1º Trimestre/2017
Texto Base: Efésios 2:11-17
INTRODUÇÃO
Dando continuidade ao
estudo do trimestre trataremos nesta Aula da Paz como Fruto do Espírito e a Inimizade
como fruto da carne. Em Ezequiel 7:25,26 está escrito: “Vem a destruição; e eles buscarão a paz, mas não há nenhuma. Miséria
sobre miséria virá, e se levantará rumor sobre rumor...”. Vivemos hoje, um
tempo muito parecido com este descrito pelo profeta Ezequiel. A Terra não tem
paz! Em todas as camadas das sociedades em todas as nações há uma demonstração
de falta de paz: há conflitos entre nações, conflitos no seio das famílias, conflitos
dentro do próprio homem, conflitos entre denominações religiosas e entre
“evangélicos”. Todavia, conforme veremos nesta Aula, há uma Paz real,
verdadeira e possível de ser alcançada pelo homem, é a Paz de Deus. Esta Paz
começa a ser gerada dentro do homem, pelo Espírito Santo, logo após a
conversão, ou logo após o homem aceitar o Senhor Jesus como seu único e
suficiente Senhor e Salvador. Assim sendo, a Paz que trataremos aqui não é um
estado de ausência de conflitos, mas o resultado da restauração da comunhão
entre Deus e o homem por intermédio de Cristo Jesus. Ela independe de situações
e circunstâncias.
I. A PAZ QUE
EXCEDE TODO ENTENDIMENTO
“E a paz de Deus, que excede todo o
entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo
Jesus” (Fp.4:7).
A Paz que excede todo
entendimento é a Paz de Deus. Em Jesus, temos esta Paz. Não é a Paz que o mundo
oferece, é a Paz que, mesmo em um mundo cheio de guerras e conflitos, podemos
afirmar que vivemos em Paz. Só as pessoas eminentemente espirituais, ou
seja, aquelas que nasceram de novo, compreendem e vivenciam isso.
1. Paz. A Paz é o desejo mais profundo do ser humano. Não por acaso ela é uma
promessa de Deus aos seus filhos. Desde muito cedo os homens de bem se cumprimentava
assim: “Paz seja convosco” (Gn.43:23). Os anjos de Deus se apresentavam do
mesmo modo: “Paz seja contigo!“ (Jz.6:23). O Antigo Testamento ensina-nos a
abençoar assim: “O Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz” (Nm.6:26). Jesus
saudava seus discípulos e amigos com a expressão: “A paz seja com vocês!”(Lc.24:36).
Ele recomendou expressamente aos seus discípulos, quando entrassem na
residência de alguém, que dissessem: “Paz seja nesta casa!” (Lc.10:5). Os
apóstolos pediam que o Deus da Paz estivesse com todos - “E o Deus de paz seja
com todos vós. Amém”(Rm.15:33). Mas a saudação que ficou favorita na igreja do
Novo Testamento era: “Graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor
Jesus Cristo” (1Co.1:3).
Nas suas últimas
instruções aos discípulos Jesus afirmou que lhes deixava a sua Paz, que não era
a paz do mundo (João 14:27). A paz do mundo é uma paz precária, insegura e
sujeita a temores constantes, porque é apenas a ausência de conflitos, uma
ausência que não é garantida por coisa alguma. Era a situação vivida pelos
contemporâneos de Cristo, que viviam a chamada “pax romana” (isto é, a paz romana), que era o período de ausência
de guerras e de conflitos nas regiões que estavam sob o domínio romano, nos
governos dos imperadores César Augusto e Tibério, que logo passaria, pois se
tratava de apenas uma acomodação política instável e que dependia,
fundamentalmente, da eficiência dos exércitos e dos órgãos de controle do poder
romano. A Paz de Cristo é diferente, é um estado de quietude interior, embora
as circunstâncias externas demonstrem a existência de conflitos sociais,
econômicos, religiosos, etc.
Conta-se que a Prefeitura
de uma determinada cidade, patrocinou um concurso de pintura, cujo tema era a
Paz. O pintor que melhor retratasse, em seu quadro, o verdadeiro sentido da
paz, seria o vencedor do concurso, recebendo um prêmio significativo. Muitos
candidatos se inscreveram. Cada um procurou retratar através de sua pintura o
que imaginava ser a verdadeira paz. Apareceram quadros com casinhas brancas;
lagos azuis, mansos, serenos; alegres e lindo pôr do sol; crianças brincando, etc.
