1º Trimestre/2017
Texto Base: Colossenses 3:12-17
"Antes, sede uns para com os outros benignos, misericordiosos,
perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo" (Ef.
4:32).
INTRODUÇÃO
Dando continuidade ao
estudo do trimestre sobre o Fruto do Espírito e as obras da carne, estudaremos,
nesta Aula, mais um aspecto do Fruto do Espírito, a Benignidade; e mais um
aspecto das obras da carne, a Porfia. Uma pessoa que tem comunhão com Deus é
benigna, ou seja, tem prazer em fazer o bem, é cortês, é benevolente; é uma
pessoa fina, educada, um bom caráter. Mas, um crente porfioso, conflituoso,
rude, grosseiro, mal-educado, agressivo, “casca grossa”, não é benigno, também,
não é uma pessoa de Deus, pois uma pessoa de Deus tem que ser benigna, porque
“...o fruto do Espírito é ...benignidade...”.
I. A
BENIGNIDADE FUNDAMENTA-SE NO AMOR
Ser Benigno significa ter
prazer em fazer o bem, ter boa índole, ou um bom caráter, ser generoso, ser
benevolente, ser terno, ser capaz de servir só por amor. A Benignidade é uma
virtude que é parte da própria natureza de Deus. Ela faz parte de sua natureza,
de forma que Deus sempre foi, que Deus é, e que Deus será, eternamente,
Benigno. Ainda que a Bíblia Sagrada não dissesse, de forma direta, ou expressa,
que Deus é benigno, nós, como criaturas suas, conhecendo a obra que ele criou e
sabendo da forma que ele trata e cuida de sua obra, e conhecendo o significado
da expressão benignidade, teríamos que admitir, por nós mesmos, que Deus é
benigno. Se Deus não fosse benigno, Ele não seria misericordioso. Segundo a
Bíblia, Ele é benigno porque sua misericórdia para conosco não depende de nossa
fidelidade ou de nossa gratidão. O profeta Jeremias diz que “as misericórdias
do Senhor são as causas de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias
não têm fim”(Lm.3:22). A Benignidade, portanto, fundamenta-se no amor.
1. O que é Benignidade? A Benignidade é a disposição de fazer o bem.
É ser misericordioso; significa benevolência, humanidade e bondade – “O homem
benigno faz bem à sua própria alma...” (Pv.11:17). É uma das virtudes de Deus –
“Louvai ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade é para sempre”
(Salmo 136:1). O Salmo 136 repete esta verdade em todos os seus versículos;
vinte e seis vezes ele diz: “... porque a sua benignidade é para sempre”.
No crente, essas
características não são o resultado de uma boa formação acadêmica ou de uma
educação familiar; é uma virtude do Fruto do Espírito. Na formação do Fruto do
Espírito o caráter do homem vai sendo moldado e se tornando semelhante ao
caráter de Deus, que é benigno. Para ser discípulo de Jesus é necessário ter
benignidade – “Antes, sede uns para com os outros benignos...” (Ef.4:32).
O verdadeiro cristão,
aquele que é filho de Deus, tem de ter a mesma disposição que Deus tem de fazer
o bem ao ser humano. O crente tem de ser uma pessoa de boa índole, ou seja,
alguém que, no seu interior, tem o desejo ardente, sincero e incondicional de
buscar o bem do outro. Lembre-se que antes das pessoas olharem para Cristo,
elas vão olhar para você, para suas atitudes e ações.
O crente benigno trata os outros como Deus os
trata, com amor. Olha para os outros como Deus os olha. Trata-se de tarefa difícil, mas o
cristianismo é compromisso de difícil execução. Devemos sempre lembrar que a
Benignidade é um dom de Deus, produzido pelo Espírito, e o seu comportamento é
o nosso modelo nesta caminhada, pois Ele é benigno. Ele, por exemplo, manda o
sol e a chuva para justos e injustos (Mt.5:45). Não é justo este comportamento,
mas é benigno. Sem o Espírito Santo, somos apenas justos, no sentido da justiça
retributiva, nunca benignos. O que Jesus nos ensina é outro comportamento:
“E se fizerdes bem aos
que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo [...]
Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem [...] sem nada esperardes, e será
grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até
para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai
é misericordioso”(Lc.6:33-36).
2. A Benignidade na prática. O evangelista Billy
Graham disse que é muito fácil ser bondoso e gentil com quem nos trata bem, mas
precisamos ser benignos com aqueles que erram, tropeçam e ainda nos tratam mal.
Para isso, precisamos ser cheios do Espírito Santo (Ef.5:18). Veja alguns
exemplos na Bíblia de pessoas que foram extremamente benignas.
a) Abraão. Foi um homem benigno. Um dia Abraão teve que se separar de Ló e deu-lhe a
preferência da escolha. Um homem benigno abre mão de seus direitos, sofre o
prejuízo, mas, põe fim à contenda – “E disse Abraão a Ló: ora, não haja
contenda entre mim e ti e entre os meus pastos e os teus pastores, porque
irmãos somos. Não está toda a terra diante de ti? Eia, pois, aparta-te de mim;
se escolheres a esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, eu
irei para a esquerda” (Gn.13:8,9).
Um homem benigno ama o seu próximo com o amor de Deus. Conforme escreveu
Paulo, o amor de Deus “não busca os seus interesses” (1Co.13:5).
b) Jó. Este servo de Deus não foi apenas paciente, mas também um exemplo
significativo de benignidade e bondade - “Eu
era o olho do cego e os pés do coxo; dos necessitados era pai e as causas de
que não tinha conhecimento inquiria com diligência; o estrangeiro não passava a
noite na rua; as minhas portas abria ao viandante”(Jó 29:15,17; 31:32).
c) Davi. A benignidade fazia parte da sua própria natureza. Ele era um homem
muito parecido com Deus (1Sm.13:14). Paulo, muito mais tarde faria menção desta
semelhança entre Davi e Deus (cf. At.13:22). Um homem segundo o coração de Deus
teria que ter, dentre as suas muitas virtudes, a benignidade.
Um homem benigno ama seu
inimigo; Davi amou Saul, seu maior e grande inimigo. Davi poupou a vida de Saul;
o homem benigno se compraz em fazer o bem. Saul não achou Davi, mas, Davi achou
Saul – “Vieram, pois, Davi e Abisai de
noite ao povo, e eis que Saul estava deitado, dormindo dentro do lugar dos
carros... e Abner e o povo estavam ao redor dele” (1Sm.26:7). Abner era o
comandante do Exército. Saul estava muito bem protegido, mas Davi chegou onde
ele estava. Totalmente indefeso, Davi tinha diante de si seu maior inimigo, o
homem que o estava procurando para matá-lo. O ajudante de Davi pediu-lhe
permissão para matar Saul – “Então, disse Abisai a Davi: Deus te entregou,
hoje, nas mãos a teu inimigo...”. Davi era um homem de Deus e não se deixou
levar pela mensagem do homem. Aquele era o desejo de Abisai, não era o de Deus.
Abisai prosseguiu, dizendo: “...deixa-me, pois, agora, encravar com a lança de
uma vez na terra, e não o ferirei segunda vez”(1Sm.26:8). Davi, por um momento,
tinha diante de si a oportunidade de se livrar para sempre de seu grande
inimigo e de tomar posse do Trono, pois ele já tinha sido ungido para ser rei
no lugar de Saul. Porém, Davi era um homem benigno, e um homem benigno não
estende sua mão contra o seu próximo, mesmo que esse próximo seja seu maior e
mortal inimigo.
Um homem benigno não faz
justiça com suas próprias mãos, mas, entrega sua causa a Deus, e espera nele; sabe
honrar, respeitar e obedecer a seus superiores.
Um homem benigno que tem
promessas de Deus espera, com paciência, pelo tempo de Deus.
