domingo, 5 de fevereiro de 2017

Aula 07 - BENIGNIDADE: UM ESCUDO PROTETOR CONTRA AS PORFIAS


1º Trimestre/2017

 
Texto Base: Colossenses 3:12-17

 
"Antes, sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo" (Ef. 4:32).

 

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo do trimestre sobre o Fruto do Espírito e as obras da carne, estudaremos, nesta Aula, mais um aspecto do Fruto do Espírito, a Benignidade; e mais um aspecto das obras da carne, a Porfia. Uma pessoa que tem comunhão com Deus é benigna, ou seja, tem prazer em fazer o bem, é cortês, é benevolente; é uma pessoa fina, educada, um bom caráter. Mas, um crente porfioso, conflituoso, rude, grosseiro, mal-educado, agressivo, “casca grossa”, não é benigno, também, não é uma pessoa de Deus, pois uma pessoa de Deus tem que ser benigna, porque “...o fruto do Espírito é ...benignidade...”.

I. A BENIGNIDADE FUNDAMENTA-SE NO AMOR

Ser Benigno significa ter prazer em fazer o bem, ter boa índole, ou um bom caráter, ser generoso, ser benevolente, ser terno, ser capaz de servir só por amor. A Benignidade é uma virtude que é parte da própria natureza de Deus. Ela faz parte de sua natureza, de forma que Deus sempre foi, que Deus é, e que Deus será, eternamente, Benigno. Ainda que a Bíblia Sagrada não dissesse, de forma direta, ou expressa, que Deus é benigno, nós, como criaturas suas, conhecendo a obra que ele criou e sabendo da forma que ele trata e cuida de sua obra, e conhecendo o significado da expressão benignidade, teríamos que admitir, por nós mesmos, que Deus é benigno. Se Deus não fosse benigno, Ele não seria misericordioso. Segundo a Bíblia, Ele é benigno porque sua misericórdia para conosco não depende de nossa fidelidade ou de nossa gratidão. O profeta Jeremias diz que “as misericórdias do Senhor são as causas de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim”(Lm.3:22). A Benignidade, portanto, fundamenta-se no amor.

1. O que é Benignidade?  A Benignidade é a disposição de fazer o bem. É ser misericordioso; significa benevolência, humanidade e bondade – “O homem benigno faz bem à sua própria alma...” (Pv.11:17). É uma das virtudes de Deus – “Louvai ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade é para sempre” (Salmo 136:1). O Salmo 136 repete esta verdade em todos os seus versículos; vinte e seis vezes ele diz: “... porque a sua benignidade é para sempre”.

No crente, essas características não são o resultado de uma boa formação acadêmica ou de uma educação familiar; é uma virtude do Fruto do Espírito. Na formação do Fruto do Espírito o caráter do homem vai sendo moldado e se tornando semelhante ao caráter de Deus, que é benigno. Para ser discípulo de Jesus é necessário ter benignidade – “Antes, sede uns para com os outros benignos...” (Ef.4:32).

O verdadeiro cristão, aquele que é filho de Deus, tem de ter a mesma disposição que Deus tem de fazer o bem ao ser humano. O crente tem de ser uma pessoa de boa índole, ou seja, alguém que, no seu interior, tem o desejo ardente, sincero e incondicional de buscar o bem do outro. Lembre-se que antes das pessoas olharem para Cristo, elas vão olhar para você, para suas atitudes e ações.

O crente benigno trata os outros como Deus os trata, com amor. Olha para os outros como Deus os olha. Trata-se de tarefa difícil, mas o cristianismo é compromisso de difícil execução. Devemos sempre lembrar que a Benignidade é um dom de Deus, produzido pelo Espírito, e o seu comportamento é o nosso modelo nesta caminhada, pois Ele é benigno. Ele, por exemplo, manda o sol e a chuva para justos e injustos (Mt.5:45). Não é justo este comportamento, mas é benigno. Sem o Espírito Santo, somos apenas justos, no sentido da justiça retributiva, nunca benignos. O que Jesus nos ensina é outro comportamento:

“E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo [...] Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem [...] sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso”(Lc.6:33-36).

