domingo, 17 de julho de 2022

Aula 04 - A SUTILEZA DA NORMALIZAÇÃO DO DIVÓRCIO

 

3° Trimestre/2022


Texto Base: Mateus 19:1-9

 

 “Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem” (Mt.19:6).

Mateus 19:

1.E aconteceu que, concluindo Jesus esses discursos, saiu da Galileia e dirigiu-se aos confins da Judéia, além do Jordão.

2.E seguiram-no muitas gentes e curou-as ali.

3.Então, chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?

4.Ele, porém, respondendo, disse-Lhes: Não tendes lido que, no princípio, o Criador os fez macho e fêmea

5.e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne?

6.Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem.

7.Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la?

8.Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza do vosso coração, vos permitiu repudiar vossa mulher, mas, ao princípio, não foi assim.

9.Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo sobre “os ataques contra a Igreja de Cristo”, estudaremos nesta Aula a respeito da “sutileza da normalização do divórcio”. O divórcio é um tema que, desde o tempo da lei de Moisés, tem despertado muitas discussões no meio do povo de Deus. Entretanto, o cristão não tem motivos para se embaraçar com este assunto, que foi claramente tratado por Jesus. Embora não seja desejado por Deus, há situações em que a Bíblia autoriza o divórcio, exatamente porque acima da relação familiar está a necessidade de mantermos nossa comunhão com o Senhor. Nesta Aula faremos uma análise sobre o divórcio no contexto da cultura bíblica e contemporânea; tomaremos como padrão aquilo que as Escrituras Sagradas ensinam sobre esse assunto.

I. O DIVORCIO NO CONTEXTO BÍBLICO

1. O divórcio no contexto do Antigo Testamento

No Antigo Testamento, o divórcio, em certos casos, apesar da reprovação de Deus (Ml.2:16), era previsto (Dt.24:1-4). A lei de Moisés, repetindo disposições de outras legislações do seu tempo, previa o divórcio, ainda que, para os juristas, a previsão da lei de Moisés mais propriamente era a do repúdio, ou seja, autorização para que o marido (e só o marido) dispensasse a sua mulher, liberando-a para um novo casamento, algo que ainda existe nos países islâmicos na atualidade.

Como se sabe, uma das consequências do pecado foi a desigualdade de sexo, ou seja, estabeleceu-se na ordem social dos homens uma diferença entre o homem e a mulher (Gn.3:16), diferença que persiste até hoje, em todos os países, em todas as épocas, algo que somente será eliminado no reino milenial de Cristo. Ora, esta diferenciação, com a supremacia do homem sobre a mulher, criou, entre outras coisas, o instituto do repúdio, pelo qual o homem poderia descartar a mulher e, assim, liberar-se para casar-se com outra. Foi por isso que Jesus afirmou que a presença do repúdio na lei de Moisés não era uma ordenação divina, mas, bem ao contrário, consequência da dureza dos corações dos seres humanos pecadores (Mt.19:8). Assim, de pronto já se verifica que o divórcio não se encontra previsto no plano originário para a raça humana, mas é uma realidade tolerada por Deus, pois é fruto da consequência do pecado.

Na lei de Moisés, como em toda legislação antiga (e até hoje entre os islâmicos), o divórcio (ou melhor, repúdio) era prerrogativa exclusiva do marido e dependia unicamente de sua vontade. O texto bíblico afirma que, para repudiar a mulher, bastava ao homem “não achar graça em seus olhos” ou “nela achar coisa feia” (Dt.24:1). O texto não especifica o que significa essa expressão; isso deu margem para uma série de debates pelas escolas rabínicas, que a interpretavam de diferentes modos. No entanto, fica claro que não se tratava do adultério, que no tempo de Moisés era punido com a morte (Dt.22:22). Depreende-se, portanto, que não se exigia qualquer motivo senão a vontade do marido em repudiar sua mulher. Esta situação foi confirmada pelos escribas e rabinos nos séculos posteriores, que sempre deram amplo espaço para o arbítrio masculino neste assunto. A lei de Moisés apenas exigia que o repúdio se desse por escrito (daí a expressão “carta de divórcio” ou “carta de repúdio”) – Dt.24:1 – bem como proibia que o casal assim desfeito se reconstituísse (Dt.24:4). Contudo, após o divórcio, a mulher poderia se casar com outro homem e que, nesse caso, ela não estaria cometendo adultério. Em outras palavras, em tal circunstância, o seu segundo casamento era legítimo. Mas, seu primeiro marido, de quem ela havia se divorciado, não poderia se casar novamente com ela.

Outro fator a ser observado no Antigo Testamento é que o homem que tivesse acusado falsamente a mulher de pecado sexual antes do casamento, não poderia repudiar a mulher alvo da acusação (Dt.22:13-19), assim como o homem que tivesse desvirginado uma jovem e fosse compelido a se casar pelo pai da moça, não poderia jamais repudiar a mulher (Ex.22:16,17; Dt.22:28,29). Verifica-se, portanto, pela lei de Moisés, que a perda do direito de repudiar a mulher era uma penalidade ao homem.

2. O divórcio no contexto do Novo Testamento

No contexto do Novo Testamento, o divórcio só é permitido em duas circunstâncias – adultério e abandono (Mateus 5:32; 19:9; 1Corintios 7:15). Nos dias de Jesus, havia grande discussão entre os rabinos a respeito do divórcio, pois se entendia que a posição assumida pela mulher no instituto do repúdio era indigna, e havia uma certa incoerência entre as regras éticas sublimes da lei e as regras a respeito do divórcio. No Sermão do Monte, onde se contém uma síntese de Sua doutrina, Jesus foi bem claro ao mostrar que o divórcio não se encontra no plano de Deus para o ser humano, mas que é consequência do pecado, e como a presença do pecado é, ainda, uma realidade na sociedade humana, devemos saber conviver com o problema do divórcio.

Jesus deixa claro que o divórcio não é proibido, embora não seja algo planejado por Deus; é uma realidade que temos de enfrentar. Ao tratar do assunto, Jesus afirmou que, ao contrário do que dizia a lei de Moisés, que permitia o repúdio da mulher por qualquer motivo, dependendo única e exclusivamente da vontade do marido, o divórcio deveria ser visto sob um outro prisma, qual seja, o do relacionamento do cônjuge com Deus. Deste modo, só se admitiria o divórcio na situação limite em que o cônjuge deveria optar entre a fidelidade a Deus e a fidelidade assumida no casamento. Daí porque ter Jesus considerado que o único motivo que justificaria o divórcio seria a prostituição (Mt.5:32). Observe que a Bíblia fala em “prostituição”, na língua original “porneia”, palavra que se refere a toda espécie de impureza sexual (de onde vem, por exemplo, a palavra pornografia).

Jesus Se referiu a “prostituição” como único motivo que justificaria o divórcio; ou seja, sempre que houver impureza sexual, sempre que um dos cônjuges estiver usando seu corpo para o pecado, sem qualquer respeito aos mandamentos divinos concernentes à ética sexual, está o cônjuge fiel a Deus autorizado pela Bíblia a se divorciar, uma vez que está em xeque a sua própria fidelidade a Deus, pois quem se une a uma meretriz (e aqui meretriz deve ser entendida como qualquer pessoa que faz de seu corpo instrumento de pecados sexuais), faz-se um só corpo com ela, estabelece uma comunhão com os pecados cometidos por essa pessoa, e é sabido que não há comunhão entre a luz e as trevas (1Co.6:15-20; 1Jo.1:5-7; Jo.3:19-21; 2Co.6:11-18).

