1° Trimestre de 2022
Texto Base: Deuteronômio 6.20-25; Salmos 119.105-108
“Estou aflitíssimo; vivifica-me, ó Senhor,
segundo a tua palavra” (Sl.119:107).
Deuteronômio 6:
20.Quando
teu filho te perguntar no futuro, dizendo: Que significam os testemunhos, e
estatutos e juízos que o Senhor nosso Deus vos ordenou?
21.Então
dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó no Egito; porém o Senhor, com mão
forte, nos tirou do Egito;
22.E
o Senhor, aos nossos olhos, fez sinais e maravilhas, grandes e terríveis,
contra o Egito, contra Faraó e toda sua casa;
23.E
dali nos tirou, para nos levar, e nos dar a terra que jurara a nossos pais.
24.E
o Senhor nos ordenou que cumpríssemos todos estes estatutos, que temêssemos ao
Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no
dia de hoje.
25.E
será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes
mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como nos tem ordenado.
Salmos 119:
105.Lâmpada
para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho.
106.Jurei,
e o cumprirei, que guardarei os teus justos juízos.
107.Estou
aflitíssimo; vivifica-me, ó Senhor, segundo a tua palavra.
108.Aceita,
eu te rogo, as oferendas voluntárias da minha boca, ó Senhor; ensina-me os teus
juízos.
INTRODUÇÃO
Dando
prosseguimento ao estudo das Sagradas Escrituras, veremos nesta Aula uma visão
panorâmica dos livros históricos e poéticos; trataremos das experiências e das
instruções relatadas nesses livros, cuja mensagem fortalece os nossos corações.
Os
estudiosos cristãos das Escrituras dividiram o Antigo Testamento em quatro
partes: a Lei (idêntica à Torah judaica); Livros Históricos (Josué, Juízes,
Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester),
Livros Poéticos (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares); e Livros
Proféticos (Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel,
Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Ageu, Sofonias, Zacarias e
Malaquias). Em razão desta classificação é que foi feita a disposição dos
livros em nossa Bíblia. Os livros históricos valem-se da literatura chamada de
“narrativa” para contar as histórias do povo de Deus. Os livros poéticos e de
sabedoria recorrem ao “texto lírico” com o propósito de despertar sentimentos.
Os escritos bíblicos em prosa e poesia revelam a sabedoria divina, que deve ser
aplicada em nosso viver diário; essas mensagens servem de bom remédio e
conservam saudável o nosso espírito, alma e corpo (Pv.17:22).
I. AS HISTÓRIAS DO ANTIGO TESTAMENTO
As
histórias da Bíblia dão testemunho da fidelidade e misericórdia divinas.
1. Os livros
históricos
Os
Livros históricos são os registros da experiência das pessoas da Antiga Aliança
que tiveram com Deus, e da posse da Terra Prometida. O pr. Douglas, citando
Gordon Fee, enfatiza que as narrativas históricas da Bíblia não são meramente
das pessoas que viveram no período da Antiga Aliança, mas são, antes de tudo,
narrativas históricas acerca daquilo que Deus fez para aquelas pessoas e
através delas.
Os
livros históricos são: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2
Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Estes livros retratam a história de Israel
desde a entrada em Canaã (cerca de 1.400 a.C.) até o tempo de Esdras e Neemias
(cerca de 400 a.C.). O Livro de Josué encabeça o rol desses livros históricos.
A narrativa desse Livro relata a história da nação, desde a travessia do Jordão
(Js.3:14-17) até a morte de Josué aos 110 anos de idade (Js.24:29).
