domingo, 14 de junho de 2020

Aula 12 – A CONDUTA DO CRENTE EM RELAÇÃO À FAMÍLIA


2º Trimestre/2020
Texto Base: Efésios 5:21-33; 6:1-4.
 Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne” (Ef.5:31).
Efésios 5:
21.sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus.
22.Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor;
23.porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo.
24.De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido.
25.Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela,
26.para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,
27.para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.
28.Assim devem os maridos amar a sua própria mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo.
29.Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;
30.porque somos membros do seu corpo.
31.Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne.
32.Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja.
33. Assim também vós, cada um em particular ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido.
Efésios 6:
1.Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo.
2.Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa,
3.para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.
4.E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor.

INTRODUÇÃO

Não há, provavelmente, uma área tão importante na nossa vida e na da Igreja cristã quanto a família. A família é a principal instituição planejada por Deus. Todos concordam que famílias sadias e equilibradas formam o esteio de igrejas e sociedades equilibradas. É em famílias assim que indivíduos podem crescer de maneira sadia. Crendo nisso e reconhecendo igualmente que a família, de forma geral, está passando por momentos difíceis, trataremos nesta Aula da “conduta do crente em relação à família”.
Efésios 5:18-6:4 é o texto clássico do Novo Testamento sobre este assunto. Nele o apostolo Paulo traça os preceitos gerais para a família, as condições que regem o relacionamento entre pais e filhos e marido e mulher, e o princípio dinâmico que deve controlar essas relações.
O relacionamento familiar é um projeto divino que tem a responsabilidade de glorificar a Deus e transmitir à sociedade o padrão moral e espiritual da família, fundamentado na Palavra de Deus. Infelizmente, a família está em crise - é a crise do marido, da esposa, dos filhos, dos irmãos. Há um esforço concentrado do inferno para desestabilizar e destruir a família; há uma clara conspiração de forças hostis que se mancomunam para desacreditar essa instituição divina; há um bombardeio cerrado, com arsenal pesado em cima dela; torpedos mortíferos estão sendo despejados sobre ela, provocando terríveis desastres.
Testemunhamos, estarrecidos, o naufrágio de muitas famílias. Nas palavras do rev. Hernandes Dias Lopes, casamentos, outrora fincados no solo firme da confiança mútua, estão afrouxando as suas estacas. Casais que viveram juntos sob os auspícios de um amor comprometido e fiel começam a arvorar suas bandeiras para o lado da infidelidade; cônjuges que outrora defendiam a indissolubilidade do matrimonio agora zombam dos votos conjugais e aviltam a aliança que um dia selaram diante de Deus. Até casais que outrora ensinavam com vivo entusiasmo os princípios de Deus para um casamento feliz, voltaram-se contra esses mesmos princípios, transgredindo-os e justificando seus deslizes morais. Estamos chocados e perplexos com o declínio de tantos casamentos que a sociedade considerava paradigmas. Certamente, a família está entrincheirada e cercada por inimigos que buscam com toda a fúria minar os seus fundamentos. Nesta Aula, veremos a conduta requerida por Deus para a família cristã.

I. A CONDUTA DO CRENTE COMO MARIDO

Ao estabelecer a família, Deus prescreveu diferentes funções para o homem e para a mulher. Apesar de havê-los criado iguais, Deus distribuiu-lhes deveres e privilégios distintos. Conhecer e assumir os papéis, deveres, privilégios e funções do marido e da mulher, segundo Deus os nomeou, é um princípio de fundamental importância para o sucesso do casamento. Cremos firmemente que a maior parte da infelicidade, dos conflitos e das separações que ocorrem nas famílias é decorrente da confusão que existe sobre o papel do homem e da mulher na família.
Aspectos básicos, fundamentais e mais simples do casamento tem se tronado imprecisos, vagos e indeterminados; ninguém sabe quem faz o quê. Tudo isso é parte de uma confusão maior na sociedade acerca do que significa ser homem e ser mulher. Os ativistas feministas e gays têm procurado convencer a sociedade de que não existe diferença fundamental entre o homem e a mulher; insistem que quaisquer diferenças psicológicas ou comportamentais entre o homem e a mulher são induzidas culturalmente e não são determinadas biologicamente. Entretanto, há ampla e suficiente evidência científica de que essas diferenças são biologicamente inatas.
“O segredo para se ter um casamento feliz está mais para ser a pessoa certa do que em procurar a pessoa certa. A felicidade no casamento não é automática; ela precisa ser conquistada passo a passo. É impossível encontrar a felicidade no casamento sem compreender o que a Bíblia diz sobre os papeis específicos do marido e da esposa no casamento” (Hernandes Dias Lopes).

1. O papel do marido como líder da família

Desde a constituição do casamento, no Éden, o marido é a cabeça do lar. Esta relação dentro do lar é explicada pelo apóstolo Paulo no texto de Efésios 5:23: “o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja”. Toda sociedade ordenada se apoia em dois pilares: autoridade e sujeição à autoridade. Uma comunidade só funciona como deve quando seus membros observam esses dois princípios básicos.
O apóstolo Paulo explicou bem à igreja de Corinto este princípio, quando disse: “Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo varão, e o varão, a cabeça da mulher; e Deus, a cabeça de Cristo” (1Co.11:3). Aqui, Paulo cita três relacionamentos importantes que envolvem autoridade e sujeição. Primeiro, “Cristo é a Cabeça de todo varão”; Cristo é Senhor e o homem está sujeito a Ele. Segundo, “o varão, a cabeça da mulher”; a posição de liderança foi dada ao homem, e a mulher se encontra sob sua autoridade. Terceiro, “Deus, a cabeça de Cristo”; até mesmo no Ser divino uma das Pessoas assume a posição de governo, enquanto a outra se sujeita voluntariamente. Esses exemplos de liderança e sujeição foram criados por Deus e são fundamentais para o modo pelo qual Ele organizou o universo.
Devemos enfatizar que, desde o princípio, sujeição não significa inferioridade. Cristo se sujeitou a Deus Pai, mas não é inferior a Ele. Semelhantemente, apesar de ser subordinado ao homem, a mulher não é inferior a ele.

2. O amor como elemento primordial

Sem dúvida, no casamento, o principal papel do marido é amar a sua mulher como Cristo amou a Sua Igreja (Ef.5:25) – “Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”.
Aqui, Paulo usa o termo grego “agapao” para expressar o amor que o marido deve ter para com a sua esposa, dentro de um relacionamento familiar. “Este é um termo meigo do grego secular, mas uma palavra infundida com um significado cristão único, por seu uso no Novo Testamento; ‘agapao’ expressa o amor desinteressado - um amor que se compromete conscientemente a procurar o bem-estar da pessoa amada, independentemente do custo pessoal. Ao decidir colocar o bem-estar da esposa em primeiro lugar, pois é isto que agapao implica, o marido voluntariamente sujeita seus próprios interesses às necessidades de sua esposa, e, portanto, sujeita-se a ela, em uma atitude de reverência a Cristo” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.434).
Esse amor do marido para com a sua esposa é um amor altruísta. “Agapao” é amor altruísta, pois o amor de Cristo para com a Igreja foi altruísta e incondicional (Rm.5:8). Quando o marido quer que sua mulher viva só para ele, em função dele, e ele quer ser o centro de todas as coisas dentro da sua casa, o casamento adoece; porque o papel do marido é imitar a Cristo, e Cristo amou a Igreja e amou-a até o fim. O amor de Cristo é perseverante; Ele amou os discípulos apesar das suas fraquezas, amou-os até o fim. O marido não deve amar até a primeira crise, amar até o primeiro desentendimento, amar até o primeiro problema que surge na vida conjugal, não; deve amar até o fim; o casamento deve ter um amor perseverante.
Esse amor do marido para com a sua esposa é um amor sacrificial. Cristo amou a Igreja a ponto de dar Sua vida por ela. Ele se apresentou para morrer por ela. Você marido, precisa amar a sua mulher mais do que você ama você mesmo; você precisa amar sua mulher a ponto de morrer por ela, dar sua vida por ela; esse é o amor guerreiro, esse é um amor combativo, este é o amor sacrificial.
Esse amor do marido para com a sua esposa precisa ser um amor santificador. Em outras palavras, a sua mulher precisa ser uma pessoa melhor, mais feliz, e mais segura pelo simples fato de estar casada com ele; ela precisa sentir-se protegida pelo seu amor; ela precisa sentir-se valorizada pelo seu amor. Quantas mulheres hoje estão chorando e sofrendo porque o marido não cuida, porque ele é rude no trato, porque ele é infiel no relacionamento, porque não vela pela vida física, emocional e espiritual da sua esposa. Se o marido tratar a sua mulher com dignidade, considerando-a como vaso mais frágil, sendo amável, sendo cortês, sendo cavalheiro, sendo educado, sendo polido, sendo amável, sendo paciente, então ele vai perceber que há o retorno disso: uma mulher compreensiva e amorosa com ele.

