domingo, 7 de setembro de 2014

NOSSA PÁTRIA PRECISA VER CRISTO EM NÓS


 



 

 

Por: Caramuru Afonso Francisco

 
O Brasil comemora, neste 7 de setembro de 2014, 192 anos de sua independência, proclamada às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, pelo então Príncipe-Regente do Brasil, D. Pedro, que viria a ser o nosso primeiro Imperador.

Aquele gesto do príncipe e herdeiro do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves era uma resposta às exigências das Cortes de Lisboa que tinham por objetivo reduzir o Brasil a uma mera condição de colônia, reeditando o sistema que havia perdurado desde 1500 até 1808, quando o rei de Portugal mudara a sede do reino para o Brasil, fugindo que estava de Napoleão Bonaparte.

O Brasil já era um Reino desde 1815 e as exigências das Cortes de Lisboa representavam um retrocesso inadmissível, que acabou levando o Brasil a declarar a sua independência de Portugal, surgindo, então, um novo país.

Este episódio que dá início à vida independente de nosso país é elucidativo, pois nos mostra que não podemos permitir que o Brasil, na sequência de sua história, tenha retrocessos, ande para trás, retorne a condições que já foram superadas e ultrapassadas.

192 anos depois, vivemos um momento extremamente delicado em nosso país, momento decisivo mesmo, em que o Brasil deverá definir se quer continuar prosseguindo como uma nação livre, democrática, onde têm lugar as liberdades públicas, entre elas a liberdade religiosa, ou se vamos retroceder neste ambiente, acabando por consolidar a instauração, aqui, de um regime político contrário à liberdade e à verdade que, como sabemos, é Cristo Jesus (Jo.14:6).

O fato é que estamos vendo, a olhos vistos, a implantação de um projeto de poder anticristão que se consolida cada vez mais, dentro dos ditames de um movimento internacional, que já tem demonstrado sua ideologia em países como Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador.

Quando o Brasil se tornou independente, havia uma religião oficial e os demais cultos eram somente permitidos em caráter privado, sendo proibida até a construção de templos que não fossem católicos romanos.

Com a República, o Estado se tornou laico e a evangelização do país, que se iniciara já timidamente durante o último quartel do século XIX, atingiu níveis impressionantes, a ponto de as estatísticas dizerem que hoje cerca de um quarto dos brasileiros se declare evangélico.

Entretanto, nos últimos anos, temos visto que segmentos que detêm parcela considerável do poder político, enquanto proclamem serem adeptos da liberdade religiosa, estão, na verdade, solapando os valores cristãos que formaram a nação brasileira e, o que é muito triste, com a conivência (remunerada ou não…) de diversas lideranças que cristãs se dizem ser.

Nosso país está a serviço de um amplo movimento anticristão internacional e, mais do que nunca, a Igreja precisa orar pelo nosso país, para que não sejamos submersos por este movimento, de múltiplas faces, que nos leva para o campo contrário a Deus e à Sua vontade.

Os valores cristãos têm sido violentamente perseguidos em nosso país e as instituições cada vez mais são postas contra eles e contra a Igreja em geral. Querem, a todo custo, levar novamente a pregação do Evangelho para os ambientes privados, como ocorria na época do Império, ainda que tais ambientes sejam templos, algo que não podia haver no século XIX.

Há um nítido cerceamento por parte dos que têm o poder de tudo quanto diga respeito à pregação do Evangelho e dos valores baseados na Palavra de Deus.

Enquanto isso, o país assiste a um agravamento das condições de vida, com número de homicídios muito superior ao de países em guerra (são mais de 50 mil mortes violentas por ano e mais de 42 mil mortes no trânsito por ano), aumento enorme do tráfico de drogas e do número de quimiodependentes, com reflexos evidentes na própria estruturação da família brasileira, sem falar na corrupção generalizada que gera um descrédito na política e nas instituições, a agravar ainda mais esse triste e trágico quadro.

Todo este estado de coisas exige dos cristãos uma postura. A primeira, de cunho espiritual, pois sabemos que é Deus que muda os tempos e as horas, quem estabelece e quem remove os governantes (Dn.2:21). Sendo assim, devemos orar a Deus para que os nossos governantes não se rebelem contra o Senhor e os valores por Ele insculpidos na Sua Palavra, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, com toda piedade e honestidade (I Tm.2:1-3).

Entretanto, para que oremos neste sentido e sejamos ouvidos, faz-se mister que, antes, sejamos tementes a Deus (Jo.9:31), que sejamos os primeiros cumpridores da Palavra de Deus, mantendo uma vida de santificação e um testemunho que nos faça luz do mundo e sal da terra (Mt.5:13-16).

O que tem faltado ao Brasil, decididamente, são servos de Cristo Jesus dignos deste nome, que se guardem da corrupção do mundo e que estejam, com suas vidas, a levar o nome de Jesus para a sociedade, demonstrando, com seus atos, uma fé autêntica e verdadeira, cunhada nos valores cristãos e que leve outros a crer em Jesus e a tê-l’O como único Senhor e Salvador das suas almas.

A degeneração da sociedade brasileira tem sido acompanhada de uma degeneração daqueles que cristãos se dizem ser, que também, em troca de favores e vantagens, muitas vezes mínimas e ilusórias, têm deixado de lado a defesa da fé e uma vida condizente com a Palavra de Deus.

