quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A LEI MOSAICA E SEU SIGNIFICADO ATUAL




 

 
 
Por: Samuel Rindlisbacher
 
Cristãos renascidos precisam obedecer à Lei de Moisés ou estão dispensados de cumpri-la?

Há algum tempo fomos questionados por que escrevemos tão pouco sobre o cumprimento dos Dez Mandamentos, que seria muito importante para receber a bênção de Deus. Perguntas assim confirmam a insegurança que existe entre os crentes em relação à observância da Lei de Moisés.

Na Igreja de Jesus surgem perguntas como: “Ainda devo guardar a Lei?” “Os Dez Mandamentos são obrigatórios?” “Devo guardar o domingo?”, etc. Existem muitas dúvidas em relação à Lei e nossa posição diante de suas exigências.

A Lei e a Graça

É da maior importância compreender o verdadeiro caráter e o objeto da lei moral, como nos é apresentada neste capítulo [Êx 20]. Existe uma tendência do homem para confundir os princípios da lei com graça, de sorte que nem a lei nem a graça podem ser perfeitamente compreendidas. A lei é despojada da sua austera e inflexível majestade, e a graça é privada de todos os seus atrativos divinos. As santas exigências de Deus ficam sem resposta, e as profundas e múltiplas necessidades do pecador permanecem insolúveis pelo sistema anômalo criado por aqueles que tentam confundir a lei com a graça. Com efeito, nunca podem confundir-se, visto que são tão distintas quanto o podem ser duas coisas. A lei mostra-nos o que o homem deveria ser; enquanto que a graça demonstra o que Deus é. Como poderão, pois, ser unidas num mesmo sistema? Como poderia o pecador ser salvo por meio de um sistema formado em parte pela lei e em parte pela graça? Impossível: ele tem de ser salvo por uma ou por outra. (página 203)

Em que consiste a Lei de Moisés?

Quando se faz referência à Lei de Moisés nas igrejas, geralmente está se falando dos Dez Mandamentos. Mas esse é um engano, pois cumprir a Lei Mosaica é muito mais: ela é composta de todo o código de leis formado por 613 disposições, ordens e proibições. Em hebraico a Lei é chamada de Torá, que pode significar lei como também instrução ou doutrina. O conteúdo da Torá são os cinco livros de Moisés, mas o termo Torá é aplicado igualmente ao Antigo Testamento como um todo.

Neste artigo usaremos o termo Torá para designar os cinco livros de Moisés, especialmente a compilação das leis mosaicas, as 613 disposições, ordens e proibições que mencionamos.

• A Lei pode ser dividida em Dez Mandamentos , que no hebraico são chamadas simplesmente de As Dez Palavras. Eles regulamentam a relação do ser humano com Deus e com seu próximo.

• No código mosaico encontramos também o Livro da Aliança das Ordenanças Civis e Religiosas, que explica e expõe detalhadamente o significado dos Dez Mandamentos para Israel.

• O código mosaico ainda contém as leis cerimoniais, que regulavam o ministério no santuário do Tabernáculo e, posteriormente, no Templo. Elas tratavam também da vida e do serviço dos sacerdotes.

Em conjunto, todas essas disposições, ordens e proibições formam a Lei Mosaica. No judaísmo ortodoxo, além dessas 613 ordenanças, há ainda as leis do Talmude, a transmissão oral dos preceitos religiosos e jurídicos compilados por escrito entre os séculos III-VI d.C. A Torá e o Talmude são o centro da devoção judaica.

Jesus Cristo e a Lei de Moisés

É interessante observar que Jesus posicionou-se claramente a favor do código legal mosaico, pois disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). Entretanto, Ele rejeitou com veemência as ordenanças humanas e as obrigações impostas apenas pela tradição judaica (compiladas, posteriormente, no Talmude), afirmando: “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição. Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que podereis aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor, então, o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes” (Mc 7.8-13).

Jesus defendeu firmemente a Palavra de Deus. Ele considerava o Pentateuco como realmente escrito por Moisés, inspirado por Deus e normativo para Sua própria vida e Seu ministério, pois afirmou: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus” (Mt 5.18-19).

A quem foi dada a Lei de Moisés?

As passagens bíblicas seguintes documentam que a Lei de Moisés foi dada ao povo judeu, ou seja, a Israel:

“E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje vos proponho?” (Dt 4.8).

“Mostra a sua palavra a Jacó, as suas leis e os seus preceitos, a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; todas ignoram os seus preceitos. Aleluia!” (Sl 147.19-20).

“São estes os estatutos, juízos e leis que deu o Senhor entre si e os filhos de Israel, no monte Sinai, pela mão de Moisés” (Lv 26.46).

“São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas” (Rm 9.4).

A Lei de Moisés foi entregue a Israel

A Lei fez de Israel algo especial, transformando-o em parâmetro para todos os outros povos. A Bíblia exprime essa verdade da seguinte maneira: “Porque tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra” (Dt 7.6). Por conseqüência, o Israel do Antigo Testamento era a única nação cuja legislação, jurisdição e jurisprudência tinham sua origem na pessoa do Deus vivo.

Hoje não é essa a situação de Israel, pois o povo continua incrédulo e não está sob o governo do Messias. No futuro, quando Israel tiver se convertido a Jesus, a Lei divina será seguida por todo o povo judeu. O próprio Deus estabelecerá a teocracia como forma de governo, definirá a legislação e executará justiça em Israel. Sobre a situação vigente quando o Messias estiver reinando, a Bíblia diz: “Deleitar-se-á no temor do Senhor; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos; mas julgará com justiça os pobres e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso” (Is 11.3-4).

A situação futura das nações será como descreve Isaías 2.3: “Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do Senhor, de Jerusalém”. Deus está preparando o cumprimento dessa profecia. Por isso, não devemos nos admirar quando todo o poder das trevas se levanta para atrapalhar, pois o que está em jogo é o domínio divino sobre o mundo, domínio que virá acompanhado de todas as suas abençoadas consequências! Quando o Senhor reinar, pecado será pecado, injustiça e mentira serão chamadas pelos seus nomes e acontecerá o que está escrito em Jeremias 25.30-31: “O Senhor lá do alto rugirá e da sua santa morada fará ouvir a sua voz; rugirá fortemente contra a sua malhada, com brados contra todos os moradores da terra, como o eia! dos que pisam as uvas. Chegará o estrondo até à extremidade da terra, porque o Senhor tem contenda com as nações, entrará em juízo contra toda a carne; os perversos entregará à espada, diz o Senhor”. A oração de Jesus também se cumprirá: “Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.9-10).

Até que ponto as nações têm o dever de seguir a Lei Mosaica?

Provérbios 29.18 diz a respeito: “Não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é feliz”. Toda nação que seguir esse conselho se dará bem!

A Lei de Moisés foi entregue ao povo de Israel com a seguinte finalidade: “Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida” (Pv 6.23). Deus queria que Israel fosse uma clara luz no meio da escuridão espiritual em que viviam os povos e um contraponto às trevas do pecado. Por essa razão Balaão, o profeta gentio, foi compelido a proclamar: “...eis que é povo que habita só e não será reputado entre as nações. Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! Que boas são as tuas moradas, ó Israel!” (Nm 23.9; 24.5). Balaão reconheceu que Deus era com Israel, que Ele velava sobre esse povo, morava no meio dos israelitas e lhes dava segurança e estabelecia a ordem através da Lei.

Mesmo a meretriz Raabe, que vivia na cidade ímpia de Jericó, sentiu-se obrigada a declarar aos dois espias judeus: “Bem sei que o Senhor vos deu esta terra, e que o pavor que infundis caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desmaiados. Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito; e também o que fizestes aos dois reis dos amorreus, Seom e Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes” (Js 2.9-11).

Quando a rainha de Sabá (atual Iêmen) visitou o rei Salomão, exclamou admirada: “Foi verdade a palavra que a teu respeito ouvi na minha terra e a respeito da tua sabedoria. Eu, contudo, não cria no que se falava, até que vim e vi com meus próprios olhos. Eis que não me contaram a metade da tua sabedoria; sobrepujas a fama que ouvi. Felizes os teus homens, felizes estes teus servos que estão sempre diante de ti e ouvem a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, teu Deus, que se agradou de ti para te colocar no seu trono como rei para o Senhor, teu Deus; porque o teu Deus ama a Israel para o estabelecer para sempre; por isso, te constituiu rei sobre ele, para executares juízo e justiça” (2 Cr 9.5-8).

