1º Trimestre/2020
Texto Base: Gênesis 3:1-7
“Pelo que, como por um homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os
homens, por isso que todos pecaram” (Rm.5:12).
Gênesis
3:
1.Ora, a serpente era mais
astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta
disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
2.E disse a mulher à
serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos,
3.mas, do fruto da árvore que
está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para
que não morrais.
4.Então, a serpente disse à
mulher: Certamente não morrereis.
5.Porque Deus sabe que, no
dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus,
sabendo o bem e o mal.
6.E, vendo a mulher que
aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável
para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e
ele comeu com ela.
7.Então, foram abertos os
olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e
fizeram para si aventais.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da Queda de Adão, o
primeiro ser humano. Este trágico acontecimento é apresentado, literalmente, na
Bíblia Sagrada. Não é um relato teórico ou figurativo, mas um relato histórico. Deus deu um mandamento a Adão, e Satanás o
instigou a desobedecer esse mandamento, e as consequências foram fatais
(cf. Gênesis 3:14-24), para ele e para sua posteridade, chegando até nós.
Portanto, a essência do primeiro pecado está na desobediência do homem à
vontade divina e na realização de sua própria vontade.
O pecado de Adão e Eva foi uma transgressão
deliberada ao limite que Deus lhe havia estabelecido. Deus concedeu ao ser
humano o livre-arbítrio, mas estabeleceu uma linha divisória entre o certo e o
errado; ultrapassar esse limite estabelecido por Deus é considerado um erro gravíssimo,
e isto trará consequências danosas, que poderá repercutir por toda a
eternidade; o apóstolo Paulo advertiu: “Não erreis: Deus não se deixa
escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl.6:7).
I.
LIVRE-ARBÍTRIO DO SER HUMANO
1. O
Livre-arbítrio
Livre-Arbítrio é a faculdade mediante a qual o
homem é dotado de poder para agir sem coações externas, e de acordo com sua
própria vontade ou escolha. Como um livre agente, o ser humano tem a capacidade
e a liberdade de escolha, inclusive a de desobedecer a Deus(Dt.30:11-20 e
Js.24:15). Isso, por si só, é suficiente para que ele seja responsável pelas
consequências de seus atos.
Deus fez o homem com poder de servi-lo ou não
e, por isso, nós, simples seres humanos, não podemos querer obrigar as pessoas
a servir a Deus. Quem cerceia, pois, a liberdade de opção da pessoa em servir,
ou não, a Deus, algo que, infelizmente, muitas vezes foi praticado em nome do
Senhor, atenta, antes de mais nada, contra a própria ordem estabelecida por
Deus, o qual foi quem criou o homem com esta faculdade.
O livre-arbítrio é o maior patrimônio de Deus
ao homem, mas a liberdade que Deus lhe deu tem uma correspondência: a
responsabilidade. Paulo advertiu aos crentes de Gálatas: “Porque vós, irmãos,
fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne...”
(Gl.5:13).
A contrapartida do poder dado ao homem para
escolher entre o bem e o mal é a de que deve responder diante de Deus pela
escolha feita, arcando com as consequências de sua opção. O preço de uma má
escolha, que fere os ditames da Palavra de Deus, trará consequências danosas,
que poderá repercutir por toda a eternidade. Paulo adverte aos que usam da
“liberdade para dar ocasião à carne”: “...os que cometem tais coisas não
herdarão o Reino de Deus” (Gl.5:21).
A Bíblia contém uma série de textos em que o
direito humano de escolha fica claro:
-Adão e Eva, no jardim do Éden. Eles podiam
escolher o fruto que quisessem comer, menos o proibido; escolheram a
desobediência e foram castigados. Se estivessem predestinados a pecar, Deus não
os condenaria.
-Caim e seu rancor. Deus deixou claro para
Caim que, se ele mudasse sua atitude, sua oferta poderia ser aceita (Gn.4.7);
por outro lado, havia a opção pelo pecado; ele escolheu matar o seu próprio
irmão. Caim estava morto espiritualmente, mas isso não significava incapacidade
de ouvir a voz de Deus, crer e decidir.
-Josué escolheu servir a Deus, porém, os
israelitas escolheram servir aos deuses cananeus.