Precisamos nos santificar, nos humilhar debaixo da potente mão de Deus, sentir as nossas misérias (Tg.4:9,10: I Pe.5:6), passar a termos uma vida condizente com as Escrituras Sagradas, com a vontade de Deus e, assim, nossas orações serão ouvidas pelo Senhor, que mudará este quadro tão difícil por que passa o nosso país.

Além desta providência espiritual, também precisamos tomar providências no campo material, não permitindo que os inimigos de Cristo ocupem postos de mando em nosso país.

Vivemos num regime democrático e, portanto, podemos nos manifestar livremente com relação às ações dos governantes, pois somos cidadãos.

Não só no momento do voto mas durante todo o mandato dos que são eleitos temos o legítimo direito de reivindicar, manifestar nossa opinião e persuadir os governantes nas suas tomadas de decisão.

O cidadão dos céus, como é chamado o salvo como descrito no Salmo 15, notabiliza-se por uma conduta na terra. Herdará, sim, as mansões celestiais, mas seu caráter de santidade é demonstrado pelas suas atitudes neste mundo.

Uma das características do cidadão dos céus é desprezar o réprobo e honrar os que temem o Senhor (Sl.15:4).

Assim, além de termos uma vida sincera diante de Deus e orarmos para que nossos governantes sigam os valores constantes das Escrituras Sagradas, é importantíssimo que não honremos senão os tementes a Deus e desprezemos os réprobos.

Deste modo, na hora do voto e no dia-a-dia do exercício dos mandatos, o salvo em Cristo Jesus, a Igreja deve desprezar o réprobo, ou seja, aquele que rejeita a Palavra de Deus, que insiste em governar contra os ditames da sã doutrina, não lhe dando o voto e sempre procurando manifestar-se de modo a que tais decisões erradas nunca sejam adotadas em nosso país.

Infelizmente, porém, não são poucos os que cristãos se dizem ser que têm prestigiado o réprobo por causa de favores e vantagens que receberam ou esperam receber, trocando, assim, a bênção divina por um prato de lentilhas, agindo, portanto, como o profano e fornicário Esaú (Hb.12:16).

Não podemos agir deste modo, pois estaremos a consentir com este descalabro por que passa “nossa mãe gentil”, nossa “Pátria amada” e, assim, seremos tão culpados quanto aqueles que estão a levar nosso país para este rumo de desmantelamento e de barbárie (Rm.1:32).

Não podemos permitir, como fez o Príncipe-Regente às margens do Ipiranga, que o Brasil retroceda e caia, novamente, nas trevas espirituais do passado, onde os verdadeiros e autênticos servos de Deus apenas usavam de lugares privados, entre quatro paredes, para louvar e bendizer ao Senhor.

O Brasil precisa de Cristo, é urgente, pois estamos a nos desmontar como sociedade civilizada, mas, para que o Brasil contemple Cristo, é absolutamente necessário que veja Cristo em nós, bem como que, cientes dos graves problemas de nossa nação, esforcemo-nos para debelá-los, confiando em Deus e fazendo a nossa parte.

Um lúcido diagnóstico do Brasil: http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/09/04/eleicao-e-teatro-querem-solucoes-para-o-brasil-ok/

Caramuru Afonso Francisco é evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP e colaborador do Portal Escola Dominical (www.portalebd.org.br).

 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Aula 10 – O PERIGO DA BUSCA PELA AUTORREALIZAÇÃO HUMANA


3º Trimestre/2014

Texto Base: Tiago 4:1-10

 
“Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (Tg 4:10)

 

INTRODUÇÃO

Dando continuidade a sua incisiva exortação aos crentes destinatários de sua Epístola, Tiago, no capítulo 4, combate o mundanismo na vida daqueles irmãos, que seria uma atitude de viver conforme os padrões do mundo. Mundo este referente aos sistemas de valores daquelas pessoas que não criam em Deus, que não se sujeitavam à vontade de Deus e que viviam em aberta rebelião contra Deus.

A separação entre a igreja e o mundo não tem sido clara no decorrer da sua história. Há períodos em que esta separação não fica muita clara e a igreja aparece com todas as suas cores. Há muita diferença entre a igreja e o mundo, mas, às vezes, essa diferença não parece existir. Os cristãos se comportam exatamente como os ímpios, estão ocupados com as mesmas coisas que o mundo está ocupado. Desta feita, eles se tornam ineficazes, ou seja, nada tem o que dizer ao mundo. A igreja só tem pudido falar ao mundo quando a diferença entre os dois se torna clara. E aí, então, ela tem alguma coisa a dizer. Senão, ela se amolda ao mundo, ela se conforma com este século, nas palavras de Paulo em Romanos capitulo 12. E aí ela deixa de ser profética, deixa de ser sal, deixa de ser luz, e não tem nada mais a dizer ao mundo.

A maioria dos crentes está preocupada com os confortos deste mundo, em conseguir a concretização dos seus sonhos. Realização profissional, pessoal e o desejo de uma melhor qualidade de vida são anseios legítimos do ser humano. Entretanto, o problema existe quando esse anseio torna-se uma obsessão, um desejo cego, colocando Deus à margem da vida para eleger um ídolo: o sonho pessoal. Deus deve estar em primeiro lugar em tudo em nossa vida (Mt 6:33).

I.  A ORIGEM DOS CONFLITOS E DAS DISCÓRDIAS (Tg 4:1-3)

1. Donde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura, não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?

2. Cobiçais e nada tendes; sois invejosos e cobiçosos e não podeis alcançar; combateis e guerreais e nada tendes, porque não pedis.

3. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.

