domingo, 16 de fevereiro de 2020

Aula 08 - O INÍCIO DA CIVILIZAÇÃO HUMANA – Subsídio


1º Trimestre/2020

Texto Base: Gênesis 4:1-16

23/02/2020
"E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu e teve a Enoque; e ele edificou uma cidade e chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque" (Gn.4:17).
Gênesis 4:
1-E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu, e teve a Caim, e disse: Alcancei do SENHOR um varão.
2-E teve mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra.
3-E aconteceu, ao cabo de dias, que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR.
4-E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta.
5-Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante.
6-E o SENHOR disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante?
7-Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás.
8-E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou.
9-E disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?
10-E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.
11-E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão.
12-Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e errante serás na terra.
13-Então, disse Caim ao SENHOR: É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada.
14-Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e errante na terra, e será que todo aquele que me achar me matará.
15-O SENHOR, porém, disse-lhe: Portanto, qualquer que matar a Caim sete vezes será castigado. E pôs o SENHOR um sinal em Caim, para que não o ferisse qualquer que o achasse.
16-E saiu Caim de diante da face do SENHOR e habitou na terra de Node, da banda do oriente do Éden.

INTRODUÇÃO

Trataremos nesta Aula do início da civilização humana. Teremos como base: Gênesis capítulo 4; é neste texto sagrado que é mencionado a primeira cidade construída pelo ser humano (Gn.4:17). Não se sabe, porém, se esta, realmente, foi a primeira cidade, pois quando Caim saiu errante “diante da face do Senhor” (Gn.4:16) ele “habitou na terra de Node, da banda do oriente do Éden” (Gn.4:16); talvez já existisse famílias morando ali, tendo em vista que Adão e Eva tiveram “filhos e filhas” (cf. Gn.5:4).
Um fato é irrefutável: a raça humana é advinda de um mesmo tronco, Adão e Eva (vide Aula 05). Deste casal, Deus planejou a raça humana; a ordem divina para "frutificar" e "multiplicar" demandava o ensejo de constituir uma civilização humana, e que fosse espalhado por toda a Terra. Atualmente, segundo os dados do Banco Mundial em 2017, somos aproximadamente sete bilhões e setecentos milhões de pessoas no mundo, e, segundo novo relatório da ONU, divulgado em 17 de junho de 2019, a população mundial deve crescer em 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos, passando dos atuais 7,7 bilhões de indivíduos para 9,7 bilhões em 2050.
A ordenança para crescer e multiplicar vem sendo cumprida, porém, a maioria dessas pessoas, infelizmente, caminha para a perdição eterna, porque não querem se reconciliar com Deus por meio de Jesus Cristo, que é o único Caminho para vida eterna com Deus (João 14:6). O apóstolo Pedro foi enfático: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12).

I. A ORIGEM DA CIVILIZAÇÃO HUMANA

1. Definição de Civilização

Segundo historiadores, “civilização é o estado de cultura social, caracterizado por um relativo progresso no domínio das ciências, da religião, da política, das artes, dos meios de expressão, das técnicas econômicas e científicas, e de um grau de refinamento dos costumes”.
As civilizações foram se formando ao longo de diferentes épocas e são estudadas através da análise e interpretações dos historiadores que se utilizam de vestígios deixados pelo homem, entre eles, restos arqueológicos, monumentos, tradições e documentos escritos que são fundamentais para o conhecimento da história de uma civilização.
O desenvolvimento de uma civilização ocorre lentamente, logo é um processo. Vários fatores podem influenciar no desenvolvimento de uma civilização como, por exemplo, recursos naturais de uma região, clima, proximidade com outra civilização, liderança exercida por um determinado período, etc.
Durante a história, tivemos o desenvolvimento de diversas civilizações com características diferentes:
- A civilização antediluviana. Nessa civilização havia fartura de pão, saúde perfeita, beleza perfeita, longevidade, tecnologia suficiente para atender o desenvolvimento dessa civilização; por isso, a população antediluviana dava-se ao luxo de viver irresponsável e impiamente. A longevidade era um marco desse glorioso período, contavam a vida em séculos, não em décadas.
Além disso, a geração antediluviana era bastante próspera, não se angustiava com os problemas que, hoje, nos afligem. Ninguém se preocupava com a escassez. Havia água e comida em abundância. Eram vegetarianos (Gn.1:29) – “E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda erva que dá semente e que está sobre a face de toda a terra e toda árvore em que há fruto de árvore que dá semente; ser-vos-ão para mantimento”.
Como possuíam tudo em abundância, e sem o temor de Deus, a natureza carnal os levou a orgias e truculências; sua lógica era o pecado. Com uma vida quase milenar, os pré-diluvianos viviam pendularmente entre a infinidade e a impunidade. Como um homem de quase mil anos haveria de temer a morte? E se Deus já os entregara aos próprios erros, não lhes castigando de imediato a iniquidade, por que temer o juízo final se a história mal havia começado? Por essa razão, os contemporâneos de Noé viviam para pecar e pecavam para viver. Não era incomum deparar-se com um adúltero de seiscentos anos, com um assassino de oitocentos ou um corrupto de quase mil anos.
Diante de um quadro de impunidade, de degradação moral, o Senhor resolve dar um basta a tudo isso: o dilúvio veio sobre eles, destruindo-os. Jesus Cristo fez uma descrição desse período, quando ele falava aos seus discípulos acerca de sua segunda vinda: “Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem” (Mt.24:38,39).
-A civilização egípcia. Caracterizou-se pela concentração de poder e riquezas materiais nas mãos do rei faraó. Desenvolveram vários conhecimentos com objetivo religioso (preservar o corpo e as riquezas para uma vida após a morte).
-A civilização grega. Desenvolveu-se com intuito de aprimorar as capacidades intelectuais, físicas e políticas. Neste contexto, desenvolveram a democracia, as artes, o teatro e muito mais.
-A civilização romana. Dedicou-se ao domínio militar em amplas regiões como forma de obter poder econômico e bélico. Dominou e organizou províncias; desenvolveu um complexo sistema de leis. Também criaram técnicas de batalha e armamentos sofisticados para a época.

2. O Casamento como base da civilização

A civilização humana teve início a partir do primeiro casamento entre Adão e Eva. Quando Adão recebeu do Senhor Deus a sua esposa, aprendeu que um homem e uma mulher deviam viver juntos pelo casamento (Gn.2:24) – “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”. Sem o casamento, cujo real modelo encontramos na Bíblia Sagrada, a civilização humana, os povos e a sociedade organizada, seriam impossíveis.
Infelizmente, com o pecado de Adão e Eva, o homem logo dispôs alterar o modelo instituído por Deus, trilhando por caminhos diferentes do que Deus tinha, originalmente, estabelecido: o casamento heterossexual, monogâmico e monossomático.
A Bíblia relata que foi na civilização cainita que se iniciou a poligamia e os pecados de prostituição. Lameque, o primeiro praticante da poligamia, foi quem deu a cartada inicial da quebra do princípio da monogamia (ler Gn.4:19), abandonando-se o modelo divino de família. Os pecados sexuais, agora, eram cometidos como se nada fosse proibido; não havia limites à prostituição; a irmã de Tubal-Caim, Naamá, é tida como a primeira prostituta da história.
Conforme o texto sagrado, até mesmo os descendentes de Sete corromperam-se em meio àquela imoralidade abominável. Relata o autor sagrado: “viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram” (Gn.6:2). Esses “filhos de Deus”, sem dúvida, eram os descendentes da linhagem piedosa de Sete (cf. Dt.14:1; Sl.73:15; Os.1:10); eles deram início aos casamentos mistos com as “filhas dos homens”, isto é, mulheres da linhagem ímpia de Caim.

