Esta abnegação é agradável a Deus, visto que a oferta pelo pecado nunca era considerado de cheiro suave. Esta oferta representava a entrega das pessoas a Deus para servi-lo em espírito de adoração.

Segundo Silas Daniel, o fato de essa oferta só poder ser apresentada após a oferta pela expiação dos pecados dos sacerdotes significa que “até que a iniquidade seja retirada, nenhum serviço aceitável pode ser realizado”, o que nos lembra da purificação de Isaias para poder servir no ministério profético como Deus queria (Is 6:7).

II. O SACRIFÍCIO DA POSSE

1. O segundo carneiro da consagração (Êx 29:19-37). O segundo carneiro (Êx 29:19), chamado “carneiro da consagração” (Êx 29:22), era morto da mesma maneira que os outros animais. Parte do sangue era colocada primeiramente na “orelha direita”, no “dedo polegar da mão direita” e no “dedo polegar do pé direito” de cada um dos sacerdotes (Êx 29:20). Em seguida, o restante do sangue era derramado sobre o altar. Desse sangue que estava ali, junto com óleo, era aspergido sobre Arão, seus filhos e suas vestes (Êx 29:21).

Segundo Leo G. Cox, esse ritual tem o seguinte significado: “O sangue na ponta da orelha direita significava santificação de sua atenção; no dedo polegar da mão direita, o sangue consagrava simbolicamente os serviços feitos pelas mãos; o sangue no dedo polegar do pé direito devotava a Deus o andar nesta vida. A mistura de sangue com óleo ‘simbolizava a união íntima que existe entre a justificação e a santificação – o sangue expiatório e a graça santificadora do Espírito Santo’. A pessoa e as vestes dos sacerdotes eram santificadas (Êx 29:21), quer dizer, tornadas santas por serem dedicadas ao serviço santo”.

O restante do ritual, conforme descrito no texto sagrado, é muito bem sintetizado por Leo G. Cox:

Moisés poria nas mãos dos sacerdotes partes deste carneiro das consagrações, junto com porções do pão, bolos e coscorões que estavam na cesta (Êx 29:22,23; ver Êx 29:2). Por um movimento horizontal em direção ao altar, os sacerdotes tinham de apresentá-los como oferta ritualmente movida, simbolizando entrega a Deus (Ê 29:24). Depois, Moisés queimava a porção de Deus no altar (Êx 29:25) por cheiro agradável ao Senhor. Retinha o peito do carneiro das consagrações para si (Êx 29:26), a parte que normalmente ia para o sacerdote que oficiava a oferta do peito do movimento. O peito e o ombro dos sacrifícios pacíficos – como pode ser chamado este tipo de oferta (Êx 29:28) – eram porções habituais para o sacerdote (Êx 29:27). O peito era movido em movimento horizontal e o ombro era alçado (ou erguido) em movimento vertical em atos simbólicos de dá-los a Deus.

2. Sacrifícios diários. A impressionante cerimônia de consagração dos sacerdotes durou sete dias (Êx 29:35). Durante esse período observaram-se cada dia os mesmos ritos observados no primeiro dia. Dessa forma, toda a congregação podia compreender o quanto Deus é santo e que foi ele próprio quem instituiu a ordem sacerdotal.

Segundo Silas Daniel, as vestes do sumo sacerdote eram passadas para o seu filho por ocasião da consagração deste como novo sumo sacerdote (Êx 29:29,30). O novo sumo sacerdote deveria passar pelo mesmo cerimonial de consagração de seu pai, com o azeite sendo derramado sobre aquelas vestes mais uma vez – e sobre ele,  pela primeira vez. A indumentária não seria nova – seria a mesma usada por seu pai -, mas a experiência seria nova para o novo sumo sacerdote. Isso fala que as responsabilidades, representadas aqui pela indumentária, se transferem, mas a consagração e a unção, não. O novo ministro tem que ter a sua própria experiência de confirmação e capacitação para o oficio dadas por Deus.

O sacrifício diário. O texto de Êx 29:38-46 mostra os requisitos para os sacrifícios diários sobre o altar. A oferta diária era dois cordeiros novos, simbolizando entrega imediata a Deus: um pela manhã e outro à noite (Ex 29:39). A obediência de Israel a Deus nestas cerimônias era a garantia do poder santificador divino. Deus santificaria o Tabernáculo e o altar para uso especial, e a casa de Arão para sua obra peculiar (Ex 29:44). Por causa desta santificação, os israelitas seriam filhos de Deus e Deus habitaria entre eles (Ex 29:45). Assim, eles saberiam “que eu sou o Senhor seu Deus” (Ex 29:46).

Segundo Leo G. Cox, hoje, estas verdades são cumpridas de forma gloriosa nos crentes em Cristo! Primeiramente, levaram seus pecados ao pé da cruz e, pela fé, receberam o perdão de Deus. Em obediência humilde, oferecem sacrifícios diários de louvor e oração que são aceitáveis a Deus. Com a lei escrita no coração, recebem a santidade de Deus pela obediência à verdade que o Espírito Santo mostra (1Pe 1:22) e, por fim, o Espírito Santo habita neles continuamente.

Que este sacrifício diário possa nos fazer lembrar de nunca deixar passar uma manhã ou uma noite sem tirarmos tempo para confessarmos nossos pecados, orarmos e adorarmos Cristo, nosso Salvador.

III. CRISTO, PERPÉTUO SUMO SACERDOTE

Para que se tivesse o ministério sacerdotal de Cristo, forçoso era que o ministério sacerdotal levítico se interrompesse. E foi, precisamente, o que ocorreu, quando do próprio julgamento de Jesus. Quando Jesus foi levado ao sumo sacerdote, que era Caifás (João 18:13), este, após a declaração de Jesus de que o Filho do homem viria sobre as nuvens do céu, assentado à direita do Poder, rasgou as suas vestes (Mt 27:65), o que era vedado ao sumo sacerdote fazer (Lv 21:10). Tal gesto representou o término do sacerdócio levítico como tal, que, a partir de então, não teve mais qualquer valor diante de Deus, tendo sido encerrado com a destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 d.C.

1. Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Jesus é descrito de vários modos nas Escrituras: Ele é o bom Pastor, o Pastor Supremo (João 10:11; 1Pe 5:4), Rei (Ap 19:16; Atos 2:29-36), Profeta (Dt 18:17-19; Atos 3:22-23; Lc 13:33), Mediador (Hb 8:6; 1Tm 2:5) e Salvador (Ef 5:23). Cada uma destas descrições salienta alguma função que Jesus desempenha no plano da salvação. Contudo, a mais completa descrição de Jesus com respeito a sua obra redentora seja a de Sumo Sacerdote - “Sendo por Deus chamado sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque” ((Hb 5:10).