O nome de Deus era conhecido muito além das fronteiras de Israel. As nações reconheciam que Israel era singular, admiravam seu maravilhoso Templo e vinham para louvar seu Deus. Assim era respondida a oração que Salomão fizera por ocasião da inauguração do Templo: “Também ao estrangeiro, que não for do teu povo de Israel, porém vier de terras remotas, por amor do teu nome (porque ouvirão do teu grande nome, e da tua mão poderosa, e do teu braço estendido), e orar, voltado para esta casa, ouve tu nos céus, e faze tudo o que o estrangeiro te pedir, a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome, para te temerem como o teu povo de Israel e para saberem que esta casa, que eu edifiquei, é chamada pelo teu nome” (1 Rs 8.41-43).


Até que ponto, então, as nações do mundo têm o compromisso de obedecer à Lei de Moisés? Bem, na verdade ninguém tem a obrigação de cumprir lei alguma. Nenhuma nação é obrigada a se orientar pelo código de leis divinas. Mas quando, de livre e espontânea vontade, ela se sujeita às ordens de Deus, essa é a melhor escolha, com os melhores resultados práticos. Cada povo que segue as orientações do Senhor experimenta o que diz o Salmo 19.8-11: “Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos. O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis que o ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa”.

A História nos ensina que os povos que desprezaram as leis divinas de maneira consciente, que as pisotearam, cedo ou tarde desapareceram de cena. Basta pensar na ex-República Democrática Alemã ou na União Soviética, que não existem mais. Mas os povos que estabelecem sua legislação e fundamentam sua constituição sobre as leis divinas, mesmo que seja de maneira imperfeita, são povos abençoados. A Bíblia diz: “Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Sim, bem-aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor!” (Sl 144.15).

Será que hoje vivemos estressados, emocionalmente doentes e desorientados porque deixamos de obedecer à Palavra de Deus? Será que os líderes da economia mundial e os políticos tomam tantas decisões equivocadas por negligenciarem a Palavra do Senhor? Será que hoje as pessoas andam insatisfeitas e infelizes porque desprezam as ordens divinas? Com toda a certeza, pois o desprezo pelos decretos divinos sempre acaba conduzindo à ruína – espiritual, emocional e financeira.

A Igreja de Jesus deve cumprir a Lei?

O Senhor Jesus, cabeça da Igreja (Ef 5.23), validou toda a Lei Mosaica, inclusive as 613 disposições, ordens e proibições, ao afirmar: “É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei” (Lc 16.17). Ele avançou mais um passo, dizendo: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). Jesus, ao nascer, também foi colocado sob a Lei: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4). Ele foi criado e educado segundo os preceitos da Lei, pois cumpria suas exigências.

O Senhor Jesus, porém, não apenas se ateve pessoalmente a toda a Lei de Moisés. Foi essa mesma Lei que O condenou à morte. Quando tomou sobre Si todos os nossos pecados, teve de morrer por eles, pois a Lei assim o exige. Vemos que a Lei foi cumprida e vivida por Jesus, e através dEle ela alcançou seu objetivo. Por isso está escrito que “...o fim da Lei é Cristo” (Rm 10.4).

Quando sou confrontado com a Lei Mosaica, ela me apresenta uma exigência que devo cumprir. Deus diz em Sua Lei : “...eu sou santo...” e exige de nós: “...vós sereis santos...” (Lv 11.44-45). Assim, a Lei me coloca diante do problema do pecado, que não posso resolver sozinho. O apóstolo Paulo escreve: “...eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7.14).

A lei expõe e revela nossa incapacidade de atender às exigências divinas, pois ela nos confronta com o padrão de Deus. Ela nos mostra a verdadeira maneira de adorá-lO, estabelece as diretrizes segundo as quais devemos viver e regulamenta nossas relações com nosso próximo. Além disso, a Lei é o fundamento que um dia norteará a sentença que receberemos quando nossa vida for julgada por Deus. Pela Lei, reconhecemos quem é Deus e como nós devemos ser e nos portar. Mas existe uma coisa que a Lei não pode: ela não consegue nos salvar. Ela nos expõe diante de Deus e mostra que somos pecadores culpados. Essa é sua função.

Lembremos que Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). O Filho de Deus está afirmando que veio a este mundo para cumprir a Lei com todas as suas 613 disposições, ordenanças e proibições. Ele realmente cumpriu todas elas, pelo que está escrito: “...o fim da lei é Cristo” (Rm 10.4). Ele conduziu a Lei ao seu final; ela está cumprida. Por que Ele o fez? Encontramos a resposta quando lemos o versículo inteiro: “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4). Jesus cumpriu a Lei para todos, mas Sua obra é eficaz apenas para todo aquele que crê. Segundo a Bíblia, que tipo de fé é essa? É a fé que sabe...

...que pessoa alguma é capaz de cumprir a Lei e que ninguém consegue satisfazer as exigências divinas.

... que para isso o Filho de Deus, Jesus Cristo, veio ao mundo, cumprindo as exigências da Lei até nos mínimos detalhes.

...que Jesus Cristo tomou sobre Si, em meu lugar, o castigo da Lei, que é a morte.

Agora, talvez, muitos perguntem: Não estamos removendo a base que sustenta uma ética comprometida ao dizermos que a Lei não vale mais para os cristãos renascidos? Será que saberemos como nos comportar e o que é certo ou errado se dissermos que não é preciso cumprir a Lei de Moisés?

Jesus estabeleceu uma ética muito superior...

...à ética da Lei de Moisés. Ela exige: “Não adulterarás” (Êx 20.14). Mas Jesus disse: “qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela” (Mt 5.28). A lei de Moisés impõe: “Não matarás” (Êx 20.13). Mas Jesus ensina: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5.44).

A ética estabelecida por Jesus Cristo supera tudo que já houve em matéria de lei moral e toda e qualquer possibilidade dentro da ética humana. Jesus exige que cumpramos normas diametralmente opostas ao nosso comportamento natural. Essa ética estabelecida por Jesus só pode ser seguida por pessoas que nasceram de novo, que entregaram todo o seu ser ao Senhor: “Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei” (Hb 10.16). A Bíblia diz, ainda, acerca dos renascidos: Deus “...nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica” (2 Co 3.6).

Curiosamente, Paulo escreveu essas palavras justamente à igreja que tinha mais problemas com ira, ciúme, imoralidade, libertinagem e impureza espiritual entre seus membros. Mas, ao admoestá-los, ele estava dizendo aos crentes de Corinto – e, por extensão, a todos nós – que é possível ter uma ética superior e viver segundo os elevados preceitos de Jesus quando nascemos de novo. Com isso os cristãos não estão rejeitando a ética da Lei de Moisés mas estabelecem uma ética muito superior, a ética do Espírito Santo, do qual a Bíblia diz: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei” (Gl 5.22-23).

Como, porém, colocamos isso em prática? Simplesmente vivendo um relacionamento íntimo e autêntico com Jesus Cristo. O que pensamos, o que falamos, o que fazemos ou deixamos de fazer deve ser determinado somente por Jesus: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus” (Cl 3.17). Na prática, devemos nos comportar como se tudo o que fizermos levasse a assinatura de Jesus. Somente quando nos entregarmos completamente ao Senhor Jesus poderemos produzir fruto espiritual. Quando submetermos nosso ser ao Senhor, o fruto do Espírito poderá crescer em nós em todos os seus nove aspectos. Talvez nós mesmos nem o percebamos, mas certamente as pessoas que nos cercam perceberão que o Espírito está frutificando em nós. Que seja assim na vida de todos nós! (Samuel Rindlisbacher - http://www.beth-shalom.com.br)

domingo, 11 de janeiro de 2015

Aula 03 – NÃO TERÁS OUTROS DEUSES


1º Trimestre/2015

Texto Básico: Dt 5:6,7; 6:1-6

 
“Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6:4)

INTRODUÇÃO

A partir desta Aula estudaremos o Decálogo. Iniciaremos com o Primeiro Mandamento: "Não terás outros deuses diante de mim" (Éx 20:3; Dt 5:7). Este Mandamento vai além da proibição à idolatria; é contra o politeísmo em qualquer que seja as suas formas. Ele é o testemunho da singularidade e exclusividade de Deus, ou seja, revela o Senhor em Seu caráter, Seu ser e Sua ação. A versão literal deste Mandamento traz em si um problema no que se refere à tradução da expressão "diante de mim", que pode significar "ante minha face" ou "acima de mim". Em ambos os casos o resultado final é o mesmo: Deus não dará Sua glória a nenhum outro deus, ou Sua honra a imagens de escultura (Is 42:8). O que se postula neste Primeiro Mandamento é o fato de que nada menos do que a totalidade de nossas vidas deve estar sob o senhorio do “SENHOR, nosso Deus”, Ele “é o único SENHOR” (Dt 6:4).

