2º Trimestre/2020
Texto Base: Efésios 4:1-4; Colossenses
1:9-12
“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor,
que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef.4:1).
Efésios
4:
1.Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que
andeis como é digno da vocação com que fostes chamados,
2.com toda a humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
3.procurando guardar a unidade do Espírito
pelo vínculo da paz:
4.há um só corpo e um só Espírito, como também
fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação.
Colossenses:
9.Por esta razão, nós também, desde o dia em
que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que sejais cheios do
conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual;
10.para que possais andar dignamente diante do
Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no
conhecimento de Deus;
11.corroborados em toda a fortaleza, segundo a
força da sua glória, em toda a paciência e longanimidade, com gozo,
12.dando graças ao Pai, que nos fez idôneos
para participar da herança dos santos na luz.
INTRODUÇÃO
Com esta Aula damos início ao terceiro e
último bloco de estudos das lições deste trimestre letivo. As lições deste
bloco dizem respeito à parte prática da Epístola, onde é registrada a conduta
que devem ter os salvos em Cristo Jesus em sua peregrinação terrena. O foco aqui
muda do teológico para o prático. Nos capítulos 1 a 3, Paulo explicou aos seus
leitores o grande mistério e o plano de Deus para a sua Igreja e fez uma
formidável e inspirada oração para que eles pudessem conhecer todo amor e todas
as bênçãos de Cristo; o restante da Epístola contém o apelo de Paulo aos crentes
para que vivam a graça e a Unidade que haviam recebido através de Cristo.
A
Unidade da fé não deve ser confundido com uniformidade. A
Unidade que Paulo está se referindo vem
do interior, é uma graça espiritual, enquanto uniformidade é
resultado de pressão exterior. Como bem diz o Rev. Hernandes Dias Lopes, essa
Unidade não é externa nem mecânica, mas interna e orgânica; ela não é imposta
por força exterior, e sim, pela virtude do poder de Cristo que habita no crente;
procede de dentro do organismo da Igreja. Portanto, os que em seu zelo
ecumênico se mostram ansiosos para desfazer todos os limites denominacionais a
fim de criar uma gigantesca superigreja não podem encontrar aqui nenhum apoio.
A unidade da Igreja não é denominacional, mas
espiritual. A unidade da Igreja não é construída pelo
homem, mas pelo Deus triúno. Só existe um corpo de Cristo, uma Igreja, um
Rebanho, uma Noiva. Todos aqueles que nasceram de novo e foram lavados no
sangue do cordeiro fazem parte dessa bendita família de Deus. Esta Unidade é
construída sobre o fundamento da verdade (Ef.4:1-6). Por isso, a tendência
ecumênica de unir todas as religiões, afirmando que doutrina divide enquanto o
amor une, é uma falácia. Não há unidade cristã fora da verdade.
A unidade é orgânica, mas precisa ser preservada. Como
essa unidade é preservada? Paulo
enumera quatro virtudes que caracterizam o andar digno do cristão, a saber:
humildade, mansidão, longanimidade e o amor que suporta os irmãos (Ef.4:2).
Estas são virtudes integrantes do Fruto do Espírito (cf. Gl.5:22). É bom nos
conscientizar de que, além da importância dos dons espirituais e ministeriais
para a edificação da Igreja, está o fruto do Espírito Santo manifesto por cada
crente. Os dons espirituais e ministeriais, por mais relevantes que sejam,
necessitam estar acompanhados de um caráter transformado, impregnado destas
citadas virtudes.
Paulo é muito claro ao destacar que a vida
cristã é caracterizada por estas e outras virtudes. Relembra-nos que é por aqui
que todo propósito de unidade cristã deve começar; isto é, se quisermos unidade
na Igreja local, é bom termos certeza de que nunca dependerá de cargos,
estatutos, etc. Há pessoas que começam com estruturas, mas o apóstolo começa
com qualidade morais, virtudes cristãs; e isso explica por que muitos projetos
da Igreja e na Igreja não dão certo. As pessoas dizem que querem trabalhar, que
“amam” ao Senhor, que estão dispostas, mas quando começam os relacionamentos
interpessoais, nota-se a ausência dessas virtudes; tudo termina em conflito e divisão.
Desta feita, para que a Igreja apresente uma perfeita unidade conforme as
Escrituras Sagradas, é necessário que em sua estrutura espiritual esteja
presente estas virtudes fundamentais.
I.