3. O cuidado do marido à esposa

Assim devem os maridos amar a sua própria mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja” (Ef.5:28,29).
Aqui, Paulo está exortando o marido quanto ao dever de cuidar da vida emocional e física da esposa. O marido deve amar sua mulher como ao próprio corpo. O marido fere a si mesmo ferindo a esposa. Crisóstomo disse: "O olho não trai o pé colocando-o na boca da cobra". Paulo diz ainda que ninguém jamais odiou o próprio corpo; antes o alimenta e cuida dele. Mas, como o marido cuida da esposa?
a) não abusando dela. O homem pode abusar de seu corpo comendo e bebendo em excesso. O homem que faz isso é néscio, porque, ao maltratar seu corpo, ele mesmo sofre. O marido, que maltrata a esposa é néscio, pois ele machuca a si mesmo ao ferir a esposa. Um marido pode abusar da esposa: sendo rude, não dedicando tempo, atenção e carinho a ela, ou usando palavras e gestos grosseiros para feri-la, ou sendo infiel a ela.
b) não descuidando dela. Um homem pode descuidar de seu corpo; e se o faz, ele é néscio e sofre por isso. Se você estiver com a garganta inflamada, não pode cantar nem pregar; todo seu trabalho é prejudicado; você tem ideias e mensagens, mas não pode transmiti-las. O marido descuida da esposa com reuniões intérminas, com televisão, com internet, com redes sociais, com roda de amigos. Há viúvas de maridos vivos. Há maridos que querem viver a vida de solteiro. O lar é apenas um albergue.
c) zelando por ela – alimentando-a e cuidando dela. Paulo descreve a estreita relação entre o marido e a sua esposa; diz que, amando a esposa, o marido ama o seu próprio corpo (Ef.5:28), a si mesmo (Ef.5:28b) e a própria carne (Ef.5:29). Visto que o matrimonio inclui uma verdadeira união de pessoas, e os dois se tornam uma só carne, o homem que ama a sua esposa está amando a si mesmo num sentido muito real. Ele cuida dela como cuida do seu próprio corpo. O homem já nasce com o intuito de cuidar do próprio corpo: alimenta-se, veste-se, toma banho; protege o seu corpo do desconforto, das dores e dos ferimentos. Sua sobrevivência depende desse cuidado. O marido, portanto, deve prover alimento físico, emocional e espiritual à esposa. O marido precisa demonstrar seu amor à esposa não apenas com palavras, mas também com gestos. Seu amor deve estar na ponta da língua e na ponta dos dedos. O amor é demonstrado pela palavra e pelo toque, pelo discurso e pela ação. Tal demonstração de amor deve ser sincera tanto em público quanto em particular, de modo permanente enquanto ambos viverem (Mt.19:6).
“Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amargura” (Cl.3:19).

II. A CONDUTA DA MULHER CRISTÃ COMO ESPOSA

Trataremos neste tópico sobre o papel da mulher no casamento. Este assunto é delicado e polêmico; não há unanimidade sobre ele nem entre estudiosos evangélicos. Biblicamente, no casamento, o papel da mulher é apoiar seu marido, é ser amiga dele, é ser uma conselheira, é ser uma intercessora, é ser uma aliviadora de tensões. Em outras palavras, na mesma medida em que o marido vive para sua esposa, sua esposa vive para o seu marido, cuidando um do outro, velando um pelo outro, abençoando um ao outro; assim sendo, o casamento encontra o seu pleno e maiúsculo significado.
Exporemos aqui, respeitando os itens propostos pelo comentarista da Lição, nosso entendimento do que seja o ensino de Paulo no texto de Efésios 5:21-24.

1. O conceito de submissão cristã

Exorta o apóstolo Paulo: “As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor” (Ef.4:22).
Falar de submissão é tratar de um assunto extremamente sensível e delicado na nossa cultura hodierna; até porque muita gente não entende o que a Bíblia diz sobre este assunto. No entendimento do Rev. Augustus Nicodemos, esta passagem sugere que submeter-se é dar-se incondicionalmente para completar o outro; envolve sacrificar-se para fazer que o relacionamento com o outro seja saudável.
Foi dada ao marido a responsabilidade de guiar a família a Deus, mesmo com sacrifício de sua vida (Ef.5:25-28). O papel da mulher é apoiar, ajudar e sustentar o marido no desempenho dessa missão; por isso, chama-se submissão, ou seja, a missão da esposa é sustentar a missão do marido, e a missão do marido é amar a esposa e cuidar dela a ponto de morrer por ela. A mulher submissa faz bem ao marido todos os dias de sua vida e pavimenta o caminho do amor do marido por ela. O alvo do papel de submissão da esposa, portanto, é muito mais amplo do que simplesmente a aceitação resignada dos valores comportamentais e morais do marido.
Segundo Augustus Nicodemos, apesar de esse ser o conceito bíblico, a ideia de que a esposa deve ser submissa ao marido tem provocado fortes reações na Igreja, em anos recentes. Alguns intérpretes radicais negam que Paulo tenha sido o autor da Epístola aos Efésios e a atribuem a um admirador de Paulo, o qual escreveu usando o nome do apóstolo muito tempo depois de este haver morrido. O falsificador teria uma atitude negativa para com as mulheres. Outros estudiosos admitem que foi Paulo quem escreveu a epístola, mas insistem que ele estava refletindo os conceitos machistas da sociedade patriarcal daquela época. O problema desses tipos de interpretação é que acabam por diminuir a autoridade das Escrituras Sagradas em nossos dias. Muitos intérpretes comprometidos com a autoridade das Escrituras têm tentado “abrandar” o significado do termo; mas não há como disfarçar o seu sentido óbvio. O termo traz a ideia de que alguém tem uma autoridade, à qual é necessário submeter-se.
Porém, há três observações que precisam ser feitas aqui, para não darmos lugar aos que condenam as Escrituras e o Cristianismo como responsáveis pela degradação e desumanização da mulher:
-Primeira observação: o conceito neotestamentário de submissão a alguém que está em autoridade não implica a inferioridade do que se sujeita nem a superioridade do que está em autoridade. Trata-se de funções, e não de valor pessoal. A Bíblia diz que Deus é a Cabeça de Cristo, Cristo é a Cabeça da Igreja, e o marido é a cabeça da mulher. Logo, não há diferença de essência entre o Deus Pai e Deus filho, como não há diferença de essência entre marido e mulher; é uma questão de posicionamento e não de valor. A autoridade do marido não provém do fato que ele é homem, mas de que Deus lhe deu a tarefa de governar e cuidar da esposa e da família. No conceito bíblico homem e mulher são iguais, embora desempenhem papeis diferentes. Autoridade, no conceito bíblico, não é uma coisa que uma pessoa tem por razão de força física, poder financeiro ou gênero, mas é sempre algo delegado por Deus.
- Segunda observação: a sujeição requerida da esposa nunca é subserviente, cega e absoluta. Não é servidão nem escravidão. A obediência da mulher cristã – bem como a do homem – é a Deus, em última análise.
-Terceiro observação: submissão não é de gênero. A Bíblia não diz que a mulher deve ser submissa ao homem. Não. A Bíblia diz que a esposa deve ser submissa ao marido; portanto, é dentro da funcionalidade do casamento e da família que esta relação precisa existir, porque uma família bicéfala, onde tem duas cabeças, não funciona. Nenhuma mulher é feliz mandando no marido e nenhum homem é feliz sendo mandado pela esposa. É preciso que essa relação seja harmônica e muito acordada com princípios claros, para que o relacionamento não adoeça, para que a relação não seja pesada, para que a família não fique sem rumo e sem norte na sua caminhada.
As esposas devem se conscientizar do fato de que, para que consigam sujeitar-se ao marido, precisam ter uma vida devocional ativa e frutífera. Precisam primeiramente estar sujeitas a Cristo. Esposa alguma vai conseguir acatar sinceramente a autoridade de seu marido se não for uma fiel discípula do Senhor Jesus Cristo. Daí a importância de cultivar uma vida cheia do Espírito Santo, uma vida em comunhão com Deus, uma vida de alto nível de espiritualidade. De outra maneira, a submissão será, realmente, uma escravidão. Mas se ela se submeter por amor a Jesus Cristo, a submissão ao marido se tornará agradável. Em última análise, ela se submete a Jesus Cristo quando acata voluntariamente a autoridade de seu marido.
É necessário fazer o seguinte esclarecimento: a determinação do apóstolo Paulo não significa exigência de uma submissão absoluta e incondicional da esposa ao marido, como a que ela deve prestar a Jesus Cristo. A submissão da esposa a Jesus é diferente da submissão a seu marido. A esposa se submete absoluta e radicalmente à autoridade de Jesus Cristo, que é a Cabeça da família, de todo homem e de toda mulher. Como resultado dessa submissão e como implicação, ela se submete ao marido.
Devemos entender, portanto, que a mulher deve ser submissa ao marido por causa de Cristo (Ef.5:22) - "Mulheres, cada um de vós seja submissa ao marido, assim como ao Senhor". Rev. Hernandes Dias Lopes está certo ao dizer que a submissão da esposa ao marido não é igual à submissão a Cristo, mas por causa de Cristo. A submissão da esposa ao marido é uma expressão da submissão da esposa a Cristo. A esposa submete-se ao marido por amor e obediência a Cristo. A esposa submete-se ao marido para a glória de Deus (1Co.10:31). A esposa submete-se ao marido para que a Palavra de Deus não seja blasfemada (Tt.2:3-5).
É claro que nenhuma esposa tem dificuldade de se sujeitar ao seu marido que a ama como Cristo ama a Igreja. Você, marido, precisa liderar sua esposa na vida espiritual, ser exemplo para ela, ser intercessor dela, ser amigo dela.