“Mas, se vos parece mal o servirdes ao
Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram
vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra
habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js.24.15).
“E os filhos de Israel fizeram o que
parecia mal aos olhos do SENHOR, e se esqueceram do SENHOR, seu Deus, e
serviram aos baalins e a Astarote” (Jz.3:7).
-Moisés colou diante dos israelitas duas
opções para que eles escolhessem: a bênção e a maldição, e esta advertência
ainda ecoa em nossos dias:
“O céu e a terra tomo hoje por testemunhas
contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição;
escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Dt.30.19).
2. A
soberania divina
Sendo um dos seus atributos (aquilo que lhe é
próprio, qualidade), a soberania de Deus é uma autoridade inquestionável que o
Senhor detém sobre o Universo, pelo fato óbvio de que Ele é o Criador de todas
as coisas (Is.44:6;45:6; Ap.11:17).
“Assim diz o SENHOR, Rei de Israel e seu
Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e fora
de mim não há Deus” (Is.44:6).
-Por ser soberano, Deus decidiu criar todas as
coisas e, por isso, o mundo foi criado, pois, em Deus, o simples desejo já é
efetuar (Fp.2:13).
-Por ser soberano, Deus quis criar o ser
humano com o livre-arbítrio, ou seja, com liberdade para escolher entre o bem e
o mal.
-Por ser soberano, Ele estabeleceu a única
maneira de o ser humano alcançar a salvação, Jesus Cristo (João 14:6).
Entretanto, a soberania divina não interfere
na liberdade do homem, porque a soberania diz respeito a Deus, que está além de
toda a criação; é algo imputável somente a Ele, faz parte da sua própria
natureza e, por isso, não podemos querer transferir a soberania divina para
algo que diz respeito apenas ao homem.
Vemos, pois, que o fato de Deus ser soberano,
tem, logicamente, implicações no plano estabelecido para a salvação do homem.
Este plano só existe porque Deus é soberano e quis criar uma forma de o homem
se livrar do pecado.
3. A
responsabilidade humana
Como eu disse, o livre-arbítrio, a liberdade
humana, é uma manifestação da vontade divina. Deus quis que o ser humano
tivesse esta liberdade e, por isso, não cabe a nós querer estabelecer limites
ou objeções ao Senhor por causa desta liberdade. Mas, a liberdade que Deus deu
ao ser humano, tem uma contrapartida: a responsabilidade.
Ao verificarmos o texto sagrado de Gn.2:16,17,
notamos que Deus deu uma ordem ao homem no sentido de que ele comesse
livremente de todas as árvores do jardim do Éden, com exceção da árvore da
ciência do bem e do mal, porque, no dia em que dela comesse, certamente
morreria. O homem poderia escolher entre o bem e o mal, mas, no dia em que
desobedecesse a Deus, em que escolhesse o mal, adviria uma penalidade, qual
seja, a morte, a separação entre o homem e Deus - “certamente morrereis”. A
contrapartida do poder dado ao homem para escolher entre o bem e o mal era a de
que deveria responder diante de Deus pela escolha feita, arcando com as
consequências de sua opção.
Esta ideia de responsabilidade mostra,
claramente, duas coisas, a saber:
ü Não existe liberdade sem
responsabilidade. O homem não faz o que quer sem qualquer
consequência, uma vez que a sua liberdade não é o direito de ditar as regras
para si, mas de optar entre seguir, ou não, as regras estabelecidas por Deus.
Liberdade não se confunde, pois, com libertinagem, como, infelizmente, tem sido
propagandeado pelo mundo ao longo dos séculos e, muito intensamente, nos dias
em que vivemos.
ü A liberdade humana não altera a soberania
divina. O uso da liberdade pelo homem deverá ser objeto de
prestação de contas diante de Deus, que é o soberano, a máxima autoridade. O
plano da salvação, pois, não elide nem sequer diminui a soberania divina.
Como, então, conciliar o direito de liberdade
do homem com a soberania divina? Deus é Onipotente, Onipresente e Onisciente,
e, em virtude destes atributos, é soberano, visto que tem todo o poder, está
presente em todos os lugares ao mesmo tempo e sabe de todas as coisas. Sem tais
atributos, com os quais se relaciona com o mundo, não poderia ser soberano, não
teria a autoridade suprema sobre tudo e sobre todos. Esta soberania é tanta que
permitiu que seres – humanos e anjos - fossem criados com o atributo chamado
livre-arbítrio, ou seja, a liberdade de escolher entre servir, ou não, a Deus.