Josué,
sem dúvida alguma, é o personagem que predomina na fase da conquista da terra
prometida, tendo sido fiel na sua incumbência de substituir Moisés na liderança
do povo; embora fosse uma missão bastante árdua, o Senhor esteve com ele desde quando
foi chamado (Dt.31:7,8; 34:7-12; Js.1:1-11). Já no início da conquista, Deus
confirma o chamado de Josué aos olhos de todo o povo ao parar as águas do
Jordão para que Israel atravessasse em seco para o lado ocidental da terra de
Canaã (Js.3:1-7, 15-17), bem defronte de Jericó. Esta cidade era a primeira a
ser conquistada, e mais uma vez o Senhor mostra o seu poder ao entregá-la milagrosamente
nas mãos de Israel (Js.6:20,21,24,25). Nesse período, Israel experimentou,
dentre outros, a fidelidade divina ao desfrutar da promessa feita aos
patriarcas (Gn.17:3-8; Êx.3:13-17). A providência divina como na travessia do
Jordão e na queda de Jericó (Js.4:7; Js.6:20), a proteção e a vitória sobre os
inimigos (Js.24:1), dentre outros relatos, demonstram que Deus controla o curso
da história e cumpre as suas promessas (Js.21:45).
2. As histórias dos
Juízes
As
histórias dos juízes são relatadas no livro de Juízes. Nele são contadas as histórias
dos filhos de Israel à época em que se estabeleceram na terra de Canaã após a
morte de Josué até o nascimento de Samuel (aproximadamente 1400 a.C.–1000 a.C.).
Além da curta narrativa do livro de Rute, Juízes fornece o único relato bíblico
desse período. O Livro descreve um ciclo que se repetiu inúmeras vezes durante
o reinado dos juízes. Como os israelitas não conseguiram acabar com as
influências iníquas da terra prometida, envolveram-se em pecados e foram
conquistados e afligidos por seus adversários. Após os israelitas clamarem ao
Senhor pedindo ajuda, Ele enviou juízes para libertá-los de seus inimigos. No
entanto, os israelitas logo voltaram a pecar, e esse ciclo se repetiu (ver Juízes
2:11–19) - ciclos de pecado da nação, servidão a estrangeiros, súplica ao
Senhor e salvação através de libertadores (os juízes).
Israel
havia mergulhado na anarquia (Jz.17:6; 21:25) e na desobediência. Nessa época,
não havia rei em Israel (Jz.18:1), e cada um andava como queria (Jz.21:25). Por
essa razão, a nação entrou em declínio espiritual e fez o que parecia mal aos
olhos do Senhor (Jz.3:7). Como resultado, os israelitas foram subjugados pelas
nações vizinhas (Jz.3:8,12; 6:1; 10:7). Apesar disso, mediante o arrependimento
do povo, Deus levantava libertadores para resgatar Israel da opressão
(Jz.3:9,15; 6:7; 10:10). Os juízes eram muito mais do que julgadores, eles eram
libertadores (Jz.2:16,19; 3:9) usados por Deus para que a nação não fosse
totalmente destruída durante aquele período. Essas histórias apontam para a
fidelidade e a misericórdia divinas (2Tm.2:13).
O
primeiro juiz que encontramos no livro de Juízes é Otiniel; o último foi Sansão,
totalizando o número de 12 juízes. São eles: Otiniel; Eúde; Sangar; Débora (e
Baraque); Gideão; Tola; Jair; Jefté; Ibsã; Elom; Abdom; Sansão. O nome de
Abimeleque não é contado por ter sido um usurpador (cf. Jz.cap.9). Entretanto,
se considerarmos os juízes além do período do livro, teremos os nomes de Eli (1Sm.4:18)
e de Samuel (1Sm.7:15), sendo este último, não somente juiz, mas também profeta
e sacerdote. O nome de Samuel faz parte da transição entre os juízes e a
monarquia e é considerado como o último e o maior dos juízes.
3. As histórias dos
Reis
As
histórias dos reis de Israel, que começa com a história do rei Saul, estão
descritas em vários livros, a saber: 1Sm.10:1-31; 2Samuel; 1 e 2 Reis; 1 e 2
Crônicas. Vale lembrar que a maior parte dos profetas canônicos, exceto seis
deles (Daniel, Ezequiel, Obadias, Ageu, Zacarias e Malaquias), profetizaram
durante a época dos reis; portanto, estes livros correspondem a esta época e
possuem dados importantes sobre este período. Soma-se a isto, o fato de 73 dos
Salmos serem de autoria de Davi e
1 de Salomão. Os livros de
Provérbios, Cantares e Eclesiastes também correspondem ao período dos reis de
Israel, pois foram escritos pelo rei Salomão.
