1º Trimestre/2015
Texto Base: Dt 9:9-11; 10:1-5
“Então, vos anunciou ele o seu
concerto, que vos prescreveu, os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas
de pedra” (Dt 4:13).
INTRODUÇÃO
A Lei Moral de Deus - expressão do Seu
caráter, da Sua vontade, da Sua mente, expressão de toda Sua justiça - é a
personificação dos dois grandes Mandamentos: amor para com o Deus Todo Poderoso
e amor para com nossos semelhantes (Mt 7:12; 22:36-40; Rm 13:8-10). Esses dois Mandamentos
citados por Jesus Cristo são o resumo dos Dez Mandamentos, que, por sua vez,
são detalhados em todos os juízos e estatutos morais contidos na Bíblia inteira
(Gn 26:5; Êx 15:26; Dt 4:1,2,6).
A Lei Moral foi proclamada por Deus no Monte
Sinai (Êx 20:1-17) e escrita por Sua própria mão em duas tábuas de pedra (Êx
31:18; Êx 24:12; Dt 4:12,13; 5:4-7, 22). É a mesma lei dada no princípio a Adão
e Eva, e aos patriarcas (Os 6:7; Gn 4:7; Gn 26:5). Ela é a base do Concerto de
Deus com Seu povo, no Sinai (Êx 24:4,7,8; Hb 9:19,20).
Deus requereu de Israel e requer, também, de
nós – Igreja do Senhor Jesus - duas atitudes em relação às Suas ordenanças: que
possamos ouvir e obedecer (Dt 11:26,27). Desse modo, tornamo-nos Sua
propriedade peculiar, Seu reino sacerdotal e Seu povo santo (Êx 19:5,6).
I. AS TÁBUAS DA LEI
Deus fez escrever os Dez Mandamentos em
duas tábuas de pedra – “Então disse o
Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; dar-te-ei tábuas de pedra, e a
lei, e os mandamentos que escrevi, para os ensinares" (Êx 24:12). As
tábuas foram guardadas dentro da arca durante séculos. Deu-se ao Tabernáculo o
nome de "tenda do testemunho"
(Nm 9:15; Nm 17:7,8;18:2; 2Cr 24:6) para lembrar aos israelitas que dentro da
arca estava a Lei e que deviam viver de acordo com ela. Além de Êxodo 24:12,
encontramos referências às duas tábuas em Êx 31:18 e Deuteronômio 10:1-5.
1.
Formato.
“Era um jogo de duas tábuas com quatro
faces. Não é possível saber qual era seu tamanho. A arca do concerto media um
metro e dez centímetros de comprimento por 66 cm de largura e 66 cm de altura
(Êx 25.10, NTLH). Cada uma dessas tábuas não devia passar de 75 cm x 55 cm x 55
cm, considerando que elas foram colocadas na arca juntamente com a vara de
Arão, que floresceu, e um vaso com o maná (Hb 9.4). Um homem podia
transportá-las tranquilamente” (LBM. CPAD).
2. A divisão das tábuas. Segundo
Leo G. Cox, a divisão do Decálogo é entendida de modos variados. O judaísmo hodierno reputa que Êxodo 20:2 ordena a crença em Deus e é
o primeiro mandamento, e combina os versículos 3 a 6 de Êxodo 20 no segundo
mandamento. A divisão aceita nos primórdios da igreja torna Êxodo 20:3 o primeiro mandamento e Êxodo 20:4-6 o segundo. Esta posição
foi apoiada por unanimidade pela igreja
primitiva, e é mantida hoje pela Igreja Ortodoxa Oriental e pela maioria
das igrejas reformadas.
As
Igrejas Ortodoxas e Reformadas
|
A
Igreja Católica Romana e as Igrejas Luteranas
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1.
Não terás outros deuses diante de mim (Ex 20:3).
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1.
Não terás outros deuses e não farás imagens.
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2.
Não farás imagens de escultura (Ex 20:4-6).
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2.
Não tomarás o nome de Deus em vão.
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3.
Não tomarás o nome de Deus em vão (Ex 20:7).
|
3.
Lembra-te do dia de sábado.
|
4.
Lembra-te do dia de sábado, para o santificar (Ex 20:8-11).
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4.
Honra teus pais.
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5.
Honra teus pais (Ex 20:12).