Deste modo, nos evangelhos, embora vejamos que não se encontra no propósito divino o divórcio, ele é visto por Jesus como uma realidade neste mundo contaminado pelo pecado. Entretanto, deve ser enfatizado que mesmo Jesus reconhecendo a validade de um novo casamento em razão de traição, Ele não estimulou a prática do divórcio nem tampouco a ordenou. Há sempre a possibilidade para o perdão e a reconciliação de uma relação que foi quebrada por uma das partes.

Outra circunstância que justifica o divórcio é o abandono do cônjuge, conforme 1Corintios 7:15. Havia uma certa preocupação dos cristãos de Corinto em não repetir os costumes licenciosos e permissivos então vigentes na sociedade helenística daquele tempo, por isso questionou a Paulo sobre o casamento. Esta preocupação dos crentes de Corinto já nos mostra que um cristão deve ter um comportamento diferente, em relação a esse assunto, do comportamento mantido pelo mundo, comportamento que é caracterizado pela total banalização do casamento, que é uma das características do novo modelo cultural nestes tempos pós-modernos (Mt.24:37-39; Hb.13:4).

Conforme entende o pastor Caramuru Afonso Francisco, neste ensinamento aos crentes de Corinto, Paulo trata da questão dos casamentos mistos, ou seja, dos casamentos realizados antes da conversão, em que um dos cônjuges é crente e o outro se recusa a aceitar a fé, impondo uma situação-limite entre a comunhão com Deus e a comunhão com o cônjuge. Temos, aqui, portanto, uma situação em que o casamento é colocado em xeque por causa da vida de comunhão com Cristo. O ensinamento de Paulo é no sentido de que o cônjuge crente deve preservar o casamento e tentar conquistar seu cônjuge para Cristo, mas que, em havendo uma situação-limite entre a fé e o casamento, havendo o abandono, o cônjuge crente deve consentir com a dissolução do vínculo matrimonial, ficando livre para se casar novamente, contanto que seja no Senhor (1Co.7:12-17), ou seja, com uma pessoa temente a Deus. Salvo nesta hipótese, não é permitido o divórcio, embora tolere a separação, mantido o vínculo matrimonial (1Co.7:10,11).

Em suma, combinando o ensino de Jesus com o de Paulo, percebe-se que há apenas dois motivos legítimos para o divórcio: (a) o adultério e (b) o abandono por um cônjuge descrente, quando todas as tentativas razoáveis de reconciliação falharam. Portanto, tanto o divórcio quanto o novo casamento são permitidos quando o cônjuge de uma pessoa cometeu adultério ou abandonou irreparavelmente o casamento.

É bom dizer aqui que, quando um homem, que se diz crente, espanca a sua esposa e demonstra através de atos que não a ama, isto é caracterizado abandono, pois ele está agindo pior do que o ímpio que não conhece a Bíblia e as suas recomendações com relação ao casamento. Sendo assim, se esse homem espancador não abandonar seus atos nefastos e não mudar seu modo de agir com a esposa como manda as Escrituras Sagradas, estará motivando à dissolução desse casamento. A recomendação do apóstolo Paulo ecoa no meio das famílias: “não deis lugar ao diabo” (Ef.4:27).

É bom enfatizar que um casamento necessita de companheirismo entre marido e mulher, o que exige comunicação contínua entre os cônjuges e extrema franqueza. Não podem os cônjuges vacilar e iniciar uma vida sem diálogo, uma vida de afastamento, que pode ser fatal para o relacionamento. A vida construída em comum não dispensa a comunicação entre os cônjuges. Aliás, “comunicação” é a “ação de tornar comum”, e como poderemos construir uma vida em comum se marido e mulher não agirem em mútuo acordo? Como disse o profeta Amós: andarão dois juntos se não estiverem de acordo? É preciso que haja um compartilhamento, uma cumplicidade entre marido e mulher, sem o que o casamento não poderá se desenvolver nem prosseguir. O casamento deve ser um ambiente de solidariedade, de partilha, onde “se celebre a partilha do abraço e do pão”. Pense nisso!

II. A SUTILEZA DA NORMALIZAÇÃO DO DIVÓRCIO

1. O divórcio no seu aspecto legal

O divórcio é o rompimento legal e definitivo do vínculo de casamento civil. No Brasil o divórcio só foi legalizado em 26 de dezembro de 1977, com a Lei do Divórcio (Lei 6.515/1977), fruto de uma emenda constitucional proposta pelos senadores Nelson Carneiro (MDB-RJ) e Acciolly Filho (Arena-PR); ela alterava o trecho da Carta que impedia a dissolução do vínculo matrimonial. Foi essa mudança que abriu caminho para a Lei do divórcio no Brasil.

Antes da aprovação dessa lei, o casamento era indissolúvel. Aos maridos e esposas em conflitos, e que desejam a separação, só restava o desquite, que encerrava a sociedade conjugal, com a separação de corpos e de bens, mas não extinguia o vínculo matrimonial. Assim, pessoas desquitadas não podiam se casar novamente. Quando voltavam a se unir a alguém, a união não tinha respaldo legal, e os filhos eram considerados ilegítimos, como os gerados em relacionamentos extraconjugais da época. Além de não terem amparo da legislação, esses casais que viviam “em concubinato”, segundo o termo jurídico, sofriam com preconceito, especialmente as mulheres. A partir da Constituição de 1988, passou-se a permitir divorciar-se e recasar quantas vezes fosse preciso. Hoje se troca de cônjuge como se troca de roupa. Mas para aqueles que têm a Bíblia como regra de fé e prática, há apenas duas justificativas para o divórcio, as quais foram mencionadas no item anterior. A Bíblia é a constituição da Igreja, e é imutável.

2. O divórcio no seu aspecto moral

A lei do divórcio está aí; a pessoa pode se divorciar quantas vezes quiser. Se quiser, pode trocar a esposa por uma mais jovem ou abandonar o marido por um mais rico e famoso, e outras atitudes do gênero. No mundo sem Deus, estes comportamentos são práticas consideradas normais, e são amparadas legalmente pelo Estado brasileiro. Mas o cristão verdadeiro, que tem a Bíblia como regra de fé e prática, não deve agir dessa maneira, pois esse tipo de comportamento não se enquadra dentro do aspecto da moralidade cristã (Mt.19:4-6).

A Bíblia Sagrada sobrepõe a qualquer constituição humana, no aspecto espiritual e moral, e ela não permite que os súditos do Reino de Deus tenham uma vida devassa, mesmo que o Estado dê total legalidade ao caso. Se no meio cristão as pessoas querem agir como age as pessoas do mundo, trocando os cônjuges por qualquer motivo, o problema é delas; são elas que vão prestar conta com Deus; mas jamais podem alegar que não sabiam que tudo isso a Bíblia proíbe.

Outra questão diz respeito aos pastores. Pode um pastor que sofreu um processo de divórcio continuar exercendo o seu ministério pastoral? Depende. Se a razão que motivou esse divórcio for bíblica (Mt.19:9 e 1Co.7:15), então não vejo nenhum problema; caso contrário, esse pastor não terá nenhuma moral para exercer liderança ministerial na Igreja. Como ele irã ministrar um casamento, uma reunião de família ou um aconselhamento? Certamente não terá moral nenhuma. Pode ser até legal, mas jamais moral. O divórcio precisa ocorrer na esfera legal, e, ao mesmo tempo, na esfera moral.