O
período dos reis se divide em duas partes, a saber: a) Reino unido, quando
Israel ainda não havia se dividido em reino do norte e reino do sul. Neste
período reinaram Saul, Davi e Salomão; b) Reino dividido, quando Israel foi
divido em duas partes; o reino do Norte ficou com dez tribos e o reino do Sul
com duas tribos.
Por
volta do ano 1050 a.C., o primeiro rei de Israel, Saul, foi ungido por Samuel (1Sm.10:1,
entretanto, sua confirmação perante o povo aconteceu em Mispa (1Sm.10:17-27) e
a proclamação definitiva ocorreu em Gilgal (1Sm.11:14,15). Saul era o rei que o
povo escolheu; Deus lhes deu um rei segundo a vontade deles - de boa aparência
e grande estatura (1Sm.10:23,24). Seu reinado foi bom apenas no primeiro ano,
mas logo começou a mostrar o seu coração. Sua queda começou quando decidiu
oferecer sacrifícios em Gilgal, ao invés de aguardar a chegada de Samuel,
conforme lhe fora ordenado. Por não ser sacerdote, isto não era da sua
competência. Saul foi desobediente a Deus e a Samuel; foi impaciente e decidiu
fazer as coisas da sua própria maneira e não conforme os mandamentos do Senhor,
sendo, portanto, rejeitado o seu reinado pelo Senhor (1Sm.13:13,14). Deus
escolheu outro para ser rei (1Sm.13:14). Davi foi escolhido como seu substituto
(1Sm.8:5; 9:17).
Davi saiu do exílio ao Trono de Israel. Ele estava
em Ziclague, último “estágio” do seu exílio, quando o exército de Saul foi
abatido diante dos filisteus (cf. 2Sm.1:1). De lá, após a morte de Saul, ele
dirigiu-se a região de Judá; antes, porém, ele consultou o Senhor se Ele
aprovava a sua decisão; e ele foi instruído pelo Senhor a ir para Hebrom, que
ficava cerca de trinta quilômetros a sudoeste de Jerusalém (2Sm.1:1) - “E sucedeu, depois disso, que Davi
consultou ao SENHOR, dizendo: Subirei a alguma das cidades de Judá? E disse-lhe
o SENHOR: Sobe. E disse Davi: Para onde subirei? E disse: Para Hebrom”. Em
Hebrom, os seus habitantes se ajuntaram e “ungiram a Davi rei sobre a casa de
Judá” (2Sm.2:4) - “Então, vieram os
homens de Judá e ungiram ali a Davi rei sobre a casa de Judá...” (2Sm.2:2-4).
Por sete anos e seis meses, Davi reinou somente
sobre a tribo de Judá, tendo Hebrom como sua capital. Ele aceitou ser rei de
uma única tribo, até que o Senhor lhe abrisse a porta para reinar sobre todo
Israel. Davi não se precipitou para assumir o controle da nação inteira. Antes
de tomar uma decisão difícil, buscava o Senhor (2Sm.2:1).
Sete anos e meio mais tarde, Davi tornou-se rei da
nação inteira (2Sm.5:1-5); reinou sobre as doze tribos por 33 anos, totalizando
quarenta anos de reinado (2Sm.5:4,5). Foi somente no governo de Davi que houve
a apropriação de todo território prometido a Abraão (ver Gn.15:18) - “Da idade de trinta anos era Davi quando
começou a reinar; quarenta anos reinou. Em Hebrom reinou sobre Judá sete anos e
seis meses; e em Jerusalém reinou trinta e três anos sobre todo o Israel e
Judá” (2Sm.5:4,5).
Após a morte de Davi, Salomão, seu filho, assumiu o
trono, e após a sua morte, o reino foi dividido em duas partes - Reino do Norte
e Reino do Sul. Com o passar do tempo, ambos os reinos rebelaram-se contra
Deus, e por causa disso Deus os levou para o exílio. Em 722 a.C., Israel foi
conquistado pelos Assírios. Em 586 a.C., Judá caiu diante da Babilônia.
Contudo, em 539 a.C., cumprindo sua promessa, Deus restaurou o trono de Davi.