1. Que sentimentos são esses? O Salmo 133:1 diz: "Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!". Certamente, os irmãos deveriam viver unidos, em harmonia, mas muitas vezes eles vivem em guerra. Os próprios discípulos geraram tensões entre si, perguntando para Jesus quem era o maior entre eles. Às vezes, os membros da igreja de Corinto entravam em contendas e levavam essas guerras para os tribunais do mundo (1Co 6:1-8). Na igreja da Galácia, os crentes estavam se mordendo e se devorando (Gl 5:15). Paulo escreveu aos crentes de Éfeso, exortando-os a preservarem a unidade no vínculo da paz (Ef 4:3). Na igreja de Filipos, duas mulheres, líderes da igreja, estavam em desacordo (Fp 4:1-3). Que sentimentos são estes? Mundano, claro!

O mundo vê essas guerras dentro das denominações, dentro das igrejas, dentro das famílias, e isso é uma pedra de tropeço para a evangelização. Como podemos estar em guerra uns contra os outros se pertencemos à mesma família, se confiamos no mesmo Salvador, se somos habitados pelo mesmo Espírito? A resposta de Tiago é que temos uma guerra dentro de nós. O nosso coração é o laboratório onde as guerras são criadas, a estufa onde elas germinam e crescem, o campo onde elas dão o seu fruto maldito.

2. A origem dos males (Tg 4:2). Nos versículos 1 a 3 Tiago diz que a amizade com o mundo é a origem de todos os conflitos na existência humana. O versículo 1 diz: “de onde vem guerras e contendas entre vós, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?”.

A nossa existência pecaminosa, vulnerável, marcada pelo pecado, é assaltada por prazeres. Alguns desses prazeres são positivos, e eles são prazeres lícitos: o prazer de comer, por exemplo; o prazer de descansar; o prazer de ver uma obra de arte, de escutar uma boa música; o prazer sexual que Deus nos deu. Só que estes prazeres não podem ser satisfeitos e atendidos de qualquer maneira. Há um lugar, um método, há uma regulamentação da Palavra de Deus de como nós devemos ter prazer aqui neste mundo. Quando vivemos para satisfazer estes prazeres de qualquer maneira, estamos praticando o mundanismo. Mundanismo é quando somos orientados nesta vida ao prazer hedonista.

Então, enquanto o prazer em si não é pecaminoso, todavia quando ele vira um fim em si mesmo, e ele se torna a razão da nossa existência aqui, e ele é buscado à parte de Deus, que é a maior fonte da alegria, do prazer e do gozo do homem aqui na terra, ele se torna a causa do mundanismo. É isso que é ser mundano: buscar esse fim principal do homem, nos prazeres deste mundo.

Quando uma pessoa está dirigida por esses prazeres que fazem guerras em nossa existência, querendo ser atendidos, então é daí que procedem as guerras e contendas. Porque as pessoas estão dispostas a tudo para satisfazerem estes prazeres. E ai elas começam a guerrearem porque frequentemente o meu prazer vai implicar no desprazer de outro. Para que eu seja feliz eu vou ter que pisar em alguém. Para obter aquilo que eu desejo, vou ter que passar a perna em alguém, vou ter que enganar alguém ou entristecer alguém. Então, na busca desenfreada dos prazeres, da satisfação, que é o que caracteriza o mundo, aí vem as guerras e as contendas. E aqui está a origem das guerras e as contendas que há no mundo.

A raiz do problema é a natureza pecaminosa do homem dirigida para o egoísmo e a satisfação pessoal. É isto que explica os conflitos, nas famílias, nos casamentos, entre amigos, na própria igreja. Isto é mundanismo. Ou seja, a busca do prazer como a principal razão de todas as coisas.

As pessoas dizem assim: eu tenho o direito de ser feliz; estou vivendo com essa mulher, mas ela não me dá satisfação; estou com ela há quinze anos com ela, então eu tenho o direito de ser feliz e vou largar dela e vou conseguir outra que me faça feliz. Então, em nome do prazer, ele é capaz de quebrar os votos do casamento, de desobedecer a Palavra de Deus, para justificar a sua busca pelo prazer. Então aqui está uma boa definição de mundanismo: “é viver para a satisfação desses prazeres sem levar Deus em consideração”.

Tiago 4:2 diz que o mundano está disposto a fazer qualquer coisa para obter o que ele deseja. “Cobiçais”, “matais”, “invejai”, “viveis a lutar”, “viveis a fazer guerras”. Tudo isso caracteriza o espirito mundano: é uma pessoa que está disposta a lutar, fazer guerras, invejar os outros porque os outros têm e ela não tem; ela cobiça, e ela chega até a matar. Tiago diz: ”vocês estão dispostos até a matar pra satisfazer os prazeres de vocês, tal é o mundanismo que está no coração de vocês”. O mundano é capaz de tudo. Ele briga. Ele faz guerra. Ele luta para obter tudo aquilo que ele deseja.

Portanto, o mundanismo tem sido a fonte de todos os problemas que encontramos na igreja, nas famílias e no casamento. É o egoísmo na busca da satisfação dos prazeres pessoais.

3. O porquê de não recebermos bênçãos (Tg 4:3). “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites”.

O crente mundano até pode orar, haja vista que ele está dentro de uma igreja cristã. É membro dessa igreja e aprendeu que pode pedir a Deus. Então ele pede, mas não recebe. Deus não tem o costume de atender as orações do mundano. Por quê?  Diz Tiago: “porque pedis mal”.

