domingo, 15 de maio de 2022

Aula 08 – SENDO VERDADEIROS

 

2º Trimestre/2022


Texto Base: Mateus 6.1-4


 “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano” (Sl.32:2).

Mateus 6:

1.Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.

2.Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

3.Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita,

4.para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do caráter do seguidor de Cristo no que tange a autenticidade das suas atuações diante das pessoas. O cristão deve estar sempre com a verdade. A nossa motivação tem de ser sempre a melhor, nobre e sincera no Reino de Deus. Essa consciência do Reino protege-nos da hipocrisia. O termo hipocrisia é oriundo da atuação dos atores gregos que, no palco, representavam papéis, atitudes e gestos que não eram seus. Daí o termo passou a designar os que agem com fingimento e falsidade. Neste sentido, quando o Anticristo surgir ele tentará representar alguém; ele buscará roubar o lugar de Jesus Cristo. Mas todos acabarão por descobrir que ele, de fato, não é o Cristo (2Ts.2). O joio, por exemplo, é um hipócrita entre os vegetais; parece trigo, mas não é; ele é a figura mais perfeita do crente que não é autêntico. A hipocrisia é uma grande insensatez, pois aquilo que o homem esconde atrás das máscaras acaba por vir à tona.  O que é feito atrás dos bastidores acaba por vir à plena luz. Aquilo que é dito às escondidas acaba por ser proclamado dos eirados. O oculto sempre será revelado, se não for neste mundo, será no porvir. A Bíblia diz: “Até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa” (Sl.139:12).

I. O ATO DE DAR ESMOLAS E A HIPOCRISIA

1. Definição de hipócrita

Segundo o dicionário Wycliffe, “no contexto da dramaturgia grega, o termo hipócrita era aplicado a um ator no palco do teatro; ele finge ser alguém que não ele mesmo”. O hipócrita encarna o papel de outra personagem e encena uma realidade diferente de sua vida; ele imita o outro e faz de conta que é o outro. Na vida real, o hipócrita “atua em um papel”, fingindo ser melhor do que realmente é; é alguém que simula a bondade; é uma pessoa que coloca em pratica um engano através da piedade fingida. Warren Wiersbe diz que, “na vida cristã, o hipócrita é alguém que tenta parecer mais espiritual do que é de fato”. O grande desejo do hipócrita é sempre o de aparecer exteriormente, mas o problema é que o lado interno, sua verdadeira natureza, não é revelado. Jesus combateu fortemente os fariseus hipócritas (Lc.12:1-12).

Jesus comparou a hipocrisia ao fermento que penetra na massa e a contamina por inteiro. Um pouco de levedo na massa do pão faz toda a massa inchar e crescer. Assim é a hipocrisia; ela penetra, contamina e incha a pessoa de soberba. Os fariseus faziam propagando de uma espiritualidade que não tinham; a piedade que demonstravam era uma farsa. Havia um abismo entre suas palavras e sua vida, entre seu exterior e seu interior. Enfim, “O hipócrita é um fingido, um desonesto que esconde a sua verdadeira personalidade atrás de uma máscara”.

2. A justiça pessoal

No capítulo 5 de Mateus, Jesus ensina que a justiça dos súditos do reino precisa exceder em muito a dos escribas e fariseus (Mt.5:20). No capítulo 6, Jesus alerta acerca do perigo de uma justiça que se autopromove e busca os holofotes do reconhecimento. Disse Jesus:

“Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste” (Mt.6:1-ARA).

A espiritualidade ostentatória é apresentada com o fim de ganhar o reconhecimento das pessoas, e nisso consiste toda a sua recompensa. A justiça deve ser praticada, mas não com uma propagando para o auto-engrandecimento. Os fariseus gostavam de tocar a “trombeta” para chamar a atenção do púbico, quando eles praticavam alguma ação como, por exemplo, dar esmola. Foi por isso que Jesus exortou os seus discípulos sobre isso: “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (Mt.6:2). Portanto, fazer ato de caridade e depois tocar “trombeta”, chamando atenção para si, é uma espiritualidade farisaica, e não cristã. Os seguidores de Cristo, que vivem seus ensinos, são conscientes de que nenhum ato de justiça pode ser praticado com a intenção de glorificação pessoal. Quem deve receber a glória pela justiça praticada é Deus (1Co.10:31; Cl.3:17; 1Pd.4:11), e não o ser humano.

Exercer uma espiritualidade que busca ser vista pelas pessoas com o propósito de ganhar a aprovação das pessoas, em vez de revestir-se de humildade com o fim de agradar a Deus, é soberba e está na contramão da verdadeira espiritualidade. Deus não requer apenas ação certa, mas, sobretudo, motivação certa. Aqueles que ostentam justiça para ganhar aplausos das pessoas não receberão nenhum galardão da parte de Deus.

3. As três práticas da ética cristã

As três práticas da ética do serviço cristão envolvem nossos bens (oferta), nosso espírito (oração) e o nosso corpo (jejum), e são direcionadas ao próximo, a Deus e a nós mesmos. Estes serviços piedosos do povo de Deus quando praticados com sinceridade e verdade, têm o reconhecimento do Senhor. Entretanto, deve-se ter muito cuidado, pois, mesmo as coisas mais sagradas podem ser corrompidas pelas motivações egoístas, como ocorria com os escribas e fariseus (Mt.6:2,5,16).

-Jesus advertiu os discípulos contra a hipocrisia ao dar ofertas e esmolas (Mt.6:2). Os escribas e fariseus hipócritas chamavam ruidosamente a atenção para si, à medida que davam ofertas nas sinagogas ou esmolas para os mendigos nas ruas. O Senhor reprendeu a conduta deles com um comentário conciso: “eles já receberam a recompensa (isto é, a única recompensa deles é a reputação que ganham enquanto estão na terra).

-Jesus, também, advertiu os discípulos contra a hipocrisia ao orar (Mt.6:5). Eles não deveriam se posicionar propositadamente em áreas públicas de forma que os outros, vendo-os orar, ficassem impressionados por suas devoções. Se o amor pela proeminência for o único motivo na oração, então, Jesus declara que a proeminência ganha é a única recompensa.

-A terceira forma de hipocrisia religiosa que Jesus denunciou é a evidência externa do jejum (Mt.6:16). Os hipócritas desfiguram o rosto quando jejuam para se aparentarem magros, desfigurados e sofredores. Mas Jesus diz que é ridículo tentar parecer santo. Os verdadeiros cristãos deveriam jejuar em segredo, não dando nenhuma evidência externa do jejum. A maneira normal de a pessoa aparecer é com a cabeça e o rosto lavados. É o suficiente para o Pai saber. Sua recompensa será melhor que a aprovação de pessoas.

Tem razão o pr. Osiel Gomes quando afirma que “a religião sensacionalista e espetacular do dissimulado religioso perverte a piedade, afinal, sua intenção é somente enganar e buscar os aplausos humanos”. O seguidor autêntico de Cristo deve realizar essas três práticas da ética cristã com sinceridade, sem hipocrisia, e unicamente com a finalidade de glorificar a Deus.

II. AUXILIANDO O PRÓXIMO SEM ALARDE

1. Qual é a motivação do teu coração?

Certa feita, Jesus disse, no chamado “sermão da planície”, que Seus discípulos devem ser liberais, ajudando os necessitados. Aliás, a misericórdia é uma prática esperada do cristão (Mt.6:2). Jesus não diz “se deres esmola”, mas “quando deres esmola”. Com essas palavras, espera-se que o cristão exerça a misericórdia com os necessitados. Um coração regenerado prova sua transformação em atos de misericórdia.

O Senhor diz que devemos dar àqueles que necessitam, sabendo que teremos uma recompensa da parte de Deus (Lc.6:38). O Senhor aqui ensina que o desprendimento dos bens materiais deve ter o alcance de voluntariamente darmos aquilo que ganhamos em favor dos que necessitam, sabendo que o dono de todas as coisas é o próprio Deus e que, em assim agindo, não estaremos nos privando de nossa sobrevivência, pois ela está nas mãos de um Deus que sempre nos proverá.