E, do reino de Judá, a esperança messiânica se cumpriu em Jesus (Lc.1:32,33).
Essas narrativas mostram que os planos do Senhor não podem ser frustrados (Jó
42:2).
II. OS LIVROS POÉTICOS (E DE SABEDORIA) DO ANTIGO
TESTAMENTO
1. Os livros
sapienciais e poéticos
Como já foi dito na introdução desta Aula, os atuais
estudiosos da Bíblia Sagrada dividem os livros do Antigo Testamento em: livros
da lei, livros históricos, livros poéticos e livros proféticos. Segundo o pr.
Caramuru Afonso, o grupo dos livros poéticos são chamados assim porque são
"poesias", ou seja, escritos que têm como ponto-de-vista o mundo
interior do autor. Ora, na mente do escritor, basicamente temos dois tipos de
faculdades: a sensibilidade e o entendimento. Desta forma, os "livros
poéticos" traduzem tanto ensinamentos (resultado do entendimento, da
reflexão), como sentimentos (resultado da sensibilidade, das emoções e sensações).
Não é de se admirar, portanto, que, no grupo dos livros poéticos, tenhamos tantos
livros de ensinamentos (os chamados "livros de sabedoria" ou
"livros sapienciais”) como livros de louvores e cânticos.
Os "livros poéticos" são cinco, a saber:
Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Destes, três são
sapienciais - Jó, Provérbios e Eclesiastes; e dois são livros de louvores e
cânticos - Salmos e Cantares de Salomão. Entre os hebreus, todos eles estão
classificados entre os "Ketuvim" (outros escritos), que constitui na
última parte do cânon judaico, que se inicia, precisamente, com os Salmos.
Jesus fez menção a esta parte do cânon judaico: “A seguir, Jesus lhes disse:
São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se
cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos
Salmos” (Lc.24:44).
2. Eclesiastes,
Provérbios e Jó
- Eclesiastes. “Eklesiastes”,
significa "orador de uma assembleia convocada"; deriva do termo “eklêsia”,
que é a palavra do Novo Testamento para "igreja". Aparentemente,
Salomão, já perto do fim de uma vida desperdiçada em busca das coisas deste
mundo, foi levado ao arrependimento pela repreensão do Senhor (1Rs.11:9-13).
Muito provavelmente, foi nesta ocasião que ele escreveu, sob a inspiração do
Espírito Santo, a respeito da futilidade de suas buscas materialistas e seus
esforços para encontrar paz alegria nas coisas temporais. A perspectiva de
Salomão na época em que ele escreveu é a chave para entender o livro de
Eclesiastes de modo apropriado, e para explicar o seu pessimismo geral. Salomão
escreve do mesmo ponto de vista em que tinha vivido a maior parte da sua vida,
a de alguém "debaixo do sol" (Ec.1:3,30).
A aplicação deste livro à vida cristã é vista pelo
fato de que Salomão está advertindo aqueles fiéis que tinham sido atraídos
pelos valores, riquezas e filosofias deste mundo a retornarem de seus caminhos
esbanjadores. Os que não são crentes são advertidos pelo próprio exemplo de
Salomão, de que a vida, sem Cristo, na melhor das hipóteses, é apenas vaidade.
No final do livro Salomão dá o célebre conselho: “Porque Deus há de trazer a
juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam
más” (Ec.12:14).
- Provérbios. Segundo
Hernandes Dias Lopes, este Livro é um manual de sabedoria para a vida.
Sabedoria divina, e não sabedoria deste século. Sabedoria do alto, e não
sabedoria da terra. Sabedoria que nos toma pela mão e nos conduz em segurança
por caminhos aplanado de sanidade e santidade, justiça e misericórdia,
fidelidade e amor. Provérbios abrange todas as áreas da vida. Trata da vida
pessoal e familiar. Aborda o trabalho e o lazer. Enfatiza o relacionamento com
Deus e com as pessoas. Destaca a necessidade de sermos justos e também
misericordiosos. Estabelece a necessidade de sermos criteriosos com as ações e
as motivações, com as palavras e os pensamentos.