Porém, um candidato pintou um quadro, aparentemente dantesco, sem casinha
branca, sem pôr do sol; sem crianças e velhos, sem lago azul; ele pintou os
efeitos de uma tempestade, com ventos arrancando os telhados, árvores sendo
dobradas, céu escuro e assustador; todavia, no galho de uma daquelas árvores,
ameaçada de ser arrancada pelo vendaval, ele pintou um pássaro, cantando,
indiferente a qualquer ameaça ou perigo. O pássaro, pelo seu instinto natural,
sabe que ainda que o galho quebre, ou que a árvore seja arrancada, ele tem asas
para voar. Este quadro, por unanimidade dos jurados foi considerado vencedor. Isto
nos ensina que a verdadeira Paz se manifesta na hora da tempestade. Talvez por
isto o Senhor Jesus tenha dito: “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais
paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João
16:33).
Ter Paz, viver em Paz,
quando tudo está bem, pode ser fácil, porém, é na hora da tempestade e do
vendaval que o filho de Deus comprova se, de fato, tem a Paz verdadeira, a Paz
de Deus, a paz que o Senhor Jesus deixou aos Seus discípulos. Jó tinha esta
paz! Daniel tinha esta Paz! Paulo tinha esta Paz, quando estava preso em Roma!
Na Igreja, os verdadeiros cristãos têm essa Paz!
A Paz, assim como o Amor,
faz parte da própria natureza de Deus. Sendo assim, ela faz parte, também, da
natureza de seus filhos - “Pelas quais nos tem dado grandíssimas e preciosas
promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina...” (2Pd.1:4).
2. Paz com Deus. Como podemos estar em Paz com Deus? Só existe uma maneira para estarmos
em Paz com o nosso Criador: mediante a nossa justificação - “Sendo, pois,
justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm.5:1).
Portanto, a Paz com Deus é a reconciliação entre o homem e Deus, a união de
Deus com o homem mediante o perdão dos pecados por intermédio da aceitação de
Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador.
Uma das nefastas
consequências da Queda foi a ausência da Paz entre Deus e o homem. Adão fugiu e
se escondeu de Deus - “... e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do
Senhor Deus, entre as árvores do jardim” (Gn.3:8). Nós não fugimos e nos escondemos
de alguém com quem temos Paz. Adão havia perdido a Paz com Deus, por isso
fugiu. Esta Paz, quebrada lá no Paraíso, por causa do pecado, só se tornaria
possível através da morte expiatória de Jesus, na Cruz do Calvário, pela qual
alcançamos a nossa Redenção – “Em quem
temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados... Porque foi
do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse e que, havendo por ele
feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo
mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus”(Cl.1:14,19,20).
Portanto, o
restabelecimento da Paz entre o homem e o seu Criador foi uma obra de Deus. Ele
quis que a Paz fosse restabelecida. Para nós custou tão pouco, mas para Ele
teve um preço muito elevado, o sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo. Adão,
antes de pecar, tinha Paz com Deus; nós, depois da remissão, ou perdão de
nossos pecados, temos Paz com Deus.
3. Paz de Jesus Cristo. Em João 14:25-31, Jesus promete, aos seus
discípulos, uma Paz que o mundo não conhece. Diz assim o Senhor no versículo
27: "Deixo-vos a paz, a minha paz
vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se
atemorize". Estas palavras de Jesus são um tom de despedida. Seus
seguidores sabiam que aqueles seriam seus últimos momentos entre eles na terra.
O Mestre percebe o sentimento de insegurança e desolação na face daqueles com
quem andou nos últimos anos. Em resposta ao temor da solidão, o Senhor promete
não os deixar sozinhos, antes enviar um Consolador para que estejam sempre com
eles. A Paz de Jesus, nesse sentido, é a própria presença do Seu Espírito em
nós.