PARA HAVER UNIDADE É PRECISO HUMILDADE
“Rogo-vos,
pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes
chamados, com toda a humildade…”
(Ef.4:1,2).
Em
Cristo, a humildade é uma virtude. A pessoa que segue os passos de Jesus
Cristo, deve ter a humildade ocupando uma parte insubstituível no seu caráter,
pois é uma virtude imprescindível para o fortalecimento da comunhão
cristã.
1. O
modo digno do viver cristão
“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef.4:1).
Observe a palavra “pois”; ela liga este texto
de Efésios 4:1 ao conteúdo dos capítulos 1 a 3, onde Paulo trata do grande
Plano revelado por Deus. Paulo estava aprisionado em Roma por servir ao Senhor
(ou seja, o seu aprisionamento era um resultado de sua pregação do Evangelho -
veja Atos 21:27-22:22). Apesar dos agrilhões que o prendiam fisicamente e
impediam que viajasse, Paulo continuou a escrever, incentivando, neste caso, os
crentes de Éfeso a viverem de um modo digno de vocação a que haviam sido
“chamados” e a se lembrarem de que haviam sido chamados por Deus (Ef.1:4). O
“chamado” deles, como Igreja de Cristo, para a salvação foi realizado através
do humilde ato de Cristo de morrer na cruz pelos nossos pecados; era também um
“chamado” para servir a Deus.
Em Efésios 4:1, a palavra grega para “digno” refere-se a um equilíbrio, como
nas balanças. Dessa maneira, os crentes devem viver “em equilíbrio” com o seu
chamado. O modo como agem deve estar de acordo com aquilo em que creem. A
lembrança do sacrifício de Cristo deve fazer com que os crentes vivam para a
glória do Senhor, em cada aspecto de suas vidas.
Enfim, como devemos viver de modo “digno do
chamado?”. Paulo explica: “com toda a
humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef.4:2,3).
Deus nos escolheu para sermos os
representantes de Cristo na Terra. À luz dessa verdade, Paulo nos desafia a
viver de forma condizente com o chamado que recebemos: do admirável privilégio
de sermos chamados membros da família de Cristo. Isso inclui sermos humildes,
mansos, longânimos e amorosos. Note que as pessoas observam a maneira como nós
vivemos. Será que eles podem notar a presença de Cristo em nós? Será que nós
estamos sendo um bom representante do Senhor? Devemos pensar nosso!
2. A
Humildade (Ef.4:2)
Humildade é a
renúncia à imposição de interesses pessoais; ela é o remédio para os
males que atacam a unidade da Igreja Local. Para a maioria dos povos pagãos,
“humildade” tem um significado negativo; é tratado como fraqueza de caráter e
falta de amor próprio. Porém, entre o povo de Deus, a humildade é uma virtude
imprescindível para promover a unidade do Corpo de Cristo; ela é um imperativo,
pois “Deus escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes” (Pv.3:34).
Tiago diz que Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg.4:6); e
o apóstolo Pedro ordena: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus,
para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Pd.5:5).
A humildade deve ser a marca do cristão, pois
seu Senhor e Mestre foi “manso e humilde de coração” (Mt.11:29). O apóstolo
Paulo escrevendo aos crentes de Filipos, disse que Jesus aniquilou-se a si
mesmo, tomando a forma de servo” (Fp.2:6,7). No Evangelho de João, nosso Senhor
lavou os pés dos apóstolos dando o exemplo de humildade (João 13:13-15). Os
discípulos de Cristo demoraram entender essa lição e muitas vezes discutiram
quem devia ocupar a primazia entre eles. Nessas ocasiões Jesus lhes dizia que
maior é o que serve e que ele mesmo veio não para ser servido, mas para servir
(Mc.10:45).
3. A
verdadeira Humildade
Acredito que essa é uma das palavras mais
mal-entendidas na Igreja evangélica. Muitos confundem humildade com roupa
rasgada, casa velha, ausência de conhecimento, etc.; nada disso! A humildade
provém do conhecimento de Deus e de um correto conhecimento de si mesmo.
Enquanto a ambição e o preconceito arruínam a unidade da igreja, a genuína
humildade a edifica.