2. A condição da mulher cristã

Ao longo da história humana, até à encarnação de Jesus Cristo, a mulher foi sempre tratada com preterição e ignomínia. A História e as ciências sociais retratam que, nas culturas antigas, as mulheres eram vistas como um ser de segunda categoria e até mesmo como propriedade do seu marido, pai ou patrão (cf. Gn.31:14,15). Na sociedade romana, elas desfrutavam de maior dignidade que na sociedade grega (onde elas eram tratadas como seres inferiores, e as esposas eram escravizadas pelos seus maridos), mas eram oficialmente excluídas da vida política e da vida religiosa tanto pública como privada.
Na sociedade judaica masculina, a mulher não teria acesso à educação, não podendo ser instruída nos segredos da Torá. Na pirâmide social, do ponto de vista da valorização pessoal, a mulher estava junto com os escravos e as crianças. É muito mencionada a oração que o judeu ortodoxo recita diariamente, agradecendo ao Senhor por não ter nascido nem gentio, nem escravo, nem mulher. As mulheres não comiam com os homens, mas ficavam em pé enquanto eles comiam, servindo-os à mesa. Nas ruas e nos átrios do templo, elas ficavam a uma certa distância dos homens. Também, era divulgada em algumas culturas que as mulheres sequer possuíam alma.
Nas Sinagogas, somente os homens tinham permissão de participar plenamente dos cultos. Nem mesmo era permitido as mulheres aparecerem em público descobertas, sendo dessa forma impossível ver a sua fisionomia. A mulher não tinha voz nem rosto. Até hoje, a tradição rabínica não permite que as mulheres se "apossem" de um rolo da Torá (Livro da Lei) para orarem junto ao lugar mais sagrado para o judaísmo - o Muro das Lamentações.
Nesse aspecto, frisa-se que o conceito em relação às mulheres era preconceituoso e discriminatório entre as culturas existentes no contexto histórico de Efésios (cultura judaica e greco-romana). Dessa forma, ressalta-se que a mulher era culturalmente tratada como objeto e como um ser inferior ao homem.
Todavia, Jesus veio para mudar tudo isso. Na verdade, Jesus promoveu uma verdadeira inversão de valores naqueles dias. O objeto passou a ser sujeito. Ele livremente admitia as mulheres à comunhão e aceitava o serviço delas, como se vê no registro de Lucas 8:1-3; aqui, Lucas quis mostrar que o cristianismo rompeu com a prática do judaísmo, que afastava as mulheres dos assuntos religiosos.
João 4:5-42 descreve o diálogo de Jesus com a mulher samaritana. Ela era uma pessoa que tinha tudo para ser relegada ao desprezo. Além de pagã, essa mulher (inimiga dos judeus) tinha uma vida totalmente desregrada. O Senhor Jesus, porém, ao conversar com essa mulher, derribou tradições e regras da época e opôs-se ao preconceito e à discriminação da mulher (João 4:9,10). O Senhor Jesus quebrou os paradigmas existentes e alçou as mulheres à posição de dignidade igual aos homens (Gl.3:28), notadamente com a ênfase de que não há acepção de pessoas em Cristo (Rm.2:11).
As mulheres sempre estiveram ao lado do Senhor Jesus:
-Desde o Seu nascimento, elas o acompanhavam. Quando Ele foi apresentado no templo, a Bíblia relata que ali estava a profetisa Ana, segundo registro de Lucas 2:36-38.
-Elas o serviam: “Então Maria, tomando uma libra de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pós de Jesus e enxugou-lhe com os cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do unguento” (João 12:3).
-Elas contribuíam com suas ofertas: “… e também o seguiam algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com suas fazendas” (Lc.8:2,3).
-Elas estavam presentes na sua morte e também na sua ressurreição - Mateus 27:55,56 relata: “Estavam ali, olhando de longe, muitas mulheres que o tinham seguido desde a Galiléia, para o servir. Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José e mãe dos filhos de Zebedeu”.
-Foi a uma mulher que Jesus apareceu pela primeira vez após a ressurreição: “Disse-lhe Jesus: Maria. Ela, voltando-se, disse-lhe: Mestre... Maria foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor” (João 20:15-18).
Portanto, em Cristo, a mulher cristã desfruta de plena liberdade e não está sujeita a nenhum sistema de escravidão (Gl.5:13) – “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor”.

3. O respeito devido ao marido

“Não obstante, vós, cada um de per si também ame a própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao marido” (Ef.5:33 – ARA).
Este último versículo serve de resumo para tudo o que o apóstolo Paulo disse sobre maridos e esposas no capítulo 5 de Efésios. Para o marido a advertência final é que “cada um”, sem exceção, “ame a” sua “própria esposa como “a si mesmo”, reconhecendo o fato de que ele é um com ela. Se a palavra que caracteriza o dever da esposa é submissão, a palavra que caracteriza o dever do marido é amor.
O marido que deseja que a esposa lhe seja submissa como a Igreja o é a Cristo deve amá-la como Cristo ama a igreja. O amor do marido pela esposa deve ser perseverante, santificador, sacrificial, romântico, protetor e provedor. Ele deve amar a esposa não apenas como a si mesmo, mas mais do que a si mesmo. Cristo ama a Igreja e a si mesmo se entregou por ela. Esse é o modelo prescrito por Deus para ser seguido pelo marido.
A liderança do marido não é uma permissão para agir com autoritarismo, mas uma oportunidade para servir com amor. A ênfase de Paulo não está na autoridade do marido, mas em seu amor (Ef.5:25,28,33). Portanto, ser submisso representa entregar-se a alguém; amar representa entregar-se por alguém. Assim submissão e amor são dois aspectos da mesmíssima coisa.
Para a esposa é dito que “respeite” continuamente e obedeça ao seu “marido”. O dever da esposa é respeitar o marido, e o dever do marido é merecer o respeito dela. Se estas instruções divinas fossem seguidas hoje por todos os cristãos, qual seria o resultado? A resposta é óbvia: não haveria brigas, separações e divórcios; haveria fervor e fogo espiritual nas igrejas locais; os nossos lares seriam mais uma verdadeira amostra do que os céus hão de ser.

III. A CONDUTA DO CRENTE COMO FILHO

Como eu disse, o relacionamento familiar é um projeto divino que tem a responsabilidade de glorificar a Deus e transmitir à sociedade o padrão moral e espiritual da família, fundamentado na Palavra de Deus. Para tanto, as Escrituras Sagradas destacam o papel dos pais e dos filhos no seio familiar; tais papéis devem ser exercidos em obediência à Palavra divina a fim de que a família mantenha a comunhão e a convivência de forma harmoniosa.