O que precisamos entender é a real motivação de nossa generosidade, pois às vezes, a mão pode dar uma oferta, um presente, uma ajuda ao necessitado, mas a motivação oculta do coração pode ser outra. Como bem diz o pr. Osiel Gomes, “o crente deve buscar ser sincero na sua contribuição, fazendo isso na íntima satisfação de sua mente e no Espírito de Cristo, pois Ele sabe a motivação do seu coração quando estende as mãos para dar (Mt.9:4; 12:25; 22:18; João 16:19)”.

2. O que buscamos quando auxiliamos o próximo? 

Auxiliar o próximo em suas necessidades, principalmente os domésticos da fé, é uma expressão legitima da espiritualidade cristã. O socorro aos necessitados é uma expressão da verdadeira fé. Quem ama a Deus, prova isso amando ao próximo. O apóstolo Tiago afirma que “a religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1:27). Quem foi alvo da misericórdia divina, é instrumento da misericórdia ao próximo.

O crente não é salvo pelas obras de caridade, mas evidencia sua salvação por meio delas. A salvação não é pelas boas obras, mas para as boas obras. A graça é a causa da salvação, a fé é o instrumento, e as boas obras, o resultado. Porém, a prática da misericórdia não pode ser ostentatória, não pode resultar na promoção da pessoa que pratica a generosidade; quem age tocando “trombeta” pelo que faz, para chamar atenção das pessoas, sempre será visto por Jesus como um hipócrita. Os fariseus agiam dessa maneira, e Jesus os chamou de hipócritas – “Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas...” (Mt.6:2). O Senhor Jesus disse que se a nossa justiça não ultrapassar a dos fariseus, não teremos parte no seu Reino (Mt.5:20). Deus condena a hipocrisia de pessoas que praticam boas ações, não por misericórdia ou outros bons motivos, mas para obter glória diante das pessoas.

A misericórdia ostentatória só tem recompensa dos homens, e não de Deus. Portanto, a misericórdia precisa vir de mãos dadas com a discrição. O cristão não auxilia o próximo para ser visto nem para ser exaltado pelos homens, e sim para que o necessitado seja suprido e Deus seja glorificado. Aquilo que é feito ao próximo em secreto, longe dos holofotes, recebe de Deus, que vê em secreto, a verdadeira recompensa. “O que dar ao pobre não terá falta...” (Pv.28:27).

3. A maneira de ofertar segundo Jesus

A oferta é uma demonstração material de reconhecimento da soberania divina. Deus Se agrada do gesto de gratidão e reconhecimento, do que está no coração do homem, não do que está sendo apresentado em termos materiais. Tanto assim é que, ao indagar Caim sobre sua oferta, Deus diz que ele deveria ter feito bem, ou seja, não como mero formalismo, não como um mero ritual, mas como algo espontâneo, e que proviesse do fundo da alma, pois, somente neste caso é que haverá aceitação por parte do Senhor (Gn.4:7). No Novo Testamento, este Deus que não muda nem nEle há sombra de variação (Tg.1:17), torna a nos ensinar que Ele ama aquele que dá com alegria (2Co.9:7). A oferta deve ser feita de duas maneiras: primeiro, sem alarde público; segundo, deve ser voluntária e discreta, e conforme tiver proposto no coração (2Co.9:7).

Caro irmão, você contribui financeiramente para a obra do Senhor? Você faz isso impulsionado pelo amor ao reino de Deus, ou por constrangimento ou por obrigação ou por interesse em barganhar com Deus? De que adianta contribuir por constrangimento ou obrigação ou mesmo por interesse? Deus não precisa do nosso dinheiro. Ele é o dono da prata e do ouro - “Do Senhor é a Terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl.24:1; Dt.10:14; 1Co.10:26). Logo, somos cônscios de que tudo pertence a Deus e que somos apenas mordomos, devendo prestar contas ao verdadeiro dono do universo do que nos foi dado para administrar. Portanto, temos de contribuir impulsionados pelo amor abnegado e desinteresseiro. Um detalhe importante: Deus não está preocupado com a quantia que entregamos à sua obra, mas com o nível de desprendimento, amor e fé. Que sejamos mordomos fiéis do Senhor, sabendo que “o meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Fp.4:19).

III. DEUS CONTEMPLA O BEM QUE REALIZAMOS

1. O Deus que tudo vê

“...todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb.4:13). Deus tudo vê; Ele é Onisciente e Onipresente. Então, Ele sabe de tudo o que realizamos e o que necessitamos, antes que lho peçamos (Mt.6:8). Se é assim, então por que oramos? Perguntam alguns. Muitas pessoas dizem que não é preciso orar porque Deus já sabe de nossas necessidades e, portanto, seria inócuo querermos mostrar a Deus o que precisamos. Entretanto, este pensamento está completamente equivocado, porque não oramos para que Deus saiba o que precisamos, mas, sim, porque cremos que Deus suprirá as nossas necessidades. A oração é uma atitude que deve demonstrar a nossa fé em Deus. Quando recorremos ao Senhor em oração estamos reconhecendo que Ele tem o controle sobre todas as coisas, e que pode suprir as nossas necessidades. Por isso, a oração é uma atitude que deve ser uma constante na vida de quem serve ao Senhor, pois é algo que nos aproxima de Deus, que nos santifica (1Tm.4:4,5).

2. O Deus que recompensa

Para mostrar que o Senhor é o Deus que recompensa seus servos, sem acepção de pessoas, pelo trabalha realizado em seu Reino, cito aqui a parábola dos trabalhadores na vinha (Mt.20:1-16). A história contada por Jesus tem como finalidade nos mostrar que a recompensa de Deus não depende apenas do que a pessoa faz, mas do fato que Deus é bom; a recompensa é com base em um princípio da graça de Deus, e não de mérito do trabalhador da “vinha”. Essa “vinha” ilustra o Reino de Deus, e nesse Reino há lugar para que todos possam servir.

Esta parábola fala de um pai de família que sai em busca de trabalhadores para a sua vinha. Ele vai, chama esses trabalhadores e os convida a vir para a sua vinha, prometendo lhes dar o que for justo (Mt.20:3). No fim do dia, o dono da vinha chama os seus trabalhadores, começando pelos últimos, e acerta os seus salários. Os trabalhadores ficam surpreendidos com o fato de que todos eles recebem o mesmo salário, pois o dono da vinha não faz distinção entre aqueles que trabalharam mais tempo ou menos tempo. Há muito serviço a ser feito, pois Jesus breve virá buscar a sua Igreja.

Nesta parábola, vemos que cada trabalhador recebe a justa retribuição por seu salário. Quando servimos a Deus em obediência e fidelidade, haveremos de ser recompensados. É isto que aprendemos na parábola dos talentos; o Senhor diz aos servos fiéis: “foste fiel no pouco e sobre o muito te colocarei”. Davi em seu cântico de gratidão ao Senhor, no livro de 2Sm.22:25, diz: “O Senhor me retribuiu segundo a minha justiça, conforme a minha pureza diante dos seus olhos”. Nesta caminhada com Cristo passamos por lutas, mas devemos lembrar da recomendação que nos faz Hebreus 10:35: “Portanto, não lanceis fora a vossa confiança, que tem uma grande recompensa”.

O pai de família, na parábola dos trabalhadores na vinha, cuida de tudo pessoalmente; ele contrata e ordena o pagamento. Cada um de nós será chamado para receber a nossa recompensa quando nosso “dia” findar. Deus irá recompensar cada um segundo seu procedimento. O Senhor cuidará para que, nas operações da sua graça, tanto a sua soberania quanto a sua bondade, sejam abundantes.