O Senhor não quis criar seres autômatos,
verdadeiros “robôs”, mas, na sua soberania, quis que fossem criados seres que,
assim como Ele, pudessem saber o que é o bem e o que é o mal, e, portanto,
tivessem liberdade para escolher fazer o bem, seguindo, assim, as determinações
divinas ou de fazer o mal, ou seja, escolherem ter uma vida em que estivessem
distantes de Deus.
Essa liberdade de escolha aparece já nos
primórdios de Gênesis, na aurora da raça humana, quando o primeiro casal dá
ouvidos à serpente e comete por sua livre vontade a primeira transgressão
contra Deus(Gn.3:1-13). Este livre-arbítrio é a maior prova de que Deus é
soberano, pois está tão acima dos seres criados que lhes permite, inclusive,
dar as costas para Ele.
O fato de Deus permitir que seres humanos
possam não lhe obedecer, isto não representa qualquer fragilidade ou diminuição
na autoridade de Deus sobre tudo, antes, porém, demonstra a reafirmação desta
autoridade, pois o fato de o ser humano poder desobedecer a Deus não retira o
fato de que Deus mantém o controle sobre tudo, tanto que tais seres humanos
serão responsabilizados pela desobediência no tempo, modo e lugar, já
previamente determinado pelo Senhor.
Portanto, a liberdade tem, como contrapartida
indispensável, a responsabilidade. Deus nos criou com o poder de escolha, com o
poder de decidir o que iremos fazer ou não, mas prestaremos contas de todas
estas escolhas e decisões perante Ele, com quem haveremos de tratar um dia
(Hb.4:13).
“E não há criatura alguma encoberta
diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com
quem temos de tratar”.
II.
A QUEDA, UM EVENTO HISTÓRICO E LITERAL
Para muitos, o capítulo 3 de Gênesis não passa
de lenda, mito, fábula, alegoria ou um simples fato isolado na história antiga.
Se essa narrativa bíblica não corresponde a um fato histórico com implicações
históricas universais até a época presente, então, esse capítulo não deve ser
levado a sério e ninguém precisa se preocupar com a ideia de pecado nem
aguardar algum tipo de solução ou intervenção divina. Com base nessa
interpretação das Escrituras Sagradas é que diversas teorias apostam no homem
como a solução para si e para o mundo. Entretanto, para os que confiam na
autoridade da Bíblia, os fatos e as consequências da história, que estão
narradas em Gênesis 3:14-24, foram e são reais. Acreditar na Queda do homem
implica acreditar numa catástrofe que tem afetado todo o curso da humanidade -
a minha e a sua vida.
1. A
possibilidade da Queda
A Queda do homem foi uma catástrofe que afetou
toda a criação, cujo reflexo se perenizou na história da humanidade, chegando
até os dias atuais, ainda com grande intensidade.
Alguém pode indagar:
-“Deus tinha conhecimento de que o homem ia
cair, isto é, pecar?”. Sim, tinha. Nós já afirmamos que um dos atributos de
Deus é a Onisciência. Seu conhecimento é absoluto: Ele conhece o passado, o
presente e o futuro. Conhece tão bem o eterno passado como o futuro eterno. Se
Deus não conhecesse o eterno futuro, Ele não seria Deus. Só conhecemos Deus
como aquele ser que tem todo o poder no Céu, o Universo, e na Terra.
-“Se Deus sabia que o homem ia pecar, por que
o criou?”. O autor do livro “A Bíblia responde. CPAD”, dá a seguinte resposta a
esta pergunta:
“Apesar de saber disso, Deus criou o homem por
causa de seu imensurável amor para com aqueles que haveriam de herdar a
salvação.
“Por causa dos que não quiseram no passado,
dos que rejeitam no presente e dos que recusarão no futuro a graça oferecida
por Deus, esse Deus de amor não poderia deixar de mostrar sua inefável bondade
para com aqueles que no passado aceitaram, para com os que no presente estão
recebendo, e para com os que no futuro aceitarão com corações transbordando de
alegria o eternal plano de salvação.