1. A responsabilidade dos pais

E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor” (Ef.6:4).
Diversas são as responsabilidades dos pais para com os filhos, dentre elas estão a correção e a educação.
-É dever dos pais aplicar a correção aos filhos. Agora, para que um pai possa corrigir o seu filho, é preciso que, antes, ele tenha ensinado seu filho. O que temos visto é que muitos pais têm corrigido seus filhos, têm castigado sem que, antes, tivessem ensinado seus filhos. Os pais devem agir conforme os ensinamentos da Bíblia Sagrada, e as próprias Escrituras indicam quais são os níveis que devem ser seguidos pelos pais, os mesmos níveis com os quais Deus nos ensina a seguir Sua vontade (cfr.2Tm.3:16).
  • Em primeiro lugar, os pais devem ensinar seus filhos. Ninguém nasce sabendo e precisamos ensinar nossos filhos o certo e o errado, o que agrada a Deus e o que não Lhe agrada.
  • Em segundo lugar, devemos redarguir nossos filhos, ou seja, caso não tenham compreendido o ensinamento dado, devemos repeti-lo, mormente nos dias em que vivemos onde o bem virou mal e o mal, bem (Is.5:20). Embora ensinemos nossos filhos a Palavra de Deus, é certo que sofrerão eles a influência dos ambientes que estão a frequentar, o que os levará a tomar atitudes contrárias aos nossos ensinos. Devemos, então, redargui-los, ou seja, repetir os ensinamentos.
  • O terceiro nível é o da correção. Após a repetição dos ensinos, a repetição da atitude errônea, chega o momento do castigo, o momento da correção, com a utilização de medida que seja suficiente para a correção.
Quando corrigirmos nossos filhos, não podemos, em hipótese alguma, demonstrar revolta, ódio, raiva ou ira. Se o pai estiver com este sentimento, não deve disciplinar seu filho naquele instante; deixe para um instante em que estes sentimentos e emoções deploráveis tenham dissipado, pois o objetivo da correção não é a vingança contra o filho, nem criar revolta, ódio ou amargura entre pai e filho. É preciso que tudo seja feito com a finalidade de ensinar a virtude e o valor para o filho. Verdade é que a correção gera uma tristeza momentânea no filho (Hb.12:11), mas jamais podemos permitir que esta tristeza se torne em amargura e, muito menos, em raiz de amargura (Hb.12:15). Tudo deve ser feito debaixo da orientação divina e com temperança, ou seja, domínio próprio, que é uma das qualidades do fruto do Espírito Santo (Gl.5:22).
-É dever dos pais zelar pela educação dos filhos. Os critérios dessa educação estão na Palavra de Deus: “Ensina o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele” (Pv.22:6).
Deus tem os pais como responsáveis por educar os filhos; não são os avós, nem escolas, nem o Estado, nem grupos para jovens, nem colegas ou amigos. Embora cada um desses grupos possa influenciar as crianças, o dever final continua com os pais, e especialmente com o pai, a quem Deus nomeou como “chefe” para comandar e servir a família.
São necessárias duas coisas para ensinar: uma atitude correta e uma base sólida. Uma atmosfera permeada de críticas destrutivas, condenação, expectativas irreais, sarcasmo, intimidação e medo “provocarão a ira de uma criança”. Em tal atmosfera, não pode ocorrer um ensinamento profundo. A alternativa positiva seria uma atmosfera cheia de estímulo, ternura, paciência, escuta, afeição e amor. Em tal atmosfera, os pais podem construir nas vidas dos filhos a preciosa base do conhecimento de Deus.
- Outra regra do relacionamento entre pais e filhos é a que determina que os pais criem seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor (Ef.6:4b). Lamentavelmente, muitos têm feito enormes planos e se sacrificado sobremodo para dar a seus filhos o melhor que puderem em várias áreas de sua vida, mas estão totalmente despreocupados com a vida espiritual de seus filhos. Sacrificam-se para saciar desejos consumistas de seus filhos, para deixá-los "na moda", com os brinquedos de última geração, atualizados com os diversos modismos que surgem a cada instante, de estudarem nas melhores escolas, de terem os principais modos de lazer, mas não se preocupam com a vida espiritual de seus filhos. Não buscam o reino de Deus e a sua justiça para seus filhos, em primeiro lugar (Mt.6:33), e o resultado é um grande fracasso espiritual que atrairá outros fracassos nos outros campos da vida. É preciso que ponhamos Deus em primeiro lugar nas vidas de nossos filhos, para que eles possam optar por mantê-lo nesta posição quando alcançarem a maturidade.
É obrigação solene dos pais dar aos filhos a instrução e a disciplina condizente com a formação cristã. Os pais devem ser exemplos de vida e conduta cristãs, e se importar mais com a salvação dos filhos do que com seu emprego, profissão, trabalho na igreja ou posição social (cf. Sl.127:3).

2. A conduta requerida dos filhos

“Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra” (Ef.6:1-3).
Vimos anteriormente que a esposa cheia do Espírito Santo é submissa ao seu marido; agora, o texto ensina que os filhos cheios do Espírito se submetem voluntariamente aos seus pais.
O dever fundamental de todos os filhos é obedecer aos “pais no Senhor” (Ef.6:1). Não importa se os filhos ou os pais são crentes ou não. A relação pai-filho foi ordenada para toda a humanidade e não apenas para os crentes. O mandamento que determina obedecer “no Senhor” significa, em primeiro lugar, que a atitude dos filhos deve ser tal que, obedecendo aos pais, ajam como se estivessem obedecendo ao Senhor. Sua obediência deve ser como se fosse a Cristo. Em segundo lugar, significa que devem obedecer em tudo o que estiver de acordo com a vontade de Deus. Não é dito para obedecerem se seus pais mandarem cometer um pecado.
Conforme o texto de Ef.6:1-3, quatro razões são dadas pelas quais os filhos devem obedecer:
a) “... porque isto é justo”. É um princípio básico da vida familiar que os ainda imaturos, impulsivos e inexperientes se submetam à autoridade dos seus pais, que são mais velhos e mais sábios. Deus já havia colocado a sua lei no coração de todos os homens, mesmo antes de se revelar a Moisés no Sinai (Rm.1:19; 2:14,15). Essa prática existe em todas as civilizações antes e depois de Moisés. Todos esses povos já reconheciam a importância de obedecer e respeitar aos pais como fundamento para uma sociedade estável. Sua inobservância sinaliza a decadência da estrutura social. Infelizmente, o que se vê na atualidade é inversão desses valores; os pais estão perdendo o direito de opinar e decidir sobre a vida dos filhos adolescentes por imposição até do Estado.
b) As Escrituras assim ensinam – “Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa” (Ef.6:2). Aqui, Paulo cita Êxodo 20:12. Essa ordem para honrar os pais é o primeiro dos Dez Mandamentos que traz uma promessa específica de bênção. Apela aos filhos para que respeitem, amem e obedeçam a seus pais. Desobedecer aos pais é desobedecer a Deus, pois eles estão investidos de autoridade sobre a vida e receberam a responsabilidade de oferecer bem-estar aos filhos. A lei estabelecia a pena capital para o filho desobediente, o rebelde contumaz (Dt.21:18-21). A punição era severa para os casos de agressão física e moral, violência e desrespeito. Qualquer atitude de desonra era um grave insulto. Por isso, a lei impõe respeito e honra aos pais (Êx.20:12; Dt.5:16). Desonrar a pai e mãe é desonrar a Deus.
c) O bem-estar dos filhos depende disso – “...para que te vá bem...” (Ef.6:3). Penso no que aconteceria a um filho que nunca recebera instrução ou correção dos seus pais. Ele se tornaria insuportável pessoalmente e intolerável socialmente.
d) A obediência promove uma vida plena – “para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra” (Ef.6:3). Nos dias do Antigo Testamento o filho que obedecia aos pais desfrutava de uma vida longa. Hoje isso não é mais uma regra sem exceção. De fato, obediência filial nem sempre traz longevidade. Um filho respeitoso pode morrer jovem. Porém, de modo geral é verdade que a vida de disciplina e obediência é mais segura, saudável e longa, enquanto a vida de rebelião e imprudência muitas vezes termina em morte prematura.