Se Jesus é o Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, que é a ordem superior de sacerdócio, e se é sacerdote eterno, não há como pensarmos em outro ser que possa mediar entre Deus e os homens. Só há um mediador entre Deus e os homens e este é Jesus Cristo homem (1Tm 2:5). Isto é importantíssimo, pois, todos quantos se apresentarem (e são muitos os que assim o fazem na atualidade), como mediadores entre Deus e os homens, como pessoas que se interpõem entre Deus e o pecador, são “falsos cristos”, devendo, portanto, ser refutados e rejeitados pelos servos do Senhor.

2. O sacrifício perfeito de Cristo. O sacerdócio de Jesus é superior ao sacerdócio levítico, porque Jesus jamais pecou e, por isso, pôde oferecer um sacrifício perfeito e único (Hb 9:25-28), de forma que, ao contrário dos outros sacerdotes, não houve apenas cobertura dos pecados, mas, sim, a sua remoção, o seu completo perdão, com o pagamento do preço da redenção, que custou o sangue de Jesus. Por isso, Jesus nos purifica de todo pecado (1João 1:7), sendo Ele a propiciação pelos pecados de todo o mundo (1João 2:2). Por isso, é Ele, ainda hoje, o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5).

Em virtude deste sacrifício suficiente e que se fez propiciação pelos pecados de todo o mundo (1João 2:2), Jesus assumiu o papel de mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5; Hb 8:6; 9:15; 12:24), intercedendo atualmente, à direita do Pai, pelos transgressores (Is 53:12; Rm 8:34). Jesus é o Sumo Sacerdote, pois é a Cabeça da Igreja (Ef 1:22; 5:23), que é composta de sacerdotes (1Pe 2:5,9; Ap 1:6; 20:6).

Portanto, o sacerdócio de Jesus é o sacerdócio estabelecido na dispensação da graça, que substitui o sacerdócio levítico, que, imperfeito e desvirtuado, não mais podia cumprir o seu desiderato. Com efeito, Deus já estava a abominar os sacrifícios, vistos que totalmente desacompanhados de uma verdadeira conversão (Is 1:11-15; Ez 22:26; Ml 1:7-10).

3. O sacrifício eterno de Cristo (Hb 7:24). “Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo”. O historiador Josefo estimava que oitenta e três sumos sacerdotes serviram a Israel, desde o primeiro sumo sacerdote, Arão, até a queda do segundo Templo, em 70 d.C. Cada um serviu em seu ofício, e por fim morreu. Mas Jesus permanece eternamente. Todo sumo sacerdote passaria o seu oficio para o seu sucessor; Cristo não; o Seu sacerdócio é perpétuo, e não há interrupção em sua eficácia. Ele é imutável e intransferível. Só Jesus é qualificado para se tornar um sacerdote perpétuo para toda a raça humana.

CONCLUSÃO

As cerimônias de purificação e consagração dos sacerdotes, bem como os sacrifícios diários apontavam para o sacrifício perfeito e o sacerdócio eterno de Cristo; lembravam a Israel da sua imperiosa necessidade de um Salvador. Temos livre acesso à presença de Deus por meio do ministério perfeito e definitivo de Jesus Cristo, um ministério perpétuo em nossa favor, no qual Ele está “sempre vivendo para interceder por todos nós” ( Hb 7:25b). Glórias sejam dadas a Ele para sempre, Amém!

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 57 – CPAD.

Eugene H. Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.

Paul Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.

Leo G. Cox -  O Livro de Êxodo - Comentário  Bíblico Beacon. CPAD.

Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.

Silas Daniel – Uma jornada de Fé (Moisés, o Êxodo e o Caminho à Terra Prometida). CPAD.

 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Aula 11 – DEUS ESCOLHE ARÃO E SEUS FILHOS PARA O SACERDÓCIO


1º Trimestre/2014

 
Texto Base: Êxodo 28:1-11

 
“ E para o nosso Deus os fizestes reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra” (Ap 5:10)

 

INTRODUÇÃO

Dando continuidade a nossa “Jornada de Fé” rumo à Terra Prometida, trataremos nesta Aula acerca da escolha de Arão e seus filhos para o sacerdócio. Israel ainda está no Sinai. Já foi reconhecida como nação eleita, ao entrar em um relacionamento de aliança com Deus (Êx 19:3-8). Já recebeu o Decálogo, como estatutos perpétuos a serem obedecidos (Êx 20:6; 24:12). O Tabernáculo já foi definido (Êx 25:8) como o lugar de adoração ao único Deus verdadeiro. Agora, Deus estabelece e define o sacerdócio, no qual a pessoa vocacionada teria a responsabilidade de ensinar ao povo o caminho da verdadeira adoração.

Deus separou a tribo de Levi para o serviço no Tabernáculo e para o santo ministério sacerdotal. Originalmente, Deus nomeou a Arão e seus filhos para constituírem o sacerdócio. Os levitas, que não eram sacerdotes, eram os ajudantes destes; eles assistiam os sacerdotes em seus deveres, transportavam o Tabernáculo e cuidavam dele. O capítulo 28 de Êxodo, bem como o Livro de Levítico, trata acerca disso.

A vocação sacerdotal seria hereditária, de modo que os sacerdotes podiam transmitir a seus filhos as leis detalhadas relacionadas com o culto e com as numerosas regras às quais os sacerdotes viviam sujeitos, a fim de manterem a pureza legal que lhes permitisse aproximar-se de Deus.

I. O SACERDÓCIO (Êx 28:1-5)

O ministério sacerdotal surgiu como uma necessidade para que houvesse o devido relacionamento entre Deus e os homens, ante a entrada do pecado no mundo.

1. O sacerdote. Deus ordenou a Moisés que separasse a Arão e seus filhos para este tão grande e sublime mister. Essa escolha divina foi confirmada mediante a unção, que seguiu um rito todo especial, determinado pelo próprio Deus (cf Lv cap. 8). O sacerdote era um mediador que ensinava a lei, mas principalmente oficiava os cultos religiosos dos israelitas. Eles só podiam vir da tribo de Levi.  No entanto, o simples fato de alguém ser levita não fazia dele um sacerdote.

Para atuar como sacerdote, era necessário o chamado de Deus -  "Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão" (Hb 5:4).  Então, ser sacerdote era uma honra especial, e os que desempenhavam essa função eram diretamente chamados por Deus. Os demais levitas, embora desempenhassem trabalhos importantes na vida religiosa de Israel, não eram sacerdotes. Os sacerdotes da ordem levítica eram consagrados ou separados por Deus para esse trabalho especial (Êx 28:1-4). Isso significa que eram santos, não devendo ser consideradas pessoas comuns.