Há muitos que param de servir a Deus quando obstáculos surgem no caminho. Conta-se uma história de um rei que colocou uma pedra enorme no meio de uma estrada. Escondeu-se para ver se alguém a tiraria. Alguns mercadores ricos passaram e simplesmente deram a volta. Alguns até esbravejaram dizendo que o rei não mantinha as estradas limpas. Passa um camponês, se aproxima da rocha, põe de lado a sua carga. Após muita força, conseguiu mover a pedra. Embaixo da pedra, ele notou que havia uma bolsa cheia de moedas e havia uma nota escrita pelo rei que dizia que o ouro era para a pessoa que tivesse removido a pedra do caminho. Ao invés de reclamarmos das dificuldades, devemos pedir ajuda a Deus para vencê-las, pois em cada prova vencida, mais perto de Deus chegamos e da sua recompensa.

CONCLUSÃO

Ser um cristão verdadeiro implica em ser “diferente” da pessoa natural, é ser honesto, é ser íntegro, é andar na verdade, enfim, é carregar a vida de Cristo dentro de nós, é andar como Jesus andou, é cumprir as Suas ordenanças e fazer o que Ele fez. O cristão verdadeiro procura a cada dia ser parecido com Jesus.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Mateus – Jesus, o Rei dos reis.

domingo, 8 de maio de 2022

Aula 07 – NÃO RETRIBUA PELOS PADRÕES HUMANOS

 

2º Trimestre/2022


Texto Base: Mateus 5.38-48

 

“Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor” (Lv.19:18).

Mateus 5:

38.Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente.

39.Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;

40.e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa;

41.e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.

42.Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.

43.Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo.

44.Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem,

45.para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.

46.Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

47.E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?

48.Sede vós, pois, perfeitos, com o é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do mandamento da não retaliação; retribuir com o bem a pessoa que nos fez o mal é um desafio enorme a enfrentar. Quando se recebe uma ofensa, a reação natural é devolvê-la com outra. Entretanto, o Senhor Jesus nos convida a agir de uma maneira quase sobrenatural, pondo em prática a instrução de Jesus proferida no Sermão do Monte. No Antigo Testamento a lei dizia: “olho por olho, dente por dente” (Êx.21:24; Lv.24:20; Dt.19:21); mas, no Sermão do Monte, Jesus aboliu totalmente a retaliação. Ele mostrou aos discípulos que, onde a retaliação era permitida legalmente, a não resistência era agora graciosamente possível. Jesus instruiu seus seguidores a não oferecer resistência ao perverso, e sim fazer o bem àqueles que nos ofendem; ao invés da vingança, devemos amar e perdoar. Não é fácil cumprir essa determinação de Jesus, mas a nossa posição de filhos de Deus exige que ajamos dessa maneira (Mt.5:45) – “para que sejais filhos do Pai que está nos céus...”. Somente o crente cheio do Espírito Santo é capaz de viver esse ensino do Sermão proferido pelo nosso Senhor.

I. A VINGANÇA NÃO É NATUREZA DO REINO

1. A Lei de Talião

A Lei de Talião é uma das mais antigas leis do mundo; baseia-se no princípio da retaliação equitativa. Segundo os estudiosos, essa lei chama-se “lex talionis”. Foi incluída na lei mosaica. Encontra-se três vezes no Antigo Testamento:

“Mas, se houver dano grave, então, darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe” (Êx.21:23-25).

“fratura por fratura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará” (Lv.24:20).

“Não o olharás com piedade: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Dt.19:21).

Embora esta lei pareça ser um instrumento de vingança, a intenção original era restringir a vingança ilimitada; deveria ser entendida como apenas “olho por olho” e apenas “dente por dente”. Além disso, nunca teve o objetivo de propiciar qualquer retaliação individual; se tratava de uma norma para os tribunais civis, que no seu propósito desejava que em particular a pessoa jamais praticasse a vingança pessoal; deveria ser aplicável somente pelos juízes.

Na época de Jesus, porém, os fariseus interpretavam erroneamente essa Lei, usando-a com o propósito de justificar a vingança, a retribuição pessoal, descaracterizando-a do seu real significado e objetivo. Todavia, em momento algum, a Lei de Moisés defendia a busca pela vingança.

Embora possa parecer primitivo, na verdade o princípio de justiça da lei assegurava o bem-estar social e a justiça em Israel. Enquanto a maioria das nações usavam métodos arbitrários para punir os criminosos, o padrão de justiça estabelecido por Deus para a época reflete a preocupação com a verdade e a imparcialidade, pois assegurava aos que violavam a Lei que não seriam punidos com mais severidade do que mereciam pelo crime que cometeram, ao mesmo tempo que evitava o falso testemunho, visto que quem forjasse acusação contra alguém receberia a punição imputada ao culpado.

A Bíblia, mesmo no Antigo Testamento, proíbe terminantemente a vingança pessoal. Veja os seguintes textos bíblicos:

“Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor” (Lv.19:18).

“Não sejas testemunha sem causa contra o teu próximo, nem o enganes com os teus lábios. Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra” (Pv.24:28,29).

“Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; e, se tiver sede, dá-lhe água para beber” (Pv.25:21).

“Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta. O Senhor não rejeitará para sempre” (Lm.3:30,31).

É muito fácil não perceber a misericórdia contida na Lei, mas os textos citados acima comprovam que Deus projetou um sistema de justiça com misericórdia; porém, este foi deturpado ao longo dos anos e considerado uma licença para a vingança. Jesus sabia disso, por isso Ele combateu esta aplicação equivocada da Lei mosaica (Mt.5:38,39): “Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao perverso...”.

2. O cristão e a vingança

O cristão é aquele que parece com Cristo; que age como Cristo agiu; que ama com Cristo amou. Logo, o cristão nunca pode cometer vingança pessoal, fazendo justiça com as próprias mãos. No Sermão do Monte, Jesus eliminou a antiga Lei da vingança pessoal, que permitia a retaliação, e introduz a reação transcendental diante das injustiças sofridas (Mt.5:38-41). Mesmo que as pessoas nos desonrem, ferindo nosso rosto; mesmo que as pessoas nos constranjam a andar, ferindo nossa vontade; mesmo que as pessoas tomem de nós a roupa do corpo, bem inalienável, devemos reagir de maneira transcendente. No Reino de Deus, o súdito domina não apenas suas ações, mas também suas reações. No Reino de Deus, o amor é a identidade do cristão - ele prega e vive o amor, não o ódio, e tem consciência plena de que Deus tem reservado um dia em que há de julgar todos os pecados da humanidade, tomando vingança de tudo (At.17:31; At.10:42; Rm.2:16; 14:10). Paulo foi muito contundente quando afirmou:

“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm12:19-21).

Paulo nos aconselhou a sermos amigáveis, em vez de retribuirmos em justa medida, quando alguém nos ofende profundamente. Entretanto, na época em que vivemos, onde há muitas ações judiciais e incessante reivindicação por direitos legais, a prática recomendada por Paulo parece ser quase impossível de ser praticada. Por que o apostolo Paulo nos disse para perdoarmos os nossos inimigos? Porque:

  • O perdão pode quebrar um ciclo de retaliações e levar a uma reconciliação mútua.
  • O perdão pode levar o inimigo a envergonhar-se e a mudar de comportamento.
  • Ao pagar o mal com o mal, vamos ferir-nos tanto quanto ferimos nosso inimigo. Mesmo que este nunca se arrependa, ao perdoá-lo, vamos libertar-nos do grande peso da amargura.

O perdão envolve atitudes e ações. Se você considera difícil sentir-se disposto a perdoar alguém que acabou de ofendê-lo, tente responder com atos de bondade. Se for o caso, diga a essa pessoa que gostaria de recuperar seu relacionamento com ela. Estenda a mão, seja empático. Você descobrirá que ações corretas levam a sentimentos corretos.

II. O AMOR É A EXPRESSÃO NATURAL DO REINO

No Reino de Deus, o amor deve reger nossos relacionamentos. O amor é o sistema circulatório do corpo espiritual do crente, permitindo que todos os membros funcionem de maneira saudável e harmonioso. A exortação de Paulo aos Romanos ecoa em toda a Igreja: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal” (Rm.12:10a). No Reino de Deus não há espaço para o ódio, para retaliação, para a vingança; o amor é a expressão maior (1Co.13:13).