“Estas verdades sublimes, que não podem ser
contraditadas, estão reveladas na Palavra inspirada do apóstolo Pedro: ‘eleitos
segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência…’ (1Pd.1:2). Não aceitamos uma predestinação arbitrária que permite
uma vida desregrada para os ‘contemplados’ porque isso ofende a santidade de
Deus. Mas cremos numa eleição em santificação do Espírito para a obediência.
Foi para isso que Deus nos chamou, e isso glorifica o Seu nome”.
Ao criar Adão e Eva, Deus conferiu a este
casal a liberdade de manutenção (ou não) do seu estado de inocência original.
Essa possibilidade dependia da maneira como eles usariam a liberdade.
Lemos em Gênesis 2:16,17 que, após a criação
de Adão, Deus lhe deu uma ordem de natureza positiva e negativa. A positiva
dizia: “de toda a árvore do jardim comerás livremente”; e a negativa: “mas da
árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás”. A partir desse exato
momento, Adão se viu num teste, no qual poderia se alimentar do fruto de
qualquer árvore do jardim, exceto de uma árvore em particular. O teste pode ser
visto sob duas perspectivas: Provação e Tentação.
-Com a Provação, Deus estava aplicando um
teste de obediência à Sua vontade. É claro que Deus não precisava de algum tipo
de instrumento para conhecer as livres reações humanas no futuro, pois Ele é
Onisciente (Sl.139:1-6). O alvo do teste na perspectiva divina era o sucesso de
Adão e Eva, o qual dependia do alinhamento do coração, alma e entendimento
deles (fator interno) à vontade e ao caráter de Deus (fator externo).
-Com a Tentação, Satanás pressionou o primeiro
casal a uma atitude de rebelião contra a vontade de Deus. Como uma criatura
“caída” que se rebelou contra Deus (Is.14:13,14; Ex.28:11-19), Satanás tentava
convencer Adão e Eva a seguirem os passos dele. O alvo do teste na perspectiva
diabólica era o fracasso dos dois, o qual dependia do alinhamento do coração,
alma e entendimento deles (fator interno) à vontade e ao caráter do diabo
(fator externo).
Portanto, a possibilidade da Queda foi um
período de teste. Não sabemos quanto tempo durou tal teste. Sabemos que ele
passou a ter validade no momento em que foi instituído.
2. A
realidade da tentação
Observamos no relato da queda do primeiro
casal, que o diabo surge como uma serpente, ou seja, de forma quase
imperceptível, quase sem ser notado, apresentando-se à mulher de repente, de
surpresa, num momento em que a mulher não esperava, diríamos que num instante
de distração. Ante à distração da mulher, Eva, o diabo conseguiu entrar no
Jardim para efetuar a sua tarefa destruidora.
A distração, o “cochilo espiritual”, é fatal à
saúde espiritual do crente. O caminho da vigilância está relacionado com a
meditação diuturna da Palavra de Deus. Quando meditamos nas Escrituras Sagradas,
quando as estudamos ininterruptamente, o adversário não encontra brecha para
agir.
Observe os passos que levaram a Queda do ser
humano:
a) Satanás instigou dúvida em
relação à Palavra de Deus: “É assim que Deus disse: não comereis de
toda árvore do jardim? ” (Gn.3:1b). Eva estava distraída e, por causa
disto, o diabo pôde se aproximar e iniciar um diálogo com ela, lançando-a no
campo da dúvida. Diante de tanta amabilidade, Eva aceitou o diálogo, porém, não
mostrou firmeza, pois a sua resposta não correspondeu aquilo que, de fato, Deus
havia dito. Nossas dúvidas e inseguranças na Palavra de Deus tornam Satanás
mais ardiloso e com uma vantagem enorme para atuar.
b) Eva demonstrou
desconhecimento da Palavra de Deus. Ela
declarou (falando sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal): “... do fruto das árvores do jardim
comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não
comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais”.