CONCLUSÃO

A família é instituição criada por Deus. Antes de fundar a Igreja, Deus instituiu a família, por meio do casamento entre um homem e uma mulher (Gn.2:24). Este padrão é imutável. Deus deseja que, em cada lar, haja um ambiente espiritual que honre e glorifique o seu nome. O amor de Deus pela humanidade faz com que Ele veja todas as famílias da terra como alvo de sua bênção; porém, só podem desfrutar do favor de Deus as famílias que se sujeitam a obedecer à sua Palavra.
Os padrões estabelecidos pelas Escrituras Sagradas para o relacionamento entre marido e mulher, pais e filhos são atuais e plenamente possíveis de serem praticados. Afinal, o próprio Cristo que os estabeleceu é quem vai nos ajudar a colocá-los em pratica. A Igreja foi estabelecida também para servir de modelo nos relacionamentos para toda a sociedade. É verdade que nem sempre isso acontece; mas, sem ela, o mundo seria muito pior.
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A Igreja Eleita. Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a noiva gloriosa de Cristo.
SHEDD, Russel. Epístolas da Prisão: uma análise. São Paulo: Edições Vida Nova,
2005, p. 15.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. O RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS . PortalEBD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Casamento, Divórcio e novo casamento.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Restaurando a Família.
Rev. Augustus Nicodemos Lopes. A Bíblia e sua Família. Editora cultura Cristã.

domingo, 7 de junho de 2020

Aula 11 - ATRIBUTOS DA UNIDADE DA FÉ: HUMILDADE, MANSIDÃO E LONGANIMIDADE


2º Trimestre/2020
Texto Base: Efésios 4:1-4; Colossenses 1:9-12
“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef.4:1).
Efésios 4:
1.Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados,
2.com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
3.procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz:
4.há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação.
Colossenses:
9.Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual;
10.para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus;
11.corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da sua glória, em toda a paciência e longanimidade, com gozo,
12.dando graças ao Pai, que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz.

INTRODUÇÃO

Com esta Aula damos início ao terceiro e último bloco de estudos das lições deste trimestre letivo. As lições deste bloco dizem respeito à parte prática da Epístola, onde é registrada a conduta que devem ter os salvos em Cristo Jesus em sua peregrinação terrena. O foco aqui muda do teológico para o prático. Nos capítulos 1 a 3, Paulo explicou aos seus leitores o grande mistério e o plano de Deus para a sua Igreja e fez uma formidável e inspirada oração para que eles pudessem conhecer todo amor e todas as bênçãos de Cristo; o restante da Epístola contém o apelo de Paulo aos crentes para que vivam a graça e a Unidade que haviam recebido através de Cristo.
A Unidade da fé não deve ser confundido com uniformidade. A Unidade que Paulo está se referindo vem do interior, é uma graça espiritual, enquanto uniformidade é resultado de pressão exterior. Como bem diz o Rev. Hernandes Dias Lopes, essa Unidade não é externa nem mecânica, mas interna e orgânica; ela não é imposta por força exterior, e sim, pela virtude do poder de Cristo que habita no crente; procede de dentro do organismo da Igreja. Portanto, os que em seu zelo ecumênico se mostram ansiosos para desfazer todos os limites denominacionais a fim de criar uma gigantesca superigreja não podem encontrar aqui nenhum apoio.
A unidade da Igreja não é denominacional, mas espiritual. A unidade da Igreja não é construída pelo homem, mas pelo Deus triúno. Só existe um corpo de Cristo, uma Igreja, um Rebanho, uma Noiva. Todos aqueles que nasceram de novo e foram lavados no sangue do cordeiro fazem parte dessa bendita família de Deus. Esta Unidade é construída sobre o fundamento da verdade (Ef.4:1-6). Por isso, a tendência ecumênica de unir todas as religiões, afirmando que doutrina divide enquanto o amor une, é uma falácia. Não há unidade cristã fora da verdade.
A unidade é orgânica, mas precisa ser preservada. Como essa unidade é preservada? Paulo enumera quatro virtudes que caracterizam o andar digno do cristão, a saber: humildade, mansidão, longanimidade e o amor que suporta os irmãos (Ef.4:2). Estas são virtudes integrantes do Fruto do Espírito (cf. Gl.5:22). É bom nos conscientizar de que, além da importância dos dons espirituais e ministeriais para a edificação da Igreja, está o fruto do Espírito Santo manifesto por cada crente. Os dons espirituais e ministeriais, por mais relevantes que sejam, necessitam estar acompanhados de um caráter transformado, impregnado destas citadas virtudes.
Paulo é muito claro ao destacar que a vida cristã é caracterizada por estas e outras virtudes. Relembra-nos que é por aqui que todo propósito de unidade cristã deve começar; isto é, se quisermos unidade na Igreja local, é bom termos certeza de que nunca dependerá de cargos, estatutos, etc. Há pessoas que começam com estruturas, mas o apóstolo começa com qualidade morais, virtudes cristãs; e isso explica por que muitos projetos da Igreja e na Igreja não dão certo. As pessoas dizem que querem trabalhar, que “amam” ao Senhor, que estão dispostas, mas quando começam os relacionamentos interpessoais, nota-se a ausência dessas virtudes; tudo termina em conflito e divisão. Desta feita, para que a Igreja apresente uma perfeita unidade conforme as Escrituras Sagradas, é necessário que em sua estrutura espiritual esteja presente estas virtudes fundamentais.

I. PARA HAVER UNIDADE É PRECISO HUMILDADE

“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade…” (Ef.4:1,2).
Em Cristo, a humildade é uma virtude. A pessoa que segue os passos de Jesus Cristo, deve ter a humildade ocupando uma parte insubstituível no seu caráter, pois é uma virtude imprescindível para o fortalecimento da comunhão cristã. 

1. O modo digno do viver cristão

“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef.4:1).
Observe a palavra “pois”; ela liga este texto de Efésios 4:1 ao conteúdo dos capítulos 1 a 3, onde Paulo trata do grande Plano revelado por Deus. Paulo estava aprisionado em Roma por servir ao Senhor (ou seja, o seu aprisionamento era um resultado de sua pregação do Evangelho - veja Atos 21:27-22:22). Apesar dos agrilhões que o prendiam fisicamente e impediam que viajasse, Paulo continuou a escrever, incentivando, neste caso, os crentes de Éfeso a viverem de um modo digno de vocação a que haviam sido “chamados” e a se lembrarem de que haviam sido chamados por Deus (Ef.1:4). O “chamado” deles, como Igreja de Cristo, para a salvação foi realizado através do humilde ato de Cristo de morrer na cruz pelos nossos pecados; era também um “chamado” para servir a Deus.
Em Efésios 4:1, a palavra grega para “digno” refere-se a um equilíbrio, como nas balanças. Dessa maneira, os crentes devem viver “em equilíbrio” com o seu chamado. O modo como agem deve estar de acordo com aquilo em que creem. A lembrança do sacrifício de Cristo deve fazer com que os crentes vivam para a glória do Senhor, em cada aspecto de suas vidas.
Enfim, como devemos viver de modo “digno do chamado?”. Paulo explica: “com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef.4:2,3).
Deus nos escolheu para sermos os representantes de Cristo na Terra. À luz dessa verdade, Paulo nos desafia a viver de forma condizente com o chamado que recebemos: do admirável privilégio de sermos chamados membros da família de Cristo. Isso inclui sermos humildes, mansos, longânimos e amorosos. Note que as pessoas observam a maneira como nós vivemos. Será que eles podem notar a presença de Cristo em nós? Será que nós estamos sendo um bom representante do Senhor? Devemos pensar nosso!

2. A Humildade (Ef.4:2)

Humildade é a renúncia à imposição de interesses pessoais; ela é o remédio para os males que atacam a unidade da Igreja Local. Para a maioria dos povos pagãos, “humildade” tem um significado negativo; é tratado como fraqueza de caráter e falta de amor próprio. Porém, entre o povo de Deus, a humildade é uma virtude imprescindível para promover a unidade do Corpo de Cristo; ela é um imperativo, pois “Deus escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes” (Pv.3:34). Tiago diz que Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg.4:6); e o apóstolo Pedro ordena: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Pd.5:5).
A humildade deve ser a marca do cristão, pois seu Senhor e Mestre foi “manso e humilde de coração” (Mt.11:29). O apóstolo Paulo escrevendo aos crentes de Filipos, disse que Jesus aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo” (Fp.2:6,7). No Evangelho de João, nosso Senhor lavou os pés dos apóstolos dando o exemplo de humildade (João 13:13-15). Os discípulos de Cristo demoraram entender essa lição e muitas vezes discutiram quem devia ocupar a primazia entre eles. Nessas ocasiões Jesus lhes dizia que maior é o que serve e que ele mesmo veio não para ser servido, mas para servir (Mc.10:45).