3. A subsistência da civilização

Indubitavelmente, o meio à subsistência de uma civilização é o trabalho; logo, não há como o ser humano viver sem ele (Sl.128:2; 2Ts.3:10).
Antes da Queda, Deus criou um lindo Jardim para que Adão trabalhasse, cuidasse dele e fosse sua morada (Gn.2:8). As duas primeiras atividades laborais de Adão, o primeiro homem, foram "lavrar" e "guardar" a terra (Gn.2:15). A mulher, Eva, foi criada como sua ajudante e companheira (Gn.2:18). Assim, Adão e Eva deveriam, literalmente, cultivar o Jardim, fazê-lo crescer e florescer; eles também foram colocados lá para guardá-lo e para protegê-lo de qualquer coisa que pudesse danificá-lo ou prejudicá-lo. O trabalho que Deus deu a Adão e Eva é o paradigma para todo trabalho humano.
“E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs ali o homem que tinha formado”.
“E tomou o SENHOR Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar”.
“E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente”.
O papel dos seres humanos é trabalhar, tornando a terra aquilo que pode sustentar a vida; e o papel de Deus é provê-la de chuva (Gn.8:22). Esses dois papéis da humanidade e de Deus são os fatores mais fundamentais da existência, cuja ausência significaria o estado do mundo antes da restauração da criação: sem forma e vazio. Deus fez uma promessa que, enquanto a Terra durar, nunca faltará alimento na terra (Gn.8:22) – “Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite não cessarão”.
Infelizmente, por causa da Queda, tudo foi distorcido na vida do ser humano; três fatores declinantes aconteceram com o trabalho de Adão e Eva, e também aconteceriam com a sua posteridade, chegando até nós:
ü O trabalho tornou-se infrutuoso e com fadiga. Mesmo que Adão trabalhasse penosamente no solo, durante toda a sua vida, o solo estava amaldiçoado sob seus pés –“Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo” (Gn.3:17,18).
ü O trabalho tornou-se penoso, desgastante - “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn.3:19).
No mundo caído, o trabalho é penoso, desgastante. Até mesmo um trabalho que amamos tem pelo menos algum aspecto que é cansativo, tedioso e mesmo doloroso. Inúmeras sãos as pessoas que se encontram mentalmente esgotadas e cansadas por causa de suas atividades profissionais. Os consultórios médicos estão lotados de pessoas com estafa e estresse. Muitos suicídios acontecem por causa do trabalho estafante, penoso. Há textos na Bíblia que nos lembram dessa realidade: "Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os afligir" (Ec.3:10). Jó também declarou: "Porque a aflição não vem do pó, e não é da terra que brota o enfado. Mas o homem nasce para o enfado [trabalho – ARC], como as faíscas das brasas voam para cima" (Jó 5:6,7).
ü O trabalho tornou-se um ato compulsório de sobrevivência. O que era um ato livre de adoração, agora é um ato compulsório de sobrevivência. Disse Deus: “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn.3:19).
Deus tinha plantado um pomar, e tudo o que Adão precisava estava lá para pegar e comer. Mas agora há uma urgência, uma compulsão, uma ordem para trabalhar. Como Paulo disse: “Quem não quiser trabalhar não deve comer” (2Ts.3:10). 
Não é que o trabalho tenha, agora, se tornado ruim; não é que o trabalho seja punição pelo pecado; é que, num mundo caído, o trabalho penoso e infrutuoso é também implacável. Gostemos ou não, devemos trabalhar; nós não podemos escapar dele, exceto na morte.

II. CIVILIZAÇÃO E CONFLITO

Depois do pecado de Adão e Eva, consequências terríveis caíram sobre toda a raça humana em cumprimento à sentença divina (Gn.3:17-19). A erva daninha da natureza carnal cresceu assustadoramente; o pecado alcançou enormes proporções. O poder do inferno foi colhido por muitos anos, o mal se avolumou, e toda geração antediluviana se corrompeu, associando-se à violência, à maldade e à perversão de costumes.

1. Caim e Abel

Caim e Abel, os dois primeiros filhos de Adão após a Queda, segundo a Bíblia, dedicaram-se, respectivamente, a agricultura e a pecuária (Gn.4:2). Foi na convergência de ambas as atividades, que Caim, o agricultor, movido por uma inveja maligna, matou seu irmão Abel, o pecuarista temente a Deus.
Inveja é a antipatia ressentida contra outra pessoa que possui algo que não temos e queremos; é um pecado grave; faz parte do rol das obras da carne exarado em Gálatas 5:19-21. Uma pessoa invejosa perturba-se com o sucesso dos outros; não se alegra com o que tem, mas se entristece pelo que o outro tem. Um invejoso nunca tem paz porque sua mesquinhez é como um câncer que lhe destrói os ossos. Disse bem o sábio: “...a inveja é a podridão dos ossos” (Pv.14.30).
Caim foi tomado por tão grande inveja que foi impulsionado a perseguir e matar o seu próprio irmão (Gn.4:8). Tiago afirma: “pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins” (Tg.3:16).
Caim foi levado passo a passo, pela sua própria maldade, a cometer tamanho desatino.
ü Seu caráter omitia a consciência do pecado ou a necessidade de expiação (Gn.4:3). “E aconteceu, ao cabo de dias, que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR”. Scofield, na Bíblia com anotações, escreve: “Caim é um tipo do homem comum da terra. Sua religião era destituída de qualquer sentimento adequado de pecado ou necessidade de expiação. Este tipo de religioso encontra-se em 2Pedro capítulo 2”.
ü Sua ira e seu semblante descaído prevaleceram à vontade de Deus (Gn.4:5-7). O Senhor, pessoalmente, falou a Caim, dando-lhe oportunidade de mudança e avisando solenemente do que poderia acontecer caso ele não mudasse de atitude (Gn.4:6,7). Ele não deu ouvidos à Palavra de Deus; endureceu o coração; estava zangado com seu irmão e com Deus (cf. Hb.3:7-13).
“É muito evidente que o problema de Caim não estava em sua oferta, mas em seu coração. Em outras palavras, Deus rejeitou o ofertante, e não a sua oferta”.
ü Seu ato foi cruel e traiçoeiro. Não sabemos detalhes desse ato de Caim, mas a descrição revela a crueldade de sua intenção (1João 3:11,12). Ele desobedeceu ao princípio da vida, do amor ao próximo e do temor ao Senhor, e ainda foi rebelde diante da inquirição de Deus, depois de seu crime e de sua mentira: “acaso, sou eu tutor de meu irmão?” (Gn.4:9).
O crime cometido por Caim, portanto, demonstra até que ponto pode chegar a natureza humana quando se deixa dominar pelo ciúme, inveja e ódio. Desde esse homicídio, a violência contra o próximo cresceu assustadoramente, a ponto de Deus ter de aplicar Juízo sobre aquela civilização (cf. Gn.6:11-13).
“A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência. E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra. Então, disse Deus a Noé: O fim de toda carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra”.
Em nossos dias, a violência é vista em todos os lugares do mundo com a prática estarrecedora dos mais diversos tipos de crimes e desrespeito à vida. Deus, brevemente, requererá do ser humano uma rigorosa prestação de contas dos seus atos (Hb.4:13).
“E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”.