III. O DIVÓRCIO E A PRÁTICA PASTORAL

1. A pessoa do divorciado

O divórcio é dramático para toda a família, principalmente quando há filhos gerados no casamento desfeito. Sequelas surgirão; mal-estar social entre os divorciados, principalmente dentro da igreja local, será uma realidade. Isso certamente abalará o crente divorciado. Há aqueles que quando se divorciam abandonam a congregação, se afastam, mas é nessa hora que eles mais precisam de Deus. O crente divorciado precisa fazer uma avaliação do porquê do divórcio, corrigir erros, ou até quem sabe pedir perdão. Mas o que ele precisa saber é que Deus o ama, e que sempre o dará oportunidade de ser feliz. É por isso que Deus é misericordioso e cheio de graça.

É notório que a igreja tem faltado com o seu dever de tratar dos problemas que envolvem os cônjuges de sua comunidade, bem assim de cuidar dos divórcios que têm ocorrido em seu interior. Embora não partilhemos do entendimento de que o casamento seja um sacramento, é evidente que a igreja tem participação na construção das novas famílias em seu interior, tanto que se realizam cultos para que os cônjuges assumam compromissos perante a igreja em razão do casamento que está sendo realizado, buscando a bênção de Deus e o reconhecimento da igreja para sua união. Se assim é, então, no momento da dissolução do casamento, a igreja também deve ser ouvida a fim de que os cônjuges possam apresentar o divórcio à comunidade, bem como assumir compromissos solenes diante desta dissolução perante a igreja e serem ajudados espiritualmente nesta nova situação social.

2. O divorciado como cristão

A sutileza da normalização do divórcio tem sorrateiramente penetrado nas famílias que são membros das igrejas locais, e talvez seja esse um dos principais desafios pastorais da atualidade. Veja uma situação que sempre ocorreu e ocorre, e que se intensificou nestes tempos pós-modernos de extensão do novo modelo cultural e da banalização do casamento -muitos que aceitam a Cristo passaram por processo de divórcio, e não necessariamente motivadas pelas duas razões bíblicas aqui mencionadas. E aí? Como os pastores se comportarão diante deste quadro? Na Igreja de Corinto, certamente, isso era uma realidade recorrente. No capítulo sete de 1Corintios, Paulo mostra que a igreja deve desconsiderar a vida antes da conversão da pessoa, pois ela não tinha conhecimento da salvação, e não devemos levar em conta os tempos da ignorância, já que nem Deus os considera (At.17:30).

Infelizmente, muitas igrejas locais não têm se comportado como mandam as Escrituras, exigindo daqueles que se convertem já divorciados que se reconciliem com seus antigos cônjuges, desconsiderando até, em muitos casos, que já há situações de fato irreversíveis, com constituição de novas famílias por ambos os ex-cônjuges. Se tudo isso ocorreu antes da conversão, deve ser totalmente desconsiderado pela igreja, que deverá cuidar para que, doravante, o novo convertido possa estabelecer uma vida familiar de acordo com os ditames da Palavra de Deus.

Outra situação que sempre ocorre: apenas um dos cônjuges se dispõe seguir a Cristo como único Senhor e Salvador, e por causa disso foi abandonado pelo cônjuge descrente por abraçar essa decisão. E aí? Como o pastor deve proceder? Para essa situação, o apóstolo Paulo já explicou em 1Corintios, capítulo 7. O que o líder da igreja deve fazer é ensinar o novo convertido a respeito do que ensina a Bíblia Sagrada e orientá-lo no sentido de conquistar seu cônjuge para Cristo; mas em havendo a situação-limite, aceitar eventual divórcio, visto que ele é uma demonstração da verdadeira fidelidade do crente a seu Senhor e da dureza do coração do cônjuge descrente.

Enfim, muitas são as situações; e, como afirma o pr. José Gonçalves, “cada situação deve ser analisada com cuidado, de forma que o divorciado não deixe de ser visto como alguém amado por Deus. Contudo, que esse amor não sirva de justificativa para anular a justiça de Deus que exige uma vida que se orienta por sua Palavra”. Que assim seja!

CONCLUSÃO

O casamento não é um contrato - algo precário e descartável -, mas uma aliança entre um homem e uma mulher, diante de Deus; é uma instituição divina, que reflete o ideal de Deus, e que nunca devia ser dissolvido. Mas, por causa do pecado, isso ocorre, desde que obedecido os quesitos exarados na Palavra de Deus, aqui apresentados. Influenciados por um modelo cultural perverso e infame, muitos cristãos na atualidade têm considerado o divórcio com “normalidade”, todavia, o divórcio nunca deve ser visto pela Igreja como uma normalidade, mesmo que satanás e os seus sistemas digam o contrário.

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Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Luciano de Paula Lourenço. Aula 08 – Ética Cristã e Sexualidade – Subsídio. 2º Trimestre/2018.

Dr. Caramuru Afonso Francisco. O Divórcio. PortalEBD_2013.

Pr. Elinaldo Renovato. O cristão e a sexualidade. CPAD.

 

domingo, 10 de julho de 2022

Aula 03 - A SUTILEZA DA IMORALIDADE SEXUAL

 

3° Trimestre/2022


Texto Base: 1 Coríntios 6.15-20; Romanos 1.26-28

 

“Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo” (1Co.6:18).

1 Coríntios 6:

15. Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo e fá-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo.

16. Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne.

17. Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito.

18. Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.

19. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?

20. Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.

Romanos 1:

26. Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.

27. E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.

28. E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém;

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do pecado da imoralidade sexual. No Novo Testamento, a palavra grega “porneia” é a mais frequentemente traduzida como “imoralidade sexual”; é também traduzida como “prostituição”, “fornicação” e “idolatria”; significa “renúncia à pureza sexual”, e é usado principalmente para relações sexuais antes do casamento. Inclui também o homossexualismo e a bestialidade. Dessa palavra grega obtemos a palavra inglesa pornografia, derivada do conceito de “venda”. A imoralidade sexual, portanto, é a “venda” da pureza sexual e envolve qualquer tipo de expressão sexual fora dos limites de um relacionamento matrimonial biblicamente definido (Mt.19:4,5). A geração de Moisés cometeu vários pecados, dentre eles estava a imoralidade sexual (1Co.10:8). Os israelitas se misturaram com as mulheres moabitas que os levaram à prostituição, e também a adorar os deuses dos moabitas. Na Bíblia, há uma estreita conexão entre prostituição e idolatria - onde se vê idolatria, aí também a prostituição está presente; onde se vê prostituição, aí também a idolatria aparece. Devemos nos precaver, pois nesta área o inimigo de Deus tem utilizado dos seus ardis para destruir muitos daqueles que cristãos dizem ser. Oremos e vigemos para que não caiamos em tentação.

I. A REVOLUÇÃO SEXUAL

1. Um novo paradigma para a sexualidade

A revolução sexual trouxe um novo paradigma à sexua­lidade moderna. Presenciamos hoje uma explosão sexual nunca vista na história da humanidade. Em tudo que se vê e ouve – na TV, no Rádio, nas mídias sociais, na internet (principalmente nesta), o erotismo está presente de uma forma dominadora e conquistadora. Os valores morais judaico-cristãos foram severamente abalados, e isto tem perturbado muitas pessoas que se dizem cristãos, em todo o orbe evangélico. O verdadeiro cristão tem a Bíblia sagrada como regra de fé e prática, cujos ditames são imutáveis. O conselho dado a Igreja em seu nascedouro - “não pratiquemos a imoralidade sexual...” (1Co.6:18; 10:8) – continua em pleno vigor. A exortação do apóstolo Paulo, afirmando que os praticantes da imoralidade sexual não vão morar no Céu (1Co.6:8), continua inalterada. Portanto, para a Igreja, a sexualidade humana continua sendo vista como algo sagrado e que deve ser exercida dentro dos parâmetros estabelecidos pela Bíblia Sagrada; ou seja, as relações sexuais devem ser heterossexual monogâmicas, e dentro do casamento entre um homem e uma mulher, conforme Deus instituiu. Satanás, com todos as suas sutilezas, tem procurado debelar este paradigma, mas o crente em Cristo não deve cair nesta arapuca de satanás. A facilidade de cair no erro é muito grande, muito mais do que antes da revolução sexual ocorrido nos anos de 1960; por isso, é necessário um hercúleo esforço para suportar a tentação e os torpedos do inimigo de nossas almas. Com a ajuda do Espírito Santo teremos vitória. Vigiemos, pois o Senhor não tarda a vir!