No Reino de Deus, o perdão é o botão que deve ser acionado no momento de discórdia. Muitas pessoas são capazes de viver em paz com aqueles que lhes tratam com amor, mas são incapazes de perdoar aqueles que lhes prejudicam. Jesus ilustra isso no Sermão do Monte (Mt.5:39-41); Ele diz que quando uma pessoa nos ferir a face direita, devemos voltar-lhe a outra face. Quando a pessoa nos forçar a andar uma milha, devemos ir com ela duas milhas e quando ela procurar nos tirar a túnica, devemos dar-lhe também a capa. O que, na verdade, Jesus estava ensinando? Ele não estava falando de ação, mas de reação. O que representa essas três figuras alistadas por Jesus?

  • Primeiro, quando uma pessoa nos fere no rosto, ela agride a nossa honra.
  • Segundo, quando uma pessoa nos força a fazer o que não desejamos, ela agride a nossa vontade.
  • Terceiro, quando uma pessoa nos toma as vestes pessoais, ela agride o nosso bem mais íntimo e sagrado.

Mas, Jesus realça dizendo que mesmo que os pontos mais vitais da vida sejam atingidos - como a honra, a vontade e os bens inalienáveis -, devemos reagir transcendentalmente, ou seja, com perdão. Segundo Hernandes Dias Lopes, o perdão é a transcendência do amor; é vencer o mal com o bem. Perdoar é tratar o outro não como ele merece, mas segundo a misericórdia exige. O perdão não é a execução da justiça, mas o braço estendido da misericórdia. Perdoar é não se ressentir do mal, mas vencer o mal com o bem, abençoando o próprio malfeitor.

É bom enfatizar que o Senhor Jesus também condena as guerras agressivas ou as ofensivas que as nações fazem entre si, mas não necessariamente a guerra defensiva ou a defesa contra o roubo e o assassinato. Segundo A.T. Robertson, “o pacifismo profissional pode ser mera covardia”.

1. Virar a outra face

“...se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt.5:39). Ao receber um tapa no rosto, não é fácil suportar passivamente. É uma atitude que afronta a honra de uma pessoa. Muitas das vezes, quando a nossa honra é aviltada, a primeira reação é agir com as mesmas armas do ofensor, e, às vezes, até mesmo de maneira mais intensa. Todavia, reagir no mesmo padrão de violência e ignorância, complica ainda mais a situação.

Na época de Jesus, macular a honra de uma pessoa, era um ato difícil de ser suportado; até hoje revela a maior ofensa possível. Mas, se isto acontecer, a atitude correta que o crente deve proceder, segundo a orientação de Jesus, é não retaliar, mas perdoar. Isso não é uma coisa natural, é sobrenatural. Somente Deus pode nos dar forças para que amemos como Ele ama. Quem tem amor, tem perdão, brandura e tolerância.

As pessoas que não têm Cristo no coração defendem a vingança; cada um cuida de si e protege seus “direitos pessoais”. Todavia, os seguidores de Jesus não devem se prender rigorosamente aos seus “direitos”, e preferir esquecer esses direitos por amor do Evangelho e do Reino de Deus. Entretanto, estar disposto a abandonar os direitos pessoais não significa que o crente deve sentar passivamente enquanto o pecado caminha livremente.

2. Arrastar para o tribunal

De acordo com a Lei judaica, aquele que agredia a face de alguém enfrentava um castigo e uma pesada multa. Desse modo, a lei tomava o partido da vítima. Mas no Sermão do Monte, Jesus disse que em tal situação a pessoa agredida não deve recorrer aos tribunais, mas oferecer a outra “face” para que seja igualmente agredida. Parece um contrassenso, mas Jesus não pediu que os seus seguidores fizessem alguma coisa que Ele mesmo nunca faria; Ele recebeu esse tratamento e fez como havia mandado que os outros fizessem (cf. Mt.26:67,68; veja também Isaías 50:6; 1Pd.2:23). Jesus queria que seus seguidores tivessem aquela atitude abnegada que prontamente segue o caminho da cruz ao invés do caminho dos direitos pessoais. Eles deviam confiar inteiramente em Deus, que um dia colocará todas as coisas em seus devidos lugares.

Para a maioria dos judeus, essas afirmações de Jesus eram uma afronta. Qualquer Messias que oferecesse a outra face não seria líder militar da revolta contra o império ocupante, que era Roma. Como os judeus estavam sob o domínio romano, eles queriam uma retaliação contra os inimigos, a quem odiavam. Mas, Jesus estava sugerindo uma nova e radical resposta à injustiça; ao invés de exigir os direitos, deviam desistir deles livremente. De acordo com Jesus, é mais importante oferecer justiça e misericórdia do que recebê-las. Ser cristão de verdade não é fácil!

3. Largar também a capa

“e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa” (Mt.5:40). Aqui, Jesus está afirmando que, quando uma pessoa nos toma as vestes pessoais, ela agride o nosso bem mais íntimo e sagrado. Era muito difícil fazer vestimentas, e consumia muito tempo. A “vestimenta” (ou túnica) era uma veste interna usada junto à pele. A “capa” (ou manto) representava um bem precioso. As capas eram muito caras e a maioria das pessoas possuía apenas uma. A capa podia ser usada como cobertor, como saco para carregar coisas, como almofada para sentar, como penhor de uma dívida, como cama (Êx.22:26,27; Dt.24:12,13; Am.2:8) e, naturalmente, para vestir. Portanto, quando Jesus disse que se alguém “tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa” (Mt.5:40), Ele estava pedindo uma atitude muito difícil aos seus seguidores; mas Ele esperava que eles deveriam se desprender das suas posses em prol de um bem maior - a paz com todos. Jesus ensina que mesmo que os pontos mais vitais da vida sejam atingidos - como os bens inalienáveis -, devemos reagir transcendentalmente, ou seja, com perdão. O perdão não é a execução da justiça, mas o braço estendido da misericórdia. Perdoar é renunciar aos nossos direitos.

4. Obrigar a fazer algo

“e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas” (Mt.5:41). Aqui, Jesus está ensinando que, quando uma pessoa nos força a fazer o que não desejamos, ela agride a nossa vontade. Aquele que é mais forte, por força da hierarquia, pode obrigar alguém a cumprir determinada ordem, mesmo sem respeitar a sua vontade, como ocorreu com o Simão Cirineu, que foi obrigado a carregar a cruz de Jesus (Mt.27:32). Assim, quando alguém anda a primeira “milha”, geralmente o faz por obrigação; entretanto, para caminhar voluntariamente a segunda “milha’, só o faz quem é nascido de novo, e por amor a Jesus. Apesar da agressão contra a nossa vontade, a atitude do seguidor de Cristo é o exercício do perdão. Muitas pessoas são incapazes de perdoar aqueles que lhes prejudicam. O perdão é a transcendência do amor, é vencer o mal com o bem.

Essa passagem de Mateus 5:41 é uma alusão ao trabalho forçado que os soldados podiam exigir dos cidadãos comuns para transportar sua carga por certa distância (uma milha era o termo usado para mil passos). Os judeus odiavam essa lei porque os forçava a mostrar sua submissão a Roma. No entanto, Jesus disse para tomar a carga e carregá-la por duas milhas. Jesus estava pedindo uma atitude servil (como Ele mostrou ao longo de Sua vida, e especialmente na cruz). As suas palavras provavelmente surpreenderam os ouvintes. A maioria dos judeus, que esperava um Messias militar, nunca esperaria ouvir Jesus pronunciar uma ordem contra a retaliação, e de cooperação com o odiado império Romano. Mas estas palavras de Jesus estavam revelando que seus seguidores pertenciam a outro Reino; eles não precisavam tentar lutar contra Roma, porque isso não estava de acordo com o plano de Deus; deveriam, antes, trabalhar em benefício do Reino de Deus. Se isso significasse caminhar uma milha a mais carregando a carga de um soldado romano, então era exatamente isso que deveriam fazer. Ser cristão de verdade não é fácil! Só o Espírito Santo pode nos mover à obediência de caminhar uma milha a mais carregando a carga do inimigo!