3. A verdadeira Humildade

Acredito que essa é uma das palavras mais mal-entendidas na Igreja evangélica. Muitos confundem humildade com roupa rasgada, casa velha, ausência de conhecimento, etc.; nada disso! A humildade provém do conhecimento de Deus e de um correto conhecimento de si mesmo. Enquanto a ambição e o preconceito arruínam a unidade da igreja, a genuína humildade a edifica.
Ser humilde envolve ter uma correta perspectiva sobre nós mesmos em relação a Deus (Rm.12:3), que por sua vez nos coloca numa correta perspectiva em relação ao próximo. O apóstolo Paulo deu o seu próprio testemunho em suas Epístolas/Cartas. Durante a sua terceira viagem missionária se qualificou de “o menor dos apóstolos” (1Co.15:9); durante sua primeira prisão em Roma se intitulou de “o menor dos menores de todos os santos” (Ef.3:8); e um pouco mais tarde, durante o período que se estendeu da primeira à segunda prisão em Roma, levou essas descrições humildes de sua pessoa ao clímax, designando-se de “o principal dos pecadores” (1Tm.1:15).
Jamais o orgulho prevalece no coração de alguém que conhece a Deus e a si mesmo. Creio que três fatores caracterizam a verdadeira humildade cristã:
ü  Não pensar de si mesmo além do que é (Rm.12:3) – “Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”.
Veja bem, você pode pensar de você, falar de você, mas não além do que você realmente é. Não viva de aparência, deixando transparecer aquilo que você não é realmente.
ü  Considerar os outros (Fp.2:3) – “...cada um considere os outros superiores a si mesmo”. Alguém disse: “Você sabe tudo o que sabe, mas não sabe tudo o que os outros sabem”.
Assim, a verdadeira humildade coopera para a harmonia nos relacionamentos e promove a unidade no Corpo de Cristo (1Co.12:25).
ü  Disposição para servir (Mc.10:43-45). As palavras de Jesus dizem tudo: “mas entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso serviçal. E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo de todos. Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”.

II. PARA HAVER UNIDADE É PRECISO HAVER MANSIDÃO

“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados... com toda...mansidão...” (Ef.4:2).
Outra virtude que caracteriza o andar digno do cristão é a Mansidão. A humildade é uma atitude, e a mansidão é a ação que deriva dela. Pessoas mansas não tentam se agarrar a posições de importância ou reivindicar autoridade sobre outros. As pessoas mansas são bem consideradas pelos outros. Crentes que têm a virtude da mansidão estão capacitados a gerir bem os conflitos, promover paz e conciliação na Igreja Local. Se todos em uma Igreja Local tivessem as características da humildade e da mansidão, os conflitos desapareceriam e os membros da Igreja teriam força e poder em seu serviço.
Ao contrário do que se pensa, mansidão não é sinônimo de fraqueza, mas é a “suavidade dos fortes”; é a qualidade de uma personalidade forte que é, mesmo assim, senhora de si mesma e serva de outras pessoas. A mansidão forma um par ideal com a humildade, porque “o homem manso pensa bem pouco nas suas reivindicações pessoais, assim como o homem humilde pensa bem pouco nos seus méritos pessoais” (R.W. Dale).

1. Mansidão: um fruto do Espírito

Mansidão, no seu sentido original, e bíblico, é uma das virtudes existentes em Deus, pois, é relacionada no Fruto do Espírito, ou seja, é uma virtude gravada no caráter do homem espiritual, pelo Espírito Santo. Assim, se “mansidão” é fruto do Espírito (cf. Gl.5:22), segue-se ser ela parte integrante da natureza de Deus. Davi reconheceu esta verdade quando declarou: “Também me deste o escudo da tua salvação; a tua mão direita me susteve, e a tua mansidão me engrandeceu” (Sl.18:35). Por isto, o Senhor Jesus podia dizer: “...aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração...” (Mt.11:29).
Portanto, aqueles que conhecem Deus e sua Palavra, sabem que não pode existir qualquer semelhança entre mansidão e fraqueza, timidez, medo, subserviência, passividade, negligência, e outros sentimentos correlatos. No seu sentido bíblico, mansidão é firmeza e retidão de caráter; é ter consciência de sua força, ou autoridade, permanecendo imperturbável quando se faz necessário. Ela não é incompatível com o exercício do poder, nem mesmo no plano material.
No plano material, mansidão significa ter um gênio brando, ausência de agitação, ser contrário à violência; ela anda de mãos dadas com a humildade. Veja dois exemplos na Bíblia que abrangem este sentido.
-Cornélio (Atos 10). Este era um homem manso, embora sendo um homem de guerra, um centurião do exército romano, um oficial com grande poder de mando, mas, ao mesmo tempo, era “...piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual dava muitas esmolas ao povo e, de continuo, orava a Deus”(Atos 10:1,2).
- Centurião de Cafarnaum (Lc.7:1-8).
  • Ele demonstrou a brandura de seu caráter e humildade pela forma com que se identificou com o servo que prestava serviço em sua casa – “E o servo de um certo centurião, a quem este muito estimava, estava doente e moribundo” (Lc.7:2). Note que este homem não estava pedindo por um filho único que estava à morte, mas, por um criado. Ele que podia ter tantos criados, quantos pretendesse ter.
  • Ele demonstrou mansidão na forma com que distinguiu Jesus, que embora sendo um judeu, foi tratado por este alto oficial romano como sendo seu superior. Como oficial-comandante ele tinha poder de mandar buscar Jesus, mas, não foi o que fez – “E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo” (Lc.7:3).
  • Ele demonstrou mansidão na maneira que tratava o povo judeu, tão diferente de Herodes, de Pilatos e de outras autoridades romanas. Os anciãos deram testemunho positivo sobre o mesmo: “E, chegando eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: é digno de que lhe concedas isso” (Lc.7:4).
  • Ele demonstrou mansidão no respeito e na tolerância religiosa, o que só é próprio de homens com índole e moral elevada, pois, conforme os próprios anciãos de Israel declararam “...ele mesmo nos edificou a sinagoga” (Lc.7:5).
  • Ele demonstrou toda sua mansidão, pois, embora sendo mais velho que Jesus, tendo em suas mãos, como oficial do mais poderoso Exército de seu tempo, o poder de vida e de morte, não apenas chamou o jovem Jesus de Senhor, como, também, julgou-se indigno de recebê-lo em sua rica e confortável casa – “E foi Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, enviou-lhe o centurião uns amigos, dizendo-lhe: Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entre debaixo do meu telhado; e, por isso, nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarara” (Lc.7:6,7).
  • Ele demonstrou toda sua mansidão ao declarar ter consciência de sua autoridade, de sua força e poder – “Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: vai; e ele vai; e a outro: vem; e ele vem: e ao meu servo: faze isto; e ele o faz”(Lc.7:8).
Sem dúvida, o Centurião de Cafarnaum nos faz pensar que, hoje, a mansidão é uma virtude que falta a muitos daqueles que são chamados de cristãos. Talvez seja tempo de algumas lideranças evangélicas reverem seus conceitos de mansidão.