Além disso, para que alguém fosse sacerdote, essa pessoa precisava não só ser da tribo de Levi, ser chamada por Deus para o trabalho e ser consagrada, mas tinha de estar isenta de deformidades físicas e de outras contaminações (veja Levítico 21). Ainda que uma pessoa preenchesse alguns dos outros requisitos, se fosse cega, coxa ou de algum modo deformada, não podia atuar como sacerdote. Então, vemos que os que eram sacerdotes no sistema do Antigo Testamento eram especiais, santos e sem deficiências. Isso apontava para o Sumo Sacerdote da Nova Aliança, Jesus Cristo (Hb 6:20), que é perfeito e seu sacrifício por nós foi único, completo e aceito pelo Pai.

1.1) Os sacerdotes viviam sob leis especiais.

a) Não podiam se casar nem com viúva, nem com repudiada; casavam-se com virgens da linhagem da casa de Israel, ou viúva que fosse viúva de sacerdote (Ez 44:22).

b) Não podiam contaminar-se pelos mortos, exceto pelos parentes mais próximos (Lv 21:1-6).

c) Não podiam beber vinho, enquanto estivessem servindo no tabernáculo (Lv 10:9; Ez 44:21).

d) Não podiam contaminar-se, comendo o que tinha morrido por si mesmo (Lv 22:8).

e) Enquanto estivessem imundos, não podiam realizar qualquer serviço (Lv 22:1.2; Nm 19:6.7).

f) Enquanto estivessem imundos, não podiam comer das coisas santas (Lv 22:3-7).

g) Nenhum hóspede ou servo contratado podia comer de sua porção (Lv 22:10).

i) Seus filhos, casados com estranhos, não podiam comer sua porção (Lv 22:12).

j) As pessoas que ignorantemente comessem de suas coisas santas, tinham de fazer restituição (Lv 22:14-16).

k) Eram castigados aqueles que invadissem seu oficio (Nm 16:1-35; 10:7; 2Cr 26:16-21).

1.2) As deficiências (veja Hebreus 8:7-8).

a) Os próprios sacerdotes eram pecadores. O sumo sacerdote tinha de oferecer, no dia da expiação, quando entrava no lugar santíssimo, em primeiro lugar, um sacrifício por si mesmo (Lv 16:11), prova de que o sumo sacerdote era um ser humano e, como tal, dotado de natureza pecaminosa, dependendo, assim, do perdão divino. O primeiro ato da consagração dos sacerdotes era a lavagem com água (Lv.8:6), ato de purificação e que, portanto, é outra maneira de se dizer que o sumo sacerdote era homem como qualquer outro, dependente da purificação dos seus pecados. Veja Lv 10:1,2; 9:7,8; Hb 8:3; 9:6,7.

b) Ofereciam sacrifícios contínuos. Os sacrifícios tinham de ser oferecidos repetidas vezes - "Faz-se recordação de pecados todos os anos" (Hb 10:3). Ficamos perplexos quando lemos o Antigo Testamento com detença e vemos os vários sacrifícios que tinham de ser oferecidos pelos sacerdotes a favor de cada israelita, e a frequência com que tinham de ser oferecidos. Veja Êx 29:38,41,42; 30:10; Nm 28:1-3.

c) os sacrifícios que ofereciam pelo povo não podiam eliminar o pecado (Hb 10:1-4; 9:9,10). O efeito da expiação era temporário - "Porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados"(Hb 10:4).  Debaixo do sistema transitório da lei, Deus aceitava sacrifícios de animais como substituto do único sacrifício que poderia realmente eliminar o pecado: o sacrifício do “Cordeiro de Deus”, que não tinha pecado.

2. O ministério dos sacerdotes. O ministério sacerdotal era, essencialmente, de intercessão. O sacerdote era um mediador entre o povo e Deus, e não apenas no que diz respeito ao oferecimento de sacrifícios para expiação das culpas do povo, mas também no sentido mais comum, de orar em favor do povo.

Destacamos várias outras funções:

a) Tomar conta do tabernáculo (Nm 18:1,5.7).

b) Cobrir os objetos sagrados do santuário antes de sua remoção (Nm 4:5-15).

c) Oferecimento de sacrifício (Lv 1 a 6; 2Cr 29:34; 35:11).

d) Acender e conservar em ordem as lâmpadas do santuário (Êx 27:20,21; Lv 24:3,4).

e) Conservar sempre aceso, o fogo do altar (Lv 6:12,13).

f) Queimar o incenso (Êx 30:7,8; Lc 1:9).

g) Colocar e remover os pães da proposição (Lv 24:5-9)

h) Oferecer os primeiros frutos (Lv 23:10,11; Dt 26:3,4).

i) Abençoar o povo (Nm 6:23-27).

j) Purificar os imundos (Lv 15:30,31).

k) Decidir os casos de ciúme (Nm 5:14,15).

l) Decidir os casos de lepra (Lv 13:2-59).

m) Julgar os casos de controvérsia (Dt 17:9-13; 21:5).

n) Ensinar a lei (Dt 33:10; Ml 2:7).

o) Tocar as trombetas em várias ocasiões (Nm 10:1-10; Is 6:3.4).

p) Transportar a Arca (Js 3:6,17; 6:12).

q) Encorajar o povo, ao irem à guerra (Dt 20:1-4).

Na época de Davi, os sacerdotes foram divididos em 24 turnos, para ordenar melhor o serviço de cada um no Santuário (1Cr 24); e os levitas passaram a exercer trabalhos ainda mais especializados, como os de cantores e músicos (1Cr 25), porteiros (1Cr 26:1-19), guardas dos tesouros e zeladores do Templo (1Cr 26:20-28), oficiais e juízes (1Cr 26:29-32).

A Bíblia diz que originalmente Deus desejava tornar a nação de Israel, como um todo, em um reino sacerdotal (cf. Êx 19:5,6), entretanto, devido ao comportamento da nação, Ele escolheu a família de Arão como linhagem sacerdotal. O sacerdote universal envolvendo todo o povo de Israel terá o seu cumprimento no reino milenial de Cristo, conforme Isaías 61:6 – “Vós sereis chamados sacerdotes do Senhor, e vos chamarão ministros de nosso Deus”.

3. O Sumo Sacerdote. Era o sacerdote mais importante. Arão foi o primeiro sumo sacerdote da história de Israel (Êx 28:1-3), cuja função era, primordialmente, a de interceder a Deus por todo o povo, notadamente no dia da expiação (Lv 16; 23:26-32), quando ingressava no lugar santíssimo e ali, depois de ter feito sacrifício antes por si mesmo, oferecia um sacrifício em nome de todo o povo, ocasião em que Deus aplacava a sua ira e diferia, por mais um ano, a punição pelos pecados cometidos. Era responsabilidade do sumo sacerdote aspergir sangue sobre o propiciatório - como era chamada a tampa de ouro da arca do concerto -, que ficava dentro do lugar santíssimo, e este sangue trazia favor ao povo de Israel, pois, por causa deste sangue, o pecado do povo era coberto e Deus se mostrava favorável, não castigando o povo pelo pecado cometido.