Ser humilde envolve ter uma correta
perspectiva sobre nós mesmos em relação a Deus (Rm.12:3), que por sua vez nos
coloca numa correta perspectiva em relação ao próximo. O apóstolo Paulo deu o
seu próprio testemunho em suas Epístolas/Cartas. Durante a sua terceira viagem
missionária se qualificou de “o menor dos apóstolos” (1Co.15:9); durante sua
primeira prisão em Roma se intitulou de “o menor dos menores de todos os
santos” (Ef.3:8); e um pouco mais tarde, durante o período que se estendeu da
primeira à segunda prisão em Roma, levou essas descrições humildes de sua
pessoa ao clímax, designando-se de “o principal dos pecadores” (1Tm.1:15).
Jamais o orgulho prevalece no coração de
alguém que conhece a Deus e a si mesmo. Creio que três fatores caracterizam a
verdadeira humildade cristã:
ü Não
pensar de si mesmo além do que é (Rm.12:3) – “Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não
saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida
da fé que Deus repartiu a cada um”.
Veja
bem, você pode pensar de você, falar de você, mas não além do que você
realmente é. Não viva de aparência, deixando transparecer aquilo que você não é
realmente.
ü Considerar
os outros (Fp.2:3) – “...cada um
considere os outros superiores a si mesmo”. Alguém disse: “Você sabe tudo o
que sabe, mas não sabe tudo o que os outros sabem”.
Assim,
a verdadeira humildade coopera para a harmonia nos relacionamentos e promove a
unidade no Corpo de Cristo (1Co.12:25).
ü Disposição
para servir (Mc.10:43-45). As palavras de Jesus dizem tudo: “mas entre vós não será assim; antes,
qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso serviçal. E qualquer que,
dentre vós, quiser ser o primeiro será servo de todos. Porque o Filho do Homem
também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de
muitos”.
II.
PARA HAVER UNIDADE É PRECISO HAVER MANSIDÃO
“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor,
que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados... com toda...mansidão...” (Ef.4:2).
Outra
virtude que caracteriza o andar digno do
cristão é a Mansidão. A humildade é uma atitude, e a mansidão é a
ação que deriva dela. Pessoas mansas não tentam se agarrar a posições de
importância ou reivindicar autoridade sobre outros. As pessoas mansas são bem
consideradas pelos outros. Crentes que têm a virtude da mansidão estão
capacitados a gerir bem os conflitos, promover paz e conciliação na Igreja
Local. Se todos em uma Igreja Local tivessem as características da humildade e
da mansidão, os conflitos desapareceriam e os membros da Igreja teriam força e
poder em seu serviço.
Ao contrário do que se pensa, mansidão não é
sinônimo de fraqueza, mas é a “suavidade dos fortes”; é a qualidade de uma
personalidade forte que é, mesmo assim, senhora de si mesma e serva de outras
pessoas. A mansidão forma um par ideal com a humildade, porque “o homem manso
pensa bem pouco nas suas reivindicações pessoais, assim como o homem humilde
pensa bem pouco nos seus méritos pessoais” (R.W. Dale).
1.
Mansidão: um fruto do Espírito
Mansidão, no seu sentido original, e bíblico,
é uma das virtudes existentes em Deus, pois, é relacionada no Fruto do
Espírito, ou seja, é uma virtude gravada no caráter do homem espiritual, pelo
Espírito Santo. Assim, se “mansidão” é fruto do Espírito (cf. Gl.5:22),
segue-se ser ela parte integrante da natureza de Deus. Davi reconheceu esta
verdade quando declarou: “Também me deste o escudo da tua salvação; a tua mão
direita me susteve, e a tua mansidão me engrandeceu” (Sl.18:35). Por isto, o
Senhor Jesus podia dizer: “...aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração...” (Mt.11:29).
Portanto, aqueles que conhecem Deus e sua
Palavra, sabem que não pode existir qualquer semelhança entre mansidão e
fraqueza, timidez, medo, subserviência, passividade, negligência, e outros
sentimentos correlatos. No seu sentido bíblico, mansidão é firmeza e retidão de
caráter; é ter consciência de sua força, ou autoridade, permanecendo
imperturbável quando se faz necessário. Ela não é incompatível com o exercício
do poder, nem mesmo no plano material.
No plano material, mansidão significa ter um
gênio brando, ausência de agitação, ser contrário à violência; ela anda de mãos
dadas com a humildade. Veja dois exemplos na Bíblia que abrangem este sentido.