O mundo não conhece essa Paz,
por isso, aqueles que seguem seus princípios, fiam sua fé no dinheiro, na
autoconfiança e/ou no poder. A paz do mundo é efêmera e fraca; ela dura
enquanto durar o efeito das drogas; ela dura enquanto se goza de uma perfeita
saúde; ela dura enquanto dura um bom relacionamento amoroso; ela pode durar
enquanto dura a glória do poder; ela pode durar enquanto dura o sucesso de uma
carreira; ela pode durar enquanto uma crise financeira não bater à porta. A paz
do mundo, ou a paz que o mundo dá, não resiste às adversidades. Porém, o Senhor Jesus disse: “Deixo-vos a paz a minha paz vos dou...”.
A Paz de Cristo excede
todo o nosso entendimento, ou seja, não é resultado de um controle sobre a
nossa mente, não é fruto de “exercícios espirituais”, de “meditação” ou
“técnicas de relaxamento”, mas é obra do Espírito Santo na vida do crente. A
Bíblia diz que a finalidade da Paz é guardar os nossos sentimentos e os nossos
corações em Cristo Jesus. Foi por isso que Jesus, ao se apresentar aos
discípulos na tarde do dia da sua ressurreição, logo os saudou com a Paz: “Paz seja convosco”. Naquele momento o que
os discípulos mais precisavam era da Paz de Cristo, que dá alento ao crente e
que o permite conservar-se santo e irrepreensível aguardando o Senhor. Na
Bíblia está registrada a expressão “não
temais” 365 vezes, uma para cada dia do ano, precisamente para que os
salvos não tenham medo, não se deixem abalar, mas desfrutem da Paz de Deus.
A Paz de Cristo não é
alcançada pelo simples fato de alguém pedir. Ela não precisa ser pedida, ela já
foi dada. O Profeta Miquéias, falando de Jesus, havia dito: “E este será a nossa paz...” (Mq.5:5).
Sendo Ele o “Príncipe da Paz” (Is.9:6), vindo à terra, ele trouxe a Paz. Ao
retornar para o Céu, não a levou de volta, mas disse: “Deixo-vos a paz...”.
Todavia, ninguém terá a Paz de Deus, se o Espírito Santo não puder habitar em
seu “coração”, ou em sua vida. Assim, para ter a Paz de Cristo não basta ser
somente “evangélico”, é preciso ser o templo, a morada do Espírito, e isto
requer que o homem seja santo – “... porque o templo de Deus, que sois vós, é
santo” (1Co.3:17). A falta de Santidade é a causa da existência de muitos
crentes “evangélicos”, sem Paz. Ser santo é uma exigência de Deus – “mas, como é santo aquele que vos chamou,
sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito
está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pd.1:15,16).
Portanto, para poder
gozar a Paz de Cristo, não basta ser um crente evangélico, é necessário ser um
evangélico santo. Na medida em que o
mundo avança em direção à Igreja, a Paz de Cristo vai se tornando cada vez mais
distante. É tempo de refletir sobre a verdadeira vida cristã!
4. Paz Interior. Muito se tem falado, ultimamente, sobre a “Paz Interior”, chegando,
mesmo, a defenderem uma “cura interior”, um processo de superação de traumas e
de feridas existentes no homem interior, na alma, que prejudicariam nossa saúde
espiritual. No entanto, se bem avaliarmos o que nos ensina a Palavra de Deus, a
Paz com Deus promove a “harmonia”, o “equilíbrio”, pois o homem volta a ter
comunhão com o Senhor e, portanto, o Espírito Santo produz a Paz como o rio, ou
seja, sara as feridas existentes, sem que seja necessário qualquer outro
“processo” ou qualquer “procedimento” a não ser a própria salvação.
A Paz, diz-nos a Bíblia,
é de Deus, de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo (Rm.1:7), de tal maneira
que não tem fundamento qualquer “experiência mística” que pretenda conceder
“cura interior”, “paz interior” a quem já é salvo. O Espírito Santo promove
esta Paz no instante da salvação. Portanto, a Paz é da parte de Deus, nosso Pai
e do Senhor Jesus Cristo (1Co.1:3).