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5.
Não matarás.
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6.
Não matarás (Ex 20:13).
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6.
Não adulterarás.
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7.
Não adulterarás (Ex 20:14).
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7.
Não furtarás.
|
8.
Não furtarás (Ex 20:15).
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8.
Não dirás falso testemunho.
|
9.
Não dirás falso testemunho (Ex 20:16).
|
9.
Não cobiçarás a casa de teu próximo.
|
10.
Não cobiçarás a casa de teu próximo, nem sua mulher ou servo, ou animal (Ex
20:17).
|
10.
nem sua mulher ou servo, ou animal.
|
Seguindo
o modelo proposto por Calvino, baseado em Agostinho e Orígenes, percebemos que
os primeiros quatro mandamentos, correspondente a “primeira tábua”, tratam da relação
vertical, ou seja, das responsabilidades do homem para com seu Criador,
enquanto a "segunda tábua",
ou os seis mandamentos restantes, trata da relação
horizontal, isto é, das responsabilidades do homem para com seu próximo.
Reencontramos esta dupla relação no ensino
de Jesus Cristo, quando o Mestre respondeu a respeito do grande mandamento:
"Amarás o Senhor, teu Deus, de todo
o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande
e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas"(Mt
22:37-40).
3. A rebelião (Ex 32:15-29). Estudando as Escrituras, não encontramos nenhum outro tipo de transgressão que seja tratada com tanta severidade por Deus como a da rebelião. Vemos pessoas ficando gravemente enfermas (Nm 12:10), reis perdendo o seu trono (1Sm 13:13,14) e gente sendo morta por um juízo de Deus, simplesmente pelo fato de que se levantaram contra Sua autoridade (Nm 16:1-33). Rebelião contra Deus é como pecado de feitiçaria. Está escrito em 1Samuel 15:23: “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria...”. E está escrito que nenhum feiticeiro entrará no reino do Céu (Gl 5:20,21).
Israel se rebelou contra Deus, ainda no
Sinai, com o culto do bezerro de ouro. Enquanto Moisés se encontrava no monte Sinai
recebendo das mãos do Senhor as tábuas da Lei, o povo começou a impacientar-se.
Acostumados ao politeísmo egípcio e não possuindo ainda uma fé enraizada no
Senhor, exigiram que Arão fizesse “... deuses que vão adiante de nós”.
Buscando ganhar tempo e contentar Israel,
Arão deixa de ser homem de Deus e se faz homem do povo. Dos pendentes e objetos
de ouro que possuíam os hebreus, forma ele um bezerro de fundição. Da
idolatria, a congregação israelita passa rapidamente à apostasia: “Estes são
teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito” (Ex 32:4).
Um abismo chama outro abismo: a idolatria
trouxe a apostasia, e a apostasia descambou na permissividade: “e o povo assentou-se a comer e a beber;
depois, levantaram-se a folgar” (Ex 32:6).
Segundo Paul Hoff, a rebelião vergonhosa de
Israel acarretou-lhe castigo, apesar da intercessão de Moisés e da misericórdia
de Deus. Os israelitas tinham de aprender que não é coisa insignificante
menosprezar a revelação de um Deus santo e violar sua aliança com leviandade.
Primeiro tiveram de ver como as tábuas da lei foram quebradas, ato que
simbolizou que a idolatria deles havia anulado o Concerto. Segundo, foram
obrigados a beber a água misturada com o pó do bezerro de ouro, como símbolo de
que tinham de suportar a culpa de seu pecado. Depois, Moisés convidou todos os
que quisessem unir-se a ele. Os
levitas puseram-se ao lado de Moisés e lhe obedeceram matando a espada três mil
dos que provavelmente eram os mais obstinados dos idólatras. Os levitas, por obedecerem
à palavra do Senhor (Êx 32:27,28), foram constituídos na tribo sacerdotal de
Israel (Êx 32:29).
O castigo que os israelitas sofreram foi
severo, mas necessário para evitar que viessem a ser uma nação de idólatras.
Por que o Senhor
foi, é e será tão severo com os rebeldes?