2. Grandes exemplos de Mansidão: Moisés e Jesus Cristo

Poderíamos dar vários exemplos de mansidão na Bíblia. Além dos dois citados no item anterior, poderíamos falar de Abraão, Isaque, Davi, Isaque, Paulo e tantos outros; porém, neste espaço limitado, vamos destacar, resumidamente, apenas Moisés e, o maior exemplo, Jesus.
a) A Mansidão de Moisés. Depois de Jesus, para nós cristãos, Moisés foi o maior líder e maior legislador de Israel. Com ele podemos aprender que os grandes líderes, os maiores administradores, podem ser mansos, sem prejuízo do exercício de suas funções. Moisés, por quarenta anos liderou o povo através do deserto, com mãos firmes e fortes. Sem perder sua mansidão, fez uso, sempre que foi necessário, de sua autoridade e do poder que o Senhor Deus lhe outorgara; no entanto, dele está escrito: “E era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm.12:3). Esta reputação se deu em virtude de o legislador, entre outros aspectos, não revidar nem guardar rancor quando foi atacado pessoalmente (Nm.12:1,2).
b) A Mansidão de Jesus (Mt.11:29). A máxima demonstração da mansidão divina foi a sua humanização. Quando Deus se fez homem, revelou quão manso era, pois não só se inclinava a ouvir o homem, como assumiu a forma de homem, humilhou-se, para que estivesse ao alcance do homem(Fp.2:5-8); daí porque Jesus ter dito que era manso e humilde de coração (Mt.11:29).
Em Lucas 9:55,56 é demonstrado o grau superlativo da mansidão de Cristo; quando uma aldeia samaritana recusou-se dar boas-vindas a Jesus, Tiago e João, estes dois perguntaram se Jesus permitiria que eles clamassem fogo do céu para destruir a aldeia; mas Jesus, sem demora, os repreendeu. Simplesmente foram para outra aldeia.
A maior prova da mansidão de Jesus vemo-la nas horas que precederam sua crucificação:
-No Getsêmani. Jesus era um Mestre que vivia o que ensinava e ensinava o que vivia. Apesar do momento difícil, Ele ainda tinha uma lição para ministrar aos seus discípulos, sobre a mansidão. Esta seria uma lição prática. Duraria cerca de quase vinte horas, do Jardim do Getsêmani até o “está consumado”, na Cruz do Calvário. Ele que, no Templo, foi um gigante, no Getsêmani se transformou num cordeiro que, sem qualquer resistência, entregou-se nas mãos dos que o foram prender. Deixou claro que poderia reagir e não ser preso – “Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra” (João 18:6). No momento da prisão, Ele poderia chamar mais de doze legiões de anjos para salva-lo, no entanto, voluntariamente Ele permitiu que os soldados o aprisionassem (Mt.27:14).
-No interrogatório perante o sumo sacerdote. Ele ficou em silêncio, quando foi julgado injustamente. Durante toda uma noite, na presença do Sumo Sacerdote, dos anciãos e do Sinédrio, de Herodes e de Pilatos, o Senhor Jesus comprovou ter dito a verdade quando afirmou ser “...manso e humilde de coração...”. Demonstrou todo o poder da sua mansidão suportando sem qualquer revide e sem nenhum lamento toda dor moral causada pelas calúnias, injurias e difamações, toda dor física causada pelas agressões sofridas, bem como pelas seis horas em que esteve na Cruz. Durante todo tempo ele teve consciência de que estava sofrendo porque, voluntariamente, havia se entregado nas mãos dos homens para que a Palavra de Deus pudesse ser cumprida. Para que a Palavra fosse cumprida Ele tinha que dar a sua vida; Ele havia dito que – “...eu de mim mesmo a dou”. É preciso muita mansidão para entregar-se, de forma voluntária, ao sacrifício, nas mãos dos inimigos. O Senhor Jesus comprovou que era, de fato, manso de coração.

3. A verdadeira Mansidão

A verdadeira Mansidão é a atitude que aceita tudo o que Deus faz em nossa vida sem se rebelar, e também recebe toda a crueldade do homem sem retaliar. É característica nítida na vida daquele que disse: “Eu sou manso e humilde de coração”. Assim, mansidão trata da submissão do homem para com Deus e sua Palavra (Tg.1:21). Com bem diz o Pr. Douglas Batista, “pessoas com essa virtude são disciplinadas e capacitadas a perseverar na perseguição (Rm.12:12-14), não revidam os maus-tratos sofridos, não se apressam a emitir juízo (Rm.12:17-19), não cedem às provocações nem dão espaço para ressentimentos (Hb.12:15)”. Todavia, a verdadeira mansidão não se confunde com fraqueza ou inferioridade; pelo contrário, indica o mais seguro controle emocional.
Não devemos confundir mansidão com covardia e timidez; a covardia é o medo, a falta de coragem para agir, e isto não condiz com o comportamento do cristão, que é instruído pela Palavra de Deus a ser forte e corajoso para com a obra de Deus.
Muitos procuram esconder sua covardia sob uma roupagem de mansidão; dizem ser mansos e, por isso, não dizem o que deve ser dito, não fazem o que precisa ser feito; não repreendem os errados, fazem “vistas grossas” para os erros e pecados que testemunham, pensando, com isso, cumprirem o dever de ser mansos.
A verdadeira mansidão é resultado da submissão a Deus, é uma atitude de gentileza, de brandura, mas jamais se confunde com uma tolerância com o erro e com o pecado. Veja o exemplo de Moisés, que era considerado o homem mais manso da terra, mas agiu com firmeza na rebelião de Core, Datã e Abirão, a ponto de a terra se abrir e engolir os rebeldes vivos. Jesus, também, nunca deixou de ser manso, mas interrompeu a ação dos vendilhões do templo de Jerusalém.
A mansidão, também, caracteriza-se por uma atitude de brandura, de suavidade no que precisa ser feito, mas, de modo algum, significa o recuo, o medo que impede a tomada de atitudes. O crente deve ser alguém firme e pronto a testemunhar, com palavras e obras, a fé que tem em Cristo Jesus, sem que para isto precise ser ríspido, duro ou que venha maltratar o próximo. Enquanto é dito que os mansos herdarão a terra(Mt.5:5), também as Escrituras mostram que os tímidos, os covardes ficarão de fora da Nova Jerusalém (Ap.21:8). Portanto, ser manso não é ser covarde nem tímido.
A mansidão também é confundida, às vezes, com a insensibilidade. Alguns entendem que uma pessoa mansa é uma pessoa que não seja capaz de se irritar, de ficar nervosa, uma pessoa que tenha superado as emoções e os sentimentos, algo como os “gurus” e “mestres” das religiões orientais, que buscam reprimir as dores e irritações. Isso não é mansidão.
Os mansos são seres humanos e, como homens, ainda estamos neste corpo de carne e sangue e, portanto, sujeitos a ter sentimentos e emoções. A irritação momentânea, a ira, é própria do ser humano, mas isto não quer dizer que, por causa destes instantes, venhamos a perder a mansidão. As Escrituras dizem-nos que não é proibido nos irar, o que não podemos é pecar (Ef.4:26). Provavelmente, o que Paulo quis dizer foi: ”quando fordes assaltados pela ira, que ela seja de pouca duração, para que não prejudique a vós mesmos e a outros”. A ira vem repentinamente, como reação natural do nosso ser, mas não pode ser aninhada nem cultivada, pois, se assim fizermos, aí, sim, estaremos pecando. Entretanto, o manso, como é submisso a Deus, não permite que seu “ego” cultive e aninhe a ira que sobrevém. Por isso, é errado pensar que Jesus não estava manso quando expulsou os cambistas do templo.