As condições para Deus atender as nossas orações são: que nós oremos; que nós oremos da maneira correta; que busquemos aquilo que está de acordo com a vontade de Deus. Quando pedimos coisas – na linguagem de Tiago - “para gastarmos em nossos prazeres”, então Deus de fato não nos responde.

A oração do mundano você reconhece logo, está cheia de “eu”: “eu”, “para mim”, “porque é meu”. O tempo todo está pensando em si. Ele raramente ora pelos outros. Raramente ele pede a felicidade dos outros. Ele é o objeto e a preocupação de suas orações. Ele está preocupado somente com a sua felicidade, e vê Deus simplesmente como aquele que tem a obrigação de satisfazer as suas necessidades e de tudo aquilo que ele precisa. E aqui sabemos o resultado de orações assim. “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites”.

II. A BUSCA EGOÍSTA (Tg 4:4,5)

1. Adúlteros e amigos do sistema mundano (Tg 4:4). “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?”.

Aqui, pela primeira vez, Tiago usa a palavra “mundo”, e no contexto dá para perceber que ser amigo do mundo é ter esse tipo de atitude que ele descreveu nos versos anteriores: viver para os prazeres, viver em lutar com as pessoas para conseguir essas coisas e até usar a Deus para poder conseguir essas coisas. É isso que caracteriza a vida do “mundano”, pessoa que de fato não conhece a Deus e cujo deus é o próprio ventre. Tiago, então, diz que este tipo de atitude nos torna “adúlteros” (infiéis – ARA). Tiago chama de adultério espiritual, isto é, infidelidade a Deus e ao nosso compromisso de dedicação a Ele (1João 2:15-17). De fato, o mundanismo é o pior dos adultérios, porque quando um crente é mundano ele é culpado de dormir com o inimigo do marido. Que uma mulher adultere, nós compreendemos, mas adulterar com o inimigo do marido é requinte de crueldade. E é exatamente isso que Tiago está dizendo aqui. Ele chama os mundanos de adúlteros porque eles estão dormindo com o inimigo de Deus, que é o mundo.

2. “Inimigos de Deus” (4:4). “... Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. Aqui, Tiago nos fala que o mundanismo nos coloca em inimizade direta com Deus.

“Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?”. Tiago está dizendo que Deus e o mundo são irreconciliáveis. O mundo está em constante inimizade diante de Deus. Não existe neutralidade. A carne não está sujeita a lei de Deus, diz Paulo em romanos 8, e nem na verdade a mente natural se sujeita a Deus. Nós somos por natureza filho da ira.  Então, o mundo, entendido como este conjunto de sistemas de valores, de gostos, da maneira de ser dessa humanidade sem Deus, está em oposição a Deus, à Sua Palavra, ao Seu Espírito, à Sua vontade e ao Seu evangelho. Quando vivemos como pessoas do mundo, vivemos para os prazeres deste mundo e nos tornamos inimigos de Deus.

Irmãos, nós já temos muitos inimigos! Mas nós os enfrentamos! Porque se Deus é por nós, quem será contra nós? Agora se Deus for contra nós, quem será a nosso favor? O mundanismo faz com que Deus se vire contra nós - “Porque ao querermos ser amigos do mundo nós nos constituímos inimigos do próprio Deus”. Veja com que seriedade Tiago trata esse assunto!

Com frequência esquecemos que este tipo de atitude está por detrás da falta aparente de bênção. Às vezes pensamos porque o nosso trabalho não está dando certo. Eu sei que há uma série de razões, algumas justificam plenamente, mas antes de colocar a culpa no mundo, ou a culpa em qualquer outra coisa, numa metodologia, nós devemos nos perguntar se de fato não é o próprio Deus que está, às vezes, contra nós, por causa de nossa atitude mundana e por causa de nossa falta de cristocentricidade, de viver para glória de Deus, ter nele o nosso maior deleite! Pense nisso!

3. O Espírito tem “ciúmes” (Tg 4:5).Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?”.

Este versículo 5 é um dos mais difíceis da epístola de Tiago. Os tradutores, tanto da ARC e ARA, colocaram “espirito” com “E” maiúsculo. No grego não tem letras maiúsculas ou minúsculas. A palavra espírito – pneuma – refere-se tanto ao espirito de Deus, como ao espirito humano, como ao espirito dos malignos, como espirito no sentido geral. A palavra é a mesma - “pneuma”. Então, para saber se é espirito de Deus ou espirito humano os tradutores precisam estudar o contexto.

Tiago diz: “ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em vós habita tem ciúmes?”. A dificuldade é que nós não encontramos no Antigo Testamento nenhuma passagem que justifique Tiago dizer que isto está na Escritura. Não há nenhuma passagem do Antigo Testamento que diz que o Espirito Santo tem ciúmes.

Além do mais, o verso 6, se essa é a tradução, fica sem sentido. Porque diz: “antes, ele dá maior graça”. Tiago está dizendo no verso 5 que o Espirito Santo tem ciúmes quando nós somos mundanos, porque somos de Deus. E quando começamos enamorar o mundo o Espírito Santo fica com ciúmes. Mas, se isto é a interpretação correta, qual o sentido do verso 6: “antes, ele dá maior graça”? Este “antes” estabelece um contraste. Entre que? Fica sem sentido!