Davi era um homem benigno
- “... disse Davi a Abisai: nenhum dano lhe faças...”.
d) Estêvão. Mostrou na prática o que é ser benigno. Ao invés de desejar a
morte de seus opressores, orou por eles enquanto estava sendo apedrejado até
morrer (At.7:59,60) - “Senhor Jesus, não lhes imputes esse pecado” (At.7:60). O
misericordioso perdoa as ofensas; ele não registra mágoas; ele não guarda
rancor; ele não armazena ira; ele perdoa; ele vence o mal com o bem. Tiago
afirma: “O juízo é sem misericórdia para aquele que não exerce misericórdia”
(Tg.2:13).
e) Jesus, o maior exemplo de Benignidade. O maior ato de
benignidade praticado por Jesus foi dar a sua própria vida em benefício do ser
humano que estava destituído da sua glória (João 3:16). Ele se entregou por
toda a humanidade, morrendo numa cruz para salvar o ser humano. Diz Tito: “Mas,
quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os
homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua
misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito
Santo”(Tito 3:4,5). O amor é uma das expressões da Sua benignidade. Foi o
Senhor Jesus quem afirmou: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida
pelas ovelhas... Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder
para dar e poder para tornar a tomá-la. Esse mandamento recebi de meu Pai”(João
10:11-18).
Antes de efetivar o seu
maior ato de benignidade pela humanidade, Jesus realizou inúmeros atos de
benignidade. Ele amou os ricos e os pobres e sempre ajudou a todos que foram
até Ele.
- Jesus foi Benigno com as crianças. Certa feita Jesus se indignou quando viu que
os discípulos afastaram as crianças em vez de introduzi-las a Ele - “Jesus,
porém, vendo isso, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir os pequeninos a mim e
não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus” (Mc.10:14). Esse é o único
lugar nos evangelhos onde Jesus dirige sua indignação aos discípulos,
exatamente quando eles demonstram preconceito com as crianças. É a única vez
que o aborrecimento de Jesus se direcionou aos próprios discípulos, quando eles
se tornaram estorvo em vez de bênção, quando eles levantaram muros em vez de
construir pontes. A indignação de Jesus aconteceu concomitantemente com o seu
amor. A razão pela qual Ele se indignou com os seus discípulos foi o seu amor
profundo e compassivo para com os pequeninos. Uma ordem dupla reverte as
atitudes dos discípulos: “Deixai vir a mim os pequeninos, não os
embaraceis”.
- Jesus foi Benigno com os publicanos. Por serem os cobradores
de impostos, eram odiados pelo povo, pois em geral, cobravam mais do que as
pessoas deviam. Mas, Jesus fez questão de pousar na casa do publicano Zaqueu
(Lc.19:1-10).
- Jesus foi Benigno com a mulher cananeia. Esta mulher tinha uma
filha que estava miseravelmente endemoninhada (Mt.15:21-28). Ela caiu desesperadamente
aos pés de Jesus suplicando sua misericórdia. Cristo nunca despediu ninguém que
caísse a seus pés, coisa que uma coitada alma tremente pode fazer. Como ela era
uma boa mulher, assim era uma boa mãe. Isto a fez vir até Cristo. A princípio, parece
que Jesus não estava se importando com o clamor daquela mãe. Porém, o Mestre
estava testando a fé daquela mulher. Jesus mesmo declarou: "Ó mulher,
grande é a tua fé" (Mt.15:28).
- Jesus foi Benigno com o ladrão condenado. Na cruz, Jesus
demonstrou benignidade ao atender o pedido de um salteador (Lc.23:42,43).
Jesus continua sendo
Benigno com toda a humanidade. A sua Benignidade permanece para sempre, pois,
ela faz parte da Sua própria natureza.
“Louvai ao Senhor! Louvai ao
Senhor, porque ele é bom, porque a sua benignidade é para sempre” (Salmo
106:1).
Portanto,
a Benignidade na prática é destacada quando:
- Além de não fazer o
mal, praticamos o bem. Se você pensa que só de não fazer mal às pessoas, você já está fazendo
muito bem ao mundo, você está enganado. O benigno é aquele que, cheio de
bondade, se manifesta por meio de ações. Ele faz do mundo ao seu redor um lugar
melhor, mais cheio de amor e misericórdia.
