domingo, 11 de março de 2018

Aula 11 – OS GIGANTES DA FÉ E O SEU LEGADO PARA A IGREJA


1º Trimestre/2018

Texto Base: Hebreus 11:1-8, 22-26,30-34

 
"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem" (Hb.11:1).

 INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo da Epístola aos Hebreus, estudaremos nesta Aula a respeito dos heróis da fé - descritos no capítulo 11 - e o seu legado para a Igreja. Trataremos a respeito da jornada de fé desses homens e mulheres de Deus, e como isso deveria ser tomado como exemplo para os cristãos da Nova Aliança (cf.Hb.11:1-40). A fé demonstrada por esses gigantes da fé em diferentes momentos da história, e em diferentes situações, foi o que garantiu as suas inserções na galeria dos heróis bíblicos. Esses heróis e heroínas eram pessoas comuns, sujeitos às intempéries da vida, mas a fé deles em Deus fez com que superassem grandes obstáculos, fazendo com que o nome do Senhor fosse exaltado. Eles deixaram, sem dúvida alguma, um legado extraordinário, o qual deve ser considerado pela igreja durante a sua jornada rumo à Pátria celestial. É válido ressaltar que esses heróis da fé não tinham as Escrituras Sagradas como temos hoje, o que tornava o conhecimento deles a respeito de Deus limitado, se comparado a nós hoje. Essa mesma fé, que garantiu que eles sempre avançassem e nunca recuassem, é a que devemos imitar.

I. A FÉ QUE GERA CONFIANÇA EM DEUS

1. O sacrifício de Abel. “Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala” (Hb.11:4).

Caim e Abel foram os dos primeiros filhos e Adão e Eva (cf. Gn.4:2-5). Caim tornou-se lavrador e Abel tornou-se pastor de ovelhas. Ao fim de algum tempo, ambos resolveram oferecer um sacrifício a Deus. Caim levou alguns frutos do solo, mas Abel ofereceu o melhor dos seus carneiros. Deus se agradou da oferta de Abel, mas não a de Caim (Gn.4:4,5) - "Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim" (Hb.11:4).

Por que Deus rejeitou a oferta de Caim? A razão de Deus ter aceitado o sacrifício de Abel e rejeitado o de Caim não foi baseado no fato de que o sacrifício de Caim era sem sangue; muitas das oferendas exigidas no Antigo Testamento eram sem sangue, como as ofertas de manjares (cf. Lv.2:1-16). A diferença estava nos corações daqueles dois ofertantes. A Bíblia relata que o modo de vida de Caim não era agradável a Deus e, por isso, Deus não aceitou a sua oferta. Abel ofereceu com fé (Hb.11:4), ao passo que Caim, não. Aliás, a Bíblia afirma que Caim era do maligno (1João 3:12), ou seja, não tinha um coração temente e submisso a Deus e, por isso, não foi aceita a sua oferta. Esta diferença básica entre os dois ofertantes é indicada pelas palavras no texto sagrado: Deus “atentou para Abel e para sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou” (Gn.4:4,5). Provérbios 21:27 diz: “O sacrifício dos ímpios é abominação; quanto mais oferecendo-o com intenção maligna!”. Somente quando são oferecidos com fé, os sacrifícios e o serviço dos homens agradam a Deus (cf.Is.1:11-17; Ml.1:6-14).

Na realidade, a chave para o fracasso de Caim se encontra nas cuidadosas descrições do texto sagrado, referentes ao tributo de Caim e Abel - “Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor” (Gn.4:3). Aqui, não há indicação que este “fruto da terra” seja o primeiro e o melhor. Abel ofertou o melhor que tinha; ele “trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura” (Gn.4:4); seu coração era sincero; seu culto era verdadeiro (Hb.11:4). Portanto, o pecado de Caim foi a superficialidade. Ele parecia religioso, porém seu coração não era totalmente dependente de Deus, não era sincero nem grato.

Hoje, o que oferecemos ao Senhor no culto? Nossas ofertas demonstram a atitude real de nossos corações? (Sl.51:17). Deus se agrada do gesto de gratidão e reconhecimento, do que está no coração do homem, não do que está sendo apresentado em termos materiais. Tanto assim é que, ao indagar Caim sobre sua oferta, Deus diz que ele deveria ter feito bem, ou seja, não como um mero formalismo, não como um mero ritual, mas como algo espontâneo e que proviesse do fundo da alma, pois, somente neste caso é que haverá aceitação por parte do Senhor (Gn.4:7).

2. O testemunho de Enoque. “Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus o trasladara, visto como, antes da sua trasladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus” (Hb.11:5).

Enoque é a sétima personagem mencionada na descendência de Adão pela linhagem piedosa de Sete. Dentre todos os homens antediluvianos é o que mais se destaca, pois, ao contrário dos demais, não provou a morte, pois, diz a Bíblia, andou com Deus trezentos anos e Deus para Si o tomou (Gn.5:22). Com relação ao tempo de vida à época, ele morreu muito cedo - “Todos os dias de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos” (Gn.5:23). Quando ele tinha 65 anos nasceu seu filho Metusalém (Gn.5:21), que foi o homem mais longevo da terra – “novecentos e sessenta e nove anos; e morreu” (Gn.5:27). Entretanto, quando Matusalém morreu, sobreveio o dilúvio. “...É melhor viver menos tempo como Enoque, andar com Deus e ser levado por Ele, do que viver muitos anos como Metusalém e morrer na lama do dilúvio..." (Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.3, p.24).