2. A cidade de Lameque

Os descendentes de Caim desenvolveram a primeira civilização. A primeira cidade construída, citada na Bíblia, chamava-se Enoque; numa terra chamada Node (Gn.4:16) nasceu Enoque (não confundir com o Enoque que foi arrebatado, relatado em Gênesis 5:22-24). Em homenagem ao filho, Caim deu seu nome à primeira cidade por ele edificada (Gn.4:17).
“E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu e teve a Enoque; e ele edificou uma cidade e chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque”.
A cidade de Caim, Enoque, em alguma parte do oriente do Éden, foi provavelmente apenas uma vila de rudes cabanas, tendo um muro por defesa, para servir como espécie de reduto para sua descendência proscrita. Certamente, havia ali músicas, festas, danças, artes e instrumentos cortantes de bronze e de ferro (cf.Gn.4:21,22). Mas, também, Enoque foi uma cidade marcada pela violência e pela banalidade quanto à vida humana. Nessa cidade havia um personagem bastante notório pela crueldade que ele praticava; seu nome era Lameque, que no hebraico significa vigoroso.
Na descendência de Caim, Lameque, constitui a quinta geração que deu origem a uma geração corrupta de homens preocupados com o "ter" (a família de Jabal), com o entretenimento (a família de Jubal), com as armas de guerra (a família de Tubal-Caim) e com a prostituição (Naamá, irmã de Tubal-Caim).
Lameque cometeu o segundo homicídio mencionado na Bíblia, que seria duplo (um varão por tê-lo ferido e um mancebo por tê-lo pisado – Gn.4:23).
Na história da humanidade, segundo a Bíblia, Lameque foi o primeiro homem a praticar a bigamia, manchando a instituição divina do casamento; ele teve duas esposas: o nome da primeira era Ada, que teria sido mãe de Jabal e de Jubal; o nome da segunda esposa chamava-se Zilá, que foi mãe de Tubal-Caim e de Naamá. Segundo a Bíblia:
ü  Jabal ficou conhecido como o pai dos construtores de tendas e criadores de gado (Gn 4:20).
ü  Jubal, irmão de Jabal, destacou-se como o inventor de instrumentos musicais; por isso, ficou conhecido como “o pai dos músicos” (Gn.4:21).
ü  Tubal-Caim teria sido o primeiro homem a fazer uso do cobre e do ferro nas construções da humanidade (Gn.4:22).
ü  Naamá, que significa “agradável", "desejável", era irmã de Tubal-Caim, e é citada, de modo especial, em Gn.4:22, pois não se mencionava nomes de mulheres nas genealogias antigas. Segundo estudiosos, esta citação não vem como um elogio, mas como uma denúncia do início da prostituição no meio da humanidade.
Os pecados de Lameque e seus descendentes se alastraram de tal maneira que viriam a depravar, inclusive, a linhagem piedosa de Sete, provocando o juízo divino sobre aquela impiedosa civilização.
Lameque é um exemplo a não ser seguido, pelas seguintes razões:
a) Ele se vangloriava de ser um homem violento. Lameque tem prazer em alardear sua violência. Leia novamente suas palavras: “... escutai o que passo a dizer-vos: matei...” (Gn.4:23). Concordo com as palavras do historiador, escritor, filósofo e político italiano Benedetto Croce: “A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora”.
b) Ele banalizava a vida humana - “... Matei [...] um rapaz porque me pisou”. Para Lameque as pessoas não valiam nada. A violência é a demonstração mais vil de que a vida humana não tem valor. Matar um jovem por causa de uma pisada no pé é não ter nenhum respeito com a vida humana.
c)  Ele não gostava de sentir dor, mas feria as pessoas. Lameque não gostava de ser pisado, mas pisava as pessoas. Ele tipifica aquelas pessoas que não gostam de ser machucadas, mas têm prazer em machucar os outros.
d) Ele era avesso ao perdão. Perdão era uma palavra desconhecida no vocabulário de Lameque. Infelizmente, muitos à semelhança de Lameque preferem retribuir a ofensa na mesma intensidade ou em grau superior do que liberar perdão.
Alguém pode alegar que não tem nada a ver com Lameque, afinal nunca matou ninguém. Mas a Bíblia diz que se você odiar a seu irmão é considerado assassino - “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino” (João 3:15).
Portanto, tornamo-nos semelhantes a Lameque quando não perdoamos, antes odiamos ao nosso irmão. Jesus foi mais enfático e contundente quando disse: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus...” (Mt.5:44,45).
Mas, em todos os modos de Deus tratar com a humanidade, Ele nunca deixou de ter um povo fiel e piedoso, que procurou se resguardar da iniquidade e que temeu a Deus. Nos dias de Lameque, a promessa redentiva de Deus (Gn.3:15) não foi interrompida, a despeito da iniquidade galopante daquela época.
Dentre toda aquela civilização corrupta, havia uma família que não se rendeu ao pecado: a família de Noé. Este era justo e temente a Deus, que não se corrompeu como os demais (Gn.6:9; Hb.11:7). Noé e sua família foram salvos, e isso nos mostra que Deus tem um compromisso com aqueles que pela fé lhe obedecem.

3. A tecnologia desenvolvida pelos descendentes de Caim

Ao lado de uma situação ultrajante, onde imperava a violência, a maldade e a perversão dos costumes, a civilização cainita (os descentes de Caim) prosperava no mundo das artes, da música, da arquitetura e das manufaturas (Gn.4:20-22).
“E Ada teve a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado. E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão. E Zilá também teve a Tubalcaim, mestre de toda obra de cobre e de ferro; e a irmã de Tubalcaim foi Naamá”.
Essa prosperidade toda andava lado a lado com a rebelião e o descaso ao Criador e aos seus ditames, uma influência maligna passada de geração a geração, e que está em pleno vigor nos dias atuais.
A civilização cainita era bastante desenvolvida, e por esse motivo dominou o mundo de sua época, influenciando até mesmo os “filhos de Deus”, ou seja, os descendentes de Sete. Estes, seduzidos pela civilização de Caim, vieram a afastar-se de Deus (Gn.6:1-3). Como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, “a partir daí a iniquidade alastrou-se de tal forma na terra, que o Senhor Deus decretou o juízo de toda aquela civilização”.
Porventura, não é o que estamos vendo hoje com relação a milhares de pessoas que se dizem cristãos? Eles estão sendo influenciados pelo progresso dos ímpios e se engodando nas suas teias malignas, fazendo com que se esqueçam de Deus.
O hedonismo e o materialismo têm se alastrado trazendo consequências calamitosas ao povo de Deus da Nova Aliança. Jesus alertou que “como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem” (Mt.24:37-39). Fiquemos, pois, em alerta, pois este sinal é bastante claro e está em evidência atualmente. Jesus está às portas! Você já percebeu isso?

III. O DEUS QUE INTERVÉM NA CIVILIZAÇÃO

“Deus não se limitou a criar o Universo, nem nos abandonou após nos haver formado. Ele continua a observar atenta, justa e amorosamente todas as coisas (Gn.11:5; Sl.50:21; Pv.15:3). E, sempre que necessário, intervém. Se o Senhor não agisse assim, a civilização humana, como a conhecemos, não mais existiria” (LBM.CPAD).
“Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Pv.15:3).