- Procuramos ver a
necessidade do outro, antes mesmo que ele o peça. Você sempre ajuda as pessoas quando elas
te pedem algo? Se sim, muito bem! Se não, precisa começar a fazê-lo. No
entanto, quantos estão à nossa volta que talvez por vergonha, timidez, ou por
qualquer outro motivo, não pede ajuda! Você está atento a essa realidade? A
pessoa que tem a virtude da benignidade se antecipa à necessidade do próximo.
- Não desistimos das
pessoas, mesmo as mais difíceis. Pode ser que tenha alguém que conviva com
você que seja muito difícil de se lidar. Continue a praticar o bem com ela,
seja amável, insista na amizade. Pense que talvez você seja também “uma pessoa
difícil” para outros. Você não gostaria que alguém desistisse de você, não é?
Sempre podemos ser melhores!
- Somos misericordiosos e não vingativos. A misericórdia vai além
da justiça. Ou seja, pode até ser que a outra pessoa tenha feito algo de errado
e “mereça” pagar pelo seu erro, mas o benigno não se deixa vencer pelo desejo
de justiça, ao contrário, ele acredita e sabe que plantando o bem, um dia será
possível também colher o bem.
II. A PORFIA
FUNDAMENTA-SE NA INVEJA E NO ORGULHO
1. Porfia. Diferentemente da
Benignidade, porfiar é discutir, disputar, polemizar, demonstrar superioridade
ao outro. Traz a ideia de alguém que luta contra a pessoa com a finalidade de
conseguir alguma coisa, como posição, promoção, bens, honra, reconhecimento. É
a rivalidade por recompensa. Não por acaso, a porfia está fundamentada no
orgulho e na inveja. É uma obra eminentemente da nossa velha natureza. Porfia é
obra da carne (Gl.5:20). Quem tal coisa pratica e nada faz para subjugar esse
pecado poderá perder a Salvação (Gl.5:21). Na Nova Aliança, Deus não admite que
o seu povo se envolva em brigas, disputas e contendas, pois a Palavra de Deus
assim nos adverte: “E ao servo do Senhor não convém contender” (2Tm.2:24). Já
imaginou se este principio fosse respeitado à risca? Não haveria tanta divisão,
desunião, porfias e disputas por poder dentro do orbe evangélico.
2. Evódia e Síntique. Eram duas irmãs
valorosas que serviam a Deus na igreja de Filipos (Fp.4:2). Elas haviam se
esforçado com Paulo no evangelho, mas agora estavam envolvidas em alguma
porfia. Essas irmãs tinham nomes bonitos: Evódia significa “doce fragrância”;
Síntique significa “boa sorte”. Mas elas estavam vivendo de maneira
repreensível. Muitas pessoas haviam se tornadas crentes através de seus
esforços (cf. Fp.4:3), mas a sua briga estava causando escândalo na igreja. Não
temos detalhes da causa de sua discórdia (talvez seja bom assim), mas Paulo
rogou a elas que acabassem de uma vez por todas com as diferenças. Como líder
daquela igreja, Paulo não procurou saber quem estava com a razão, mas com amor
e firmeza ordenou que elas parassem com tal atitude – “Rogo a Evódia e rogo a
Síntique que sintam o mesmo no Senhor” (Fp.4:2). O apóstolo emprega a palavra
“rogo” duas vezes, para mostrar que essa exortação é dirigida a uma e a outra.
Paulo as incentiva que “sintam o mesmo no Senhor”, querendo dizer que é impossível
sermos unidos em todas as coisas da vida diária, mas quanto às coisas “no
Senhor” é possível reprimir pequenas diferenças, a fim de que o Senhor possa
ser magnificado e para que sua obra avance.
3. Miriã e Arão. Certa feita, Miriã e
Arão, irmãos de Moisés, fizeram uma oposição perigosa à liderança de Moisés,
servo do Senhor. Diz o texto sagrado que Miriã e Arão começaram a criticar
Moisés porque ele havia se casado com uma mulher etíope - "Será que o
Senhor tem falado apenas por meio de Moisés?", perguntaram. "Também
não tem ele falado por meio de nós?". E o Senhor ouviu isso. Ora, Moisés
era um homem muito paciente, mais do que qualquer outro que havia na terra.