2. A quebra de um “tabu”

Como eu disse, estamos vivendo uma explosão sexual nunca vista, e isto é fruto de uma ideologia cultural que há anos vem sendo construída em todo o mundo, com mais força no Ocidente. Muitos movimentos contestadores da moral judaico-cristã consideram que a sexualidade, conforme defendida pelo Cristianismo, é um tabu a ser quebrado; parece que isto está funcionando, haja vista o que vem ocorrendo com muitos que se dizem cristãos.

A visão de que o sexo é algo sagrado para ser vivenciado na esfera do casamento perde força a cada dia, infelizmente. O que era uma prática pecaminosa no passado passou a ser aceito por muitos como um comportamento tolerado e até mesmo permitido. Como afirma o pr. José Gonçalves, ao mesmo tempo em que se forma como um novo paradigma para a sexualidade humana, esse modelo cultural desconstrói os valores morais cristãos; seus efeitos não são vistos apenas na cultura secular, que já se rendeu por completo a seus apelos, mas também tem causado grande impacto e influenciado de forma drástica a igreja evangélica.

É inegável que a forma como se define o certo e o errado em relação ao comportamento sexual mudou de forma drástica nos últimos anos. Assim, a ideia de que o sexo é algo sagrado para ser experimentado somente na esfera do casamento, como defini a moral cristã, passou a ser duramente contestada a partir da revolução sexual de 1960. Cada vez mais, práticas que fugiam da forma tradicional de expressar a sexualidade ganharam aprovação popular. O sexo livre, praticado fora da esfera do casamento, o relacionamento extraconjugal e a homossexualidade tornaram-se práticas cada vez mais normais dentro desse novo paradigma cultural. Isto é muito preocupante!

Satanás está ganhando terreno ao liberalismo anárquico e vulgar da prática sexual; isto é visivelmente notado e incentivado nos meios de comunicação escrito e falado, principalmente nas mídias sociais. Segundo o pr. José Gonçalves, está ficando cada vez mais frequente pastores aconselharem jovens que romperam os limites da castidade envolvendo-se em relações íntimas antes do casamento. Infelizmente, muitos líderes de igrejas ditas evangélicas, sentindo a pressão social e cultural, passaram a fazer concessões a essa nova modalidade cultural; porém, Deus não mudou nem a Sua Palavra. Logo, se um líder faz concessão a este novo modelo cultural arquitetado por Satanás, certamente, este líder, segundo a Bíblia Sagrada, não terá um fim agradável; para estes líderes, o Senhor não poderá dizer: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mt.25:21).

Veja, a seguir, um breve relato sobre a vida e sexualidade humana, por Nancy Pearcey:

“A vida humana e a sexualidade tornaram-se as questões morais divisoras de águas de nossa época. Todos os dias, o ciclo de 24 horas de notícias relata o avanço de uma revolução moral secular em áreas como sexualidade, aborto, suicídio assistido, homossexualidade e transgenerismo. A nova ortodoxia secular está sendo imposta por intermédio de quase todas as grandes instituições sociais: academia, mídia, escolas públicas, Hollywood, corporações privadas e a lei. […] Aqueles que discordam do éthos secular corrente apelam ao direito à liberdade religiosa. Já o presidente da Comissão de Direitos Civis dos Estados Unidos escreveu com desdém que a expressão “liberdade religiosa” não representará nada, a não ser hipocrisia, enquanto permanecer com o código para a dis­criminação, intolerância, racismo, sexismo, homofobia, islamofobia, supremacia cristã ou qualquer outra forma de intolerância. Observe que a expressão ‘liberdade religiosa’ é colocada entre aspas, como se fosse um direito ilegítimo, e não um direito fundamental em uma sociedade livre. O próximo passo será negar aos cidadãos a sua liberdade religiosa – e isso já começou. Aqueles que resistem à revolução moral secular têm per­dido empregos, negócios e posições de ensino” (PEARCEY, Nancy. Ama o teu Corpo: Contrapondo a cultura que fragmenta o ser humano criado à imagem de Deus.1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, pp.11,12).

II. AS PRINCIPAIS DISTORÇÕES DA SEXUALIDADE SADIA

1. A prática da fornicação

Já estudamos sobre isso muitas vezes e advertido que a formicação é um pecado abominável. Este tipo de abominação faz parte do rol impeditivo da pessoa ir morar no Céu (Ap.21:8). Infelizmente, o advento das redes sociais, principalmente o subproduto mídia social, tem contribuído drasticamente para a multiplicação e a contumácia deste pecado. Com a maior interação com as mídias sociais, não há dúvida de que a tentação de se expor no ambiente virtual é muito maior; e aquilo que é mostrado e visto apenas no ambiente virtual logo se transforma numa prática física do mundo real – a fornicação, que é a prática do sexo entre solteiros ou entre casado e solteiro (Enc. Bíblica Boyer). 

As Escrituras Sagradas são bem claras ao afirmar que os fornicários não herdarão o reino dos Céus (At.15:29; Ef.5:5; 1Tm.1:10; Hb.12:16; Ap.21:8). O sexo foi estabelecido por Deus, mas tem momento certo para ser exercido: o casamento. Somente no casamento se pode praticar o sexo lícito, sendo totalmente contrária à Palavra de Deus qualquer outra conduta que não seja esta. É com tristeza, aliás, que vemos, cada vez mais, uma tolerância de muitos na igreja com relação a este princípio bíblico, permitindo-se o sexo antes do casamento entre “pessoas já comprometidas”, como se isto fosse possível.

As bases do casamento são lançadas no namoro e alicerçadas no noivado. Se essas bases forem lançadas sobre a desobediência a Deus, na prática da fornicação, estão correndo sério risco de não terem a bênção de Deus; não adiantará uma cerimônia pomposa, com dezenas de testemunhas, vestido de noiva com véu e grinalda, com modelo personalizado, nem uma recepção no melhor clube da cidade. Ter a bênção de Deus no casamento é de suma importância. Pense nisso!

2. Adultério: Não é crime, mas é pecado

Adultério é a relação sexual entre uma pessoa casada e quem não é seu cônjuge; é grave pecado, que na lei de Moisés era duramente apenado (Lv.20:10; Dt.22:22). Hoje, no Brasil, não é considerado mais um crime, contudo, à luz da Bíblia não deixou de ser um pecado. A Bíblia Sagrada reprova veementemente a prática do adultério.

Aquele que pratica adultério quebra pelo menos cinco dos Dez Mandamentos. Primeiro: "não terás outros deuses diante de mim" - quem adultera está dizendo que existe um relacionamento mais importante do que o relacionamento com Deus. Segundo: "não dirás falso testemunho contra o teu próximo" - além de quebrar os votos matrimoniais, o adúltero geralmente engana para encobrir o seu pecado. Terceiro: "não furtarás" - quando Davi pecou com Bate-Seba, o profeta Natã o acusou, principalmente, de roubar a mulher do próximo. Quarto: "não cobiçará" - o adultério começa com a cobiça. Quinto: "não adulterarás". Este é um mandamento que consiste em uma proibição absoluta, sem nenhuma concessão. Isto vigora tanto para o homem como para a mulher (Lv.20:10). A finalidade precípua é proteger o matrimônio, instituição sagrada instituída por Deus.