“Enoque foi trasladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus o trasladara”. Veja que a credencial para que Enoque fosse trasladado para não ver a morte foi andar com Deus (Gn.5:22). Deus chamou Enoque para perto de si por causa do seu andar na fé. Sem fé ninguém agrada a Deus. Assim como Enoque foi trasladado para não ver a morte, a Igreja será arrebatada para viver eternamente com o Senhor (1Ts.4:13-18; 1Co.15:51-58). Somente os verdadeiros e sinceros servos do Senhor, que andam com Deus, têm a consciência do arrebatamento e, por causa disto, mantêm-se vigilantes, aguardando o Senhor a qualquer momento (Mt.24:43,44; Mc.13:29-37; Lc.21:34-36).

Enoque, apesar de andar com Deus, não abandonou a vida social nem familiar, pois é dito que teve filhos e filhas (Gn.5:23). Andava com Deus num ambiente de maldade e de infidelidade. Enoque tinha comunhão com Deus levando uma vida de fé e pureza, não separado dos seus, mas como chefe de uma família. Isto nos mostra que para servir a Deus não há necessidade de se isolar do mundo. Aliás, a santidade nada tem a ver com o isolamento físico, como bem nos mostrou Jesus (Lc.7:31-35). Para o homem andar com Deus, é preciso que esteja de acordo com a Sua Palavra (Am.3:3). A Igreja que será arrebatada é aquela que não se misturou com o mundo nem com o pecado, que preferiu seguir o seu Senhor (Ap.3:8-10; Ef.5:25-27).

Andar com Deus significa renunciar a si mesmo e aceitar viver única e exclusivamente para fazer a vontade divina (Mt.10:37-39; 16:24-27; Mc.8:34-38; Lc.9:23-26; Ef.5:15-17).

Andar com Deus significa renunciar ao pecado e à impiedade (Sl.1:1,2;Tt.2:11-14).

Andar com Deus significa tomar o caminho estreito e apertado, mas que conduz à salvação. Significa submeter-se ao Senhor Jesus (Mt.7:13,14; João 14:5,6; 15:14).

Para andar com Deus, portanto, devemos andar como Cristo andou, e assim seremos vitoriosos (1João2:6; 1Co.11:1; Ef.5:1; Fp.3:17; 1Pd.2:21).

A Igreja primitiva tinha tanta preocupação em andar com Deus que era conhecida como o Caminho (At.18:26; 19:9; 22:4; 24:14).

3. A confiança de Noé. “Pela fé, Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu, e, para salvação da sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé” (Hb.11:7).

A Bíblia descreve Noé como sendo um homem reto e justo e que andava com Deus. Escolhido por Deus para preservar a humanidade e os animais do Dilúvio que havia de vir, Noé viveu numa época parecida com a nossa: violenta, má e corrupta. Os homens viviam alienados de Deus, sem padrões éticos e morais, sem amor, presunçosos, violentos... Sua maldade e degeneração eram tais que o Senhor decidiu destruir toda a humanidade (Gn.6.7,13).   Entretanto, Noé escolheu ser um homem temente a Deus, a tal ponto que achou graças aos seus olhos (Gn.6:8) em um mundo caído.

Diz o escritor aos hebreus que Noé construiu a arca pela fé, porque confiou no aviso divino da destruição. Foi a fé de Noé que o fez pregar durante cem anos, sem que ninguém tivesse crido. A fé de Noé deve ser imitada por nós. Noé creu em algo que nunca havia visto, a chuva; construiu algo que nunca imaginara fazer, a Arca; durante um ano cuidou de animais que jamais tinha sequer conhecido. Tudo fez por fé e, por isso, foi poupado da destruição, abençoado e se tornado uma bênção para toda a humanidade. De igual modo, todos aqueles que, nos dias anteriores à vinda de Cristo, nEle confiarem, também serão guardados da hora da tentação que há de vir sobre o mundo (Ap.3:10,11).

II. A FÉ QUE FAZ VER O INVISÍVEL

1. A obediência de Abraão. “Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia” (Hb.11:8).

Abraão provavelmente era um idólatra que vivia em Ur dos caldeus quando Deus lhe apareceu dizendo que se mudasse. Com a obediência da fé, ele deixou sua casa, sem saber o destino final. Sem dúvida, seus amigos o ridicularizaram por tal loucura, mas esta foi sua atitude, em obediência ao chamado de Deus. A caminhada da fé muitas vezes dá aos outros a impressão de imprudência e insensatez, mas o homem que conhece a Deus está contente em ser guiado com os olhos da fé, porque é com os olhos da fé que o crente enxerga o desconhecido e acredita no futuro prometido por Deus à sua amada Igreja.

A Epístola aos Hebreus explica que “pela fé Abraão obedeceu”, e descreve três atos resultantes da fé de Abraão: (a) ele mudou-se para uma nova terra (Hb.11:8); (b) ele foi pai na sua velhice (Hb.11:11); (c) ele estava disposto a obedecer à ordem de Deus de sacrificar o seu único filho (Hb.11:17). Abraão demonstrava a sua fé por meio dos seus atos. A sua fé o justificou diante de Deus.

A fé de Abraão é vista, em primeiro lugar, na sua obediência em sair de sua terra e ir para um lugar que havia de receber de Deus por herança. Abraão partiu com base na promessa de Deus, sem saber para onde ia (vide Gn.12:1-9). Abraão confiou nas promessas que Deus lhe fez, de bênçãos ainda maiores no futuro. A vida de Abraão era cheia de fé.