E se nós lermos de outra maneira, que é possível ler gramaticalmente? Se, em vez de lermos espirito com “E” maiúsculo, lermos espirito com “e” minúsculo, referindo ao espirito humano? A frase ficaria assim: “É com ciúme que anseia, que cobiça (pode ser essa a tradução), o espirito, que ele fez habitar em nós?”. Aqui seria uma referência ao fato de que o espirito que Deus fez habitar em nós cobiça com grandes desejos essas coisas mundanas. Agora a coisa faz mais sentido porque aqui é uma referência à queda do homem e o que aconteceu com o seu espírito. Depois da queda, esse espirito passou a cobiçar e desejar as coisas do mundo com grande intensidade, com zelo. Parafraseando: “olha, vocês acham que é em vão o que a Bíblia diz que o espirito humano cobiça essas coisas com veemência? A Bíblia não diz isso em vão! A coisa é muito forte!”.

Agora, no verso 6, vem: “antes, porém, Deus dá maior graça”. A graça de Deus é maior do que essa cobiça do espírito humano, do que esses desejos pecaminosos. Deus dá uma graça maior do que esses desejos. “Pelo que diz”, ele cita Provérbios 3:34: “Deus resiste aos soberbos” - soberbos aqui são os mundanos, os arrogantes -, “mas dá graça aos humildes”. O que nós precisamos é da graça de Deus, porque essas paixões, como dizem as Escrituras – e ela não diz isso em vão -, são paixões tremendas! O espirito humano cobiça essas coisas violentamente, e somente a graça de Deus pode de fato sobrepujar.

III. A BUSCA DA AUTOREALIZAÇÃO (Tg 4:6-10)

6. Antes, dá maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes.

7. Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.

8. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração.

9. Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza.

10. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.

1. Humilhando-se perante Deus (Tg 4:6,7). Vimos que nós precisamos da graça de Deus para vencer as paixões carnais, o mundanismo. Todavia, Deus dá essa graça aos humildes. Por isso o apelo para que nos humilhemos diante de Deus.

A cobiça e os prazeres do mundo são muito fortes em nós por causa do pecado, mas Deus dá uma graça maior. A graça de Deus é maior do que as nossas paixões. Só que Deus não dá essa graça a todos. Ele dá essa graça aos humildes, porque ele resiste aos soberbos, aos arrogantes, aos autossuficientes, mas os que se aproximam dEle com humildade receberão essa graça poderosa para poder vencer o mundanismo.

2. Convertendo a soberba em humildade (Tg 4:8,9). Do verso 7 até o verso 10, Tiago exorta seus leitores a fugirem das paixões pecaminosas se submetendo a Deus. São dez imperativos, dez ordens de Tiago, todas elas dizendo a mesma coisa. Todos esses imperativos convergem para um ponto só: “humilhai-vos na presença de Deus”.

No verso 7: “sujeitai-vos a Deus”; “resisti ao diabo”.

No verso 8: “chegai-vos a Deus”; “purificai as mãos”; “limpai o coração”.

No verso 9: “afligi-vos”; “lamentai”; “chorai”; “converta-se o vosso riso em pranto”.

No verso 10: “humilhai-vos na presença do Senhor”

O que Tiago está dizendo para aqueles irmãos?

- Primeiro, eles têm que se sujeitar a Deus (verso 7). Eles têm que se colocar em sujeição à vontade de Deus. Ter a Deus como um fim maior nesta vida em vez de seus prazeres.

- Segundo, eles têm que resisti ao diabo (verso 7). E aqui Tiago faz uma ligação entre o mundanismo e o diabo. Quem é que está por detrás do espirito mundano? Quem é que usa o mundo para distrair os crentes, para enredá-los com as coisas deste mundo; para ocupá-los com as coisas mundanas; para levá-los a viver a vida inteira a buscar essas coisas e deixando Deus em segundo lugar? É o diabo! Tiago ver o diabo por detrás dessa tentativa do mundo de nos engolir. Por isso ele diz: “resisti ao diabo”, diga não ao diabo. Tiago não explica como devemos fazer, mas com certeza não é dizendo: “sai satanás!”; “tá amarrado”; “eu te repreendo”. Com certeza não é assim! Mas é simplesmente tomando uma posição firme contra a tentação; é ficando firme contra os apelos do mundo.

- Terceiro, eles têm que chegar-se a Deus (verso 8). Deus promete estar perto de todos os que se afastam do pecado, que purificam os seus corações e que o invocam verdadeiramente arrependidos. A comunhão com Deus trará sua presença, graça, bênçãos e amor.

- Quarto, eles têm que purificar as mãos – “purificai as mãos” (verso 8). Aqui, Tiago está usando a linguagem sacerdotal do Antigo Testamento. Lá havia aquelas purificações recorrentes, inclusive das mãos. Os sacerdotes tinham de ser purificados antes de fazerem alguns sacrifícios ou determinados rituais. Claro que aqui essa purificação é simbólica. Tiago não está dizendo que os cristãos devem lavar as mãos para poderem louvar a Deus. As mãos são símbolos do que nós fazemos. Purificar as mãos deve ser entendido como parar de fazer aquilo que está errado; parar de praticar atitudes que são contrários à Palavra de Deus. Aliás, aqui, é o único lugar do Novo Testamento em que alguém chama os crentes de pecadores. É só Tiago que vira para a igreja e diz: “pecadores!”; purifiquem as mãos, pecadores! Tiago com certeza não seria popular hoje em dia! Paulo fala de levantar as mãos em oração diante do Senhor “sem ira nem contenda” (1Tm 2:8), purificado.