Ø Porque a rebelião
questiona o senhorio de Deus. Deus não
tolera a rebelião porque ela questiona a base que sustenta o Universo, ou seja,
o seu Senhorio. Se existe algo que Deus não pode abrir mão é do governo sobre
todas as coisas. Ao criar o homem e colocá-lo no Jardim do Éden com todo o
respaldo para viver feliz e desfrutar da Terra, o Senhor Deus deixou claro que
a única condição para que tudo permanecesse bem, era que Adão e seus
descendentes se sujeitassem a Ele. A figura da “árvore do conhecimento do bem e
do mal” colocada no meio do jardim com seu fruto proibido era um ícone da
autoridade divina, um aviso que o homem deveria entender assim: “Você
pode dominar sobre tudo, mas quem manda em você sou Eu, o Senhor”. Ao
comer daquele fruto, Adão e Eva estavam se insurgindo, proclamando sua
independência e, como resultado, receberam toda a maldição do pecado, não
somente sobre si, mas sobre toda a raça humana que os seguiu.
Ø Porque a rebelião nos
assemelha a Lúcifer, o querubim corrompido. Foi
exatamente uma insurreição contra a soberania do Senhor Deus, que fez com que
Lúcifer e um terço dos anjos fossem expulsos do céu e se tornassem este reino
asqueroso de demônios que atormenta a Terra. Quando nos rebelamos, nós que
fomos feitos para manifestar a glória e o caráter de Cristo, assumimos uma
identificação completamente oposta, assemelhando-nos àquele que se tornou o
maior inimigo de Deus, o Diabo.
Ø Porque a rebelião
contamina. A rebelião tem um terrível e devastador
poder de contaminação. Rebeldes costumam levantar insurreições, são como o
estopim de uma grande bomba. Ao lado de um rebelde logo se levantarão muitos
outros. Por isso, não podem ser deixados à revelia, agindo no meio da sociedade
como células cancerosas que se multiplicam em sua loucura.
4.
Deus renova o Concerto. Moisés intercede pelo povo. Ele pediu
que o Senhor perdoasse completamente o pecado do povo e o restaurasse espiritualmente.
Estava disposto a oferecer-se a si mesmo em lugar de seu povo, e não somente
daria a sua vida, mas também estava disposto a renunciar à vida eterna a fim de
obtê-la para Israel.
A intercessão de Moisés foi grandemente
recompensada. O intercessor voltou a subir ao Monte Sinai e aí o Concerto foi
renovado e foram escritas novas tábuas da lei. Deus concedeu a Moisés uma nova
revelação do caráter divino proclamando seu nome: "Deus misericordioso e
piedoso, tardio em iras e grande em beneficência... que perdoa... que ao
culpado não tem por inocente" (Êx 34:6,7).
Conquanto Deus seja justo quando castiga os
malfeitores, sua maior glória é seu amor perdoador. Sua justiça e misericórdia
andam sempre juntas como se vê no caso da cruz do Calvário. Na ocasião aqui
descrita, Deus manifestou sua misericórdia perdoando a seu povo.
Quando Moisés desceu do monte, seu rosto
resplandecia com a glória de Deus. Isto nos ensina duas verdades: a formosura
de caráter e a força espiritual vêm da comunhão íntima com Deus; a pessoa na
qual se vê o brilho de Deus não percebe que está refletindo a glória divina, e
quando o sabe, deixa de ser radiante.
II. OS DEZ MANDAMENTOS
Os "Dez Mandamentos" revelam, na
aliança de Deus com Israel, o próprio caráter de Deus e, como tal, são uma
demonstração do comportamento que Deus requer de todo ser humano em relação a
Deus e ao semelhante, cuja profundidade e alcance foram bem demonstrados por
Jesus no sermão do monte.
Concordo com Solano Portela quando diz - em
seu livro “A Lei de Deus Hoje” - que
os Dez Mandamentos tem validação histórica,
didática, reveladora e normativa. Histórica
porque está entrelaçada na história da revelação de Deus e da redenção do Seu
povo. Didática porque ela nos ensina
o respeito ao nosso Criador e aos nossos semelhantes. Reveladora porque nos revela o caráter e a santidade de Deus, bem
como a pecaminosidade das pessoas. Normativa
porque ela especifica com bastante clareza o procedimento requerido por Deus a
cada uma das pessoas que habitam a sua criação, em todos os tempos.
1.