Diante destes pormenores, percebe-se que o adultério é um pecado muito sério. É válido ressaltar que a sexualidade, dentro dos padrões morais exarados nas Escrituras Sagradas, é santa. Deus criou o homem sexuado - “macho e fêmea os criou” (Gn.1:27). Deste modo, a atividade sexual não é algo pecaminoso nem estranho ao ser humano; muito pelo contrário, é algo que decorre da própria natureza humana. O que Deus proíbe é o sexo ilícito, que tem sido um dos grandes problemas do ser humano ao longo da sua existência, e principalmente nestes últimos tempos de depravação cultural em que o erotismo tem se apresentado de forma explicita e libertina.

Atualmente, o mundo vê o adultério como algo normal, natural e até esperado no casamento (recente pesquisa feita no Brasil demonstrou que dois terços das pessoas esperam ser traídas por seu cônjuge e entendem ser isto natural e compreensível); entretanto, o adultério é abominável aos olhos de Deus, tanto que seu alcance foi ampliado por Jesus no sermão do monte (Mt.5:27-30). Sua prática é considerada loucura pela Palavra de Deus (Pv.6:32-35).

3. Homossexualidade: Uma con­tradição da ordem natural

Os cristãos que têm a Bíblia como sua única regra de fé e prática compreendem a homossexualidade como um comportamento adquirido, e não como um determinismo biológico. A homossexualidade não tem base biológica ou genética. Por mais de 30 anos, cientistas cuidadosos têm se recusado a afirmar que a homossexualidade tem origem biológica, por uma simples razão: falta de evidências comprobatórias. O Dr. John Money, por exemplo, principal pesquisador de sexo da Universidade Johns Hopkins, relatou: “Nenhuma diferença de cromossomos foi encontrada entre sujeitos homossexuais e controles heterossexuais”, e “com base no conhecimento que temos até aqui, não existe fundamento no qual possa se justificar a hipótese de que homossexuais ou bissexuais de qualquer grau ou tipo tenham cromossomos diferentes dos heterossexuais”.

Os relatos de Gênesis (Gn.1:27; 2:18,21-24) e Mateus 19:4-6 ensinam que Deus criou a humanidade de uma maneira específica (macho e fêmea) e com propósitos específicos relativos ao casamento, unidade sexual e procriação subentendida. Homens e mulheres não são o produto cego de uma evolução ao acaso em que, literalmente, nada é normativo e os indivíduos são livres para escolher sua própria moralidade ou sexualidade. Os homens devem prestar contas a Deus, que os criou; eles não são o produto de uma natureza impessoal que não se importa com o estilo de vida deles.

Abaixo estão cinco razões pelas quais o relato da criação é decisivo para qualquer discussão bíblica sobre a homossexualidade.

a) A aceitação da homossexualidade viola a ordem e a essência da própria criação humana. Deus declarou que não era bom que o homem estivesse só (Gn.2:18). Para remediar essa situação, Ele criou a mulher como complemento divino e contrapartida da masculinidade. A comunhão sexual íntima foi pretendida somente para o homem com a mulher. Isso quer dizer que a homossexualidade distorce e desordena as intenções de Deus na criação, e que a prática da homossexualidade contradiz o padrão da heterossexualidade em seu nível mais básico. O estilo de vida homossexual nega e desafia as polaridades do sexo de tal maneira que nem mesmo comportamentos heterossexuais, tais como fornicação e adultério, o conseguem.

b) Os homossexuais não podem obedecer ao mandamento de Deus quanto à procriação. Em Gênesis 1:28, Deus ordenou a Adão, a Eva e seus descendentes: "sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra". Se Adão tivesse decidido ser homossexual, ninguém jamais teria nascido.

c) A homossexualidade constitui uma rebelião consciente contra a ordem divinamente criada. De acordo com Romanos 1:32 e outras passagens bíblicas, os homossexuais sabem que seu comportamento é pecaminoso. A escolha contínua da prática de tal libertinagem é, portanto, uma rebelião intencional contra Deus e a ordem da criação.

d) A Bíblia está repleta de premissas do relato da criação. Se a homossexualidade fosse de alguma maneira legítima, as Escrituras não assumiriam uma inclinação heterossexual, mas incluiriam a opção homossexual. Se Deus tivesse a intenção de que o homem fosse bissexual, ou homossexual, ou se Ele tivesse criado o homem andrógino, o fato de criá-lo dessa maneira seria evidente em outros relatos das Escrituras relacionados à natureza do homem. Mas, o único padrão mantido e defendido é o heterossexual. Do primeiro capítulo de Gênesis até o livro de Apocalipse, o significado duplo de expressão sexual-genital – a saber, procriação e união – é claramente manifesto. Deus é descrito como o noivo fiel, e Israel, como a noiva fiel, indicando que o amor heterossexual pode ser a base para se expressar o mistério de Deus em amar a raça humana. Além disso, o autor de Efésios reitera a mesma verdade revelada sobre a sexualidade humana, no contexto da sublime comparação em que o marido é comparado a Cristo e a mulher à Igreja. Quando o autor deseja descrever o amor que Cristo tem pela Sua Igreja, ele se volta para o amor heterossexual do marido e da mulher (Ef.5:25,28). Em outras palavras, as Escrituras estão impregnadas com premissas concernentes à adequação da heterossexualidade; por comparação, a homossexualidade está claramente ausente, exceto quando se trata de condenação.

e) A homossexualidade distorce a imagem de Deus. Gênesis 1:27 ensina claramente que a imagem de Deus compreende tanto macho e fêmea – uma complementaridade que é eterna e existirá para sempre. Afirmar que a homossexualidade é bíblica e normal é distorcer a imagem de Deus e, consequentemente, insultar a natureza e o próprio Ser de Deus. Ao entendermos o propósito divino da criação e o fato de que a criação reflete o próprio Ser de Deus, podemos entender mais claramente as razões para as condenações bíblicas da homossexualidade e porque elas são tão rígidas.

Portanto, os cristãos conservadores, que amam a Palavra de Deus, entendem que a reprovação da prática homossexual se dá por conta de esta ser contrária a ordem natural da criação, conforme registrada na Bíblia, e não um fruto de preconceito (Gn.1-2; Rm.1:26; 1Co.6:9,10; 1Tm.1:10).

III. O PADRÃO BÍBLICO PARA UMA SEXUALIDADE SADIA

1. O sexo atende uma necessidade da criação

O sexo é a forma natural pela qual os homens se reproduzem, cumprindo o princípio ético da procriação (Gn.1:28) - “E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a....”. A intenção divina era dotar o homem não só de domínio sobre a criação na terra, mas também de capacidade de reprodução (Gn.1:28), e isto exigia a criação da mulher. Sem a providência divina de criação da mulher e, por conseguinte, da família, o homem não teria condições sequer de dominar o restante da natureza, pois, acometido que estava de um sentimento de solidão, não teria condições psicológicas para se impor frente aos demais seres. Sem o matrimônio, seria impossível que o homem frutificasse e se multiplicasse sobre a face da Terra e, por conseguinte, que o homem pudesse dominar sobre a criação que estava na Terra.