4. Mansidão pressupõe conciliação

As pessoas quando aceitam a Cristo como Senhor e Salvador, não deixam de ser indivíduos, não perdem a sua individualidade - o caráter muda, mas não o temperamento, que passa a ser controlado pelo Espírito Santo.
Portanto, a Salvação não altera a individualidade do salvo, e, portanto, não muda o seu temperamento, que é a parte da personalidade que está ligada à criação; mas, como se trata de uma mudança radical, pois, como ensina o Senhor Jesus, quem é salvo passa da morte para a vida (João 5:24), temos uma transformação completa não no temperamento, mas no caráter. Desta feita, não é difícil acontecer conflitos dentro da Igreja.
Mas, o crente que é manso tem um comportamento conciliador, ou seja, uma postura equilibrada diante de circunstâncias adversas (1Pd.2:23); possui a habilidade de administrar os conflitos (2Co.2:10); em lugar de sentimento faccioso, eles apresentam um espírito manso e conciliador (1Co.1:10).
Se todos os crentes de cada Igreja Local desenvolvessem a virtude da mansidão, o espírito conflituoso desapareceria. A exortação de Paulo continua ecoando: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef.4:1,2).
A mansidão impede que um crente se considere melhor que o outro. O crente manso estende a mão ao fraco, lembrando-se que poderia estar no lugar dele. A mansidão não censura, estende a mão para ajudar.
A mansidão do crente precisa ser manifesta também para com os pecadores – “...mostrando toda mansidão para com todos os homens (Tito 3:2).
Enfim, a mansidão do crente precisa ser manifesta para com todos, sem qualquer exceção – “E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor” (2Tm.2:24).
Temos um exemplo clássico no Antigo Testamento de mansidão com esse perfil conciliador: Isaque, filho de Abraão. Após obedecer à voz de Deus para que não descesse ao Egito e ficasse em Gerar, terra dos filisteus, Deus o fez prosperar sobremaneira (Gn.26:13). Isaque passou a ter muitas ovelhas, vacas, pessoas ao seu serviço, despertando assim inveja nos filisteus, a ponto de fazer oposição ferrenha à permanência de Isaque nas suas terras e ser aconselhado a sair do lugar onde prosperara (Gn.26:14,16). Isaque, contudo, não questionou, não deu brechas a nenhum conflito com os invejosos filisteus, foi habitar "no vale de Ge­rar" (Gn.26:17). Isaque foi uma pessoa apaziguadora, a despeito da violência que imperava naquela época, onde as questões eram resolvidas no modo de “olho por olho” e “dente por dente”.
Mesmo estando no “vale”, os invejosos filisteus não deixaram de desafiar o caráter pacificador de Isaque, mas continuaram com suas investidas contra o homem de Deus: contenderam com os pastores de Isaque, afirmando que as fontes de água não pertenciam a eles (Gn.26:20). Contudo, a reação de Isaque foi pacífica e bem diplomática. Quando os filisteus escolhiam uma região para cavar poços, Isaque partia para cavar outros em outro lugar. Assim, Deus o abençoou abundantemente.
O que aprendemos com essa atitude de Isaque? Num tempo onde muitos não têm paciência para ouvir o outro, muito menos absorver o desaforo do outro, o pacifismo de Isaque se torna uma lição aos cristãos dos dias hodiernos.
Viver de maneira pacífica não significa tolice, significa ter conscientemente um estilo de vida que priorize um coração leve e suave no espirito do Evangelho. Disse Jesus: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt.5:9).

III. PARA HAVER UNIDADE É PRECISO LONGANIMIDADE PARA O EXERCÍCIO DO PERDÃO

“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados ... com longanimidade...” (Ef.4:1,2).
A longanimidade foi traduzida como paciência em muitas traduções da Bíblia. Esta virtude do Fruto do Espírito (Gl.5:22) implica a capacidade de aguentar, com paciência, pessoas provocantes, tal como em Cristo Deus foi longânimo conosco (cf. Rm.2:4; 1Tm.1:16). Na Bíblia, Deus revela a Sua longanimidade várias vezes, pois perdoa e demonstra benevolência em relação a pessoas que pecam e não obedecem aos Seus mandamentos. Jesus é o expoente máximo de todas as manifestações do fruto do Espírito, ou seja, Ele demonstra perfeitamente o que significa ser longânimo - Ele suportou todo o sofrimento e carregou o peso do nosso pecado para que hoje pudéssemos ser livres e com acesso a Deus. Deus quer que nós tenhamos uma vida de longanimidade. Desta forma o mundo verá que somos diferentes. 

1. Longanimidade: um fruto do Espírito

A Longanimidade é uma das virtudes do fruto do Espírito desenvolvido no crente (Gl.5:22); tem o sentido de ”paciência”, “tolerância” e “perseverança” (1Pd.3:20; 2Pd.3:9; Cl.3:12,13); é a disposição equilibrada e um espirito paciente sob provações prolongadas; é o estado de espírito estendido ao máximo; é a firme paciência no sofrimento ou infortúnio; é o fruto da perseverança.
A Loganimidade é uma qualidade voltada para o próximo - é a atitude de aguentar com paciência pessoas provocadoras. Ninguém jamais será perfeito aqui na Terra; portanto, devemos aceitar e amar outros cristãos, apesar de suas faltas. Quando notamos algum defeito em nossos companheiros de fé, devemos ser pacientes e gentis. Em vez de se deter nas fraquezas dos outros, ou procurar seus defeitos, oremos por eles; em seguida, se possível, vá mais adiante – passe algum tempo ao lado dessas pessoas procurando estender-lhes a sua amizade. Assim, suportar os erros dos outros e as adversidades da vida são o lado prático da loganimidade, pois o próprio Deus é descrito como “longânimo” e “tardio em irar-se” (Sl.86:15; 103:8; Na.1:3).
Crisóstomo dizia que loganimidade é o espírito que tem o poder de vingar-se, mas nunca o faz; é a pessoa que aguenta o insulto sem amargura nem lamento. Esta virtude tem sido ilustrada da seguinte maneira: imagine um filhote de cachorro e um cachorro grande juntos; à medida que o cachorrinho late para o outro, irritando-o e atacando-o, este, mesmo podendo morder o filhote, pacientemente tolera sua impertinência. Portanto, “a virtude da longanimidade capacita o crente a ser tolerante com os erros alheios, e assim liberar o perdão aos ofensores”.

2. Suportando uns aos outros (Ef.4:2)

“...suportando-vos uns aos outros em amor”.
Segundo Rev. Hernandes Dias Lopes, "suportar em amor" é a manifestação prática da paciência; representa ser clemente com as fraquezas dos outros, não deixando de amar o próximo nem os amigos por causa de suas faltas, ainda que talvez nos ofendam ou desagradem.
Segundo William Macdonald, suportar “uns aos outros em amor” significa perdoar as faltas e fraquezas dos outros, as diferenças de personalidade, de habilidade e de temperamento. Não é manter a fachada da boa educação enquanto por dentro ferve de rancor. Trata-se de um amor positivo em relação àqueles que nos irritam, nos perturbam e nos envergonham.
Segundo Douglas Baptista, ao longo de nossa caminhada na fé, enfrentamos excessos cometidos em nosso meio, como as provocações e atitudes carnais. Estas atitudes são comparadas a um “fardo” que devemos suportar por meio da prática do amor. O amor tudo suporta!

3. O perdão como premissa do amor

“....suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef.4:2).
O amor divino é a suprema virtude do Fruto do Espírito (Gl.5:22), e a maior verdade revelada por Deus aos homens é: Deus é amor (1João 4:8b). Apesar de ser algo conhecido de todos, lamentavelmente não é uma realidade que se possa atingir com o intelecto ou com a mente. Somente aqueles que se convertem e recebem o Espírito Santo em suas vidas é que podem, efetivamente, ter o amor divino e, assim, desenvolver as nove qualidades apontadas nas Escrituras como sendo o fruto do Espírito. Jesus deixou-nos muito claro ao dizer que seus discípulos seriam reconhecidos pelo amor (João 15:12; 1João 2:10,11; 3:10,11).
O amor só visa o interesse dos outros. Sem que haja o verdadeiro amor na vida do crente, nenhuma das outras virtudes poderá se manifestar na vida da pessoa. O amor e o seu contínuo desenvolvimento é o que deve ser buscado pelo cristão a cada dia, até o dia do arrebatamento da Igreja - um amor que não é meramente teórico, que não é somente um belo discurso ou um estado mental, mas, sim, um amor prático, que faz boas obras e que faz os homens glorificarem a Deus que está nos céus(Mt.5:16).
Quando a principal indumentária na vida do crente é o amor divino, ele não sente dificuldade de exercer o perdão e ser perdoado, apresentando assim um espectro de paz e harmonia entre os irmãos, glorificando, assim, o nome de Jesus Cristo.

CONCLUSÃO

Vimos que uma Igreja sadia, madura, orgânica e que cresce é caracterizada pela unidade dos crentes em Cristo, e para garantir essa unidade são necessárias as seguintes virtudes: humildade, mansidão, longanimidade e amor. Estas virtudes caracterizam o andar digno do cristão. A saúde espiritual da Igreja deve levar em consideração a preservação destas virtudes, pois isto é o que faz com que o nome de Jesus Cristo seja glorificado. Aqueles que foram escolhidos por Deus para se assentar com Cristo nas regiões celestiais devem se lembrar que a honra de Cristo está envolvida em seu viver diário, na prática destas virtudes, em todas as situações.
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A Igreja Eleita. Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a noiva gloriosa de Cristo.
SHEDD, Russel. Epístolas da Prisão: uma análise. São Paulo: Edições Vida Nova,
2005, p. 15.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. Mansidão: o fruto da obediência. PortalEBD_2005.