Os crentes podem se sentir encorajados com o exemplo de fé de Abraão. Deus pode nos pedir para abandonarmos um ambiente seguro e familiar para realizar a sua vontade; Ele pode nos pedir para realizarmos tarefas difíceis. Mas nós podemos ter a certeza de que o resultado será sempre para o nosso bem e nos levará para mais perto dele. Pense nisso!

2. A fidelidade de José. “Pela fé, José, próximo da morte, fez menção da saída dos filhos de Israel e deu ordem acerca de seus ossos” (Hb.11:22).

A Escritura testemunha sobre a fidelidade de José. Ele foi fiel a Deus em todas as circunstâncias. Foi fiel a Deus, temeu ao Senhor, não importando o que lhe aconteceria ao longo da vida: foi fiel a Deus na casa de seu pai, como filho; como escravo, em terra estranha; na casa do cárcere, como preso injustiçado e; no palácio de Faraó, como governador do Egito. Esta firmeza e constância é algo que devemos reproduzir no nosso andar com Cristo até que o Senhor volte ou que nos chame para a sua glória. O Senhor é bem claro em sua carta à igreja de Esmirna: “…Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”(Ap.2:10).

Devido à fidelidade de José a Deus, ele foi promovido para um alto posto no Egito. O diácono Estevão, em seu grande discurso diante dos seus algozes, ratificou este fato - “E livrou-o de todas as suas tribulações e lhe deu graça e sabedoria ante Faraó, rei do Egito, que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa” (Atos 7:10). Mas, embora José pudesse ter usado a sua posição para construir um império pessoal, ele lembrou-se da promessa de Deus a Abraão. José creu na promessa de Deus de que os filhos de Israel iriam sair do Egito e retornar a Canaã. Ele tinha tanta certeza disso, que lhes recomendou, quando estava próximo da morte (Hb.11:22), que levassem os seus ossos consigo quando partissem, para que ele pudesse ser sepultado na Terra Prometida (Gn.50:24,25; Ex.13:19; Js.24:32). Mesmo no seu leito de morte, José perseverou na sua fé, esperando desejosamente as promessas que Deus tinha feito. É essa fé, que nos faz enxergar o desconhecido e acreditar no futuro.

3. A determinação de Moisés. “Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa” (Hb.11:24-26).

Moisés foi o grande líder do povo de Israel, escolhido pelo Senhor não só para libertar o seu povo da escravidão no Egito, mas para construir a nação israelita nos moldes desejados por Deus. Não é à toa que Moisés, até hoje, é tido e havido pelos israelitas como o mais importante integrante da nação de todos os tempos.

A grande fé de Moisés foi revelada por meio de sua difícil determinação. A Epístola aos Hebreus apresenta Moisés como um homem que soube fazer escolhas: escolheu deixar um nome de glória passageira – filho da filha de Faraó – e as benesses do título, para sofrer conduzindo um grupo de escravos recém libertos para uma terra prometida, que no momento estava plenamente ocupada por nações altamente experimentadas em guerras e sem um mínimo de temor a Deus. Caso optasse em permanecer no Egito, se tornaria certamente um grande rei com toda a formação que recebeu, e seria também mais um corpo mumificado a ser descoberto por arqueólogos. Para Deus não teria nenhum valor. Mas por abrir mão de seu título e da glória inerente a ele, Deus cuidou de Moises em toda a sua vida, inclusive do seu sepultamento (Dt.34:4-7). Moisés sabia que não poderia tomar parte em um modo de vida fácil e confortável enquanto seus companheiros hebreus estavam escravizados. Devido à sua fé, Moisés sabia que o conforto terreno não era o objetivo final de sua vida.

Moisés é um exemplo de que a fé exige que as pessoas deixem seus próprios desejos de lado por Cristo. Ele era motivado porque tinha em vista a recompensa que Deus lhe daria (Hb.11:26). Embora Moisés não conhecesse pessoalmente Jesus Cristo, ele sofreu para realizar a vontade de Deus e para proclamar o caminho da redenção de Deus para os hebreus. Em lugar de fazer do Egito e deste mundo o seu lar, Moisés deixou o Egito e foi adiante, “porque ficou firme, como vendo o invisível (Hb.11:27). Pela fé, ele estava certo daquilo que não podia ver (Hb.11:1). Que possamos seguir o exemplo de fé de Moisés na nossa jornada espiritual!

III. A FÉ QUE DÁ PODER PARA AVANÇAR

1. A ousadia de Josué. “Pela fé, caíram os muros de Jericó, sendo rodeados durante sete dias” (Hb.11:30).

Josué era conhecido pela profunda confiança em Deus, como um homem cheio do Espírito Santo (Nm.27:18). Na península do Sinai, foi Josué quem comandou as tropas de Israel na vitória sobre os amalequitas(Êx.17:8-13). Somente ele teve permissão de subir com Moisés ao monte santo, onde foram outorgadas as tábuas da lei (Êx.24:13,14). E foi ele quem ficou de vigia na provisória tenda de encontro, que Moisés levantou antes de erigir o tabernáculo (Êx.33:11). Certamente, dentre os nomes mais importantes da história de Israel, Josué destaca-se como um personagem que tem servido de modelo de liderança. Escolhido por Deus, ele foi um líder moldado por Moisés ao longo da peregrinação de Israel, especialmente a partir da saída dos israelitas da terra do Egito em sua peregrinação no deserto.