I. A AUTORIDADE DA LEI

1. O preâmbulo ao Decálogo. O preâmbulo ao Decálogo expressa a soberania de Deus e o legítimo domínio sobre Seu povo, Israel: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (Êx 20:2; Dt 5:6). Por que Deus começa os Dez Mandamentos com um preâmbulo? Antes de exigir deveres, antes de dar mandamentos, Deus liberta Seu povo. A primeira ação de Deus é libertação, salvação - só depois vêm as exigências.

2. O fundo histórico do Decálogo. O fundo histórico do Decálogo é uma dupla afirmação e autodeclaração divina: "Eu sou o Senhor teu Deus" e "Eu te tirei do Egito". A primeira afirmação é uma declaração da autoridade divina. A segunda é uma afirmação daquilo que Ele faz: "Eu sou o teu libertador", uma declaração da salvação divina. Em outras palavras: o fundo histórico dos Dez Mandamentos é o Evangelho.

3. Verdades da autodeclaração divina (1). Em hebraico se lê: "O Senhor, teu Deus, sou eu". A ênfase está no "sou eu". Javé significa "sou quem eu sou" (Êx 3:14). Cinco verdades, cinco atributos de Deus são revelados através desta autodeclaração divina:

a) Ele é o Deus e Senhor exclusivo (Josué 1:5). Ele é o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Início, o Absoluto, a Suprema Autoridade, que tudo ordena e exige. Isso traz luz ao homem perdido, que vive na obscuridade, sem o Senhor dos senhores.

b) Ele é o Deus pessoal: "Sou teu Deus". "Teu" é pronome possessivo. Deus está pronto a Se entregar totalmente, com toda abnegação divina, e faz isso através de Seu único Filho, Jesus Cristo, que Se entregou por nós. Por isso podemos dizer hoje: "Ele é meu Deus". Nosso Deus, e Salvador, é um ser pessoal.

c) Ele é o Deus de relações. Ele Se relaciona com aquilo que criou. Quer ser nosso amigo, deseja comunicar-se conosco, deseja contato: fala conosco e nos revela Sua vontade.

d) Ele é o Deus presente e constante, que deseja nossa comunhão. "Eu sou" significa que Ele é no presente, e mais, Ele é onipresente. Deus é o mesmo hoje e sempre (Hb 13:8); Ele não muda (Ml 3:6). Não é um Deus do passado, é um Deus presente nas aflições do dia a dia (Salmo 46).

e) Ele é o Deus fiel. Ele não muda de opinião ou propósito eterno, é fiel a Si mesmo e a Seu plano eterno para com os homens. "Sou quem sou". Os homens podem mudar de ideias, convicções ou propósitos; Deus não muda (Ml 3:6), Ele reina soberanamente sobre todos de maneira sublime e irrevogável.

4. As partes do Concerto: Deus e Israel (2).Eu Sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20:2; Dt 5:6). Estas Palavras são a fonte da Autoridade divina da Lei e o preâmbulo de todo o Decálogo; elas identificam as partes do Concerto do Sinai. É o termo legal de um pacto: de um lado, o próprio Deus, o autor do Concerto; de outro lado, Israel, o povo a quem Deus escolheu dentre todas as nações (Dt 4:37; 10:15).

Precisamos ouvir e acatar todas as Palavras de Deus, pois elas revelam sua perfeita vontade. Quando Deus fala, quer ser ouvido, deseja uma resposta de fé, compromisso, submissão, rendição e obediência.

- Precisamos atender a todas Suas palavras com a devida reverência e merecida submissão. Moisés tirou as sandálias dos pés ao aproximar-se de Deus (Êx 3:5,6). Isaías reconheceu seu estado humano de impureza (Is 6:5-8). Ezequiel caiu com o rosto em terra (Ez 1:28).

- Precisamos nos lembrar de todas Suas palavras. O que Deus fala merece ser lembrado porque Sua palavra não é vã; antes, é nossa vida (Dt 32:47). Precisamos crer em todas Suas palavras. Quando Deus fala, revela-se, comunica-se. Ele merece uma atenção e resposta do homem. Essa resposta só pode brotar da fé; se brotar da ignorância será uma ofensa a Deus. Precisamos amar todas Suas palavras. O salmista assim se expressou: "Oh! quanto amo a tua lei" (Sl 119:97).

- Precisamos ensinar Suas palavras a nossos filhos. Depois de ter dado a lei moral pela segunda vez, Deus Jeová adverte o povo escolhido a guardá-la em seus corações e a inculcá-la em seus filhos, e dela falar assentando em suas casas e andando pelo caminho, e ao deitar-se e ao levantar-se... (Dt 6:6-9).

- Precisamos obedecer às todas Suas palavras. O fim da lei é a obediência simples e incondicional; isso é visto claramente em Deuteronômio 6:1-25. A simples obediência aos mandamentos do Senhor traz a bênção divina sobre nós (Dt 28:13). As bênçãos decorrentes da obediência são prosperidade espiritual, física, doméstica, material (Dt 28:1-14: 7:12-26).

II. O PRIMEIRO MANDAMENTO

“Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20:3).

Êxodo 20:2 é a introdução deste mandamento – “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”. Neste versículo é mostrado quem tirou Israel da servidão egípcia: O SENHOR. Visto que Ele os libertara e provara que era supremo, Ele exigia absoluta prioridade a Ele: “não terás outros deuses diante de mim”.

Deus proíbe o politeísmo que caracterizava todas as religiões do antigo Oriente Próximo. Israel não devia adorar, nem invocar nenhum dos deuses doutras nações. Deus lhe ordenou a temer e a servir somente a Ele (Dt 32:29; Js 24:14,15).

Para nós cristãos, este mandamento importa pelo menos três princípios:

Ø  A nossa adoração deve ser dirigida exclusivamente a Deus. Não deve haver jamais adoração ou oração a quaisquer “outros deuses”, espíritos ou pessoas falecidas, nem se permite buscar orientação e ajuda da parte deles (Lv 17:7; Dt 6:4; 1Co 10:19,20).

Ø  Devemos plenamente nos consagrar a Deus. Somente Deus, mediante sua vontade revelada e Palavra inspirada, pode guiar a nossa vida (Mt 4:4).

Ø  Nós cristãos devemos ter como propósito na vida: amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todas as nossas forças, confiando nEle para nos conceder aquilo que é bom para a nossa vida (Mt 6:33; Fp 3:8; Cl 3:5).

1. A versão inibidora e crítica do primeiro mandamento no Antigo Testamento (3). "Não terás outros deuses diante de mim" atinge diretamente a idolatria. Quando Deus fez essa proibição, Seu povo estava envolvido com o bezerro de ouro (Êxodo 32).

Os ídolos são artifícios em forma de imagens: nada são, não têm nenhum préstimo, nada entendem, confundem-se, têm olhos e não veem, têm ouvidos e não escutam, têm lábios e não falam, têm cabeças e não pensam, têm braços que não se movimentam e pés que não andam; são deuses inúteis e sem vida, condenados ao ridículo. Repetidas vezes encontramos a loucura da idolatria em termos sarcásticos e enfáticos (Jr 2:26-28; 10:1-16; Is 40:18-20; 41:4-7; 44:9-20; Sl 115; 135).