- Jó. O livro de Jó
é um belo exemplo de poesia hebraica, ainda que, na verdade, nem todo o livro tenha
forma poética. O prólogo (Jó 1; 2) e o epílogo (Jó 42:7-16) estão escritos em
prosa. O drama do sofrimento de Jó, o estilo majestoso e a natureza das discussões
ajudaram a tornar o livro de Jó universalmente aceito como uma obra-prima
literária. O propósito do livro é mostrar a sabedoria insondável da providência
e benevolência de Deus, até mesmo nas provações trazidas aos seus filhos. Ele
também explica por que o Senhor permite que as pessoas justas sofram: para
expor a sua fragilidade e o seu caráter pecaminoso, para fortalecer a sua fé, e
para purificá-las. A perspectiva espiritual do relato e o fato de que o Eterno
exerce controle total sobre Satanás incentivam a confiança completa em Deus.
3. Salmos e
Cantares de Salomão
- Salmos. O livro de
Salmos é uma coletânea das obras de, pelo menos, seis autores. Os títulos dos
salmos creditam a Davi a autoria de setenta e três salmos, e dois outros são
atribuídos a ele nas páginas do Novo Testamento (Salmo 2, cf. At.4:25; Salmo
95, cf. Hb.4:7). Asafe foi o autor de doze salmos (Salmos 50; 7 a 83), ou, pelo
menos, é o responsável pela preservação deles. Os filhos de Cora escreveram
onze (Salmos 42; 44 a 49; 84; 85; 87; 88); Salomão escreveu dois (Salmos 72 e
127); o salmo 89 é atribuído a Etã; Moisés é o autor do salmo 90 (e
possivelmente do salmo 91).
Os salmos transmitem poderosamente os sentimentos
que são comuns aos crentes de todas as eras. Eles são intimamente pessoais,
pelo fato que exploram todo o campo das emoções humanas: do profundo desespero
ao prazer extasiado; de um desejo por vingança a um espírito de humildade e
perdão; de uma súplica fervorosa a Deus, pedindo proteção, ao louvor jubiloso
pela sua libertação. O princípio geral que pode ser visto em todos os salmos é
o de que os autores têm uma confiança serena na orientação e na provisão de
Deus.
Myer Pearlman expressa assim acerca do Livro de
Salmos:
O livro dos Salmos é uma
coletânea de poesia hebraica inspirada pelo Espírito Santo; descreve a adoração
e as experiências espirituais do povo de Deus no Antigo Testamento. É a parte
mais íntima e pessoal deste testamento, pois nos mostra como era o coração dos
fiéis naquele tempo, e a sua comunhão com Deus.
Nos livros históricos da
Bíblia, Deus fala acerca do homem; nos livros proféticos, Deus fala ao homem, e
nos Salmos, o homem fala a Deus. A alma do crente pode ser comparada a um órgão
cujo executor é Deus. Nos Salmos, percebe-se como Deus toca todas as emoções da
alma piedosa, produzindo cânticos de louvor, confissão, adoração, ações de
graças, esperança e instrução. Até hoje, não foi achada linguagem melhor para
que nós nos expressemos diante de Deus. As palavras dos Salmos são a linguagem
da alma” (PEARLMAN, Myer. Salmos: adorando a Deus com os filhos de Israel. Rio
de Janeiro: CPAD, 2020, p.5).
- Cantares de Salomão. Cantares de
Salomão é parte de uma coletânea de livros do Antigo Testamento conhecida como
os "Megilloth" (pergaminhos). Os outros livros incluídos neste grupo
são Rute, Ester, Eclesiastes e Lamentações. Cantares de Salomão é importante na
tradição judaica porque partes dele eram entoadas na Festa anual da Páscoa. Mas,
este Livro tem sido o livro mais mal interpretado de todas as Escrituras.
Talvez isto seja pelo fato de que é o único livro da Bíblia em que o enredo
principal é sobre o "amor humano".
- Alguns interpretam o livro como um retrato literal
e histórico do amor humano e do casamento puro. Eles sugerem que nunca se teve
em mente um significado figurado ou alegórico. A este grupo pertencem os que
dizem que Salomão estava apenas escrevendo um livro sobre o amor profano e
cânticos de casamento que têm pouco ou nenhum valor espiritual.