Foi líder guerreiro desde a juventude.  É chamado de moço (Êx.33:11) poucos meses após sair de Egito, provavelmente tendo mais ou menos trinta anos de idade. Perante os ataques dos amalequitas, Moisés lhe diz: “Escolhe alguns de nossos homens e lute contra os amalequitas. Amanhã tomarei posição no alto da colina, com a vara de Deus em minhas mãos”(Êx.17:9). Apesar de ser tão jovem, foi escolhido entre os 40.500 homens de guerra de sua tribo, Efraim (Nm.2:18,19), como o melhor para espiar a terra de Canaã (Nm.13:2,8). 

Josué foi o grande líder escolhido por Deus para suceder a Moisés na condução do povo à Terra Prometida. Após a travessia do Jordão, o primeiro desafio de Josué foi conquistar a fortificada Jericó. O ingresso na Terra Prometida não poderia ser feito enquanto Jericó permanecesse de pé. Essa não era uma tarefa fácil. Exigiria dos israelitas confiança e fé em Deus para derrotar uma cidade de grandes fortalezas e muros muito altos que escondiam tudo o que havia em seu interior (Js.6:1).

Jericó tinha uma característica importante: quando era ameaçada e o medo surgia, seus habitantes se recolhiam dentro dos seus muros, fechando-se. Conquistar aquela cidade era estratégico por duas razões: primeiro, porque nada do que nela havia agradava a Deus; segundo, porque aquela fortaleza deveria exercer certa influência de insegurança e medo no povo de Deus (parece-me que Josué olhava para ela com certo temor – Js.5:13,14). Conquistá-la e destruí-la liberaria o povo de Deus da contaminação de Jericó e da insegurança que ela trazia.

Deus fala a Josué dando as instruções de como deveria proceder à conquista: a cidade deveria ser cercada por seis dias; sete sacerdotes levariam sete buzinas; no sétimo dia rodeariam a cidade sete vezes e os sacerdotes tocariam as buzinas; quando o povo ouvisse as buzinas, gritaria e assim o muro cairia. Assim aconteceu. Os israelitas entraram na cidade e destruíram totalmente o que havia na cidade ao fio da espada, poupando somente Raabe e sua família. A cidade e tudo o que havia na cidade foi queimado.

A conquista de Jericó aconteceu quase 3.500 anos atrás, mas a conquista serve como um exemplo importante para nos instruir. Paulo disse que os exemplos do Antigo Testamento servem para nos instruir (1Co.10:6) e para demonstrar a fidelidade de Deus em cumprir as suas promessas (Rm.15:4).

Fé em Deus, obediência aos seus desígnios e ousadia são requisitos indispensáveis para aqueles que almejam superar todos os obstáculos da vida espiritual e destruir as fortalezas do inimigo – “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas”(2Co.10:4). Nossa luta é contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12). Por isso, as armas carnais e humanas, tais como, habilidade, riqueza, capacidade organizacional, eloquência, persuasão, influência e personalidade, são em si mesmas inadequadas para destruir as fortalezas de Satanás. As únicas armas adequadas para desmantelar os arraiais de Satanás, a injustiça e os falsos ensinos são as que Deus nos dá. Paulo alista algumas dessas armas: a dedicação à verdade, uma vida de retidão, a proclamação do evangelho, a fé, o amor, a certeza da salvação, a Palavra de Deus e a oração perseverante (Ef.6:11-19; 1Ts.5:8). Mediante o emprego dessas armas contra o inimigo, a igreja sairá vitoriosa.

2. A coragem de Raabe. “Pela fé, Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias” (Hb.11:31).

Na queda de Jericó, Raabe escapou com vida. Josué ordena o rasgaste de Raabe e sua família (Js.6:17,25). Raabe e sua casa foram poupadas porque ela teve fé em Deus e ajudou os espias israelitas (Hb.11:31). Tiago também faz menção à fé dessa mulher quando diz: “E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho?” (Tg.2:25). Embora fosse uma mulher pagã, com atitudes totalmente repreensíveis, Raabe reconheceu o poderio e a grandeza do Deus de Israel. Ela creu que o Senhor era poderoso para subjugar a cidade de Jericó, apesar de sua fortaleza e fama; por isso tornou-se o elo da vitória de Israel sobre o restante de Canaã.

Raabe tornou-se uma pessoa muito especial, porque, depois de ter constituído um piedoso lar com Salmom, e ter gerado a Boaz(Rt.4:21), bisavô de Davi, passou a integrar a genealogia de Davi e de Jesus(Mt.1:5,6). Isto ilustra o fato que Deus aceita qualquer pessoa “que em qualquer nação, o teme e faz o que é justo”(At.10:35). A fé de Raabe deve servir de inspiração e motivação para quem está na jornada rumo à Canaã celestial.

3. O heroísmo de Gideão. O autor fecha a sua lista dos heróis da fé citando vários personagens bíblicos. O autor apresentou uma lista imponente de homens e mulheres que demonstraram fé e perseverança no período do Antigo Testamento.

“E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel, e dos profetas, os quais, pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos” (Hb.11:32-34).

Observe que o autor faz uma pergunta retórica: “e que mais direi?” (Hb.11:32). O que mais ele teria de apresentar para deixar claro o que pensa? Não lhe faltavam exemplos, mas tempo. Levaria muito tempo para entrar em detalhes, então ele se satisfaria em nomear alguns e dar uma breve lista de triunfos e provas de fé.