Na versão crítica ou negativa, o Primeiro Mandamento contém a condenação explícita de qualquer forma de idolatria, seja visível ou invisível; além disso, alveja o ateísmo ("não precisamos de nenhum Deus", em vez de "necessitamos de Deus"), o politeísmo ("precisamos de muitos deuses", em vez de "precisamos somente de um Deus vivo e poderoso sobre todos") e o formalismo ("precisamos somente de uma religião formal", em vez de "precisamos de uma fé viva, que ama, teme e serve ao Senhor de todo coração, corpo, espírito e alma”).

As seguintes referências bíblicas mostram-nos ainda mais detalhadamente as implicações da versão inibidora do Primeiro Mandamento:

a) Êxodo 22:20 revela que sacrificar aos deuses, e não somente ao Senhor, leva à destruição. Novamente é enfatizada a exclusividade e singularidade de Deus Jeová. O sacrifício aos deuses é uma calamidade que aniquila. Deve-se tomar o mandamento do Senhor a sério, pois a simples inobservância conduz o homem imperdoavelmente à derrocada.

b) Êxodo 23:13 nos conscientiza de que não devemos nos lembrar do nome de outros deuses, nem usá-lo em nossa boca. Para o judeu, usar o nome de um indivíduo significa relacionar-se e identificar-se com tal pessoa. O que Deus exige aqui é uma radical separação cultural dos deuses pagãos.

c) Êxodo 34:13,14 refere-se às três espécies mais comuns de idolatria praticadas por Israel: altares, colunas e postes-ídolos. Essas formas visíveis tornaram-se uma prática comum no reino dividido (1 e 2 Reis). Por ser zeloso, Deus adverte o povo escolhido a não adorar esses deuses (Êx 34:14). O Senhor não se refere a um ciúme divino, mas ao testemunho da singularidade e exclusividade de Si mesmo. Em vez de adorar deuses falsos, é necessário derrubar os altares, quebrar as colunas e cortar os postes-ídolos. Isso aconteceu apenas duas vezes na história de Israel: no reinado de Ezequias (2Rs 18:1-4) e no de Josias (2Rs 22:1,2; 2Cr 34:4), e em ambos os casos o povo presenciou um avivamento espiritual.

d) Êxodo 34:15-17 mostra a relação entre os deuses fundidos e os casamentos mistos. Êxodo 34:16 emprega pela primeira vez a metáfora da prostituição espiritual com deuses pagãos como resultado de casamentos mistos. O casamento com um parceiro pagão leva-nos a quebrar, mais cedo ou mais tarde, o Primeiro Mandamento. Muitos jovens cristãos têm se desviado do Deus vivo e verdadeiro por causa de um namoro impuro ou um casamento misto.

Quando esquecemos a aliança do Senhor nosso Deus e negligenciamos a devoção diária, podemos ser levados a substituí-lo por alguma imagem esculpida ou por algo de que o Senhor nos proibiu (Dt 4:23). Apostasia, esquecimento ou mornidão espiritual são as doenças preponderantes deste século. Quando o Deus vivo e verdadeiro é olvidado, volta-se para a superstição, misticismo e os cultos esotéricos, que têm prosperado muito em nossos dias.

Repetidas vezes os profetas se levantam contra a idolatria do povo de Deus (Is 57:5-8; Jr 2:20,24; 3:6; Ez 6:1-14), condenando de forma específica a prostituição espiritual nos "lugares altos", em Israel e Judá. As trágicas consequências da desobediência ao Primeiro Mandamento foram: pestilência, morte, fome, rejeição, deportação, pragas e, pior, separação da comunhão com o Senhor.

Conforme Deuteronômio 11:16, existem quatro quedas consecutivas no caminho da idolatria: o engano do coração, o desviar-se, o servir a outros deuses e, finalmente, o prostrar-se diante deles. O dinheiro e o poder estão entre os "deuses" deste século. Mamom foi o único "deus" que o nosso Senhor chamou pelo nome. Muitos são os elementos produzidos por Mamom: o "deus" dinheiro, a competição, o "deus" televisão, o "deus" internet, o mercantilismo consumista, etc.

O problema hoje quanto à idolatria não se dá no campo do politeísmo, pois a maioria da população, ao menos no Brasil, não acredita nos deuses antigos. Mas se a questão for analisada do ponto de vista dos "deuses" que disputam a atenção da nossa mente e coração, então a coisa muda de figura. Portanto, o convite de Deus para o seu povo é o de amá-lo de todo coração, com toda a força do pensamento e de toda a alma. Ele é o único e eterno Deus das nossas vidas! Exigem-se vigilância e oração para evitar a queda. Feliz o homem que guarda seu coração no caminho do Senhor!

2. A versão inibidora e crítica do Primeiro Mandamento no Novo Testamento (4). Onde se encontra a versão proibitiva do Primeiro Mandamento no Novo Testamento? As referências que seguem não apenas provam sua validade irrevogável, pelas devidas reafirmações dentro dos ensinos de Jesus e dos apóstolos, mas também ampliam o conceito de idolatria, estendendo-o a qualquer objeto ou item, mesmo que invisível.

No Antigo Testamento, a feitiçaria era praticamente limitada a fetiches exteriores, visíveis, tais como deuses de madeira, pedra, bronze, prata, ouro, e a cartomantes, médiuns, etc. Já o Novo Testamento amplia a feitiçaria, incluindo deuses interiores invisíveis e não tangíveis, tais como imagem humana (Rm 1:18ss.), glutonaria (Fp 3:19), ambição, domínio, sabedoria humana, posição, atitudes, orgulho (problema coríntio), avareza (Cl 3:5) ou riqueza (Mt 6:24).

Daí, podemos concluir que quebrar o Primeiro Mandamento significa cultuar qualquer coisa visível ou invisível, exterior ou interior, pessoal ou impessoal. O apóstolo Paulo é até irônico ao escrever aos coríntios: "... sabemos que o ídolo de si mesmo nada é" (1Co 8:4). Com isto ele polemiza a questão, não querendo dizer que os ídolos não são uma realidade, mas que eles não possuem nenhuma divindade em si.

Na Carta aos Gálatas encontramos a versão crítica do Primeiro Mandamento, na passagem onde se diz que outrora, quando não conheciam a Deus, os gálatas haviam servido a deuses que por natureza não o são (Gl 4:8). No contexto, percebe-se que Paulo provavelmente se referia à astrologia, em que dias, meses, tempos e anos são observados conforme a constelação das estrelas (Gl 4:10).

Na primeira Epístola aos Coríntios a versão crítica do Primeiro Mandamento é mencionada por Paulo com grande abrangência. Paulo alude a esse mandamento várias vezes: o apóstolo ensina que o idólatra sofrerá dano maior do que o apedrejamento, pois não herdará o reino de Deus (1Co 6:9); revela a nulidade dos deuses falsos (1Co 8:4); associa a idolatria à comida, à bebida e ao divertimento religioso da forma como eram praticados no templo da deusa vênus, em Corinto (1Co 10:7); recomenda-nos a fugir da idolatria (1Co 10:14); e afirma, novamente, que o sacrificado ao ídolo não tem nenhum valor moral ou salvífico (1Co 10:19).

O capítulo 10, versículo 20, é a referência mais radical da Epístola de 1Coríntios: Paulo identifica o sacrifício aos ídolos com as oferendas aos demónios. Embora os ídolos em si não sejam necessariamente idênticos a demônios específicos, existe uma dimensão demoníaca na idolatria, isto é, Satanás, que age por trás e através da idolatria.

Finalmente, em 1Co 12:2 temos uma referência a ídolos mudos, isto é, deuses falsos que não falam, que não têm condições de expressar sua vontade, mas que mesmo assim, têm condições de "guiar", ainda que para o caminho errado. É o "guiar" do pensamento gentílico.

Efésios 5:5 repete o pensamento de 1Coríntios 6:9, isto é, que nenhum idólatra tem herança no reino de Cristo e de Deus. Paulo reafirma as consequências da não-observância do Primeiro Mandamento: nenhuma herança no reino de Cristo, exclusão de Seu amor, de Seu cuidado e da vida eterna.