- Outra interpretação do livro é a de que o seu significado
é alegórico, e que tudo o que ele diz é figurado. Os que defendem esta teoria
dizem que Salomão escreveu sob a inspiração do Espírito Santo, para mostrar o
amor do Senhor por Israel e o amor de Cristo pela igreja e por cada crente.
Como "esposa" de Cristo, os crentes devem retribuir este amor como
obrigados por votos de casamento. A interpretação típica reconhece o cenário
histórico, mas crê que os personagens e os relacionamentos são tipos de Cristo
e da igreja.
- Alguns sugerem que Cantares de Salomão falam apenas
de Salomão e a mulher sulamita, uma interpretação raramente respaldada. Em
contraste, muitos acreditam que há três pessoas envolvidas na narrativa:
Salomão, a sulamita e o pastor amante (Ct.1:7; 4:7-15). A perspectiva histórica
é importante pelo fato de que Salomão e a sulamita estão descrevendo as
ramificações do amor puro, ao passo que o pastor está tentando desviar o
coração da mulher de Salomão. A ênfase do pastor é mostrar que a mulher foi
tirada de sua pátria para o palácio do rei Salomão, como sua esposa, mas ela
preferiria estar em casa com o pastor, perto de tudo o que é precioso para ela.
O aspecto típico dos personagens diz respeito ao relacionamento de Deus com o
seu povo. Salomão representa Deus e Cristo, e a mulher sulamita (como a esposa)
representa o seu povo escolhido (Is.54:5,6; Jr.2:2; Ef.5:23-25). Finalmente, o
pastor e amante é um retrato do mundo e suas ciladas, que buscam destruir o elo
formado entre Deus e o seu povo.
- Segundo o pr. Douglas, o livro de Cantares ilustra
o compromisso, a intimidade e o amor que deve existir no casamento. Refere-se
ao plano original de Deus acerca do relacionamento conjugal. O versículo-chave
sintetiza o ideal da fidelidade entre o marido e a sua mulher: “Eu sou do meu
amado, e o meu amado é meu” (Ct.6:3).
III. UMA MENSAGEM AO CORAÇÃO
1. Uma mensagem de
soberania
Nas histórias do povo de Deus da Antiga Aliança
sobressaem a soberania de Deus; esta soberania é a garantia de que as promessas
de Deus jamais falham, e isto é importantíssimo para o fortalecimento de nossa
fé. Ao longo da história da humanidade, houve tentativas humanas e diabólicas
para impedir os planos de Deus, mas todas elas foram frustradas, haja vista que
a vontade de Deus é soberana e nada, absolutamente nada, pode mudar o rumo daquilo
que previamente foi estabelecido por Deus para acontecer. Satanás usou todas os
seus ardis para que as promessas divinas não fossem cumpridas, inclusive a
promessa da encarnação de Cristo, prometida por Deus logo após a queda do homem
(Gn.3:15). Satanás foi vencido e Deus cumpriu a sua Promessa, formando um novo
povo, a Igreja, através da morte expiatória de Cristo na cruz do Calvário.
Mas, para que o Filho de Deus, o Salvador do mundo,
fosse encarnado Deus prometeu escolher um povo dentre todos os povos; esse povo
seria Israel, oriundo das entranhas de Abraão. O povo de Israel foi formado,
mas logo que herdou a Terra Prometida se desviou do Senhor seu Deus. Na sua
obstinação em desobedecer aos ditames de Deus, Israel sofreu progressivas sanções
da parte do Senhor, pois Deus corrige a quem ama e castiga a quem quer bem
(Hb.12:5-11), numa escalada já prevista na lei de Moisés (Dt.28:15-68),
escalada esta que foi rigorosamente cumprida por Deus que chegou a tirar o povo
da própria Terra Prometida para Babilônia (2Cr.36:15-21), sem falar na integral
destruição das dez tribos do Norte (cf. 2Rs.17:1-18). No entanto, apesar de
todos os seus pecados, em Israel sempre houve um remanescente fiel, ou seja,
pessoas que, ainda que anônimas e despidas de poder político, social ou
econômico, serviam a Deus com sinceridade, obedecendo à Sua Palavra. Em
determinado tempo, Deus resgatou da Babilônia o remanescente de Judá conforme a
promessa feita a Davi (Ed.9:13). Deus conservou a nação de Judá e assim preparou
o caminho para a vinda do Messias prometido (Atos 13:17-23). Assim sendo, nosso
coração deve se aquietar, porque Deus é soberano, Ele age na história e nada
acontece fora da sua vontade (Mt.10:29,30). Glórias a Deus!