2. A Benignidade na prática. O evangelista Billy Graham disse que é muito fácil ser bondoso e gentil com quem nos trata bem, mas precisamos ser benignos com aqueles que erram, tropeçam e ainda nos tratam mal. Para isso, precisamos ser cheios do Espírito Santo (Ef.5:18). Veja alguns exemplos na Bíblia de pessoas que foram extremamente benignas.

a) Abraão. Foi um homem benigno. Um dia Abraão teve que se separar de Ló e deu-lhe a preferência da escolha. Um homem benigno abre mão de seus direitos, sofre o prejuízo, mas, põe fim à contenda – “E disse Abraão a Ló: ora, não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastos e os teus pastores, porque irmãos somos. Não está toda a terra diante de ti? Eia, pois, aparta-te de mim; se escolheres a esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, eu irei para a esquerda” (Gn.13:8,9).

Um homem benigno ama o seu próximo com o amor de Deus. Conforme escreveu Paulo, o amor de Deus “não busca os seus interesses” (1Co.13:5).

b) Jó. Este servo de Deus não foi apenas paciente, mas também um exemplo significativo de benignidade e bondade - “Eu era o olho do cego e os pés do coxo; dos necessitados era pai e as causas de que não tinha conhecimento inquiria com diligência; o estrangeiro não passava a noite na rua; as minhas portas abria ao viandante”(Jó 29:15,17; 31:32).

c) Davi. A benignidade fazia parte da sua própria natureza. Ele era um homem muito parecido com Deus (1Sm.13:14). Paulo, muito mais tarde faria menção desta semelhança entre Davi e Deus (cf. At.13:22). Um homem segundo o coração de Deus teria que ter, dentre as suas muitas virtudes, a benignidade.

Um homem benigno ama seu inimigo; Davi amou Saul, seu maior e grande inimigo. Davi poupou a vida de Saul; o homem benigno se compraz em fazer o bem. Saul não achou Davi, mas, Davi achou Saul – “Vieram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo, e eis que Saul estava deitado, dormindo dentro do lugar dos carros... e Abner e o povo estavam ao redor dele” (1Sm.26:7). Abner era o comandante do Exército. Saul estava muito bem protegido, mas Davi chegou onde ele estava. Totalmente indefeso, Davi tinha diante de si seu maior inimigo, o homem que o estava procurando para matá-lo. O ajudante de Davi pediu-lhe permissão para matar Saul – “Então, disse Abisai a Davi: Deus te entregou, hoje, nas mãos a teu inimigo...”. Davi era um homem de Deus e não se deixou levar pela mensagem do homem. Aquele era o desejo de Abisai, não era o de Deus. Abisai prosseguiu, dizendo: “...deixa-me, pois, agora, encravar com a lança de uma vez na terra, e não o ferirei segunda vez”(1Sm.26:8). Davi, por um momento, tinha diante de si a oportunidade de se livrar para sempre de seu grande inimigo e de tomar posse do Trono, pois ele já tinha sido ungido para ser rei no lugar de Saul. Porém, Davi era um homem benigno, e um homem benigno não estende sua mão contra o seu próximo, mesmo que esse próximo seja seu maior e mortal inimigo.

Um homem benigno não faz justiça com suas próprias mãos, mas, entrega sua causa a Deus, e espera nele; sabe honrar, respeitar e obedecer a seus superiores.

Um homem benigno que tem promessas de Deus espera, com paciência, pelo tempo de Deus.

Davi era um homem benigno - “... disse Davi a Abisai: nenhum dano lhe faças...”.

d) Estêvão. Mostrou na prática o que é ser benigno. Ao invés de desejar a morte de seus opressores, orou por eles enquanto estava sendo apedrejado até morrer (At.7:59,60) - “Senhor Jesus, não lhes imputes esse pecado” (At.7:60). O misericordioso perdoa as ofensas; ele não registra mágoas; ele não guarda rancor; ele não armazena ira; ele perdoa; ele vence o mal com o bem. Tiago afirma: “O juízo é sem misericórdia para aquele que não exerce misericórdia” (Tg.2:13).

e) Jesus, o maior exemplo de Benignidade. O maior ato de benignidade praticado por Jesus foi dar a sua própria vida em benefício do ser humano que estava destituído da sua glória (João 3:16). Ele se entregou por toda a humanidade, morrendo numa cruz para salvar o ser humano. Diz Tito: “Mas, quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”(Tito 3:4,5). O amor é uma das expressões da Sua benignidade. Foi o Senhor Jesus quem afirmou: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas... Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para dar e poder para tornar a tomá-la. Esse mandamento recebi de meu Pai”(João 10:11-18).

Antes de efetivar o seu maior ato de benignidade pela humanidade, Jesus realizou inúmeros atos de benignidade. Ele amou os ricos e os pobres e sempre ajudou a todos que foram até Ele.