Dá para perceber que a mulher demonstrou
desconhecimento da Palavra de Deus. Enquanto a ordem divina era para que não se
comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal (cf. Gn.2:16,17), a mulher
respondeu à serpente que a ordem era a proibição de comer e tocar na árvore que
estava no meio do jardim (Gn.3:3). Vemos aqui, portanto, que a mulher alterou
em dois pontos a ordem divina, a saber: (a) árvore da ciência do bem e do mal
por árvore que está no meio do jardim; (b) não comereis por não comereis nem
tocareis.
c) Satanás contradita o próprio
Deus. Face o desconhecimento da
Palavra de Deus, agora Satanás estava em condições de contraditar o próprio
Deus, pois sentiu que já tinha o controle sobre a mulher. Mais uma vez, com
muita sutileza, lançou dúvidas quanto à veracidade da Palavra do próprio Deus - “... certamente não morrereis”, uma
maneira muito sutil de afirmar que Deus havia mentido.
Satanás deturpou o mandamento do Senhor ao
sugerir que Deus tinha ocultado algo benéfico para Adão e Eva. Satanás se
atreveu a negar as consequências da desobediência, como fazem até hoje seus
seguidores, ao continuarem negando a existência do inferno e a punição eterna.
d) Satanás desperta na mulher a
soberba e o desejo de ser como Deus.
Não tendo havido nenhuma reação por ter ouvido que a Palavra do Criador não era
verdadeira, então Satanás com maior sutileza deu sua cartada final,
despertando, agora, a soberba e o desejo de ser como Deus: “Porque Deus sabe que, no dia em que dele
comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o
mal” (Gn.3:5).
Satanás utilizou-se de um motivo sincero para
testar Eva: “sereis como Deus”. Eva
não estava errada em querer ser como Deus; tornar-se mais parecido com Deus é o
maior objetivo da humanidade. Deveríamos ser assim.
Mas, Satanás enganou Eva no que diz respeito
ao modo de alcançar esse objetivo. Ele alegou que ela poderia parecer-se com
Deus desafiando a autoridade dele, tomando o seu lugar e decidindo por si mesma
o que era melhor para a sua vida. Na verdade, ele a instruiu a ser seu próprio
deus.
Entretanto, parecer-se com Deus não é o mesmo
que querer ser Deus; ao contrário, é refletir nas características de Deus e
reconhecer a autoridade dele sobre a vida de cada pessoa.
Assim como Eva, possuímos um objetivo valioso,
mas tentamos alcançá-lo de forma errada. Agimos como um candidato político que
usa de suborno para ser “eleito”; ao fazer isto, servir a comunidade já não é
mais seu objetivo.
A exaltação própria conduz à rebelião contra
Deus. Logo que começamos a retirar Deus de nossos planos, colocamo-nos acima
dele. E é exatamente isto o que Satanás deseja. O humanismo secular tem
perpetuado a mentira de Satanás: “você será igual a Deus”.
e) A
derrocada de Adão e Eva. O diabo
mentiu, pôs em descrédito os ditos do Senhor e criou fantasias nas quais o
primeiro casal acreditou, e isto determinou a sua derrocada. Sem qualquer
ameaça, sem nenhuma palavra forte, apenas na sutileza, Satanás já estava com a
mulher na “palma de sua mão”. Eva se deixou enganar – pensou que seria como
Deus. Veja a linha sequencial da derrocada de Adão e Eva:
- Olhou – “vendo a
mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos”.
- Desejou – “...
árvore desejável para dar entendimento...”.
- Tomou – “...
tomou-lhe do fruto...”.
- Comeu - “...
comeu...”.
- Morreu - morte
espiritual instantânea e morte física gradativa. A punição por transgredir
o mandamento era a morte - “... no
dia em que dela comeres, certamente morrerás”(Gn.2:17).
Uma vez se desprendendo das Escrituras, as
pessoas são iludidas com falsas promessas e fantasias - que as Escrituras
denominam de “fábulas”, ou seja, “contos da carochinha” (1Tm.1:4; 4:7; 2Tm.4:4;
2Pd.1:16), falsidades que a seu tempo se revelarão e que, infelizmente, para
muitos, significarão a morte eterna. Paulo, profeticamente, advertiu o povo de
Deus acerca disso:
“Porque virá tempo em que não sofrerão a
sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores
conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade,
voltando às fábulas” (2Tm.4:4).