1. A intervenção de Deus para o cumprimento da promessa redentiva

A dor pela perda de Abel foi muito grande, e a promessa do descendente que feriria a cabeça da serpente parecia ter desaparecido. A morte prematura de Abel dissiparia toda esperança e expectativa caso o bem mais uma vez não vencesse o mal. Mas, Deus, que é fiel, deu a Adão e Eva outro filho por nome Sete, no lugar de Abel; seu nome significa “compensação”. Ele preencheu uma lacuna deixada pelas mãos assassinas de Caim.
Deus fez nascer esse filho varão que substituiu o outro covardemente eliminado. Disse Eva: “...Deus me deu outra semente em lugar de Abel; porquanto Caim o matou” (Gn.4:25). Deus é fiel; Ele move céus e terra para que suas promessas sejam cumpridas. Nada, absolutamente nada, o impedirá de trazer novamente o homem, coroa da Sua criação, ao status quo da criação. Um Dia, o ser humano estará para sempre em comunhão plena com o Seu Criador (João 14:3), porque Deus interveio na história para que isto acontecesse. Aleluia!

2. A intervenção na história da civilização

Em toda a história da civilização humana, Deus interveio, pois Ele é o Senhor e Dominador sobre todas as coisas.
Deus interveio na civilização pré-diluviana, quando esta contaminou a Terra com violência e desrespeito com o seu Criador. O Dilúvio foi um meio que Deus utilizou para purificação dessa civilização (Gn.6:7).
“E disse o SENHOR: Destruirei, de sobre a face da terra, o homem que criei, desde o homem até ao animal, até ao réptil e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito”.
Após o Dilúvio, Deus interveio novamente estabelecendo leis e normas para a instituição do governo humano. Deus deu a Noé determinadas leis para que tanto ele quanto sua família e todos os seus descendentes fossem governados por elas. O homem passou a ser responsável pelo seu próprio governo.
As oito pessoas que foram salvas do Dilúvio dariam agora início a uma nova civilização. Era um novo período de tempo, denominado de governo humano por causa das leis humanas e governos que foram instituídos, para regular a vida dos homens após a longa era de liberdade de consciência.
Embora o governo seja humano, a soberania é divina. O principal alvo do governo civil-moral é o bem acima de tudo, e os governos civis e familiares são necessários para assegurar ou alcançar esse fim.
No princípio da era do governo humano várias leis foram dadas, com o homem agora sendo responsável por reinar ou administrar para o bem de todos. As leis são necessárias para a preservação da sociedade humana na Terra (Rm.13:1-7; 1Pd.2:13-15). Sem a existência, execução de leis e punição, nenhum governo pode durar muito tempo. Veja as primeiras leis dadas a Noé, no início do Governo Humano:
ü  Frutificai, multiplicai e enchei a terra (Gn.9:1,7).
ü  Reine sobre os animais (Gn.9:2).
ü  É permitido comer carne de animais, e não somente grãos e ervas vegetal (Gn.9:3).
ü  Não coma sangue de animais (Gn.9:4).
ü  Não cometa assassinato (Gn.9:6). O homem é de grande valor e a vida é sagrada, pois "Deus fez o homem conforme a sua imagem".
ü  Mantenha minha aliança eternamente (Gn.9:9-17).
Infelizmente, após a instituição destas leis, o homem tratou de desobedecê-las, em clara rebeldia contra o Deus Todo-Poderoso. Deus teve que intervir, mostrando que o governo é humano, porém, Deus é o Senhor, o controle é dEle. Deus interveio na rebelião de Babel (Gn.11:4-8).
“4.E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.
5.Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;
6.e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e, agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
7.Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
8.Assim, o SENHOR os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.
Conquanto Deus tenha delegado ao homem o governo do mundo, Ele continua a comandar todas as coisas. Quando necessário, intervém extraordinariamente: Interveio em Sodoma e Gomorra, destruindo ambas as cidades; interveio no Egito, arrancando de lá a Israel; se lermos a história universal com as lentes da soberania divina, constataremos que Deus interveio em Roma, levando-a ao desaparecimento; na Europa, criando nações e abatendo impérios.
São intervenções divinas na comunidade humana. De fato, o governo é nosso, mas o controle é de Deus. Ainda que o ignoremos, continuará Ele a reinar absoluto sobre todas as coisas (Sl.99:1) – “O SENHOR reina; tremam as nações. Ele está entronizado entre os querubins; comova-se a terra”.

3. Jesus Cristo, a única esperança para a civilização humana

O mundo sem Deus vai de mal a pior, contudo, resta ainda uma esperança. Segundo cremos, Deus sempre esteve e continua no controle da história. Ele nunca perdeu e nunca perderá esse controle.
A presente civilização humana perdeu o domínio da racionalidade e caminha às expensas da ignorância. Ela está presa ao relativismo, ao materialismo e às doenças psicossomáticas, espirituais e morais. A crise é tão profunda que as pessoas desconfiam das instituições e das autoridades públicas, privadas e religiosas. Tateiam de um lado a outro à procura de um porto tranquilo para aportar, mas encontram apenas o individualismo, a ganância, a violência, o descaso e a opressão. Em quem confiar? 
Apesar das advertências divinas, os homens continuam buscando soluções nas ciências, no desenvolvimento tecnológico, nas culturas, no misticismo religioso, nas ideologias e, especialmente, nas religiões. Embora não se negue que haja certo valor intrínseco em algumas dessas soluções, se comparadas ao que Cristo realiza espiritual, psíquica e moralmente no homem, elas não passam de muletas.
A verdade é que a única esperança para esta geração está na Pessoa bendita de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus único e Salvador, Todo-Poderoso (1Tm.1:1). Ele é o "Deus de esperança" que nos enche "de todo gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo" (Rm.15:13; 2Ts.2:16).
O evangelho que pregamos, em atenção à comissão estabelecida pelo Senhor (Mt.28:18-20), é a anunciação da esperança, em Cristo, para uma geração em desespero (Cl.1:5,23, 27). Por mais que seja caótica a situação, Deus diz: “E há esperança para o teu futuro, diz o Senhor...” (Jr.31:17). Portanto, “ponha a boca no pó; talvez ainda haja esperança” (Lm.3:29).

CONCLUSÃO

A Graça salvadora de Deus é inesgotável, é abundante; por isto, ela envolve todo o mundo; ela oferece a toda a humanidade a oportunidade de escapar da justa e inevitável condenação; mas, tal qual a civilização antediluviana, a maioria da população mundial de hoje resiste à graça salvadora de Deus. Isso terá limite. A justiça de Deus é certa e muito rigorosa sobre o mundo corrupto e destituído de Deus. Para a civilização antediluviana Deus disse: “O fim de toda carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; eis que os desfarei com a terra” (Gn.6:13). A Palavra de Deus adverte: “E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem”(Mt.24:37). Pense nisso!
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Claudionor, de Andrade. A raça humana – Origem, Queda e Redenção. CPAD.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Bruce K. Waltke. Gênesis. Editora Cultura Cristã.
Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
luloure.blog.post – Aula 08: O início do governo humano.4º Trimestre_2015.
luloure.blog.post - Aula 06: O impiedoso mundo de Lameque. 4º Trimestre_2015.






domingo, 9 de fevereiro de 2020

Aula 07 – A QUEDA DO SER HUMANO – Subsídio


1º Trimestre/2020
Texto Base: Gênesis 3:1-7

“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm.5:12).
Gênesis 3:
1.Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
2.E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos,
3.mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais.
4.Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.
5.Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
6.E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.
7.Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da Queda de Adão, o primeiro ser humano. Este trágico acontecimento é apresentado, literalmente, na Bíblia Sagrada. Não é um relato teórico ou figurativo, mas um relato histórico. Deus deu um mandamento a Adão, e Satanás o instigou a desobedecer esse mandamento, e as consequências foram fatais (cf. Gênesis 3:14-24), para ele e para sua posteridade, chegando até nós. Portanto, a essência do primeiro pecado está na desobediência do homem à vontade divina e na realização de sua própria vontade.
O pecado de Adão e Eva foi uma transgressão deliberada ao limite que Deus lhe havia estabelecido. Deus concedeu ao ser humano o livre-arbítrio, mas estabeleceu uma linha divisória entre o certo e o errado; ultrapassar esse limite estabelecido por Deus é considerado um erro gravíssimo, e isto trará consequências danosas, que poderá repercutir por toda a eternidade; o apóstolo Paulo advertiu: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl.6:7).