- Jesus foi Benigno com as crianças. Certa feita Jesus se indignou quando viu que os discípulos afastaram as crianças em vez de introduzi-las a Ele - “Jesus, porém, vendo isso, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus” (Mc.10:14). Esse é o único lugar nos evangelhos onde Jesus dirige sua indignação aos discípulos, exatamente quando eles demonstram preconceito com as crianças. É a única vez que o aborrecimento de Jesus se direcionou aos próprios discípulos, quando eles se tornaram estorvo em vez de bênção, quando eles levantaram muros em vez de construir pontes. A indignação de Jesus aconteceu concomitantemente com o seu amor. A razão pela qual Ele se indignou com os seus discípulos foi o seu amor profundo e compassivo para com os pequeninos. Uma ordem dupla reverte as atitudes dos discípulos: “Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis”.

- Jesus foi Benigno com os publicanos. Por serem os cobradores de impostos, eram odiados pelo povo, pois em geral, cobravam mais do que as pessoas deviam. Mas, Jesus fez questão de pousar na casa do publicano Zaqueu (Lc.19:1-10).

- Jesus foi Benigno com a mulher cananeia. Esta mulher tinha uma filha que estava miseravelmente endemoninhada (Mt.15:21-28). Ela caiu desesperadamente aos pés de Jesus suplicando sua misericórdia. Cristo nunca despediu ninguém que caísse a seus pés, coisa que uma coitada alma tremente pode fazer. Como ela era uma boa mulher, assim era uma boa mãe. Isto a fez vir até Cristo. A princípio, parece que Jesus não estava se importando com o clamor daquela mãe. Porém, o Mestre estava testando a fé daquela mulher. Jesus mesmo declarou: "Ó mulher, grande é a tua fé" (Mt.15:28).

- Jesus foi Benigno com o ladrão condenado. Na cruz, Jesus demonstrou benignidade ao atender o pedido de um salteador (Lc.23:42,43).

Jesus continua sendo Benigno com toda a humanidade. A sua Benignidade permanece para sempre, pois, ela faz parte da Sua própria natureza.

Louvai ao Senhor! Louvai ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua benignidade é para sempre” (Salmo 106:1).

Portanto, a Benignidade na prática é destacada quando:

- Além de não fazer o mal, praticamos o bem. Se você pensa que só de não fazer mal às pessoas, você já está fazendo muito bem ao mundo, você está enganado. O benigno é aquele que, cheio de bondade, se manifesta por meio de ações. Ele faz do mundo ao seu redor um lugar melhor, mais cheio de amor e misericórdia.

- Procuramos ver a necessidade do outro, antes mesmo que ele o peça. Você sempre ajuda as pessoas quando elas te pedem algo? Se sim, muito bem! Se não, precisa começar a fazê-lo. No entanto, quantos estão à nossa volta que talvez por vergonha, timidez, ou por qualquer outro motivo, não pede ajuda! Você está atento a essa realidade? A pessoa que tem a virtude da benignidade se antecipa à necessidade do próximo.

- Não desistimos das pessoas, mesmo as mais difíceis. Pode ser que tenha alguém que conviva com você que seja muito difícil de se lidar. Continue a praticar o bem com ela, seja amável, insista na amizade. Pense que talvez você seja também “uma pessoa difícil” para outros. Você não gostaria que alguém desistisse de você, não é? Sempre podemos ser melhores!

- Somos misericordiosos e não vingativos. A misericórdia vai além da justiça. Ou seja, pode até ser que a outra pessoa tenha feito algo de errado e “mereça” pagar pelo seu erro, mas o benigno não se deixa vencer pelo desejo de justiça, ao contrário, ele acredita e sabe que plantando o bem, um dia será possível também colher o bem.

II. A PORFIA FUNDAMENTA-SE NA INVEJA E NO ORGULHO

1. Porfia. Diferentemente da Benignidade, porfiar é discutir, disputar, polemizar, demonstrar superioridade ao outro. Traz a ideia de alguém que luta contra a pessoa com a finalidade de conseguir alguma coisa, como posição, promoção, bens, honra, reconhecimento. É a rivalidade por recompensa. Não por acaso, a porfia está fundamentada no orgulho e na inveja. É uma obra eminentemente da nossa velha natureza. Porfia é obra da carne (Gl.5:20). Quem tal coisa pratica e nada faz para subjugar esse pecado poderá perder a Salvação (Gl.5:21). Na Nova Aliança, Deus não admite que o seu povo se envolva em brigas, disputas e contendas, pois a Palavra de Deus assim nos adverte: “E ao servo do Senhor não convém contender” (2Tm.2:24). Já imaginou se este principio fosse respeitado à risca? Não haveria tanta divisão, desunião, porfias e disputas por poder dentro do orbe evangélico.