A lista é encabeçada por Gideão, um dos juízes durante o regime tribal israelita. Ele foi um dos juízes de Israel escolhido por Deus para livrar o povo de Israel dos seus inimigos. Gideão foi desafiado por Deus a buscar o livramento do seu povo por meio da fé. O exército comandado por ele foi reduzido de trinta e dois mil para trezentos. Primeiro foram mandados para casa os covardes e depois os que pensavam demais no próprio conforto. Com um time ferrenho de verdadeiros discípulos, Gideão derrotou os midianitas (cf. Juízes 6:11-8:35). Gideão venceu os midianitas pela fé; ele confiou na Palavra do Senhor que lhe daria a vitória. Deus não conta com número, Ele conta com quem tem fé. Nós também podemos obter a vitória pela fé em Cristo.

CONCLUSÃO

A lista dos gigantes da fé que estudamos não é exaustiva, e o próprio autor deixa essa impressão. Todavia, ela é suficiente para nos incentivar a seguir com fé o desconhecido futuro prometido, independentemente das circunstâncias. A nossa vida pode não incluir o tipo de acontecimentos dramáticos registrados no capítulo dos heróis da fé, que foi estudado, mas certamente inclui momentos em que a nossa fé é posta à prova. Devemos dá testemunho nesses momentos, publicamente e honestamente, e, desta forma, incentivar a fé de outras pessoas. A fé nos leva a suportar a perseguição (Hb.11:27) e nos leva a sofrer por amor a Deus (Hb.11:25,35-38). A única forma de não retroceder é caminhar com fé. A fé derruba o obstáculo, abate o inimigo e levanta o abatido. A fé deve ter como fundamento alguma revelação de Deus, alguma promessa de Deus. Não é um tatear no escuro. Ela exige a evidência mais segura no universo, que é encontrada na Palavra de Deus. Ela não está limitada a possibilidades; ela invade o reino da possibilidade. Alguém disse: “A fé começa onde terminam as possibilidades. Se é possível, não há nisso glória para Deus”.

--------

Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 73. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Paul Hoff . O Pentateuco. Ed. Vida.
Leo G. Cox.  O Livro de Êxodo - Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Victor P. Hamilton. Manual do Pentateuco. CPAD.

domingo, 4 de março de 2018

Aula 10 – DÁDIVA, PRIVILÉGIOS E RESPONSABILIDADES NA NOVA ALIANÇA


1º Trimestre/2018

Texto Base: Hebreus 10:1-7, 22-25

"Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa" (Hb.10:22).

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo da Epístola aos Hebreus, estudaremos nesta Aula o capítulo 10. Neste capítulo, o autor de Hebreus faz lembrar e reforça os argumentos anteriormente expostos sobre a singularidade e a eficácia da obra expiatória de Jesus Cristo. Tendo feito isso, ele destaca inúmeros privilégios que a Nova Aliança oferece a todos aqueles que creem no sacrifício de Jesus e buscam se achegar a Deus. “Mediante a fé em Jesus fomos justificados e regenerados, e hoje temos livre acesso à presença do Pai. Com certeza, este é o maior benefício que nos foi concedido pelo Senhor. Todos os benefícios da Nova Aliança só se tornaram possíveis mediante a obra expiatória de Jesus Cristo, pois na Antiga Aliança somente o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos uma vez no ano no Dia da Expiação. Hoje, por meio do sacrifício perfeito e eterno de Cristo, temos livre acesso à presença de Deus. Este é um grande privilégio que conduz a uma grande responsabilidade. Como crentes jamais devemos negligenciar a Nova Aliança menosprezando a graça de Deus”.

I. A DÁDIVA DA NOVA ALIANÇA

1. Uma única oferta. “Mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus” (Hb.10:12). Na Antiga Aliança, o motivo básico dos sacrifícios é a substituição e seu fim é a expiação. O pecado é sumamente grave porque é contra Deus. Além do mais, Deus "é tão puro de olhos que não pode ver o mal" (Hc.1:13). O ser humano que peca merece a morte; no Antigo Testamento, no lugar do ser humano, morria um animal inocente e esta morte cancelava ou retirava o pecado dele. Se não fosse pelos sacrifícios, ficaria anulada toda a possibilidade do ser humano se aproximar de Deus, que é santo.

Várias eram as ofertas de sacrifícios no sistema levítico. Segundo Paul Hoff, autor do livro “O PENTATEUCO”, havia pelo menos 05 tipos de ofertas de sacrifícios. Vejamos:

a) O holocausto (Lv.1:1-17; 6:8-13). O holocausto destacava-se entre as ofertas porque era inteiramente consumido pelo fogo do altar; era considerado o mais perfeito dos sacrifícios. Todas as manhãs e todas as tardes diante do tabernáculo se oferecia um cordeiro em holocausto para que Israel se lembrasse de sua consagração a Deus (Êx.29:38-42).

b) A oblação ou oferta de alimento (Lv.2:1-16; 6:14-23). A oblação não era um sacrifício de animal; consistia em produtos da terra que representavam o fruto dos labores humanos: incluíam flor de farinha, pães asmos fritos e espigas tostadas. Provavelmente não era apresentada sozinha, mas acompanhada dos sacrifícios pacíficos ou de holocaustos (Nm.15:1-16). Uma porção pequena era queimada sobre o altar e o restante pertencia aos sacerdotes, salvo quando o sacerdote era o ofertante (em tal caso esse restante era queimado). Essa oferta significava a consagração a Deus dos frutos do labor humano. O ofertante reconhecia que Deus o havia provido com seu pão quotidia­no.