I. LIVRE-ARBÍTRIO DO SER HUMANO

1. O Livre-arbítrio

Livre-Arbítrio é a faculdade mediante a qual o homem é dotado de poder para agir sem coações externas, e de acordo com sua própria vontade ou escolha. Como um livre agente, o ser humano tem a capacidade e a liberdade de escolha, inclusive a de desobedecer a Deus(Dt.30:11-20 e Js.24:15). Isso, por si só, é suficiente para que ele seja responsável pelas consequências de seus atos.
Deus fez o homem com poder de servi-lo ou não e, por isso, nós, simples seres humanos, não podemos querer obrigar as pessoas a servir a Deus. Quem cerceia, pois, a liberdade de opção da pessoa em servir, ou não, a Deus, algo que, infelizmente, muitas vezes foi praticado em nome do Senhor, atenta, antes de mais nada, contra a própria ordem estabelecida por Deus, o qual foi quem criou o homem com esta faculdade.
O livre-arbítrio é o maior patrimônio de Deus ao homem, mas a liberdade que Deus lhe deu tem uma correspondência: a responsabilidade. Paulo advertiu aos crentes de Gálatas: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne...” (Gl.5:13).
A contrapartida do poder dado ao homem para escolher entre o bem e o mal é a de que deve responder diante de Deus pela escolha feita, arcando com as consequências de sua opção. O preço de uma má escolha, que fere os ditames da Palavra de Deus, trará consequências danosas, que poderá repercutir por toda a eternidade. Paulo adverte aos que usam da “liberdade para dar ocasião à carne”: “...os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl.5:21).
A Bíblia contém uma série de textos em que o direito humano de escolha fica claro:
-Adão e Eva, no jardim do Éden. Eles podiam escolher o fruto que quisessem comer, menos o proibido; escolheram a desobediência e foram castigados. Se estivessem predestinados a pecar, Deus não os condenaria.
-Caim e seu rancor. Deus deixou claro para Caim que, se ele mudasse sua atitude, sua oferta poderia ser aceita (Gn.4.7); por outro lado, havia a opção pelo pecado; ele escolheu matar o seu próprio irmão. Caim estava morto espiritualmente, mas isso não significava incapacidade de ouvir a voz de Deus, crer e decidir.
-Josué escolheu servir a Deus, porém, os israelitas escolheram servir aos deuses cananeus.
“Mas, se vos parece mal o servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js.24.15). 
“E os filhos de Israel fizeram o que parecia mal aos olhos do SENHOR, e se esqueceram do SENHOR, seu Deus, e serviram aos baalins e a Astarote” (Jz.3:7).
-Moisés colou diante dos israelitas duas opções para que eles escolhessem: a bênção e a maldição, e esta advertência ainda ecoa em nossos dias:
“O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Dt.30.19).

2. A soberania divina

Sendo um dos seus atributos (aquilo que lhe é próprio, qualidade), a soberania de Deus é uma autoridade inquestionável que o Senhor detém sobre o Universo, pelo fato óbvio de que Ele é o Criador de todas as coisas (Is.44:6;45:6; Ap.11:17).
“Assim diz o SENHOR, Rei de Israel e seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e fora de mim não há Deus” (Is.44:6).
-Por ser soberano, Deus decidiu criar todas as coisas e, por isso, o mundo foi criado, pois, em Deus, o simples desejo já é efetuar (Fp.2:13).
-Por ser soberano, Deus quis criar o ser humano com o livre-arbítrio, ou seja, com liberdade para escolher entre o bem e o mal.
-Por ser soberano, Ele estabeleceu a única maneira de o ser humano alcançar a salvação, Jesus Cristo (João 14:6).
Entretanto, a soberania divina não interfere na liberdade do homem, porque a soberania diz respeito a Deus, que está além de toda a criação; é algo imputável somente a Ele, faz parte da sua própria natureza e, por isso, não podemos querer transferir a soberania divina para algo que diz respeito apenas ao homem.
Vemos, pois, que o fato de Deus ser soberano, tem, logicamente, implicações no plano estabelecido para a salvação do homem. Este plano só existe porque Deus é soberano e quis criar uma forma de o homem se livrar do pecado.

3. A responsabilidade humana

Como eu disse, o livre-arbítrio, a liberdade humana, é uma manifestação da vontade divina. Deus quis que o ser humano tivesse esta liberdade e, por isso, não cabe a nós querer estabelecer limites ou objeções ao Senhor por causa desta liberdade. Mas, a liberdade que Deus deu ao ser humano, tem uma contrapartida: a responsabilidade.
Ao verificarmos o texto sagrado de Gn.2:16,17, notamos que Deus deu uma ordem ao homem no sentido de que ele comesse livremente de todas as árvores do jardim do Éden, com exceção da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que dela comesse, certamente morreria. O homem poderia escolher entre o bem e o mal, mas, no dia em que desobedecesse a Deus, em que escolhesse o mal, adviria uma penalidade, qual seja, a morte, a separação entre o homem e Deus - “certamente morrereis”. A contrapartida do poder dado ao homem para escolher entre o bem e o mal era a de que deveria responder diante de Deus pela escolha feita, arcando com as consequências de sua opção.
Esta ideia de responsabilidade mostra, claramente, duas coisas, a saber:
ü  Não existe liberdade sem responsabilidade. O homem não faz o que quer sem qualquer consequência, uma vez que a sua liberdade não é o direito de ditar as regras para si, mas de optar entre seguir, ou não, as regras estabelecidas por Deus. Liberdade não se confunde, pois, com libertinagem, como, infelizmente, tem sido propagandeado pelo mundo ao longo dos séculos e, muito intensamente, nos dias em que vivemos.
ü  A liberdade humana não altera a soberania divina. O uso da liberdade pelo homem deverá ser objeto de prestação de contas diante de Deus, que é o soberano, a máxima autoridade. O plano da salvação, pois, não elide nem sequer diminui a soberania divina.
Como, então, conciliar o direito de liberdade do homem com a soberania divina? Deus é Onipotente, Onipresente e Onisciente, e, em virtude destes atributos, é soberano, visto que tem todo o poder, está presente em todos os lugares ao mesmo tempo e sabe de todas as coisas. Sem tais atributos, com os quais se relaciona com o mundo, não poderia ser soberano, não teria a autoridade suprema sobre tudo e sobre todos. Esta soberania é tanta que permitiu que seres – humanos e anjos - fossem criados com o atributo chamado livre-arbítrio, ou seja, a liberdade de escolher entre servir, ou não, a Deus.
O Senhor não quis criar seres autômatos, verdadeiros “robôs”, mas, na sua soberania, quis que fossem criados seres que, assim como Ele, pudessem saber o que é o bem e o que é o mal, e, portanto, tivessem liberdade para escolher fazer o bem, seguindo, assim, as determinações divinas ou de fazer o mal, ou seja, escolherem ter uma vida em que estivessem distantes de Deus.
Essa liberdade de escolha aparece já nos primórdios de Gênesis, na aurora da raça humana, quando o primeiro casal dá ouvidos à serpente e comete por sua livre vontade a primeira transgressão contra Deus(Gn.3:1-13). Este livre-arbítrio é a maior prova de que Deus é soberano, pois está tão acima dos seres criados que lhes permite, inclusive, dar as costas para Ele.
O fato de Deus permitir que seres humanos possam não lhe obedecer, isto não representa qualquer fragilidade ou diminuição na autoridade de Deus sobre tudo, antes, porém, demonstra a reafirmação desta autoridade, pois o fato de o ser humano poder desobedecer a Deus não retira o fato de que Deus mantém o controle sobre tudo, tanto que tais seres humanos serão responsabilizados pela desobediência no tempo, modo e lugar, já previamente determinado pelo Senhor.
Portanto, a liberdade tem, como contrapartida indispensável, a responsabilidade. Deus nos criou com o poder de escolha, com o poder de decidir o que iremos fazer ou não, mas prestaremos contas de todas estas escolhas e decisões perante Ele, com quem haveremos de tratar um dia (Hb.4:13).
“E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”.