A última palavra do apóstolo João aos cristãos da Ásia Menor foi uma advertência contra a quebra do Primeiro Mandamento: "guardai-vos dos ídolos" (1João 5:21). Este mandamento era tão importante e significativo para o apóstolo que a última frase da carta é uma afirmação de sua validade.

3. Forma positiva de obedecer ao Primeiro Mandamento (5). Dos Dez Mandamentos, oito foram formulados começando com o advérbio "não". Apenas o quarto e o quinto são positivos. A fórmula predominante no Decálogo é proibitiva. Mas é notável observar que no testemunho do Antigo Testamento encontramos repetidas vezes, e em forma explicativa, a versão positiva dos oito mandamentos formulados negativamente. Portanto, na interpretação e aprendizagem dos Dez Mandamentos precisamos sempre procurar sua versão construtiva e afirmativa.

Vejamos, então, algumas formas positivas de obedecer ao Primeiro Mandamento.

a) Confiar na suficiência de Deus. A versão positiva é evidente nesta frase: “Não terás outros deuses". Não temos motivos para querer outros deuses ou precisar deles. Se Deus nos é suficiente, confiamos e esperamos somente nEle. Se temos um problema para resolver, uma decisão a tomar, oramos, acreditando que Ele nos guia, como Pedro sugeriu: "... lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1Pe 5:7).

Para aquele que crê na suficiência de Deus, restam apenas palavras de gratidão e adoração. Salomão orou: "Ó Senhor Deus de Israel, não há Deus como tu, em cima nos céus nem embaixo na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia a teus servos que de todo o coração andam diante de ti" (1Rs 8:23).

A crença na suficiência de Deus também caracteriza a oração do rei Ezequias relatada em 2Reis 19:15-19 e em Isaías 37:16-20. Nela, o rei Ezequias expressa sua total fé na suficiência, singularidade e exclusividade do Deus Javé: "Ó Senhor Deus de Israel, que está entronizado acima dos querubins, tu somente és o Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra" (2Rs 19:15; Is 37:16b).

b) Ser fiel a Deus. A fidelidade a Deus é outra forma positiva de obedecer ao Primeiro Mandamento. A história de Daniel mostra-nos o piedoso profeta na corte babilônica; em meio a tanta idolatria, superstição e desobediência, ele se manteve fiel a Deus mediante uma vida de oração. Três vezes ao dia ele dirigia o olhar pela janela aberta de seu quarto em direção ao templo em Jerusalém, lembrando o lugar da presença de Deus, e orava. Fidelidade, a despeito de superstição e de paganismo que circundava a babilônia. Quem é meu Senhor? Em quem eu confio? Diante de quem tremo? Estas são as perguntas de Daniel e de todo o Primeiro Mandamento. Nós afirmamos: Deus é nosso Senhor e ninguém mais, nenhum ser humano, nem Satanás, nenhuma religião, nenhuma superstição, nem o dinheiro, etc. Prestamos fidelidade somente ao Deus Jeová e ao Bendito Senhor Jesus Cristo que nos salvou.

c) Adorar ao Senhor. A adoração verdadeira é outra maneira legítima de cumprir o Primeiro Mandamento. Em vez de adorar ídolos, reverenciemos a Deus, e só a Ele. Cultivar conscientemente Sua adoração nos guarda do mal, da queda, da desobediência e da frustração espiritual. Onde há ingratidão, onde domina a crítica e o espírito de desobediência, o verdadeiro culto é rapidamente esquecido. O perfeito louvor é de suma importância para o desenvolvimento espiritual. Numa época em que a frieza espiritual predominava nos corações dos israelitas e os levitas desobedeciam a Deus, Elcana e Ana mantiveram viva sua fé por meio da adoração fiel. Todo ano eles subiam a "adorar e sacrificar ao Senhor dos Exércitos em Siló" (1Sm 1:3), e Deus honrou a veneração deles com o nascimento do profeta Samuel, que chamou o povo de volta à obediência ao Primeiro Mandamento (1Sm 1:19; 2:21; 3:8).

CONCLUSÃO

Diante do exposto podemos afirmar que o Primeiro Mandamento é muito mais que uma simples apologia ao monoteísmo, mas diz essencialmente o que Jesus nos ensinou: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro” (Mt 6:24).

Amém?

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 61. CPAD.

Eugene H. Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.

Hans Ulrich Reifler. A ética dos dez Mandamentos. Vida Nova.

Paul Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.

Leo G. Cox - O Livro de Êxodo - Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.

(1) Hans Ulrich Reifler. A ética dos dez Mandamentos. Vida Nova.

(2) Ibidem.

(3) Ibidem.

(4) Ibidem.

(5) Ibidem.

Esequias Saores. Os Dez Mandamentos – Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. CPAD.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Aula 02 – O PADRÃO DA LEI MORAL


1º Trimestre/2015

Texto Base: Dt 9:9-11; 10:1-5

 
“Então, vos anunciou ele o seu concerto, que vos prescreveu, os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra” (Dt 4:13).

 

INTRODUÇÃO

A Lei Moral de Deus - expressão do Seu caráter, da Sua vontade, da Sua mente, expressão de toda Sua justiça - é a personificação dos dois grandes Mandamentos: amor para com o Deus Todo Poderoso e amor para com nossos semelhantes (Mt 7:12; 22:36-40; Rm 13:8-10). Esses dois Mandamentos citados por Jesus Cristo são o resumo dos Dez Mandamentos, que, por sua vez, são detalhados em todos os juízos e estatutos morais contidos na Bíblia inteira (Gn 26:5; Êx 15:26; Dt 4:1,2,6).

A Lei Moral foi proclamada por Deus no Monte Sinai (Êx 20:1-17) e escrita por Sua própria mão em duas tábuas de pedra (Êx 31:18; Êx 24:12; Dt 4:12,13; 5:4-7, 22). É a mesma lei dada no princípio a Adão e Eva, e aos patriarcas (Os 6:7; Gn 4:7; Gn 26:5). Ela é a base do Concerto de Deus com Seu povo, no Sinai (Êx 24:4,7,8; Hb 9:19,20).

Deus requereu de Israel e requer, também, de nós – Igreja do Senhor Jesus - duas atitudes em relação às Suas ordenanças: que possamos ouvir e obedecer (Dt 11:26,27). Desse modo, tornamo-nos Sua propriedade peculiar, Seu reino sacerdotal e Seu povo santo (Êx 19:5,6).

I. AS TÁBUAS DA LEI

Deus fez escrever os Dez Manda­mentos em duas tábuas de pedra – “Então disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei, e os mandamentos que escrevi, para os ensinares" (Êx 24:12). As tábuas foram guardadas dentro da arca durante séculos. Deu-se ao Tabernáculo o nome de "tenda do testemunho" (Nm 9:15; Nm 17:7,8;18:2; 2Cr 24:6) para lembrar aos israelitas que dentro da arca estava a Lei e que deviam viver de acordo com ela. Além de Êxodo 24:12, encontramos referências às duas tábuas em Êx 31:18 e Deuteronômio 10:1-5.

1. Formato.


“Era um jogo de duas tábuas com quatro faces. Não é possível saber qual era seu tamanho. A arca do concerto media um metro e dez centímetros de comprimento por 66 cm de largura e 66 cm de altura (Êx 25.10, NTLH). Cada uma dessas tábuas não devia passar de 75 cm x 55 cm x 55 cm, considerando que elas foram colocadas na arca juntamente com a vara de Arão, que floresceu, e um vaso com o maná (Hb 9.4). Um homem podia transportá-las tranquilamente” (LBM. CPAD).

 
2. A divisão das tábuas. Segundo Leo G. Cox, a divisão do Decálogo é entendida de modos variados. O judaísmo hodierno reputa que Êxodo 20:2 ordena a crença em Deus e é o primeiro mandamento, e combina os versículos 3 a 6 de Êxodo 20 no segundo mandamento. A divisão aceita nos primórdios da igreja torna Êxodo 20:3 o primeiro mandamento e Êxodo 20:4-6 o segundo. Esta posição foi apoiada por unanimidade pela igreja primitiva, e é mantida hoje pela Igreja Ortodoxa Oriental e pela maioria das igrejas reformadas.