2. Uma mensagem de
sabedoria
Sabedoria, segundo a Bíblia, é a capacidade
para fazer boas escolhas e distinguir o que é bom do que é ruim. De acordo
com a Bíblia, a verdadeira sabedoria só pode ser alcançada através do Espírito
Santo e de uma vida dedicada a Deus. A sabedoria que vem de Deus vale muito mais
que a sabedoria do mundo. Segundo a bíblia, o sábio é aquele que
conhece e teme a Deus. Não adiantaria termos todo conhecimento do mundo e perdermos
a salvação de nossas almas por não caminhar com aquele que criou todas as
coisas.
Salomão, na sua cosmovisão, falando do valor da
sabedoria, disse: “Porque melhor é a Sabedoria do que joias e, de tudo o que se
deseja, nada se pode comparar com ela” (Pv.8:11). O ser humano corre sofregamente
atrás de prata, ouro, joias e riquezas. Investe seu tempo, usa sua energia,
devota sua inteligência e emprega seus talentos para amealhar riquezas. Muitos
chegam a alcançar sucesso nessa empreitada, porém deixam para trás os destroços
de sua busca insaciável. Há aqueles que destroem o casamento e a família para
atingirem o topo da pirâmide social. Acumulam bens, mas perdem a família.
Ajuntam tesouros, mas perdem a alma. A Sabedoria divina nos adverte: a
Sabedoria é melhor do que joias; e nada neste mundo, nem as riquezas nem os
prazeres, podem ser comparado à sabedoria. O néscio ajunta tesouros julgando
que essa riqueza lhe dará felicidade e segurança, porém, esses tesouros acabam
se transformando no combustível de sua própria destruição. Quando alguém busca
conhecimento e sabedoria em vez de correr atrás de bens materiais, encontra
segurança e felicidade.
Infelizmente, hoje, o mundo tem muito conhecimento,
porém, pouca sabedoria. Somos considerados a sociedade do conhecimento; avançamos
em ciência, tecnologia e comunicação; temos satélites e a internet, e sabemos
que muito mais novidade vem por aí. Mas, o mesmo conhecimento que nos trouxe
conquistas e conforto, trouxe-nos guerras e morte. Tanto não alcançamos felicidade
pelo livre e pleno exercício da razão, como multiplicamos alternativas
emocionais, hedonistas, utilitárias e egocêntricas para a vida comum.
Distanciamo-nos uns dos outros; estranhamo-nos; isolamo-nos. Nossos índices de
drogadição, alcoolismo, acidentes de trânsito, conflitos e dissoluções
familiares aumentaram drasticamente.
Diante desse quadro, eis uma conclusão: temos muito
conhecimento, mas pouca sabedoria. Conhecimento é domínio da informação que se
refere ao objeto de interesse; sabedoria é a capacidade de utilizar o
conhecimento em prol da vida e dos relacionamentos. O sábio não é, necessariamente,
aquele que tem muito conhecimento, mas aquele que canaliza adequadamente para
as ações e decisões do dia-a-dia todo o conhecimento que tem. Assim, um morador
da periferia, um profissional artesão, um administrador de negócio próprio sem
formação acadêmico, uma dona de casa ou um jovem que trabalha no campo podem
ser mais sábios que um doutor ou um professor universitário. Com certeza, nossa
geração é a geração do conhecimento, mas carece de uma sabedoria que a ajude a
encontrar veredas de vida e paz.