5. Fazer alguma coisa por alguém

“Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes” (Mt.5:42). Aqui, Jesus reafirma o que Moisés ensinara em Deuteronômio 15:7-11. Nunca devemos nos negar a dar. Dar é tanto um privilégio como uma responsabilidade. “Mas bem-aventurado é dar que receber” (Atos 20:35). Os seguidores e Jesus, portanto, devem estar dispostos a colocar as necessidades dos outros à frente das suas próprias necessidades.

III. BUSCANDO A PERFEIÇÃO DE CRISTO

1. Uma justiça mais elevada

A justiça, exigida por Cristo no Sermão do Monte (Mt.5:43-48), é mais elevada porque ela estabelece um padrão que é incompatível com a natureza humana caída. Ali, Jesus explica que os seus seguidores devem viver de acordo com um padrão mais elevado do que aquele esperado pelo mundo, e, até mesmo, dos padrões aceitos pelas religiões do mundo. Disse Jesus: “Amai a vossos inimigos... e orai pelos que vos maltratam e vos pespeguem” (Mt.5:44). Por que o mandamento de amar os inimigos? Porque isso identificará os seguidores de Jesus como pessoas diferentes, que têm o coração e a mente dirigidos somente a Deus, que é o único que pode ajudá-los a agir deste modo. Qualquer um que pode amar alguém que o ama, isso acontecia naturalmente até com os corruptos publicanos (coletores de impostos). Da mesma maneira, “se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?” (Mt.5:47). Se nossos padrões não são mais altos que os do mundo, é óbvio que nunca causaremos um impacto no mundo. Portanto, se você puder amar o vosso inimigo e orar pelos que vos maltratam e vos perseguem, então você estará mostrando realmente que Jesus é o Senhor da sua vida. Aqueles discípulos que vivem para Cristo e são radicalmente diferentes do mundo receberão sua recompensa.

2. O amor mais perfeito

Disse Jesus: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos...” (Mt.5:43,44). Este ensino de Jesus concernente à mais alta retidão exigida no seu Reino nos manda amar o nosso inimigo, caso exista, claro. A lei tinha ensinado aos israelitas a amar o próximo (Lv.19:18), mas os rabinos alteraram a lei de Deus, acrescendo ao mandamento: “...e aborrecerás o teu inimigo” (Mt.5:43). Essa declaração não aparece na Lei. Não consta em Levítico 19:18. Foi um acréscimo ilegítimo dos mestres da Lei. Textos como Êxodo 23:4,5 indicam exatamente o contrário. Jesus repudiou firmemente essa conclusão rabínica.

Em Romanos 12:20, Paulo cita Provérbios 25:22 para exortar que devemos tratar os nossos inimigos amavelmente. Jesus nos ensinou a orar pelos nossos inimigos - “amai a vossos inimigos” (Mt.5:44), e Ele mesmo o fez quando estava pendurado na cruz. O amor aqui descrito é ágape, que significa benevolência invencível, infinita boa vontade. Isso significa que devemos amar a pessoa, não importa quem ela seja ou que tenha feito contra nós. Esse amor não é questão apenas de sentimentos, mas, sobretudo, de atitude, atitude benevolente.

É claro que amar o inimigo não é o mesmo que as afeições naturais, porque não é natural amar os que o maltratam e o odeiam. Amar o inimigo é uma graça sobrenatural, e somente pode ser manifestada pelos que nasceram de novo e têm o Espírito Santo em sua vida. Jesus disse que seus seguidores deveriam retribuir o mau com o bem, a fim de que pudessem ser filhos do Pai celeste (Mt.5:45). Ele não está querendo dizer que esse é o caminho para se tornar filho de Deus; pelo contrário, é para mostrarmos que somos filhos de Deus. Já que Deus não mostra parcialidade aos maus e bons (ambos se beneficiam do sol e da chuva), deveríamos agir com todos de forma graciosa e honesta. “O perfeito amor é um interesse ativo por todas as pessoas, em todos os lugares, independentemente de elas receberem ou não esse amor” (Roberto H. Mounce. Mateus).

3. Perfeitos como o Pai

Disse Jesus: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está no céu” (Mt.5:48). O que Jesus quer dizer aqui? A perfeição para a qual Jesus conclama seus seguidores está definida no contexto. Não significa sem pecado ou impecável. Os versículos anteriores explicam que para ser perfeito, precisamos amar os que nos odeiam, orar pelos que nos perseguem e mostrar bondade tanto para com os amigos como para com os inimigos. Os seguidores de Cristo poderão ser perfeitos, se o comportamento for apropriado ao seu nível de maturidade espiritual, isto é, perfeitos, mas, ainda com muito espaço para crescer. Perfeição, aqui, portanto, é a maturidade espiritual que faz o cristão capaz de imitar Deus, ministrando bênçãos e perdão a todos sem parcialidade.

Com frequência, Mateus 5:48 tem sido mal interpretado; tem servido como texto-base para a doutrina da perfeição cristã, que requer do cristão impecabilidade moral absoluta. Isso jamais acontecerá aqui, pois a nossa natureza carnal não foi removida quando da nossa conversão. Ainda buscamos a medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13), que se concretizará somente na nossa glorificação, que ocorrerá quando formos arrebatados pelo Senhor Jesus por ocasião de sua volta; nesse glorioso evento, o nosso corpo, que é mortal, se revestirá da imortalidade (1Co.15:54) e, portanto, a presença do pecado será debelada para sempre. Portanto, “convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (1Co.15:53), para que nos tornemos perfeitos como o Pai celestial.

CONCLUSÃO

O nosso Senhor resumiu toda a lei ao dizer que o seu objetivo é levar os homens à plenitude do amor. Portanto, quer cumprir a Lei de Deus de todo coração? Ame indistintamente. Contra o amor não há lei. Por quê? Porque o amor é o cumprimento da lei (Rm.13:10). Em vez de decorarmos uma lista de "pode e não pode", devemos fazer tudo baseado no amor divino, então cumpriremos a lei de Deus na íntegra. Disse o apóstolo Paulo: “... tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor" (Rm.13:9,10).

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Mateus – Jesus, o Rei dos reis.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Romanos – O evangelho segundo Paulo.

domingo, 1 de maio de 2022

Aula 06 – EXPRESSANDO PALAVRAS HONESTAS

 

2º Trimestre/2022


Texto Base: Mateus 5:33-37


“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna” (Mt.5:37).

 

Mateus 5:

33.Outrossim, ouvistes o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor.

34.Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus,

35.nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei,

36.nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.

37.Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna.

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo sobre o Sermão do Monte, trataremos nesta Aula a respeito do cuidado que devemos ter com as palavras proferidas. O mesmo cuidado que temos de ter com o nosso comportamento ético e moral, devemos ter com a emissão de nossas palavras. No Sermão do Monte, Jesus ensinou que os seus discípulos deveriam ser sinceros, transparentes e honestos em seu falar, e evitassem juramentos com intuito de com eles esconder a verdade. Jesus condenou o uso indiscriminado, leviano ou evasivo do juramento, que prevalecia entre os judeus. Em seu Reino, a honestidade de seus súditos elimina o uso dos juramentos (Mt.5:37; Tg.5:12). Integridade nas palavras é melhor do que volumes intensos de juramentos. Jesus deixou claro que o nosso falar deve ser “Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna” (Mt.5:37).

I. NÃO DEVEMOS JURAR NEM PELOS CÉUS NEM PELA TERRA

1. A Lei do Juramento

Segundo o Dicionário Wycliffe, Juramento é um recurso por palavra ou ato para confirmar a verdade da declaração de uma pessoa ou o cumprimento de uma promessa (Gn.21:23,30; 31:53; G1.1:20; Hb.6:16). Em Israel, os juramentos desempenharam um papel importante em tribunais legais (Ex.22:11; Lv.6:2-5) e em transações nacionais (1Rs.18:10; 2Rs.11:4; Ez.17:16), bem como em assuntos domésticos e religiosos (Gn.24:37; Jz.1:5; 1Rs.2:43; Ed.10:5).