- Quinto, eles têm que limpar o coração - “E vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração” (4:8c). A expressão “ânimo dobre” (ou duplo ânimo –ARC) encontramos também no capitulo 1. É a expressão que significa “alguém que tem duas almas”, alguém que é inconstante, alguém que hesita entre Deus e o mundo, que coxeia entre a vontade de Deus e as paixões pecaminosas. E Tiago aqui se dirige para esses irmãos e diz: “limpe os vossos corações da incerteza, da dúvida, da dubiedade; firmem o propósito em Deus; limpe o coração de vocês, que é dobre, que tem um ânimo instável”.

- Sexto - no verso 9 -, Tiago manda que os crentes parem de se alegrar - “Afligi-vos”; “lamentai”; “chorai”; “converta-se o vosso riso em pranto “. Em outras palavras: “Amargurem-se, lamentem-se, chorem; converta-se o riso de vocês em choro, em pranto; a alegria em tristeza”. Ou seja, aqui Tiago reforça a necessidade de arrependimento sincero, de quebrantamento verdadeiro perante Deus.

Na vida do crente, há momentos para alegria, para festa, para felicidade, para gozo e para risadas, mas não quando a nossa situação espiritual não vai bem. Aqueles cristãos estavam vivendo um período de mundanismo, e uma das características do mundanismo é que ele fecha os nossos olhos para que não entendamos a nossa verdadeira situação. Pensamos que tudo está bem, mas diante de Deus está tudo errado! Então Tiago exorta (parafraseando): ”pode parar de festejar, pare o louvorsão de vocês, vocês não tem que está fazendo ações de graças ou festas, parem com isso; na verdade vocês têm que está chorando, lamentando diante de Deus; vocês têm que rasgar o vosso coração diante de Deus; não é hora de alegria; não é hora de festa; não é hora de louvorsão; é hora, sim, de quebrantamento, de humilhação diante de Deus!”.

Foram dez imperativos e três promessas. Primeira promessa – verso 7: “...o diabo fugirá de vós”. Quer botar o diabo para correr? Então está aqui o caminho: quando você se humilha diante de Deus, se achega a Deus, resiste o diabo, então, ele vai embora. Segunda promessa – verso 8: “...e ele se chegará a vós”. Terceira promessa – verso 10: “... e Ele vos exaltará”.

3. “Humilhai-vos perante o Senhor” (Tg 4:10). Tiago conclui as suas ordens no verso 10: “humilhai-vos perante o Senhor”. É tudo isso que ele quis dizer: Humilhe-se na presença de Deus. A humilhação diante de Deus é a porta da exaltação. Deus não despreza o coração quebrantado (Sl 51:17). Deus olha para o homem que é humilde de coração e treme diante de Sua Palavra (Is 66:2). O mundanismo, frequentemente, impede o crente de estar em comunhão e intimidade com Deus. E para nos livrar dele (mundanismo) só tem um caminho: a graça de Deus, o poder de Deus em nossa vida. Só que Deus não dá isso aos soberbos, é preciso que nós nos humilhemos e que alcancemos essa graça.

CONCLUSÃO

Diante do que foi exposto nesta Aula, que possamos atentar para o perigo da busca pela autorrealização. Conscientizemo-nos de que se quisermos ser exaltados por Deus, conhecer o verdadeiro gozo aqui neste mundo, o verdadeiro prazer da comunhão com Deus, o caminho é a humilhação perante o Senhor.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

 Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Aula 09 – A VERDADEIRA SABEDORIA SE MANIFESTA NA PRÁTICA


3º Trimestre_2014

 
Texto Base: Tiago 3:13-18

“Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria” (Tg 3:13).

 

INTRODUÇÃO


Dando continuidade ao estudo da Epístola de Tiago, estudaremos nesta Aula “a sabedoria como a habilidade de exercer uma ética correta com vistas a praticar o que é certo. Veremos a pessoa sábia como alguém que se mostra madura em todas as circunstâncias da vida, pois é no cotidiano que a sabedoria do crente deve se mostrar”. A Carta de Tiago é um conjunto de sermões que trata de modo muito prático a forma como um servo de Deus deve viver, e isso inclui agir com sabedoria em todos os momentos. Na vida cristã não vale a máxima faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Na visão de Tiago, as atitudes corretas têm mais sentido do que palavras vazias e sem exemplo de vida.

I. A CONDUTA PESSOAL DEMONSTRA SE A NOSSA SABEDORIA É DIVINA OU DEMONÍACA (Tg 3:13-15)

1. Sabedoria não se mostra com discurso (Tg 3:13).Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria”.

Um cristão desejoso de crescer na vida cristã certamente privilegia a palavra falada e escrita. Lemos a Bíblia e ouvimos as pregações em nossas igrejas, e cremos que os discursos são elementos de comunicação que atingem sua finalidade: convencer pessoas e motivá-las a que tenham atitudes que agradem a Deus. Entretanto, devemos nos lembrar de que a sabedoria não é demonstrada apenas em nossos discursos, mas também em nossas atitudes. Palavras, como diz a sabedoria popular, o vento leva. Entretanto, atitudes falam mais alto do que nossas próprias palavras, e ficam marcadas em nossas vidas.

Discursos, por mais elaborados que sejam, tornam-se inócuos se desprovidos de atitudes que os espelhem. Deus espera ver em nós atitudes condizentes com o que ensinamos e pregamos, para que a mensagem do evangelho seja não apenas um conjunto de palavras bem apresentadas, mas acima de tudo, o poder de Deus manifesto em nossas vidas, moldando-nos de acordo com a sua vontade e mostrando ao mundo a diferença que Deus faz. (1)

2. A inveja e facção (Tg 3:14). “Mas, se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade”. Inveja e facção são dois sentimentos que andam muito próximos de nós.