Deus é a fonte da sabedoria (Pv.2:6), e o propósito
da sabedoria é agradar a Deus (Pv.3:5). Desse modo, segundo o pr. Douglas, todo
o conselho prático está subordinado à sabedoria divina. Dentre eles, citamos:
andar retamente (Pv.2:7); fugir da luxúria (Pv.2:16); não ser preguiçoso (Pv.6:6);
manter boa reputação (Pv.22:1); tomar cuidado no falar (Ec.5:2); não confiar no
dinheiro (Ec.5:10); viver com alegria (Ec.9:7); remir o tempo (Ec.12:1); manter
a integridade (Jó 1:22); aceitar a repreensão (Jó 5:17); confiar no Senhor (Jó
19:25); e desfrutar do verdadeiro amor (Ct.8:7). No entanto, essas ações não
devem ser observadas de forma legalista, elas devem ser o resultado do toque
divino no coração humano (Pv.4.:3).
3. Uma mensagem de
adoração
De acordo com a Bíblia, a adoração está associada
com a ideia de culto, reverência, veneração, por aquilo que Deus é (Santo,
Justo, Amoroso, Soberano, Misericordioso etc.), ou seja, independente do que
Deus faz, fez ou fará, nós devemos adorá-lo, pois Ele é Deus. É dever de cada
criatura inteligente adorar a Deus. Os anjos O adoram (Ne.9:6); os Seus santos
O adoram; e todos os seres são chamados a dar glória a Deus e adorá-Lo (Salmos
148), e dentro em breve tudo que há sobre a terra O adorará (Sf.2:11; Zc.14:16;
Sl.86:9).
Um dos livros poéticos que mais expressam mensagens de
adoração é o Livro de Salmos. Todos os livros da Bíblia aprofundam a
compreensão de nosso relacionamento com Deus, mas os Salmos, incomparavelmente,
enriquecem a experiência desse relacionamento; eles possuem a peculiaridade de
expressar as mais profundas emoções do coração humano, tais como: medo,
angústia e tristeza (Sl.116:3); força, segurança e alegria (Sl.118:14).
Sem dúvida o Livro de Salmos é o mais subjetivo dos
livros da Bíblia; ele expressa realidades intimas vivenciadas por aqueles que
amam a Deus; ele tem formado a oração e a adoração dos santos de todas as
épocas. Crentes têm aplicado individualmente os Salmos para conforto e inspiração,
e encontram neles modelos para oração e adoração pessoal. Toda emoção humana tem
seu eco no livro de Salmos, e a maravilhosa mensagem deles é que Deus se importa
não somente com as circunstâncias externas de nossas vidas, mas com cada reação
à variadas experencias da vida.
Nas palavras do pr. Douglas, nos Salmos, destacam-se,
entre outros retratos da vida espiritual: o coração que confia (Sl.3:3); o
coração contrito (Sl.6:1); o coração que glorifica (Sl.8:1), o coração
agradecido (Sl.30:1), o coração arrependido (Sl.51:1). O salmista, a fim de
manter a verdadeira adoração em todas as circunstâncias da vida, descreveu a
conduta por ele adotada: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar
contra ti” (Sl.119:11).
CONCLUSÃO
Os livros históricos são narrativas da história de
Israel desde a morte de Moisés até a salvação do povo judeu no reinado de
Assuero, quando quase foram totalmente destruídos; trata-se do mais
pormenorizado e completo relato histórico de um povo da Antiguidade, que nos
prova quanto Deus vela pelo Seu povo e para o cumprimento de Suas promessas. Os
livros poéticos e sapienciais revelam a sabedoria divina, que deve ser aplicada
em nosso viver diário; suas mensagens alegram o nosso coração, servem de bom
remédio, e conservam saudável o nosso espírito, alma e corpo (Pv.17:22). Enfim,
as histórias e as poesias da Bíblia falam ao coração do ser humano.
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e
Grego. CPAD
William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo
e Novo Testamento).
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal.
CPAD.
Norman L Geisler. Introdução geral à Bíblia. Vida
Nova.
Pr. Douglas Baptista. A Supremacia das Escrituras –
A inspirada, Inerrante e Infalível Palavra de Deus. CPAD.
Pr. Caramuru Afonso Francisco. Os Livros históricos
e poéticos. PortalEBD_2003.
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