A lei mosaica enfatiza a natureza obrigatória dos juramentos (Nm.30:2), e decreta o castigo ao perjurador, aquele que faz um juramento falso (Dt.19:16-19; 1Tm.1:10). O falso juramento de uma testemunha ou uma falsa afirmação com relação a uma promessa ou a alguma coisa encontrada exigia uma oferta pelo pecado (Lv.5:1-6; 6:2-6). A lei mosaica leva muito a sério os juramentos (Ex.20:7; Lv.19:2; Zc.8:16,17) e proibi o juramento por deuses falsos (Js.23:7; Jr.12:16; Am.8:14).

Os juramentos eram comumente feitos levantando-se a mão (Gn.14:22; Ez.20:5ss., Hb.3:18; 6:13; 7:21; Ap.10:5), e em casos excepcionais colocando-se a mão debaixo da “coxa” ou do escroto daquele a quem o juramento era prestado (Gn.24:2ss.; 47:29); este era um modo solene de significar que, se o juramento fosse violado, a descendência da pessoa vingaria o ato de deslealdade.

Às vezes, os juramentos eram prestados diante do altar (1Rs.8:31; 2Cr.6:22). Os solenes juramentos de aliança eram frequentemente acompanhados por algum ato sétuplo [quantidade sete vezes maior que outra] (Gn.21:27-30), ou dividindo-se um animal em duas partes e passando entre as duas partes (Gn.15:8-18).

Várias fórmulas de juramentos eram usadas, tais como: “Deus é testemunha entre mim e ti” (Gn.31:50), ou mais comumente, “vive o Senhor...” ou “tão certo como vive o Senhor” (Jz.8:19; Rt.3:13; Jr.38:16). Geralmente a penalidade invocada pela violação era apenas sugerida (Rt.1:17; 2Sm.3:9; 2Rs.6:31), mas, às vezes, ela era expressa (Jr.29:22).

Na época de Jesus, ou até mesmo antes disso, os juramentos eram feitos pela vida da pessoa a quem estava sendo dirigido (1Sm.1:26; 17:55; 2Sm.11:11), pela própria cabeça (Mt.5:36), por Jerusalém (Mt.5:35), pelo Templo ou por suas diferentes partes (Mt.23:16-22), pela terra ou pelo céu (Mt.5:34ss.), pelo trono de Deus (Mt.5:34), ou pelo próprio Deus (Jz.8:19; 1Rs.18:15). O Senhor Jesus Cristo, porém, condenou o uso indiscriminado, leviano ou evasivo desses tipos de juramentos que prevaleciam entre os judeus (Mt.5:33-37; 23:16-22). Ele ensinou que os homens deveriam ser transparentes e honestos em seu falar, para que os juramentos entre eles se tornassem desnecessários (Mt.5:34-37). Em seu reino, a honestidade e a sinceridade de seus súditos eliminam o uso dos juramentos (cf. Tg.5:12).

2. O propósito da Lei do Juramento

No Antigo Testamento, o propósito do juramento era trazer à verdade um pacto firmado entre as partes, que não podia ser quebrado, porque Deus era a principal testemunha do juramento de que a pessoa estava falando a verdade; jurar falso pelo nome de Deus era profanar o nome de Deus (Lv.19:12). Segundo o pr. Osiel Gomes, “tratava-se de um apelo solene que o adorador fazia a Deus, tendo consciência de que Ele era o grande Juiz Onisciente e Onipotente, dono de tudo, que esquadrinhava os corações de todos os homens (1Cr.28:9; Jr.17:10) e que revelava o íntimo de cada um, a verdade e a sinceridade presentes no espírito do homem”.

No Antigo Testamento, os termos juramento e aliança são sempre usados como sinônimos. Uma aliança era, em sua essência, um juramento, um acordo solene. Deus confirmou a aliança Mosaica através de um juramento mencionado em Deuteronômio 29:12ss - O juramento “que o Senhor, teu Deus, hoje faz contigo” (cf. Dt.32:40; Ez.16:8; Nm.10:29). As partes que faziam a aliança deveriam se tornar como os mortos, de maneira que não poderiam mais mudar de ideia e revogá-la, assim como os mortos também não poderiam fazer (Gn.15:8-18; Hb.9:16,17). Assim, o sangue dos animais substitutos sacrificados era espargido na cerimônia de ratificação da aliança, para representar a "morte” das partes (Ex.24:3-8).

Nas Escrituras Sagradas os juramentos são de dois tipos: aqueles feitos por Deus e aqueles feitos pelos homens. Os juramentos feitos por Deus são afirmações solenes para seu povo, afirmações da aliança da absoluta verdade de sua Palavra (Nm.23:19) a fim de que possam depositar uma confiança implícita em sua palavra (Is.45:20-24). Suas promessas confirmadas por juramento foram feitas aos patriarcas (Gn.50:24; Sl.105:9-11), à nação de Israel (Dt.29:10-13), à dinastia davídica (Sl.89:35-37,49), e ao Sacerdote-Rei messiânico (Sl.110:1-4; Hb.7:15-22). O fiador de todas as promessas divinas é o Senhor Jesus Cristo, em quem elas encontram o seu cumprimento (2Co.1:19ss.). Um juramento feito pelos homens era um recurso solene a Deus para confirmar a veracidade de suas palavras, carregando a implicação expressa de castigo em caso de falha em dizer a verdade ou cumprir a promessa.

3. Não jureis nem pelo Céu nem pela Terra

No Antigo Testamento, os judeus, desde que circunstâncias especiais o tornassem oportuno, recorriam ao juramento (cf. Gn.21:23s; 31:53; Js.2:12; Lv.19:13; Jr.12:16). Jurar em nome de Deus significava que Ele era uma testemunha e que a pessoa estava falando a verdade. A Lei Mosaica continha várias proibições quanto ao jurar “falso” em nome de Deus (Lv.19:12; Nm.30:2; Dt.23:21).

Mas, nos últimos séculos antes de Cristo, o nome de Deus era raramente pronunciado pelos israelitas, temerosos de profanar o tetragrama sagrado (YHWH). Por isso, nas fórmulas de juramento, substituíam o nome de Deus por expressões equivalentes, como “juro pelo céu, pelo Templo, pelo altar, pela Aliança, pela cabeça” (cf. Mt.5:34-36; Mt.23:16-22). Os judeus pensavam que, agindo assim, não precisa cumprir o juramento proferido. Com isto, o juramento vinha a ser meio de enganar o próximo. Além do mais, os fariseus estipularam amplo catálogo de circunstâncias que podiam tornar nulo um juramento; reservavam, porém, a si o direito de avaliar em cada caso as razões da respectiva nulidade. Com isto se lhes abria vasto campo para sutilezas casuísticas e tramas ardilosas mais ou menos hediondas.

No sermão do Monte, porém, Jesus condenou este tipo de hipocrisia dos judeus. Segundo o seu ensino, era desnecessário tentar evitar jurar em nome de Deus meramente substituindo seu nome por outro substantivo. Aliás, Ele proibiu qualquer forma de juramento em conversações do dia-a-dia. Exortou assim o Senhor: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna”. Jurar pelo céu é jurar pelo trono de Deus. Jurar pela terra é jurar pelo estrado de seus pés (Is.66:1). Jurar por Jerusalém é jurar pela cidade do grande Deus (Sl.48:3). Até mesmo jurar pela própria cabeça envolve Deus, pois ele é o criador de tudo. Enfim, para o cristão, jurar é desnecessário; o “sim” deve significar “sim” e o “não” deve significar “não”. Não há circunstâncias em que é correto o cristão mentir; suas palavras devem ter o peso da Verdade.

Essa exortação de Jesus também proíbe qualquer ofuscamento da verdade ou engano; porém, não proíbe fazer juramento num tribunal de justiça. Jesus mesmo testificou sob juramento perante o sumo sacerdote (Mt.26:63). Paulo também fez juramento com o propósito de chamar Deus como sua testemunha de que o que estava escrevendo era verdadeira (2Co.1:23; Gl.1:20).