O sumo sacerdócio era um cargo hereditário (Ex 28:43), dado ao primogênito do vigente sumo sacerdote, com exceção dos casos de enfermidade ou mutilação previstos pela Lei (Nm 3:1-13; Lv 21:16-23). No caso da família de Arão, como o primogênito Nadabe e seu irmão Abiú foram mortos por levarem fogo estranho diante de Deus, Eleazar sucedeu o sumo sacerdócio (Nm 20:25,26).

Somente o Sumo Sacerdote usava o peitoral com os nomes das doze tribos de Israel e atuava como mediador entre toda a nação e Deus. Somente ele tinha o direito de consultar ao Senhor mediante Urim e Tumim. Embora o sacerdote em alguns aspectos prefigure o cristão, o sumo sacerdote simbolizava Jesus Cristo (ver 1Pe 2:5,9; Hb 2:17; 4:14).

Restrições: Por ser tão honrosa e de muita responsabilidade, o sumo sacerdote era cercado de uma série de restrições, muito superiores a todo e qualquer outro israelita. Assim, por exemplo, não podia descobrir a sua cabeça, nem tampouco rasgar os seus vestidos (Lv 21:10), como também não poderia se chegar a qualquer cadáver, nem mesmo de seus pais (Lv 21:11), tendo de casar com mulher virgem, sendo-lhe vedado casar com mulher repudiada ou, mesmo, viúva (Lv 21:13,14).

4. Jesus Cristo é o nosso perfeito Sacerdote. Os sacerdotes de Israel eram apenas sombras do nosso grande Sumo Sacerdote, o Senhor Jesus Cristo. Algumas passagens nos dão uma compreensão da perfeição encontrada no caráter sacerdotal de Cristo:

a) Cristo como Sacerdote foi designado e escolhido por Deus - "Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Hoje te gerei"(Hb 5:5).

b) Ele não tem pecado - “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus”(Hb 7:26).

c) O Seu sacerdócio é inalterável - "E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer, mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo"(Hb 7:23-24).

d) O Seu oferecimento é perfeito e definitivo - “Nem também para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio; De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo. E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação"(Hb 9:25-28).

e) Ele Intercede continuamente - “Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles"(Hb 7:24-25).

f) Ele é o único Mediador - "Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (1Tm 2:5).

II. A INDUMENTÁRIA DO SACERDOTE

1. As vestes do Sacerdote. Os sacerdotes, quando estivessem ocupados com as funções sacerdotais deviam usar “vestes santas” (Êx 28:3). Essas vestes eram feitas do melhor linho fino, que era um símbolo de pureza. Os materiais para fazer as vestes sacerdotais eram os mesmos das cortinas e do véu do Tabernáculo (Êx 26:1,31,32;28:5,6). Eram obras primorosas para que os sacerdotes estivessem vestidos com dignidade e formosura. Eles não poderiam apresentar-se diante do Senhor de qualquer maneira. Havia quatro vestes prescritas por Deus aos sacerdotes:

- Os calções de linho, que serviam para cobrir as partes íntimas e as coxas do sacerdote (Êx 28:42).

- O manto ou túnica de linho fino e branco (Êx 28:39,40). Isto lhe recordava seu dever de viver uma vida pura e santa. Também, apontava para a pureza, perfeição e justiça de Cristo.

- O cinturão de linho, com bordado e usado para prender as roupas (Êx 28:39,40).

- A tiras para a cabeça, isto é, para o turbante ou mitra (Êx 28:37,40).

2. As vestes do Sumo Sacerdote. Além das quatro peças básicas anteriormente citadas, havia outras quatro que eram usadas apenas pelo sumo sacerdote. As vestimentas manifestavam a dignidade da mediação sacerdotal e lembrava ao intercessor que ele deveria se comportar com o devido decoro, bem como levava o povo a se comportar em santa reverência diante de Deus.

a) O Manto azul (Êx 28:31-35). Esta peça era usada sobre a túnica branca. Ela se estendia do pescoço até abaixo dos joelhos. As orlas do Manto eram adornadas com campainhas de ouro e romãs azuis que se alternavam. Como a romã tem muitas sementes, é considerada símbolo de uma vida frutífera. As campainhas de ouro anunciavam os movimentos do sumo sacerdote à congregação fora do Tabernáculo no Dia da Expiação. Desse modo, sabiam que ele não havia morrido ao entrar no lugar santíssimo, mas que sua mediação havia sido aceita. Alguns estudiosos da Bíblia têm visto igualmente aí uma verdade espiritual para o cristão; segundo eles, as campainhas podem representear o testemunho verbal, e as romãs, o fruto do Espírito. Ambos andam juntos e devem ser de igual importância para o cristão.

b) O Éfodo ( Êx 28:6-14). Ele consistia em um colete com as partes da frente e de trás unidas por tiras sobre cada ombro e por um cinturão à altura da cintura. Era feito de linho nas cores ouro, azul, púrpura e escarlate. Nas tiras sobre os ombros, havia duas pedras sardônicas, uma de cada lado, trazendo o nome das doze tribos de Israel – seis nomes em uma pedra e os outros seus nomes na outra (Êx 28:9,10). O texto bíblico diz que a ordem dos nomes era “segundo as suas gerações” (Êx 28:10), o que significa dizer que a disposição dos nomes nas pedras obedecia à ordem de nascimento dos doze filhos de Israel que davam nome às tribos. O fato de o sumo sacerdote levar o nome das doze tribos nos ombros tinha um significado claro: ele, como intercessor entre o povo e Deus, levava em seus ombros todo o povo de Israel. O propósito divino era que, cada vez que o sumo sacerdote vestisse o éfode, se lembrasse disso (Êx 28:12).

c) O peitoral do juízo (Êx 28:15-30). Esta peça era colocada sobre o éfode, na frente. Era uma bolsa quadrada de aproximadamente vinte centímetros. Era a parte mais magnífica e mística das vestes sacerdotais. Tinha na frente doze pedras de diferentes tipos e cores; cada pedra preciosa tinha o nome de uma das tribos de Israel (Ex 28:21). O significado aqui é claro: no éfode, o sumo sacerdote levava os nome das tribos de Israel sobre os ombros, a parte do corpo que representa a força e; no peitoral, sobre seu coração, o órgão representativo da reflexão e do amor. Ele não somente representava Israel diante de Deus, mas também intercedia em favor da nação. A verdadeira intercessão brota do coração e se realiza com todo o vigor. Ele é, sobretudo, uma imagem de nosso grande Intercessor no Céu, em cujas mãos estão gravados nossos nomes (Is 49:16).