2. O sexo como complementação e satisfação

O sexo não é visto apenas com fim de procriação, como alguns defendem erroneamente, sem respaldo bíblico. Em Pv.5:18,19 está escrito que o prazer é algo próprio do sexo e que não é pecado a busca de satisfação entre homem e mulher. O sexo dá prazer de forma natural, de modo que não devemos ter de buscar e sentir satisfação na atividade sexual, pois é algo que lhe é próprio. O que se condena é o abuso, o domínio do homem pelo instinto sexual, de forma egoística e descontrolada, o que não se permite nem mesmo entre casados, pois isto revelará um desequilíbrio, sendo certo que a temperança, o domínio próprio, é uma das qualidades do fruto do Espírito Santo (Gl.5:22), enquanto que a lascívia e a impureza são obras da carne (Gl.5:19). 

Deus fez o sexo e ele é algo bom, prazeroso, saudável e divino. Mas Deus estabeleceu um princípio: a relação sexual só pode ser expressa no casamento; fora dele é pecado, é desobediência, é quebra de princípio de Deus para com o homem, sendo ele cristão ou não. Vivendo essa prática fora do casamento, certamente o homem cairá em desgraça e maldição.

Quantas pessoas são feridas e marcadas por toda a sua vida na área sexual. Cada vez que alguém se rende às tentações para, de forma ilícita, explorar os desejos sexuais que Deus determinou para nosso próprio bem, está desobedecendo a Deus. Quantas moças cedem para seus namorados só porque eles ameaçam terminar um relacionamento que nunca foi de Deus. Quantos rapazes, só para provar aos seus amigos que ele é macho, passam a ter uma vida sexual fora dos limites de Deus. Se as nossas respostas para o mundo não forem realmente guiadas pelo Senhor de acordo com o propósito dEle, não seremos pessoas diferentes dos ímpios. Precisamos apreender que sexo é bom, foi Deus quem o criou, não é impuro ou maligno; pelo contrário, é divino. Porém, não devemos esquecer que o sexo deve ser praticado apenas dentro do casamento.

3. O pastoreio cristão e a prática ho­mossexual

O modelo divino para o ser humano é a heterossexualidade (cf. Gn.1:27; 5:1-2; 2:22-24; Mt.19:4). O “macho”, a Bíblia chama de “homem”; a “fêmea”, a Bíblia chama de “mulher”. O macho - o homem - é chamado de um ser do sexo masculino; a fêmea - a mulher - é chamada de um ser do sexo feminino. Para a Bíblia, ou a criatura é homem, ou, então, é mulher. Não existe a “coluna do meio”. Um homem e uma mulher, biblicamente, formam um casal. Quando Paulo diz que cada um tenha a sua esposa e cada uma tenha o seu marido (1Co.7:2), fica clara a ideia de uma relação heterossexual.

Embora a união homossexual fosse algo comum no tempo de Paulo, ele define essa prática como uma paixão infame, um erro, uma disposição mental reprovável, uma abominação para Deus.

A relação homossexual pode chegar a ser aprovada pelas leis dos homens, por causa da corrupção dos costumes, mas jamais será chancelada pelas leis de Deus. Uma decisão não é ética apenas por ser legal. Ainda que a relação homossexual se torne legal pelas leis dos homens, jamais será aprovada por Deus, pois fere frontalmente a Sua Lei. A Bíblia sempre condenou o homossexualismo voluntário, atitude que é típica dos rebeldes e pecadores, como demonstra a Palavra de Deus, inequivocamente, em diversas passagens (cf. Lv.18:22; 20:13; Dt.23:17; 1Rs.14:24; 15:12; 22:47; Rm.1:24,27; 1Co.6:10; Gl.5:19; 1Tm.1:10; Ap.21:8).

Contudo, o homossexual não pode deixar de ser considerado como criatura de Deus e carente da Sua misericórdia. Se a pessoa homossexual se arrepender das suas práticas abomináveis e seguir a Cristo de todo o seu coração, não há dúvida, Deus a perdoará e essa pessoa será salva, pois o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado.

Portanto, a igreja local não deve rejeitar o homossexual como não deve rejeitar as demais pessoas que agem de forma contrária aos valores cristãos. Veja que, não obstante à antipatia dos israelitas com relação aos publicanos e prostitutas, Jesus tratou-os de forma amorosa e com empatia. Que eram pecadores, sim, eles eram, porém, mesmo assim o Senhor viu neles potenciais filhos de Deus que careciam de arrependimento (Lc.5:30-32; João 8:3-11). Deus amou o mundo inteiro (João 3:16) e quer que todos sejam salvos (1Tm.2:4). Quem somos nós para rejeitar qualquer ser humano?

CONCLUSÃO

A sexualidade é o desígnio de Deus, e Seu sagrado presente de casamento para os seres humanos. Só ele pode definir os parâmetros para seu uso. A Bíblia deixa claro que o sexo foi criado para ser desfrutado entre um homem e uma mulher que estão em um casamento de aliança até que um deles morra (Mt.19:6). Qualquer expressão fora desses parâmetros constitui abuso do dom de Deus; abuso é o uso de pessoas ou coisas de maneiras que não foram projetadas para serem usadas; a Bíblia chama isso de pecado. Adultério, sexo antes do casamento, pornografia e relações homossexuais estão todos fora do desígnio de Deus, o que os faz pecar.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Luciano de Paula Lourenço. Aula 08 – Ética Cristã e Sexualidade – Subsídio. 2º Trimestre/2018.

Dr. Caramuru Afonso Francisco. O cristão e a sexualidade. PortalEBD_2002.

Pr. Elinaldo Renovato. O cristão e a sexualidade. CPAD.

domingo, 3 de julho de 2022

Aula 02 - A SUTILEZA DA BANALIZAÇÃO DA GRAÇA

 

3° Trimestre/2022


Texto Base: Efésios 2:4-10

 

 “Porque pela graça sois salvos por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef.2:8).

Efésios 2:

4.Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,

5.estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),

6.e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;

7.para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.

8.Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.

9.Não vem das obras, para que ninguém se glorie.

10.Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula estudaremos sobre a graça de Deus, o bem mais sublime da Igreja; mas, infelizmente, tem sido banalizado por muitos que cristãos dizem ser, principalmente nestes últimos dias em que as sutilezas de Satanás têm se manifestado com maior intensidade. A graça, do grego “charis”, é um favor imerecido concedido por Deus à humanidade; imerecido, porque o homem perdeu todo e qualquer direito, ou privilégio junto ao seu Criador, por causa do pecado. Apesar do pecado, Deus mostrou seu amor em relação ao homem por intermédio da sua graça. Sem que o homem mereça coisa alguma, Deus providenciou um meio pelo qual o homem pudesse retornar a conviver com Ele. Ele enviou seu Filho para que morresse em nosso lugar e satisfizesse a justiça divina. Portanto, a todos quantos crerem na obra do Filho, Deus permite que venha novamente a ter comunhão com Ele, ainda que imerecidamente. É este favor imerecido que consiste na graça de Deus. Infelizmente, a doutrina da graça tem sido mal compreendida e, portanto, mal assimilada e, consequentemente, desvirtuada. Nesta Aula, temos o propósito de analisar a graça de Deus no sentido bíblico, histórico e contemporâneo. Que possamos nos conscientizar de que a graça é um bem precioso de Deus para a nossa vida e, por isso, não pode ser banalizada.