Quem está em Cristo tem Paz,
logo não precisamos correr atrás de experiências mágicas ou de procedimentos de
“gurus” ou “entendidos”, ainda que eles se travistam de servos de Deus. Paulo
afirma que é a Paz de Deus, que excede o nosso entendimento, que guardará os
nossos sentimentos e os nossos corações. Busquemos a Deus e não corramos atrás
de “mágicas”, de “encontros de cura interior” ou coisas similares, pois nada
disso tem fundamentação bíblica.
5. Paz com o Próximo. Quem tem Paz com Deus,
transmite aos outros homens e a si mesmo a Paz de Deus, ou seja, um sentimento
de tranquilidade e confiança que é gerado em nós pelo Espírito Santo, mediante
o qual, mesmo nas maiores aflições e dificuldades, não somos abalados, não
perdemos a nossa confiança em Deus, nem muito menos a direção que devemos
seguir.
Um dos principais
trabalhos do adversário é, precisamente, tirar a Paz da Igreja (Rm.16:17; 1Co.11:18).
Entretanto, devemos ter discernimento espiritual e, sabendo que a origem da
dissensão nunca é divina, mas carnal e diabólica (1Co.3:3; Gl.5:20; Tg.3:14-16;
Jd.19), devemos sempre nos desviar de todo e qualquer movimento contrário à paz
na igreja local.
O salvo deve procurar a Paz,
persegui-la sempre. É dever do servo de Deus buscar a Paz, evitar conflitos e
quaisquer contendas com quer que seja. Entretanto, o salvo nunca terá Paz com
todos os homens, pois não há comunhão entre a luz e as trevas e, assim sendo,
sempre haverá aqueles que o perseguirão, os agentes do nosso adversário, Satanás,
cujo nome significa “aquele que se opõe”, “inimigo”, mas isto não depende de
nós. Assim, no que depender de nós, devemos sempre buscar a paz e a
conciliação, mesmo que isto represente uma momentânea e aparente desvantagem em
nossas vidas. Exorta o apóstolo Paulo: “Se
possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens” (Rm.12:18).
II. INIMIZADES
E CONTENDAS, AUSÊNCIA DE PAZ
Na Epístola aos Gálatas, Paulo apresenta a inimizade, as contendas e as
disputas como obras da carne (cf. Gl.5:20) – “Porque as obras da carne são
manifestas, as quais são:...inimizades, porfias, emulações...pelejas,
dissensões...”.
1. Inimizade e contenda. A Igreja em Filipos era
muito querida pelo apóstolo Paulo. Ela muito contribuiu financeiramente para o
seu Ministério. Mas, nem tudo era maravilhoso e perfeito na igreja filipense.
Ali estava acontecendo algo que é muito comum nestes últimos dias da Igreja: a contenda,
oriunda de problemas de relacionamentos. Evódia
e Síntique eram duas irmãs que
ocupavam posição de liderança na igreja. Elas haviam se esforçado com Paulo no
evangelho, mas agora estavam em discórdia na igreja. Paulo rogou a essas duas
servas de Deus que a inimizade entre elas fosse logo debelada - “Rogo a Evódia e rogo a Síntique que sintam o
mesmo no Senhor” (Fp.4:2).
Essas irmãs tinham nomes
bonitos: Evódia significa “doce
fragrância”; Síntique significa “boa
sorte”. Mas elas estavam vivendo de maneira repreensível. Muitas pessoas haviam
se tornadas crentes através de seus esforços (cf. Fp.4:3), mas a sua briga
estava causando uma dissensão na igreja. Não temos detalhes da causa de sua
discórdia (talvez seja bom assim!), mas Paulo rogou a elas que resolvessem a
situação. O apóstolo emprega a palavra “rogo” duas vezes, para mostrar que essa
exortação é dirigida a uma e outra. Paulo as incentiva que “sintam o mesmo no
Senhor”. É impossível sermos unidos em todas as coisas da vida diária, mas
quanto às coisas “no Senhor” é possível reprimir pequenas diferenças a fim de
que o Senhor possa ser magnificado e para que sua obra avance. É válido
ressaltar que:
- Na vida cristã não há comunhão vertical sem comunhão
horizontal. Não podemos estar unidos a Cristo e desunidos com os irmãos. A
lealdade mútua é fruto da lealdade a Cristo. A irmandade humana é impossível
sem o senhorio de Cristo. Ninguém pode estar em paz com Deus e em desavença com
os seus irmãos. Devemos ser um povo diferente do mundo ímpio, senão, nossa
evangelização é inócua.