Urim e Tumim. O sumo sacerdote usava dentro do peitoral o Urim e o Tumim, que significavam “luzes e perfeições”. Eram empregados para consultar ao Senhor. Segundo se crê, era duas pedrinhas, uma indicando resposta negativa e a outra, resposta positiva. Não se sabe como eram usadas, mas é provável que, em situações difíceis, fossem retiradas de algum lugar ou lançadas ao acaso, ao fazer-se uma consulta propondo uma alternativa: “farei isto ou aquilo?” e, segundo saísse Urim ou Tumim, interpretava-se a resposta, segundo a vontade de Deus (Êx 29:10; Nm 16:40; 27:21; Ed 2:63; 1Sm 14:36-42; 2Sm 5:19).

d) Lâmina de ouro à sua testa (Êx 28:36-38). Esta peça era usada na frente da mitra sacerdotal, isto, do turbante (Êx 28:37) com as seguintes palavras gravas sobre ela: “Santidade ao Senhor” (Êx 28:36). Isto proclamava que a santidade é a essência da natureza de Deus e indispensável a todo o verdadeiro culto prestado a Ele. O sumo sacerdote era a personificação de Israel e sempre era seu dever trazer à memória do povo a santidade de Deus.

Ao povo da Nova Aliança é exigido santidade, quando nos apresentamos ao Senhor para prestar-lhe culto. Como nós somos templos do Espirito Santo (1Co 6:19), logo a santidade deve ser buscada constantemente. Está escrito: “Sede santos em toda a vossa maneira de viver”(1Pe 1:15).

Assim como as vestes sujas do sumo sacerdote Josué, na visão do profeta Zacarias, representavam a sua iniquidade (Zc 3:3,4), as vestes santas dos sumo sacerdotes representavam a pureza e a perfeição de Cristo como o nosso Sumo Sacerdote definitivo e por excelência (Hb 7:26).

Silas Daniel citando Matthew Henry diz que “o nosso adorno agora, sob o evangelho, tanto o dos ministros quanto o de todos os cristãos, não deve ser de ouro ou pérolas, nem custoso, mas deve ser composto das vestes da salvação e do manto da justiça” (Is 61:10; Sl 132:9,16).

III. MINISTROS DE CRISTO PARA A IGREJA

A Igreja é chamada “reino sacerdotal” (1Pe 2:9), cujo único Sumo Sacerdote  é o Senhor Jesus. Ele ofereceu o sacrifício de Si mesmo, e entrou no santuário celestial, apresentando-se diante do Pai (Hb 2:17; 4:15).

Assim como os sacerdotes do Antigo Testamento, os ministros de Cristo precisam ser consagrados ao Senhor, ser purificados de toda culpa, ungidos com o Espirito Santo, afim de que o culto tenha a qualidade desejada pelo Senhor, sendo, assim, aceitável diante dEle. Além disso, a vida do ministro deve ser coerente com o culto ou serviço que prestam a Deus.

O sacerdote do Antigo Testamento não podia se contaminar, pois era consagrado a Deus. Suas magnificas vestes representavam uma vida caracterizada pela beleza do testemunho, por valores espirituais e pureza moral. As roupas, em muitos textos bíblicos, simbolizam um modo de agir, um estilo de vida (Ap 19:8). Se todos os cristãos devem estar à altura das exigências de Deus para os sacerdotes, o que dizer dos ministros Eclesiastes?

O sacerdote não era perfeito, mas devia estar sempre disposto a reconhecer seus pecados, abandoná-los e oferecer o sacrifício correspondente. Jesus já ofereceu o sacrifico definitivo. O que precisamos, então, é de uma apropriação pela fé dos méritos do Calvário, que nos limpam e nos colocam em condições de entrarmos no santuário de Deus.

É válido ressaltar que o ministro do Senhor Jesus nos dias de hoje também deve observar o chamado divino para a sua vida, a santificação e a unção de Deus para exercer o seu ministério, o principio da submissão no seu dia a dia e a necessidade de exercer o seu ministério conforme a vontade de Deus (cf 1Tm 3:1-7; 6:11,12; Tt 1:7-9; 1Pe 5:1-4). Ainda, o ministro deve se lembrar de que sua função no reino de Cristo não é simplesmente um cargo ou uma forma de se alcançar status seja ele qual for. Pense nisso!

CONCLUSÃO

O sacerdócio de Arão apontava para Cristo, o único mediador entre Deus e os homens e que intercede diante do Pai por nós (1Tm 2:5). No Novo Testamento, não há mais linhagens de sumo sacerdotes, porque o nosso único e definitivo Sumo Sacerdote é Cristo, que através do seu sacrifício acabou com a necessidade de novas ofertas e sacrifícios (Hb 7:1-8). Todos os cristãos são sacerdotes diante de Deus (1Pe 2:5,9; Ap 1:5,6; 5:9,10).  Portanto, todo o povo de Deus da Nova Aliança pode se apresentar diretamente a Deus para oferecer-lhe sua adoração (Hb 10:19-23; 13:15). Por isso, devemos ter uma vida exemplar, quer em atitudes quer em palavras.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 57 – CPAD.

Eugene H. Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.

Paul Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.

Leo G. Cox -  O Livro de Êxodo - Comentário  Bíblico Beacon. CPAD.

Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.

Silas Daniel – Uma jornada de Fé (Moisés, o Êxodo e o Caminho à Terra Prometida). CPAD.

domingo, 2 de março de 2014

Aula 10 – AS LEIS CIVIS ENTREGUES POR MOISÉS AOS ISRAELITAS


1º Trimestre/2014

 
Texto Básico: Êxodo 21:1-12

 
“Mas o juízo voltará a ser justiça, e hão de segui-lo todos os retos de coração” (Sl 94:15)

 

INTRODUÇÃO

Depois de entregar o Decálogo (Êx 20:1-17), Deus entregou o “Livro da Aliança”, que são as leis que regem a sociedade israelita e seu culto a Deus, e que estão registradas em Êxodo 20:22 a 23:33. Essas leis foram adaptadas a um povo dedicado ao pastoreio e à agricultura rudimentar. Elas colocavam a nação de Israel em absoluto contraste com as práticas das nações ao seu derredor. São leis humanitárias, morais e religiosas, que mesmo sem alcançar os princípios do Novo Testamento, foram infinitamente superiores às leis de outros povos. Todo o complexo dessas leis estabelecidas se baseia na autoridade de Deus e não na de um governante humano. Tanto as leis morais, legais e religiosas estão entretecidas e são inseparáveis. Isto demonstra que Deus se interessa por todos os aspectos da vida do seu povo.