c) O sacrifício de paz (Lv.3:1-17; 7:11-34; 19:5-8; 22:21-25). Visto que era uma oferta completamente voluntária, aceitava-se (excluindo aves) qualquer animal limpo de ambos os sexos. Espargia-se o sangue sobre o altar e se queimava a gordura e os rins. Assim Deus recebia o que se considerava a melhor parte e a mais saborosa. Embora este sacrifício incluísse a ideia de expiação, o significado maior era a comunhão jubilosa com Deus que acompanha a reconci­liação com ele. O sacrifício pacífico cumpriu-se em Cristo, "nossa paz", que desfez a inimizade entre Deus e o homem e possibilitou a comunhão com Deus (Ef.2:14-16). Em um aspecto é muito semelhante à Santa Ceia.

d) O sacrifício pelo pecado (Lv.4:1-5:13; 6:24-30). Esta oferta destinava-se a expiar os pecados cometidos por ignorância e erro, inclusive faltas tais como recusar-se a testificar contra um criminoso diante de um tribunal ou jurar levianamente (Lv.5:1-4). O sumo sacerdote ou a congregação tinha de oferecer um novilho, o animal mais caro. O governante oferecia um bode; e uma pessoa do povo simplesmente uma cabra ou uma cordeirinha; os pobres ofereciam duas rolas ou pombinhos recém-nascidos e; os muito pobres, uma medida de farinha que era queimada sobre o altar. Como o sacrifício pelo pecado tinha o propósito de expiar as faltas, não se permitia ao ofertante comer a carne do animal, porém era dada ao sacerdote oficiante uma porção por seu ministério. Daqui vinha o ditado: “o sacerdote come os pecados do povo”. O sacerdote tinha de comer a carne no lugar santo para mostrar que o pecado havia sido perdoado.

e) O sacrifício pela culpa ou por diversas transgressões (Lv.5:14-6:7; 7:1-7). Conquanto esta oferta seja muito semelhante ao sacrifício pelo pecado, era oferecida em caso de violação dos direitos de Deus ou do próximo, tais como descuido no dízimo, pecados relacionados com a propriedade alheia e furto. O ofensor que desejasse ser perdoado confessava com restituição ao defraudado e adicionando a isso uma quinta parte como multa tirada de suas possessões. Se não fosse possível fazer a restituição ao defraudado ou a algum parente dele, tinha de entregá-la ao sacerdote (Nm.5:8). Mas não era suficiente reparar o mal feito ao seu próximo e à sociedade; exigia-se dele oferecer em sacrifício um carneiro sem defeito como sinal de pesar e de arrependimento. A oferta de um animal de tanto valor simbolizava o alto custo do pecado e reavivava o sentido da responsabilidade perante Deus.

Os sacríficos incessantes de animais e a chama incessan­te do fogo do altar eram necessários porque as pessoas não viviam de acordo com as leis que Deus lhes tinha dado; Deus queria gravar na consciência dos homens a convicção de sua própria pecaminosidade, e para ser um quadro perdurável do sacrifício vindouro de Cristo, para quem apontavam e em quem foram cumpridos.

Embora fossem necessários sacríficos para pagar o preço do pecado, Deus nunca se agradou de tais sacríficos – “Sacrifício e oferta não quiseste... holocaustos e oblações pelo pecado não te agradaram” (Hb.10:5,6). Em muitas passagens da Bíblia, Deus revelou que não queria os sacríficos de uma pessoa que não tivesse um coração justo. Deus queria que o seu povo obedecesse a Ele.

2. Um único ofertante. A oferta foi única, o ofertante também (Hb.10:12) – “mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus”. Na Antiga Aliança, os sacerdotes tinham que oferecer sacríficos diariamente (Hb.10:11) – “todo sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar pecados”. Esses sacríficos “nunca podiam tirar pecados”. Por outro lado, o nosso Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, ofereceu a si mesmo a Deus Pai como “único sacrifício pelos pecados”, válido para sempre. O sistema de sacrifícios não podia remover completamente o pecado; o sacrifico de Cristo, porém, fez isto. Cristo, agora, como Rei e Sacerdote está assentado “à destra de Deus” (Hb.10:3,12). Ele pode se assentar ali porque o seu sacrifico foi completamente suficiente para se encarregar da questão do pecado.

3. Uma única vez. “A qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez” (Hb.10:10). Enquanto os sacrifícios da Antiga Aliança necessitavam ser frequentemente repetidos, o sacrifício de Cristo foi feito uma única vez em favor de todos os homens.

A repetição diária e anual dos sacríficos recordava o povo dos seus pecados e ensinava-o que “é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire pecados” (Hb.10:4). Os sacrifícios de animais forneciam apenas um meio temporário de lidar com o pecado até que Jesus viesse para lidar com Ele de forma final e permanente. Tinham valor simbólico até que Jesus oferecesse o único e verdadeiro sacrifício. Para o autor de Hebreus, esses sacrifícios não passavam de uma sombra da qual Cristo era a realidade (Hb.10:1). Cristo, com uma única oferta, uma vez para sempre, realizou a obra da redenção (Hb.10:14). Somente o sangue do Filho de Deus nos limpa de todo pecado. Segundo Hebreus 10:10, o sacrifício de Jesus e o seu cumprimento da vontade de Deus foram perfeitos, e, portanto, proveu um caminho para o pleno perdão, reconciliação com Deus e santificação.

II. OS PRIVILÉGIOS DA NOVA ALIANÇA

1. Regeneração. “Este é o concerto que farei com eles depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seu coração e as escreverei em seus entendimentos, acrescenta: E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado” (Hb.10:16-18).