“Adão e Eva tiveram o
que queriam: um conhecimento profundo do bem e do mal. Mas isto eles
conseguiram cometendo pecado e os resultados foram, portanto, desastrosos.
Algumas vezes, temos a ilusão de que “liberdade” é fazer o que queremos. Mas
Deus diz que a verdadeira liberdade vem da obediência e da consciência do que
não deve fazer. As restrições impostas por Ele são para o nosso bem, para
ajudar-nos a evitar o mal. Temos a liberdade de andar em frente a um carro em
alta velocidade, mas não precisamos ser atropelados para perceber quão tolo
isto seria. Não dê ouvidos às tentações de Satanás. Você não precisa fazer o
mal para adquirir mais experiências e aprender mais sobre a vida” (Bíblia de
Estudo – Aplicação Pessoal).
No Jardim do Éden, Deus colocou a árvore do
conhecimento do bem e do mal como forma de testar a obediência do ser humano. A
única razão para não comerem daquele fruto era o fato de Deus assim haver
ordenado. De muitas maneiras, tal fruto ainda se encontra em nosso meio nos
dias de hoje.
3. A
historicidade da Queda
A Queda do ser humano, como já disse no
introito deste tópico, é uma realidade indubitável, deve ser aceita tal como
foi narrada no capítulo 3 de Gênesis. Argumenta o Pr. Claudionor de Andrade que
“a narrativa da Queda do ser humano tem de ser acolhida de forma literal, pois
o Livro de Gênesis não é uma coleção de parábolas mitológicas, mas um relato
histórico confiável (2Co.11:3; Rm.15:4) ”.
Argumenta, ainda, o Pr. Claudionor de Andrade:
“a hermenêutica pós-moderna, manejando ferramentas e armas forjadas do inferno,
ataca impiedosa e malignamente os 11 primeiros capítulos de Gênesis, como se
tais passagens fossem meras parábolas morais. E, dessa forma, em repetidos e
monótonos golpes, intenta destruir as bases, as colunas e o majestoso edifício
da soteriologia bíblica. O que esses pretensos exegetas e hermeneutas não sabem
é que a Doutrina da Salvação, qual penha de comprovada solidez, jamais será
desgastada por seus martelos. Antes, como já tem ocorrido tantas vezes, são
estes a se agastarem, e não aquela, porquanto o Calvário, apesar desses dois
milênios já decorridos, continua tão firme hoje quanto na tarde em que o Filho
de Deus, entregando o Espirito ao Pai, exclamou: ‘está consumado’”.
Portanto, se não aceitarmos a historicidade e a
literalidade do Livro de Gênesis, não teremos condições de entender o restante
das Escrituras Sagradas.
III.
AS CONSEQUENCIAS DA QUEDA DE ADÃO
Deus fez o homem com o poder de escolher entre
o bem e o mal, sendo real a possibilidade da escolha do mal, só que, uma vez
feita a escolha pelo mal, o homem sofreria as consequências de sua opção. Ao
criar o homem com liberdade, Deus também estabeleceu que o homem responderia
diante dEle sobre o uso desta liberdade.
1.
Adão e Eva conheceram pessoalmente o mal: seus olhos "foram abertos"
(Gn.3:7)
“Então, foram abertos os olhos de ambos,
e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si
aventais”.
Adão e Eva chegaram a assemelhar-se a Deus,
distinguindo entre o bem e o mal, porém, seu conhecimento se diferencia do
conhecimento de Deus em que o conhecimento deles foi o da experiência
pecaminosa e contaminada. Deus, ao contrário, conhece o mal como um médico
conhece o câncer, porém, o homem caído conhece o mal como o paciente conhece
sua enfermidade. A consciência deles despertou para um sentimento de culpa e
vergonha.
2.
Perderam a comunhão com Deus – foram expulsos do Paraíso (Gn.3:23,24)
O pecado sempre despoja a alma da pureza e do
gozo da comunhão com Deus. A vida no jardim do Éden era como a vida no Céu.
Tudo era perfeito e, se Adão e Eva tivessem obedecido a Deus, eles poderiam ter
vivido ali para sempre. Mas, após desobedecerem, Adão e Eva não mais mereceriam
o Paraiso, e Deus os expulsou dali, onde, diariamente, conversavam com o Senhor
(Gn.3:8).