Imediatamente o Senhor disse a Moisés, a Arão e a Miriã: "Dirijam-se à Tenda da congregação, vocês
três". E os três foram para lá. Então o Senhor desceu numa coluna de
nuvem e, pondo-se à entrada da Tenda, chamou Arão e Miriã. Os dois vieram à
frente, e ele disse: "Ouçam as minhas palavras: Quando entre vocês há um
profeta do Senhor, a ele me revelo em visões, em sonhos falo com ele. Não é
assim, porém, com meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Com ele
falo face a face, claramente, e não por enigmas; e ele vê a forma do Senhor.
Por que não temeram criticar meu servo Moisés?". Então a ira do Senhor
acendeu-se contra eles, e ele os deixou. Quando a nuvem se afastou da Tenda,
Miriã estava leprosa; sua aparência era como a da neve. Arão voltou-se para
Miriã, viu que ela estava com lepra e disse a Moisés: "Por favor, meu
senhor, não nos castigue pelo pecado que tão tolamente cometemos” (cf.
Nm.12:1-11).
Percebe-se que por trás
da porfia havia outro sentimento, a inveja. Eles certamente desejavam a
liderança do irmão. Um sentimento carnal traz consigo outros sentimentos,
despertando o que há de pior em cada pessoa. Apesar de décadas de aprendizagem
no deserto, Miriã não tinha se libertado completamente da influência do Egito,
seu coração ainda era carnal. O orgulho, a inveja e a porfia ainda eram
características de sua personalidade.
A Bíblia não nos conta
exatamente o que aconteceu, mas sabemos que Miriã ficou ciumenta e orgulhosa.
Argumenta ela: “... será que o Senhor também não tem falado por meio de nós?”
(Nm.12:2). Parece que ela ficou fofocando no ouvido de Arão o tempo todo
reclamando do seu irmão e da cunhada, a esposa de Moisés. E a tragédia foi que
Arão, sendo um homem fraco, não a confrontou e nem a repreendeu. E isso é
terrível!
Quantas vezes há crentes
com inveja dos dons de outros membros na Igreja! Quantos crentes que se
orgulham de seus próprios dons! Paulo nos exorta: “Nada façam por ambição
egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si
mesmos” (Fp.2:3).
Deus se irou também
contra Arão, mas foi Miriã que recebeu o maior castigo, ela ficou leprosa;
talvez porque Miriã foi quem havia iniciado a insubordinação. Arão era de
caráter fraco e facilmente se deixava convencer pelos outros. Assustado, ele
pediu perdão a Moisés, e pediu misericórdia para que sua irmã fosse curada -
“Por favor, meu senhor, não nos castigue pelo pecado que tão tolamente
cometemos” (Nm.12:11). E a seguir, Moisés orou pela restauração de sua irmã.
Embora curada, ela foi obrigada a passar sete dias em reclusão fora do arraial
(a primeira menção de prisão como castigo entre os israelitas).
As consequências da
inveja e da porfia foram terríveis para Miriã e para todo o povo, pois tiveram
que ficar retidos, em um lugar, até que Miriã pudesse se ajuntar novamente à
congregação - “...o povo não partiu enquanto ela não foi trazida de volta”
(Nm.12:15). Deus foi misericordioso, mas manteve a disciplina. Como a
insubordinação foi pública, todos foram envolvidos na humilhação e castigo que
Miriã sofreu. Muitas vezes, por causa do pecado de uma só pessoa, a igreja não
vai para frente, ela fica parada, porque quando um membro do corpo peca, todos
são afetados. Paulo disse isso em Romanos 14:7: “Pois nenhum de nós vive apenas
para si, e nenhum de nós morre apenas para si”. Somos um corpo e sofremos
juntos com o pecado de um dos membros desse corpo (similitude com o pecado e
Acã - Josué 7:1-26).