-Cornélio (Atos 10). Este
era um homem manso, embora sendo um homem de guerra, um centurião do exército romano,
um oficial com grande poder de mando, mas, ao mesmo tempo, era “...piedoso e temente a Deus, com toda a sua
casa, o qual dava muitas esmolas ao povo e, de continuo, orava a Deus”(Atos
10:1,2).
- Centurião de Cafarnaum (Lc.7:1-8).
- Ele demonstrou a
brandura de seu caráter e humildade pela forma com que se identificou com
o servo que prestava serviço em sua casa – “E o servo de um certo centurião, a quem este muito estimava,
estava doente e moribundo” (Lc.7:2). Note que este homem não estava
pedindo por um filho único que estava à morte, mas, por um criado. Ele que
podia ter tantos criados, quantos pretendesse ter.
- Ele demonstrou
mansidão na forma com que distinguiu Jesus, que embora sendo um judeu, foi
tratado por este alto oficial romano como sendo seu superior. Como
oficial-comandante ele tinha poder de mandar buscar Jesus, mas, não foi o
que fez – “E, quando ouviu falar de
Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o
seu servo” (Lc.7:3).
- Ele demonstrou
mansidão na maneira que tratava o povo judeu, tão diferente de Herodes, de
Pilatos e de outras autoridades romanas. Os anciãos deram testemunho
positivo sobre o mesmo: “E, chegando
eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: é digno de que lhe
concedas isso” (Lc.7:4).
- Ele demonstrou
mansidão no respeito e na tolerância religiosa, o que só é próprio de
homens com índole e moral elevada, pois, conforme os próprios anciãos de
Israel declararam “...ele mesmo nos edificou a sinagoga” (Lc.7:5).
- Ele demonstrou
toda sua mansidão, pois, embora sendo mais velho que Jesus, tendo em suas
mãos, como oficial do mais poderoso Exército de seu tempo, o poder de vida
e de morte, não apenas chamou o jovem Jesus de Senhor, como, também,
julgou-se indigno de recebê-lo em sua rica e confortável casa – “E foi Jesus com eles; mas, quando já
estava perto da casa, enviou-lhe o centurião uns amigos, dizendo-lhe:
Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entre debaixo do meu
telhado; e, por isso, nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize,
porém, uma palavra, e o meu criado sarara” (Lc.7:6,7).
- Ele demonstrou
toda sua mansidão ao declarar ter consciência de sua autoridade, de sua
força e poder – “Porque também eu
sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a
este: vai; e ele vai; e a outro: vem; e ele vem: e ao meu servo: faze
isto; e ele o faz”(Lc.7:8).
Sem dúvida, o Centurião de Cafarnaum nos faz
pensar que, hoje, a mansidão é uma virtude que falta a muitos daqueles que são
chamados de cristãos. Talvez seja tempo de algumas lideranças evangélicas
reverem seus conceitos de mansidão.
2.
Grandes exemplos de Mansidão: Moisés e Jesus Cristo
Poderíamos dar vários exemplos de mansidão na
Bíblia. Além dos dois citados no item anterior, poderíamos falar de Abraão,
Isaque, Davi, Isaque, Paulo e tantos outros; porém, neste espaço limitado,
vamos destacar, resumidamente, apenas Moisés e, o maior exemplo, Jesus.
a) A
Mansidão de Moisés. Depois de Jesus, para nós cristãos, Moisés
foi o maior líder e maior legislador de Israel. Com ele podemos aprender que os
grandes líderes, os maiores administradores, podem ser mansos, sem prejuízo do
exercício de suas funções. Moisés, por quarenta anos liderou o povo através do
deserto, com mãos firmes e fortes. Sem perder sua mansidão, fez uso, sempre que
foi necessário, de sua autoridade e do poder que o Senhor Deus lhe outorgara; no
entanto, dele está escrito: “E era o varão Moisés mui manso, mais do que todos
os homens que havia sobre a terra” (Nm.12:3). Esta reputação se deu em virtude
de o legislador, entre outros aspectos, não revidar nem guardar rancor quando
foi atacado pessoalmente (Nm.12:1,2).
b) A
Mansidão de Jesus (Mt.11:29). A máxima demonstração da
mansidão divina foi a sua humanização. Quando Deus se fez homem, revelou quão
manso era, pois não só se inclinava a ouvir o homem, como assumiu a forma de
homem, humilhou-se, para que estivesse ao alcance do homem(Fp.2:5-8); daí
porque Jesus ter dito que era manso e humilde de coração (Mt.11:29).