“o SENHOR Deus, pois, o lançou fora do
jardim do Éden, para lavrar a terra, de que fora tomado. E, havendo lançado
fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden e uma espada inflamada
que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida”.
Se continuassem a viver no Jardim e a comer da
árvore da vida, viveriam para sempre, mas seu estado de pecado significaria a
tentativa de esconder-se de Deus por toda a eternidade. A partir daí o ser
humano, para reatar a comunhão com Deus, deve ter a presença de um
intermediador, Jesus Cristo, que nos atende pela fé que depositamos nEle
(Hb.11:6). O apóstolo Paulo enfatizou isto: “Sendo, pois, justificados pela fé,
temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm.5:1). Ele é o único mediador entre Deus e
o homem (1Tm.2:5).
3. A
natureza humana corrompeu-se e o homem adquiriu a tendência para pecar
O ser humano, agora, já não era inocente como
uma criança, mas sua mente se havia sujado e ele sentia vergonha de seu corpo
(Gn.3:7). Outra prova da sua natureza corrompida: ele lançou a culpa sobre sua
mulher.
Adão chegou a insinuar que Deus era o culpado:
"A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi"
(Gn.3:12). Isto é uma demonstração clara da natureza decaída do homem.
4. A
transmissão do pecado à espécie humana
Somos herdeiros da corrupção moral de Adão.
Seu pecado nos foi imputado. Como filhos de Adão, todos os seres humanos nascem
em pecado. Adão se posicionou na porta de entrada da história e por meio dele o
pecado entrou no mundo. Agora todos estão em estado de depravação total. Todos
os seres humanos depois de Adão carregam a sua imagem. Vários textos bíblicos
indicam este fato, mas destacaremos apenas dois textos que Paulo escreveu:
"Por um homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
por isso que todos pecaram" (Rm.5.12).
"Pela ofensa de um só, a morte
reinou" (Rm.5:17).
5. A
mulher sofreria dores no parto e estaria sujeita a seu marido(Gn.3:16).
“E à mulher disse: Multiplicarei
grandemente a tua dor e a tua conceição; com dor terás filhos; e o teu desejo
será para o teu marido, e ele te dominará”.
Estar sujeita ao esposo é maldição? Não deve
ter a família uma cabeça? Além do mais, não está aí uma figura da relação entre
Cristo e a Igreja? (Ef.5:22,23). O mal consiste em que a natureza decaída do
homem torna-o propenso a abusar de sua autoridade sobre a mulher; do mesmo modo
que a autoridade do marido sobre a mulher pode trazer sofrimento, o desejo
feminino a respeito de seu esposo pode ser motivo de angústia. O desejo da
mulher não se limita à esfera física, mas abrange todas as suas aspirações de
esposa, mãe e dona-de-casa. Se o casamento fracassa, a mulher fica desolada.
6. O
homem foi sentenciado a obter alimento de uma terra amaldiçoada com espinhos e
cardos (Gn.3:17-19)
“E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos
à voz de tua mulher e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás
dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da
tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo. No
suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela
foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás”.
Isto significa que o homem teria de trabalhar
o resto da vida em fadigas e com suor do rosto até retornar ao pó.
Devemos observar que o trabalho não é uma
maldição. Em geral, o trabalho é uma bênção. A maldição está mais ligada à
tristeza, à frustração, ao suor e ao cansaço que acompanham o trabalho.
Toda a raça humana e a própria natureza ainda
continuam sofrendo como consequência do juízo pronunciado sobre o primeiro
pecado. O apóstolo Paulo fala poeticamente de uma criação que "geme e está
juntamente com dores de parto até agora" (Rm.8:22).
Todavia, quando Jesus implantar o seu Reino
Milenial, logo após a Grande Tribulação, o planeta será plenamente restaurado e
haverá perfeito gozo, justiça, paz, fartura, harmonia, perfeita saúde (Is.35).
Vem logo, Senhor Jesus!
7. A
morte – espiritual, física e eterna
A desobediência de Adão e Eva trouxe maldições
a toda criação, cuja maior penalidade foi a morte.