As Igrejas Ortodoxas e Reformadas
A Igreja Católica Romana e as Igrejas Luteranas
1. Não terás outros deuses diante de mim (Ex 20:3).
1. Não terás outros deuses e não farás imagens.
2. Não farás imagens de escultura (Ex 20:4-6).
2. Não tomarás o nome de Deus em vão.
3. Não tomarás o nome de Deus em vão (Ex 20:7).
3. Lembra-te do dia de sábado.
4. Lembra-te do dia de sábado, para o santificar (Ex 20:8-11).
4. Honra teus pais.
5. Honra teus pais (Ex 20:12).
5. Não matarás.
6. Não matarás (Ex 20:13).
6. Não adulterarás.
7. Não adulterarás (Ex 20:14).
7. Não furtarás.
8. Não furtarás (Ex 20:15).
8. Não dirás falso testemunho.
9. Não dirás falso testemunho (Ex 20:16).
9. Não cobiçarás a casa de teu próximo.
10. Não cobiçarás a casa de teu próximo, nem sua mulher ou servo, ou animal (Ex 20:17).
10. nem sua mulher ou servo, ou animal.

Seguindo o modelo proposto por Calvino, baseado em Agostinho e Orígenes, percebemos que os primeiros quatro mandamentos, correspondente a “primeira tábua”, tratam da relação vertical, ou seja, das responsabilidades do homem para com seu Criador, enquanto a "segunda tábua", ou os seis mandamentos restantes, trata da relação horizontal, isto é, das responsabilidades do homem para com seu próximo.

Reencontramos esta dupla relação no ensino de Jesus Cristo, quando o Mestre respondeu a respeito do grande mandamento: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas"(Mt 22:37-40).

3. A rebelião (Ex 32:15-29). Estudando as Escrituras, não encontramos nenhum outro tipo de transgressão
que seja tratada com tanta severidade por Deus como a da rebelião. Vemos pessoas ficando gravemente enfermas (Nm 12:10), reis perdendo o seu trono (1Sm 13:13,14) e gente sendo morta por um juízo de Deus, simplesmente pelo fato de que se levantaram contra Sua autoridade (Nm 16:1-33). Rebelião contra Deus é como pecado de feitiçaria. Está escrito em 1Samuel 15:23: “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria...”. E está escrito que nenhum feiticeiro entrará no reino do Céu (Gl 5:20,21).

Israel se rebelou contra Deus, ainda no Sinai, com o culto do bezerro de ouro. Enquanto Moisés se encontrava no monte Sinai recebendo das mãos do Senhor as tábuas da Lei, o povo começou a impacientar-se. Acostumados ao politeísmo egípcio e não possuindo ainda uma fé enraizada no Senhor, exigiram que Arão fizesse “... deuses que vão adiante de nós”.

Buscando ganhar tempo e contentar Israel, Arão deixa de ser homem de Deus e se faz homem do povo. Dos pendentes e objetos de ouro que possuíam os hebreus, forma ele um bezerro de fundição. Da idolatria, a congregação israelita passa rapidamente à apostasia: “Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito” (Ex 32:4).

Um abismo chama outro abismo: a idolatria trouxe a apostasia, e a apostasia descambou na permissividade: “e o povo assentou-se a comer e a beber; depois, levantaram-se a folgar” (Ex 32:6).

Segundo Paul Hoff, a rebelião vergonhosa de Israel acarretou-lhe castigo, apesar da intercessão de Moisés e da misericórdia de Deus. Os israelitas tinham de aprender que não é coisa insignificante menosprezar a revelação de um Deus santo e violar sua aliança com leviandade. Primeiro tiveram de ver como as tábuas da lei foram quebradas, ato que simbolizou que a idolatria deles havia anulado o Concerto. Segundo, foram obrigados a beber a água misturada com o pó do bezerro de ouro, como símbolo de que tinham de suportar a culpa de seu pecado. Depois, Moisés convidou todos os que quisessem unir-se a ele. Os levitas puseram-se ao lado de Moisés e lhe obedeceram matando a espada três mil dos que provavelmente eram os mais obstinados dos idólatras. Os levitas, por obedecerem à palavra do Senhor (Êx 32:27,28), foram constituídos na tribo sacerdotal de Israel (Êx 32:29).

O castigo que os israelitas sofreram foi severo, mas necessário para evitar que viessem a ser uma nação de idólatras.

Por que o Senhor foi, é e será tão severo com os rebeldes? 

Ø  Porque a rebelião questiona o senhorio de Deus. Deus não tolera a rebelião porque ela questiona a base que sustenta o Universo, ou seja, o seu Senhorio. Se existe algo que Deus não pode abrir mão é do governo sobre todas as coisas. Ao criar o homem e colocá-lo no Jardim do Éden com todo o respaldo para viver feliz e desfrutar da Terra, o Senhor Deus deixou claro que a única condição para que tudo permanecesse bem, era que Adão e seus descendentes se sujeitassem a Ele. A figura da “árvore do conhecimento do bem e do mal” colocada no meio do jardim com seu fruto proibido era um ícone da autoridade divina, um aviso que o homem deveria entender assim: “Você pode dominar sobre tudo, mas quem manda em você sou Eu, o Senhor”. Ao comer daquele fruto, Adão e Eva estavam se insurgindo, proclamando sua independência e, como resultado, receberam toda a maldição do pecado, não somente sobre si, mas sobre toda a raça humana que os seguiu.

Ø  Porque a rebelião nos assemelha a Lúcifer, o querubim corrompido. Foi exatamente uma insurreição contra a soberania do Senhor Deus, que fez com que Lúcifer e um terço dos anjos fossem expulsos do céu e se tornassem este reino asqueroso de demônios que atormenta a Terra. Quando nos rebelamos, nós que fomos feitos para manifestar a glória e o caráter de Cristo, assumimos uma identificação completamente oposta, assemelhando-nos àquele que se tornou o maior inimigo de Deus, o Diabo.

Ø  Porque a rebelião contamina. A rebelião tem um terrível e devastador poder de contaminação. Rebeldes costumam levantar insurreições, são como o estopim de uma grande bomba. Ao lado de um rebelde logo se levantarão muitos outros. Por isso, não podem ser deixados à revelia, agindo no meio da sociedade como células cancerosas que se multiplicam em sua loucura.

4. Deus renova o Concerto. Moisés intercede pelo povo. Ele pediu que o Senhor perdoasse completamente o pecado do povo e o restaurasse espiri­tualmente. Estava disposto a oferecer-se a si mesmo em lugar de seu povo, e não somente daria a sua vida, mas também estava disposto a renunciar à vida eterna a fim de obtê-la para Israel.

A intercessão de Moisés foi grandemente recompensada. O intercessor voltou a subir ao Monte Sinai e aí o Concerto foi renovado e foram escritas novas tábuas da lei. Deus concedeu a Moisés uma nova revelação do caráter divino proclamando seu nome: "Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência... que perdoa... que ao culpado não tem por inocente" (Êx 34:6,7).

Conquanto Deus seja justo quando castiga os malfeitores, sua maior glória é seu amor perdoador. Sua justiça e misericórdia andam sempre juntas como se vê no caso da cruz do Calvário. Na ocasião aqui descrita, Deus manifestou sua misericórdia perdoando a seu povo.

Quando Moisés desceu do monte, seu rosto resplandecia com a glória de Deus. Isto nos ensina duas verdades: a formosura de caráter e a força espiritual vêm da comunhão íntima com Deus; a pessoa na qual se vê o brilho de Deus não percebe que está refletindo a glória divina, e quando o sabe, deixa de ser radiante.

II. OS DEZ MANDAMENTOS

Os "Dez Mandamentos" revelam, na aliança de Deus com Israel, o próprio caráter de Deus e, como tal, são uma demonstração do comportamento que Deus requer de todo ser humano em relação a Deus e ao semelhante, cuja profundidade e alcance foram bem demonstrados por Jesus no sermão do monte.