Origem do Termo. A expressão "Dez Mandamentos”, também conhecida
como “Decálogo”, vem de dois termos gregos: “deka”(dez), e “logos “(palavra),
ou seja, “dez palavras”. “Esses
Mandamentos, dados por Deus a Moisés, no monte Sinai, tornaram-se a base da
legislação levítica. Uma das mais duradouras legislações de todos os tempos. O
Decálogo é mais que um código de leis. Antes, é a base do pacto teocrático
(governo de Deus) que separou o povo de Israel como um veículo do favor divino,
como um elemento através do qual a mensagem espiritual haveria de ser
transmitida. Os inúmeros preceitos que aparecem em seguida, governando cada
aspecto da vida diária, ensinam-nos que Deus está atento a todos os aspectos da
nossa vida. Esse elaborado sistema tinha o intuito de governar a vida física
dos israelitas, mas também tinha funções educativas. O próprio Decálogo
estabelece alguns princípios perfeitamente éticos, cuja aplicação pode ser
vasta e abrangente” (CHAMPLIN, 2004, pp. 25,125).
O termo “dez mandamentos” ou “dez palavras”,
só aparece três vezes na Bíblia: Êxodo 34:28 e Deuteronômio 4:13; 10:4:
- "E ali esteve com o Senhor
quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão nem bebeu água; c escreveu nas
tábuas as palavras da aliança, as dez
palavras" (Êx 34:28);
- "Então vos anunciou ele a sua
aliança, que vos prescreveu, os dez
mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra" (Dt 4:13);
- "Então escreveu o Senhor nas
tábuas, segundo a primeira escritura, os
dez mandamentos que ele vos falara no dia da congregação, no monte, no meio
do fogo" (Dt 10:4).
2.
Classificação. “As autoridades religiosas de Israel sempre
classificaram os Dez Mandamentos em dois grupos: teológico e ético; vertical e
horizontal; relação do ser humano com Deus e com o próximo. Os primeiros
mandamentos são teológicos e se resumem no primeiro e grande mandamento (Dt
6.5; Mt 22.37,38; Mc 12.30; Lc 10.27). Os da segunda tábua são éticos, e
consistem em amar o próximo como a si mesmo (Lv 19.18; Mt 22.39; Mc 12.31)”
(LBM.CPAD).
Assim, partindo da
observação dos aspectos vertical e horizontal do Decálogo, traçamos o seguinte
esboço:
1.
O testemunho da singularidade e exclusividade de Deus (Êx 20:3).
2.
O testemunho da incomparabilidade de Deus (Êx 20:4-6).
3.
O testemunho da santidade de Deus (Êx 20:7).
4.
O testemunho do senhorio de Deus sobre o tempo (Êx 20:8-11).
5.
A proteção da velhice (Êx 20:12).
6.
A proteção da vida (Êx 20:13).
7.
A proteção do matrimonio e do corpo (Êx 20:14).
8.
A proteção da propriedade e do trabalho (Êx 20:15).
9.
A proteção da honra (Êx 20:16).
10.
A proteção contra as ambições erradas e a cobiça (Êx 20:17).
3.
O significado dos dez mandamentos.
Paul Hoff, em seu Livro “O Pentateuco”, explica o significado dos Dez
Mandamentos, conforme abaixo:
a) A unicidade de Deus -
"Não terás outros deuses diante de
mim”. Há um só Deus e só a ele havemos de oferecer culto. A adoração a
anjos, a santos ou qualquer outra coisa é violação do primeiro mandamento.
b) A espiritualidade de Deus -
"Não farás para ti imagem de
escultura... nem te encurvarás a elas" (Ex 20:4,5). Proíbe-se não
somente a adoração de imagens ou de deuses falsos, mas também prestar culto ao
verdadeiro Deus em forma errada. Tais coisas degradam ao Criador. Deus é
espírito e não tem forma.
As
palavras "porque eu, o Senhor teu Deus,
sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e
quarta geração daqueles que me aborrecem" (Êx 20:5) devem ser
interpretadas à luz do caráter de Deus e de outras Escrituras. Deus é zeloso no
sentido de Ser exclusivista, não tolerando que seu povo preste culto a outros
deuses. Como um marido que ama a sua esposa não permite que ela reparta seu
amor com outros homens, Deus não tolera nenhum rival.