2. Evódia e Síntique. Eram duas irmãs valorosas que serviam a Deus na igreja de Filipos (Fp.4:2). Elas haviam se esforçado com Paulo no evangelho, mas agora estavam envolvidas em alguma porfia. Essas irmãs tinham nomes bonitos: Evódia significa “doce fragrância”; Síntique significa “boa sorte”. Mas elas estavam vivendo de maneira repreensível. Muitas pessoas haviam se tornadas crentes através de seus esforços (cf. Fp.4:3), mas a sua briga estava causando escândalo na igreja. Não temos detalhes da causa de sua discórdia (talvez seja bom assim), mas Paulo rogou a elas que acabassem de uma vez por todas com as diferenças. Como líder daquela igreja, Paulo não procurou saber quem estava com a razão, mas com amor e firmeza ordenou que elas parassem com tal atitude – “Rogo a Evódia e rogo a Síntique que sintam o mesmo no Senhor” (Fp.4:2). O apóstolo emprega a palavra “rogo” duas vezes, para mostrar que essa exortação é dirigida a uma e a outra. Paulo as incentiva que “sintam o mesmo no Senhor”, querendo dizer que é impossível sermos unidos em todas as coisas da vida diária, mas quanto às coisas “no Senhor” é possível reprimir pequenas diferenças, a fim de que o Senhor possa ser magnificado e para que sua obra avance.

3. Miriã e Arão. Certa feita, Miriã e Arão, irmãos de Moisés, fizeram uma oposição perigosa à liderança de Moisés, servo do Senhor. Diz o texto sagrado que Miriã e Arão começaram a criticar Moisés porque ele havia se casado com uma mulher etíope - "Será que o Senhor tem falado apenas por meio de Moisés?", perguntaram. "Também não tem ele falado por meio de nós?". E o Senhor ouviu isso. Ora, Moisés era um homem muito paciente, mais do que qualquer outro que havia na terra. Imediatamente o Senhor disse a Moisés, a Arão e a Miriã: "Dirijam-se à Tenda da congregação, vocês três". E os três foram para lá. Então o Senhor desceu numa coluna de nuvem e, pondo-se à entrada da Tenda, chamou Arão e Miriã. Os dois vieram à frente, e ele disse: "Ouçam as minhas palavras: Quando entre vocês há um profeta do Senhor, a ele me revelo em visões, em sonhos falo com ele. Não é assim, porém, com meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Com ele falo face a face, claramente, e não por enigmas; e ele vê a forma do Senhor. Por que não temeram criticar meu servo Moisés?". Então a ira do Senhor acendeu-se contra eles, e ele os deixou. Quando a nuvem se afastou da Tenda, Miriã estava leprosa; sua aparência era como a da neve. Arão voltou-se para Miriã, viu que ela estava com lepra e disse a Moisés: "Por favor, meu senhor, não nos castigue pelo pecado que tão tolamente cometemos” (cf. Nm.12:1-11).

Percebe-se que por trás da porfia havia outro sentimento, a inveja. Eles certamente desejavam a liderança do irmão. Um sentimento carnal traz consigo outros sentimentos, despertando o que há de pior em cada pessoa. Apesar de décadas de aprendizagem no deserto, Miriã não tinha se libertado completamente da influência do Egito, seu coração ainda era carnal. O orgulho, a inveja e a porfia ainda eram características de sua personalidade.

A Bíblia não nos conta exatamente o que aconteceu, mas sabemos que Miriã ficou ciumenta e orgulhosa. Argumenta ela: “... será que o Senhor também não tem falado por meio de nós?” (Nm.12:2). Parece que ela ficou fofocando no ouvido de Arão o tempo todo reclamando do seu irmão e da cunhada, a esposa de Moisés. E a tragédia foi que Arão, sendo um homem fraco, não a confrontou e nem a repreendeu. E isso é terrível!

Quantas vezes há crentes com inveja dos dons de outros membros na Igreja! Quantos crentes que se orgulham de seus próprios dons! Paulo nos exorta: “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos” (Fp.2:3).