Depois deste incidente
nós não sabemos mais a respeito de Miriã a não ser pela referência da sua morte
(Nm.20:1). Parece que ela perdeu sua posição de liderança com seus irmãos e
entre as mulheres na direção do louvor ao Senhor. Como é triste quando um líder
pratica as obras da carne e cai do pedestal!
A biografia de Miriã nos
faz lembrar sempre os perigos da inveja, da porfia e da ambição. Existem
cristãos que gostam de se promover, mostrar seus dons de maneira orgulhosa ou
criticar a liderança da Igreja. Isto é muito grave! Observe com tento as palavras
de Moisés em Deuteronômio 24:9: “Lembrem-se
do que o Senhor, o seu Deus, fez com Miriã no caminho, depois que vocês saíram
do Egito”.
III.
REVISTAMO-NOS DE BENIGNIDADE
1. Retirando as vestes velhas. Só evidenciamos
verdadeira conversão quando retiramos de sobre nós as vestes velhas. O apóstolo
Paulo exortou os crentes de Colossos a se despirem da velha natureza:
“5. Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza,
paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria;
6. por estas coisas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da
desobediência].
7.Ora, nessas mesmas coisas andastes vós também, noutro tempo, quando
vivíeis nelas.
8. Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação,
maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar.
9.
Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os
seus feitos” (Cl.3:5-9).
Devemos despojarmos das
mortalhas da velha vida e deixá-las na sepultura, uma vez que:
- Nós morremos com Cristo
(Cl.3:3a).
Cristo não apenas morreu por nós (substituição), mas nós também morremos com
Ele (identificação). Estávamos mais perto de Cristo do que os dois malfeitores
que foram crucificados com Ele. Estávamos na cruz do centro. Na cruz, Cristo
não apenas pagou a nossa dívida com Sua morte, mas também quebrou o poder do
pecado em nossa vida. O apóstolo pergunta: “Como viveremos ainda no pecado, nós
os que para ele morremos?” (Rm.6:2).
- Nós vivemos com Cristo (Cl.3:4a). Cristo é a nossa vida. Paulo disse aos filipenses:
“Para mim o viver é Cristo” (Fp.1:21). Aos gálatas, Paulo afirmou: “Não sou eu
mais quem vive, mas é Cristo que vive em mim” (Gl.2:20). Algumas vezes dizemos
de alguém: “a música é sua vida; o esporte é sua vida; fulano vive para
trabalhar”. Os tais encontram a vida e tudo o que ela significa na música, nos
esportes e no trabalho. Para o cristão, porém, Cristo é a vida; Jesus Cristo
domina seu pensamento e preenche sua alma. A essência da vida eterna é conhecer
a Cristo (João 17:3).
- Nós ressuscitamos com Cristo (Cl.3:1a). Nossa união com Cristo
não é apenas em sua morte, mas também em sua ressurreição. Assim como ele
ressuscitou, também ressuscitamos nele para vivermos em novidade de vida. O
reinado da morte pelo pecado não tem poder mais sobre nós, uma vez que morremos
e ressuscitamos com Cristo. É possível estar vivo e ainda viver na sepultura, porém,
quando cremos em Cristo, Ele nos tira da sepultura e nos transporta para os
lugares celestiais, onde está assentado à destra de Deus.
2. Colocando vestes novas. Paulo acabara de ordenar
aos cristãos a despojar-se e despir-se das mortalhas do velho homem; agora,
ordena-os a revestir-se das roupagens do novo homem. Exorta o apóstolo Paulo: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus,
santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade,
humildade, mansidão, longanimidade” (Cl.3:12).
"Revesti-vos". O verbo está no imperativo, mostrando que, de uma
vez e para sempre, os cristãos deviam tomar como vestimenta as virtudes
cristãs. O novo homem precisa exibir vestes novas, as vestes dos filhos do Rei.
Vida cristã não é algo que construímos pelos nossos méritos e esforços, mas o
resultado daquilo que Deus fez por nós em Cristo Jesus. Agora pertencemos à
família de Deus e devemos viver nela de modo digno de Deus.