II. A QUEDA, UM EVENTO HISTÓRICO E LITERAL

Para muitos, o capítulo 3 de Gênesis não passa de lenda, mito, fábula, alegoria ou um simples fato isolado na história antiga. Se essa narrativa bíblica não corresponde a um fato histórico com implicações históricas universais até a época presente, então, esse capítulo não deve ser levado a sério e ninguém precisa se preocupar com a ideia de pecado nem aguardar algum tipo de solução ou intervenção divina. Com base nessa interpretação das Escrituras Sagradas é que diversas teorias apostam no homem como a solução para si e para o mundo. Entretanto, para os que confiam na autoridade da Bíblia, os fatos e as consequências da história, que estão narradas em Gênesis 3:14-24, foram e são reais. Acreditar na Queda do homem implica acreditar numa catástrofe que tem afetado todo o curso da humanidade - a minha e a sua vida.

1. A possibilidade da Queda

A Queda do homem foi uma catástrofe que afetou toda a criação, cujo reflexo se perenizou na história da humanidade, chegando até os dias atuais, ainda com grande intensidade.
Alguém pode indagar:
-“Deus tinha conhecimento de que o homem ia cair, isto é, pecar?”. Sim, tinha. Nós já afirmamos que um dos atributos de Deus é a Onisciência. Seu conhecimento é absoluto: Ele conhece o passado, o presente e o futuro. Conhece tão bem o eterno passado como o futuro eterno. Se Deus não conhecesse o eterno futuro, Ele não seria Deus. Só conhecemos Deus como aquele ser que tem todo o poder no Céu, o Universo, e na Terra.
-“Se Deus sabia que o homem ia pecar, por que o criou?”. O autor do livro “A Bíblia responde. CPAD”, dá a seguinte resposta a esta pergunta:
“Apesar de saber disso, Deus criou o homem por causa de seu imensurável amor para com aqueles que haveriam de herdar a salvação.
“Por causa dos que não quiseram no passado, dos que rejeitam no presente e dos que recusarão no futuro a graça oferecida por Deus, esse Deus de amor não poderia deixar de mostrar sua inefável bondade para com aqueles que no passado aceitaram, para com os que no presente estão recebendo, e para com os que no futuro aceitarão com corações transbordando de alegria o eternal plano de salvação.
“Estas verdades sublimes, que não podem ser contraditadas, estão reveladas na Palavra inspirada do apóstolo Pedro: ‘eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência…’ (1Pd.1:2). Não aceitamos uma predestinação arbitrária que permite uma vida desregrada para os ‘contemplados’ porque isso ofende a santidade de Deus. Mas cremos numa eleição em santificação do Espírito para a obediência. Foi para isso que Deus nos chamou, e isso glorifica o Seu nome”.
Ao criar Adão e Eva, Deus conferiu a este casal a liberdade de manutenção (ou não) do seu estado de inocência original. Essa possibilidade dependia da maneira como eles usariam a liberdade.
Lemos em Gênesis 2:16,17 que, após a criação de Adão, Deus lhe deu uma ordem de natureza positiva e negativa. A positiva dizia: “de toda a árvore do jardim comerás livremente”; e a negativa: “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás”. A partir desse exato momento, Adão se viu num teste, no qual poderia se alimentar do fruto de qualquer árvore do jardim, exceto de uma árvore em particular. O teste pode ser visto sob duas perspectivas: Provação e Tentação.
-Com a Provação, Deus estava aplicando um teste de obediência à Sua vontade. É claro que Deus não precisava de algum tipo de instrumento para conhecer as livres reações humanas no futuro, pois Ele é Onisciente (Sl.139:1-6). O alvo do teste na perspectiva divina era o sucesso de Adão e Eva, o qual dependia do alinhamento do coração, alma e entendimento deles (fator interno) à vontade e ao caráter de Deus (fator externo).
-Com a Tentação, Satanás pressionou o primeiro casal a uma atitude de rebelião contra a vontade de Deus. Como uma criatura “caída” que se rebelou contra Deus (Is.14:13,14; Ex.28:11-19), Satanás tentava convencer Adão e Eva a seguirem os passos dele. O alvo do teste na perspectiva diabólica era o fracasso dos dois, o qual dependia do alinhamento do coração, alma e entendimento deles (fator interno) à vontade e ao caráter do diabo (fator externo).
Portanto, a possibilidade da Queda foi um período de teste. Não sabemos quanto tempo durou tal teste. Sabemos que ele passou a ter validade no momento em que foi instituído.