Em Lucas 9:55,56 é demonstrado o grau
superlativo da mansidão de Cristo; quando uma aldeia samaritana recusou-se dar
boas-vindas a Jesus, Tiago e João, estes dois perguntaram se Jesus permitiria
que eles clamassem fogo do céu para destruir a aldeia; mas Jesus, sem demora,
os repreendeu. Simplesmente foram para outra aldeia.
A maior prova da mansidão de Jesus vemo-la nas
horas que precederam sua crucificação:
-No
Getsêmani. Jesus era um Mestre que vivia o que ensinava e ensinava o
que vivia. Apesar do momento difícil, Ele ainda tinha uma lição para ministrar
aos seus discípulos, sobre a mansidão. Esta seria uma lição prática. Duraria
cerca de quase vinte horas, do Jardim do Getsêmani até o “está consumado”, na
Cruz do Calvário. Ele que, no Templo, foi um gigante, no Getsêmani se
transformou num cordeiro que, sem qualquer resistência, entregou-se nas mãos
dos que o foram prender. Deixou claro que poderia reagir e não ser preso –
“Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra” (João 18:6). No
momento da prisão, Ele poderia chamar mais de doze legiões de anjos para
salva-lo, no entanto, voluntariamente Ele permitiu que os soldados o
aprisionassem (Mt.27:14).
-No
interrogatório perante o sumo sacerdote. Ele ficou em silêncio,
quando foi julgado injustamente. Durante toda uma noite, na presença do Sumo
Sacerdote, dos anciãos e do Sinédrio, de Herodes e de Pilatos, o Senhor Jesus
comprovou ter dito a verdade quando afirmou ser “...manso e humilde de
coração...”. Demonstrou todo o poder da sua mansidão suportando sem qualquer
revide e sem nenhum lamento toda dor moral causada pelas calúnias, injurias e
difamações, toda dor física causada pelas agressões sofridas, bem como pelas
seis horas em que esteve na Cruz. Durante todo tempo ele teve consciência de
que estava sofrendo porque, voluntariamente, havia se entregado nas mãos dos
homens para que a Palavra de Deus pudesse ser cumprida. Para que a Palavra fosse
cumprida Ele tinha que dar a sua vida; Ele havia dito que – “...eu de mim mesmo
a dou”. É preciso muita mansidão para entregar-se, de forma voluntária, ao
sacrifício, nas mãos dos inimigos. O Senhor Jesus comprovou que era, de fato,
manso de coração.
3. A
verdadeira Mansidão
A verdadeira Mansidão é a atitude que aceita
tudo o que Deus faz em nossa vida sem se rebelar, e também recebe toda a
crueldade do homem sem retaliar. É característica nítida na vida daquele que
disse: “Eu sou manso e humilde de coração”. Assim, mansidão trata da submissão
do homem para com Deus e sua Palavra (Tg.1:21). Com bem diz o Pr. Douglas
Batista, “pessoas com essa virtude são disciplinadas e capacitadas a perseverar
na perseguição (Rm.12:12-14), não revidam os maus-tratos sofridos, não se
apressam a emitir juízo (Rm.12:17-19), não cedem às provocações nem dão espaço para
ressentimentos (Hb.12:15)”. Todavia, a verdadeira mansidão não se confunde com
fraqueza ou inferioridade; pelo contrário, indica o mais seguro controle
emocional.
Não devemos confundir mansidão com covardia e
timidez; a covardia é o medo, a falta de coragem para agir, e isto não condiz
com o comportamento do cristão, que é instruído pela Palavra de Deus a ser
forte e corajoso para com a obra de Deus.
Muitos procuram esconder sua covardia sob uma
roupagem de mansidão; dizem ser mansos e, por isso, não dizem o que deve ser
dito, não fazem o que precisa ser feito; não repreendem os errados, fazem
“vistas grossas” para os erros e pecados que testemunham, pensando, com isso,
cumprirem o dever de ser mansos.
A verdadeira mansidão é resultado da submissão
a Deus, é uma atitude de gentileza, de brandura, mas jamais se confunde com uma
tolerância com o erro e com o pecado. Veja o exemplo de Moisés, que era
considerado o homem mais manso da terra, mas agiu com firmeza na rebelião de
Core, Datã e Abirão, a ponto de a terra se abrir e engolir os rebeldes vivos.
Jesus, também, nunca deixou de ser manso, mas interrompeu a ação dos vendilhões
do templo de Jerusalém.