Deus se irou também contra Arão, mas foi Miriã que recebeu o maior castigo, ela ficou leprosa; talvez porque Miriã foi quem havia iniciado a insubordinação. Arão era de caráter fraco e facilmente se deixava convencer pelos outros. Assustado, ele pediu perdão a Moisés, e pediu misericórdia para que sua irmã fosse curada - “Por favor, meu senhor, não nos castigue pelo pecado que tão tolamente cometemos” (Nm.12:11). E a seguir, Moisés orou pela restauração de sua irmã. Embora curada, ela foi obrigada a passar sete dias em reclusão fora do arraial (a primeira menção de prisão como castigo entre os israelitas).

As consequências da inveja e da porfia foram terríveis para Miriã e para todo o povo, pois tiveram que ficar retidos, em um lugar, até que Miriã pudesse se ajuntar novamente à congregação - “...o povo não partiu enquanto ela não foi trazida de volta” (Nm.12:15). Deus foi misericordioso, mas manteve a disciplina. Como a insubordinação foi pública, todos foram envolvidos na humilhação e castigo que Miriã sofreu. Muitas vezes, por causa do pecado de uma só pessoa, a igreja não vai para frente, ela fica parada, porque quando um membro do corpo peca, todos são afetados. Paulo disse isso em Romanos 14:7: “Pois nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre apenas para si”. Somos um corpo e sofremos juntos com o pecado de um dos membros desse corpo (similitude com o pecado e Acã - Josué 7:1-26).

Depois deste incidente nós não sabemos mais a respeito de Miriã a não ser pela referência da sua morte (Nm.20:1). Parece que ela perdeu sua posição de liderança com seus irmãos e entre as mulheres na direção do louvor ao Senhor. Como é triste quando um líder pratica as obras da carne e cai do pedestal!

A biografia de Miriã nos faz lembrar sempre os perigos da inveja, da porfia e da ambição. Existem cristãos que gostam de se promover, mostrar seus dons de maneira orgulhosa ou criticar a liderança da Igreja. Isto é muito grave! Observe com tento as palavras de Moisés em Deuteronômio 24:9: “Lembrem-se do que o Senhor, o seu Deus, fez com Miriã no caminho, depois que vocês saíram do Egito”.

III. REVISTAMO-NOS DE BENIGNIDADE

1. Retirando as vestes velhas. Só evidenciamos verdadeira conversão quando retiramos de sobre nós as vestes velhas. O apóstolo Paulo exortou os crentes de Colossos a se despirem da velha natureza:

“5. Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria;

6. por estas coisas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da desobediência].

7.Ora, nessas mesmas coisas andastes vós também, noutro tempo, quando vivíeis nelas.

8. Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar.

9. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos” (Cl.3:5-9).

Devemos despojarmos das mortalhas da velha vida e deixá-las na sepultura, uma vez que:

- Nós morremos com Cristo (Cl.3:3a). Cristo não apenas morreu por nós (substituição), mas nós também morremos com Ele (identificação). Estávamos mais perto de Cristo do que os dois malfeitores que foram crucificados com Ele. Estávamos na cruz do centro. Na cruz, Cristo não apenas pagou a nossa dívida com Sua morte, mas também quebrou o poder do pecado em nossa vida. O apóstolo pergunta: “Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Rm.6:2).

- Nós vivemos com Cristo (Cl.3:4a). Cristo é a nossa vida. Paulo disse aos filipenses: “Para mim o viver é Cristo” (Fp.1:21). Aos gálatas, Paulo afirmou: “Não sou eu mais quem vive, mas é Cristo que vive em mim” (Gl.2:20). Algumas vezes dizemos de alguém: “a música é sua vida; o esporte é sua vida; fulano vive para trabalhar”. Os tais encontram a vida e tudo o que ela significa na música, nos esportes e no trabalho. Para o cristão, porém, Cristo é a vida; Jesus Cristo domina seu pensamento e preenche sua alma. A essência da vida eterna é conhecer a Cristo (João 17:3).

- Nós ressuscitamos com Cristo (Cl.3:1a). Nossa união com Cristo não é apenas em sua morte, mas também em sua ressurreição. Assim como ele ressuscitou, também ressuscitamos nele para vivermos em novidade de vida. O reinado da morte pelo pecado não tem poder mais sobre nós, uma vez que morremos e ressuscitamos com Cristo. É possível estar vivo e ainda viver na sepultura, porém, quando cremos em Cristo, Ele nos tira da sepultura e nos transporta para os lugares celestiais, onde está assentado à destra de Deus.