As leis eram aplicadas sem fazer acepção de pessoas segundo sua categoria. Protegiam os indefesos tais como os escravos, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. Os castigos da lei manifestam um alto conceito do valor da vida humana. A lei de talião (pena igual à ofensa), "olho por olho, dente por dente" (Êx 21:23-25), não foi dada para que a pessoa ultrajada exercesse vingança, mas para que não quisesse compensar-se com mais do que era justo. Já não seria vingado sete vezes um delito contra seu próximo (Gn 4:15,24).

Segundo a Bíblia de Estudo Pentecostal, “essas leis, que eram principalmente civis em sua natureza, tinha a ver somente com Israel, sua religião e as condições e circunstâncias prevalecentes naquele período. Entretanto, os princípios existentes nessas leis - tais como o respeito à vida, apego à justiça e à equidade - são eternamente válidos”.

I. MOISÉS, O MEDIADOR DAS LEIS DIVINAS

1. O mediador (Êx 20:19-22). Depois que Deus entregou o Decálogo, o povo ficou amedrontado por causa das manifestações da presença divina e temeu perder a vida caso o Senhor falasse diretamente com ele (Êx 20:18). Por causa disso, elegeu Moisés como mediador. Disseram os israelitas: “Fala tu conosco, e ouviremos; e não fale Deus conosco, para que não morramos” (Êx 20:19). Deus concordou com a mediação de Moisés: “Assim falarás aos filhos e Israel” (Êx 20:22). Mas, não era isso que Deus queria. Ele queria colocar a Sua Lei diretamente no coração do povo, e não em pedras (Êx 19:10,11). Mas, o povo não estava preparado espiritualmente para esse fim. Aqui, podemos extrair duas verdades:

a) Que Moisés não foi nem autor e nem revisor do “Livro da Aliança”, mas apenas um mensageiro, um porta-voz da verdade, sendo jamais aquele que a criou. Aliás, aqui caberia o dito de Pedro, que diz: “a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espirito Santo” (2Pe 1:21). A Bíblia, e especialmente essa parte de Êxodo, é bastante enfática em demonstrar que Moisés não passa de uma porta-voz da verdade, sendo jamais aquele que a criou.

b) Com certeza, Deus desejava falar diretamente com o seu povo e não somente por intermédio de Moises. Mas os israelitas não suportaram ouvir a voz de Deus porque as suas iniquidades os impossibilitavam de estar diante de Deus face a face. O pecado nos impede de vermos a face do Altíssimo e ouvir a sua voz: “Mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus...”(Is 59:2). Veja o caso de Adão, o Senhor falava com ele pessoalmente, todavia depois de pecado, ao ouvir Deus chamar, Adão se esconde da presença do Criador (Gn 3:8).

Moisés tipificava Jesus, o único mediador entre Deus e os homens: “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” (1Tm 2:5). Sem Cristo não podemos nos aproximar de Deus nem ouvir a sua voz.

2. Leis concernentes à escravidão (Êx 21:1-7). A escravidão é uma forma cruel de degradação humana. Somente o homem sem Deus pode aceitar tal condição.

O Altíssimo nunca compactuou com a escravidão, todavia esta prática desumana já fazia parte do contexto social dos israelitas e precisava ser ordenada por uma legislação que amparasse o indivíduo. Depois de centenas de anos escravizados no Egito (Êx 1:8-14), os israelitas deveriam abominar tal prática, todavia ela existia entre os hebreus. As leis civis entregues por Moisés tinha como propósito regulamentar essa triste condição social. Segundo Leo G. Cox, "a lei não exigia que houvesse escravidão, mas visto que existia, essas leis regulamentares regiam a manutenção das relações certas".

A Lei previa a possibilidade de um hebreu se tornar escravo para saldar uma dívida, restituir algo roubado ou por ser filho de escravos. Mas, só poderia ficar na condição de escravo durante seis anos (Êx 21:2); portanto, segundo a Lei, ninguém podia ser vendido para escravidão perpétua; no sétimo ano a pessoa escrava deveria ser alforriada. Durante essa fase, o escravo aprendia algumas atividades com seu patrão; depois, recebia um capital para começar uma nova vida (ver Dt 15:12-18); porém, isso não se aplicava à mulher, filha do escravo; o texto sugere que ela viraria uma escrava-esposa; logo, seria tratada como uma pessoa da família.

Se a pessoa estivesse casada ao se tornar escrava, então sua mulher também seria libertada. Porém, se casasse durante o período de escravidão, sua mulher e seus filhos pertenceriam ao seu senhor. Mas, neste caso, poderia optar por permanecer escravo se concordasse voluntariamente em furar sua orelha para se identificar com a casa do senhor. Esse procedimento era um belíssimo símbolo de Cristo, o Servo perfeito que nos amou de tal maneira que, em vez de sair livre, preferiu ser traspassado na cruz do Calvário. Em virtude da Obra que o Salvador realizou a nosso favor, deveríamos nos entregar voluntariamente a Ele como escravos, servos.

3. Ricos e pobres (Dt 15:4-11; João 12:8). Entre o povo hebreu, como em todas as sociedades, sempre existiu pobres e ricos (Dt 15:11; João 12:8). Em geral, a pobreza era resultado de catástrofes naturais, problemas com as colheitas, guerras e rebeldia do povo em obedecer aos mandamentos do Senhor. Mas Deus se preocupou em estabelecer leis para que as pessoas pudessem pagar suas dividas; Ele sempre quer o melhor para o ser humano que Ele criou e abençoou (Gn 1:27,28).

Como povo consagrado ao Senhor os israelitas deviam manifestar a santidade em todos os aspectos da vida; esta santidade devia expressar-se de várias formas, dentre elas estava o dever de cancelar as dívidas a cada sétimo ano, o ano de remissão (Dt 15:1-6, 12-18). Esta lei tinha o propósito de evitar que os ricos aumentassem seus bens e os pobres se empobrecessem mais com o correr do tempo. Também deviam deixar em liberdade os que tinham sido forçados a vender-se ou colocar-se a serviço do seu credor para liquidar suas dívidas. A remissão do Senhor mostra que Ele é misericordioso. É, também, símbolo da libertação muito maior que Cristo iria realizar (Lc 4:18).

É fato de que a pobreza, considerado por alguns de “pecado social” só será extirpado quando do reino milenial de Cristo. Todavia, a igreja não está impedida e nem dispensada de lutar para que haja melhorias na vida em sociedade, para que a injustiça e as desigualdades sociais sejam diminuídas. Jesus dá-nos o exemplo, pois, embora confirmasse que os pobres sempre existiriam (Mt 26:11; João 12:8), nem por isso deixava de ter uma bolsa para ajudar os pobres (João 12:5,6). Ademais, o Senhor sempre levantou profetas para denunciar a injustiça social excessiva que, periodicamente, surgia em Israel, precisamente em épocas de maior desvio espiritual (Is 1:17; Jr 22:3; Am 2:4-8), prova de que não admite o conformismo e a omissão como resposta a este estado de coisas. Afinal, se somos o corpo de Cristo, aqui estamos para desfazer as obras do diabo, entre os quais, se encontra a injustiça social (1João 3:8).