A mansidão, também, caracteriza-se por uma
atitude de brandura, de suavidade no que precisa ser feito, mas, de modo algum,
significa o recuo, o medo que impede a tomada de atitudes. O crente deve ser
alguém firme e pronto a testemunhar, com palavras e obras, a fé que tem em
Cristo Jesus, sem que para isto precise ser ríspido, duro ou que venha
maltratar o próximo. Enquanto é dito que os mansos herdarão a terra(Mt.5:5),
também as Escrituras mostram que os tímidos, os covardes ficarão de fora da
Nova Jerusalém (Ap.21:8). Portanto, ser manso não é ser covarde nem tímido.
A mansidão também é confundida, às vezes, com
a insensibilidade. Alguns entendem que uma pessoa mansa é uma pessoa que não
seja capaz de se irritar, de ficar nervosa, uma pessoa que tenha superado as
emoções e os sentimentos, algo como os “gurus” e “mestres” das religiões
orientais, que buscam reprimir as dores e irritações. Isso não é mansidão.
Os mansos são seres humanos e, como homens,
ainda estamos neste corpo de carne e sangue e, portanto, sujeitos a ter
sentimentos e emoções. A irritação momentânea, a ira, é própria do ser humano,
mas isto não quer dizer que, por causa destes instantes, venhamos a perder a
mansidão. As Escrituras dizem-nos que não é proibido nos irar, o que não
podemos é pecar (Ef.4:26). Provavelmente, o que Paulo quis dizer foi: ”quando fordes assaltados pela ira, que ela
seja de pouca duração, para que não prejudique a vós mesmos e a outros”. A
ira vem repentinamente, como reação natural do nosso ser, mas não pode ser
aninhada nem cultivada, pois, se assim fizermos, aí, sim, estaremos pecando.
Entretanto, o manso, como é submisso a Deus, não permite que seu “ego” cultive
e aninhe a ira que sobrevém. Por isso, é errado pensar que Jesus não estava
manso quando expulsou os cambistas do templo.
4.
Mansidão pressupõe conciliação
As pessoas quando aceitam a Cristo como Senhor
e Salvador, não deixam de ser indivíduos, não perdem a sua individualidade - o
caráter muda, mas não o temperamento, que passa a ser controlado pelo Espírito
Santo.
Portanto, a Salvação não altera a
individualidade do salvo, e, portanto, não muda o seu temperamento, que é a
parte da personalidade que está ligada à criação; mas, como se trata de uma
mudança radical, pois, como ensina o Senhor Jesus, quem é salvo passa da morte
para a vida (João 5:24), temos uma transformação completa não no temperamento,
mas no caráter. Desta feita, não é difícil acontecer conflitos dentro da
Igreja.
Mas, o crente que é manso tem um comportamento
conciliador, ou seja, uma postura equilibrada diante de circunstâncias adversas
(1Pd.2:23); possui a habilidade de administrar os conflitos (2Co.2:10); em
lugar de sentimento faccioso, eles apresentam um espírito manso e conciliador
(1Co.1:10).
Se todos os crentes de cada Igreja Local
desenvolvessem a virtude da mansidão, o espírito conflituoso desapareceria. A
exortação de Paulo continua ecoando: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor,
que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a
humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor”
(Ef.4:1,2).
A mansidão impede que um crente se considere
melhor que o outro. O crente manso estende a mão ao fraco, lembrando-se que
poderia estar no lugar dele. A mansidão não censura, estende a mão para ajudar.
A mansidão do crente precisa ser manifesta
também para com os pecadores – “...mostrando toda mansidão para com todos os
homens (Tito 3:2).
Enfim, a mansidão do crente precisa ser
manifesta para com todos, sem qualquer exceção – “E ao servo do Senhor não
convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar,
sofredor” (2Tm.2:24).
Temos um exemplo clássico no Antigo Testamento
de mansidão com esse perfil conciliador: Isaque, filho de Abraão. Após obedecer
à voz de Deus para que não descesse ao Egito e ficasse em Gerar, terra dos
filisteus, Deus o fez prosperar sobremaneira (Gn.26:13). Isaque passou a ter
muitas ovelhas, vacas, pessoas ao seu serviço, despertando assim inveja nos
filisteus, a ponto de fazer oposição ferrenha à permanência de Isaque nas suas
terras e ser aconselhado a sair do lugar onde prosperara (Gn.26:14,16). Isaque,
contudo, não questionou, não deu brechas a nenhum conflito com os invejosos
filisteus, foi habitar "no vale de Gerar" (Gn.26:17). Isaque foi uma
pessoa apaziguadora, a despeito da violência que imperava naquela época, onde
as questões eram resolvidas no modo de “olho por olho” e “dente por dente”.