II. NOSSAS PALAVRAS DEVEM SER “SIM” E “NÃO”

1. Como deve ser o nosso falar

Jesus, em seu Sermão do Monte, exortou que o nosso falar deve ser “Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna” (Mt.5:37). Jesus foi bem categórico quando afirma que pelas palavras alguém pode ser justificado ou condenado (Mt.12:37), o que nos impele a ter cuidado no nosso falar. O apóstolo Tiago também corrobora com essa mesma afirmação de Jesus: “Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis nem pelo céu nem pela terra, nem façais qualquer outro juramento; mas que a vossa palavra seja sim, sim e não, não, para que não caiais em condenação” (Tiago 5:12).

Ninguém ignore os efeitos das palavras - elas nos animam ou nos deixam arrasados; elas nos levam ao arrependimento ou ao pecado; elas nos fazem aceitar o que é certo ou nos levam a admitir o que é errado. Tiago 3:6 diz que a língua “é um fogo”; as nossas palavras podem incendiar a nossa vida, destruir tudo o que construímos ao longo de nossa existência. Quantos ideais de vida e projetos não têm sido destruídos por causa de palavras mal ditas! Quantos casamentos já não se acabaram por causa de palavras ofensivas! Quantos já não se desviaram e abandonaram a igreja por causa de palavras ditas precipitadamente por aqueles que deveriam amparar!

A fala é uma carta endereçada, mas que quando aberta libera não somente as palavras e frases que contém, mas também toda uma significação que vai muito além disso. Se uma mesma expressão pode assumir diferentes significados ao mudarmos apenas a entonação da voz, o que dizer de conteúdos inteiros que são ditos em momentos impróprios ou com uma força desnecessária. Devemos usar sempre a metáfora que diz que os ouvidos dos outros são como uma xícara de rara porcelana, e nossas palavras são o chá que vamos ali cuidadosamente verter; não podemos nem quebrar a xícara, nem colocar quantidade insuficiente de chá e nem transbordar o conteúdo com uma fala excessivamente turbulenta.

Portanto, pense antes de falar. Há um ditado popular que diz: “Em boca fechada não entre mosquito”. Falar sem pensar é consumada tolice. Responder antes de ouvir é estultícia. Proferir palavras torpes e desandar a boca para espalhar impropérios e maldades é perversidade sem tamanho. Esse não pode ser o caminho do justo. Uma pessoa que teme a Deus reflete antes de falar, sabe o que falar e como falar. Sua língua não é fonte de maldades, mas canal de bênção para as pessoas. Diz o sábio: “O coração do justo medita o que há de responder, mas a boca dos ímpios derrama em abundância coisas más” (Pv.15:28). Atentemos para exortação de Tiago: “Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar...” (Tiago 1:19).

2. O sim e o não na vida de Paulo

Os caminhos do cristão nem sempre são uma linha reta; há altos e baixos, montes e planícies. Nem sempre o sim é sim, e o não é não. Mas, isto não quer dizer que o seu caráter é tortuoso. Não. Um exemplo emblemático é o de Paulo, registrado por ele em 2Corintios 1:12-24. Ele fez planos de visitar os irmãos da Igreja de Corinto, porém, por diversas vezes, foi impedido e as coisas não saíram como ele havia planejado. Mas os crentes de Corinto não entenderam o não cumprimento do “sim” de Paulo. Acusaram-no de falta de integridade e falta de constância. Puseram em dúvida suas reais motivações. Lançaram sobre ele pesados e levianos libelos acusatórios, denegrindo sua pessoa e seu ministério.

Paulo tinha prometido visitar a Igreja em sua passagem pela Macedônia e passar com eles o inverno (1Co.16:5,6). Mas, Paulo declara sua intenção de antecipar sua viagem e passar primeiro em Corinto, antes de ir à Macedônia (2Co.1:15,16), daí voltar a Corinto e de lá ser enviado à Judéia. A igreja de Corinto, porém, não entendeu as circunstâncias que levaram Paulo a alterar o seu roteiro. Os críticos acusaram Paulo de ter agido com leviandade e ter deliberado segundo a carne ao mudar os planos de sua viagem a Corinto. Eles atacaram Paulo, dizendo que ele não estava sendo íntegro em suas palavras (2Co.1:17,18). Os críticos o acusaram de ser o tipo de homem que diz sim e não ao mesmo tempo. Diziam que ele fazia promessa frívolas com intenções enganosas. No entendimento desses críticos, Paulo dizia ou escrevia uma coisa, mas, na verdade, queria dizer outra! Seu sim era não, e seu não era sim. Essas acusações o deixaram muito triste. Porém, Paulo estava com a consciência limpa. A reputação de seu caráter não estava na posição que ocupava, mas na qualidade de vida que vivia. Ele não dependia de elogios humanos nem se desanimava com as críticas. Ele tinha o testemunho de sua consciência de que vivia de forma santa e sincera no mundo e diante da Igreja, não por força da sabedoria humana, mas estribado na graça de Deus.

Paulo toma Deus como sua fiel testemunha e explica o motivo pelo qual não tinha ido logo fazer essa visita, que era para poupar os irmãos (2Co.1:23). Ele disse que Deus, que conhecia o seu coração, sabia do seu verdadeiro sentimento e da grande vontade de ir visitá-los, e declarou a todos que sua vida era de simplicidade e sinceridade, tanto diante da Igreja como do mundo (2Co.1:12). Os homens podiam ver suas ações, mas Deus via suas intenções. O juiz da sua consciência era Deus, e não os homens. Nesse sólido fundamento estava seu descanso.

3. O que passar disso é uma procedência maligna

Diante da acusação de que Paulo estava sendo leviano e deliberando segundo a carne, falando uma coisa e fazendo outra (2Co.1:17), Paulo confronta a própria incoerência dos crentes de Corinto evocando a fidelidade de Deus (2Co.1:18); em vez de defender a si mesmo, Paulo remete os coríntios à fidelidade de Deus. Não há duplicidade em Deus, suas promessas são cumpridas. O sim de Deus não é não; nem o não de Deus é sim. Assim como Deus é fiel em suas palavras, Paulo também foi fiel em sua palavra à Igreja.

Nossas palavras também devem ser coerentes, sinceras e verdadeiras. O Senhor Jesus nos instrui a ser claros e sinceros no que dizemos - “seja, porém, a tua palavra: sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mt.5:37). Deus é coerente em seu ser e verdadeiro em suas palavras. Aqui estava o modelo que Paulo seguia, e devemos também agir assim, ou seja, sendo verdadeiros e transparentes em todos os nossos relacionamentos. Caso contrário, poderemos ser pessoas de mal caráter, passando a divulgar rumores, fofocas e a ter segundas intenções. ou seja, daremos lugar a situações de procedência maligna.

III. HONESTIDADE COM NOSSAS PALAVRAS

1. A palavra honestidade

Honestidade é a obediência incondicional às regras morais existentes; é uma característica de uma pessoa que é decente, que é honrada, que é moralmente irrepreensível. No princípio da Igreja os cristãos eram ensinados a andar em honestidade. O apóstolo Pedro ensinava: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma, tendo o vosso viver honesto entre os gentios...” (1Pd.2:11-12). Exorta o apóstolo Paulo: “Andemos honestamente, como de dia, não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades...” (Rm.13:13).