Aqui, o autor de Hebreus cita o profeta Jeremias (Jr.31:33,34). O autor faz a conexão entre o sacrifício de Cristo e a Nova Aliança. Aqui vemos novamente uma ligação intima entre o perdão dos pecados e a capacidade de conhecer a Deus. A Nova Aliança e o Novo Sacrifício trouxeram o perdão dos pecados de uma maneira melhor do que aquela que o sistema levítico podia proporcionar. Com os pecados perdoados, os cristãos agora podem entrar na real presença de Deus. A culpa que permanecia sob o Antigo Pacto agora foi permanentemente removida.

Diferente dos sacrifícios do Antigo Pacto, que apenas cobriam temporariamente o pecado, mas não transformava o pecador, o sacrifício de Cristo constituiu-se “numa só oblação” (Hb.10:18), que “aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb.10:14). Com o advento da graça, somos santificados pela Palavra (João 17:17), pela fé em Cristo (At.26:18) e pelo sangue de Jesus (1Pd.1:2). Na Antiga Aliança, a santificação se dava mais no aspecto cerimonial; todavia, a grandeza da Nova Aliança está na mudança interna que ela produz, isto é, no coração (Hb.10.16).

2. Acesso à presença de Deus (Hb.10:19-22) – “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé...”.

Na Antiga Aliança, as pessoas comuns do povo não podiam adentrar no santuário propriamente dito. Só chegavam até ao pátio, que era a parte exterior do tabernáculo. Em Cristo, no entanto, homens e mulheres salvos são “sacerdotes reais” (1Pd.2:9), e têm “ousadia para entrar no Santuário pelo sangue de Jesus”. Este é um privilégio que só os fiéis lavados e remidos pelo sangue de Cristo podem ter. Tais crentes não precisam de medianeiros, guias ou gurus; o próprio crente tem acesso ao lugar mais íntimo do santuário por intermédio de Cristo Jesus, o perfeito sumo sacerdote (Hb.10:19). Embora sejamos sacerdotes (1Pd.2:9; Ap.1:6), ainda assim precisamos de um Sumo Sacerdote; Cristo é o nosso grande Sumo Sacerdote (Hb.10:22), e o seu ministério atual assegura-nos um continuo “bem-vindo” diante de Deus. Mas, para achegarmos a Deus é preciso que o façamos "com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água pura" (Hb.10:22). “Água pura”, aqui, pode referir-se à Palavra de Deus (Ef.5:25,26), ao Espírito Santo (João 7:37-39) ou ao Espírito Santo usando a Palavra na purificação de nossa vida da corrupção diária.

3. Comunhão. Este é outro privilégio que a Nova Aliança nos proporciona. Comunhão é uma vocação, fomos chamados à comunhão - "Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu filho Jesus Cristo, Nosso Senhor" (1Co.1:9).

- Comunhão com Deus. Comunhão com Deus significa comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo: (a) com o Pai - "E a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo" (1João 1:3); (b) com Cristo - "Pois onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles”(Mt.18:20); "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”(Ap.3:20); (c) com o Espírito Santo - "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”(2Co.13:13).

- Comunhão dos santos (Hb.10:24,25). “E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia”.

Por comunhão dos santos entende-se a união que existe entre todos os crentes. A igreja é a comunidade de todos os cristãos de todos os tempos. Somos uma família. Somos irmãos da família de Deus (Ef.2:19; 3:15). Deus é representado como o Pai da família de Deus e nós, seus filhos e servos (Mt.12:49,50; 13:27; 20:1; 2Co 6:18; 1João 3:14-18). Devemos tratar uns aos outros como uma família (1Tm.5:1,2).

Elementos que envolvem a comunhão:

·        Amor. Na Nova Aliança, o amor não é uma emoção, mas um ato de vontade. Nós somos exortados a amar; portanto, é algo que podemos e devemos fazer. O amor é a raiz, e as boas obras são os frutos. A marca dos discípulos de Cristo é o amor uns pelos outros (João 13:35; 1João 1:7). Amor fraterno deve existir entre os crentes (Hb.13:1; 1Pd. 3:8). À igreja do amor fraternal, foi dito: “guarda o que tens” (Ap.3:11).

·        União. Jesus declara que a unidade da igreja é um testemunho para os descrentes (João 17:20-23). Paulo conclama a igreja à união e não à divisão (1Co.1:10-13). Quem ama a Deus, e não ama a seu irmão, é mentiroso (1João 4:20). Temos uma só fé, um só Espírito, um batismo, um Senhor (Ef.4:5,6; Fp.1:27). O caminho para a união é a humildade (Fp.2:2-5). É bom viverem unidos os irmãos (Sl.133:1).

·        Atitude. Devemos estender a mão da comunhão (Gl.2:9). O trabalho social é também uma forma de evangelizar. Aliás, é essa a linguagem que o mundo entende (1João 3:17).

·        Congregação. “Não deixando a nossa congregação” (Hb.10:25). Aqui, não se refere ao sentido físico, ou seja, deixar a igreja local para ir congregar-se em outro bairro; mas sim, que não devemos deixar de congregar-nos, de nos reunirmos, tendo em vista a necessidade da comunhão coletiva. Somos membros uns dos outros (Rm.12:5). É equivocada e carnal a ideia de que alguém pode ser “crente em casa”, a menos que esteja doente. Ninguém consegue ser crente isolado ou sozinho. Por isso, o "congregar" é importantíssimo para a saúde espiritual do crente (Hb.10:24,25).