A inveja é caracterizada pelo desgosto que uma pessoa tem em relação a outra pessoa e contra o que  essa outra pessoa possui. Diferente da arrogância, que faz com que o arrogante veja outras pessoas como se ele estivesse em uma posição superior, o invejoso vê a si próprio como uma pessoa que está em posição inferior. Ele imagina que a pessoa alvo de seu sentimento não é digna de ter o que tem, e se imagina como merecedora daqueles talentos, dons ou bens que a pessoa tem. (2)

O sentimento facccioso. É outra característica de quem alega ter a sabedoria e não consegue demonstrá-la na prática. A falsa sabedoria manifesta-se através de um sentimento faccioso. Há grandes feridas nos relacionamentos dentro das famílias e das igrejas. A palavra que Tiago usa, erithia, significa espírito de partidarismo. Subentende a inclinação por usar meios indignos e divisórios para promover os próprios interesses. Era a palavra usada por um político à cata de votos. As pessoas estão a seu favor ou estão contra você. Tiago, então, propõe à igreja um desafio àqueles que afirmavam ter a verdadeira sabedoria: eles precisavam observar a verdadeira sabedoria que vem do Céu.

Paulo alertou os crentes de Filipos sobre o perigo de estarem envolvidos na obra de Deus com motivações erradas: vanglória e partidarismo (cf Fp 2:3). Essa exortação é bastante atual!

3. Sabedoria do alto e sabedoria diabólica (Tg 3:15). “Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica”.

De modo meio irônico, Tiago agora compara a sabedoria possuída por aquelas pessoas invejosas e facciosas com a sabedoria que desce lá do alto. A verdadeira sabedoria, e as Escrituras deixam isso claro, procede somente de Deus: “... o Senhor dá a sabedoria” (Pv 2:6). É por isso que ela pode ser obtida apenas se a pedirmos a Deus (Tg 1:5).

A sabedoria que não produz um bom estilo de vida (Tg 3:13) é, em suma, caracterizada “pelo mundo, pela carne e pelo demônio”. Em cada uma destas formas, ela é a antítese direta da “sabedoria que desce lá do alto” – celestial em natureza, espiritual em essência e divina em sua origem.

II. ONDE PREVALECEM A INVEJA E SENTIMENTO FACCIOSO, PREVALECE TAMBÉM O MAL (Tg 3:16)

“Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa”.

1. A maldade do coração humano. Uma das questões mais difíceis com que temos de lidar é a capacidade de o coração humano ser mal. Há muitos gestos de bondade, generosidade e altruísmo ao longo da história em todas as culturas, mas há muito mais registros da capacidade má do homem agindo tanto em grupo quanto individualmente.

A maldade humana se desenvolve na mais tenra idade, e não são poucos os atos maldosos cometidos por crianças e adolescentes. Veja o que está escrito em Gênesis 8:21: “... disse o SENHOR em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice...”. Assim sendo, a igreja deve investir com muita dedicação na apresentação do evangelho também para as crianças, a fim de que ainda pequenas tenham a oportunidade de conhecer a Jesus Cristo e receberem a salvação.

A maldade do coração humano é vista não apenas entre as pessoas que não conheciam ao Senhor, mas igualmente entre o povo de Deus houve manifestação de maldades e de pensamentos ruins. Jeremias, usado por Deus, reclamou com os habitantes de Jerusalém sobre suas atitudes: "Lava o teu coração da malicia, ó Jerusalém, para que sejas salva; até quando permanecerão no meio de ti os teus maus pensamentos?" (Jr 4:14). Jeremias ainda reitera a capacidade má que o coração humano possui: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17:9). Isso não ocorreu somente com Israel, mas também dentro da própria igreja (Tg 3:12; 4:1-3; 2Co 12:20).

A maldade do coração humano, certamente, terá resultados terríveis. Veja estas palavras do Senhor através do Jeremias: "Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isso para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações" (Jr 17:10).

2. A inveja e a facção instauram a desordem. “... aí há perturbação...”. Inveja e sentimento faccioso são evidências da falsa sabedoria. São atitudes a serem evitadas pelos salvos em Cristo, pois, inevitavelmente, trazem desordem no meio do povo de Deus.

A facção é o desejo de divisão. É aquele sentimento que não se contenta em presenciar a unidade de um grupo. Pessoas unidas tendem a ser mais exitosas em seus intentos, mas grupos divididos não costumam ter força suficiente para alcançar desafios. Por isso o sentimento faccioso é tão importante para Satanás. Ele sabe que quando há unidade na igreja local, as pessoas oram mais umas pelas outras, são mais misericordiosas, ajudam-se e buscam sempre a solução de possíveis conflitos, de forma que a igreja fica fortalecida. Mas se uma igreja é dominada pelo espírito faccioso, não poderá crescer, mesmo que seja rica em dons e manifestações espirituais.

A igreja de Corinto é um exemplo clássico de comunidade que foi atingida pela desordem, fruto de facções. Nessa igreja encontravam-se cristãos que haviam recebido dons espirituais de poder, elocução e de revelação. Mas, desconhecia a forma correta de utilização desses dons. Por causa disso, passou por diversos problemas, até que fosse orientada pelo apóstolo Paulo não apenas em relação ao uso correto dos dons, mas igualmente quanto à prática da comunhão.