2. A realidade da tentação

Observamos no relato da queda do primeiro casal, que o diabo surge como uma serpente, ou seja, de forma quase imperceptível, quase sem ser notado, apresentando-se à mulher de repente, de surpresa, num momento em que a mulher não esperava, diríamos que num instante de distração. Ante à distração da mulher, Eva, o diabo conseguiu entrar no Jardim para efetuar a sua tarefa destruidora.
A distração, o “cochilo espiritual”, é fatal à saúde espiritual do crente. O caminho da vigilância está relacionado com a meditação diuturna da Palavra de Deus. Quando meditamos nas Escrituras Sagradas, quando as estudamos ininterruptamente, o adversário não encontra brecha para agir.
Observe os passos que levaram a Queda do ser humano:
a) Satanás instigou dúvida em relação à Palavra de Deus: “É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim? ” (Gn.3:1b). Eva estava distraída e, por causa disto, o diabo pôde se aproximar e iniciar um diálogo com ela, lançando-a no campo da dúvida. Diante de tanta amabilidade, Eva aceitou o diálogo, porém, não mostrou firmeza, pois a sua resposta não correspondeu aquilo que, de fato, Deus havia dito. Nossas dúvidas e inseguranças na Palavra de Deus tornam Satanás mais ardiloso e com uma vantagem enorme para atuar.
b) Eva demonstrou desconhecimento da Palavra de Deus. Ela declarou (falando sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal): “... do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais”.
Dá para perceber que a mulher demonstrou desconhecimento da Palavra de Deus. Enquanto a ordem divina era para que não se comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal (cf. Gn.2:16,17), a mulher respondeu à serpente que a ordem era a proibição de comer e tocar na árvore que estava no meio do jardim (Gn.3:3). Vemos aqui, portanto, que a mulher alterou em dois pontos a ordem divina, a saber: (a) árvore da ciência do bem e do mal por árvore que está no meio do jardim; (b) não comereis por não comereis nem tocareis.
c) Satanás contradita o próprio Deus. Face o desconhecimento da Palavra de Deus, agora Satanás estava em condições de contraditar o próprio Deus, pois sentiu que já tinha o controle sobre a mulher. Mais uma vez, com muita sutileza, lançou dúvidas quanto à veracidade da Palavra do próprio Deus - “... certamente não morrereis”, uma maneira muito sutil de afirmar que Deus havia mentido.
Satanás deturpou o mandamento do Senhor ao sugerir que Deus tinha ocultado algo benéfico para Adão e Eva. Satanás se atreveu a negar as consequências da desobediência, como fazem até hoje seus seguidores, ao continuarem negando a existência do inferno e a punição eterna.
d) Satanás desperta na mulher a soberba e o desejo de ser como Deus. Não tendo havido nenhuma reação por ter ouvido que a Palavra do Criador não era verdadeira, então Satanás com maior sutileza deu sua cartada final, despertando, agora, a soberba e o desejo de ser como Deus: “Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn.3:5).
Satanás utilizou-se de um motivo sincero para testar Eva: “sereis como Deus”. Eva não estava errada em querer ser como Deus; tornar-se mais parecido com Deus é o maior objetivo da humanidade. Deveríamos ser assim.
Mas, Satanás enganou Eva no que diz respeito ao modo de alcançar esse objetivo. Ele alegou que ela poderia parecer-se com Deus desafiando a autoridade dele, tomando o seu lugar e decidindo por si mesma o que era melhor para a sua vida. Na verdade, ele a instruiu a ser seu próprio deus.
Entretanto, parecer-se com Deus não é o mesmo que querer ser Deus; ao contrário, é refletir nas características de Deus e reconhecer a autoridade dele sobre a vida de cada pessoa.
Assim como Eva, possuímos um objetivo valioso, mas tentamos alcançá-lo de forma errada. Agimos como um candidato político que usa de suborno para ser “eleito”; ao fazer isto, servir a comunidade já não é mais seu objetivo.
A exaltação própria conduz à rebelião contra Deus. Logo que começamos a retirar Deus de nossos planos, colocamo-nos acima dele. E é exatamente isto o que Satanás deseja. O humanismo secular tem perpetuado a mentira de Satanás: “você será igual a Deus”.
e) A derrocada de Adão e Eva. O diabo mentiu, pôs em descrédito os ditos do Senhor e criou fantasias nas quais o primeiro casal acreditou, e isto determinou a sua derrocada. Sem qualquer ameaça, sem nenhuma palavra forte, apenas na sutileza, Satanás já estava com a mulher na “palma de sua mão”. Eva se deixou enganar – pensou que seria como Deus. Veja a linha sequencial da derrocada de Adão e Eva:
  • Olhou – “vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos”.
  • Desejou – “... árvore desejável para dar entendimento...”.
  • Tomou – “... tomou-lhe do fruto...”.
  • Comeu - “... comeu...”.
  • Morreu - morte espiritual instantânea e morte física gradativa. A punição por transgredir o mandamento era a morte - “... no dia em que dela comeres, certamente morrerás”(Gn.2:17).
Uma vez se desprendendo das Escrituras, as pessoas são iludidas com falsas promessas e fantasias - que as Escrituras denominam de “fábulas”, ou seja, “contos da carochinha” (1Tm.1:4; 4:7; 2Tm.4:4; 2Pd.1:16), falsidades que a seu tempo se revelarão e que, infelizmente, para muitos, significarão a morte eterna. Paulo, profeticamente, advertiu o povo de Deus acerca disso:
“Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2Tm.4:4).
“Adão e Eva tiveram o que queriam: um conhecimento profundo do bem e do mal. Mas isto eles conseguiram cometendo pecado e os resultados foram, portanto, desastrosos. Algumas vezes, temos a ilusão de que “liberdade” é fazer o que queremos. Mas Deus diz que a verdadeira liberdade vem da obediência e da consciência do que não deve fazer. As restrições impostas por Ele são para o nosso bem, para ajudar-nos a evitar o mal. Temos a liberdade de andar em frente a um carro em alta velocidade, mas não precisamos ser atropelados para perceber quão tolo isto seria. Não dê ouvidos às tentações de Satanás. Você não precisa fazer o mal para adquirir mais experiências e aprender mais sobre a vida” (Bíblia de Estudo – Aplicação Pessoal).
No Jardim do Éden, Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal como forma de testar a obediência do ser humano. A única razão para não comerem daquele fruto era o fato de Deus assim haver ordenado. De muitas maneiras, tal fruto ainda se encontra em nosso meio nos dias de hoje.

3. A historicidade da Queda

A Queda do ser humano, como já disse no introito deste tópico, é uma realidade indubitável, deve ser aceita tal como foi narrada no capítulo 3 de Gênesis. Argumenta o Pr. Claudionor de Andrade que “a narrativa da Queda do ser humano tem de ser acolhida de forma literal, pois o Livro de Gênesis não é uma coleção de parábolas mitológicas, mas um relato histórico confiável (2Co.11:3; Rm.15:4) ”.
Argumenta, ainda, o Pr. Claudionor de Andrade: “a hermenêutica pós-moderna, manejando ferramentas e armas forjadas do inferno, ataca impiedosa e malignamente os 11 primeiros capítulos de Gênesis, como se tais passagens fossem meras parábolas morais. E, dessa forma, em repetidos e monótonos golpes, intenta destruir as bases, as colunas e o majestoso edifício da soteriologia bíblica. O que esses pretensos exegetas e hermeneutas não sabem é que a Doutrina da Salvação, qual penha de comprovada solidez, jamais será desgastada por seus martelos. Antes, como já tem ocorrido tantas vezes, são estes a se agastarem, e não aquela, porquanto o Calvário, apesar desses dois milênios já decorridos, continua tão firme hoje quanto na tarde em que o Filho de Deus, entregando o Espirito ao Pai, exclamou: ‘está consumado’”.
Portanto, se não aceitarmos a historicidade e a literalidade do Livro de Gênesis, não teremos condições de entender o restante das Escrituras Sagradas.

III. AS CONSEQUENCIAS DA QUEDA DE ADÃO

Deus fez o homem com o poder de escolher entre o bem e o mal, sendo real a possibilidade da escolha do mal, só que, uma vez feita a escolha pelo mal, o homem sofreria as consequências de sua opção. Ao criar o homem com liberdade, Deus também estabeleceu que o homem responderia diante dEle sobre o uso desta liberdade.

1. Adão e Eva conheceram pessoalmente o mal: seus olhos "foram abertos" (Gn.3:7)

“Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais”.
Adão e Eva chegaram a assemelhar-se a Deus, distinguindo entre o bem e o mal, porém, seu conhecimento se diferencia do conhecimento de Deus em que o conhecimento deles foi o da experiência pecaminosa e contaminada. Deus, ao contrário, conhece o mal como um médico conhece o câncer, porém, o homem caído conhece o mal como o paciente conhece sua enfermidade. A consciência deles despertou para um sentimento de culpa e vergo­nha.