- A cizânia é contrária à natureza da igreja
(Fp.4:3).
A igreja deve ser marcada pelo trabalho conjunto, pelo auxílio recíproco e pela
esperança futura. Há uma realidade celestial acerca da igreja, a saber, o nome
dos crentes está escrito no livro da vida, e lá no céu não há divisão; a igreja
na Terra deve ser uma réplica da igreja do Céu. A igreja que seremos deve
ensinar a igreja que somos. É contrária à natureza da igreja confessar a
unidade no Céu e praticar a desunião na Terra. Todos os crentes, lavados no
sangue do Cordeiro, têm seus nomes escritos no livro da vida e serão
introduzidos na cidade santa (Lc.10:17-20; Hb.12:22,23; Ap.3:5; 20:11-15). O
fato de irmos morar juntos no Céu deveria nos ensinar a viver em harmonia na
Terra.
2. Inimizade e facção. As inimizades, muitas vezes, acabam gerando
na igreja as facções e divisões. A Bíblia diz que isto aconteceu na Igreja de
Corinto. Embora tenha sido reconhecida por Paulo como uma igreja fervorosa, a
ponto de destacar os seus integrantes como “santificados”(1Co.1:2), “alvos da
Graça de Deus”, “enriquecidos espiritualmente na Palavra e no conhecimento”(1Co.1:5),
“nenhum dom lhes faltava”(1Co.1:7), “esperavam a volta de nosso Senhor Jesus
Cristo”(1Co.1:7), mesmo assim existia entre eles facções ou partidos em que
cada um afirmava ter um líder distinto. Chamamos isso de partidarismo.
Partidarismo é dividir-se por ordem de preferência, opção ideológica, etc.
Alguns declaravam sua preferência por Paulo, outros se identificavam com Apolo,
outros, ainda, com Cefas, e alguns afirmavam pertencer somente a Cristo,
sugerindo, provavelmente, que somente eles pertenciam ao Senhor (1Co.1:12). Mas
na Igreja não é assim, pois há um só Espírito, um só Senhor. Quando pensamos
que o alvo é um só, não há como andarmos em direções diferentes.
Sabe qual era causa dessas facções na igreja de Corinto? Carnalidade, ou
seja, modo de vida de acordo com os desejos descontrolados da natureza
pecaminosa (Gl.5:19-23). É o próprio Paulo quem nos revela a causa interna
principal para as divisões entre os coríntios: eles ainda eram carnais (1Co.3:1-4).
A igreja de Corinto tinha inúmeros dons em operosidade, tinha fama de
espiritual, de carismática, mas estes irmãos são identificados por Paulo como
crianças espirituais e crentes carnais (crentes sem o controle do Espírito
Santo), impossibilitados de alimento sólido (1Co.3:1-3).
Muitas igrejas estão confusas, atualmente, com a pregação de falsos
avivamentos e de doutrinas inovadoras dos nossos dias. As divisões presentes
nestes movimentos não são expostas como Fruto do Espírito, mas como obra da
carne, segundo a Palavra de Deus. Em Atos dos Apóstolos vemos a igreja Cristã
iniciante, cheia da presença do Espírito, evidenciando às pessoas o amor de
Deus, a comunhão, alegria, a singeleza de coração, mas acima de tudo a unidade
de propósito e de serviço (At.2:42-47; 9:31). Quando as divisões impedem a
existência desse ambiente, fica evidente a carnalidade da igreja.
Portanto, a inimizade é obra da carne e seu alvo é destruir a unidade na
Igreja do Senhor. E se pertencemos a Ele não podemos aceitar as inimizades e as
facções.
3. Inimizade e soberba. O Rev. Hernandes Dias Lopes, em seu livro “Gotas de sabedoria para a
alma”, diz que um indivíduo soberbo é aquele que deseja ser mais do que é e
ainda se coloca acima dos outros para humilhá-los e envergonhá-los. O soberbo
superdimensiona a própria imagem e diminui o valor dos outros. É o narcisista
que, ao se olhar no espelho, dá nota máxima e aplaude a si mesmo. A soberba é a
sala de espera da desonra. É por isso que o sábio diz que, em vindo a soberba,
sobrevém a desonra (Pv.11:2). A soberba é o corredor do vexame, é a porta de
entrada da vergonha e da humilhação.