Concordo com Solano Portela quando diz - em seu livro “A Lei de Deus Hoje” - que os Dez Mandamentos tem validação histórica, didática, reveladora e normativa. Histórica porque está entrelaçada na história da revelação de Deus e da redenção do Seu povo. Didática porque ela nos ensina o respeito ao nosso Criador e aos nossos semelhantes. Reveladora porque nos revela o caráter e a santidade de Deus, bem como a pecaminosidade das pessoas. Normativa porque ela especifica com bastante clareza o procedimento requerido por Deus a cada uma das pessoas que habitam a sua criação, em todos os tempos.

1. Origem do Termo. A expressão "Dez Mandamentos”, também conhecida como “Decálogo”, vem de dois termos gregos: “deka”(dez), e “logos “(palavra), ou seja, “dez palavras”. “Esses Mandamentos, dados por Deus a Moisés, no monte Sinai, tornaram-se a base da legislação levítica. Uma das mais duradouras legislações de todos os tempos. O Decálogo é mais que um código de leis. Antes, é a base do pacto teocrático (governo de Deus) que separou o povo de Israel como um veículo do favor divino, como um elemento através do qual a mensagem espiritual haveria de ser transmitida. Os inúmeros preceitos que aparecem em seguida, governando cada aspecto da vida diária, ensinam-nos que Deus está atento a todos os aspectos da nossa vida. Esse elaborado sistema tinha o intuito de governar a vida física dos israelitas, mas também tinha funções educativas. O próprio Decálogo estabelece alguns princípios perfeitamente éticos, cuja aplicação pode ser vasta e abrangente” (CHAMPLIN, 2004, pp. 25,125).

O termo “dez mandamentos” ou “dez palavras”, só aparece três vezes na Bíblia: Êxodo 34:28 e Deuteronômio 4:13; 10:4:

- "E ali esteve com o Senhor quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão nem bebeu água; c escreveu nas tábuas as palavras da aliança, as dez palavras" (Êx 34:28);

- "Então vos anunciou ele a sua aliança, que vos prescreveu, os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra" (Dt 4:13);

- "Então escreveu o Senhor nas tábuas, segundo a primeira escritura, os dez mandamentos que ele vos falara no dia da congregação, no monte, no meio do fogo" (Dt 10:4).

2. Classificação. “As autoridades religiosas de Israel sempre classificaram os Dez Mandamentos em dois grupos: teológico e ético; vertical e horizontal; relação do ser humano com Deus e com o próximo. Os primeiros mandamentos são teológicos e se resumem no primeiro e grande mandamento (Dt 6.5; Mt 22.37,38; Mc 12.30; Lc 10.27). Os da segunda tábua são éticos, e consistem em amar o próximo como a si mesmo (Lv 19.18; Mt 22.39; Mc 12.31)” (LBM.CPAD).

Assim, partindo da observação dos aspectos vertical e horizontal do Decálogo, traçamos o seguinte esboço:

1. O testemunho da singularidade e exclusividade de Deus (Êx 20:3).

2. O testemunho da incomparabilidade de Deus (Êx 20:4-6).

3. O testemunho da santidade de Deus (Êx 20:7).

4. O testemunho do senhorio de Deus sobre o tempo (Êx 20:8-11).

5. A proteção da velhice (Êx 20:12).

6. A proteção da vida (Êx 20:13).

7. A proteção do matrimonio e do corpo (Êx 20:14).

8. A proteção da propriedade e do trabalho (Êx 20:15).

9. A proteção da honra (Êx 20:16).

10. A proteção contra as ambições erradas e a cobiça (Êx 20:17).

3. O significado dos dez mandamentos. Paul Hoff, em seu Livro “O Pentateuco”, explica o significado dos Dez Mandamentos, conforme abaixo:

a) A unicidade de Deus - "Não terás outros deuses diante de mim”. Há um só Deus e só a ele havemos de oferecer culto. A adoração a anjos, a santos ou qualquer outra coisa é violação do primeiro mandamento.

b) A espiritualidade de Deus - "Não farás para ti imagem de escultura... nem te encurvarás a elas" (Ex 20:4,5). Proíbe-se não somente a adoração de imagens ou de deuses falsos, mas também prestar culto ao verdadeiro Deus em forma errada. Tais coisas degradam ao Criador. Deus é espírito e não tem forma.

As palavras "porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem" (Êx 20:5) devem ser interpretadas à luz do caráter de Deus e de outras Escrituras. Deus é zeloso no sentido de Ser exclusivista, não tolerando que seu povo preste culto a outros deuses. Como um marido que ama a sua esposa não permite que ela reparta seu amor com outros homens, Deus não tolera nenhum rival.

Deus não castiga os filhos pelos pecados de seus pais senão nos casos em que os filhos continuem nos pecados dos pais. Castiga os que o "aborrecem", mas não os arrependidos. "A alma que pecar, essa morrerá"; "o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho" (Ez 18:20). Em vez disso, a maldade passa de geração a geração pela influência dos pais e, quando chega a seu ponto culminante, Deus traz castigo sobre os pecadores (Gn 15:16; 2Reis 17:6-23; Mt 23:32-36).

c) A santidade de Deus - "Não tomaras o nome do Senhor teu Deus em vão”. Este mandamento inclui qualquer uso do nome de Deus de maneira leviana, blasfema ou insincera. Deve-se reverenciar o nome divino porque revela o caráter de Deus.

Originalmente este mandamento se referia a não jurar pelo nome de Deus se o juramento fosse falso (Lv 19:12), mas se permitia jurar pelo seu nome (Dt 10:20). Contudo, Jesus proibiu terminantemente jurar pelas coisas sagradas (Mt 5:34-37). A simples palavra de um filho de Deus deve ser verdadeira, sem recorrer a juramentos.

d) A soberania de Deus - "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar". Um dia da semana pertence a Deus. Reconhece-se a soberania de Deus guardando o dia de repouso, visto que esse dia nos lembra que Deus é o Criador a quem devemos culto e serviço. "Santificar" o dia significa separá-lo para culto e serviço.

e) Respeito aos representantes de Deus - "Honra a teu pai e a tua mãe". O homem que não honra a seus pais tampouco honrará a Deus, pois esta é a base do respeito a toda a autoridade.

f) A vida humana é sagrada - "Não matarás". Este mandamento proíbe o homicídio, mas não a pena capital, visto que a própria lei estipulava a pena de morte. Também se permitia a guerra, visto como o soldado atua como agente do estado.

g) A família é sagrada - "Não adulterarás". Este mandamento protege o matrimônio por ser uma instituição sagrada instituída por Deus. Isto vigora tanto para o homem como para a mulher (Lv 20:10).

h) Respeito à propriedade alheia: "Não furtarás". Há muitas maneiras de violar este mandamento, tais como não pagar suficiente­mente ao empregado, não fazer o trabalho correspondente ao salário combinado, cobrar demasiado e descuidar a propriedade do senhor.

i) A justiça: "Não dirás falso testemunho". O testemunho falso, desnecessário, sem valor ou sem fundamento constitui uma das formas mais seguras de arruinar a reputação de uma pessoa e impedi­da de receber tratamento justo por parte dos outros.

j) O controle dos desejos: "Não cobiçarás". A cobiça é o ponto de partida de muitos dos pecados contra Deus e contra os homens.

III. A QUESTÃO DOS PRECEITOS DA LEI

1. Uma só lei. “Quanto à lei, algo precisa ser dito sobre a alegada divisão em lei moral, lei cerimonial e lei civil. Desde muito tempo qualifica-se o Decálogo como lei moral, enquanto a parte da legislação mosaica que trata das cerimónias de sacrifícios e festas religiosas, entre outras, é chamada de lei cerimonial, e os preceitos de caráter jurídico são considerados lei civil. A visão tripartite da lei em preceitos morais, cerimoniais e civis não vem das Escrituras. Os judeus jamais dividiram sua lei em moral e cerimonial. Ao longo da história, eles observaram o sábado e a circuncisão com o mesmo cuidado. Jesus disse que a circuncisão está acima do sábado (João 7:22,23)” (Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. p. 25. CPAD).