III. AS RESPONSABILIDADES DA NOVA ALIANÇA

1. Vigilância. Vigiar significa ficar de sentinela, ficar de guarda, ficar de atalaia. O crente vigilante é um crente que se precavém do mal e das astutas ciladas do diabo. Vigiar, também, significa estar alerta, não dormir. O crente vigilante, portanto, é aquele que não dorme. Dormir, como vemos na parábola das dez virgens, tem o significado de ter distraída a atenção para as coisas desta vida, descuidar da presença de Deus nas nossas vidas. As virgens loucas não tinham azeite em suas lâmpadas, ou seja, tiveram desviada a sua atenção para as coisas desta vida e se descuidaram de ter o Espírito Santo em seu interior, o que acontece quando nós O entristecemos (Ef.4:30). Não dormir é, portanto, não deixar faltar o azeite, isto é, o Espírito Santo, o que acontece quando fazemos a vontade do Senhor, quando seguimos a sua direção, quando nos inclinamos para as coisas do espírito (Rm.8:5-9). Há um preço alto quando nos falta a vigilância.

O autor de Hebreus exorta que “guardemos firme a confiança da esperança, porque fiel é o que prometeu” (Hb.10:23). Não há dúvida de que ele acreditava que um cristão genuíno pode decair da graça, senão, não teria sentido algum seu forte argumento exortativo. Nada deve nos afastar da confissão incondicional de nossa única esperança que está em Cristo. Aquele que confia em Cristo nunca será desapontado.

Às pessoas tentadas a desistir do futuro, das bênçãos não vistas do cristianismo pelas coisas presentes e visíveis, há a lembrança de que quem fez a promessa é fiel. Suas promessas nunca podem falhar; o Salvador virá, como prometeu, e seu povo estará com Ele e o adorará para sempre.

2. Confiança. Exorta mais uma vez o autor sagrado: “Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão” (Hb.10:35). Com o objetivo de animar a fé dos crentes, o autor encoraja-os através da lembrança de que as ações passadas demonstraram a sua fé genuína. Eles haviam experimentado sofrimento, abandono e até mesmo a espoliação; contudo, permaneceram firmes. Relembra o autor de Hebreus:

“Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições. Em parte, fostes feitos espetáculo com vitupérios e tribulações e, em parte, fostes participantes com os que assim foram tratados. Porque também vos compadecestes dos que estavam nas prisões e com gozo permitistes a espoliação dos vossos bens, sabendo que, em vós mesmos, tendes nos céus uma possessão melhor e permanente” (Hb.10:32-34).

Lembrar-se da fidelidade que demonstraram no passado deveria incentivá-los a perseverar na fé. Durante aqueles dias passados, esses crentes tinham permanecido fiéis mesmo suportando grande combate de aflições. Eles tinham sido insultados e maltratados publicamente (“feitos espetáculo com vitupérios e tribulações”). Durante aquele período difícil de perseguição, eles tinham incentivado uns aos outros a permanecerem firmes, ajudando os companheiros de fé que assim foram tratados. O autor, agora, exorta aqueles crentes destinatários, e a nós também, que aquela mesma confiança experimentada no passado deveria continuar como um sólido fundamento. Aqueles crentes destinatários estavam agora mais perto do que nunca do cumprimento da promessa de Deus; não era hora de retroceder. Quando o cristão perde a capacidade de confiar, ele perde a motivação pelas coisas celestiais. O Céu é para quem é fiel até o fim, independentemente das circunstâncias. Aquele que é fiel tem confiança. Não devemos abrir mão da confiança que temos; ela será ricamente recompensada.

3. Perseverança. “Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa” (Hb.10:36). Aqui, o autor sagrado exorta que aqueles crentes precisavam mesmo era de perseverança, a determinação de permanecer sob perseguições, em vez de fugir delas negando a Cristo. O autor de Hebreus implora: “Não rejeiteis, pois, a vossa confiança” (Hb.10:35) no Senhor; isto é: não abandonem a sua fé em tempos de perseguição, mas mostrem, por meio da paciência e perseverança, que a sua fé é genuína e sincera e que vocês irão continuar a fazer a vontade de Deus. Uma fé assim significa descansar naquilo que Cristo fez no passado, mas também significa confiar naquilo que Ele irá fazer no presente e no futuro. Fazer isto resultará em um grande galardão - alegria hoje e posses celestiais no futuro -, do qual a maior benção é a vida eterna. Pense nisso!

CONCLUSÃO

Concluo esta Aula citando Hebreus 10:37,38: “Porque ainda um poucochinho de tempo, e o que há de vir virá e não tardará. Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele”. Aqui, o autor mostra que uma das promessas que os crentes irão receber é a volta de Cristo. Essa segunda vinda de Cristo e todas as bênçãos que vêm com Ele superam qualquer desconforto enfrentado pelos crentes nesta vida. As pessoas fiéis a Deus e que vivem da fé, esperam desejosas esta grande benção; é a maior esperança do crente, por isso se propõe a perseverar até o fim. No entanto, aqueles que recuam ser fiel a Deus e perseverar no caminho perdem a bênção celestial, porque provam que não pertencem à família de Deus. As pessoas que abandonam a fé cristã em meio a perseguições estarão perdendo o objetivo final da salvação: a vida eterna com Cristo. O cristão não deve se acomodar nem tampouco abusar dos privilégios que a Nova Aliança nos proporciona, por causa da graça de Deus; em vez disso, devemos demonstrar vigilância e perseverança no caminhar com Cristo.

-------------

Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 73. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Paul Hoff . O Pentateuco. Ed. Vida.
Leo G. Cox.  O Livro de Êxodo - Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Victor P. Hamilton. Manual do Pentateuco. CPAD.