A Bíblia diz que Deus resiste ao soberbo (Tg.4:6), declarando guerra
contra ele. “Glória ao homem nas maiores alturas”, esse é o grito de guerra da
humanidade orgulhosa e ímpia que continua desafiando Deus e tentando construir
o céu na terra (Pv.11:1-9; Ap.18). Deus aborrece “olhos altivos” (Pv.6:16,17) e
promete destruir “a casa dos soberbos” (Pv.15:25). O sábio Salomão alerta: “A soberba precede a
ruína, e altivez do espírito precede a queda” (Pv.16:18).
O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que a soberba é a porta de entrada do
fracasso e a sala de espera da ruína. O orgulho leva a pessoa à destruição, e a
vaidade a faz cair na desgraça. Na verdade, o orgulho vem antes da destruição,
e o espírito altivo, antes da queda. Nabucodonosor foi retirado do trono e
colocado no meio dos animais por causa da sua soberba (cf. Dn.4:30-37). O rei
Herodes Antipas I morreu comido de vermes porque ensoberbeceu seu coração em
vez de dar glória a Deus (At.12:21-23). O reino de Deus pertence aos humildes
de espírito, e não aos orgulhosos de coração.
Esse terrível mal também tem grassado igrejas locais. A Bíblia registra
um exemplo: a igreja de Laodicéia. Esta igreja, a começar do seu líder, enchia
o peito e dizia para todos, com evidente e louca arrogância: “Rico sou e de
nada tenho falta” (Ap.3:17). Ora, é nesta tola manifestação de arrogância que
se verifica a fraqueza espiritual. Só temos força espiritual quando
reconhecemos a nossa insignificância, a nossa pequenez, o nosso nada diante de
Deus. A autoglorificação é desprezível. A igreja de Laodicéia exaltou-se dando
nota máxima a si mesma em todas as áreas, mas Cristo a reprovou em todos os
itens (Ap.3:17,18)
Deus detesta o louvor próprio. A Bíblia diz: ”Louve-te o estranho, e não
a tua boca; o estrangeiro, e não os teus lábios”(Pv.27:2). Jesus explicou essa
verdade na parábola do fariseu e do publicano (Lc.10:30-37). Aquele que se
exaltou foi humilhado, mas o que se humilhou, desceu para sua casa justificado.
III. VIVAMOS EM
PAZ
1. Vivamos em Paz com Deus. A Paz que Jesus oferece é diferente da paz
ilusória que o mundo dá. Quantos acordos fracassaram, quantas relações são
desfeitas por estarem baseadas apenas nas boas e frágeis intenções humanas, que
não resistem ao primeiro sinal de fraqueza das partes. Em razão disso,
precisamos ter sempre o Senhor como o nosso grande parceiro em todas as nossas
decisões. Essa Paz é diferente porque cumpre o propósito mais sublime do Senhor
para o ser humano: restaura a nossa paz com Deus (Rm.5:1). O nosso
relacionamento com Deus, antes rompido pelo pecado, é agora restaurado mediante
a justificação por Ele outorgada (Rm.5:1; Fp.3:9; Gl.2:16). Sim, Jesus é a
nossa Paz (Ef.2:14-17).
2. Vivamos em Paz uns com
os outros. Quando estamos em Cristo,
a Paz com Deus é restaurada, e daí passamos a ter harmonia uns com os outros na
dimensão do amor de Deus derramado em nossos corações (Rm.5.5). Assim sendo,
somos capazes de empenharmo-nos pela concórdia entre as pessoas. O que fazemos
quando há confusão em casa, no colégio, no trabalho ou na igreja? Pomos fogo ou
promovemos a união? Se promovemos a união, somos da paz, como Deus, que é
apresentado como sendo de paz (1Tes.5:23) e não de confusão (1Co.14:33).
“Davi declarou que a união é agradável e preciosa (Sl.133:1-3).