Mesmo estando no “vale”, os invejosos
filisteus não deixaram de desafiar o caráter pacificador de Isaque, mas
continuaram com suas investidas contra o homem de Deus: contenderam com os
pastores de Isaque, afirmando que as fontes de água não pertenciam a eles
(Gn.26:20). Contudo, a reação de Isaque foi pacífica e bem diplomática. Quando
os filisteus escolhiam uma região para cavar poços, Isaque partia para cavar
outros em outro lugar. Assim, Deus o abençoou abundantemente.
O que aprendemos com essa atitude de Isaque?
Num tempo onde muitos não têm paciência para ouvir o outro, muito menos
absorver o desaforo do outro, o pacifismo de Isaque se torna uma lição aos
cristãos dos dias hodiernos.
Viver de maneira pacífica não significa
tolice, significa ter conscientemente um estilo de vida que priorize um coração
leve e suave no espirito do Evangelho. Disse Jesus: “Bem-aventurados os
pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt.5:9).
III.
PARA HAVER UNIDADE É PRECISO LONGANIMIDADE PARA O EXERCÍCIO DO PERDÃO
“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor,
que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados ... com longanimidade...” (Ef.4:1,2).
A longanimidade foi traduzida como paciência
em muitas traduções da Bíblia. Esta virtude do Fruto do Espírito (Gl.5:22)
implica a capacidade de aguentar,
com paciência, pessoas provocantes, tal como em Cristo Deus foi
longânimo conosco (cf. Rm.2:4; 1Tm.1:16). Na Bíblia, Deus revela a Sua
longanimidade várias vezes, pois perdoa e demonstra benevolência em relação a
pessoas que pecam e não obedecem aos Seus mandamentos. Jesus é o expoente
máximo de todas as manifestações do fruto do Espírito, ou seja, Ele demonstra
perfeitamente o que significa ser longânimo - Ele suportou todo o sofrimento e
carregou o peso do nosso pecado para que hoje pudéssemos ser livres e com
acesso a Deus. Deus quer que nós tenhamos uma vida de longanimidade. Desta
forma o mundo verá que somos diferentes.
1.
Longanimidade: um fruto do Espírito
A Longanimidade é uma das virtudes do fruto do
Espírito desenvolvido no crente (Gl.5:22); tem o sentido de ”paciência”,
“tolerância” e “perseverança” (1Pd.3:20; 2Pd.3:9; Cl.3:12,13); é a disposição
equilibrada e um espirito paciente sob provações prolongadas; é o estado de
espírito estendido ao máximo; é a firme paciência no sofrimento ou infortúnio;
é o fruto da perseverança.
A Loganimidade é uma qualidade voltada para o
próximo - é a atitude de aguentar com paciência pessoas provocadoras. Ninguém
jamais será perfeito aqui na Terra; portanto, devemos aceitar e amar outros
cristãos, apesar de suas faltas. Quando notamos algum defeito em nossos
companheiros de fé, devemos ser pacientes e gentis. Em vez de se deter nas
fraquezas dos outros, ou procurar seus defeitos, oremos por eles; em seguida, se
possível, vá mais adiante – passe algum tempo ao lado dessas pessoas procurando
estender-lhes a sua amizade. Assim, suportar os erros dos outros e as
adversidades da vida são o lado prático da loganimidade, pois o próprio Deus é
descrito como “longânimo” e “tardio em irar-se” (Sl.86:15; 103:8; Na.1:3).
Crisóstomo dizia que loganimidade é o espírito
que tem o poder de vingar-se, mas nunca o faz; é a pessoa que aguenta o insulto
sem amargura nem lamento. Esta virtude tem sido ilustrada da seguinte maneira:
imagine um filhote de cachorro e um cachorro grande juntos; à medida que o
cachorrinho late para o outro, irritando-o e atacando-o, este, mesmo podendo
morder o filhote, pacientemente tolera sua impertinência. Portanto, “a virtude
da longanimidade capacita o crente a ser tolerante com os erros alheios, e
assim liberar o perdão aos ofensores”.