O problema não estava nos dons espirituais, pois eles foram dados por Deus para a edificação da igreja. O problema estava no partidarismo daquela congregação. Aqueles crentes eram muito divididos. Uns eram de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro e outros, de Jesus. Como pode uma igreja ser sadia se seus membros competem entre si, e trabalham em prol de grupos internos? O problema não eram os dons espirituais, e sim a desunião do grupo.

E o que dizer da inveja? De acordo com Tiago, a inveja colabora com a perturbação e toda obra perversa. Pessoas dominadas pela inveja não conseguem contribuir nem com sua própria vida nem com as pessoas que a cercam. A inveja faz a pessoa perder o foco em si mesma e em Deus, além de fazer com que ela se concentre em outras pessoas, como se elas tivessem tudo e o invejoso, nada. Os talentos e bens dos outros são o alvo dos invejosos, que buscam ter justamente aquilo que outras pessoas têm. Não raro, pessoas dominadas pela inveja não desejam apenas ter o que o outro tem, mas se possível, desejam ver aquela pessoa sem aquilo que tem. Quer dizer, não basta para o invejoso ter alguma coisa; ele precisa ver o outro sem nada.

Pessoas invejosas não conseguem ser agradecidas, pois estão em busca do que ainda não possuem e não conseguem agradecer a Deus por aquilo que já conquistaram e receberam. Elas só enxergam o que ainda lhes falta.

Não há possibilidade de crescimento espiritual para pessoas cheias de inveja e facciosas, a menos que elas renunciem esses sentimentos e sejam cheias do Espírito Santo, a fim de que sejam controladas por Ele. (3)

3. Obras perversas. ”... e toda obra perversa”. Tiago trata em sua Carta sobre boas obras, mas ele também fala sobre obras perversas. Enquanto as boas obras são um fruto da sabedoria divina e demonstração da nossa fé em Cristo, as obras perversas são uma extensão da malignidade humana. Pode haver pessoas que se consideram corretas com essas coisas, mas aos olhos de Deus, precisam agir de forma a renunciar tudo isso e abandonar tais práticas, e não ocultá-las. (4)

III. AS QUALIDADES DA VERDADEIRA SABEDORIA (Tg 3:17,18)

“Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia “(Tg 3:17).

1. Características da verdadeira sabedoria. A sabedoria que vem de Deus tem características específicas, e pela forma como estão descritas, entendemos que são demonstradas na prática do dia a dia. Lembremo-nos de que Deus é a fonte dessa sabedoria, e, portanto, suas características estão estampadas na Palavra de Deus.

a) A sabedoria que vem de Deus é pura. Isto quer dizer que é limpa em pensamentos, palavras e atos. É incontaminada de espírito e corpo, na doutrina e na pratica, na fé e na moralidade.

b) A sabedoria que vem de Deus é pacífica. O homem sábio ama a paz e faz todo o possível para mantê-la sem sacrificar a pureza. Esse fato é ilustrado por uma história contada por Lutero. Dois homens se encontraram numa ponte estreita sobre um rio profundo. Não podiam voltar e não desejavam brigar. Depois de uma curta negociação, um deles se deitou e deixou que o outro passasse sobre ele. A “moral”, dizia Lutero, “é simples: fique contente se precisar ser pisado para manter a paz; refiro-me, porém, à sua pessoa, e não à sua consciência”.

c) A sabedoria que vem de Deus é moderada (indulgente –ARA). É tranquila, e não tirana; gentil, e não grosseira. Um homem sábio é um cavaleiro que respeita os sentimentos dos outros.

d) A sabedoria que vem de Deus é tratável. Ou seja, é conciliatória, acessível, pronta a ouvir e ceder quando a verdade assim o requer. Não é, portanto, obstinada e inflexível.

e) A sabedoria que vem de Deus é cheia de misericórdia e de bons frutos. É cheia de misericórdia para com aqueles que trilham o caminho errado e desejosa de ajuda-los a encontrar o caminho certo. É compassiva e bondosa. Em vez de ser vingativa, retribui a indelicadeza com benevolência.

f) A sabedoria que vem de Deus é imparcial. Ou seja, não gera favoritismo. Trata os outros com imparcialidade.

g) A sabedoria que vem de Deus é sem hipocrisia (sem fingimento-ARA). É sincera e genuína. Não simula ser o que não é.

2. O fruto da justiça (Tg 3:18). “Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz”.

Descobrimos aqui que a verdadeira vida cristã é uma semeadura e uma colheita. Nós colhemos o que semeamos. O sábio semeia justiça e não pecado. Ele semeia paz e não guerra. O que nós somos, nós vivemos e o que nós vivemos, nós semeamos. O que nós semeamos determina o que nós colhemos. Temos que semear a paz e não problemas no meio da família de Deus.

Entendendo melhor, a vida cristã é como o processo de plantio, que envolve o agricultor (o sábio pacífico), as condições do tempo (paz) e a colheita (justiça). O agricultor deseja produzir uma colheita de justiça, mas seu objetivo não pode ser alcançado num ambiente de brigas e desavenças. A semeadura deve ocorrer em condições de paz – “para os que exercitam a paz” -, e os semeadores precisam ter disposição pacífica. O resultado é uma colheita de justiça na vida dos semeadores e na vida daqueles a quem ministram.

CONCLUSÃO


A sabedoria que é pura, pacifica, moderada, tratável, cheia de misericórdia, de bons frutos, imparcial e sem hipocrisia, é o padrão de Deus na demonstração de sua sabedoria. Que assim possamos ser, para realmente fazer um diferencial no Reino de Deus neste mundo.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

 Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

(1) Silas Daniel & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

(2) ibidem

(3) Ibidem

(4) Ibidem