Paulo oferece uma lista de virtudes que devem ornar
a vida do cristão: ”entranhas de
misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade”. Observe que nesta lista está incluída a
“Benignidade”, que é o Fruto do Espírito que estamos tratando nesta Aula.
Na tradução Almeida
Revista Atualizada aparece a palavra “Bondade” no lugar de “Benignidade”. Ser bom é ser benevolente para os outros como Deus
tem sido para nós. A bondade toma a iniciativa em responder generosamente às
necessidades dos outros; ela é expressa em atitudes e atos; denota o espírito
amigável e ajudador que procura suprir as necessidades dos outros mediante atos
generosos.
Barnabé é chamado de homem bom; ele estava sempre
investindo na vida das pessoas: investiu na vida de Paulo, dos cristãos pobres
de Jerusalém e mais tarde na vida de João Marcos (cf. At.4:36,37; 15:37).
Uma demonstração clara de Benignidade, ou Bondade,
pode ser vista, também, na vida de Isaque, o homem que cavava poços e os
entregava aos seus contendores, porque não queria litigar com eles (cf. Gn.26:17-
25).
Lembre-se, o cristianismo é mais do que a mera
aceitação de doutrinas ortodoxas; é principalmente um relacionamento correto
com Deus e uns com os outros (Tg.1:27). Como filhos de Deus, precisamos nos
revestir de vestes novas, ou seja, novas atitudes, a fim de anunciar ao mundo a
Benignidade de Deus (1Pd.2.9). Sede, portanto, benignos!
3.
Imitando a conduta de Paulo.
O apóstolo Paulo tinha uma vida ilibada, e como líder, era um exemplo para os
crentes de sua época. Sua maneira de viver era tão santa que ele desafiou os
crentes a serem seus imitadores - “Sede
meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1Co.11:1). Ser santo é ser
separado do mundo para Deus. Assim como a cerimônia de casamento separa um
homem e uma mulher um para o outro de modo exclusivo, a salvação separa o
cristão exclusivamente para Jesus Cristo. E, da mesma forma que seria
escandaloso ver uma mulher casada ou um homem casado correr para os braços de
outra pessoa, também é um escândalo um cristão viver para o mundo ou para
agradar a carne. Não podemos nos esquecer de que ser cristão é ser semelhante a
Cristo.
Jesus deve ser o padrão para o nosso viver; Ele
tinha uma vida social intensa: ia a casamentos (João 2:1-12), jantares na casa
dos amigos (João 12:1-11), mas não se deixou seduzir pelas coisas desse mundo. Tirados
do mundo mesmo estando geograficamente no mundo, somos propriedades exclusiva
de Deus (1Pd.2:9). Fomos comprados por um alto preço e agora não somos de nós
mesmos (1Co.6:19,20). Somos feitos santos aos olhos de Deus por causa do
sacrifício de Cristo na cruz, ainda que a santidade seja um alvo progressivo da
salvação. Portanto, assim como Paulo seguia o exemplo de Jesus, nós também
precisamos também seguir o exemplo do Mestre e nos tornarmos semelhantes a Ele:
Benigno.
CONCLUSÃO
Se realmente desejamos expressar um cristianismo
vivo, autêntico, precisamos excluir do nosso meio as porfias, pois são obras da
carne e maculam o corpo de Cristo. O único antídoto para não cairmos na cilada
da Porfia é firmarmos um compromisso verdadeiro de imitar a Cristo em tudo,
assim como fez Paulo. A Benignidade de Cristo é para ser imitada por nós, como
pede o apóstolo:
“Longe
de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim
toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também
Deus, em Cristo, vos perdoou. Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos
amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo
por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave” (Ef.4:31-32;
6:1,2).
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Revista
Ensinador Cristão – nº 69. CPAD.
Rev.
Hernandes Dias Lopes. Gálatas, a carta da liberdade cristã.
Antônio
Gilberto. O Fruto do Espírito. CPAD.
Ev.
Caramuru Afonso Francisco. Benignidade e Bondade, o fruto gêmeo.PortalEBD_2005.
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