II. LEIS ACERCA DE CRIMES

1. Brigas, conflitos, lutas pessoais (Êx 21:18,19).E, se alguns homens pelejarem, ferindo um ao outro com pedra ou com o punho, e este não morrer, mas cair na cama; se ele tornar a levantar-se e andar fora sobre o seu bordão, então, aquele que o feriu será absolvido; somente lhe pagará o tempo que perdera e o fará curar totalmente”.

Deus conhece muito bem a natureza do ser que Ele criou. E sabe que o ser humano é tendencioso a conflitos, disputas, porfias; as pessoas brigam e se ferem (v.18). E para orientar o seu povo em casos de agressões e brigas, o Senhor determinou leis especificas. Essas leis regulamentam reparação/indenização por comportamento violento. Aqueles que feriam outras pessoas com pedra ou com punho (talvez sem a intenção de matar) e a vitima não morresse, mas conseguia levantar-se e andar com o auxilio de uma bengala, ficavam responsáveis por todas as despesas médicas e por todos os prejuízos causados à pessoa pelo tempo que esta permanecesse fora de atividade. A responsabilidade do agressor só acabava quando a vítima ficasse totalmente curada.

O princípio regedor aqui, que deve ser aplicado na Nova Aliança, é que Deus não admite que o seu povo se envolva em brigas, disputas e contendas, pois a Palavra de Deus assim nos adverte: “E ao servo do Senhor não convém contender” (2Tm 2:24). Já imaginou se este principio fosse respeitado à risca? Não haveria tanto divisão, desunião e disputa por poder dentro do orbe evangélico.

Devido à má índole do ser humano, será inevitável que alguém fira um ao outro. Se é assim, então qual deve ser a atitude daquele que nasceu de novo? Sem dúvida, deve ser misericordioso com o ofensor. Estêvão, quando foi apedrejado, orou: “Senhor Jesus, não lhes imputes esse pecado” (At 7:60). O misericordioso perdoa as ofensas. Ele não registra mágoas. Ele não guarda rancor. Ele não armazena ira. Ele perdoa. Ele vence o mal com o bem. Quem não perdoa: não pode oferecer culto a Deus, não pode adorar, não tem paz. Quem não perdoa adoece, é flagelado e nunca pode receber perdão. “O juízo é sem misericórdia para aquele que não exerce misericórdia” (Tg 2:13).

2. Crimes sujeitos a pena capital (Êx 21:12-17). O sexto mandamento é imperativo: “não matarás”. O homicídio doloso, pérfido, insulta a Deus, o doador da vida (Gn 9:6). A existência do ser humano é a Sua mais importante possessão. Por isso, o Senhor expressa Seu desejo de que ela seja honrada, respeitada e preservada. Todavia, o mesmo Legislador que ordenou não matar instruiu que o assassino certamente morrerá (Êx 21:12).

Deus distinguia entre homicídio doloso, ou seja, o assassino quis e premeditou, e homicídio culposo, ou seja, resultante de ato não intencional por parte do assassino.

- Se o individuo não armou cilada (Êx 21:13) para a vítima, mas na providência de Deus o matou (não há acidentes com Deus), então o assassino poderia fugir e se refugiar no altar de Deus;  mais tarde, seriam criadas cidades de refúgio com esse propósito (Nm 35:22-28), e ali o assassino estaria seguro até que a questão fosse julgada e a verdade determinada por tribunal apropriado. Essas cidades apontavam para o refúgio que só Jesus oferece. Através do seu sangue, Ele nos mostra um lugar seguro, onde todos os que quiserem estarão protegidos para sempre do pecado e da morte. “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia”(Salmo 46:1).

- Contudo, no caso de homicídio doloso (isto é, com intenção de matar), nem mesmo o altar de Deus serviria de refúgio para o assassino.

Ferir ou amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe (Êx 21:15,17) era reputado crime passível de pena de morte. No caso da maldição, significava recorrer sob juramento a Deus para que este se unisse contra seu representante na terra. A intenção da Lei era proteger a autoridade dos pais, decretando a morte daquele que ferisse seu pai ou sua mãe. Os filhos tinham de honrar os pais que os representavam diante de Deus.

Também, roubar e sequestrar um homem (Êx 21:16) e mantê-lo como escravo ou vendê-lo para a escravidão, reputava-se crime de pena capital.  Segundo Leo G. Cox, “esta ação era tão grave quanto o assassinato, visto que tomava a liberdade que era estimada como a vida. Neste regulamento, temos a condenação da lei mosaica da pratica comum de escravizar pessoas à força”.

III. LEIS CONCERNENTES À PROPRIEDADE

1. O roubo (Êx 22:1-15). Estas são normas acerca do furto e de danos à propriedade. Elas ensinavam o cuidado e promoviam o respeito pelos direitos de propriedade dos outros. Vamos tratá-las separadamente para uma melhor compreensão.

a) Leis acerca do furto e de danos à propriedade (Êx 22:1-6). De acordo com as normas aqui exaradas, o ladrão tinha de fazer a restituição total pelo dano, dependendo da natureza do furto.

- Se um ladrão fosse morto ao ser achado arrombando uma casa durante a noite, a pessoa que o matou não seria culpada, pois não teria como saber se o motivo do arrombamento era roubo ou assassinato (Êx 22:2). Contudo, se o matasse durante o dia, tornava-se culpado de assassinato (Ex 22:3).

- Se o animal furtado fosse encontrado vivo, o ladrão teria que restituir em dobro (Êx 22:4).

- Se o ladrão de boi ou ovelha não tivesse com que pagar a restituição, deveria ser vendido como escravo (Êx 22:3, final).

- Se o ladrão tivesse matado o boi ou ovelha ele teria que pagar da seguinte forma: “por um boi pagará cinco bois; e pela ovelha, quatro ovelhas”. O texto não indica a razão de pagar cinco bois por um boi e quatro ovelhas por uma ovelha. Segundo Leo G. Cox, “talvez a perda de bois fosse mais grave, porque eram animais utilizados no trabalho, ao passo que as ovelhas eram criadas para o fornecimento de lã e carne”.

b) Leis acerca da desonestidade (Êx 22:7-15). Estas leis tratam dos bens sob custódia (Êx 22:7-13) e dos bens que foram objetos de empréstimos (Êx 22:14,15). Vamos tratá-las separadamente para uma melhor compreensão.

b.1) Os bens sob custódia (Êx 22:7-13). Nas sociedades primitivas, onde não se conheciam transações bancárias, era costume deixar bens nas mãos de outras pessoas. Em tais casos, havia necessidade de leis protetoras.