Uma das piores queixas que se pode ouvir acerca de uma pessoa, principalmente de um cristão, é que suas palavras não se coadunam com a sua conduta. Como pode um crente em Cristo falar sobre honestidade e ser desonesto? Os crentes precisam ter caráter impoluto, vida irrepreensível e conduta ilibada. Vários homens de Deus citados na Bíblia foram destacados pela manifestação do seu caráter; dentre eles citamos o apóstolo Paulo. Certa feita, ele estava incumbido de entregar à Igreja de Jerusalém uma grande oferta coletada entre os cristãos da Macedônia, e ele teve o cuidado de lidar com isto com grande zelo, transparência e honestidade. Ele mesmo escreveu sobre isto: “pois o que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens” (2Co.8:21). Paulo era íntegro e prudente. Ele cuidava da sua piedade e da sua reputação. Ele não apenas agia com transparência diante de Deus, mas também com lisura diante dos homens. Ele não deixou brecha para suspeitas nem deu motivos para acusações levianas. Paulo reconhecia a importância não somente de ser honesto, mas também de parecer honesto diante dos homens, pois desconsiderar a opinião pública é na verdade uma grande tolice.

Paulo mostrou grande zelo em administrar com honestidade os recursos arrecadados na Igreja. É preciso ter coração puro e mãos limpas para lidar com dinheiro. Quer saber se alguém é honesto ou não, dê a essa pessoa a função de lidar com dinheiro. Há muitos obreiros que são desqualificados no ministério porque não lidam com transparência na área financeira. Judas Iscariotes, embora apóstolo de Cristo, era ladrão (João 12:6); sua maneira desonesta de lidar com o dinheiro o levou a vender Jesus por míseras trinta moedas de prata. Muitos pastores e líderes, ainda hoje, perdem o ministério porque não administram com transparência e honestidade o dinheiro que arrecadam na Igreja.

A Bíblia cita outros personagens em cujo caráter era evidente a honestidade. Citamos, por exemplo: Jó, que foi descrito como um homem honesto (Jó 1:8); Centurião Cornélio, citado como um homem reto, honesto (Atos 10:22). Enfim, a honestidade é um dos elementos que jamais deve ser prescindido do seguidor de Cristo durante toda a sua jornada cristã, em todas as áreas de sua atuação – no mundo secular ou no orbe da Igreja Local.

2. É possível ser honesto com nossas palavras neste mundo?

Honestidade é uma qualidade basilar do caráter do seguidor de Cristo; logo, é preciso que esta qualidade esteja em evidência no salvo em Cristo. Ser sal e luz exige que sejamos honestos com nossas palavras neste mundo. O apostolo Paulo diz que devemos resplandecer como luzeiros no mundo (Fp.2:15); essa luz inclui o que o cristão diz e faz, ou seja, o seu testemunho verbal e as suas boas obras. Como diz o pr. Osiel Gomes, “o verdadeiro discípulo de Cristo, que faz parte do seu Reino, é honesto em suas palavras, íntegro no seu caráter, e jamais usa de meias-verdades, através das quais grandes mentiras têm sido ditas, sendo influenciados pelo pai da mentira, o Diabo”.

um certo filósofo, por nome Smith, disse que “a mentira é útil para a sociedade, que o mundo seria um caos se todos falassem a verdade, e que é normal mentir”. O crente autêntico jamais pode concordar com esta tese de Smith. A mentira jamais foi ou será útil à sociedade, muito pelo contrário, ela é uma praga que destrói a sociedade. Muitas desgraças foram praticadas, e são ainda praticadas, por causa da mentira. As guerras são causadas na mentira. Os adultérios que causam a destruição de famílias inteiras são enraizados na mentira. Enfim, quase toda sorte de transtorno, desequilíbrio para o semelhante, provém da mentira. O mundo é um caos por causa da mentira. Insegurança, medo, dor, ansiedade, doença e fome, tudo tem a sua raiz na mentira, no “não ser semelhante a Deus”, pois Deus fez o homem para ser sua imagem e semelhança.

O homem mentiroso tem o diabo por seu pai, como disse Jesus aos religiosos de sua época (João 8:44) - “vós tendes por pai ao diabo e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”.

Para o homem com a sua natureza pecaminosa, isto é, no estado de pecado em que se encontra, é natural mentir; assim como para o cachorro é natural latir, porque é próprio dos cachorros.  Deus não criou o homem para mentir, por isso, não é normal mentir. O homem mente porque ele caiu do seu estado em que foi criado. No salmo 62:4, falando dos ímpios, o salmista diz: “...na mentira se comprazem, de boca bendizem, porém no interior maldizem”. No salmo 119:163, o salmista diz: “abomino e detesto a mentira, porém amo a tua lei”. Podemos dizer estas palavras do salmista, com convicção? O profeta Isaias, profetizando contra os habitantes de Jerusalém, homens ímpios, reproduz o que eles diziam: “...porque por nosso refúgio temos a mentira” (Is.28:15). À época de Isaias, o povo se refugiava na mentira. a mentira virou um padrão cultural.

O apóstolo Paulo escrevendo aos cristãos de Éfeso diz em sua carta: “deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo...” (Ef.4:25). João descrevendo os santos que hão de herdar o reino de Deus diz: “não se achou mentira na sua boca” (Ap.14:5). E ainda no livro de Apocalipse encontramos o seguinte registro: “quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte” (Ap.21:8).

Portanto, se somos filhos de Deus, seguidores de Jesus Cristo, devemos ser honestos em tudo, e nosso falar deve ser sim, sim; não, não. O que passar disto está fora do campo da honestidade.

3. Dando testemunho

Uma pessoa que vive em desonestidade, dando mau testemunho, não tem paz; seu coração é um mar revolto que lança de si lodo e lama. Para justificar um erro, comete outros erros. Para livrar-se de uma mentira, precisa articular outras tantas. O desonesto enrola-se num cipoal e não consegue livrar-se de suas próprias armadilhas. Diz-nos o Salmo 42:7: “Um abismo chama outro abismo...”; isto faz-nos entender que quando alguém é dominado pelo poder do pecado, há uma sucessão de pecados impulsionados após aquele, e a pessoa se perde nesse caminho tortuoso e cheio de bifurcações. A solução é arrepender-se, confessar o pecado e mudar de conduta.

Diferente é a vida do honesto - ele anda na luz, sua conduta é irrepreensível, seu proceder é digno, e seu caminho é reto. Ele procura ser honesto no que fala, mantendo-se longe da falsidade e da mentira, conservando a verdade no coração e na conduta, pois esse é o seu objetivo maior (3João 4). O honesto tem a consciência limpa, o coração puro e as mãos incontaminadas; seu passado é limpo, sua vida é um legado, e seu futuro é um exemplo a ser imitado. Enfim, o cristão honesto dá bom testemunho. Somos realmente assim? Se não somos, então é bom pensar em andar no trilho, pois para sermos sal da terra e luz do mundo, refletindo a luz de Cristo, é imprescindível que sejamos honestos em tudo que expressamos e fazemos.

CONCLUSÃO

Ser um cristão honesto significa ser uma pessoa confiável, que tem zelo pelo seu nome e pela sua palavra. A Bíblia Sagrada ensina que um bom nome é considerado algo muito precioso – “Mais digno de ser escolhido é o bom nome do que as muitas riquezas...” (Pv.22:1). E pensar que existem pessoas que não se importam com a dignidade de seu nome, permitindo, inclusive, que ele seja atirado na “lama” das trapaças! Para viver como salvo é preciso viver em honestidade. Uma pessoa honesta não explora o seu próximo, mas conduz seus negócios temendo no Senhor (Sl.112:1-5).

Paulo ensinou os irmãos a procurarem as coisas honestas: “A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas, perante todos os homens” (Rm.12:17). Até certos anos atrás, todos gostavam de negociar com os cristãos, de vender para os cristãos, de fazer e de dar serviços para um cristão. Cristão era confiável. É preciso que o cristão mantenha esse padrão. Para sermos considerados verdadeiros seguidores de Cristo é necessário sermos honestos em tudo, em especial em nossas palavras. Crente que vive como salvo não aceita seu nome na sarjeta; ele aprendeu com Jesus e cumpre a sua palavra no sentido de que seu falar é “sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna” (Mt.5:37).

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Mateus – Jesus, o Rei dos reis.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Gotas de Sabedoria para a alma.

Pr. Ricardo Oliveira César. Um guia para viver bem – Estudos no Livro de Provérbios.

Dicionário Wycliffe.