Deus não castiga os filhos pelos pecados de
seus pais senão nos casos em que os filhos continuem nos pecados dos pais.
Castiga os que o "aborrecem", mas não os arrependidos. "A alma
que pecar, essa morrerá"; "o filho não levará a maldade do pai, nem o
pai levará a maldade do filho" (Ez 18:20). Em vez disso, a maldade passa
de geração a geração pela influência dos pais e, quando chega a seu ponto
culminante, Deus traz castigo sobre os pecadores (Gn 15:16; 2Reis 17:6-23; Mt
23:32-36).
c) A santidade de Deus - "Não
tomaras o nome do Senhor teu Deus em vão”. Este mandamento inclui
qualquer uso do nome de Deus de maneira leviana, blasfema ou insincera. Deve-se
reverenciar o nome divino porque revela o caráter de Deus.
Originalmente este mandamento se referia a
não jurar pelo nome de Deus se o juramento fosse falso (Lv 19:12), mas se
permitia jurar pelo seu nome (Dt 10:20). Contudo, Jesus proibiu terminantemente
jurar pelas coisas sagradas (Mt 5:34-37). A simples palavra de um filho de Deus
deve ser verdadeira, sem recorrer a juramentos.
d) A soberania de Deus -
"Lembra-te do dia do sábado, para o santificar".
Um dia da semana pertence a Deus. Reconhece-se a soberania de Deus guardando o
dia de repouso, visto que esse dia nos lembra que Deus é o Criador a quem
devemos culto e serviço. "Santificar" o dia significa separá-lo para
culto e serviço.
e) Respeito aos representantes de Deus
- "Honra a teu pai e a tua mãe". O homem que não
honra a seus pais tampouco honrará a Deus, pois esta é a base do respeito a
toda a autoridade.
f) A vida humana é sagrada - "Não
matarás". Este mandamento proíbe o homicídio, mas não a
pena capital, visto que a própria lei estipulava a pena de morte. Também se
permitia a guerra, visto como o soldado atua como agente do estado.
g) A família é sagrada - "Não
adulterarás". Este mandamento protege o matrimônio por
ser uma instituição sagrada instituída por Deus. Isto vigora tanto para o homem
como para a mulher (Lv 20:10).
h) Respeito à propriedade alheia:
"Não furtarás". Há muitas maneiras de violar este
mandamento, tais como não pagar suficientemente ao empregado, não fazer o
trabalho correspondente ao salário combinado, cobrar demasiado e descuidar a
propriedade do senhor.
i) A justiça: "Não dirás falso
testemunho". O testemunho falso, desnecessário, sem
valor ou sem fundamento constitui uma das formas mais seguras de arruinar a
reputação de uma pessoa e impedida de receber tratamento justo por parte dos
outros.
j) O controle dos desejos: "Não
cobiçarás". A cobiça é o ponto de partida de muitos dos
pecados contra Deus e contra os homens.
III. A QUESTÃO DOS PRECEITOS DA LEI
1.
Uma só lei. “Quanto à lei, algo precisa ser dito sobre
a alegada divisão em lei moral, lei cerimonial e lei civil. Desde muito tempo qualifica-se
o Decálogo como lei moral, enquanto a parte da legislação mosaica que trata das
cerimónias de sacrifícios e festas religiosas, entre outras, é chamada de lei
cerimonial, e os preceitos de caráter jurídico são considerados lei civil. A
visão tripartite da lei em preceitos morais, cerimoniais e civis não vem das
Escrituras. Os judeus jamais dividiram sua lei em moral e cerimonial. Ao longo
da história, eles observaram o sábado e a circuncisão com o mesmo cuidado.
Jesus disse que a circuncisão está acima do sábado (João 7:22,23)” (Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. p. 25. CPAD).
Segundo
o pr. Esequias Soares, o Decálogo é a única parte do Pentateuco
escrita "pelo dedo de Deus" (Êx 31:18), linguagem figurada que,
segundo Agostinho de Hipona, indica "pelo Espirito de Deus" e, de
acordo com Clemente de Alexandria, "pelo poder de Deus". É também a
única porção da lei que Israel ouviu partir da voz do próprio Deus no monte
quando ele transmitia essas “dez palavras” (Êx 19:24,25; 20:18-20). Os demais
preceitos foram transmitidos por Javé exclusivamente a Moisés. Além dessas
características, elas servem como esboço de toda a lei de Moisés. Todavia, isso
não coloca o seu conteúdo numa posição acima da legislação mosaica porque toda
a lei veio de Deus e "toda a Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3:16
- ARA).