- Se o dinheiro ou bens entregue aos cuidados de outrem fossem roubados por um ladrão, o culpado, depois de capturado, teria de pagar o dobro (Êx 22:7). Porém, se o ladrão não pudesse ser encontrado, a pessoa a quem foi confiada a guarda do objeto ou dinheiro deveria comparecer perante os juízes com o objetivo de se averiguar sua culpa (Êx 22:8). Em qualquer desses casos, os juízes decidiriam quem era o culpado, se o acusado ou o acusador, e estipulariam o pagamento em dobro.

- Além de bens e dinheiro, também se entregava gado aos cuidados de outra pessoa (Êx 22:10). Se durante o período da guarda o animal morresse ou fosse ferido ou desaparecesse, era necessário haver “um juramento diante do SENHOR” (Êx 22:11) entre as partes para provar a inocência do depositário. Quando o dono aceitava esse juramento, não havia restituição.

- Mas se o animal fosse realmente furtado, o que implicaria falta de cuidado do guardador, então este deveria pagar restituição (Êx 22:12).

- Se o animal fosse morto por um animal selvagem, a pessoa incumbida de guardar o animal estaria livre da culpa caso sua carcaça fosse apresentada como testemunho (evidência) de que fora dilacerada por animais selvagens (Êx 22:13). Neste caso, não haveria necessidade de restituição.

b.2) Empréstimo (Êx 22:14,15). A pessoa era responsável pelo que pedira emprestado. Se o animal emprestado fosse ferido ou morresse e o dono não estivesse presente, o tomador do empréstimo teria que restituir seu valor (Êx 22:14). Mas, se o dono do animal estivesse presente quando ocorreu o fato, não era necessário restituir (Êx 22:15); estar presente o tornava responsável mesmo quando outra pessoa estivesse usando o animal. Além disso, um animal alugado não precisava ser restituído, uma vez que o risco de perda já estava incluso no preço do aluguel – “será pelo seu aluguel”, que pode ser traduzido por: “o dano está incluso no aluguel”.

Perceberam a rigidez dessas leis? Talvez possamos considerá-las rígidas, porém eram grandiosamente justas e pedagógicas. Visavam simplesmente proteger o povo de Israel, organizá-la como nação exemplar no aspecto do direito do próximo, da justiça social e patrimonial, bem como suscitar sua atenção para o Senhor que os tirara do Egito. Eles deveriam ter consciência de que tudo pertencia ao Senhor, e que eles eram apenas mordomos, despenseiros, como bem diz o texto sagrado: “Eis que os céus e os céus dos céus são do SENHOR, teu Deus, a terra e tudo o que nela há” (Dt 10:14).

Com certeza, essas leis e as aplicações de suas penas soam muito estranhas aos nossos ouvidos, mas trazem princípios subjacentes - morais, de justiça social e de direitos - que são válidos ainda hoje.

2. Profanação do solo e o fogo (Êx 21:33,34;22:6). Ainda dentro do grupo de leis regulamentares concernentes aos direitos de propriedade, temos aqui duas situações que eram comuns nos idos veterotestamentários: profanação do solo e o uso do fogo de forma descuidada. Segundo o Comentário Bíblico Beacon, “estas normas ensinavam o cuidado e promoviam o respeito pelos direitos de propriedade dos outros”.

a) Uma cova aberta (Êx 21:33,34). “Se alguém abrir uma cova ou se alguém cavar uma cova e não a cobrir, e nela cair um boi ou jumento, o dono da cova o pagará, ao seu dono o dinheiro restituirá; mas o morto será seu”. Na região do Oriente, onde há pouca precipitação pluviométrica, era comum os habitantes perfurarem ou escavarem o solo em busca de água para o povo, para os animais e para as lavouras. Quando não eram tampadas constituíam perigo para as pessoas e animais. O responsável por ter cavado a “cova” ficaria responsável pelos danos causados aos animais que caíssem ali (Êx 21:33). Após o pagamento ao dono, correspondente ao valor do animal, o infrator poderia exigir a carcaça do animal morto. Parece que em certas áreas os animais tinham liberdade de andar a esmo.

b) O fogo ( Êx 22:6).Se rebentar um fogo, e pegar aos espinhos, e abrasar a meda [montão de molhos] de trigo, ou a seara, ou o campo, aquele que acendeu o fogo pagará totalmente o queimado”.

Conforme Leo G. Cox, em certo período do ano, as pessoas juntavam mato seco nos campos para queimar. Se por descuido, o fogo se espalhasse e queimasse os grãos estocados ou empilhados nos campos, o individuo que “acendeu o fogo” tinha de pagar por completo o que fora queimado. Estas normas ensinavam o cuidado e promoviam o respeito pelos direitos de propriedades dos outros.

Aqui, rege um princípio a ser aplicado para os dias hodiernos: além do respeito aos direitos de propriedades de outrem, deve-se preocupar também com o meio ambiente, que tanto tem sido aviltado pelo ser humano. Como bem diz o pr. Antônio Gilberto, “atualmente muitas reservas ecológicas são queimadas e espécies em extinção eliminadas pela ação inconsequente, criminosa e irresponsável daqueles que se utilizam dos recursos naturais de forma indevida”. Leis existem para proteger o meio ambiente, porém são, à vista dos órgãos governamentais, desrespeitadas sem nenhuma punição ao infrator.

A natureza geme desde que o homem pecou (Rm 8:20-22 Gn 3:17). Esta natureza precisa ser restaurada, mas isto só será possível a partir do instante em que o pecado for extirpado e que o sedutor dos homens for aprisionado, criando-se, então, as mesmas condições que existiam no Éden antes da queda do homem.  “Amém! Ora, vem, Senhor Jesus!”.

CONCLUSÃO

Estas leis parecem estranhas aos nossos ouvidos. Nós não vivemos em uma época agrícola e rude. No entanto, estas leis foram uma grande bênção para Israel. Quando o homem se afasta de Deus, ele corrompe as suas próprias leis e também a Lei de Deus. Deus exige que a vida do povo seja de santidade e justiça para que Ele possa realmente abençoá-lo. Lembre-se, fé verdadeira tem que ser na prática. Não adianta só falar que Deus é maravilhoso. A importância real da nossa fé se mostra na prática. Mostremos, pois, nosso relacionamento com Deus e com o nosso próximo em nossa Jornada de Fé!

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 57 – CPAD.

Eugene H. Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.

Paul Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.

Leo G. Cox -  O Livro de Êxodo - Comentário  Bíblico Beacon. CPAD.

Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.

Silas Daniel – Uma jornada de Fé (Moisés, o Êxodo e o Caminho à Terra Prometida). CPAD.