2. Colocando vestes novas. Paulo acabara de ordenar aos cristãos a despojar-se e despir-se das mortalhas do velho homem; agora, ordena-os a revestir-se das roupagens do novo homem. Exorta o apóstolo Paulo: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” (Cl.3:12).

"Revesti-vos". O verbo está no imperativo, mostrando que, de uma vez e para sempre, os cristãos deviam tomar como vestimenta as virtudes cristãs. O novo homem precisa exibir vestes novas, as vestes dos filhos do Rei. Vida cristã não é algo que construímos pelos nossos méritos e esforços, mas o resultado daquilo que Deus fez por nós em Cristo Jesus. Agora pertencemos à família de Deus e devemos viver nela de modo digno de Deus.

Paulo oferece uma lista de virtudes que devem ornar a vida do cristão: ”entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade”.  Observe que nesta lista está incluída a “Benignidade”, que é o Fruto do Espírito que estamos tratando nesta Aula.

Na tradução Almeida Revista Atualizada aparece a palavra “Bondade” no lugar de “Benignidade”. Ser bom é ser benevolente para os outros como Deus tem sido para nós. A bondade toma a iniciativa em responder generosamente às necessidades dos outros; ela é expressa em atitudes e atos; denota o espírito amigável e ajudador que procura suprir as necessidades dos outros mediante atos generosos.

Barnabé é chamado de homem bom; ele estava sempre investindo na vida das pessoas: investiu na vida de Paulo, dos cristãos pobres de Jerusalém e mais tarde na vida de João Marcos (cf. At.4:36,37; 15:37).

Uma demonstração clara de Benignidade, ou Bondade, pode ser vista, também, na vida de Isaque, o homem que cavava poços e os entregava aos seus contendores, porque não queria litigar com eles (cf. Gn.26:17- 25).

Lembre-se, o cristianismo é mais do que a mera aceitação de doutrinas ortodoxas; é principalmente um relacionamento correto com Deus e uns com os outros (Tg.1:27). Como filhos de Deus, precisamos nos revestir de vestes novas, ou seja, novas atitudes, a fim de anunciar ao mundo a Benignidade de Deus (1Pd.2.9). Sede, portanto, benignos!

3. Imitando a conduta de Paulo. O apóstolo Paulo tinha uma vida ilibada, e como líder, era um exemplo para os crentes de sua época. Sua maneira de viver era tão santa que ele desafiou os crentes a serem seus imitadores - “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1Co.11:1). Ser santo é ser separado do mundo para Deus. Assim como a cerimônia de casamento separa um homem e uma mulher um para o outro de modo exclusivo, a salvação separa o cristão exclusivamente para Jesus Cristo. E, da mesma forma que seria escandaloso ver uma mulher casada ou um homem casado correr para os braços de outra pessoa, também é um escândalo um cristão viver para o mundo ou para agradar a carne. Não podemos nos esquecer de que ser cristão é ser semelhante a Cristo.

Jesus deve ser o padrão para o nosso viver; Ele tinha uma vida social intensa: ia a casamentos (João 2:1-12), jantares na casa dos amigos (João 12:1-11), mas não se deixou seduzir pelas coisas desse mundo. Tirados do mundo mesmo estando geograficamente no mundo, somos propriedades exclusiva de Deus (1Pd.2:9). Fomos comprados por um alto preço e agora não somos de nós mesmos (1Co.6:19,20). Somos feitos santos aos olhos de Deus por causa do sacrifício de Cristo na cruz, ainda que a santidade seja um alvo progressivo da salvação. Portanto, assim como Paulo seguia o exemplo de Jesus, nós também precisamos também seguir o exemplo do Mestre e nos tornarmos semelhantes a Ele: Benigno.

CONCLUSÃO

Se realmente desejamos expressar um cristianismo vivo, autêntico, precisamos excluir do nosso meio as porfias, pois são obras da carne e maculam o corpo de Cristo. O único antídoto para não cairmos na cilada da Porfia é firmarmos um compromisso verdadeiro de imitar a Cristo em tudo, assim como fez Paulo. A Benignidade de Cristo é para ser imitada por nós, como pede o apóstolo:

Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou. Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave” (Ef.4:31-32; 6:1,2).

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 69. CPAD.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Gálatas, a carta da liberdade cristã.

Antônio Gilberto. O Fruto do Espírito. CPAD.

Ev. Caramuru Afonso Francisco. Benignidade e Bondade, o fruto gêmeo.PortalEBD_2005.

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