-Em primeiro lugar, morreram espiritualmente,
pois perderam seu estado de inocência e foram dominados pelo pecado; por
conseguinte, perderam a comunhão com Deus. Alguns exemplos de seus descendentes
mostram que o ser humano perdeu a inocência: ira e rancor (Gn.4:5), homicídio
(Gn.4:8), poligamia (Gn.4:19), etc.
-Em Segundo lugar, o casal também morreu
fisicamente, não naquele momento após a queda, mas ali foi iniciado o processo
de morte gradual. Muito embora a morte de Abel tenha sido a primeira na
história humana, não foi “natural”, mas provocada. A partir da Queda, qualquer
pessoa volta ao pó da terra (Gn.3:19). O capítulo 5 de Gênesis serve de quadro
nítido dessa realidade. Lemos em Gênesis 5:5 que Adão viveu 930 anos e morreu.
A expressão “morreu” é repetida como um fúnebre refrão por todo capitulo (cf. Gn.5:11,14,17,27,31).
De fato, esse refrão ainda hoje é entoado na história humana com muito mais
frequência.
-Em terceiro lugar, a Queda reservou ao ser
humano, que vive no pecado e que rejeita a salvação providenciada por Cristo na
cruz do Calvário, a pior de todas as mortes: a morte eterna, isto é, a
separação eterna de Deus. A Bíblia declara que os pecadores são “réus do fogo
do inferno” (Mt.5:22). Está escrito que “os ímpios serão lançados no inferno e
todas as nações que se esquecem de Deus” (Sl.9:17). Aliás, Jesus foi bem claro
em afirmar que não devemos temer quem tenha o poder de matar o nosso corpo,
mas, sim, aquele que pode nos lançar no fogo do inferno (Mt.10:28). “E a morte
e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E aquele
que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”
(Ap.20:14,15).
8. A
promessa de um juízo redentivo (Gn.3:15)
“E porei inimizade entre ti e a mulher e
entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás
o calcanhar”.
Este versículo é conhecido como
protoevangelho, isto é, “o primeiro evangelho”. Esta é a mais gloriosa promessa
de redenção, de soerguimento do homem da condenação. Ao invés de lançar apenas
juízos inclementes e condenatórios sobre o casal, Deus, o justo Juiz,
abriu um espaço para a redenção. Observe a bondade de Deus ao prometer a
vinda do Messias antes mesmo de decretar a sentença de juízo condenatório ao
homem e a mulher.
Este texto anuncia a inimizade perpétua entre
Satanás e a mulher (que representa toda a humanidade), e entre a descendência
de Satanás (seus representantes) e o seu descendente (o descendente da mulher,
o Messias).
O descendente da mulher feriria a cabeça de
Satanás. Essa ferida foi conferida no Calvário, quando o Salvador triunfou
sobre Satanás. Este, por sua vez, feriria o calcanhar do Messias. Essa ferida
se refere ao sofrimento (incluindo morte física), mas não à derrota final.
Cristo sofreu na cruz e morreu, mas ressuscitou dentre os mortos, vitorioso
sobre o pecado, o inferno e Satanás (Ap.1:18).
“e o que vive; fui morto, mas eis aqui
estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno”.
CONCLUSÃO
A Queda levou o mundo ao caos, consequência do
pecado cometido pelo primeiro casal. Entretanto, a pesar da Queda, Deus não
abandonou o ser humano e provou esse cuidado oferecendo Jesus para religar o
pecador a Si. Portanto, há uma esperança para o pecador, em Cristo Jesus.
Através de Cristo, Deus Pai provê-nos eterna e suficiente redenção,
dispensando-nos um tratamento mui especial. O homem enquanto vive neste mundo,
antes da morte física, ele tem a escolha de aceitar ou não o amor de Cristo. Se
ele o aceitar, estará aceitando ir morar com Cristo, estar ao lado dEle para
sempre (João 3:16-21; 14:1-3; 17:24).
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo
Pentecostal.
Bíblia de estudo –
Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico
popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal.
CPAD.
Comentário do Novo
Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Claudionor de
Andrade. A raça humana – Origem, Queda e Redenção. CPAD.
Comentário Bíblico
Beacon. CPAD.
Bruce K. Waltke. Gênesis.
Editora Cultura Cristã.
Teologia Sistemática
Pentecostal. CPAD.
luloure.blog.post – a
Queda da Raça Humana.4º Trimestre_2015.
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