2.
A Lei do Senhor e a lei de Moisés. Embora muitas vezes a Lei
do Senhor dada através de Moisés seja chamada de Lei de Moisés (Js 8:31; 1Rs 2:3;
Ed 7:6; Lc 2:22;24:44; 1Co 9:9), o registro do capítulo 20 do livro do Êxodo
nos mostra que Deus é a origem da Lei (Êx 20:1).
“Durante todas as negociações entre
israelitas e egípcios, quando os primeiros eram escravos dos últimos, o papel
de Moisés era, antes de mais nada, o de mediador. Deus não falou com Faraó, mas
mandou Moisés lhe falar. Ele continuou nesse papel durante a Páscoa – ‘Falai a
toda a congregação de Israel’ (Êx 12.3) e no êxodo – ‘Fala aos filhos de Israel’
(Êx 14.2). No Sinai, sua função continuava sendo a de transmitir a palavra de
Deus ao povo - ‘Estas são as palavras
que falarás aos filhos de Israel’ (Êx 19.6). Por outro lado, na revelação do
Decálogo esse aspecto foi omitido. Moisés ouviu juntamente com o povo, ao qual
Deus falou de modo direto (Êx 20.1). Essa é uma forma de a Bíblia nos dizer
que, quando lemos o Decálogo, estamos frente a frente com a excelência da
vontade de Deus para seus seguidores, no que diz respeito a estilo de vida e
compromisso moral. Observe a sequência aos Dez Mandamentos: ‘eu falei convosco
desde os céus’ (Êx 20.22), não do Sinai” (HAMILTON, 2007, p. 215).
3.
A lei de Deus. Todo o Pentateuco é considerado a Lei de
Deus e não meramente os Dez Mandamentos (ler Josué 24:26). O que de fato
existem são preceitos morais, cerimoniais e civis, mas a Lei é uma só. “É
chamada de Lei de Deus porque veio de Deus, e lei de Moisés porque foi ele o
mediador entre Deus e Israel (Ne 10:29). Ambos os termos aparecem
alternadamente na Bíblia (Ne 8:1,2,8,18; Lc 2:22,23). A cerimonia dos
holocaustos, a circuncisão e o preceito sobre o cuidado dos bois são igualmente
reconhecidos como lei de Moisés (2Cr 23:18; 30:16; At 15:5; 1Co 9:9)” (LBM –
CPAD).
IV. A LEI DA GRAÇA
1. A transitoriedade da Lei. Em
João 15:10, lemos que Jesus cumpriu lodos os mandamentos de Seu Pai. Em Mateus
5:17,18, também lemos que Jesus cumpriu toda a lei, os preceitos morais,
cerimoniais e civis. Todavia, na opinião dos fariseus expressa em João 5:18,
Jesus teria quebrado a lei da santificação do sábado. O incidente aqui
relacionado não se refere à validade da lei mosaica em si, mas à sua
interpretação.
Enquanto os fariseus, com sua filosofia
casuísta e astúcia precisa, queriam defender e cumprir rigorosamente os
preceitos a respeito do sábado, Jesus apoiou os discípulos que debulharam grãos
(Mt 12:1-8) e operou várias curas no sábado (Mt 12:9-14; Lc 13:10-17; 14:1-6).
Além disso, Jesus declarou que é Senhor do sábado (Mt 12:8) e que o sábado foi
estabelecido por causa dos homens, e não vice-versa (Mc 2:27).
Jesus rejeitou a interpretação legalista ou
puramente moralista da lei mosaica (Gl 1:14). Isto se torna ainda mais evidente
diante da mulher descoberta em flagrante adultério. A lei mandava que ela fosse
apedrejada até a morte (Lv 20:10; Dt 22:22-24); Jesus, porém, com Sua graça perdoadora
e restauradora, redimiu a mulher e convidou-a a não mais pecar (João 8:11).