Infelizmente, a união que deveria ser encontrada na Igreja nem sempre o é. As
pessoas discordam e causam divisões por causa de assuntos sem importância.
Alguns sentem prazer em causar tensão, depreciando e desacreditando os outros.
Mas a união é importante porque: faz da igreja um exemplo para o mundo e ajuda
a aproximar as pessoas do Senhor; ajuda-nos a cooperar conforme a vontade de
Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos no céu; renova e revigora o
ministério, porque existe menos tensão para extrair a nossa energia. Viver em
união não significa que concordaremos com tudo; haverá muitas opiniões, da
mesma maneira que existem muitas notas em um acorde musical. Mas devemos
concordar em nosso propósito na vida: trabalhar juntos para Deus. A união
reflete a nossa concordância de propósitos" (Bíblia de Estudo Aplicação
Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.822).
No que depender de nós, devemos viver em paz com todas as pessoas (Rm.12:18).
Nós seremos bem-sucedidos quando Cristo for o nosso árbitro - “Seja a paz de
Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só
corpo” (Cl.3:15).
Deixemos que essa Paz flua com mais intensidade em nossos corações, e
isso ocorrendo, cuidaremos mais do bem-estar do próximo. Os conflitos externos
serão ajustados a uma realidade mais harmoniosa; o ódio não terá espaço em
nossas vidas e a nossa boca jamais se abrirá para proferir maledicências,
porque Cristo, o Senhor da Paz, habita ricamente em nosso coração.
3. Vivamos em Paz conosco
mesmo. Como tudo o que diz respeito à vida
espiritual do salvo, a Paz deve ser constantemente guardada e preservada. A Paz
interior é indispensável, pois é pelo seu vínculo que temos guardado a unidade
do Espírito – “procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”
(Ef.4:3).
É bom ressaltar que a Paz pode ser perdida por aqueles que se
descuidarem da vida espiritual. Quando há o desvio espiritual, não se perde
apenas a salvação, mas a Paz que é um dos efeitos desta salvação. Davi perdeu
essa Paz quando pecou contra Deus. Ao lermos o Salmo 51, vemos, nitidamente,
como Davi estava perturbado por causa do seu pecado, como havia perdido a paz.
A santificação nada mais é que um processo para nos mantermos em Paz com
Deus. Por isso, o apóstolo Paulo diz que quem nos santifica em tudo é o “Deus
de paz” (1Ts.5:23), tendo, também, sido recomendado que “vivamos em paz” para
que o Deus de amor e de Paz seja conosco (2Co.13:11), pois fomos chamados para
a Paz (cf.1Co.7:15).
Salientamos que a Paz não se consegue pelo pedir, ou pela oração. Ela
vem como resultado do trabalhar do Espírito Santo na vida do homem, formando o
Seu Fruto – “... o fruto do Espírito
é:...Paz...”. Assim, se o templo não é santo e se o Espírito não encontra
lugar na vida do crente, ocupado que está com as coisas do mundo, então ele não
pode desenvolver o Seu Fruto, razão porque existem, hoje, muitos crentes
“evangélicos” sem Paz.
CONCLUSÃO
A Paz, assim como o Amor, faz parte da própria natureza de Deus. Sendo
assim,
ela faz parte, também, da natureza de seus filhos - “Pelas quais nos tem
dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis
participantes da natureza divina...” (2Pd.1:4). Assim, se alguém diz que é
filho de Deus, mas, vive sem paz, em desarmonia com Deus, em conflito consigo
mesmo, em guerra, contenda e até inimizade com seu próximo, incluindo aquele
chamado de irmão, alguma coisa deve estar errada, e, certamente, não é a
Bíblia. Pela Bíblia, o filho de Deus tem que viver em Paz, porque Deus é Paz.
Você é filho de Deus?
“Ora, o mesmo Senhor da paz vos dê
sempre paz de toda maneira. O Senhor seja com todos Vós” (2Tes.3:16).
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Revista
Ensinador Cristão – nº 69. CPAD.
Rev.
Hernandes Dias Lopes. Gálatas, a carta da liberdade cristã.
Antônio
Gilberto. O Fruto do Espírito. CPAD.
Ev.
Caramuru Afonso Francisco. Paz: o Fruto da Harmonia.PortalEBD_2005.
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