2.
Suportando uns aos outros (Ef.4:2)
“...suportando-vos uns aos outros em
amor”.
Segundo Rev. Hernandes Dias Lopes,
"suportar em amor" é a manifestação prática da paciência; representa
ser clemente com as fraquezas dos outros, não deixando de amar o próximo nem os
amigos por causa de suas faltas, ainda que talvez nos ofendam ou desagradem.
Segundo William Macdonald, suportar “uns aos
outros em amor” significa perdoar as faltas e fraquezas dos outros, as
diferenças de personalidade, de habilidade e de temperamento. Não é manter a
fachada da boa educação enquanto por dentro ferve de rancor. Trata-se de um
amor positivo em relação àqueles que nos irritam, nos perturbam e nos
envergonham.
Segundo Douglas Baptista, ao longo de nossa
caminhada na fé, enfrentamos excessos cometidos em nosso meio, como as
provocações e atitudes carnais. Estas atitudes são comparadas a um “fardo” que
devemos suportar por meio da prática do amor. O amor tudo suporta!
3. O
perdão como premissa do amor
“....suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef.4:2).
O amor divino é a suprema virtude do Fruto do
Espírito (Gl.5:22), e a maior verdade revelada por Deus aos homens é: Deus é
amor (1João 4:8b). Apesar de ser algo conhecido de todos, lamentavelmente não é
uma realidade que se possa atingir com o intelecto ou com a mente. Somente
aqueles que se convertem e recebem o Espírito Santo em suas vidas é que podem,
efetivamente, ter o amor divino e, assim, desenvolver as nove qualidades
apontadas nas Escrituras como sendo o fruto do Espírito. Jesus deixou-nos muito
claro ao dizer que seus discípulos seriam reconhecidos pelo amor (João 15:12;
1João 2:10,11; 3:10,11).
O amor só visa o interesse dos outros. Sem que
haja o verdadeiro amor na vida do crente, nenhuma das outras virtudes poderá se
manifestar na vida da pessoa. O amor e o seu contínuo desenvolvimento é o que
deve ser buscado pelo cristão a cada dia, até o dia do arrebatamento da Igreja
- um amor que não é meramente teórico, que não é somente um belo discurso ou um
estado mental, mas, sim, um amor prático, que faz boas obras e que faz os
homens glorificarem a Deus que está nos céus(Mt.5:16).
Quando a principal indumentária na vida do
crente é o amor divino, ele não sente dificuldade de exercer o perdão e ser
perdoado, apresentando assim um espectro de paz e harmonia entre os irmãos, glorificando,
assim, o nome de Jesus Cristo.
CONCLUSÃO
Vimos que uma Igreja sadia, madura, orgânica e
que cresce é caracterizada pela unidade dos crentes em Cristo, e para garantir
essa unidade são necessárias as seguintes virtudes: humildade, mansidão,
longanimidade e amor. Estas virtudes caracterizam o andar digno do cristão. A
saúde espiritual da Igreja deve levar em consideração a preservação destas
virtudes, pois isto é o que faz com que o nome de Jesus Cristo seja
glorificado. Aqueles que foram escolhidos por Deus para se assentar com Cristo
nas regiões celestiais devem se lembrar que a honra de Cristo está envolvida em
seu viver diário, na prática destas virtudes, em todas as situações.
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Luciano de
Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A Igreja Eleita.
Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a
noiva gloriosa de Cristo.
SHEDD, Russel. Epístolas da Prisão: uma
análise. São Paulo: Edições Vida Nova,
2005, p. 15.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo:
ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. Mansidão: o
fruto da obediência. PortalEBD_2005.
paz do Senhor, uso muito seus comentários na EBD para da aulas, desde já agradeço a Deus pela sua vida,gostaria de saber qual a revista vai ser abordada pelo senhor no próximo trimestre? pois fiquei sabendo que a CPAD não publicará novas revistas
ResponderExcluirAmado irmão Raimund, paz de Cristo! No próximo trimestre as lições serão as mesmas do 2º Trimestre, segundo nota da CPAD. Irei apresentar os subsídios em forma de Vídeos- Slides. Muito exaustivo, mas vai ficar bom. É bom para ministrar aulas por meio de projetor.
ExcluirAbraços!
Excelente estudo..fiquei surpreso por você ser de uma denominação pentecostal, mas foi bem aprofundado e edificante, pois sou presbiteriano...glórias a Deus.
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