I. COMPREENDENDO A GRAÇA

1. A graça é divina

Diz o texto sagrado: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt.2:11). A graça tem origem em Deus, portanto, ela é divina; ela é a fonte da justificação do homem (cf. Rm.3:24; Ef.2:8). Quando somos justificados, somos atingidos pela graça divina (Rm.5:18), graça que sobrepuja a nossa velha natureza, de tal sorte que o apóstolo diz que “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm.5:20). Também na vida do justificado a graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor (Rm.5:21). A graça, portanto, passa a ser o critério do nosso relacionamento com Deus. Somos, a todo momento, atingidos pelo favor imerecido do Senhor. É por este motivo que o tempo em que vivemos é denominado de “dispensação da graça” (cf. Ef.3:2), ou seja, o período em que o relacionamento de Deus para com o ser humano é regido pela “graça”, pelo favor divino em relação ao homem que não leva em consideração os méritos humanos.

2. A graça é imerecida

A Salvação não se dá por nenhum mérito humano, mas que ela é resultado do favor divino, um favor que o homem, por ter pecado, não merece receber; este favor imerecido é a Graça de Deus. Como diz o apóstolo Paulo aos efésios: “...pela graça sois alvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef.1:8). A nossa salvação, portanto, é resultado desta graça, ou seja, do favor imerecido de Deus à humanidade pecadora. A graça de Deus traduz a bondade do Senhor e o seu desejo de favorecer o homem, de ser misericordioso com o ser humano, ainda que o homem não mereça esta benevolência divina, vez que pecou e se rebelou contra o seu Criador; mesmo assim, Deus mostra seu amor em relação ao ser humano, por intermédio da sua graça. A todos quantos crerem na Obra do Filho, Deus permite que venha novamente a ter comunhão com Ele, ainda que imerecidamente. É este favor imerecido que consiste na maravilhosa graça de Deus.

É importante dizer que a maravilhosa graça de Deus não abrange somente a salvação do ser humano, ela também abraça todos os elementos que sustentam a vida na Terra; chamamos esse favor de Deus de Graça Comum. Sem a Graça comum, ou Universal, que é um favor imerecido que ele quis e continua concedendo ao homem, não haveria vida sobre a terra. Deus, através de sua Graça Comum, abençoa todos os homens, crentes e incrédulos; foi o que o Senhor Jesus deixou claro, quando afirmou: “... porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt.5:45). Assim, quer o homem saiba disto, ou não; quer reconheça ou não a misericórdia de Deus; quer seja grato ou não, a sua vida está nas mãos de Deus e é sustentado pela sua graça. É Deus quem controla o dia e a noite, que administra as estações do ano, que mantém a regularidade dos movimentos de rotação e translação da terra, que mantém o equilíbrio da cadeia alimentícia, que regula o sistema de defesa do corpo humano, entre tantos outros benefícios concedidos pela sua Graça Comum, ou Universal. Por isto, nós que conhecemos a Palavra de Deus, dizemos que “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm.3:22).

II. A GRAÇA NO CONTEXTO BÍBLICO

1. A necessidade da graça

Há uma imperiosa necessidade da graça de Deus, pois todos pecaram e destituídos estão da gloria de Deus (Rm.3:23). Tendo caído no pecado, o homem não podia por si mesmo se libertar. Uma das consequências advindas da Queda foi a necessidade da satisfação da justiça divina. Por isso, a justiça de Deus exige a punição do pecado, mas o amor de Deus pela humanidade levou-o a prover um meio para salvar o ser humano, e este meio foi a cruz (1Tm.2:5; João 3:16). Jesus se apresentou como a essência da graça de Deus, e morreu numa rude cruz por toda a humanidade. Portanto, sem a graça não haveria salvação do ser humano.

A argumentação de Paulo em Romanos 3:9-20 é: todos os homens são culpados diante de Deus, todos estão debaixo da condenação do pecado (Rm.3:9). Paulo é enfático no seu diagnóstico acerca do estado deplorável em que se encontra o ser humano. O pecado atingiu todo o seu ser: corpo e alma. O pecado enfiou seus tentáculos em todas as áreas de sua vida: razão, emoção e volição. Todo o seu ser está rendido ao pecado e a serviço do pecado. O homem está chagado da cabeça aos pés.

Mas, o maior resultado da salvação operada por Jesus é o perdão dos pecados e a reconciliação do pecador com Deus. O perdão não é uma concessão automática, precisa ser pedido; veja a atitude do servo da Parábola do credor incompassivo (Mt.18:23-35): “Então, aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo...”. O servo se ajoelho e pediu. Não se pede perdão com a cabeça erguida e “batendo no peito”. Quem pede precisa reconhecer que deve e que não pode pagar. O perdão não pode ser negociado, mas pedido. Para pedir é preciso saber se humilhar, e, aquele que se humilha, conforme afirmou o Senhor Jesus, será exaltado (Mt.23:12). E foi isto o que fez o rei Davi, quando pecou – “Por amor do teu nome, Senhor, perdoa a minha iniquidade, pois é grande” (Salmo 25:11). Assim, para ser perdoado, o homem precisa ter consciência do seu pecado, precisa querer livrar-se dele, saber que não conseguirá fazer isto por si mesmo; deve se humilhar e pedir o perdão para quem tem o poder de perdoar. Se o servo mau, da referida Parábola, não tivesse pedido, também não teria sido perdoado; mas, como ele se humilhou, e pediu misericórdia, “então, o senhor daquele servo, movido de intima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida”.

2. A extensão da graça

A graça é universal, destina-se a todos os homens; é o que o texto sagrado explicita: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Neste “todo aquele” não há exclusão de ninguém. Todos podem crer, e Deus quer que todos creiam, pois “a graça de Deus se há manifestada, trazendo Salvação a todos os homens” (Tito 2:11). Deus, nosso Salvador, quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade (1Tm.2:3,4); porém, é bom entender que essa Salvação é condicional, ou seja, exige-se do ser humano arrependimento de coração (At.15:9; Rm.3:28; 11:6), e que a pessoa deve confessar a Cristo como único e suficiente Salvador (Rm.10:9).

A graça é universal, mas não é universalista. Há uma tendência atual de afirmar que, no final das contas, Deus, em sua graça, salvará a todos os perdidos, mesmo aqueles que jamais responderam (e mesmo rejeitaram) o sacrifício de Cristo. Essa perspectiva teológica, bastante cultivada atualmente, denomina-se de “universalismo”. Esse ensinamento é totalmente falso. O arrependimento sempre foi e continuará sendo uma prerrogativa àqueles que querem ser salvos. Veja os seguintes trechos bíblicos que comprovam tal fato:

- “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc.16:16).

- “Responderam eles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (Atos 16:31).

- “Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados” (At.2:38).

- “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor” (Atos 3:19).

Desta feita, não faz qualquer sentido a posição dita “universalista”, segundo a qual toda a humanidade, mais cedo ou mais tarde, alcançará a salvação, mesmo na eternidade, visto que, como é desejo de Deus a salvação de todos os homens, não há como alguém ser eternamente condenado, pois isto implicaria em admitir que Deus não poderia salvar a todos ou não cumpriria os seus propósitos ou, ainda, que o sacrifício de Cristo foi limitado em seus efeitos. Este argumento é falacioso, pois Deus tem compromisso com a sua Palavra e, ao apresentar uma promessa condicional, tem de fazer prevalecer, pela sua fidelidade, o que prometeu.

III. A GRAÇA NO CONTEXTO DA REFORMA

1. A corrupção da doutrina da gra­ça

A Igreja começou muito bem, fundamentada na doutrina dos apóstolos e profetas, mas no decurso do tempo, a Igreja tomou outro rumo diferente daquele que os apóstolos pregavam. A doutrina da graça começou ser corrompida, desviando-se totalmente do seu status original. O mundanismo entrou na Igreja, introduzido pelos líderes corruptos.