Segundo o pr. Esequias Soares, o Decálogo é a única parte do Pentateuco escrita "pelo dedo de Deus" (Êx 31:18), linguagem figurada que, segundo Agostinho de Hipona, indica "pelo Espirito de Deus" e, de acordo com Clemente de Alexandria, "pelo poder de Deus". É também a única porção da lei que Israel ouviu partir da voz do próprio Deus no monte quando ele transmitia essas “dez palavras” (Êx 19:24,25; 20:18-20). Os demais preceitos foram transmitidos por Javé exclusivamente a Moisés. Além dessas características, elas servem como esboço de toda a lei de Moisés. Todavia, isso não coloca o seu conteúdo numa posição acima da legislação mosaica porque toda a lei veio de Deus e "toda a Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3:16 - ARA).

2. A Lei do Senhor e a lei de Moisés. Embora muitas vezes a Lei do Senhor dada através de Moisés seja chamada de Lei de Moisés (Js 8:31; 1Rs 2:3; Ed 7:6; Lc 2:22;24:44; 1Co 9:9), o registro do capítulo 20 do livro do Êxodo nos mostra que Deus é a origem da Lei (Êx 20:1).

“Durante todas as negociações entre israelitas e egípcios, quando os primeiros eram escravos dos últimos, o papel de Moisés era, antes de mais nada, o de mediador. Deus não falou com Faraó, mas mandou Moisés lhe falar. Ele continuou nesse papel durante a Páscoa – ‘Falai a toda a congregação de Israel’ (Êx 12.3) e no êxodo – ‘Fala aos filhos de Israel’ (Êx 14.2). No Sinai, sua função continuava sendo a de transmitir a palavra de Deus ao povo  - ‘Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel’ (Êx 19.6). Por outro lado, na revelação do Decálogo esse aspecto foi omitido. Moisés ouviu juntamente com o povo, ao qual Deus falou de modo direto (Êx 20.1). Essa é uma forma de a Bíblia nos dizer que, quando lemos o Decálogo, estamos frente a frente com a excelência da vontade de Deus para seus seguidores, no que diz respeito a estilo de vida e compromisso moral. Observe a sequência aos Dez Mandamentos: ‘eu falei convosco desde os céus’ (Êx 20.22), não do Sinai” (HAMILTON, 2007, p. 215).

3. A lei de Deus. Todo o Pentateuco é considerado a Lei de Deus e não meramente os Dez Mandamentos (ler Josué 24:26). O que de fato existem são preceitos morais, cerimoniais e civis, mas a Lei é uma só. “É chamada de Lei de Deus porque veio de Deus, e lei de Moisés porque foi ele o mediador entre Deus e Israel (Ne 10:29). Ambos os termos aparecem alternadamente na Bíblia (Ne 8:1,2,8,18; Lc 2:22,23). A cerimonia dos holocaustos, a circuncisão e o preceito sobre o cuidado dos bois são igualmente reconhecidos como lei de Moisés (2Cr 23:18; 30:16; At 15:5; 1Co 9:9)” (LBM – CPAD).

IV. A LEI DA GRAÇA

1. A transitoriedade da Lei. Em João 15:10, lemos que Jesus cumpriu lodos os mandamentos de Seu Pai. Em Mateus 5:17,18, também lemos que Jesus cumpriu toda a lei, os preceitos morais, cerimoniais e civis. Todavia, na opinião dos fariseus expressa em João 5:18, Jesus teria quebrado a lei da santificação do sábado. O incidente aqui relacionado não se refere à validade da lei mosaica em si, mas à sua interpretação.

Enquanto os fariseus, com sua filosofia casuísta e astúcia precisa, queriam defender e cumprir rigorosamente os preceitos a respeito do sábado, Jesus apoiou os discípulos que debulharam grãos (Mt 12:1-8) e operou várias curas no sábado (Mt 12:9-14; Lc 13:10-17; 14:1-6). Além disso, Jesus declarou que é Senhor do sábado (Mt 12:8) e que o sábado foi estabelecido por causa dos homens, e não vice-versa (Mc 2:27).

Jesus rejeitou a interpretação legalista ou puramente moralista da lei mosaica (Gl 1:14). Isto se torna ainda mais evidente diante da mulher descoberta em flagrante adultério. A lei mandava que ela fosse apedrejada até a morte (Lv 20:10; Dt 22:22-24); Jesus, porém, com Sua graça perdoadora e restauradora, redimiu a mulher e convidou-a a não mais pecar (João 8:11).

O apóstolo Paulo é muito claro quando fala que “o ministério da morte, gravado com letras em pedras [...] era transitório” (2Co 3:7,11). A verdade moral contida no sistema mosaico, como disse o teólogo Chafer, “foi restaurada sob a graça, adaptada à graça e não à lei”. Isso diz respeito a sua função e não compromete a sua autoridade como revelação de Deus e parte das Escrituras divinamente inspiradas (2Tm 3:16,17). Várias vezes Jesus declarou que a lei mosaica é a Palavra de Deus (Mc 7:13; João 5:38) ou a lei de Deus (Mt 15:6). Repetidas vezes encontramos a frase "está escrito", indicação da validade da lei (Mt 4:4;11:10,etc), e a pergunta retórica "não lestes?" (Mt 12:3a).

Jesus Cristo não exige de Seus discípulos a execução exterior da lei, mas sim que eles permaneçam em Cristo (João 15:4,5). O Espírito Santo é quem esclarece e mostra o significado e as implicações práticas disso, de acordo com tudo aquilo que Cristo ensinou (João 14:26;15:26;16:13). Em Romanos 8:4, o apóstolo Paulo enfatiza, com bastante clareza e exatidão, que a lei cumpre-se em nós quando andamos no Espírito.

“O Espírito Santo operando dentro do crente, capacita-o a viver uma vida de retidão que é considerada o cumprimento da lei moral de Deus. Sendo assim, a operação da graça e a guarda da lei moral de Deus não conflitam entre si (cf. Rm 2:13; 3:31; 6:15; 7:12,14). Ambas revelam a presença da justiça e da santidade divinas” (Bíblia de Estudo Pentecostal).

2. A Graça. Segundo Paulo, nós estamos debaixo de uma nova aliança caracterizada pela graça (Rm 8:6-17). A Graça é a presença e o amor de Deus em Cristo Jesus, transmitidos aos crentes pelo Espírito Santo, e que lhes outorga misericórdia, perdão, querer e poder para fazer a vontade de Deus (1Co 15:10 Fp 2:13). Toda atividade da vida cristã, desde o seu início até o fim, depende desta graça divina. Deus concede graça ao crente para seja “liberto do pecado” (Rm 6:20,22), para que nele opere “tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2:13), para crescer em Cristo (2Pe 3:18) e para testemunhar de Cristo (At 4:33; 11:23).

A lei diz “faça e viva”, no entanto, a graça diz “viva e faça”. Por esta razão os cristãos estão debaixo da graça, e não da lei (Rm 6:14; Gl 3:23-25). A lei não tem domínio sobre nós (Rm 7:1-4). Graças a Deus!

3. Os Mandamentos de Cristo. Jesus falou diversas vezes sobre o Novo Mandamento, a Lei de Cristo, o amor operado pelo Espírito Santo na vida cristã:

- “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis” (João 13:34).

- “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (João 14:15,21).

- “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor” (João 15:10).

Está escrito em Rm 13:8-10:

8. A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.

9. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.

10. O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.

O apóstolo Paulo escreveu aos Gálatas:

“Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (G 5:14).

Portanto, o mandamento de Cristo é a fé nEle, é a lei do amor e não a letra da lei. Quem ama a Cristo tem a Lei do Espírito em seu coração.

CONCLUSÃO

A Lei de Deus é, antes de tudo, um instrumento de diagnóstico para expor e condenar o pecado, em preparação para o evangelho. Entretanto, para a pessoa perdoada e capacitada peio Espírito através da fé, a lei é também um guia moral, uma norma de comportamento cristão. A ética cristã está baseada nos Dez Mandamentos, mas é determinada e decidida pelo amor (Rm 13:8), guiada e direcionada pelo Espírito Santo (Rm 8:4) e cumprida cm Cristo (Mt 5:15-18).

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 61. CPAD.

Eugene H. Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.

Paul Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.

Leo G. Cox - O Livro de Êxodo - Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.

Hans Ulrich Reifler. A ética dos dez Mandamentos. Vida Nova.

Esequias Saores. Os Dez Mandamentos – Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. CPAD.