O apóstolo Paulo é muito claro quando fala que
“o ministério da morte, gravado com letras em pedras [...] era transitório”
(2Co 3:7,11). A verdade moral contida no sistema mosaico, como disse o teólogo
Chafer, “foi restaurada sob a graça, adaptada à graça e não à lei”. Isso diz
respeito a sua função e não compromete a sua autoridade como revelação de Deus
e parte das Escrituras divinamente inspiradas (2Tm 3:16,17). Várias vezes Jesus
declarou que a lei mosaica é a Palavra de Deus (Mc 7:13; João 5:38) ou a lei de
Deus (Mt 15:6). Repetidas vezes encontramos a frase "está escrito", indicação da validade da lei (Mt
4:4;11:10,etc), e a pergunta retórica "não
lestes?" (Mt 12:3a).
Jesus Cristo não exige de Seus discípulos a
execução exterior da lei, mas sim que eles permaneçam em Cristo (João 15:4,5).
O Espírito Santo é quem esclarece e mostra o significado e as implicações
práticas disso, de acordo com tudo aquilo que Cristo ensinou (João 14:26;15:26;16:13).
Em Romanos 8:4, o apóstolo Paulo enfatiza, com bastante clareza e exatidão, que
a lei cumpre-se em nós quando andamos no Espírito.
“O Espírito Santo operando dentro do crente,
capacita-o a viver uma vida de retidão que é considerada o cumprimento da lei
moral de Deus. Sendo assim, a operação da graça e a guarda da lei moral de Deus
não conflitam entre si (cf. Rm 2:13; 3:31; 6:15; 7:12,14). Ambas revelam a
presença da justiça e da santidade divinas” (Bíblia de Estudo Pentecostal).
2.
A Graça. Segundo Paulo, nós estamos debaixo de uma
nova aliança caracterizada pela graça (Rm 8:6-17). A Graça é a presença e o amor de Deus em Cristo
Jesus, transmitidos aos crentes pelo Espírito Santo, e que lhes outorga
misericórdia, perdão, querer e poder para fazer a vontade de Deus (1Co 15:10 Fp
2:13). Toda atividade da vida cristã, desde o seu início até o fim, depende
desta graça divina. Deus concede graça ao crente para seja “liberto do pecado”
(Rm 6:20,22), para que nele opere “tanto o querer como o efetuar, segundo a sua
boa vontade” (Fp 2:13), para crescer em Cristo (2Pe 3:18) e para testemunhar de
Cristo (At 4:33; 11:23).
A lei diz “faça e
viva”, no entanto, a graça diz “viva e faça”. Por esta razão os cristãos estão
debaixo da graça, e não da lei (Rm 6:14; Gl 3:23-25). A lei não tem domínio
sobre nós (Rm 7:1-4). Graças a Deus!
3.
Os Mandamentos de Cristo. Jesus falou diversas
vezes sobre o Novo Mandamento, a Lei de Cristo, o amor operado pelo Espírito
Santo na vida cristã:
- “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis
uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos
ameis” (João 13:34).
-
“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de
meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (João 14:15,21).
-
“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, do mesmo modo
que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor” (João
15:10).
Está escrito em Rm 13:8-10:
8.
A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos
outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.
9.
Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso
testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra
se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
10.
O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.
O apóstolo Paulo escreveu aos Gálatas:
“Porque
toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo” (G 5:14).
Portanto, o mandamento de Cristo é a fé
nEle, é a lei do amor e não a letra da lei. Quem ama a Cristo tem a Lei do
Espírito em seu coração.
CONCLUSÃO
A Lei de Deus é, antes de tudo, um
instrumento de diagnóstico para expor e condenar o pecado, em preparação para o
evangelho. Entretanto, para a pessoa perdoada e capacitada peio Espírito
através da fé, a lei é também um guia moral, uma norma de comportamento
cristão. A ética cristã está baseada nos Dez Mandamentos, mas é determinada e
decidida pelo amor (Rm 13:8), guiada e direcionada pelo Espírito Santo (Rm 8:4)
e cumprida cm Cristo (Mt 5:15-18).
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Luciano
de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Revista Ensinador Cristão – nº 61. CPAD.
Eugene
H. Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.
Paul
Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.
Leo
G. Cox - O Livro de Êxodo - Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Victor
P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.
Hans Ulrich Reifler.
A ética dos dez Mandamentos. Vida Nova.
Esequias Saores. Os
Dez Mandamentos – Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança.
CPAD.
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