Com a degradação cada vez maior da doutrina da graça, a Igreja ficou muito mal, no aspecto espiritual, e a depravação moral pôs em risco a existência da fé cristã. A exploração da fé cristã denegriu a Igreja, inundada por dogmas heréticos. A partir do século XI, a comercialização da fé cristã foi intensificada pelo papado, mediante as procissões, peregrinações e indulgências. Tal prática prometia amenizar ou extinguir o tempo de penitência dos devotos no purgatório. A salvação pelas obras havia substituído a salvação pela fé. A Igreja precisava urgentemente de uma reforma radical; então Deus levantou um homem de dentro do lamaçal da Igreja para tornar isso uma realidade; Deus levantou Lutero como cabeça dessa reforma. De uma forma direta, pode-se afirmar que a Reforma surgiu como uma resposta ao enfraquecimento, deturpação e negação da doutrina da graça, a qual havia sido totalmente desconfigurada.

2. A restauração da doutrina da graça

No dia 31 de outubro de 1517 Martinho Lutero enviou as suas 95 teses para o Arcebispo de Maiz dando início a um dos eventos mais importantes da história da Igreja: a Reforma Protestante. Lutero que era um monge da Igreja Católica, se levantou após notar que os dogmas da Instituição na época eram opostos aos ensinamentos bíblicos. A Reforma então marca um movimento focado em trazer a centralidade bíblica de volta para a Igreja, e propulsar a restauração da doutrina da graça. 

De todas as novas proposições teológicas que os cristãos protestantes adotaram em oposição a Igreja Católica, 5 pilares foram destacados como essência da reforma. Essas doutrinas se popularizaram como os 5 Solas da Reforma Protestante, dentre elas estava a Sola gratia, que significa: somente a graça. Na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual. 

Ao enfatizar o ensino da sola gratia, os reformadores pretendiam refutar o parecer comum de que a salvação se dava pela obra de Cristo somada à obra meritória dos homens. Ao entender o estado de miséria humana diante de Deus, compreende-se que não há nada que se possa fazer para conquistar o favor divino. 

Precisamos ter cuidado, pois o inimigo não se fadiga. Ele enganou muita gente da Igreja ao longo de sua história, e não se cansará em arregimentar um exército de pessoas que o acompanharão ao inferno. O objetivo principal do diabo é separar o homem de Deus. Destinado à destruição, ele quer tomar a maior parte possível da criação, principalmente a principal obra da criação - o ser humano. Entre as razões pelas quais nós precisamos tão desesperadamente da graça de Deus, está o fato de que nós travamos um combate mortal com um inimigo superior. Precisamos da ajuda de Deus para resistir às artimanhas deletérias de Satanás e nos aproximar de Deus.

IV. A GRAÇA NO CONTEXTO CONTEMPORANEO

1. A graça barateada

Segundo o ensino das Sagradas Escrituras, a graça jamais pode ser vista como um salvo conduto para a prática do pecado ou da libertinagem. Diz o apóstolo Paulo: ”Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne” (Gl.5:13).

A liberdade cristã não é uma licença para pecar, mas o poder para viver em novidade de vida. A liberdade cristã não é licenciosidade, mas deleite na santidade. A liberdade cristã é a liberdade irrestrita para aproximar-se de Deus como seus filhos, não uma liberdade irrestrita para chafurdar em nosso egoísmo.

A licenciosidade desenfreada não é liberdade alguma, é outra forma mais terrível de servidão, uma escravidão aos desejos de nossa natureza caída. Enfim, a liberdade cristã não é liberdade para pecar, mas liberdade de consciência, liberdade para obedecer. O cristão salvo pelo sangue de Cristo é livre para viver em santidade.

Muitos defendem a liberdade do amor livre, a prática irrestrita do aborto, o uso indiscriminado das drogas e o homossexualismo, porém, isso não é liberdade, é escravidão. Jesus disse que aquele que pratica o pecado é escravo do pecado (João 8:34).

À época de Paulo, os inimigos da graça apresentavam um argumento supostamente irrefutável: “Se a graça é superabundante onde o pecado é abundante, se a multiplicação das transgressões serve para demonstrar o esplendor da graça, então não deveríamos pecar mais para que Deus seja ainda mais glorificado na magnificência da sua graça?”. Esta pergunta retratava tanto a distorção antinomiana como a objeção dos legalistas à doutrina da justificação pela graça, por meio da fé, independentemente das obras.

A inferência licenciosa é imediata e energicamente rejeitada por Paulo; responde o apóstolo: “De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rm.6:2). De acordo com esta resposta de Paulo, não podemos continuar a pecar porque morremos para o pecado. Trata-se de um fato acerca de nossa condição. Quando Jesus morreu para o pecado, Ele o fez como nosso representante; morreu não apenas como nosso substituto, ou seja, por nós e em nosso lugar, mas também como nosso representante, ou seja, como se nós estivéssemos lá. Assim, quando Ele morreu, nós também morremos. Ele morreu para o problema do pecado, e resolveu-o de uma vez por todas. Para Deus, todos que estão em Cristo também morreram para o pecado. Isto não quer dizer que o cristão é impecável; antes, ele é identificado com Cristo em sua morte e tudo o que ela significa.

2. O valor da graça

A graça tem um valor inestimável; ela é a causa meritória da nossa salvação, que teve um preço alto. Disse Paulo: “Porque fostes comprados por preço...” (1Co.6:20). Que preço foi este? O sangue de Cristo. Disse Pedro: “sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pd.1:18,19). Portanto, a salvação é de graça, mas o seu preço custou caro – custou a morte de um justo inocente e o derramamento do seu precioso sangue, o sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus. Cristo pagou o preço, riscou a cédula que era contra nós nas suas ordenanças e cravou-a na cruz (Cl.2:14); nada mais precisa ser feito para o ser humano ser salvo. Isso é graça.

Mas, infelizmente, muitos têm dificuldade de compreender a graça de forma plena. Na época do apóstolo Paulo, e hoje também, muitos não compreenderam, nem compreendem, os ensinamentos sobre a graça de Deus; pensam que a graça dá liberdade total para pecar. É bom saber que a liberdade do cristão está em Cristo Jesus, e isso exclui qualquer ideia de que de alguma maneira possa significar liberdade para pecar. Não devemos nunca transformar a liberdade numa base de operações para a natureza carnal. Portanto, a liberdade proporcionada por Cristo não é uma liberdade para o crente fazer o que quer, mas para fazer o que deve. Exorta-nos o apóstolo Paulo:

“E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para a santificação. Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. E que fruto tínheis, então, das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas, agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna. Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm.6:18-23).

CONCLUSÃO

A graça de Deus é maravilhosa, mas ela precisa ser entendia e aplicada à luz da verdadeira doutrina. Banalizar a graça, colocando-a dentro de um espectro idealizado por líderes liberais e libertinos que não temem a Deus, que propagam doutrinas criadas por eles mesmos para satisfazerem seus caprichos, é ofender profundamente a Deus; certamente, não ficarão impunes. Como afirma o pr. José Gonçalves, “a Bíblia é sempre a régua através da qual qualquer entendimento da doutrina da graça precisa ser medido”. A graça é a fonte da vida e melhor do que a vida; por ela somos salvos, por ela vivemos e por ela entraremos na pátria celestial. “A graça seja com vós todos. Amém!” (Tt.3:15).

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. 1Timóteo – O pastor, sua vida e sua obra.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. As Doutrinas da Graça de Deus - Portal EBD.2006.