2. Perderam a comunhão com Deus – foram expulsos do Paraíso (Gn.3:23,24)

O pecado sempre despoja a alma da pureza e do gozo da comunhão com Deus. A vida no jardim do Éden era como a vida no Céu. Tudo era perfeito e, se Adão e Eva tivessem obedecido a Deus, eles poderiam ter vivido ali para sempre. Mas, após desobedecerem, Adão e Eva não mais mereceriam o Paraiso, e Deus os expulsou dali, onde, diariamente, conversavam com o Senhor (Gn.3:8).
“o SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra, de que fora tomado. E, havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida”.
Se continuassem a viver no Jardim e a comer da árvore da vida, viveriam para sempre, mas seu estado de pecado significaria a tentativa de esconder-se de Deus por toda a eternidade. A partir daí o ser humano, para reatar a comunhão com Deus, deve ter a presença de um intermediador, Jesus Cristo, que nos atende pela fé que depositamos nEle (Hb.11:6). O apóstolo Paulo enfatizou isto: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm.5:1).             Ele é o único mediador entre Deus e o homem (1Tm.2:5).

3. A natureza humana corrompeu-se e o homem adquiriu a tendência para pecar

O ser humano, agora, já não era inocente como uma criança, mas sua mente se havia sujado e ele sentia vergonha de seu corpo (Gn.3:7). Outra prova da sua natureza corrompida: ele lançou a culpa sobre sua mulher.
Adão chegou a insinuar que Deus era o culpado: "A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi" (Gn.3:12). Isto é uma demonstração clara da natureza decaída do homem.

4. A transmissão do pecado à espécie humana

Somos herdeiros da corrupção moral de Adão. Seu pecado nos foi imputado. Como filhos de Adão, todos os seres humanos nascem em pecado. Adão se posicionou na porta de entrada da história e por meio dele o pecado entrou no mundo. Agora todos estão em estado de depravação total. Todos os seres humanos depois de Adão carregam a sua imagem. Vários textos bíblicos indicam este fato, mas destacaremos apenas dois textos que Paulo escreveu:
"Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram" (Rm.5.12).
"Pela ofensa de um só, a morte reinou" (Rm.5:17).

5. A mulher sofreria dores no parto e estaria sujeita a seu marido(Gn.3:16).

“E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”.
Estar sujeita ao esposo é maldição? Não deve ter a família uma cabeça? Além do mais, não está aí uma figura da relação entre Cristo e a Igreja? (Ef.5:22,23). O mal consiste em que a natureza decaída do homem torna-o propenso a abusar de sua autoridade sobre a mulher; do mesmo modo que a autoridade do marido sobre a mulher pode trazer sofrimento, o desejo feminino a respeito de seu esposo pode ser motivo de angústia. O desejo da mulher não se limita à esfera física, mas abrange todas as suas aspirações de esposa, mãe e dona-de-casa. Se o casamento fracassa, a mulher fica desolada.

6. O homem foi sentenciado a obter alimento de uma terra amaldiçoada com espinhos e cardos (Gn.3:17-19)

“E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás”.
Isto significa que o homem teria de trabalhar o resto da vida em fadigas e com suor do rosto até retornar ao pó.
Devemos observar que o trabalho não é uma maldição. Em geral, o trabalho é uma bênção. A maldição está mais ligada à tristeza, à frustração, ao suor e ao cansaço que acompanham o trabalho.
Toda a raça humana e a própria natureza ainda continuam sofrendo como consequência do juízo pronunciado sobre o primeiro pecado. O apóstolo Paulo fala poeticamente de uma criação que "geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Rm.8:22).
Todavia, quando Jesus implantar o seu Reino Milenial, logo após a Grande Tribulação, o planeta será plenamente restaurado e haverá perfeito gozo, justiça, paz, fartura, harmonia, perfeita saúde (Is.35). Vem logo, Senhor Jesus!

7. A morte – espiritual, física e eterna

A desobediência de Adão e Eva trouxe maldições a toda criação, cuja maior penalidade foi a morte.
-Em primeiro lugar, morreram espiritualmente, pois perderam seu estado de inocência e foram dominados pelo pecado; por conseguinte, perderam a comunhão com Deus. Alguns exemplos de seus descendentes mostram que o ser humano perdeu a inocência: ira e rancor (Gn.4:5), homicídio (Gn.4:8), poligamia (Gn.4:19), etc.
-Em Segundo lugar, o casal também morreu fisicamente, não naquele momento após a queda, mas ali foi iniciado o processo de morte gradual. Muito embora a morte de Abel tenha sido a primeira na história humana, não foi “natural”, mas provocada. A partir da Queda, qualquer pessoa volta ao pó da terra (Gn.3:19). O capítulo 5 de Gênesis serve de quadro nítido dessa realidade. Lemos em Gênesis 5:5 que Adão viveu 930 anos e morreu. A expressão “morreu” é repetida como um fúnebre refrão por todo capitulo (cf. Gn.5:11,14,17,27,31). De fato, esse refrão ainda hoje é entoado na história humana com muito mais frequência.
-Em terceiro lugar, a Queda reservou ao ser humano, que vive no pecado e que rejeita a salvação providenciada por Cristo na cruz do Calvário, a pior de todas as mortes: a morte eterna, isto é, a separação eterna de Deus. A Bíblia declara que os pecadores são “réus do fogo do inferno” (Mt.5:22). Está escrito que “os ímpios serão lançados no inferno e todas as nações que se esquecem de Deus” (Sl.9:17). Aliás, Jesus foi bem claro em afirmar que não devemos temer quem tenha o poder de matar o nosso corpo, mas, sim, aquele que pode nos lançar no fogo do inferno (Mt.10:28). “E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” (Ap.20:14,15).

8. A promessa de um juízo redentivo (Gn.3:15)

“E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.
Este versículo é conhecido como protoevangelho, isto é, “o primeiro evangelho”. Esta é a mais gloriosa promessa de redenção, de soerguimento do homem da condenação. Ao invés de lançar apenas juízos inclementes e condenatórios sobre o casal, Deus, o justo Juiz, abriu um espaço para a redenção. Observe a bondade de Deus ao prometer a vinda do Messias antes mesmo de decretar a sentença de juízo condenatório ao homem e a mulher.
Este texto anuncia a inimizade perpétua entre Satanás e a mulher (que representa toda a humanidade), e entre a descendência de Satanás (seus representantes) e o seu descendente (o descendente da mulher, o Messias).
O descendente da mulher feriria a cabeça de Satanás. Essa ferida foi conferida no Calvário, quando o Salvador triunfou sobre Satanás. Este, por sua vez, feriria o calcanhar do Messias. Essa ferida se refere ao sofrimento (incluindo morte física), mas não à derrota final. Cristo sofreu na cruz e morreu, mas ressuscitou dentre os mortos, vitorioso sobre o pecado, o inferno e Satanás (Ap.1:18).
“e o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno”.

CONCLUSÃO

A Queda levou o mundo ao caos, consequência do pecado cometido pelo primeiro casal. Entretanto, a pesar da Queda, Deus não abandonou o ser humano e provou esse cuidado oferecendo Jesus para religar o pecador a Si. Portanto, há uma esperança para o pecador, em Cristo Jesus. Através de Cristo, Deus Pai provê-nos eterna e suficiente redenção, dispensando-nos um tratamento mui especial. O homem enquanto vive neste mundo, antes da morte física, ele tem a escolha de aceitar ou não o amor de Cristo. Se ele o aceitar, estará aceitando ir morar com Cristo, estar ao lado dEle para sempre (João 3:16-21; 14:1-3; 17:24).
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Claudionor de Andrade. A raça humana – Origem, Queda e Redenção. CPAD.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Bruce K. Waltke. Gênesis. Editora Cultura Cristã.
Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
luloure.blog.post – a Queda da Raça Humana.4º Trimestre_2015.